O Papel da Educação na Formação de Profissionais Qualificados no Ambiente Globalizado

June 24, 2017 | Autor: Maria Silva | Categoria: Globalization
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O Papel da Educação na Formação de Profissionais Qualificados e o Posicionamento Brasileiro neste Contexto1 The Role of Education in Training of Qualified Professionals and the Brazilian Positioning in this Context Maria Augusta da Silva2 e Professor Doutor Claudio Rizzo3

Resumo: Temos testemunhado uma supervalorização à formação profissional e uma procura desenfreada por novos conhecimentos e habilidades. Contudo, esta busca se deve somente a preocupação em atender as exigências do mercado de trabalho cada vez mais intolerante quanto às exigências para se ocupar uma vaga de emprego em qualquer que seja o nível. Este fenômeno pode ser relacionado diretamente à globalização, responsável pelo avanço nos meios de comunicação possibilitando interação mundial criando a necessidade de pessoas melhor qualificadas e inteiradas neste contexto para sustentar o sistema capitalista da nossa sociedade atual. Por outro lado, notamos a dificuldade principalmente dos países ditos semiperiféricos em acompanhar este processo, uma vez que dispõem de poucos investimentos em educação e governos muitas vezes desinteressados no crescimento intelectual da sociedade. Palavras-chave: Educação – Qualificação – Globalização Abstract: We have been witnessing an overvaluation to the professional training and an unbridled pursuit for new acknowledgments and abilities. Howsoever this pursuit is due only to the concern in attending the requirements of the labor market which is increasingly intolerant regarding the acknowledgments required for jobs vacancies in any kind of position. This phenomenal can be related to the globalization phenomenal once it brought an increase in the ways of communicating which turns possible the international integration what creates the need of people more qualified and participating in this context in order to maintain our society’s current capitalism system. By the other hand, we can notice the difficult mainly from semi-peripheral countries to accompany this process, once they have minimal investments in education and many times governments disinterested in the intellectual development of the society. Key Words: Education, Training, Globalization

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Artigo Científico apresentado ao Programa de Iniciação Científica de Administração da Universidade São Judas Tadeu; 2 Maria Augusta da Silva é graduanda no curso de Administração Linha de Formação Específica em Comércio Exterior; 3 O professor orientador, Claudio Rizzo é PhD em Administração, Flórida Christian University – EUA.

Objetivos: Este trabalho tem como objetivo analisar o comportamento da sociedade através das Divisões Internacionais do Trabalho que desde a sua primeira instituição e adaptações ao longo dos anos ao contexto socioeconômico da época, têm permeado a nossa sobrevivência no mundo capitalista no âmbito de formação e qualificação profissional. Outro importante fator de analise é o posicionamento brasileiro neste processo, uma vez que o país entrou na globalização muito tardiamente ocasionando uma grande diferenciação negativa em relação aos demais países assim como prejudicando a sociedade brasileira com visões dogmáticas e atrasadas baseadas no ponto de vista aristocrata que até os dias atuais influenciam no governo do nosso país. Metodologia: Através do método dedutivo e estudos transversais de pesquisa exploratória foi-se utilizado de dados acadêmicos de livros, artigos científicos e outras publicações qualitativas, com exceção dos materiais relacionados ao tema do Posicionamento Brasileiro no Contexto Educacional, que precisou de informações e dados específicos quanto aos números da educação brasileira, foi possível proporcionar um panorama mais palpável ante a análise do modelo de evolução das necessidades de qualificação profissional primeira e mais generalizadamente em âmbito mundial e posteriormente a nível Brasil ocasionado principalmente pela globalização. Introdução: No novo contexto socioeconômico mundial a partir da globalização identificada mais notoriamente em meados de 1970 e a instituição da terceira Divisão Internacional do Trabalho, ficou evidente uma mudança radical nas exigências quanto à especialização do trabalho. Nota-se que anteriormente a este acontecimento, o funcionário tinha como especialização apenas a sua experiência, seus conhecimentos acadêmicos eram mínimos. O trabalho era demasiadamente especializado no modelo taylorista, portanto não havia necessidade de que o trabalhador soubesse mais do que os conhecimentos específicos da função que desempenhava. Contudo, a partir do fenômeno de globalização e maior acesso às informações outrora reservadas apenas aos estudiosos as empresas passaram a exigir funcionários mais inteirados no contexto mundial e suas constantes alterações. Outra novidade foi a automatização das fábricas, que trouxe desemprego aos que não tinham conhecimentos tecnológicos específicos para operar os novos instrumentos de trabalho. Desta forma cria-se um excesso de mão de obra e desemprego crescente, o que não significa necessariamente que todas as posições de emprego estão ocupadas, pois as empresas estão agora com carência de mão de obra qualificada. Logo, coube aos assalariados buscarem meios de se tornarem competitivos visando a manterem seus postos de trabalho ou a conquistarem novos e melhores empregos. As empresas por sua vez, na existência de uma oferta excessiva de mão de obra, se aproveitam para selecionar sempre os mais qualificados, mesmo que a função não tenha exigência de conhecimentos específicos. Este ciclo culminou com a desenfreada busca por cursos profissionalizantes, de graduação e especialização pelos

