O Papel da Ética Organizacional no Estabelecimento de Relações Interpessoais na perspectiva de Robert Henry Srour

July 6, 2017 | Autor: Mussindo Magila | Categoria: Ética Empresarial
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MUSSINDO AFONSO MAGILA

O PAPEL DA ÉTICA ORGANIZACIONAL NO ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA PERSPECTIVA DE ROBERT HENRY SROUR

Universidade São Tomás de Moçambique Maputo, Maio de 2015

MUSSINDO AFONSO MAGILA

O PAPEL DA ÉTICA ORGANIZACIONAL NO ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA PERSPECTIVA DE ROBERT HENRY SROUR

Monografia científica apresentada na Escola de Ética e Ciências Humanas da Universidade São Tomás de Moçambique para a aquisição do grau de Licenciatura em Filosofia, especialização em Ética e Gestão de Recursos Humanos, sob a orientação do Msc. Celson Bahule.

Universidade São Tomás de Moçambique Maputo, Maio de 2015

DECLARAÇÃO Eu Mussindo Afonso Magila, filho de Afonso Macolelane Magila e de Maria Luísa Adolfo, natural de Tete, residente no bairro do Jardim, Rua da Agricultura, Cidade de Maputo, Portador do BI nº: 051001817474C declaro em minha honra que o presente trabalho científico é fruto das minhas pesquisas e redacção. Nunca foi apresentado em nenhuma instituição para aquisição de qualquer que seja o grau académico.

Mussindo Afonso Magila _____________________________

Dedicatória À minha família em especial ao meu pai Afonso Macolelane Magila que eternamente por nós será lembrado e minha querida mãe Maria Luísa Adolfo, aos meus irmãos Filipe, Artimiza, Providencia, Racy, Vasco e Felicidade Afonso Magila pelo seu apoio material e moral ao longo desta trajectória.

Agradecimentos Dou graças a Deus pela vida e inúmeras graças concedidas. À minha mãe e meus irmãos pelo apoio que me têm dado. Aos meus amigos e companheiros de sempre: José e Eugénio Ernesto Finiasse, Milton Domingos Chaves, Oliveira Margarido, Emmanuel Tomé, Jorge Uamusse e Flícia Alberto Chambal pelo encorajamento e apoio a tempo inteiro. Ao meu supervisor Msc. Celson Bahule, pela sua sábia orientação para a elaboração desta monografia. E a todos aqueles que directa ou indirectamente contribuíram para a minha formação e felicidade, o meu muito obrigado por tudo.

Resumo O pensamento de Robert Henry Srour sobre a ética organizacional é passível de várias interpretações pelo facto de ser muito complexo. Aliado ao mesmo temos visto a ética como ciência que estuda a conduta humana face ao outro e ao ambiente em que se encontra inserido. A ética aliada a organizacional visa demonstrar o papel que devem comportar as organizações perante os stakeholders estabelecendo no seu seio e com apoio da ética relações interpessoais bastante coesas, estas relações interpessoais que por sua vez são tidas como relações estabelecidas entre duas ou mais pessoas. O estabelecimento de boas relações interpessoais dentro da organização pode culminar com a melhoria da qualidade de vida dos stakeholders, buscando-se assim estabelecer dois pilares na organização, um que se liga a satisfação de interesses de recursos humanos e o outro com a satisfação dos objectivos e metas da organização, deste modo, com a presença de recursos humanos altamente motivados, num ambiente saudável e acima de tudo vendo as suas necessidades satisfeitas, estes, por sua vez, se comprometem com a organização trabalhando com intuito de alcançar as metas e objectivos traçados pela organização. Põe-se também em causa a função das organizações e o impacto das suas acções face a sociedade; ao meio ambiente e ecologia, as organizações são chamadas a responder por suas acções a nível extra organizacional, isto é, abrirem mão de uma parte de seus lucros em nome da implementação do programa de responsabilidade social, com vista a promoverem e desenvolverem a cultura, politica e economia das comunidades em que se encontram inseridas, as organizações devem assim incluir aspectos como a altruísmo e solidariedade no seu processo de responsabilidade social para o bem-estar social. Palavras-chave: Ética, ética organizacional, relações interpessoais, qualidade de vida, responsabilidade social.

Abstract The thought of Robert Henry Srour on the organizational ethics is several susceptible to interpretations for the facto of being very complex. Ally to the same has been seeing the ethics as science that studies the conduct human face to the other and the atmosphere in that one find inserted. The allied ethics the organizational seeks to demonstrate the paper that you/they should hold the organizations before the stakeholders establishing in his/her breast and with support of the ethics relationships quite united interpersonal, these relationships interpersonal that you/they are had as established relationships between two or more people a his/her chance. The establishment of good relationships interpersonal inside of the organization it can culminate with the improvement of the quality of life of the stakeholders, being looked for like this to establish two pillars in the organization, one that calls the satisfaction of interests of human resources and the other with the satisfaction of the objectives and goals of the organization, this way, with the presence of human resources highly motivated, in a healthy atmosphere and above all sells their satisfied needs, these, for his/her time, commit with the organization working with intention of reaching the goals and objectives drawn by the organization. He/she also puts in cause the function of the organizations and the impact of their actions face the society; to the environment and ecology, the organizations are called to answer for their actions at organizational extra level, that is, they give up a part of their profits on behalf of the implementation of the program of social responsibility, with view they promote her and they develop the culture, it politicizes and the communities' economy in that one find inserted, the organizations should include like this aspects as to altruism and solidarity in his/her process of social responsibility for the social wellbeing. Keywords: Ethics, organizational ethics, relationships interpersonal, life quality, social responsibility.

Índice Introdução…………………………………………………………………………………………3 1. Delimitação do Tema…………………………..………………………………………….4 2. Contextualização…………………………………………………………………………..4 3. Delimitação do problema……………………………………………………………….....6 4. Justificativa………………………………………………………………………….…….6 5. Objectivos……………………………………………………………………...………….7 6. Metodologia……………………………………………………………………………….7 CAPÍTULO I: ÉTICA E O CONTEXTO ORGANIZACIONAL………………..…….……7 1. Contextualização do Pensamento Ético……………………………………….….……….8 1.1 Ética na idade Clássica…………………………………………………………………… 8 1.1.1

Sócrates………………………………………………………………………………. 9

1.1.2

Platão……………………………………………………………………………….. 10

1.1.3

Aristóteles…………………………………………………………………………... 11

1.2 Ética e a Religião (idade medieval) ………………………………………………...…...12 1.2.1. Santo Agostinho…………………………………………………………………….. 13 1.2.2. São Tomas De Aquino……………………………………………………………… 15 1.3 Concepção da Ética na idade Moderna……………………………………………...…. 16 1.3.1. Immanuel Kant……………………………………………………………………… 16 1.4 Ética e a Contemporaneidade……………………………………………………….…...17 1.4.1. Martin Buber……………………………………………………………………...… 18 1.4.2. Emmanuel Levinas………………………………………………………………….. 19 2. Ética nas Empresas (ética organizacional) ….……………………………………….…. 20 CAPÍTULO II: RELAÇÕES INTERPESSOAIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO SEIO ORGANIZACIONAL……………………………………………………………….…………23 1. Relações Interpessoais………………………..……………………………….…………23 1.1 Nova visão dos Recursos Humanos…………..………………………………………… 25 1.2 Cultura Organizacional………………………..……………………………..…………..28 1.3 Pertinência da Ética no Processo de Liderança………..………………………….……..31

2. Responsabilidade Social: uma abordagem ética das suas acções……..….…………….…34 2.1 Escolas Clássicas: Utilitarismo e Absolutismo Kantiano….…………..………..……….38 2.2 Teoria de Justiça como Equidade………………………….……………..………...……40 CAPITULO

III:

ÉTICA

EMPRESARIAL

COMO

MAU

NEGÓCIO:

UMA

ABORDAGEM CRÍTICA……………………………………….……………….…………...43 1. Capitalismo e Liberalismo Económico…………………………………..………………43 1.1 Liberalismo Económico e Neoliberalismo……………………………………………….45 2. A Responsabilidade das Empresas é aumentar Lucro……...…...…………………….....46 3. Ética

Fora

das

Organizações

e

Emergência

de

Conflitos

interpessoais………………………………………………………………….…………..51 Conclusão……………………………………………..…………..……………………………..54 Apêndice: Curriculum Vitae de Robert Henry Srour……………………………………………55 Bibliografia…………….……………………………..……………...…………………………. 56

Introdução O presente trabalho tem como preocupação a questão da ética empresarial, sobretudo a sua pertinência no estabelecimento de relações interpessoais, baseando-se nos estudos elaborados pelo professor e sociólogo brasileiro Robert Henry Srour. Porém, com este trabalho procura-se abordar questões ligadas a ética empresarial e o seu impacto perante a vida social. Ética, como disciplina de excelência filosófica foi discutida por diversos teóricos, estes que de um modo consensual consideram a ética como uma ciência que se preocupa com a conduta humana em todas esferas que estiver inserido, assim sendo, Kant apela a uma ética fundamentada na lei moral, com o seu princípio visando que todas acções humanas devem ter em consideração o outro e acima de tudo devem ser por todos aceite, ou seja, “agir de modo que a sua acção seja universalmente válida”. Esta tendência de universal as acções ético morais e que as mesmas comportem consigo aspectos como a igualdade, o altruísmo, o respeito ao outro e a sua liberdade estende-se também para o campo organizacional, passando assim a responder sobre a liberdade do homem nas organizações e a conduta que devem incorporar as organizações. Porém, Robert Henry Srour compreende que “as organizações podem ser definidas como colectividades especializadas na produção de um determinado bem ou serviço”. Portanto, há tentativas de confundir as organizações das instituições, e “definiremos as instituições como conjuntos de normas sociais, geralmente de carácter jurídico, que gozam de reconhecimento social” (SROUR, 1998: 107). No primeiro capítulo apresentaremos um breve historial sobre a ética no particular, desde a sua origem até os dias actuais, assim como as abordagens que esta veio observando em diversos tempos históricos que tem como ponto de partida a seguinte questão, o que é a ética? O primeiro capítulo fecha com alguns pontos que marcam a ética já no campo organizacional e a sua respectiva definição. No segundo capítulo analisaremos as relações interpessoais na organização regidas pela ética e o impacto que estas podem criar no desempenho das acções organizacionais sob ponto de vista do pensamento do professor Robert Henry Srour. Contudo, a ética em todas esferas da organização vem salvaguardando aspectos como a qualidade de vida, lideranças ética e a nova visão dos

recursos humanos, aspectos que são visíveis no processo de responsabilidade social adoptada pelas empresas que tem como fim último promover o bem-estar social. Já no terceiro e último capítulo, apresentaremos uma abordagem critica da ética organizacional apoiado por teorias capitalistas e neoliberalistas, ou seja, a tentativa de afastar a ética das organizações alegando que a ética é uma má parceira para as empresas, e que a sua lógica não é compatível a lógica capitalistas que se encontra intimamente ligada com a “maximização do lucro”, no entanto, incluir a ética como processo de responsabilidade social das organizações é praticar homicídio a própria organização. 1. Delimitação do tema O tema que se pretende discutir incide no pensamento, nos estudos e nos discursos proferidos pelo sociólogo Robert Henry Srour concernente a ética face as relações interpessoais organizacionais. Segundo o autor em causa “as relações interpessoais são relações estabelecidas entre duas ou mais pessoas. Envolvem as subjectividades dos agentes individuais”. Neste sentido, tentaremos entender o impacto das relações interpessoais face ao dinamismo das organizações. Para tal, nos apoiaremos da ética, de algumas teorias filosóficas e económicas para discutir a pertinência da ética no sector organizacional no seu geral, pretendemos assim, fundamentar a importância da ética no seio organizacional. 2. Contextualização O professor Robert Henry Srour tem uma trajectória singular, fruto da vivência e do conhecimento teórico. Seu comprometimento com a coisa pública o levou a praticar o que sabia fazer, e bem, em áreas sensíveis da administração directa e indirecta, como: aplicar a Ética científica ao dia-a-dia dos negócios, pois, para uma empresa que queira ser bem-sucedida e sustentável, vale dizer perene, precisa colocar as questões éticas no cerne das suas preocupações. Daí a necessidade de tomar posição. Qual padrão de relações empresariais cultivar: profissional ou mafioso? Neste contexto, o mundo acompanhado pela globalização e avanços tecnológicos, tem muitas vezes se esquecido de incluir aspectos éticos face a estes avanços tecnológicos e industriais,

assim como também inclui-los nas micros, pequenas e macro empresas em suas actividades rotineiras. Pois, não por acaso o abalo sísmico por que passa o sistema financeiro internacional e os profundos impactos sofridos pela economia mundial foram precedidos pelos escândalos corporativos do início do século, quando grandes companhias foram flagradas em tortuosas manipulações contábeis. De fato, executivos oportunistas priorizaram seus bónus sem medir consequências, fraudaram sem escrúpulo os balanços, lesaram implacavelmente os investidores, feriram de morte os interesses dos stakeholders, jogaram na lata de lixo o abecedário da boa gestão empresarial. Diz António Jacinto Matias: “Não vejo como negar que os desastres empresariais provocam indizíveis sofrimentos: ocasionam perdas sensíveis aos investidores, paralisam o fluxo de crédito em razão da desconfiança generalizada, desaceleram os negócios, aumentam a inadimplência, geram desemprego. A crise, portanto, não se resume ao aspecto financeiro: transborda para a economia real e assume uma angustiosa dimensão social – dilapida patrimónios, expulsa famílias de suas moradias, destrói vidas. Em seu ensinamento, o professor Robert mostra que a crise repousa na razão antiética, na vitória do particularismo, na satisfação dos interesses restritos de poucos em detrimento dos interesses gerais, do bem comum de todos” (MATIAS apud SROUR, 2009: 7). O dilema ético dos negócios diz justamente respeito a isso: para onde as empresas rumam e de que forma? Vão seguir o atalho da parcialidade que maximiza os lucros sem se importar com os efeitos gerados nem com os meios utilizados, ou o caminho da responsabilidade social corporativa que optimiza os lucros porque leva em consideração a qualidade de vida dos públicos de interesse? Uma coisa é certa, “necessitamos de um quadro de referência científico que dê conta da complexa realidade moral e que o faça com rigor, simplicidade e clareza. Precisamos de conceitos que tenham embasamento empírico e que permitam desvendar as situações concretas do dia-a-dia empresarial” (SROUR. 2009:7).

