O PANTANAL FLUMINENSE: UM ESTUDO DA CORRELAÇÃO ENTRE SUAS LAGOAS E O RELEVO DA REGIÃO NORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

June 15, 2017 | Autor: Leidiana Alves | Categoria: Geography
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O PANTANAL FLUMINENSE: UM ESTUDO DA CORRELAÇÃO ENTRE SUAS LAGOAS E O RELEVO DA REGIÃO NORTE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Área: Geografia física, recursos naturais, gestão de bacias hidrográficas, zonas costeiras e áreas protegidas. Leidiana Alonso Alves Instituto Federal Fluminense – IFF [email protected] Diego de Oliveira Miro Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE [email protected] Vinícius Santos Lima Universidade Federal Fluminense - UFF [email protected] José Maria Ribeiro Miro Instituto Federal Fluminense – IFF [email protected] Resumo A paisagem da região norte do estado do Rio de Janeiro, também conhecida como Região Norte Fluminense, é marcada pela presença de expressivos corpos lênticos. Nela, já foram classificadas lagunas de rios barrados, lagoas deltaicas, de meandro abandonado, reliquiar e de tabuleiros. Estas lagoas estão distribuídas em diferentes formas de relevo: na Planície Fluviomarinha, construída no processo de migração para norte da foz do rio Paraíba do Sul no Quaternário e nos Tabuleiros Terciários do Grupo Barreiras. A região estudada se localiza no Baixo Curso deste rio, o que condicionou sua formação, material de origem e a dinâmica climática regional. Desta maneira, é necessário um mapeamento geomorfológico em diferentes escalas para caracterizar seus atributos e relacioná-los às estruturas, processos, funções e formas do relevo. Esta pesquisa é parte de um projeto de mapeamento de corpos hídricos, que nesta etapa objetiva analisar o relevo da região para elaborar um mapa dos compartimentos geomorfológicos correlacionando-os as lagoas. Os procedimentos metodológicos adotados basearam-se em dados obtidos sob a perspectiva da Análise Ambiental e no uso das geotecnologias, o que possibilitaram correlacionar os nexos topológicos de localização, proximidade, continuidade e frequência das lagoas junto ao relevo. Utilizando-se do Software ArcGIS 10.2 foi elaborado um mapa síntese em mesoescala para um melhor entendimento destes corpos hídricos. Após a elaboração do mapa, observou-se que no Cinturão Orogênico do Atlântico não há lagoas; nos Tabuleiros, encontram-se lagoas alongadas e orientadas para a Planície Holocênica, que devido a movimentos neotectônicos favoreceu a dissecação diferenciada dos depósitos do Grupo Barreiras, até alcançar o lençol freático; na Planície Fluviomarinha, localizamse depressões rasas e arredondadas que formaram lagoas e brejos construídos pela migração da foz do rio Paraíba do Sul em direção à Atafona; na Planície Costeira, os corpos lênticos formam lagunas nas depressões construídas nos antigos talvegues de rios barrados no litoral. Dados da pesquisa mostraram que dos nove municípios da Região Norte Fluminense, seis apresentam lagoas em sua paisagem, e que a feição geomorfológica predominante é a Planície Fluviomarinha. Concluiu-se que há correlação entre os corpos lênticos e os compartimentos geomorfológicos na área estudada, com a maior densidade de lagoas nos Tabuleiros, sendo possível encontrar dezenas das lagoas conectadas por complexos sistemas de canais e brejos. Assim, e devido sua relevância