mais jovens visando a se estabelecerem no mercado de trabalho e o aumento do desemprego para aqueles que não têm formação acadêmica criando uma importância superlativa à qualificação profissional. O Estado até há pouco tempo, alheio a este processo, agora identifica a necessidade de agir, criando as condições para a educação dos trabalhadores no novo contexto, minimizando as mazelas do desemprego e mantendo as empresas investindo no país. Revolução Industrial e Divisões Internacionais do Trabalho Tomando como ponto de partida o modelo taylorista com a aplicação de conceitos tais como: a utilização do método cartesiano, o desenvolvimento de pessoal e seus resultados através de treinamento, planejamento, atuação dos processos, coparticipação entre capital e trabalho, a supervisão funcional e sistema de pagamento por quantidade, encontramos condições de trabalho desumanas fundamentadas no ponto de vista de seu criador que supunha serem os trabalhadores pessoas que não tinham vontade de trabalhar e não produziam se não fossem pressionados, características da primeira Divisão Internacional do Trabalho4. Este tipo de trabalho baseado na visão da Administração Científica5 evidenciado após o processo da Revolução Industrial cria uma acirrada concorrência entre as potencias industrializadas e também é responsável pela migração da mão de obra de maneira a afetar todo o sistema capitalista culminando com o êxodo rural e superpovoamento nas cidades, onde foram estabelecidas as novas indústrias agora em processo de superprodução maquino faturada. Com o surgimento da Segunda Divisão Internacional do Trabalho causada devido a uma nova mudança nas relações de trabalho, os Estados Unidos assumem a posição de potência mundial e países outrora neste patamar tal como a Inglaterra, se nivelam como economias semiperiféricas. Nesta nova divisão, houve o advento da energia elétrica e outras tecnologias que gerou uma mudança na força de trabalho que passa a operar outros tipos de máquinas que lhes exigem um pouco mais de conhecimento, mas que podem ser adquiridos com a experiência, desta forma as mudanças no nível de qualificação do trabalhador para aqueles que já trabalhavam nas fábricas não sofreu grandes alterações. Outro importante fator foi as mudanças causadas pela crise de 1929, Primeira e Segunda Guerras, que deixaram os países europeus devastados alterando os números relacionados ao desemprego. Na terceira Divisão Internacional do Trabalho, mais acentuadamente no pós-guerra, com o desenvolvimento dos meios e tecnologia da informação podemos evidenciar a consolidação dos conceitos de qualificação profissional. Até então, a maior e mais 4 Divisão Internacional do Trabalho consiste na especialização das funções econômicas e produtivas entre os países desenvolvidos e os emergentes, onde cada um oferece o produto ou matéria prima que lhe sobra e adquire de outro país o que lhe falta. Esta relação é mais evidente nos países emergentes com a compra de bens de consumo com alto valor agregado dos países desenvolvidos e a venda de matéria prima aos mesmos. Sua origem é a Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo (1817). 5 Frederick Winslow Taylor preconizava, através da Administração Cientifica, suas ideias de divisão do trabalho buscando uma organização cientifica com ênfase em tempos e métodos para garantir maximização de lucros e minimização de custos.

importante mudança tinha ocorrido com a migração dos camponeses aos campos fabris depois disto, mesmo com as mudanças e acontecimentos que nortearam o curso dos séculos XIX e XX estas não ocorreram no cerne da qualificação profissional, apenas nos níveis de desemprego baseados no contexto socioeconômico o qual o mundo vivia no momento (Negri pág. 267): ... As transformações tecnológicas dos anos 70, contudo, com a sua confiança no sistema de racionalização do trabalho levou estes regimes ao extremo limite de efetividade, Até o ponto máximo. Os mecanismos Tayloristas e Fordistas não podiam mais controlar a dinâmica das forças produtivas e sociais.