3. Delimitação do problema Com o advento do capitalismo e liberalismo empresarial a ética foi tida como incompatível ao contexto organizacional, pois, pensar na solidariedade e estabelecimento de relações interpessoais num mundo regido pela desonestidade, ganância, competitividade desleal e lucratividade excessiva, era praticamente impossível. No entanto, no seio do capitalismo “a individualidade é engolida pela organização e a criatividade considerada importuna pelo que ela representa desobediência à uma lógica estabelecida, onde existem os que pensam e os que obedecem, os que decidem e os que executam, os que falam e os que devem ouvir, tudo em nome de um senhor sem corpo e nem coração: o capital” (PASSOS, 2009: 118). Com esta lógica adoptada pelo capitalismo, as organizações apresentavam-se maioritariamente vinculadas pela relação homem e o trabalho, o homem era simplesmente considerado como uma máquina produtiva. Com tal situação, podemos levantar de imediato três questões importantes: Será que este modo de relação leva a satisfação dos objectivos da organização? Qual seria o lugar e a função do homem dentro da organização? Porquê a necessidade do estabelecimento de relações interpessoais no seio das organizações? Como resposta a estas situações surge a necessidade de implementar a ética no contexto organizacional sobretudo nas relações humanas, visto que um bom ambiente organizacional leva todos colaboradores a se comprometerem com a satisfação dos objectivos da organização. Srour, ao procurar dar resposta a essas questões considera as empresas como agentes sociais (pessoas) dotados de valores e virtudes, capazes de responder as suas acções e estabelecer relações interpessoais na base de padrões éticos, tais como o altruísmo, solidariedade, respeito e consideração do outro como ser humano igual a todos. 4. Justificativa Actualmente a ética nas organizações tem sido tema de muitos debates, isto, devido ao crescimento de recursos humanos nas organizações e a necessidade de criação de normas que irão nortear as empresas de justiça e valorização do outro mergulhado inteiramente em padrões éticos, sem se esquecer que, a satisfação dos objectivos da empresa está intimamente ligada à satisfação dos interesses dos recursos humanos e o estabelecimento de um bom ambiente organizacional. Para tal efeito, precisa-se consolidar as relações interpessoais, pois, diante da harmonia entre recursos humanos e a organização, vice-versa, as organizações facilmente

atingem os objectivos traçados e se tornam competitivas e concorridas no mercado. Portanto, com este trabalho pretende-se demonstrar a relevância da ética organizacional para o estabelecimento de relações interpessoais. Sendo que, “as relações humanas constituem um processo de integração do indivíduo numa situação de trabalho, de modo a fazer com que os trabalhadores colaborem com a empresa e até encontrem satisfação de suas necessidades sociais e psicológicas” (GIL. 2001: 19).

5. Objectivos Objectivo Geral 

Justificar a relevância da ética no estabelecimento de relações interpessoais na perspectiva de Robert Henry Srour.

Objectivos Específicos 

Fundamentar a evolução do conceito de ética e ética empresarial.



Analisar de forma clara as consequências do estabelecimento de boas relações no seio empresarial.



Discutir e Comparar o pensamento de Robert Henry com outros autores prós e contra a ideia de implementação da ética a nível das relações interpessoais nas organizações. 6. Metodologia

O trabalho seguirá a pesquisa bibliográfica, com base na análise critico reflexiva das obras que constituirão o mesmo, assim como analise das críticas feitas a ética organizacional. O trabalho será do tipo expositivo argumentativo.

CAPÍTULO I ÉTICA E O CONTEXTO ORGANIZACIONAL 1. Contextualização da Ética A grande questão que nos leva a discussão neste capítulo é a da ética na sua generalidade e sob ponto de vista empresarial, deste modo, como ponto de partida responderemos numa primeira fase a questão principal, O que é a ética? No entanto, na tentativa de responder esta questão iremos recorrer a história desde a época clássica até a actualidade, e de uma forma resumida, dividiremos o diálogo ético em quatro partes distintas mas complementares, a primeira parte estará a cargo da ética grega de carácter teleológico pelo facto preocupar-se mais com o fim de cada indivíduo; já na segunda parte teremos como foco a ética da idade medieval (ética religiosa); e na terceira parte abordaremos sobre a ética iluminista já de carácter deontológico; por fim na quarta parte discutiremos a concepção da ética no mundo actual. Para Srour “A ética é uma disciplina teórica, um corpo de conhecimentos, a exemplo das disciplinas como a biologia, a medicina, a economia, a engenharia, a sociologia, o direito, a psicologia ou a astronomia. Trata-se de uma investigação sistemática de abrangência enciclopédica, de uma ciência social que torna inteligíveis os eventos sociais que implicam escolhas entre o bem e o mal. Vale dizer: que é conhecimento dos fatos morais” (SROUR, 2012: 228). Nessas condições nos perguntamos, qual é a chave de decifração da Ética? Diz Srour, “Ela diz respeito ao impacto que agentes sociais provocam uns sobre os outros em função de suas decisões e acções. Expliquemos: ao decidir e ao agir, o agente respeita os interesses dos outros ou os desrespeita, os beneficia ou os prejudica?” (SROUR, 2012: 228). Eis o foco de interesse dos estudos éticos. 1.1. Ética na idade Clássica De uma maneira mais ao menos ampla e ao mesmo tempo simples tentamos demonstrar a ideia central da ética, mas mesmo assim ainda não respondemos cientificamente o que é a ética. A busca da resposta nos levará a definir a ética desde as suas raízes até ao seu florescer e os seus respectivos frutos, assim sendo, a ética segundo a sua etimologia proveém do grego “ethos”

significa costume/habito e moral do latim “mores” é tido como costume/norma, desde a Grécia antiga até a idade medieval a ética e a moral eram consideradas como uma só e nenhuma se separava da outra, ainda na Grécia antiga, dentre vários nós apoiaremos de três pensadores que nos trazem a ideia da ética, tais são: Sócrates, Platão e Aristóteles, é na base das ideias destes três pensadores que definiremos a ética na idade clássica. 1.1.1. Sócrates Sócrates concentrava toda a sua concepção ética na formação do homem e o Bem da Alma, com a sua célebre frase conheça-te a ti mesmo. No entanto, “a ética socrática começa com a explicação da virtude, então, o que seria tal virtude para Sócrates? a virtude do homem outro, não pode ser senão aquilo que faz com que a alma seja boa ou perfeita. E segundo Sócrates esse elemento é a ciência ou o conhecimento, ao passo que o vício seria a privação da ciência ou conhecimento, vale dizer ignorância” (REALE, 1990: 89). A primeira concepção do agir eticamente correcto que podemos compreender em Sócrates está ligado a ciência, ou seja, ao conhecimento, será através do conhecimento que o homem saberá como tratar ao próximo acrescentando sentimentos como o altruísmo e reconhecimento do outro igual a si em todas as suas as acções, desta forma é ao mesmo tempo tornar a alma perfeita sendo este o ponto fulcral da virtude. Já o homem não virtuoso age em obediência aos seus instintos e ignorância ao conhecimento. Até pode nos parecer que Sócrates se preocupava demais com o conhecimento, ou seja, o conhecimento como elemento que estimula a alma ao bem, mas é o contrário, pois a benevolência já se encontra na própria alma no entanto esta mesma (alma) leva com que o homem esteja também possuído da razão (ciência ou conhecimento) para melhor administra-la e leva-la a perfeição, e assim entende-se que cada homem é a sua alma, agir impulsivamente ou ignorar o bem e desconhecer-se ou distanciar-se de si mesmo, por esta razão que Sócrates apela ao “conheça-te a ti mesmo”.

1.1.2. Platão Platão nascido em Atenas e viveu entre 428/427 - 347a.C, discípulo de Sócrates, traz-nos uma nova compreensão do fenómeno ética, sendo que toda sua ética é desenvolvida em dois mundos “ o sensível e o supra-sensível”1. Platão embora inspirado por Sócrates, começa de uma forma diferente ao do seu mestre nos diálogos que deixou escrito, parte do pensamento de que todos os homens buscam a felicidade. Pois, “a maioria das doutrinas gregas colocava, realmente, a busca da felicidade no centro das preocupações éticas. Mas não se deve pensar, daí, que Platão pregava um egoísmo rasteiro. Pelo contrário, ao pesquisar as noções de prazer, sabedoria prática e virtude, colocava-se sempre a grande questão: onda está o Sumo Bem?” (VALLS, 1994: 25). Para esta questão aqui levantada podemos ter duas respostas possíveis uma delas diz respeito a separação que Platão faz da alma ao corpo, sendo que o sumo bem encontra˗se após a morte, isto é, quando o a alma se liberta do corpo que a mantém prisioneira, nesta libertação a alma vai ao alcance do Sumo Bem, pois o corpo é susceptível aos vícios e está apegado a coisas externas o que contrariam a essência da alma. Já na segunda resposta a questão acima colocada, podemos recorrer ao mundo das ideias, o mundo tido como perfeito por Platão, o mundo das essências, o mundo da verdade em si, e o Sumo Bem se encontra neste mundo que transcende as coisas e causas físicas, mundo que se coloca distante dos vícios e que acima de tudo transcende o homem enquanto composto pelo corpo. Também este mesmo mundo é composto por um ser superior e inigualável a outros seres e nele encontramos o Bem Supremo, tal ser para Platão é Deus. Tal como Sócrates, Platão acrescenta o elemento virtude na sua explanação sobre a ética e o mundo das ideias ou hiperurâneo, pois, “a virtude também é uma purificação, através da qual o homem aprende a desprender-se do corpo com tudo o que este tem de terreno e de sensível, e 1

De alguma forma podemos ver uma semelhança com a ideia da ética de Sócrates, que se dividia em dois mundos o

da ciência ou conhecimento, e o do vício ou ignorância e que mais tarde, na ética religiosa da idade medieval, precisamente em St. Agostinho veremos uma nova versão da ideia ética em dois campos, que com este (St. Agostinho) será a existência de duas cidades, uma terrena e a outra celeste.

desprender-se do mundo do aqui e agora para contemplar o mundo ideal, imutável e eterno” (VALLS, 1994: 26). De alguma maneira, Platão mostra-nos que o homem enquanto ser dotado de corpo e existente no mundo sensível é incapaz de agir eticamente correcto porque este se encontra no seio de vícios, sendo apenas possível após desprender-se deste mundo. Será então que Platão quis dizer que a vida realmente plena só pode ser encontrada após a morte? Talvez pode transparecer-nos isto pelo facto de Platão ser muito abstracto nas suas explanações, sobretudo no que diz respeito a ética, pois, Platão cinge-se apenas ao mundo das ideias, o do Sumo Bem que só pode ser alcançado através da prática de actos virtuosos e tal virtude começa à partir do momento que a alma liberta-se do corpo e do mundo que o corrompe, tal libertação só é possível através do perecer do corpo. Assim sendo, podemos arriscarmo-nos a dizer que a ética platónica embora importante, é semelhante a ética religiosa e não é uma ética do agora, do já, mais sim do depois de. 1.1.3. Aristóteles Por fim Aristóteles (384-322 a.C.), além de um grande pensador especulativo e profundo psicólogo, levava muito a sério a observação empírica. Para começar a sua explanação sobre a ética, este diferente de outros, define a ética não por meio de exemplos ou simples ideias, mas defini-a cientificamente, segundo o autor em causa, “ética é o estudo da conduta ou do fim do homem como indivíduo” (ARISTÓTELES apud REALE, 1990: 203). Igual a Platão, Aristóteles traz-nos a ideia do Bem perante a ética, mas este diferencia-se do primeiro pelo facto de apresentar-nos várias categorias do Bem, sendo que, existem vários bens de acordo com os seres existentes, desde Deus, o homem, as plantas até os animais. Assim aparecem-nos alguns pensamentos interrogativos, como a questão a saber, O que é um Bem segundo Aristóteles? E qual seria o bem ideal ao homem? Em Aristóteles temos como bens a beleza, riqueza, honra, saúde, felicidade, dentre outros. Mas tais bens não são os mesmos considerados vícios por Platão? Pois segundo Aristóteles, estes só se tornam vícios quando mal usados, ou seja, quando usado abusivamente, e para evitar tal uso abusivo Aristóteles apela ao meio-termo em tudo, ou seja, a racionalização dos bens, neste caso,

quando haver mau uso da beleza (que é uma virtude) desembocamos na vaidade (que é um vicio), a riqueza na luxúria, a honra no egoísmo. Tornando assim o meio-termo como um acto virtuoso. Mas nos resta ainda saber: qual o bem que caracteriza o homem e qual é a finalidade do mesmo? Considera Aristóteles que “todas acções humanas tendem a um fim que são bens. O conjunto das acções humanas e o conjunto dos fins particulares para qual elas tendem subordinar-se a um fim último, que é um bem supremo, que todos homens concordam em chamar de felicidade” (ARISTÓTELES apud REALE, 1990: 203). Quando falamos de “Bem Supremo” parece de antemão estarmos a repetir as ideias platónicas, mas se prestarmos mais atenção conseguiremos ver que, em Platão existe um único bem superior a todos e tudo, já em Aristóteles encontramos vários bens (no homem em particular) e nestes existe um que todos almejam que é a “felicidade”. Pois a cada vez que fechamos uma porta abrimos mais duas, isto pela natureza propriamente humana a do cepticismo ou de indagações, pretendemos com isto dizer que, surgem mais questões como: o que é a felicidade? E como efectivamente podemos alcança-la? “A felicidade consiste na actividade da alma de acordo com a virtude” (ARISTÓTELES apud ARRUDA, 2003: 27). Isto é, o homem devido a sua complexidade é dependente de vários bens para a sua satisfação e a obtenção de bens já é um salto ao encontro da felicidade e satisfação da alma, ora, a plena felicidade só pode ser encontrada quando aliarmos estes aspectos a outros como a razão e virtude, sendo que, só poderemos atingir a felicidade plena quando usamos os bens a nosso favor na medida certa, e tal medida só é possível com o exercício pleno da razão, assim aliando estes três aspectos (bens, razão e virtude) alcançaremos a finalidade que todos homens almejam, a felicidade. Portanto, podemos aqui dizer que a ética aristotélica era de carácter finalistas, isto porque esta visava uma finalidade em todas as acções por nós praticadas, sendo que o fim do homem é a felicidade, que só será alcançada por meio da prática de actos virtuosos. 1.2 Ética e a Religião (idade medieval) Após termos visto a ética na idade clássica que se apoio em algumas teorias principalmente trazidas por grandes pensadores como, Platão, Sócrates e Aristóteles, agora entraremos numa outra época, que consequentemente nos traz uma nova maneira de definir a ética embora ainda

existam pequenos traços idênticos. Pois, sabe-se que, segundo a história a idade medieval é tida como uma época marcada profundamente pela religião, sobretudo, pela religião cristã, também está época é considerada no mundo científico como a idade das trevas, ou seja, uma época observada pela estagnação da produção do conhecimento científico, sendo que a mesma era acima de tudo fundamentada por dogmas religiosos, isto é, a existência de um ser (Deus) que além dele ninguém mais possui a verdade. Assim sendo, o que é a ética nesta idade? Será que ser ético está ainda ligado a obediência a razão? Está de acordo ao meio-termo? Ou ser-se-á ético através da purificação da alma (a morte do corpo)? 1.2.1. Santo Agostinho Na tentativa de responder estas questões, iremos recorrer à dois grandes pensadores que marcaram a idade moderna, e ambos representam duas escolas diferentes da mesma época, começaremos assim por Santo Agostinho, ou seja, Aurélio Agostinho que nasceu em 354 d.C em Tagasta, pequena cidade da Numidia na África e também considerado o mais alto expoente da patrística. Pois a grande preocupação que marca a ética agostiniana é o mal, Santo Agostinho levanta questões como, o que é o mal? Qual é a sua proveniência? O mesmo responde-as de uma forma meramente religiosa, considerando assim o “mal, não como um ser, mas sim privação e deficiência do ser” (AGOSTINHO apud REALE, 1990: 455), sendo que o ser, é constituído pelo bem, e este somente deve caminhar em vista a fazer o bem e não o seu contrário. “E o mal, cuja origem eu buscava, não é uma substancia, porque, se fosse uma substancia, seria um bem. E, na verdade, seria uma substancia incorruptível e, por isso, sem dúvida um grande bem ou seria uma substancia corruptível e, por isso, um bem que, de outra forma, não poderia estar sujeito à corrupção. Por isso, vi claramente como tu fizeste boas todas coisas” (AGOSTINHO apud REALE, 1990: 455).

Pois, notamos em Santo Agostinho que o mal não é nada mais que o desvio do bem, uma certa patologia que nos leva a desejar bens inferiores em relação ao supremo, então qual seria a origem deste mal? Ora, quanto a origem do mal, Santo Agostinho divide-a em três campos: metafisicoontológico, moral e físico. Destes três campos aqui apresentados, falaremos apenas do segundo (moral) que nos é pertinente neste trabalho, sendo que o mal moral é tido como pecado, e o pecado por sua vez deriva da má vontade, e má vontade será causada por quê?