ecológica, econômica e social, recomenda-se a conservação destes ambientes enquanto manancial ou pelos usos múltiplos das suas águas. Palavras-chave: Geografia Lacustre, Manancial, Geotecnologias, Mapeamento Geomorfológico. Introdução A água é um elemento fundamental para o equilíbrio dos sistemas naturais, assim como os agropastoris, industriais e às sociedades urbanas. Ela deve ser considerada como um recurso esgotável, apesar de ser uma das substâncias mais disseminadas no planeta Terra. Sua relevância enquanto recurso justifica estudos das mais diversas áreas do saber, garantindo sua disponibilidade e qualidade, para que no futuro a humanidade não sofra uma “crise da água”. Nas mais diversas funções, o aprofundamento do conhecimento científico dos sistemas relacionados às águas continentais, devem prever ações para a conservação e recuperação de bacias hidrográficas, criando Banco de Dados, nas mais diversas escalas, para a elaboração de cenários e avaliação de impactos que garantam o acesso à água, considerando-a um componente fundamental ao desenvolvimento da vida no planeta (TUNDISI, et al. 2006). A Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida inicialmente por Bertalanffy (1968), vem subsidiando a produção científica da Geografia brasileira. No que diz respeito ao entendimento do conjunto de fenômenos que se processam através dos fluxos de matéria e energia, e da interdependência das relações entre os subsistemas naturais e antrópicos, Cunha e Freitas (2004) ao estudarem a bacia hidrográfica do rio São João, no estado do Rio de Janeiro, dizem que é possível propor uma gestão dos ambientes naturais a partir da análise da fisiografia da paisagem. Desta maneira, a paisagem se apresenta como um método de representar o espaço geográfico. A combinação articulada de seus elementos físicos, biológicos e antrópicos formam um conjunto indissociável de atributos que sempre evoluem e que a individualiza no espaço, por isso, não há uma idêntica a outra. Segundo Bertrand (1968), para classificar as paisagens é necessário situá-las numa escala temporo-espacial de análise, pois os fenômenos têm início e fim no espaço, levando-o a dizer que “a definição de uma paisagem é função da escala” e que para interpretá-la, imagens aéreas fornecem uma visão sintética, integrada e dinâmica de uma área de estudo. Para estabelecer os componentes e as relações entre os elementos num sistema ambiental (Geossistema), Christofoletti (1979) sugere que sejam observados os critérios de organização, tendo em vista as entradas e saídas de matéria e energia disponíveis. Além disso, o autor diz que é possível analisar o funcionamento dos sistemas ambientais sem considerar o detalhamento de sua estrutura interna, o que é classificado como Processo Resposta. Por esse princípio lógico, ao analisar as unidades geomorfológicas, pode-se considerar o conjunto dos processos que provocam erosão, transporte e deposição de materiais, movidos pela energia potencial gerada a partir da diferença altimétricas do relevo. Para isso, é preciso considerar os Processos Atuantes como um todo, enquanto aqueles provocados pelos subsistemas climáticos, pedológicos, antrópicos, entre outros, de forma integral. Na Figura 1 apresenta-se o modelo proposto pelo autor. Figura 1. Modelo Caixa Preta

E – Entrada de matéria e energia; S – Saída de matéria e energia Fonte: Adaptado de Christofoletti, 1979.

A paisagem da região norte do estado do Rio de Janeiro/BR, também conhecida como Região Norte Fluminense, é marcada pela presença de expressivos corpos lênticos. Ela é descrita por Lamego (1946) como o “Pantanal Fluminense” e a Baixada Campista como uma região alagada

