O Papa Francisco Ante a Educação como Compromisso para a Formação Integral da Pessoa Humana

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O Papa Francisco ante a Educação como compromisso para a formação integral do Ser Humano Author : J. M. de Barros Dias - Colaborador Voluntário Sênior Categories : EUROPA, NOTAS ANALÍTICAS, POLÍTICA INTERNACIONAL Date : 30 de novembro de 2015

Ao aprovar recentemente a criação da Fundação Gravissimum Educationis, destinada a promover a educação católica, o Papa Francisco manifestou o desejo de renovar o compromisso da Igreja no campo educativo. Durante os últimos anos, por motivos diversos mas, sobretudo, devido a uma tentativa de popularização que cedeu às concessões ao mundo atual, diversas instituições católicas de ensino foram se adequando ao espírito do tempo, procurando adaptar seus cursos e planos de ensino às necessidades estritas do mundo do trabalho. Quando o Sumo Pontífice declarou que “os centros educacionais não são meros ‘dispensadores de conhecimento’ mas são, intrinsecamente, locais de encontro, diálogo e desenvolvimento recíproco junto com o caminho de preparação para a vida que se abre aos outros para o propósito do bem comum”, ele pretendeu reavivar o essencial da mensagem formadora cristã. As últimas décadas trouxeram mudanças estruturantes ao mundo em que vivemos. Se, na economia, o fordismo cedeu lugar à acumulação flexível, a partir dos anos de 1970, ou 1/4

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seja, ahttp://www.jornal.ceiri.com.br produção em massa foi substituída e se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo, na educação se estão verificando fenômenos nunca antes vistos. Hoje em dia, em termos globais, a educação precede, a educação prevê e a sociedade rejeita os produtos da educação. De acordo com o Relatório Faure, Aprender a Ser, publicado pela UNESCO, em 1972, “pela primeira vez, sem dúvida, na história da humanidade, o desenvolvimento da educação, considerado à escala planetária, tende a preceder o nível do desenvolvimento econômico”; “pela primeira vez na história, a educação se emprega conscientemente em preparar os homens para tipos de sociedades que ainda não existem ” e, paradoxalmente, “pela primeira vez na história diversas sociedades começam a rejeitar um grande número de produtos oferecidos pela educação institucionalizada”. Mais recentemente, as Novas Tecnologias da Informação, colocadas ao serviço de uma visão tecnocrática da cultura e do ensino, proletarizaram a realidade educacional, tornando real a antevisão feita pelo pedagogo Roger Gilbert: seria a educação que, doravante, iria criar, no mundo, infra e super seres humanos[1]. Em contraponto com o entendimento instrumental e mercadológico da educação, os grandes pensadores católicos jamais abdicaram da defesa da promoção das faculdades físicas, intelectuais e morais como elemento estruturante para a construção da humanidade do ser humano. Contemporaneamente, Manuel Antunes, um sacerdote jesuíta e professor universitário português, tentou reequacionar as finalidades e os objetivos da educação propondo, como definição para o ato de ensino ? aprendizagem, não a dimensão técnica desse processo com características e alcance únicos, mas aquela que consiste na formação integral da pessoa humana: “a educação é uma espécie de ação: Uma ação – arrisquemos a defini-la – promotora e instauradora de valores. Entre dois ou mais seres humanos estabelecem-se relações destinadas a suscitar e a conservar atos e formas, ideias e sentimentos, conteúdos e estruturas”[2]. Por outro lado, os paradigmas culturalistas de educação defendem, mais do que a relação entre o professor e o aluno, a relação entre o mestre e o discípulo. Neste modelo de educação e de escola, em oposição à escola dominante em nossos dias, há a luta contra os três grandes perigos da atualidade: o niilismo – que, no limite, é a própria negação dos valores –, o relativismo – isto é, a ausência de valores na educação – e o positivismo – a atitude em que o dever e o direito se reduzem ao fato. Com efeito, se o professor “faz pessoas”, ele tem que ser um modelo de valores, para a escola, para os alunos e para a comunidade em que aqueles necessariamente se inserem. Discursando ante 7 mil educadores e estudantes do mundo inteiro, no dia 21 de novembro, na sessão de encerramento do Congresso Mundial “Educando Hoje e Amanhã. Uma Paixão que se Renova”, promovido pela Congregação para a Educação Católica, o Papa Francisco frisou o fato de o materialismo ser, provavelmente, a causa maior da crise da educação atual: “Educar cristãmente não é só fazer uma catequese: esta é uma parte. Não é só fazer proselitismo – nunca façais proselitismo nas escolas, nunca! – Educar cristãmente é levar por diante os jovens, as crianças nos valores humanos em todas as realidades, e uma destas realidades é a transcendência”. A educação axiológica terá que ser, a um tempo, educação cultural. Tendo presentes os 2/4