“A má vontade não tem uma causa eficiente, mas, muito mais, uma causa deficiente, por sua natureza a vontade deveria tender ao Bem Supremo” (REALE, 1990: 456). Pois, os sentidos de alguma forma acabam corrompendo a boa vontade, sendo que o homem encontra-se no mundo arrolado de apetites que o mesmo (homem) os chama de bens, pois estes em relação a Deus são considerados bens menores/inferiores, sendo que a má vontade parte do momento em que o homem troca Deus à favor destes bens menores, e isto por sua vez é considerado como pecado em Santo Agostinho que expressa-se da seguinte forma, “ninguém (...) deve procurar causa eficiente na má vontade: essa causa não é eficiente, mas deficiente, não é uma causa produtiva, mas a sua falta. Com efeito, afastar-se daquilo que é ser Supremo para aproximar-se daquilo que possui o ser em grau inferior, significa passar a ter má vontade” (AGOSTINHO apud REALE, 1990: 456). Sabe-se de antemão que Santo Agostinho escreve sobre o livre arbítrio que está aliada a liberdade/vontade de escolha, e voltando a olhar para o parágrafo que antecede a este, não estaria St. Agostinho se contradizendo, porque parece que o homem embora predisposto ao livre arbítrio deve este somente aliar a sua liberdade e vontade à escolher apenas o Bem Supremo, então isso não seria uma privação da mesma liberdade de escolha? Pois num olhar mais profundo, vemos que o livre arbítrio e a vontade no homem devem estar ligados ao componente ético, sendo assim ambas consideradas boas. Deus dá ao homem o livre arbítrio e este será determinado pela capacidade do homem em escolher dentre tantos bens o Bem Supremo, escolhendo o Bem Supremo, o homem estará em primeiro lugar a saber relacionar-se com Deus que posterior a esta relação estará a relação do homem para homem, assim este saberá como relacionar-se no meio do e para com outro porque se encontra nutrido de boa vontade e do uso apropriado do livre arbítrio. Na ética agostiniana dá-se grande relevância ao amor, mas a um porém neste mesmo amor, pois, segundo o autor em causa o homem é feito de amor, mas, amor verdadeiro é aquele que leva o homem a Deus e ao desprezo do próprio homem, e este amor só é possível na cidade celeste, em detrimento ao amor que leva ao homem a amar a si próprio em desprezo de Deus que por sua vez se encontra na cidade terrena.

1.2.2. São Tomas de Aquino Já São Tomas De Aquino (1221 – 1274) considerado o ponto mais alto da escolástica e da idade medieval, esteve a par de todas discussões que dominavam a época desde a teoria do conhecimento, a relação razão e fé (vice-versa), até as questões éticas. Deus, diz S.Tomás: “move todas as coisas no modo que é próprio de cada uma delas. Assim, no mundo natural, move dum modo os corpos leves, doutro modo os corpos pesados, segundo a sua diferente natureza. Por isso move o homem para a justiça segundo a condição própria da natureza humana. Pela sua própria natureza, o homem tem livre arbítrio. E, enquanto tem livre arbítrio, a tendência para a justiça não é produzida por Deus independentemente desse livre arbítrio: e Deus infunde o dom da graça justificante de modo a mover, em conjunto com ele, o livre arbítrio a aceitar o dom da graça" (TOMAS apud

ABBAGNANO, 1969: 53). Temos a primeira grande diferença entre S.Tomas e St. Agostinho, sendo que um (St. Agostinho) acreditava que o livre arbítrio era algo que Deus atribuía ao homem, enquanto que para S.Tomas, o que Deus atribui ao homem face a sua benevolência é o dom da graça e esta por sua vez, dependerá da escolha certa que o homem fará em predisposição do seu livre-arbítrio, sendo que a sua escolha só se tornará boa se esta culminar com a prática da justiça, portanto em S.Tomas, homem ético é aquele que busca incansavelmente a justiça, pois homem que opta pela justiça é consequentemente virtuoso, e a virtude em S.Tomas, reside nos hábitos, disposições práticas para viver rectamente e para fugir do mal. Aquino nos traz mas um novo grau de virtudes, para além dos trazidos por Aristóteles, a que todos as outros se reduzem:

“São: justiça, temperança prudência e fortaleza. As virtudes intelectuais e morais são virtudes humanas: conduzem à felicidade que o homem pode conseguir nesta vida com as suas próprias forças naturais. Mas estas virtudes não bastam para conseguir a beatitude eterna: são necessárias as virtudes teologais, directamente infundidas por Deus no Homem: fé, esperança e caridade” (AQUINO apud ABBAGNANO, 1969: 54).

Estão aqui acrescentados dois elementos cruciais para que homem seja completamente ético em S.Tomas, tais elementos são, a crença em Deus e o altruísmo.

Podemos notar que tanto em Santo Agostinho como em São Tomas De Aquino ambos na sua explanação sobre a ética, nos trazem m elemento em comum, que é a existência de um ser superior (Deus) que todos outros seres (sobretudo o homem) se espelham nele, e nele se inspiram. Portanto, ambos pensadores não trazem aqui a definição da palavra ética, mas definemna, por meio de Deus, como detentor do Bem Supremo, e esta definição por sua fez era fortificada por meio da religião, esta que incutiam na cabeça do homem as ideias de bondade, altruísmo e encaminhamento de todas acções humanas para o bem que só seriam encontrada num único ser, Deus. 1.3 Concepção da Ética na idade Moderna A idade moderna é de alguma forma conhecida como a época em que se invertem os valores éticos, e reina acima de tudo, aspectos como o egoísmo e o uso da liberdade ao seu extremo até mesmo transforma-la em libertinagem, também a ética ganha novos valores e se separa da moral, sendo que a ética passa a ser vista com a ciência e a moral como o seu objecto de estudo. A ética fica ligada ao estudo da manifestação comportamental nos homens na relação com outros, isto é, em sociedade, e já a moral por sua vez, é mais vista na dimensão espiritual e está virada a vertente individual o que a diferencia da ética. 1.3.2. Immanuel Kant Também igual à épocas que antecedem a moderna, houve interesse de muitos pensadores em discutir a problemática da ética, dentre tantos, orientaremos as nossas atenções a um grande pensador desta época e que fez uma grande abordagem deste fenómeno (ética), tal pensador é Immanuel Kant (1724 – 1804). Assim sendo, Kant vai assimilar ética à moral (lei moral) uma ética fundada em imperativos categóricos, pois considera Kant que: “O conceito dever se coloca em relação imediata com a lei (mesmo que faça abstracção de todos fins, como a matéria da lei). O princípio formal do dever no imperativo categórico assim age de acordo que a máxima da sua acção torne-se uma lei universal, já indica isso. A ética, apenas cresce que esse princípio deve ser pensado como a lei da tua própria vontade e não da vontade em geral, que poderia também ser vontade de outros; neste último caso, a lei proveria um dever de direito que reside fora da esfera ética. As máximas são aqui consideradas como princípios subjectivos que se limitam a qualificar

para uma produção de lei universal e a exigência para que assim qualifiquem é apenas um princípio negativo (que não entra em conflito com uma lei como tal) ” (KANT, 2003:

232). Immanuel Kant, apela a necessidade de uma reflexão profunda em torno das nossas acções, tendo em consideração não somente a nós mas a todos que convivem connosco, ora, se furto não é aceite por todos e não é possível a sua universalização, então não o pratiques, a não aceitação do mesmo, está intimamente ligado ao facto de considera-lo como um crime que de alguma forma põem em causa o nosso dever perante o outro condicionando assim as relações estabelecidas entre indivíduos na sociedade, pois todas acções por nos praticadas devem ter em vista um determinado fim, e qual seria tal fim? Para Kant, tal fim é: “Um objecto de escolha (de um ser racional) através de cuja representação a escolha é determinada relativamente a uma acção no sentido de levar a efeito esse objecto. Ora, posso ser constrangido por outros a executar acções que são dirigidas como meios a um fim, porém não posso jamais ser constrangidos por outros a ter um fim: somente eu posso fazer de alguma coisa o meu fim. Mas se estou obrigado a tornar meu fim alguma coisa que reside na razão prática, e ter assim, além de fundamento formal determinante da escolha (tal como o direito encerra), também um material, um fim que poderia ser estabelecido contra um fim oriundo de impulsos sensíveis, este seria o conceito de um fim que é em si mesmo um dever. Mas a teoria deste fim não pertence à doutrina do Direito, mas à ética, uma vez que o auto-constrangimento de acordo com as leis (morais) pertence exclusivamente a ética. (KANT, 2003: 225).

Ora, tais a acções que nos levaram a uma determinada finalidade não devem ter nenhuma coação externa, ou seja, não devem sofrer influência de outros, mas este devem ter em vista o outro e acima de tudo devem passar pela análise crítica da razão sendo assim possível tornar as nossas acções numa ferramenta universalmente aceite, isto é, numa lei universal. Kant define a ética com base ao imperativo categórico, o dever, ou seja, a ética do dever, como condição principal para a prática de actos eticamente aceitáveis, e como uma plataforma de entendimento humano, segundo o mesmo (Kant), “Aspirar o bem é egoísmo, e o egoísmo não pode fundamentar os valores morais. A única atitude não egoísta - bem sem restrição é a boa

vontade, isto é, agir por obrigação, por cumprir um dever. A moralidade no entanto, não pode depender do bem mas da intenção” (KANT apud ARRUDA, 2003: 32). A ideia que repousa por detrás do conceito de ética em Kant, é a de que todos devem optar por um comportamento eticamente correcto e que o mesmo não só deve ser correcto para mim, mas sim para todos e que o mesmo (comportamento) seja como um modelo ideal que através do qual todos poderão se basear e que acima de tudo seja universalmente aceite. 1.4 Ética e a Contemporaneidade A idade contemporânea é marcada pela revolução francesa, de 5 de Maio de 1789 a 9 de Novembro de 1799 até os dias actuais, no entanto desde este acontecimento até hoje nos deparemos com vários outros que nos são importantes aqui mencionar, como o caso da revolução industrial que trouxe consigo uma nova dinâmica em termo de relações trabalhistas e consequentemente teve grande influência nas novas relações sociais e no pluriculturalismo, assim como a evolução da cibernética que actualmente é um dos assuntos muito focados nos debates em torno da ética relativamente ao seu uso, onde um dos grandes momentos que registou o abuso excessivo da cibernética e o desrespeito a padrões éticos foi durante a segunda guerra mundial durante os dias 6 e 9 de Agosto de 1945 com o bombardeio atómico sobre Japão, em particular nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, esta que não apenas deixou consequências matérias mas também humanas e morais. Nos dias de hoje com o crescente avanço da tecnologia, com a existência de midias, redes sociais e meio modernos de comunicação nos deparamos aos poucos com um afastamento entre os seres humanos o que nos parece voltar ao individualismo, a interacção homem a homem está em detrimento ao homem e tecnologia. No entanto, com o avanço considerável da tecnologia será que haverá espaço para as relações sócias? Para resposta a esta questão, nos apoiaremos a dois pensadores que marcam a época contemporânea no que diz respeito a ética, nos referimos a Martin Buber (1878 – 19650) e Emmanuel Levinas. 1.4.1. Martin Buber

A concepção ética de Martin Buber é marcada pelo seu pensamento sobre o “Eu e Tu”, Buber apela a manutenção da relação face-a-face entre os homens uma relação que consiste no Eu considerar o Tu igual a ele, onde um escolhe e o outro deixa-se escolher e ambos estabelecem uma relação mútua sendo que a existência de um dependerá da do outro. “O Tu se apresenta ao Eu como sua condição de existência, já que não há Eu em si, independente; em outros termos o si-mesmo não é substância mas relação. O Eu se torna Eu em virtude do Tu. Isto não significa que devo a ele o meu lugar. Eu lhe devo a minha relação a ele. Ele é meu Tu somente na relação, pois, fora dela, ele não existe, assim como o Eu não existe a não ser na relação” (BUBER, 2001: 27).

Pois Martin Buber não só nos traz a importância da relação de um perante o outro como apenas um mero facto na vida do homem, mas sim como a condição primária para a existência do mesmo, sendo impossível existir Eu isolado do Tu. Nas suas explanações Martin Buber apresenta-nos o espírito da vida em sociedade, ou seja, como as mesmas devem estar estruturadas em termos de relações interpessoais, sendo que, “a verdadeira comunidade não nasce do fato de que as pessoas têm sentimentos umas para com as outras (embora ela não possa, na verdade, nascer sem isso) ela nasce de duas coisas: de estarem todos em relação viva e mútua com um centro vivo e de estarem unidas umas às outras em relação viva e mútua" (BUBER, 2001: 33). O sentido da responsabilidade colectiva em Buber transcende o nível moral para um nível mais amplo, é o nome ético da reciprocidade onde um é vigilante do outro e não só para por ai, também cera-se um compromisso de um para com outro acabando assim com o individualismo (ou a expressão vulgarmente usada nas sociedades na actualidade “cada um é dono do seu nariz”). 1.4.2. Emmanuel Levinas Emmanuel Levinas (1906 – 1995) vem sustentar essa ideia de alteridade e altruísmos trazida por Martin Buber, pois, Levinas na sua explanação sobre o humanismo de outro homem pega no “rosto” como fundamento da sua ética de alteridade assim como da metafísica. Daí que nos questionamos: Que rosto é esse? E qual é o fundamento do mesmo?

Ora, para Levinas tal rosto não é aquele que se manifesta à nossa consciência tal como nos aparece à visão, tal rosto não é visto de uma forma superficial, mas sim um rosto que manifesta todos sentimentos do outro, sendo que o rosto é a manifestação plena das necessidades do outro, “O outro que se manifesta no rosto perpassa de alguma forma sua própria essência plástica, como um ser que abrisse a janela onde sua figura no entanto já se desenhava. Sua presença consiste em se despir da forma que, entrementes, já a manifestava” (LEVINAS, 2012: 51). O rosto não só manifesta as necessidades do outro, ou seja, não apenas abre as janelas para o conhecimento perante o outro, mas também discursa usando uma certa linguagem que não passa pela “fala”, mas sim, pela transmissão de um sentimento do outro que se manifesta no rosto, sendo assim considerado que o “rosto discursa”. Escreve Levinas: “o rosto fala. A manifestação do rosto é o primeiro discurso. Falar é, antes de tudo, este modo de chegar por detrás de sua aparência, por detrás da sua forma, uma abertura da abertura” (LEVINAS, 2012: 51). Com este discurso Emanuel Levinas apela à necessidade dos homens manterem-se cada vez mais humanos nas suas acções, na necessidade de se espelhar no outro, percebe-lo na sua mais profunda causa, e acolhe-lo sem esperar que esta peça pela ajuda por meio da fala, porque o rosto em sim já nos convida a ajudar o outro. 2. Ética nas Empresas (ética organizacional) O debate em torno da ética estendeu-se até os dias de hoje, onde não só discuti˗se a ética em si mas a mesma ganha novos campos de acção e um deles é o campo empresarial, o qual pretendemos abordar ao longo do trabalho, eis que nos perguntamos, qual foi a razão que levou a inclusão da ética nas empresas? Tal implementação da ética ao contexto organizacional começou a observar-se na década 60, como diz Maria Cecilia de Arruda (2003): “Uma das primeiras preocupações éticas no âmbito organizacional de que se tem conhecimento revela-se pelos debates ocorridos nos países de origem Alemã, na década de 60. Pretende-se elevar o trabalhador à condição de participante dos conselhos da administração da empresa” (ARRUDA, 2003: 53). Estamos diante a uma nova perspectiva das organizações que tem a ver com a inclusão e integração do homem em todas decisões da empresa, onde de uma forma indirecta pode-se dizer que nasce também a ideia de respeito e valorização do outro na empresa, visto que estas (empresas) são compostas inteiramente por recursos humanos e estes mesmo recursos humanos

precisam relacionar-se uns com outros dentro da organização e manter um clima saudável o que consequentemente levará a satisfação do homem e da própria organização. Mas antes é necessário percebermos o que é uma organização, segundo Srour (1998), “as organizações podem ser definidas como colectividades especializadas na produção de um determinado bem ou serviços”, continua o autor, “cabe reconhecer as organizações como agentes colectivos, à semelhanças das classes sociais, das categorias sociais e dos públicos” (SROUR, 1998: 108). Em torno desta questão da ética organizacional, houve várias discussões em diversos autores com intuito de definir a ética no contexto organizacional, para Robert Henry Srour “à ética como corpo de conhecimentos que, quando devidamente aplicado, assegura a boa reputação das empresas” (SROUR apud XI Seminário de Comunicação do Banco do Brasil, 2006: 38). No primeiro caso Robert Henry Srour nos elucida um dos ganhos da implementação da ética no contexto empresarial, onde para a além da ética ser um beneficio nas relações humanas também cria boa imagem da empresa e a boa imagem por sua vez irá recair no sucesso da empresa no seu todo. No entanto a ética organizacional tem consigo esta finalidade de, por um lado concentrar-se nas relações humanas e no estabelecimento de boas relações assim como a consideração de todos como homens iguais a outros, e por outro lado, esta serve como fonte de inspiração e motivação da stakeholder2 para que estes tenham um objectivo comum e que trabalhem com finalidade à satisfazer as metas pré-estabelecidas. Para Elizete passos, “inicialmente é preciso reconhecer que as empresas são sistemas sociais e, portanto, além de possuírem e seguirem teorias e técnicas, também se constituem em um sistema de valores sistemas e crenças” (PASSOS, 2009: 62). Tornando-se importante incluir a ética no 2