Neste novo panorama surgem empresas que têm a percepção da importância do empregado para a organização e começam a perceber que o modelo de produção racionalizada não lhes serviria mais. O Papel da Globalização Mesmo podendo ser identificada desde o mercantilismo, o conceito de globalização se tornou importante a partir do fim da Segunda Guerra, é um conceito ocidental embasado no capitalismo e expansão da hegemonia econômica, política e cultural com participação imperativa das grandes empresas transnacionais. O pensador italiano Antônio Negri defende também em sua obra Império (Negri, pág. 282), que o novo processo não está mais voltado ao poder centralizado, ele afirma que as relações de poder agora se dão por meio da cultura e economia. A globalização teve um papel fundamental na mudança dos conceitos de qualificação profissional, podendo ser até considerada como responsável direta, pois a partir de seu desenvolvimento as empresas passaram a atuar em níveis internacionais, expandindo-se agressivamente a outros países com culturas completamente distintas o que trouxe a necessidade de profissionais melhores qualificados e adaptados ao novo contexto mundial, onde não somente o meio produtivo industrial passou por grandes transformações, mas também todos os meios de produção. Este novo processo, também conhecido como Informatização migrou a força de trabalho das fábricas para o serviço terceirizado6 em setores tais como saúde, educação, pós-venda, qualidade, etc. agora fundamentalmente importante nas novas relações internacionais entre os países capitalistas. Neste caso, diferentemente da migração dos ruralistas que houve na primeira Revolução Industrial, onde foram trabalhar nas fábricas sem qualquer tipo de instruções ou exigências quanto a qualquer tipo de conhecimento acadêmico agora os trabalhadores do novo setor de serviços precisam de conhecimentos específicos, principalmente tecnológicos e grande interação com o mundo globalizado. A globalização imaginada pelo homem não corresponde ao que vivemos principalmente no meio corporativo, onde a rapidez com que temos as informações no mundo globalizado exige que o novo profissional também seja ágil na tomada de decisões, competitivo e inteirado aos acontecimentos mundiais. Esta 6

No Brasil, este processo é mais visível a partir da década de 70. As empresas perceberam que poderiam identificar parceiros de negócios para produzir parte do produto/serviço com qualidade e menores custos.

internacionalização da informação e das culturas criou uma demanda pelo conhecimento daqueles que buscam conquistar o seu espaço no mundo dos negócios, pois sabem da necessidade de aprimoramento contínuo, uma vez que a velocidade do obsoleto chegou a um ponto inimaginável em outro tempo. A Importância da Qualificação Profissional no Contexto Mundial Globalizado É interessante retornarmos à Antiguidade para exemplificar o conceito de educação e qualificação profissional. Tomemos para esta análise a cidade de Atenas, berço da Filosofia, onde a partir das reformas sociais e políticas de Clístenes desenvolveu-se a democracia que trouxe por sua vez o conceito de cidadania. O cidadão tinha o direito de participar da academia7, do estudo e do poder. Contudo, uma pequena minoria era considerada como cidadãos e nesta minoria não estavam inclusos escravos, mulheres e estrangeiros. Segundo Marilena Chauí (Chauí, 2002), a Filosofia e a política nasceram juntas e muitos dos primeiros filósofos, chefes políticos e legisladores tinham maiores níveis de conhecimento e da mesma forma somente os mais estudados conquistavam seus lugares como cidadãos. A Filosofia, portanto foi o início do processo de educação e qualificação8. Depois se deu início o processo mecanicista onde a prática na realização de um trabalho era mais importante que conhecimentos teóricos e acadêmicos. E por fim com a globalização os empregos que demandam maior qualificação profissional superaram os que exigem somente força física. Em um mundo capitalista onde a busca incessante das empresas é o lucro, elas tem exigido profissionais que tenham habilidades para agir sob pressão, que tenham interação intercultural além dos conhecimentos específicos da função e capacidade de interação positiva com pessoas. Neste ambiente globalizado a competitividade se torna regra. Segundo Milton Santos (Santos pág. 46): Nos últimos cinco séculos de desenvolvimento e expansão geográfica do capitalismo, a concorrência se estabelece como regra. Agora, a competitividade toma o lugar da competição. A concorrência atual não mais a velha concorrência, sobretudo porque chega eliminando toda forma de compaixão. A competitividade tem a guerra como norma. Há, a todo custo, que vencer o outro, esmagando-o, para tomar seu lugar.