composta por rios, lagoas, brejos, e que próximo à costa, encontram-se os ambientes terrestres e marinhos caracterizados como ecossistemas de transição. A ocorrência de lagoas neste recorte espacial dá-se de maneira homogênea, que para Esteves (1998), são caracterizadas como corpos d’água rasos, de água doce, salobra ou salgada, em que a radiação solar pode alcançar o sedimento, condicionando grande produtividade primária. Para o autor, os corpos lagunares não são elementos permanentes das paisagens, pois numa escala geológica eles são fenômenos de curta duração, que aparecem e desaparecem no decorrer tempo. Em pesquisas anteriores, Alves et al. (2013) as classificaram como lagunas de rios barrados (quando os sedimentos marinhos são depositados na desembocadura de rios que chegam a costa, formando barras arenosas, interrompendo sua ligação direta com o mar); lagoas deltaicas (formadas por depressões nos depósitos fluviomarinhos no processo de construção da planície costeira); de meandro abandonado (formada a partir dos processos de auto-regulação de rios meandrantes); reliquiar (este tipo de formação se dá tanto para lagoas, quanto para lagunas, pois elas são construídas entre as faixas de areias deixadas pelos processos de Regressão e Transgressão Marinha); e de tabuleiros (são lagoas encaixadas nos vales do Grupo Barreiras e esculpidas pela erosão diferencial nos tabuleiros sedimentares). Estas lagoas estão distribuídas em diferentes compartimentos do relevo, tanto na Planície Fluviomarinha, quanto nos Tabuleiros Terciários do Grupo Barreiras, não ocorrendo no Cinturão Orogênico do Atlântico, localmente denominada de Serra do Desengano (ALVES et al. 2014). Ao estudarem o relevo regional, Geiger (1956) e Ramalho (2005) relataram que o Cinturão Orogênico do Atlântico tem origem Pré-Cambriana, localizando-se a oeste da cidade de Campos dos Goytacazes, onde se observam afloramentos rochosos, falhas, fraturas, além de morros cristalinos isolados e arredondados. Contínuo a este, em direção a Planície Costeira, encontram-se depósitos sedimentares Terciários do Grupo Barreiras, que são formados por materiais não consolidados e erodidos, resultando em superfícies aplainadas e vales abruptos, esculpidos nos eventos glaciais e interglaciais, aos quais foram submetidos. Por último, num patamar altimétrico inferior, observa-se a Baixada Campista, formada no Quaternário, onde se destacam os depósitos fluviomarinhos acomodados entre o rio Paraíba do Sul e lagoa Feia e, próximo à costa, encontramse cristas arenosas de formação marinha. O relevo da região é submetido a processos erosivos, de transportes e deposições, relativos ao baixo curso de rio Paraíba do Sul, o que condicionou sua formação, material de origem e a dinâmica climática regional. Desta maneira, são necessários mapeamentos geomorfológicos sistemáticos, em diferentes escalas, para caracterizar seus atributos e relacioná-los às estruturas, processos e funções aos quais estão sendo submetidos, condicionando as formas de relevo que se encontram na paisagem (ARGENTO, 1987). Esta pesquisa é parte de um projeto de mapeamento de corpos hídricos, desenvolvido no Instituto Federal Fluminense em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo. Nesta etapa, objetivou-se analisar o relevo da região para elaborar um mapa dos compartimentos geomorfológicos e em seguida correlacioná-los as formas de lagoas neles existentes. Por meio da análise do mapa síntese e Trabalhos de Campo, chegou-se a hipótese que há correlação entre a forma das lagoas e o relevo no qual elas estão localizadas. Logo, haveria agrupamentos destas lagoas conforme suas similaridades geométricas. Desta forma, o problema de sistematização dos corpos lênticos em sistemas ambientais foi tratado a partir de conceitos da Geometria Fractal, enquanto ferramenta utilizada para analisar as complexidades que são observadas na natureza (CHRISTOFOLETTI, 2004). Na Figura 2, observa-se a região norte do estado do Rio de Janeiro, estabelecida por meio de critérios hidrogeomorfológicos, considerando os divisores de água que direcionam fluxos de matéria e energia da Serra do Mar na direção dos Tabuleiros Terciários, em seguida pela Baixada Campista até alcançar o Nível Mar.

Figura 2. Mapa de localização da região norte do estado do Rio de Janeiro

Elaborado pelos autores.

Metodologia Para realização desta pesquisa foram consultados livros, teses, dissertações, artigos em periódicos e anais de congressos. Ressalta-se que neles não foi identificado um método específico que correlacionasse os compartimentos geomorfológicos as formas de lagoas neles contidos. O Método de Análise Ambiental foi indicado para o projeto, pois ele busca entender o ambiente em sua totalidade, possibilitando observar as inter-relações entre os elementos neles existentes (MARQUES, 2008). Isso possibilitou correlacionar os nexos topológicos de localização, proximidade, continuidade e frequência das lagoas junto ao relevo. Para Xavier da Silva (1992) e Câmara & Medeiros (1998), esta metodologia está associada ao uso das geotecnologias, o que possibilita correlacionar à evolução espacial e temporal de um fenômeno geográfico. Aliado ao método de Análise Ambiental, o Software ArcGIS 10.2 foi utilizado para elaborar mapas em mesoescala e obter um melhor entendimento destes corpos hídricos junto aos compartimentos geomorfológicos. Além disso, para que os dados fossem validados, foram realizados Trabalhos de Campo para identificar in loco as unidades do relevo e suas lagoas, desta forma, os objetos foram analisados de perto e suas possíveis correlações puderam ser atualizadas com geotecnologias, sendo essencial para o bom desenvolvimento da pesquisa. Na Figura 3 e no Quadro 1, apresentam-se graficamente o algoritmo para a organização metodológica do trabalho Doni (2004), no qual, e com o Banco de Dados preexistente do Laboratório Sala Verde IFF Campos, onde a pesquisa é realizada, selecionou-se informações de acordo com as escalas disponíveis, para que através do método de Análise Ambiental fossem gerados mapas sínteses, que posteriormente foram tratados com parâmetros estatísticos para correlacionar as classes de lagoas ao seu relevo.