A palavra stakeholder (parte interessada) foi observada primeiramente no ambiente empresarial em meados de

1963, em um memorando interno do Stanford Research Institute, originalmente sendo definida como grupos, sem os quais a organização não existiria. Na década de 1970 a palavra começou a ser usada também no processo de planeamento das organizações, devido à influência dos stakeholders no ambiente onde a empresa está inserida e o primeiro filósofo a empregar tal palavra foi Robert Edward Freeman. Um stakeholder é um indivíduo que, metaforicamente possui uma parte do negócio. Dentre os stakeholders, de modo geral, se pode citar os fornecedores, clientes, funcionários, investidores e, entre outros, a sociedade e o governo.

seio organizacional porque esta (ética) servirá de instrumento regulador de comportamento humano no que diz respeito aos limites e a forma de agir dentro da empresa. Já Karim e Klaus definem a ética organizacional em duas vertentes uma moral e a outra ética, onde segundo estes, “moral empresarial é aquele conjunto de valores e normas que dentro de uma determinada empresa são reconhecidos como vinculantes. A ética Empresarial reflecte sobre as normas e os valores efectivamente dominantes em uma empresa, interroga-se sobre factores qualitativos que fazem com que determinado agir seja um agir Bom” (LEISINGER, 2001: 22). Tal como observamos no quadro evolutivo do conceito da ética desde a idade clássica até a contemporânea onde partimos de uma única ideia de ética e moral (isto no período clássico e medieval) e da ética separada a moral (período moderno e contemporâneo), estes dois autores procuram definir a ética organizacional a luz da idade moderna e contemporânea, segundo estes, as empresas podem se encontrar em dois campos (teórico e prático), um em que se tem conhecimento das normas e valores éticos mas sem aplicação das mesmas, e o outro em que se implementa as normas e os valores já conhecidos, estamos aqui a falar do agir ético ou agir humanamente, o que o presente trabalho aborda. De acordo com Arruda (2003), “a boa empresa não é somente aquela que apresente lucros, mas que também oferece um ambiente moralmente gratificante, onde pessoas boas podem desenvolver seus conhecimentos especializados e suas virtudes” (ARRUDA, 2003: 57). Nota-se que em todos estes autores aqui apresentados, existe super estimação do investimento de valores humanos nas empresas e o estabelecimento de relações interpessoais baseadas no respeito e valorização de um em relação ao outro. No entanto, a ética organizacional está ligada a consideração do outro como humano e não simplesmente como um meio para a obtenção de um certo fim.

CAPÍTULO II RELAÇÕES INTERPESSOAIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO SEIO EMPRESARIAL 1. Relações Interpessoais No capítulo anterior abordamos exclusivamente a questão da ética de uma forma genérica desde a sua origem até a actualidade assim como os seus contornos em várias épocas e também a sua relevância em todas esferas da vida social. Já neste capítulo, debruçamos sobre as relações interpessoais no contexto organizacional e as mudanças que esta efectua dentro deste sector (empresarial), nas páginas que se seguem explicaremos de facto o que são relações interpessoais e o porquê da sua existência e insistência no seio organizacional na óptica de Robert Henry Srour. Ora, de um modo global podemos considerar relações interpessoais como um conceito de âmbito sociológico ou psicológico que subentende-se como uma relação estabelecida entre duas ou mais pessoas, seja esta relevada a vários contextos, tais como: social, familiar, escolar ou organizacional. No âmbito organizacional, as relações interpessoais são de extrema importância, por estas serem consideradas na maior parte como uma plataforma que dita a produtividade ou não de uma organização assim como ferramenta reguladora do ambiente saudável dentro da própria organização. O relacionamento interpessoal é dominado por sentimentos como empatia, altruísmo e respeito sentimentos estes de carácter ético, por esta razão que iremos abordar as relações interpessoais dentro da organização sob ponto de vista ético e apoiado por algumas teorias filosóficas, sociológicas e psicológicas No campo sociológico entende-se as relações interpessoais como fruto das relações sócias, estas por sua vez estabelecidas sobretudo entre colectividades (grupos, comunidades, sociedades). Pois diz Srour (1987) “toda relação social supõe acções sociais, actos recíprocos e padronizados, intervenção de alguém sobre outros ou sobre algo. A pessoa em função disso, nada mais é senão um homem-em-sociedade, um agente social” (SROUR, 1987: 14). Desta relação social nascem outras relações, tais como as relações estruturais, as relações de consumo e as interpessoais. A tipologia das relações é praticamente ditada pela situação em que

os agentes sócias estão inseridos, pois as relações interpessoais são meramente estabelecidas por agentes individuais: “… as relação interpessoais, são relações interindividuais. Envolvem as subjectividades dos agentes individuais e interessam cientificamente a Psicologia Social, charneira que une a psicologia e a Sociologia. Assumem no mais das vezes um carácter informal e são relações comunitárias do tipo face a face, que dispensam a mediação dos meios de produção. Remetem, por fim, as relações que pais e filhos constroem juntos, maridos e esposas comungam, amigos e colegas de trabalho compartilham, amantes, familiares, vizinhos ou compadres cultivam. Portanto, ficam a léguas de distâncias de relações colectivas, ainda que coabitem com elas” (SROUR. 1998: 110).

Portanto, as relações interpessoais serão aquelas que carregam consigo um sentido ético. Mas por qual razão estas a ter mais peso ético em relação as outras? Simples, as relações interpessoais são caracterizadas como aquelas que estabelecem sentimentos mais profundos entre indivíduos sem que haja intervenção de bens matérias, tal como afirma Robert Henry Srour que, “as relações interpessoais não são sancionadas pela presença de meios de produção: fluem directamente de um agente individual para outro” (SROUR. 1987: 21). No contexto organizacional fica mais nítida a distancia entre as relações lá estabelecidas (como as estruturais e de consumo) e tal diferença é mais evidente por causa do carácter ético que uma carrega em detrimento das outras. Em outras palavras “as relações estruturais e as relações de consumo, diferentemente das relações interpessoais, passam necessariamente pela mediação de meios de produção, pela propriedade económica deles. E mais: são definidas pela presença de meios de produção e pelo tipo de propriedade económica que prevalece” (SROUR. 1987: 21). Falar de relações interpessoais no seio das organizações é mesmo que falar das relações humanas e o respeito aos direitos humanos, segundo Gil (2001)“…O movimento de valorização das relações humanas no trabalho surgiu na constatação da necessidade de considerar a relevância de factores psicológicos e sociais na produtividade” (GIL, 2001: 19). As bases desses movimentos foram dadas pelos estudos desenvolvidos pelo psicólogo americano Elton Mayo (1890 – 1949). Elton Mayo nos seus estudos recorre a uma abordagem comportamental que vai ditar não só a produtividade da organização, assim como as relações humanas que dai se podem estabelecer.

Ora, de antemão podemos entender que tal comportamento acima referenciado está intimamente ligado com a forma de agir e pensar, e estes por sua vez serão claramente mediados pela ética. Assim, os valores humanos são considerados como fundamentos éticos que irão nortear a vida dos seres humanos em todas esferas que estiverem envolvidos. “A descoberta da relevância do factor humano nas organizações veio a proporcionar o refinamento da ideologia de harmonização entre capital e trabalho, definido pelas teorias de administração científica. Com efeito pode-se dizer que, as relações humanas constituem um processo de integração de indivíduos numa situação de trabalho, de modo a fazer com que os trabalhadores colaborem com a empresa e ate encontrem satisfação de suas necessidades sociais e psicológicas” (MAYO apud GIL. 2001: 19).

Um dos benefícios do estabelecimento de relações interpessoais ou humanas nas organizações reside por um lado no processo de acomodação e ambientalização de novos recursos humanos o que posteriormente poderá culminar com a identificação dos mesmos para com a empresa (isto é, criação de uma nova identidade) e por outro lado, este mesmo processo de acomodação e ambientalização fará com que estes trabalhem árdua e fielmente para a satisfação das necessidades da empresa e para as suas necessidades pessoais de igual modo. 1.1 Nova Visão dos Recursos Humanos Desde o advento do capitalismo ate os finais do século XIX havia uma concepção unilateral sobre os recursos humanos, estes que eram apenas reconhecidos como detentores de força de trabalho e que o seu vínculo com organização se estabelecia na relação trabalho vs capital. Portanto, com inserção da ética no contexto empresarial, questões ligadas a consideração e tratamento de recursos humanos começam a ganhar outro sentido, por isso diz Filipe Almeida que “a ética empresarial sugere uma aplicação dos princípios das doutrinas éticas a actividade empresarial, adaptando-os como critério de avaliação moral das acções praticadas neste contexto” (ALMEIDA, 2010: 20). O autor pretende com isto ilustrar-nos que as acções dos recursos humanos dentro das organizações ganham uma outra dinâmica, na medida em que os recursos humanos deixam de ser considerados apenas como empregados e passam a ser considerados parceiros activos da organização, estabelecendo assim um estreito alinhamento entre a satisfação dos objectivos da organização com os dos recursos humanos, “assim as práticas empresariais inscrevem-se no âmbito da ética empresarial quando os efeitos que

produzem ou possam vir a produzir tem impacto no bem-estar ou na qualidade de vida de indivíduos ou de colectividades” (ALMEIDA, 2010: 20). Deste modo começam a surgir nas organizações preocupações com a qualidade de vida que os seus recursos humanos levam no local de trabalho, assim como questões ligadas a higiene e segurança no trabalho, formação, desenvolvimento de competências, entre outros aspectos. “Durante muito tempo, ao falar-se de qualidade de vida na empresa, enfatizava-se principalmente a produção. Hoje, fala-se não apenas da qualidade no trabalho, mas como também em qualidade de vida dos empregados. Isto significa que os empregados precisam ser felizes. Para que sejam produtivos, devem sentir que o trabalho que executam é adequado as suas habilidades e que são tratados como pessoas. Não se pode esquecer que parte significativa da vida das pessoas é dedicada ao trabalho e, para muitos o trabalho constitui a maior fonte de identificação pessoal. É natural, portanto, que desejam identificar-se com seu trabalho” (GIL, 2001: 46).

Tudo isto é devido a importância que os recursos humanos vão tendo na organização, todavia, a organização sem recursos humanos não é considerada de modo algum como organização e os seus empregados (parceiros) se tornam cada vez mais exigentes referente a acomodação que pretendem para que sejam produtivos. “Os empregados, consequentemente passam a querer trabalhar em lugares mais agradáveis. Assim as empresas são desafiadas a em investir no ambiente tanto para atrair novos talentos quanto para melhorar a produtividade do trabalho. Mais do que isso, as empresas são desafiadas a implantar programas de qualidade de vida no trabalho que envolvem também dimensões que envolvem o estilo gerêncial, a liberdade, a autonomia para tomadas de decisões e oferecimento de tarefas significativas” (GIL, 2001: 46).

É caso para dizer que na actualidade empregados se tornam patrões, mas podemos ainda nos questionar, qual é a razão de tal inversão? Ora, primeiro temos que ter em conta que a inversão não esta ligada a posições que ocupam mas à de títulos (visto de uma forma metafórica) que estes ostentam, estes (empregados) tornam-se patrões por causas da pressão que vão exercendo as empresas fazendo com que estas para a sua sustentabilidade dependam principalmente dos recursos humanos, atendam as suas exigências, estabeleçam um determinado conforto e acima de

tudo

optem

por

comportamento

eticamente

correcto

perante

os

stakeholders

(empregados/parceiros no caso particular). Portanto, a qualidade de vida para além de servir de exigência dos recursos humanos e desafio das empresas em proporcionar a mesma, também pode servir como uma ferramenta estratégica para a produtividade e alcance dos objectivos organizacionais porque esta é considerada como um elemento motivador, ora, Roberto Kanaane (1999) entende qualidade de vida da seguinte forma: “A expressão qualidade de vida no trabalho pode ter várias interpretações, que apresenta uma variável que não afirma nem nega as condições que vivem os empregados de uma empresa. Segundo Hackman & Suttle (1977), a qualidade de vida refere-se a satisfação das necessidades do indivíduo, afectando as atitudes pessoais e comportamentais, a criatividade, a vontade de inovar ou de aceitar mudanças, a capacidade de adaptar-se as mudanças no ambiente de trabalho; são evidentemente factores importantes para a o alcance da produtividade do trabalho. A qualidade de vida está directamente relacionada ao desenvolvimento organizacional, isto é, voltada para aspectos de satisfação no cargo e valorização do trabalho” (KANAANE, 1999: 58).

Temos portanto dois pontos na relação estabelecida entre os recursos humanos e a organização e os mesmos encontram a “ética” como o seu elo de ligação. Ora vejamos, de um lado temos trabalhadores que clamam por melhores condições para exercerem as suas actividades e do outro temos a organização que pretende alcançar os seus objectivos (o lucro) e se manter competitiva no mercado, e têm como meio-termo a ética. A empresa desta forma opta por recorrer à códigos de condutas éticas com intuito de motivarem os seus trabalhadores para a produtividade e sustentabilidade da mesma, e os trabalhadores por suas vez dotados destes códigos éticos facultados pela empresa vão sentindo-se cada vez mais acomodados e identificados com o que fazem e acima de tudo criando relações interpessoais mais coesas, sendo assim a qualidade de vida fruto do entendimento mutuo entre os recursos humanos e a organização. Considera ainda Kanaane que “a qualidade de vida no trabalho não é determinada isoladamente por características pessoais (necessidades, impulsos, expectativas, pensamentos, desejos, valores, etc.), ou situacionais (tecnologias, fluxos de trabalho, sistemas de recompensas, condições do

sistema económico, politico etc.) mas pela interacção destes dois conjuntos de factores individuo e organização” (KANAANE. 1999: 58). Na administração de pessoas ou na gestão de recursos humanos o foco fica cada vez mais centrado na pessoa. Tal como considera António Gil: “O gestor de pessoas não deixa de ser um administrador de recursos humanos. Competelhe desenvolver os processos de suprimento, aplicação, desenvolvimento, manutenção e monitorização das pessoas. No entanto, para que possa actuar facilmente, necessita desenvolver nova atitude e posturas. Precisa principalmente considerar empregados como pessoas e não como meros recursos de que a organização pode dispor ao seu bel-prazer. Precisam trata-los como elementos que impulsionam a organização e não como agentes passivos. Precisa ainda trata-los como parceiros, como pessoas que tem a legitima expectativa de retorno de seu investimento” (GIL, 2010: 51).