Esta concorrência está presente em todos os setores da economia, e com os empregos cria um sistema de exclusão social, onde somente os mais fortes sobrevivem, pois as empresas se aproveitam do excesso de mão de obra e mesmo para funções que não requer qualquer conhecimento específico elas admitem funcionários com alguma formação. Hoje é de papel da educação elementar, incluir as questões de qualificação e formação profissional que são influenciadas pelo progresso técnico e pelo contexto socioeconômico mundial, buscando desta forma não só a formação e educação

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A Academia era a escola de Platão. Frequentada apenas pela elite da sociedade e com ideal político utopista. Os Sofistas podem ser citados como pioneiros na arte de qualificação, uma vez que foram os primeiros a cobrarem dos estudantes para oferecer-lhes educação. 8

profissional, mas a formação do indivíduo. A busca pelo lucro do capitalismo e os avanços científicos trazem como consequências a intelectualização do trabalho e flexibilização das relações de trabalho que cria a necessidade de um novo comportamento e capacidade intelectual ao trabalhador. O novo profissional deve ser preparado e desenvolver capacidades de análise crítica, interpretação de fatos e textos, interação e trabalho em equipe, há agora uma pressão para que todos se adaptem ao novo modelo produtivo embasado nos novos paradigmas capitalistas e uma supervalorização de idiomas estrangeiros e conhecimentos tecnológicos específicos, além da graduação e especialização dependendo da função a qual o profissional pretende desempenhar. De outra forma, este indivíduo não conseguirá se estabelecer no mercado de trabalho para obter seu sustento e talvez se submeta a condições sub-humanas em empregos informais recebendo um salário que não comporta o mínimo para sua sobrevivência de acordo com os parâmetros considerados adequados9. Este processo tem um impacto direto na sociedade, uma vez que influencia a criação das favelas, dos empregos informais, miséria e até a criminalidade. O Estado deve intervir criando as oportunidades para os jovens se formarem de acordo com a necessidade do mercado e desta maneira os males gerados com o desemprego, devido à escassez de mão de obra qualificada, possam ser minimizados e os indivíduos acompanhem e participem do processo de globalização ao invés de serem suprimidos por ele. O Papel da Educação e Formação Profissional para o Ser Humano Há uma grande confusão no entendimento e diferenciação dos conceitos de formação e educação na sociedade atual. Há quem acredite que ambos representam a mesma coisa, contudo devemos nos atentar às diferenças entre estes conceitos para compreendermos a importância de cada um deles na constituição do pensamento, da moral e ética do individuo. Educação segundo a escola Sofista tem por objetivo a preparação para a cidadania, ela vai ao encontro dos conceitos de socialização e enculturação. Em qualquer sociedade há este processo no intuito de ajustar os membros ao grupo através de matrizes à convivência e desenvolvimento do grupo a qual o indivíduo pertence. Contudo é interessante notar as variações no conceito de educação como processo de ensinar e aprender e educação no âmbito de cidadania, esta última é diferente em cada cultura, ou seja, o que é considerado educado em um lugar, para outra sociedade pode demonstrar falta de educação. Rousseau fala sobre esta educação em sua obra Emílio (Rosseau pág.9): A segunda consideração depende de certas condições dadas em casos específicos; estas condições são acidentais e, portanto, variáveis, podendo mudar indefinidamente. Assim, um tipo de educação seria possível na Suíça e não na França, outro seria adaptado para as 9