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princípios expostos pelo Patrono Mundial da Educação, Jan Amós Komensky, Comenius, http://www.jornal.ceiri.com.br educar é ensinar “tudo, a todos, de todas as maneiras, sempre”, o Papa se posicionou contra a educação seletiva e elitista. Adepto da universalização deste bem maior da Humanidade, Francisco assinalou: “Parece que só os povos e as pessoas com um certo nível ou capacidade têm direito à educação; mas sem dúvida nem todas as crianças e jovens têm direito à educação. Esta é uma realidade mundial que nos faz envergonhar. É uma realidade que nos leva a uma seletividade humana, e que em vez de aproximar os povos, afasta-os; afasta também os ricos dos pobres; afasta uma cultura da outra”. Assumindo inequivocamente a educação como sendo a atividade humanizadora do ser humano, o Sumo Pontífice referiu implicitamente Paulo Freire, ao sublinhar que “um grande educador brasileiro [...] dizia que na escola – na escola formal – se devia evitar cair apenas num ensino de conceitos. A verdadeira escola deve ensinar conceitos, hábitos e valores; e quando uma escola não é capaz de fazer isto, esta escola é seletiva e exclusiva e para poucos”. É certo que o ser humano é uma das criaturas mais débeis e desprovidas da escala zoológica. Ele será, vida fora, aquilo que a educação fizer dele: após naufragar, Tarzan, que foi educado por macacos, se tornou em mais um macaco; Robinson Crusoé, por outro lado, quando chegou à ilha deserta, era, em sua plenitude, um súdito do Rei de Inglaterra. Deste modo, se afirma que a educação é um fato[3], um dever[4] e uma necessidade[5]. Tal como Francisco asseverou, a educação deve ser concebida como promoção de valores. Se assim é, cada ser humano, animal de preferências e de preterições, deve ser conscientizado – de maneira coerente e harmoniosa – no contexto da educação, em ordem à fruição e criação da vida total. Ao contrário das seduções imediatistas, e encarando a educação com a “augusta seriedade da vida”[6], é na dedicação do mestre aos seus discípulos e ao seu trabalho, empenhado e silencioso, que nosso tempo poderá redourar o brasão da educação. Se, em nossos dias, o educador tem o dever de, em sua missão específica, “aprender a navegar em oceanos de incerteza em meio a arquipélagos de certeza”[7], então o Papa está certo: “Um educador que não sabe arriscar, não serve para educar. Um pai e uma mãe que não sabem arriscar, não educam bem o filho. Arriscar de modo razoável. Que significa isto? Ensinar a caminhar. Quando tu ensinas uma criança a caminhar, ensinas-lhe que uma perna deve estar firme no pavimento que conhece, e com a outra procurar ir em frente. Assim, se escorrega, pode defender-se. Educar é isto. [...]. O verdadeiro educador deve ser um mestre de risco, mas de risco razoável”. ---------------------------------------------------------------------------------------Imagem “A dignidade da pessoa humana depende, de acordo com o Papa Francisco, da promoção efetiva dos ‘três T’ – Trabalho, Teto e Terra – à escala mundial. Decorrendo da realidade social, a escola não pode, em suas práticas cotidianas, ser a expressão alienadora da condição humana” (Fonte): http://www.elkharttruth.com/image/2015/09/22/800x_b0_z/Cuba-Pope.jpg ---------------------------------------------------------------------------------------Fontes Bibliográficas: 3/4

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[1] Ver: http://www.jornal.ceiri.com.br

Cf. ROGER GILBERT, As Ideias Actuais em Pedagogia, 5.ª ed., Lisboa, Moraes Editores, 1986, trad. do francês por Ruth Delgado, págs. 267 e sgs. [2] Ver: MANUEL ANTUNES, Educação e Sociedade, Lisboa, Sampedro, 1973, pág. 39. [3] Ver: A Educação “é um dos fatos mais gerais e mais constantes na história do homem. Sem educação, quase se pode dizer, o homem é apenas uma possibilidade. Sem educação, o homem é um dos seres mais desmunidos da escala zoológica. Sem educação, ao nível humano, o homem fica reduzido, nos seus gestos e nos seus hábitos, quase ao limite dos animais com os quais possa conviver.”, MANUEL ANTUNES, Educação e Sociedade, op. cit., pág. 33. [4] Ver: A Educação, sendo “a necessidade para o homem de converter-se em ser humano [,] é a sua necessidade primeira e última, a sua exigência mais constante e mais premente. A humanidade do homem não surge como um dado, é uma conquista; não se oferece como simples objeto biológico mas exige-se e projeta-se como um constructo. A humanidade do homem pode perder-se: o homem pode regressar à ‘barbárie’, à selva, à animalidade. A história está semeada desses regressos.”, Id., ib., pág. 34. [5] Ver: A Educação é “um dever do grupo e um dever do indivíduo, duplo dever derivado do facto universal da educação e da urgência e constância da sua necessidade. O mais imperioso e forte dos deveres, mesmo que esse dever nos acarrete a todos uma operação dolorosa, um certo sacrifício, uma certa morte.”, Ibidem. [6] Ver: MIGUEL DE UNAMUNO, “Sobre la Carta de Un Maestro”, La Nación, Buenos Aires, 3 de junho de 1908, in (Introdução, bibliografia e notas de Manuel García Blanco), Obras Completas, Madrid, Escelicer, 1968, Tomo III, pág. 618. [7] Ver: EDGAR MORIN, Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, 2.ª ed. revisada, São Paulo – Brasília, Cortez Editora – UNESCO, 2011, trad. do francês por Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya – revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho, pág. 17.

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