Por fim pode-se dizer que os recursos humanos actualmente não são vistos como detentores da sua força de trabalho e que vendem˗a em detrimento de um salário, mas sim um parceiro estratégico para o sucesso da organização, são a inteligência e a força primordial da organização. Sendo que a falta de boas relações na organização pode fomentar conflitos interpessoais e até acabar em tragédias. 1.2 Cultura Organizacional A cultura organizacional tal como a qualidade de vida no trabalho se tornam num dos elementos importantes para o estabelecimento de relações interpessoais e numa forte ferramenta para evitar eclosão de conflitos dentro da organização, assim como propicia um ambiente saudável e de perfeita harmonia entre os recursos humanos dentro da organização. É de conhecimento de todos que todo homem em particular é possuidor de uma cultura que de alguma forma o socializa e torna-se na sua identidade, segundo o dicionário básico de filosofia, “num sentido mais filosófico, a cultura pode ser considerada como um feixe de representações, de símbolos, de imaginário, de atitudes e referências susceptível de irrigar, de modo bastante desigual, mas globalmente, o corpo social”, no entanto temos aqui a percepção da existência de diversas culturas uma diferente da outra, embora tenha existido ao longo dos tempos atitudes etnocêntrica que procuravam de uma forma difundir a imagem de existência de certas culturas

superiores a outras, enquanto que são todas banhadas por mesma essência que é conduzir a vida de uma determinada sociedade ou comunidade. Na óptica de Robert Srour cultura é “um conjunto de padrões que permitem a adaptação dos agentes sociais a natureza e a sociedade a qual pertencem, e facultam o controlo sobre o meio ambiente” (SROUR, 1998: 179). Pois, por outras palavras e de forma sucinta podemos dizer que cultura é nada mais que um conjunto ou sistema de valores e crenças que norteiam a vida de um determinado grupo de indivíduos (nação, comunidade, sociedade,). A cultura é aprendida, transmitida e partilhada. Não decorre de uma herança biológica ou genética, mas resulta de uma aprendizagem socialmente condicionada. É disso que se trata quando se fala de socialização ou de endoculturação: os agentes sociais adquirem os códigos colectivos e os internalizam, se tornam produtos do meio sociocultural em que crescem; se conformam aos padrões culturais vigentes e, com isso, se submetem a um processo de integração ou de adaptação social. Para Idalberto Chiavenato, “o clima organizacional refere-se ao ambiente interno existente entre os participantes de uma empresa. Está intimamente relacionada com o grau de motivação de seus participantes. O clima organizacional é a qualidade ou propriedade do ambiente organizacional, percebida ou experimentada pelos participantes da empresa e que influencia o seu comportamento. Refere-se as propriedades motivacionais do ambiente organizacional, ou seja, aos aspectos internos da empresa que levam a provocação de diferentes espécies de motivação nos seus participantes” (CHIAVENATO, 2007: 306). Segundo a ideia de Chiavenato, clima organizacional pode ser usado como uma plataforma de motivação dos recursos humanos com vista a trabalharem face a concretização de objectivos e metas estabelecidas pela organização. Mas Srour apresenta uma distinção entre o clima e cultura organizacional, sendo que, “clima não apanha os modos institucionalizados de agir e de pensar. Seu eixo consiste em capturar a “temperatura social” que prevalece na organização num instante bem preciso expressa a distribuição estatística das atitudes colectivas ou da atmosfera social existente como manifestação de um momento determinado” (SROUR, 2012: 137).

No entanto, as empresas por serem maioritariamente constituídas por recursos humanos (estes que são a razão de ser da própria organização) também adoptam uma cultura que se encontra intimamente ligada com a missão e visão da própria organização. Assim, a cultura organizacional é “o conjunto das representações mentais, o universo simbólico, o modo de ser próprio dos habitantes de uma organização que determinados padrões de comportamento expressam. Confere sentido aos discursos e às práticas. Especifica a identidade da organização construída ao longo do tempo. Serve de chave para distingui-la de outras organizações. Aliás, quando ocorrem fusões, aquisições ou incorporações de empresas, sob o fogo cruzado da multiplicidade das maneiras de ser, as culturas organizacionais gritam de tão diversas que são. Reagem também quando, sob o aguilhão da concorrência, irrompe a necessidade inadiável de inovar a tecnologia, de alterar a forma de gerir, de adoptar nova postura moral, de mudar o processo produtivo” (SROUR, 2012:133). Ora, a cultura e clima organizacional são vulgarmente confundidas, pois, no senso comum estes dois elementos são cambiáveis, contudo, “dependendo do estado de ânimo que predomina em cada subunidade de uma organização, vários microclimas podem coexistir. Não se pode então confundir uma descrição instantânea dos mal-estares ou do nível de satisfação dos indivíduos com os padrões culturais da organização, com suas práticas recorrentes ao longo do tempo. Por ser subjectivo, o clima não representa as regularidades simbólicas da colectividade, indica apenas uma pulsação da cultura organizacional, um flash de sua conjuntura. Em contraposição, as culturas organizacionais constituem sistemas de referências simbólicas e moldam as acções de seus membros. Ao servir de elo entre passado e presente, contribuem para a permanência e a coesão da organização” (SROUR, 2012: 137). Kanaane defende que a cultura organizacional se torna num elemento sinergético dentro da própria organização com os diversos campos que o são inerentes, assim sendo, “o nível de sinergia existente em um sistema organizacional, dependera das energias emanadas por este sistema, via intercâmbios ambientais, cujo conjunto de elementos gradativamente delineiam o quadro geral das interacções sócias. Tais interacções reflectem um conjunto de possibilidades que vão desde as relações facilitadoras como cooperação, colaboração e participação, até as relações que impedem seu funcionamento adequado, ou seja, conflitos não administrados e competições exacerbadas, rivalidades, disputas pelo poder” (KANAANE, 1999: 40).

Com isto nos questionamos: qual é a função da Cultura Organizacional? Podemos assim considerar que a cultura organizacional contribui de forma positiva para a existência de um ambiente saudável e de harmonia dos recursos humanos face ao trabalho que executam, a cultura organizacional também obriga as organizações a optarem por padrões ou códigos de conduta ética para com os seus colaboradores com intuito de estabelecerem fortes laços interpessoais a nível dos recursos humanos, pois, “diante das exigências que o ambiente externo provoca, diante das necessidades de integração interna que se renovam de maneira incansável, formam um conjunto de soluções relativas à sobrevivência, à manutenção e ao crescimento da organização. Por exemplo, ao surgirem situações não previstas pelas normas existentes, a cultura organizacional aparece como um recurso vital, pois os valores conferem orientação e consistência às decisões e às acções dos agentes” (SROUR, 2012: 137). 1.3 A pertinência da Ética no Processo de Liderança A liderança no contexto organizacional tem tido um tratamento muito delicado isto devido a percepção que se tem dela, pois, a liderança é percebida como fluxo de poder ou posição para tomar decisão perante outros mas no seu sentido mais vulgar a liderança esta intimamente ligada a coesão de ideias; partilha de mesmos ideais; sentimento de identidade de um grupo perante ao seu líder vice-versa. No entanto, a liderança se torna necessária em todas as organizações sendo nalgumas vezes fulcral para a progressão ou digressão de uma organização. Srour levante uma advertência pelo facto de haver uma certa confusão entre o papel do gestor e do líder, pois o autor na tentativa de clarear-nos sobre esta confusão quanto a distinção de papel de um gestor em relação ao do líder traz-nos a seguinte concepção: “a liderança (lidership), em sua acepção vulgar, acaba equivalendo a estar em primeiro lugar ou a ocupar um posto principal. Ora, é costume fazer coincidir a ocupação de cargos com liderança. Isso nem sempre é verdadeiro. A liderança transcende cargos ou posições formais, não carece de institucionalização, decorre da sintonia espontânea e informal estabelecida entre líderes e seguidores” (SROUR, 1998: 151).

A liderança não é nenhuma posição de chefia mais sim encontra-se indubitavelmente ligada a representação esta que por sua vez encontra-se num determinado indivíduo (líder) que se ocupa em responder em nome de todos que o seguem, sendo assim, a liderança quanto a sua origem

pode ser natural (inata), por delegação, por escolha ou por aspectos hierárquicos. Quanto a sua forma, a liderança pode ser autocrática; democrática; Paternalista; Situacional. Mas não nos interessa muito neste trabalho classificarmos e explicar cada tipo de liderança, o que nos é claramente pertinente é demonstrar o quão a ética se torna num elemento fulcral para que haja uma boa liderança. Pois, na tentativa da distinção de gestão e liderança Roberto henry Srour nos levanta o seguinte exemplo: “um líder comunitário, por exemplo, não ocupa posto algum a sua liderança depende exclusivamente do apoio reiterado que recebe de seus liderados. A força do líder, portanto, repousa na capacidade de convencer seguidores e de catalisar anseios – resulta de sua influência” (SROUR, 1998: 151). Contudo, a grande e mais importante características que faz de um líder diferente do gestor concentra-se na capacidade de convencer e fazer com que o sigam. Mas o autor ainda levanta uma questão de reflexão, por quê o líder conduz? Diz Srour, O líder conduz: “Porque identifica-se com os liderados, expressa seus interesses, propõe acções consoante com as expectativas deles. Na sua relação de comando, não logra obediência de modo compulsório, pois não lança mão do poder, nem dispõe originariamente dele, ainda que em certas situações pode chegar a adiciona-lo a sua liderança. Seu controle apoia-se sobre adesão da consciência ou da mente, sobre a obediência consentida. O líder funciona como mentor que da orientação e não como chefe que da ordens. Não impinge obediência e nem controla outros com base na disciplina do corpo. A riqueza do conceito de liderança, por via da consequência, ultrapassa de longe a figura do chefe ou do gestor”

(SROUR, 1998: 151). Agora que o autor nos apresentou claramente a diferença existente entre liderança (líder) e gestão (gestor), ou seja, a possibilidade de um bom gestor se tornar num bom líder, mas temos que ter em conta que nem sempre um bom líder pode se tornar num bom gestor. Na opinião de Pichler frente à complexidade e a multiplicidade volátil da realidade operacional contemporânea “o líder precisa desenvolver habilidades psicológicas interiores, como o desenvolvimento de uma forte intuição gerencial; uma sensibilidade não mensurável no trato com as pessoas do seu grupo; uma maturidade interior, no sentido de conhecer suas limitações e

estar à vontade com a delegação de tarefas; uma capacidade de valoração qualitativa dos resultados e dos esforços de sua equipe; bem como, em uma instância mais ampla, o respeito ético aos valores universalmente aceitos pela sociedade, não apenas como forma de investimento no capital social, ou seja, o aparente externo, como também na valorização e na auto-imagem de cada membro de seu grupo”(PICHLER, 2011: 50). Segundo o pensamento de Arruda “para que a liderança se exerça com ética é, preciso conhecer bem as pessoas a serem lideradas, saber onde se quer chegar, de que modo, com que fins e objectivos. Seguro de que tudo isso é bom, certo e correcto, resta ainda uma atitude que exige extremada prudência: a intervenção quando conveniente” (ARRUDA, 2003: 76). O autor no seu pensamento acima expressado nos adverte que uma boa liderança se encontra intimamente ligado com o profundo conhecimento que se tem do líder em relação aos que lidera e acima de tudo o estabelecimento de boas relações e a observância de factores como, consideração, respeito e justiça (factores tipicamente éticos). Idalberto Chiavenato conceitua a liderança como sendo: “a influencia interpessoal exercida em uma situação e dirigida por meio do processo de comunicação humana e consecução de um ou mais objectivos específicos. A liderança é um fenómeno social e ocorre exclusivamente em grupos sociais (…) a liderança é a capacidade de influenciar as pessoas a fazerem o que devem. O líder exerce influência sobre as pessoas, conduzindo suas percepções de objectivos em direcção aos seus objectivos. A definição de liderança envolve duas dimensões: a primeira é a capacidade presumida de motivar as pessoas a fazerem o que precisa ser feito. A segunda é a tendência dos seguidores de seguirem quem eles percebem como instrumentais para satisfazerem os próprios objectivos pessoais e necessidades” (CHIAVENATO, 2007:

307). Considera Arruda que “o líder ético faz com que seus seguidores o sigam com liberdade e bom senso, e não por medo. Dada a fragilidade da natureza humana, quando uma pessoa que o segue manifesta um defeito que prejudique a sua própria personalidade, impedindo ate mesmo de alcançar as metas da organização, espera-se do líder uma intervenção. Com muita habilidade sem o mínimo de despotismo, o líder deve interferir sem insistência nem omissão, na medida justa” (ARRUDA, 2003: 76).

E por fim, Arruda foca em três razões pragmáticas apontadas no final do século XX para que haja uma liderança empresarial ética assim como relevam a importância da ética na liderança empresarial, que são as seguintes: Em primeiro lugar: porque os líderes necessitam conquistar a boa vontade dos empregados, de modo que eles ponham os seus talentos a serviço dos objectivos da empresa. Para isso, os funcionários devem ser tratados com respeito. Segundo: os trabalhadores actualmente possuem mais conhecimentos, detém mais informação e poder. A ética do líder, nesse sentido, influencia directamente, e muito, a ética dos empregados. Uma terceira razão é que a sociedade em geral não aceita mais o uso coercivo ou manipulador do poder, de forma que as pessoas não respeitam os líderes, ou não confiam neles apenas por seu cargo ou função, mas pelo trabalho exercido com dignidade e responsabilidade. Com isso, os seguidores aderem ao líder com voluntariedade (ARRUDA, 2003: 77).

Pois, podemos reduzir estas três razões pragmáticas que fazem com que se considere uma empresa num campo de uso da ética nas suas actividades diárias assim como um elemento imprescindível nas suas lideranças em apenas três simples frases: Respeito para com todos stakeholders; Influência ética; dignidade e responsabilidade em relação as suas acções. Embora haja escritos, autores e certas teorias que defendem que uma boa liderança ou um líder eficaz e capaz de alcançar os objectivos empresárias é aquele que apresenta uma postura mais intimidadora, rigoroso e não abre nenhum espaço para os seus liderados, ou seja, aquele que possui característica de líderes militares (general, comandante) onde as palavras que soam são ordem e cumprimento, Kanaane (1999), adverte sobre o perigo deste tipo de liderança porque: “As lideranças existentes na maioria das organizações não consideram os valores individuais dos componentes de sua equipa de trabalho, implicando restrições quanto ao facto de considerar o grupo como fonte para o processo de tomada de decisão. Há predisposição de executivos em julgar os seus subordinados, as situações e os fatos, a partir da lógica, da analise objectiva – sem o serem na maioria das vezes -, evitando a tomada de decisão em sentimentos e valores dos envolvidos. Tais posturas tem gerado resultados incompatíveis com relação as expectativas organizacionais, havendo baixa produtividade, padrão de qualidade não adequado, desajustamento e inadaptação dos indivíduos e grupos nos respectivos postos de trabalho e, consequentemente, para

empresa, reduzida lucratividade e perda de imagem frente ao mercado” (KANNANE, 1999: 41).