A Constituição brasileira prescreve que o salário mínimo deve atender as necessidades básicas do trabalhador e de sua família, tais como: moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social – Sabemos que nem o salário mínimo ou o salário médio da maioria dos trabalhadores não são suficientes para cobrir estas necessidades. (Capítulo II – Artigo 7º Input IV)

classes médias, mas não para a nobreza. O esquema pode ser realizado com mais ou menos sucesso, de acordo com uma quantidade significativa de circunstâncias, e seus resultados só podem ser determinados por sua aplicação especial para um ou outro país, a esta classe ou àquela.

A educação como processo de ensinar e aprender, portanto deveria ter como papel a construção da ética e civilidade, mas tem sido interpretada de forma incoerente nos dias atuais. Vemos a sua concepção como uma ferramenta de dominação dos mais ricos para subjugar os fracos que não têm acesso à cultura escolar e ficam a mercê do que lhes é imposto pela mídia, esta dominada pelos mais poderosos que sabem que uma sociedade menos esclarecida os mantém no poder, uma vez que não há um entendimento de mundo e convívio social, cria-se uma sociedade baseada na troca de favores. O conceito de formação pressupõe o conjunto de habilidades e conhecimentos específicos necessários à realização de uma tarefa, inclui teoria e prática assim como a própria educação. O que vai diferenciar os conceitos de educação e formação é o objetivo de sua aplicação, pois enquanto a primeira é subjetiva e vem para a formação de caráter, essência e moral a segunda é objetiva e traz o conhecimento aplicado a uma área ou especialidade. Desta forma, podemos concluir que a presença da educação na vida do individuo é primária à formação, mas que ambas devem ser associadas para o desenvolvimento positivo uma vez que o individuo educado vai buscar a sua formação para desenvolver-se pessoalmente e alcançar seus objetivos. Contudo os que não têm em si a educação conseguem ter formação, mas tornam-se profissionais incompletos, pois mesmo sendo competentes na realização de suas funções não desenvolvem seu intelecto e muitas vezes permanecem estagnados socialmente independentemente do seu nível de formação acadêmica. Já os indivíduos educados, percebem a necessidade da formação para agregar conhecimentos e habilidades específicas no seu desenvolvimento individual e social. O Posicionamento Brasileiro na Formação e Qualificação Profissional O posicionamento do Brasil em relação à formação e qualificação profissional além de ser tardia quanto aos demais países, também é deficiente. Com a expansão da industrialização brasileira para acompanhar o desenvolvimento de maneira rápida, mas não eficiente a partir da década de 30 foi desenvolvida no país a cultura de importação dos conhecimentos aplicados e não o seu desenvolvimento. Desta forma, havia uma importação de tecnologia e aprendizado superficiais, somente de como operar o maquinário. Não há até a atualidade grandes investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e por consequência deste posicionamento, vemos a entrada de multinacionais no país com dificuldade de operação, pois não encontram entre os brasileiros, pessoas qualificadas a desempenharem uma tarefa mais complexa. Isto acaba gerando um excesso de oportunidades, mas que não são alcançáveis aos brasileiros e consequentemente atrai a atenção de estrangeiros a viverem e trabalharem no nosso país, comportamento inclusive facilitado pelo posicionamento aberto do Brasil em relação à aceitação de estrangeiros.