Figuras 3. Fluxograma do algoritmo da pesquisa

Elaborado pelos autores. Quadro 1. Descrição das ações do algoritmo da pesquisa

Ação Descrição Início; Planejamento das ações. 1 Seleção das informações para formação do Banco de Dados da pesquisa (textos, mapas, 2 planos de informações, fotografias e imagens de satélites). Aplicar o método de Análise Ambiental e o Software ArcGIS 10.2 para correlacionar a 3 localização e frequência das lagoas da Região Norte Fluminense ao relevo. Gerar mapa síntese. 4 Análise Estatística utilizando Índices de Circularidade para estabelecer classe de lagoas 5 segundo a forma; Correlacionar estas classes aos relevos aos quais estão contidas. Finalização do processo. 6 Elaborado pelos autores.

Procedimentos operacionais Elaboração dos mapas

Para que o questionamento motivador, juntamente ao objetivo central desta investigação fossem perseguidos, tornou-se necessário seccionar a pesquisa em distintas etapas processuais que se iniciam com a aquisição dos materiais cartográficos, produtos orbitais e semi-orbitais. A etapa subsequente é compreendida pelo método de Mapeamento Geomorfológico proposto por Silva (2009), culminando no produto cartográfico gerando o Mapa Morfoescultural, resultando em distintos níveis taxonômicos para representar esculturalmente o relevo. O fluxograma (Figura 4) apresenta as principais fases metodológicas.

Figura 4. Principais etapas metodológicas

Fonte: Organizado pelos autores.

Etapa 1 – Aquisição de materiais cartográficos, produtos orbitais e semi-orbitais: todas as fontes utilizadas nesta investigação foram obtidas gratuitamente via Internet junto a órgãos oficiais de reconhecimento regional e nacional. Os Planos de Informações (PIs) dos Limites Municipais foram adquiridos no sítio do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA, 2011) na escala de 1:100.000. A Hidrografia foi gerada a partir do processo de digitalização dos alvos de interesse (vetorização), tendo como base as ortofotos do Projeto RJ-25 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008) com resolução espacial de 1 metro. O Modelo Digital de Elevação (MDE), em formato raster Geotiff também foi adquirido junto ao IBGE (2008), sendo este, parte integrante do Projeto RJ-25, com resolução espacial de 20 metros. Etapa 2 – Mapeamento geomorfológico da Região Norte Fluminense: numerosas são as propostas de representação cartográfica do relevo. Aliadas a elas, encontram-se argumentos que evidenciam a importância da escala e das feições a serem mapeadas. Adotou-se para este trabalho, o método proposto por Silva (2009), por entender que sua contribuição adequa-se ao objetivo central aqui traçado e pela operacionalidade do manuseio com as ferramentas de Sistema de Informações Geográficas (SIG) e Sensoriamento Remoto (SR). A autora regionalizou o estado do Rio de Janeiro sob dois táxons geomorfológicos, a saber: os domínios morfoestruturais e os domínios morfoesculturais, utilizando-se como critério a hipsometria. Para ela, os domínios morfoesculturais são classificados em: Planícies Fluviais e Flúvio-Marinhas; Colinas; Morros; Serras Isoladas e Serras Locais; e Serras Escarpadas, como se vê na Tabela 1, abaixo.