2. Responsabilidade Social: uma abordagem ética das suas acções. Uma das características denotadas na idade contemporânea é a inversão de valores, assistimos diariamente casos ligados a desvalorização de aspectos morais o que nos impele de alguma forma a uma reflexão ética. Ora, podemos ainda questionar-nos a nós próprios: será que basta apenas uma reflexão ética? Mais que uma reflexão ética precisamos acima de tudo de prática de actos éticos, desde a individualidade, colectividade, a nível comunitário, social, organizacional, ou seja, em todas as esferas em que se encontra o ser humano. Recapitulemos a concepção de moral, segundo o pensamento do professor Robert Henry Srour, moral é “conjunto de valores e de regras de comportamento, um código de conduta que colectividades adoptam, quer sejam uma nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organização” (SROUR apud PICHLER, 2011: 60). Portanto, é na base deste agir moral e com responsabilidade que se busca recuperar conceitos éticos para a sociedade no geral e as organizações em particular. Então o que seria responsabilidade? Segundo o dicionário básico de filosofia “em ética, a noção de que um indivíduo deve assumir seus actos, reconhecendo-se como autor destes e aceitando suas consequências, sejam estas positivas ou negativas, estando portanto o indivíduo sujeito ao elogio ou à censura”. De forma global considera-se que responsabilidade é assumir os nossos actos sejam eles positivos ou negativos; é compromisso com os valores ético; é escolha livre e consciente e acima de tudo é assumir com as consequências que delas podem provir. Portanto, na sociedade podemos ter vários tipos de responsabilidades sejam elas individuais, colectivas, politicas, empresariais e outras ainda. A nossa análise irá cingir-se na responsabilidade organizacional, e dentro desta encontraremos outras como as económicas, filantrópicas, ecológicas ou políticas. As empresas sendo parte da sociedade e acima de tudo constituídas por seres humanos são impelidas ao compromisso com os valores e direitos humanos. Olhemos porém como diversos autores definem a responsabilidade social empresarial. Colocando assim como ponto de partida a seguinte questão: Qual é o papel das empresas?

Pois, Elizete Passos entende que “no plano externo, é papel de uma empresa ética, portanto humanizada, ajudar o governo a combater a criminalidade, a deter a fome e o analfabetismo, por exemplo: elas precisam assumir a sua responsabilidade social, conduzindo e favorecendo acções em que os seres humanos podem participar da sociedade de maneira firme, criadora e responsável” (PASSOS, 2009: 94). Ora, a responsabilidade social para além de ter em vista a preocupação para o bem-estar da comunidade em que a empresa se encontra inserida esta também é usada como uma ferramenta de marketing. Adverte Robert Srour, que, “o respeito a uma ética de responsabilidade não quer dizer necessariamente bom negócio, na já tradicional máxima good ethics is good business, mas significa sabedoria preventiva em campo no qual forças se enfrentam permanentemente. Aprender isso apresenta um passo fundamental para a saúde das empresas. Significa deixar de lado o velho registo de lógica de maximização do lucro e adoptar, por razões absolutamente pragmáticas, um novo registo: o do lucro acoplado a responsabilidade social” (SROUR, 1994: 10). Do pensamento de Robert Henry Srour subentende˗se que; para a sobrevivência no mercado competitivo as empresas até um determinado momento fazem da responsabilidade social uma ferramenta de estratégia e não como uma ferramenta que obedece puramente padrões ético morais, enquanto que a responsabilidade social das empresas na sua forma mais pura deve incluir actos meramente ético com respeitos aos valores humanos, isto é, a responsabilidade social deve ser entendida como a capacidade das empresas relacionar-se a nível social e humano com os stakeholders externos (isto é extra-organizacional) respeitando e promovendo a cultura, politica, economia e o bem-estar social da comunidade em que se encontram inseridas. Tal pensamento coaduna com o de Leisinger e Schimitt, sendo que as organizações para “além de cuidarem de seu público interno, de não lesar seus clientes e demais parceiros oferecendo por exemplo produtos de qualidade duvidosa, investindo em propaganda mentirosa, espera-se das empresas que elas também assumam uma responsabilidade mais ampla em relação ao ambiente e a sociedade, assim como contribuição mais sensata para alcançar as metas sociais”(LEISINGER e SCHIMITT apud PASSOS, 2009: 94).

Na visão de Idalberto Chiavenato a responsabilidade “é um grau de obrigações adorado por uma empresa ao assumir acções que protejam e melhorem o bem-estar da sociedade conforme ela procura atingir os seus interesses. Refere-se ao grau de eficiência e eficácia que uma organização apresenta no alcance de sua responsabilidade social. Uma organização socialmente responsável é a que desempenha seguintes obrigações: 1. Apoia os objectivos sociais em seus processos de planeamento; 2. Adopta programas sociais para a comunidade; 3. Oferece relatório sobre os progressos na sua responsabilidade social; 4. Utiliza várias abordagens para medir seu desempenho social;

5. Mede os custos e o retorno dos investimentos em programas sociais” (CHIAVENATO, 2007: 398). Friedman (1970) por sua vez considera a responsabilidade social como “um comportamento antimaximizador de lucros, assumido para beneficiar outros que não os accionistas da empresa. Portanto, existe somente uma responsabilidade da empresa: utilizar seus recursos e organizar suas actividades com objecto de aumentar seus lucros, seguindo as regras de jogo do mercado” (FRIEDMAN apud KAKOTLI, 2004: 58). Isto pelo facto do ambiente e do mercado em que se inserem as organizações ser de alguma forma considerado como hostil para as organizações, mas Robert Srour ainda considera que a responsabilidade social pode ser usada com um duplo proveito: o ético e estratégico. Ou seja, “em outras palavras, parece inescapável reconhecer que, ao lado da função económica as empresas desempenham uma função ética. Os empresários terão de admiti-lo, não por altruísmo nem por repentino discernimento democrático, mas pela imposição do poder presente. Agir eticamente, então, converte-se em questão de bom senso e em estratégia de sobrevivência” (SROUR, 1994: 10). Para Stephen Robbins a cultura se torna numa componente importante para uma boa compreensão da responsabilidade social das empresas, por que “só é possível entender como as organizações vem concebendo e pondo em prática sua responsabilidade perante accionistas, funcionários, demais stakeholders e a sociedade em geral se levarmos em conta que toda organização faz parte de um contexto sociocultural mais amplo, o qual determina de modo

importante tanto suas actividades quanto o modo pelo qual se relacionará com esse ambiente sociocultural”(ROBBINS, 2009: 7). Ainda Robbins quanto a amplitude do contexto sociocultural e a pertinência da cultura para a percepção da responsabilidade social das empresas considera que: “ao mesmo tempo que se valoriza mais a dimensão cultural do mundo, da vida em sociedade e das próprias organizações, ainda se ressaltam mais alguns valores culturais específicos, como responsabilidade e moralidade. Vistas como valores éticos e culturais ao mesmo tempo, responsabilidade e moralidade são noções especialmente importantes para o conceito de responsabilidade social corporativa: cada vez mais, por diversos motivos, as organizações vem adoptando uma visão de mundo e um valor cultural antes restrito a outras áreas da sociedade: a de que é preciso agir de forma correcta para com o próximo, sendo o próximo entendido de forma mais abrangente possível (incluindo todos os públicos de uma empresa, a sociedade ou nação em que se insere – possivelmente a economia global – e o próprio meio ambiente) ” (ROBBINS, 2009: 7).

As empresas no âmbito da sua acção de responsabilidade social não devem dissociar-se da moralidade e responsabilidade, porque estes para além de serem de carácter ético levam as organizações a observarem em questões altruístas, isto é, levam a empresas a aproximarem-se da cultura e consequentemente ficam mais próximas do homem estabelecendo assim uma relação de “EU e TU” tal como diz Martin Buber, empresa deixa de ser vista apenas como uma empresa, mas sim, como um “ente” igual a outros que se encontra inserido numa sociedade e dotado de cultura o que lhe cumpre dirigir as suas acções para o bem da mesma. 2.1 Escolas clássicas – Utilitarismo e Absolutismo Kantiano Temos aqui a união de dois pensamentos de um lado temos o utilitarismo em que o seu máximo expoente é John Stuart Mill e do outro o absolutismo Kantiano. O utilitarismo clássico considera “uma acção um bem quando esta produz um incremento igual ou maior da felicidade de todos os envolvidos relativamente a uma acção alternativa, e um mal se assim não acontecer”, teoria esta que até um determinado ponto pode ser criticável porque uma acção para que seja considerada boa não implica necessariamente que abranja ou que se torne numa lei ou acção universalmente aceita, encontrando assim uma pequena contrariedade com a doutrina kantiana em que a sua máxima fundamenta-se na seguinte ideia: “Age em conformidade apenas com a máxima que

possas querer que se torne uma lei universal”. Portanto podemos ter como ponto de partida seguintes questões: qual é o elemento que une estas duas teorias? E qual é a sua validade face a Responsabilidade Social das empresas? Bom, na opinião de Filipe Almeida apesar de alcançarem normas éticas distintas ambas impõem que se encare a humanidade sem descriminação de valor entre indivíduos, por sua vez, “o utilitarismo de Mill, sugere que, em cada situação, se procure maximizar a utilidade total, considerando na equação da felicidade todos indivíduos com o mesmo valor (incluindo o próprio agente da decisão). Kant por seu lado defende que todos os seres humanos tem uma dignidade que os torna fins em si mesmos rejeitando qualquer forma de manipulação instrumental de seus desejos e ou capacidades” (ALMEIDA, 2010: 131). As duas teorias impelem mesma consciência à sociedade no que diz respeito a sua visão face a humanidade e respeito aos valores individuais. Acima de tudo estas duas teorias usam na razão como o vector das suas condutas éticas que considera o homem já como um fim em si. Já na segunda questão, fazendo uma transfusão destas teorias ao campo organizacional, “estes princípios morais de Mill e de Kant implicam um exigente exercício de altruísmo que acrescenta aos interesses pessoais uma preocupação igual com os interesses e o bem-estar alheios” (ALMEIDA, 2010: 131). Ora, deste pensamento podemos carregar dois elementos: Altruísmo e Bem-estar alheios. Contudo, “o imperativo categórico de Kant impõe também a rejeição da indiferença perante ao sofrimento alheio, na medida em que o dever de solidariedade é condição racional de própria sobrevivência. Também Mill defende a conduta solidária, ao considerar que a inteligência e a generosidade humana permitem a quem presta auxílio aos outros sentir um prazer e uma satisfação pessoal de ordem superior” (ALMEIDA, 2010: 132). E por fim, as empresas devem criar uma aliança entre as suas responsabilidades económicas, isto é, os seus ganhos (lucros) com as responsabilidades ético moral que vão além do pagamento de salários dos seus funcionários, promoção de programas de desenvolvimento de capacidades dos seus colaboradores e bem-estar alheios tem que acima de tudo subordinar uma parte dos seus lucros a acções de responsabilidade social onde, “o dever moral de contribuir para a melhoria das condições de vida dos mais carentes parece ser obrigação de todos agentes sociais, justificando

as iniciativas filantrópicas empresariais e legitimando eticamente o sacrifício parcial ou temporário do lucro em função de um envolvimento activo em projectos de solidariedade social” (ALMEIDA, 2010: 134). Com base nestes dois princípios podemos dizer que as empresas face a responsabilidade social devem agir de forma que as suas actividades se convertam em código de ética empresarial de carácter obrigatório e universalmente aceito, e que as suas acções tenham impacto (positivo) em maior número possível de pessoas. 2.2 Teoria de Justiça como Equidade Teoria do filósofo americano John Rawls que iremos também usar para explicar o fenómeno da responsabilidade social na empresa sob ponto de vista de justiça como equidade social no tocante a oportunidade de emprego ou ao desenvolvimento económico, ético ou social de um determinado grupo. Rawls entende justiça como “a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de pensamento” (RAWLS, 1997: 4), assim, as empresas que também são instituições sociais devem incorporar a justiça como o primeiro princípio aquando das suas acções. Para Rawls uma sociedade se encontra bem organizada quando: “está planejada para promover o bem de seus membros e quando é efectivamente regulada por uma concepção publica de justiça. Isto é, trata-se de uma sociedade na qual (1) todos aceitam e sabem que outros aceitam os mesmos princípios de justiça, e (2) as instituições sociais básicas geralmente satisfazem, e geralmente se sabe que satisfazem estes princípios”(RAWLS, 1997: 5).

Contudo, Rawls aparece preocupado com o estabelecimento de uma sociedade inserida num processo onde ninguém usa na justiça para um benéfico particular e que as desigualdades sociais estejam em favor ao bem de todos, assim sendo, “uma vez que todos estão numa situação semelhante e ninguém deve designar princípios para favorecer sua condição particular, os princípios de justiça são resultados de um ajuste ou consenso equitativo. Pois dadas as circunstâncias da posição original, a relação das simetrias mutuas, essa situação original é equitativa entre os indivíduos tomados como pessoas éticas, isto é, como seres racionais com objectivos próprios e capazes, na minha hipótese, de um senso de justiça”(RAWLS, 1997: 13).

Desta maneira Rawls propõe dois princípios específicos de justiça social distributiva para que concretizem as sociedades bem ordenadas, a primeira é da Liberdade a qual defende que: “cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de liberdade para todos”(RAWLS, 1997: 64). Estabelecendo-se uma ponte deste princípio ao contexto organizacional e em particular ao campo da responsabilidade social podemos notar que “deste princípio decorre a obrigação moral das empresas evitarem, minimizarem e corrigirem todos os efeitos da sua acção que comprometam a liberdades alheias” (ALMEIDA, 2010: 133). Este princípio nos remete ao corporate governance3 e a vigilância rigorosa quanto ao impacto ambiental que possam vir a provocar as suas actividades. O segundo principio proposto por Rawls o da Desigualdade é da ideia de que: “as desigualdades sociais e económicas devem ser ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo (a) que sejam consideradas como vantajosas para todos dentro do limite do razoável, e (b) vinculadas a posições e cargos acessíveis a todos” (RAWLS, 1997: 64). Nas organizações este princípio alinha-se acima de

tudo com o quadro das responsabilidades económica que para além do pagamento de salários e a preocupação com o alcance dos seus objectivos financeiros (lucro), “o aumento do retorno financeiro e do património da empresa deve implicar, simultaneamente, na melhoria das perspectivas dos seus trabalhadores em termo de planos de carreira, programa de formação e expectativas de aumento salarial” (ALMEIDA, 2010: 133). Portanto, com apoio a estas duas teorias éticas podemos aqui perceber que as condutas éticas e práticas de responsabilidade social empresarial quando consideradas dentro da organização podem apresentar adopção de diversos padrões de conduta pessoal para com accionistas, executivos e colaboradores, assim como favorecem a remuneração justa, a valorização de talentos e esforço pessoal dos profissionais isto que culmina com o incentivo e desenvolvimento 3

Corporate Governance é o sistema através do qual as organizações empresariais são dirigidas e controladas. A

estrutura do Corporate Governance especifica a distribuição dos direitos e das responsabilidades ao longo dos diferentes participantes na empresa - o conselho de administração, os gestores, os accionistas e outros intervenientes - e dita as regras e os procedimentos para a tomada de decisões nas questões empresariais. Ao fazê-lo, fornece também a estrutura através da qual a empresa estabelece os seus objectivos e as formas de atingi-los e monitorizar a sua performance

pessoal, com a qualidade de vida, a transparência na comunicação entre outros ganhos. A nível externo a organização pode criar parcerias duradouras com fornecedores e uma utilização sustentada dos recursos naturais adoptando medidas para protecção e preservação do meio ambiente; preocupação com a saúde, segurança e satisfação dos consumidores. Recapitulando a questão de partida deste ponto na qual se apresentava da forma seguinte: Qual é o papel das empresas? As empresas quanto ao seu papel não devem cingir-se apenas na obtenção de lucro para a sua sobrevivência no mercado mas devem situar-se como um ente social composto de cultura e valores exercendo uma vida activa na sociedade, podendo assim, responder pelas suas acções e pelas dos outros através da sua contribuição para o desenvolvimento e promoção da cultura e politica da sociedade em que se encontra inserida, devem manter-se sempre vigilantes aos desastres ecológicos que delas podem provir e acima de tudo não devem olharem para responsabilidade social somente como uma questão estratégica para sobrevivência da organização