A criação e desenvolvimento das universidades foram tardios para o Brasil em relação aos demais países. Enquanto os Estados Unidos teve sua primeira universidade em 1765, o Brasil foi contemplado com sua primeira instituição de ensino universitário no século XIX. Lembrando também que este benefício veio atender aos interesses apenas da nobreza portuguesa, agora exilada no Brasil devido às conquistas de Napoleão Bonaparte na Europa. Enquanto isso, aos demais era oferecido o ensino básico com fundamentos dogmáticos baseados no cristianismo pelos jesuítas. Na Nova Republica (1889-1930) as universidades eram consideradas ultrapassadas e voltadas ao Velho Mundo, e por este motivo não houve investimentos para a criação de universidades voltadas ao estudo, formação e pesquisa e sim criação de cursos técnicos e profissionalizantes. Somente a partir de 1930 no governo de Getúlio Vargas, foi criado o Ministério da Educação e instituídas normas para a criação das universidades. Porém eram universidades voltadas à formação de educadores. A Universidade de São Paulo foi a concretização dos planos liberais para criação de uma universidade de estudo e pesquisa, criada em 1934. No novo contexto socioeconômico brasileiro, advindo da abertura do país à industrialização gerou a necessidade de direcionar o ensino à profissionalização. Principalmente no período populista (1945-1964) foram criadas 22 universidades. Em 1968 foi aprovada a Lei da Reforma Universitária criando os departamentos, o sistema de créditos, o vestibular classificatório, cursos de curta duração entre outros e logo ocorreu uma expansão do setor privado, criando as faculdades isoladas. E somente agora, no século XXI ano de 2012 que o governo federal através da criação do projeto Ciência sem Fronteiras, possibilitou a educação e desenvolvimento de jovens em faculdades estrangeiras para aplicação de P&D no Brasil. Uma estratégia que visa o desenvolvimento de cultura inovativa no nosso país, agregando valor aos nossos produtos e nos encaminhando a um posicionamento de potencia mundial. Contudo, os números da educação no Brasil, não são animadores. Vemos politicas superficiais de incentivo à educação, mas que não correspondem exatamente à necessidade do país. Nota-se que houve uma diminuição do numero de analfabetos nos últimos anos, mas é visível que continuamos com uma imensa parcela da população em situação de analfabetismo funcional, houve aumento nos cursos universitários e na quantidade de pessoas que tem um diploma de graduação, mas as empresas continuam com deficiência de mão de obra qualificada, pois mesmo nas universidades têm se difundido a profissionalização somente e não à formação do individuo. Considerações Finais: Concluímos a partir das premissas apresentadas que o processo de profissionalização têm se superado ao de educação e formação moral do individuo, e a maior responsável por este panorama é a globalização, que através de décadas de desenvolvimento levou o

individuo a uma forma diferente de vislumbrar o seu futuro e lidar com as questões capitalistas impostas pela conjuntura socioeconômica predominante na sociedade. Com a evolução das comunicações tronou-se extremamente importante a agilidade na tomada de decisões e a interação mundial. O conceito de acumulação de capital imposta pelo sistema capitalista criou uma procura desenfreada das empresas por profissionais que estejam inseridos dentro das constantes novidades, desta forma as instituições de ensino são obrigadas a seguirem as tendências e começam a alterar as metodologias e os padrões de ensino, focando em criar profissionais e não pensadores ou formadores de opinião. Tal comportamento ainda é apoiado pelos governos, principalmente dos países periféricos que veem na falta de entendimento dos indivíduos sem acesso à cultura escolar uma maneira de manterem-se no poder aproveitando dos recursos e benefícios do país. Bibliografia: Censo Demográfico 2000 Educação Resultados da Amostra. Rio de Janeiro. IBGE. 2003; CHAUI, MARILENA DE SOUSA. Convite à Filosofia. 13ª edição. São Paulo. Editora Ática. 2004; HARDT, MICHAEL; NEGRI, ANTONIO. Império. 5ª edição. Rio de Janeiro. Editora Record. 2003; MARX, KARL. O capital: Crítica da Economia Política. 2ª edição. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1988; MARX, KARL E ENGELS, FRIEDERICH. Manifesto do Partido Comunista. 14ª edição. Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008; Pesquisa Mensal de Emprego Maio de 2012. Rio de Janeiro. IBGE. 2012. PLATÃO. A República de Platão. São Paulo. Editora: Nova Cultural. 1999; RICARDO, DAVID. Princípios de Economia Política e de Tributação. 4ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001; ROUSSEAU, JEAN JACQUES. Emile. United States. Nuvision Publications. 2007; ROUSSEAU, JEAN JACQUES. O Contrato Social: E Outros Ensaios. São Paulo. Editora Cultural. 1971; ROUSSEAU, JEAN JACQUES. Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens. São Paulo, SP: Editora: Ática. 1989; SANTOS, MILTON. Por uma Outra Globalização: Do Pensamento Único à uma Consciência Universal. 15ª edição. Rio de Janeiro. Editora Record. 2008;

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