Tabela 1. Amplitudes hipsométricas dos domínios morfoesculturais da Região Norte Fluminense

Fonte: Silva (2009). Análise Estatística

De posse do mapa síntese, Sistemas de lagoas costeiras do Baixo Curso do Rio Paraíba do Sul, elaborado por Alves et al. (2014), que se vê na Figura 5, utilizou-se o método de Ward para a análise de agrupamento (Cluster Analysis), com base nos parâmetros: proximidade; largura maior; razão entre a área e o perímetro; e o índice de circularidade dado pela razão entre a área da lagoa e a área de um círculo, cujo diâmetro corresponde a maior medida entre a sua largura maior e o comprimento maior, de forma que o desvio padrão entre os objetos de cada grupo seja mínimo. A Análise de Agrupamentos consiste em um conjunto de técnicas e algoritmos, cujo objetivo é encontrar a melhor forma de organizar objetos em grupos de acordo com uma ou mais características de interesse. Uma das formas mais comuns de representar esses grupos é através de um dendograma ou diagrama de árvore. Um dendograma é um gráfico bidimensional em que o eixo vertical é graduado com os resultados de similaridade, no qual os grupos são organizados, e linhas horizontais que unem os objetos mais semelhantes, formando grupos homogêneos (FREI, 2006). Para isso, utilizou-se o Software R Project 3.1.2 (R CORE TEAM, 2006), para agrupar as lagoas em classes e elaborar o dendograma através das funções DIST() e HCLUST(), disponíveis no programa. Desta forma, criou-se um Índice de Forma para as lagoas da região. Figura 5. Sistemas das lagoas do Baixo Curso do rio Paraíba do Sul

Fonte: Alves et al. (2014).

Principais Resultados A partir do que foi proposto por Silva (2009), elaborou-se o mapa dos Domínios Morfoesculturais da Região Norte Fluminense, nele ratificou-se os trabalhos de Geiger (1956), Argento (1987) e Ramalho (2005). No mapa abaixo (Figuras 6), elaborado a partir de dados hipsométricos, observam-se compartimentos bem definidos correlacionados ao período geológico e aos processos geomorfológicos aos quais foram submetidos. Por uma interpretação geomorfológica, entende-se que o relevo regional apresenta-se com um alto nível de dependência entre suas unidades, e que formam subsistemas consecutivos, compostos por patamares bem definidos, o que condiciona os fluxos de matéria e energia em cada um deles. Figura 6. Mapa dos Domínios Morfoesculturais da Região Norte Fluminense

Elaborado pelos autores.

A porção mais afastada do litoral faz parte da cadeia de montanhas que formam a Serra do Mar, originada da Colisão de Placas Tectônicas ocorrida entre 650 e 480 milhões de anos AP. Este relevo cristalino se destaca na paisagem regional, nele predominam morros de encostas abruptas, paredões de rochas metamorfizadas, muitas vezes verticais, que podem atingir altitudes de até 1.800 metros (GEIGER, 1956). Consequente aos maciços cristalinos pode ser observada uma região de Tabuleiros. Ela se formou no Período Terciário (Época Miocênica – aproximadamente entre 23 e 12 milhões de anos AP), que se caracterizam por relevos de topos aplainados, encostas dissecadas e vales profundos com brejos periféricos, além da presença de morros isolados, representando o relevo residual muito erodido do Cristalino (ARGENTO, 1987). Por último, como se observa no mapa acima, encontram-se as Planícies Fluviomarinha, datada do Período Quaternário (2 milhões de anos AP até os dias atuais), sendo sua maior porção,

construída na Época Holocênica (10 mil AP até os dias atuais). Ela é seccionada pelo rio Paraíba do Sul, que a divide em duas porções, sendo a maior, localizada na parte sul. Devido a problemas metodológicos e de escala, não se vê no mapa seus dois compartimentos. Eles são definidos pelas características apresentadas pelos solos, em que na porção encaixada entre o rio Paraíba do Sul e a lagoa Feia, predominam depósitos aluviais, fruto de sua deposição no processo de migração da foz do rio em direção ao norte; enquanto que na faixa mais próxima ao mar, prevalecem os solos arenosos, originados pelos processos de Transgressão e Regressão Marinha, formando cristas mais ou menos paralelas a linha de praia atual. Ressalta-se ainda, que estas planícies sedimentares concentram, historicamente, a maior parte da população e das atividades econômicas da Região Norte Fluminense (RAMALHO, 2005). No Diagrama esquemático dos principais elementos do relevo da Região Norte Fluminense (Figura 7), apresentam-se organizadas as principais unidades nela existente, especificando as altitudes correlacionadas. Geomorfologicamente, consideram-se os fluxos entre os seus componentes e que há processos interdependentes entre eles. Como relação à Geografia Lacustre, infere-se que há necessidade de compreensão dos níveis hierárquicos ao qual elas estão inseridas e aqueles à montante, devido aos fluxos de matéria e energia que ocorrem entre eles. Figura 7. Diagrama esquemático dos principais elementos do relevo da Região Norte Fluminense

Elaborado pelos autores.