CAPÍTULO III ÉTICA EMPRESARIAL COMO MAU NEGÓCIO: UMA ABORDAGEM CRÍTICA Nos capítulos que antecedem a este abordamos sobre a concepção da ética no seu global apoiado por diversas épocas, escolas e pensadores assim como também a pertinência da mesma no seio empresarial e acima de tudo a sua magna importância nos estabelecimento de relações interpessoais a nível interno da organização, com isto reduzimos a organização constituída por diversos recursos humanos, sistemas e responsabilidades para um simples ente igual a outros inserido numa sociedade e obrigado a responder por suas acções face ao bem-estar social. Neste terceiro e último capítulo deste trabalho temos como objectivo apresentar as criticas operadas à ética no negocio, criticas estas apoiadas por sistemas económicos, políticos e sócias

como o capitalismo, o mercantilismo, o liberalismo e a grande critica operada no ano de 1970 pelo economista norte-americano Milton Friedman publicando um artigo na revista norte americana The New York Times Magazine, intitulado “The Social Responsability of Business is to Increase its Profits” defendendo que as empresas no âmbito das suas acções só tem como responsabilidade “aumentar os seus lucros” porque estas (empresas) nunca podem ser consideradas como um agente social. 1. Capitalismo e Liberalismo Económico. O capitalismo é um sistema económico em que os meios de produção, distribuição, decisões sobre oferta, preço e investimentos são em grande parte ou totalmente de propriedade privada e com fins lucrativos e não são emanados pelo governo. No entanto, com o capitalismo também se observou o advento da revolução industrial na Inglaterra, pois, neste ponto procuramos demonstrar a relação que estes dois movimentos estabelecem com a ética organizacional. Por um lado temos o capitalismo em que seus preceitos eram incompatíveis com os da ética, com os valores humanos e bem-estar social. Pois, a ética capitalista resumia-se em “ganhar e maximizar lucro a qualquer custo como forma de atingir seus objectivos”. Por outro lado temos, a industrialização e consequentemente o acréscimo de máquinas em substituição ao homem dentro da organização relegando a lucratividade em primeiro plano e o homem no segundo, este que por sua vez tinha de trabalhar a serviço da ética capitalista. Eis que nos questionamos: qual é o lugar do homem neste tipo de sociedade? Onde foram colocados os valores humanos, morais e éticos? E mais uma vez, qual era o papel das empresas? Portanto, “as estatísticas apresentadas sobre os primeiros resultados da Revolução Industrial na Inglaterra mostravam que a produção de algodão, ferro e carvão, havia crescido 1.000%, tendo o lucro dos proprietários alcançado alturas espectaculares. Mas as estatísticas não revelam nada sobre o bem-estar da comunidade e o padrão de vida dos trabalhadores. Na verdade, a prosperidade do comércio e indústria se fizeram acompanhar não do melhoramento da situação das classes trabalhadoras, mas da sua degradação. Havia denúncias de que um milhão de pessoas estaria morrendo de fome e de que esta cifra estaria em constante ascensão” (GUIMARÃES, 1984: 214).

Assim as organizações capitalistas têm como papel principal (senão único) a obtenção do lucro sem ter em conta aspectos que visam beneficiar a sociedade no geral e seus empregados em particular, e acima de tudo tem como pretensão usa-los simplesmente como meios para obtenção do lucro, ou seja, fins económicos de benefício pessoal, pois, “para a mentalidade capitalista gerencial que funciona ao ritmo de uma caixa registadora toma-se difícil assumir os custos sociais decorrentes das actividades do seu negócio, se isso significar redução de lucros” (GUIMARÃES, 1984: 215). Estariam assim estas a destruir a ética e moral Kantiana que estabelece que o homem já é “um fim em si mesmo e nunca um meio”. Tal como afirma Weber “homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. A aquisição económica não mais está subordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. Essa inversão daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingénuo, é evidentemente um princípio guia do capitalismo, tanto quanto soa estranho para todas as pessoas que não estão sob a influência capitalista” (WEBER, : 27). No entanto, o sistema capitalista apoiado pelo mercantilismo era basicamente regido por homens que se preocupavam em ganhar mais em relação a outros numa sociedade estratificada onde os meios de produção eram privatizados e orientados por uma teoria económica que negligenciava a ética no seio empresarial, enquanto que, “a própria teoria económica nos fornece algumas pistas para explicar a situação, ao revelar que os agentes económicos quando tomam decisões relativas a poder e riqueza, o fazem não considerando o bem-estar social mais amplo, mas procuram maximizar o beneficio próprio” (SROUR apud PASSOS, 2009: 82). 1.1 Liberalismo Económico e Neoliberalismo Liberalismo pode ser definido como um conjunto de princípios e teorias políticas que apresenta como ponto principal a defesa da liberdade política e económica. Neste sentido, os defensores do liberalismo são contrários ao forte controle do Estado na economia e na vida das pessoas. O pensamento liberal teve sua origem no século XVII, através dos trabalhos sobre política publicados pelo filósofo inglês John Locke. Já no século XVIII, o liberalismo económico ganhou força com as ideias defendidas pelo filósofo e economista escocês Adam Smith.

Contudo, o “ liberalismo económico, cujo principal teórico foi Adam Smith, considera que existem leis inerentes ao próprio processo económico — tais como a lei da oferta e da procura — que estabelecem o equilíbrio entre a produção, a distribuição e o consumo de bens em uma sociedade. O Estado não deve interferir na economia, mas apenas garantir a livre iniciativa e a propriedade privada dos meios de produção. O liberalismo económico defende assim a chamada economia de mercado". (MARCONDES, JAPIASSU, 2001: 119). O pensamento liberalista numa primeira fase estava intimamente ligada a questões como o humanismo e renascentismo exaltando assim as liberdades humanas, o homem era livre de fazer o que quisesse na medida que respeitasse a liberdade do outro onde todos eram iguais perante a lei. O liberalismo económico procurava destruir alguns preceitos capitalistas que se preocupavam apenas com a aquisição do lucro, dando lugar a uma mediação entre a aquisição do lucro, a livre concorrência das empresas e o respeito das liberdades, sendo que o Estado deveria intervir só no caso destas (empresas) atropelarem as liberdades alheias e os valores humanos. No entanto, Diz Guimarães que “levantar a bandeira da liberdade e do progresso é muito bonito, mas que significado real tem isso quando estamos cientes da fome, da miséria, do desemprego e de todas as situações de degradação humana que são "normais" nas sociedades orientadas por esses princípios?” (GUIMARÃES, 1984: 215). Por um lado, muitos estudiosos das organizações têm denunciado o carácter despótico das fábricas onde se exerce um controle rigoroso sobre os trabalhadores submetidos a uma série de penalidades. Por outro lado, temos assistido à contínua depredação da natureza e à elevação dos índices de poluição ambiental, também provocadas pelas actividades empresariais. Dentro de todo esse cenário, como se coloca a questão da responsabilidade social? Qual seria verdadeiramente a liberdade que defendia o liberalismo económico? E qual é o seu impacto face a melhoria da qualidade de vida da sociedade no seu todo? No fundo, notamos que também o liberalismo económico tem o mesmo cerne que o capitalismo estando apenas preocupada com a liberdade das empresas para a sua função económica e livre concorrência, não propriamente preocupada com as causas sociais.

Já numa segunda fase, a do liberalismo radical ou simplesmente neoliberalismo4 que surgiu na década de 1970 que é a aplicação dos princípios liberais numa realidade económica pautada pela globalização e por novos paradigmas do capitalismo. De acordo com esta doutrina deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o crescimento económico e o desenvolvimento social de um país fechando-se uma vez mais dos preceitos éticos e ressalvando o mito de que “a ética é um mau negocio para o crescimento económico”, reduzindo o papel das empresas para a função económica (obtenção e maximização do lucro) e aos gestores cabe-lhes pagar dividendos somente aos acionistas, e a responsabilidade social no que diz respeito a prover melhoria da qualidade de vida tinha de estar por parte do Estado. 2. A Responsabilidade das Empresas é aumentar lucro Teoria defendida por Milton Friedman e seus seguidores apoiados pelas teorias capitalistas e liberalista que impõe uma barreira entre a empresa e a responsabilidade face a sociedade. Estes afirmam que a ética é extrínseca a empresa, pois as empresas devem ter uma livre circulação e actuação, sendo que “assuntos de negócios não se podem misturar com assuntos éticos”, pois com os sistemas capitalista e liberalista, portanto seria um absurdo falar da ética porque a lógica da ética não é compatível a lógica da empresa. Os argumentos de Friedman assentam em seguintes proposições: - O objectivo das empresas numa economia de mercado, onde a competição é muito acirrada, é a maximização dos lucros; - As acções dos executivos das empresas devem ser sempre voltadas para o objectivo do lucro, de forma a melhor remunerar os accionistas;

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O neoliberalismo económico constitui, em nossos dias. a doutrina que diante de certo fracasso do liberalismo

clássico e da necessidade de reformar alguns de seus modos de proceder admite uma certa intervenção do Estado na economia mas sem questionar os princípios da concorrência e da livre empresa.

- Investimento por parte da empresa na área social, para qualquer tipo de público (interno ou externo, empregados ou a sociedade) é uma forma de lesar os accionistas, de diminuir seus ganhos; - Procedendo com responsabilidade social a empresa estará se auto tributando e, ao invés de ser elogiada, deveria ser processada (FRIEDMAN apud GUIMARÃES, 1984: 216).

Milton Friedman e os defensores da escola de Chicago são da opinião de que, deveria haver uma livre circulação da empresa a nível do mercado e uma exclusão da ética no contexto empresarial, porque, os princípios éticos são diferentes dos empresariais, portanto a lógica ética é teórica, enquanto que a lógica empresarial moral é acima de tudo prática. Robert Henry Srour por sua vez, responde ao facto da escola de Chicago colocar a ética fora das organizações alegando que esta é incompatível aos princípios económicos, pois, considera Srour que “o conhecimento ético fornece um quadro de referência para as decisões corporativas, na medida em que exige uma análise de conjunto, induz a mapear os interesses dos agentes envolvidos com a empresa” (SROUR apud PASSOS, 2009: 71). Então como pode a empresa funcionar plenamente sem observância de aspectos de carácter ético? Diz Friedman: “ Os homens de negócio acreditam estar defendendo a livre iniciativa quando declamam que as empresas não se preocupam meramente com o lucro, mas também com os fins sociais desejáveis; que as empresas têm uma consciência social e levam a sério suas responsabilidades de prover emprego, eliminar a discriminação, evitar a poluição e tudo mais que seja chavão da cultura contemporânea de reformadores. De fato, eles estão – ou estariam, se eles levassem a sério, ou se qualquer outra pessoa o fizesse – professando o socialismo puro e autêntico. Homens de negócio que falam dessa forma são fantoches involuntários das forças intelectuais que têm minado as bases da sociedade livre nas últimas década” (FRIEDMAN apud The New York Times Magazine, 1970).

Para Friedman é fantoche todo aquele homem que tem a pretensão de incluir a ética nos negócios com intuito de combater a criminalidade ou prover bem-estar social, pois todo empresário deve estar focado no crescimento económico da organização e maximização a qualquer custo do lucro,

sendo esta a base para a sustentabilidade da organização, pois, incluindo aspecto ligados a ética na organização com finalidade de retribuir de forma justa e moral a sociedade através do programa de responsabilidade social é intimamente dizer que a organização tem responsabilidades. Porém afirma Friedman que “somente pessoas podem ter responsabilidades. Uma corporação é uma pessoa artificial e, nesse sentido, pode ter responsabilidades artificiais, mas das empresas como um todo não pode ser dito que tem responsabilidades nem mesmo nesse sentido vago. O primeiro passo para a clareza da análise ao examinar a doutrina de responsabilidade social das empresas é perguntar precisamente o que isso implica, e para quem”(FRIEDMAN apud The New York Times Magazine, 1970). A intenção dos neoliberalistas é sempre a de colocar os compromissos económicos acima dos sociais, porque, acreditam eles que um bom êxito financeiro depende da maximização do lucro e não do gasto de boa parte das suas finanças a favor da responsabilidade social. Elizete Passos acredita que tais posturas tendem a desumanizar o homem na organização, pois os mídias, ou seja, “os meios de comunicação divulgam e estudos confirmam que as organizações, ao colocarem seus compromissos económicos acima do social, mostram a sua face mais dura, perversa e repreensível do ponto de vista moral, que consiste no descaso com a vida humana. Situação que pode ser identificada em diversos aspectos, indo desde a exposição de seus empregados a situações de trabalho desumanas e perigosas ate ao stress” (PASSOS, 2009: 82). O que Elizete passos tenta alertar aos neoliberalistas ou capitalista é de que esta busca incessante e doentia pela obtenção do lucro até um certo ponto pode trazer um problema sério aos recursos humanos que trabalham como meios para este fim ou felicidade última dos capitalistas (o lucro) que também é possível alcançar o mesmo através da observância de aspectos éticos. Mas ainda insiste Friedman na sua negação da existência de responsabilidade social da empresas alegando que, “Num sistema de livre iniciativa e propriedade privada, um executivo é um empregado dos donos do negócio. Ele tem responsabilidade directa para com seus empregadores, essa responsabilidade é de conduzir a empresa de acordo com o desejo deles, que geralmente será ganhar tanto dinheiro quanto for possível em conformidade com as regras básicas da sociedade, tanto as consagradas por lei quanto as consagradas por

costumes éticos. Naturalmente, o executivo é uma pessoa em seu próprio direito. Como pessoa, ele pode ter muitas outras responsabilidades que reconhece ou assume voluntariamente – para com a sua família, sua consciência, seus sentimentos de caridade, sua igreja, seus clubes, sua cidade, seus pais. Ele pode se sentir impelido por essas responsabilidades e devotar parte de sua renda e causas que ele considera valiosa, a recusar trabalho de empresas em particular, e ate mesmo a deixar o seu trabalho, por exemplo, para se juntar as forças armadas do seu país. Se quiséssemos poderíamos nos referir a algumas dessas responsabilidades de responsabilidades sociais. Mas neste caso ele esta agindo como individuo, por próprios princípios e não como um agente contratado; ele está gastando o seu próprio tempo, dinheiro ou energia, não o dinheiro de seus empregadores ou o tempo e energia que ele deveria usar para se dedicar aos propósitos para o qual foi contratado. Se essas são responsabilidades sociais, elas são responsabilidade sócias de indivíduos e não da empresa”(FRIEDMAN apud The New

York Times Magazine, 1970). Em suma, para Friedman só o homem que pode subordinar-se a responsabilidade social, abdicando-se de tudo a favor da ajuda parente outros, já empresa não deve nunca abrir mão do seu lucro e usa-lo sob prisma da responsabilidade social se o fizer estará contribuindo para o seu decréscimo económico e consequentemente pode vir a perecer no mercado. Friedman considera que a prática da doutrina de responsabilidade social como um disfarce para praticar acções justificadas em outros campos do que um fim em sim mesmo. Por fim no The Social Responsability of Business is to increaseits Profts diz o seguinte: “Seria inconsistente da minha parte pedir que os executivos se abstenham dessa fachada hipócrita porque isto ameaça os fundamentos da sociedade livre. Isso seria convoca-los a exercer uma responsabilidade social! Se as nossas instituições e as atitudes do publico fazem dos próprios interesses dos executivos encobrir suas acções dessa forma, eu não posso ter muita indignação ao condena-las. Ao mesmo tempo eu não posso expressar admiração a aqueles proprietários individuais, detentores de empresa de capital fechado ou accionistas que desdenham dessa prática por sua abordagem fraudulenta. Dolosamente ou não, o uso da mascara da responsabilidade social, e o insensato discurso em seu nome por homens de negocio, prestigiados e influentes, claramente ameaça os fundamentos da sociedade livre. Por um lado eles são capazes de serem acurados e perspicazes em

assuntos internos aos seus próprios negócios. Por outro, eles são incrivelmente míopes e confusos em assuntos que, mesmo exteriores aos seus negócios, afectam a possível sobrevivência da livre empresa no geral” (FRIEDMAN apud The New York Times