Na Figura 8, apresentam-se alguns exemplos de lagoas existentes na paisagem regional, nas quais se observam as correlações acima mencionadas. As lagoas Limpa e da Onça, típicas do relevo dos Tabuleiros Terciários, são influenciadas pelos patamares aos quais elas estão inseridas e aqueles à montante. Desta forma, estas depressões relativas do relevo podem ser entendidas como Níveis de Base Local, e receptoras de matéria e energia carreadas de outros patamares, elevando o risco de assoreamento pelo uso inadequado da terra em seu entorno. Já as lagoas do Campelo e Açu encontram-se localizadas na Planície Fluviomarinha, onde prevalecem os processos de autoregulação relativos ao tipo de solo e a distância que elas se encontram do mar.

Figura 8. Exemplos de lagoas existentes na região Norte Fluminense

Elaborado pelos autores.

Ao observar o mapa dos Sistemas de lagoas costeiras do Baixo Curso do Rio Paraíba do Sul (Figura 5), encontrou-se um padrão de formas predominantes que sugerem processos formadores semelhantes, como se vê na Figura 9. A seguir são apresentadas suas principais características:  Forma Dendrítica – lagoas que apresentam longos “braços” que se assemelham a raízes por toda a extensão do corpo hídrico principal;  Forma Circular/Oval – lagoas que se apresentam grosseiramente circulares, em que os raios medidos a partir de um ponto central, seriam semelhantes entre si;  Forma de Espinha de Peixe – lagoas que apresentam “braços” finos e paralelos ao longo do corpo principal, assemelhando-se a uma dorsal, como as “espinhas” ao longo da vértebra central dos peixes;  Forma Alongada – lagoas que apresentam um diâmetro de comprimento, algumas vezes maior que o diâmetro de largura;  Forma tipo Serpente – lagoas que se apresentam na forma de um corpo principal muito esguio e que seu comprimento é sempre muito superior a sua largura;  Forma Composta – lagoas que não apresentam uma forma definida, pois são combinações de distintas formas;

Figura 9. Formas lacustres identificadas no relevo da Região Norte Fluminense

Elaborado pelos autores.

Na tentativa de correlacionar as lagoas da Região Norte Fluminense ao relevo ao qual elas estão contidas, foi elaborado um dendograma de agrupamento por semelhança (Figura 10), conforme o Índice Forma, descrito nos Procedimentos Operacionais Estatísticos acima. Desta maneira, foi possível identificar um nível de similaridade de 90% das ligações intragrupos das 73 lagoas inventariadas. A seguir serão apresentadas as principais correlações encontradas entre o relevo e os corpos lênticos da região:  A primeira semelhança surge com as lagoas Preta, Paulista e Carapebus, que podem ser classificadas como lagoas Compostas, e ao correlacioná-las ao relevo nas quais estão inseridas, observou-se que elas estendem-se da Planície Costeira até os Tabuleiros Terciários;  As lagoas do Açu e Salgada aparecem no mesmo grupo e estão localizadas na Planície Costeira, tendo a primeira forma tipo Serpente e a segunda tem forma Alongada;  As lagoas de Dentro, Luciano, Jacaré e Ribeira estão na Planície Fluvial e apresentam forma Alongada;  As lagoas Carrilho, Carvão, Chica, Campelo ou Piri Piri, Canema, Visgueiro, Piri Piri, Pires, Robalo, Bezerra, Amarra Boi, Maria Menina, Casa Velha, Garça, Ubatuba e Barrinha estão na Planície Fluviomarinha e têm forma Circular/Oval;  As lagoas Comprida e Jurubatiba estão na Planície Fluviomarinha e apresentam a forma de Espinha de Peixe;  As lagoas Lagamar e Taí estão na Planície Fluviomarinha e são Alongadas;  As lagoas Taquaruçu, Limpa, Santa Maria, São Gregório, Guriri, Buena, Tatagiba Açu, Grande e Pedras estão no Tabuleiro e apresentam a forma Dendrítica;  As lagoas Taboa (Norte/Sul), Praia, Comércio, Grussaí e Iquipari estão na Planície Fluviomarinha e têm forma do tipo Serpente;

Figura 10. Dendograma de agrupamento das lagoas da Região Norte Fluminense

Elaborado pelos autores.

 As lagoas Manguinhos, Ilha ou Barrinha, Salgada – SFI (II), Doce, Tatagiba Mirim, Saco, Onça, Vigário (Norte/Sul), Cantagalo, Furnas, Roça, Pedras – SFI, Funil, Coqueiro, Olaria, Dentro – SFI, Jacu, Salgada – SFI e Maria do Pilar estão nos Tabuleiros Terciários, têm forma Dendrítica, com áreas pequenas, variando entre a lagoa Ilha ou Barrinha com 3,41 ha e Saco com 59,17 ha, com exceção de duas maiores, as lagoas Manguinhos 114,12 ha e Onça com 126,25 ha;  As lagoas da Saudade, Brejo Grande, Feia do Itabapoana e Macabu estão nos Tabuleiros Terciários, têm a forma Dendrítica, e se destacam na paisagem por terem áreas muito grandes, variando entre a lagoa de Macabu com 571,02 ha e a lagoa Feia do Itabapoana com 5.127, 22 ha;  As discordâncias do modelo foram às lagoas de Cima, Imboassica, Funda, Arisco, Campelo e Feia, pois não apresentaram boa correlação entre o Índice de Forma e a posição no relevo onde estão localizadas. Conclusões A região norte do estado do Rio de Janeiro/BR apresenta diferentes unidades geossistêmicas condicionadas por sua formação geológico-geomorfológica e história de uso e ocupação da terra. Entendendo as lagoas costeiras como estruturas temporárias na paisagem, elas são corpos hídricos de águas claras, e de alta produtividade primária, pois a luz do sol atinge o assoalho lacustre, o que favorece o processo de eutrofização. Somado a isso, são corpos rasos que ao receberem sedimentos de sua bacia, deflagram processos de assoreamento, definindo uma forte relação temporo-espacial com o relevo adjacente. Após a elaboração do mapa, observou-se que no Cinturão Orogênico do Atlântico não há lagoas; nos Tabuleiros encontram-se lagoas alongadas e orientadas para a Planície Holocênica, onde predomina a Forma Dendrítica, que devido a movimentos neotectônicos favoreceu a dissecação diferenciada dos depósitos do Grupo Barreiras, até alcançar o lençol freático. Na Planície Fluviomarinha, localizam-se depressões rasas e arredondadas que formaram lagoas e brejos construídos pela migração da foz do rio Paraíba do Sul em direção à em Atafona; na Planície Costeira, os corpos lênticos formam lagunas nas depressões construídas nos antigos talvegues de rios barrados no litoral, podendo apresentar formas do tipo Serpente, Alongadas, Circulares/Oval e Compostas. Dados da pesquisa mostraram ainda, que dos nove municípios da Região Norte Fluminense, seis apresentam lagoas em sua paisagem, e que a feição geomorfológica predominante é a Planície Fluviomarinha. Estes processos de erosão, transporte e sedimentação, criaram ao longo do tempo uma paisagem particular, que também pode ser chamada de Cabo de São Tomé. Concluiu-se que há correlação entre os corpos lênticos e os compartimentos geomorfológicos na área estudada. Acrescenta-se que há maior densidade de lagoas nos Tabuleiros Terciários, sendo possível encontrar dezenas delas conectadas por complexos sistemas de canais e brejos. Assim, e devido sua relevância ecológica, econômica e social, recomenda-se a conservação destes ambientes enquanto manancial ou pelos usos múltiplos das suas águas. Referências ALVES, L. A.; LIMA, V. S.; MIRO, J. M. R.; COELHO, A. L. N. Classificação Geomorfológica das lagoas da Região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul-RJ. In: Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada, 15 ed., 2013, Vitória (ES). Anais do XV SBGFA, Vitória, 2013, p. 1200-1208. CD-ROM. ISSN: 2236-5311. ALVES, L. A.; LIMA, V. S.; MIRO, J. M. R. O novo mapa da Região de São Tomé: lagoas e suas unidades geomorfológicas. In: VI Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica – CONFICT, 2014, Campos dos Goytacazes/RJ. Disponível em: . Acesso em: 05 de fev. 2015, 20h 40min.

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