Magazine, 1970). Portanto, pode se concluir que para os capitalista e neoliberalistas sobretudo a escola de Chicago5 em que seu expoente máximo era Milton Friedman, falar da responsabilidade social empresarial, seria o mesmo que falar de um suicídio da própria empresa, isso pelo facto da empresa estar a desviar-se das suas verdadeiras responsabilidade que é aumentar os seus lucros, assim sendo, seria uma autêntica burrice se os gestores e accionistas entrarem na onda da responsabilidade social, porque com ela estarão afundando a própria empresa. Em contrapartida, Robert Henry Srour apela para uma racionalização das actividades empresariais do sistema capitalista e neoliberal, ou seja, a substituição do capitalismo e neoliberalismo ao capitalismo social, este último que “trata-se de um capitalismo que altera radicalmente as relações de trabalho, devolvendo aos trabalhadores parte do controle técnico sobre o processo de produção - apropriação real de seus instrumentos de trabalho, graças à intensa qualificação e à prévia escolarização. Mas, sobretudo, trata-se de um capitalismo que prioriza os stakeholders em relação aos shareholders6 (accionistas, proprietários), acrescentando à lógica do lucro as determinações da responsabilidade social ou da função ética e social da propriedade. Trata-se, por fim, de um sistema que distribui parcela expressiva dos excedentes gerados para a população trabalhadora, através de serviços públicos eficientes e acessíveis (salários indirectos) e através da participação nos resultados empresariais” (SROUR, 1994: 34). 3. Ética fora da Organização e a Emergência de Conflitos Interpessoais. Alguns defensores do capitalismo e do liberalismo na sua versão mais radical tentaram colocar a ética fora das organizações, pois para estes a ética é um mau negócio e a sua lógica não é 5

Escola de Chicago não foi superada em produção académica e prestígio por nenhuma outra Escola de Economia no século que passou. Em termos do desenvolvimento da Teoria Económica, a Escola de Chicago teve particular destaque nas áreas de: capital humano, econometria, contra-revolução monetarista, economia internacional, sociologia e economia, direito e economia, expectativas racionais, hipótese do mercado financeiro eficiente, mechanism design, entre outras. 6 A palavra shareholder é composta pela junção de share (que em inglês significa acção de uma empresa) e holder (aquele que possui ou segura alguma coisa), ou seja, significa alguém que possui ou detém acções da tal empresa.

compatível com a dos negócios, no entanto para os neoliberalistas só há êxito económico e sobrevivência da organização quando esta estiver principalmente (senão unicamente) focada na maximização do lucro. Mas actualmente ao dissociar a ética da empresa só pode levar a própria empresa a perder, pode se instalar na empresa sentimentos como insegurança, ressentimento, descontentamento, injustiça, põe-se em causa a confiança e o desempenho da instituição assim como a emergência de conflitos. Pois a ética implica respeito, valorização ao outro e aos valores humanos, tudo isso para criar um bom clima dentro da organização. Um dos problemas que muitas pessoas enfrentam é trabalhar demais e não dispor de muito tempo para ficar com a família, não compartilha com os filhos nem com a esposa os problemas e acontecimentos do lar, deixando ao cargo a mulher de todas responsabilidades da casa. No entanto, “o empregado frequentemente fica além do horário de trabalho, e quando chega em casa, seus filhos já estão dormindo ou está tão cansado que não apresenta a disposição para conversar ou saber o que aconteceu no seu lar. Não é raro o empregado levar trabalho para casa ou fazer actividade de trabalho durante o final de semana. Apesar de pessoas compreenderem a necessidade do empregado se dedicar tanto a empresa, a sua ausência é presente na vida emocional e psicológica dos seus familiares” (NEBENZAHL, 2004: 28). Portanto, este comportamento compulsivo de capitalistas para a obtenção do lucro acaba tendo repercussões negativas ao empregado não só na empresa assim como na sua vida social, pois o trabalho estará de alguma forma a afasta-lo da sua família, impedindo-o de desfrutar prazeres da vida e consequentemente pode criar stress no mesmo. No entanto, uma organização que opta em colocar a ética fora da sua área de jurisdição também pode deparar-se com problemas sérios no recrutamento de recursos humanos e a sua manutenção na empresa por longo tempo “apesar do novo empregado conhecer um pouco sobre a empresa por intermédio de outras pessoas, poderá mudar de opinião a partir da sua própria convivência na organização, mesmo a empresa concebendo bom salário, beneficio e carreiras profissionais, pode não gostar do ambiente e o do sistema de trabalho, as relações interpessoais podem ser muito conflituantes e negativas, proporcionando muitas vezes stress, atrito, negação da colaboração nas

actividades de trabalho, atraso nos prazos e fofocas com intenção de denegrir imagem do colega” (NEBENZAHL, 2004: 41). Empresas deste género podem deparar-se constantemente com a emergência de conflitos em vários sectores, as pessoas assim como as próprias organizações desenvolvem conflitos que interferem profunda e negativamente no ambiente e na dinâmica da organização. Podem ser causas de conflitos a falta de honestidade no trabalho e nos relacionamentos, falta de solidariedade e trabalho em equipas, relações interpessoais e comunicação deficientes, resistência a mudanças dentre outros aspectos. Na percepção do professor Robert Henry Srour “as organizações formam um campo de poder, uma arena onde se digladiam forças interessadas em apropriar-se de bens socialmente escassos. No seio das empresas capitalistas, por exemplo, os gestores constituem centro de gravidade de variadas disputas, porque entram em conflito com proprietários, entre si ou com os assessores. As disputas chegam a enfocar salários e fringe benefits7, cargos e atribuições, autonomias de acção, os recursos destinados as subunidades organizacionais, a participação em comités que dispõe de autoridades, o território e quantidade, o acesso a informações, os símbolos de posição e de poder” (SROUR, 1998: 156). A empresa em si, só pelo facto de instalar-se num determinado espaço físico ou num mercado sazonal ou virtual, já se encontra propensa a conflitos devido a concorrência com outras do mesmo ramo em que nalgumas vezes esta mesma concorrência tem sido desleal. “Tece-se uma complexa teia de conflito nas organizações, algumas visíveis e outras subjacentes. Sobrepõem-se interesses pessoais, colectivos e das subunidades componentes” (SROUR, 1998: 157).

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Os benefícios indirectos, conhecidos no meio empresarial como "fringe benefits", no dizer de Max Gehringer, "o

enfeite que torna o conjunto mais atraente", é a parte do pacote de remuneração que complementa o salário e os benefícios legais de sócios, directores, gerentes, administradores e funcionários vitais para a empresa. São benefícios oferecidos pelas empresas, a título de pagamento adicional dos salários, a seus funcionários de alto nível. Dessa forma, os rendimentos sobre os quais incidem impostos e deduções são reduzidos.

Uma boa comunicação a nível interno das organizações tem sido também como uma ferramenta importante para evitar a eclosão de conflitos dentro da organização e manutenção de relações interpessoais saudáveis. Em muitos ambientes de trabalho não é permitido que haja intimidades entre as pessoas, ou seja, não podem fazer comentários de sua vida pessoal para não darem motivos de gracejos e fofocas. Existem empresas também que não tem a preocupação em melhorar os seus processos nem suas relações interpessoais no trabalho. Nestes ambientes, as pessoas não tem e nem demonstram interesse em ajudar o colega, em estudar uma forma de resolver um determinado assunto e em desenvolverem projectos interdisciplinares. (NEBENZAHL, 2004: 65). Mas o conflito supõe também alianças sem o qual a organização não sobrevive. Formam-se colisões, a revelia ou despeito da estrutura formal, principalmente entre proprietários e gestores, colisões estas que recortam a organização em linha transversal e operam de forma ofensiva e defensiva, as equipes directivas demandam pouco esforço, pois ocupam cargos formais, enquanto as colisões dominantes exigem maior acuidade para serem descobertas – cabe reverter as decisões tomadas, verificar a quem prejudicaram e a quem beneficiaram, analisar e filtrar as alianças conjunturais (SROUR, 1998: 158). O conflito também pode ser considerado como um mal necessário dentro da organização, porque este pode ser o ponto fundamental que levará a criar um ambiente homogéneo dentro das organizações procurando assim resolver e eliminar todos pontos que criavam desunia.

Conclusão O tema da ética organizacional tem sido actualmente discutido por diversos teóricos com vista a entender a sua pertinência no estabelecimento de boas relações e seus ganhos ou perdas em todas esferas empresariais e acima de tudo no estabelecimento de relações interpessoais. O professor e sociólogo Robert Henry Srour o qual baseámo-nos das suas ideias para compreendermos a pertinência da ética nas empresas, é da opinião de que “empresas éticas são aquelas que subordinam as suas actividades e estratégias a uma reflexão ética e agem de forma socialmente responsável (SROUR apud PASSOS, 2009: 92). Segundo o autor as relações interpessoais que se devem estabelecer dentro das organizações não se diferem das que estabelecemos no nosso quotidiano, tanto na nossa vida em família, em comunidade ou mesmo sociedade, pois as estas mesmas relações devem ter como meio-termo a ética, a cultura, os valores humanos, criando assim um clima harmónico dentro das organizações. Portanto, a ética deve ser a plataforma reguladora das relações interpessoais empresariais e das empresas para com a sociedade no geral. Na maior parte as relações interpessoais são consubstanciais nas organizações, e são influenciadas pela cultura vigente no local em que as mesmas se encontram. A expectativa de que empresas comportem-se de maneira ética com seus consumidores, seus fornecedores, concorrentes e empregados vem se intensificando. Tanto que muitas empresas vêm criando códigos éticos delineando procedimentos a serem seguidos por seus empregados. Ocorre, porém, que com frequência esses códigos são elaborados de forma mais genérica ou pouco realista, o que dificulta acreditar que foram feitos para valer. Também ocorre em muitas empresas que esses códigos destinam-se aos empregados, sem que se observe a contrapartida do empregador (GIL, 2001: 44). No entanto, a ética também passa a ser um problema por analisar no seio da organização isto quanto a sua finalidade, se estes são criados com a intenção de fazer valer e proporcionar um bem-estar entre todos stakeholders ou se são apenas criado para questões de estratégia. Eis que nos perguntamos mais uma vez, qual é o papel das organizações? Uns são da opinião de que as organizações possuem várias funções das quais destacam-se as económicas, éticas e filantrópicas. As económicas se encontram intimamente ligadas com a sobrevivência da empresa

no mercado através da satisfação das suas necessidade e objectivos que é a obtenção do lucro, e as éticas e filantrópicas por sua vez cingem-se na preocupação com a qualidade de vida de seus colaboradores e no impacto das suas acções na sociedade em geral e seu respeito ao meio ambiente e em factores ecológicos, assim como na promoção e desenvolvimento da cultura em que estão envolvidas através do programa de responsabilidade social. Outros (capitalistas) são da opinião de que as empresas tem uma única responsabilidade que é a económica, sendo que a responsabilidade social das empresas é aumentar o lucro, e a ética e responsabilidade social empresarial é uma doença que deve ser combatida e curada para não matar a empresa. Das análises por nós feitas constatamos que existe uma tendência nas organizações de por um lado se preocuparem exclusivamente com a maximização do lucro deixando de lado a preocupação com a qualidade de vida e satisfação das necessidades dos recursos humanos, e por outro lado a existência de relações interpessoais deficientes que torna a organização num campo de indivíduos que se desconhecem entre si e que ao mesmo tempo se tornam carrasco do outro, difamando ou levando a cabo acções que visam prejudicar o outro. Porém, pretendem-se com a ética aliada as organizações estabelecer relações interpessoais coesas, capazes de estimular todos recursos humanos a trabalharem com vista a satisfação dos objectivos e metas estabelecidas pela organização assim como evitar a emergência constante de conflitos interpessoais, factores que se tornam em grande contributo para o êxito da organização e satisfação dos recursos humanos.

Apêndice: Curriculum Vitae de Robert Henry Srour PhD. Robert Henry Srour,Doutor em Ciências Humanas (Sociologia) pela Universidade de São Paulo (1977); Professor de MBA da FIA e da FIPECAFI desde 1993. Professor convidado para ministrar seminários no COPPEAD (UFRJ), desde 1989, e na FUNCAMP, desde 2010. Foi docente da UnB, da FGV e da UFSC. Publicou artigos em revistas, prefácios, capítulos de obras e os livros: 1. Casos de Ética Empresarial. Chaves para entender e decidir. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014 (2ª edição revista). 2. De Boas Intenções, as Empresas Estão Cheias! Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 3. Ética Empresarial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013 (4ª edição revista). 4. Poder, Cultura e Ética nas Organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012 (3ª edição revista). 5. Classes,

Regimes,

Ideologias.

São

Paulo:

Editora

Ática,

1987.

Disponível

em:

≤books.google.com.br≥. 6. A Política dos Anos 70 no Brasil. São Paulo: Editorial Económica, 1982. Disponível em: ≤books.google.com.br≥. 7. Modos de Produção: Elementos da Problemática. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1978. Disponível em: ≤books.google.com.br≥. Director Geral da RHS – Serviços Científicos Ltda. Prestou consultoria para as seguintes empresas: Itaú Unibanco; Grupo Pão de Açúcar; Conglomerado Itaúsa (Holding, Kinea, Segmento PJ, Área de RH, Área de Tesouraria e Mercados Financeiros, Área de Operação Comercial de Agências, DCI, Área de Mercado de Capitais, Diretoria de Auditoria); Interfloat; Comgás; Bicbanco; Instituto Itaú Cultural; Elektro; Bridgestone Firestone; T-Systems. Cargos ocupados (entre outros): Presidente da CPOS (1995-2002); Presidente da EMTU (1988); Conselheiro do Conselho Estadual de Educação (SP, 1985-1988); Secretário Adjunto da Secretaria de Estado dos Negócios Metropolitanos (SP, 1987-1988); Secretário Adjunto da Secretaria de Estado da Habitação (SP, 1996); Presidente dos Conselhos de Administração da CPOS e da EMTU; Vice-presidente do Conselho de Administração do METRÔ (SP, 1987). Especializações: Business Ethics. Actualmente é professor da Fundação de Institutos de Administração (FIA) desde 1993; Director Geral da Robert Henry Srour – serviços científicos (RHS) desde 1988 e Diretor da RHS– serviços científicos ltd desde 1988.

Bibliografia Principais SROUR, Robert Henry. Classes, Regimes, Ideologias. São Paulo: Ática 1987. ___________________. Ética Empresarial sem Moralismo. São Paulo: R.A.E. 1994. ___________________. Formas de Gestão: O Desafio da Mudança. São Paulo: R.A.E. 1994. ___________________. Poder, Cultura e Ética nas Organizações. Rio de Janeiro: Campus. 1998. ___________________. O capital de reputação e a ética. In: Limites e Avanços da Ética na Comunicação Brasileira – Brasília: Banco do Brasil, 2006. Edição de palestras do XI Seminário de Comunicação do Banco do Brasil. _____________________. Por que Empresas Eticamente Orientadas? 2008. ___________________. De Boas Intenções as Empresas estão Cheias. Rio de Janeiro: Elsevier. 2009. ___________________. Poder, cultura e ética nas organizações. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier 2012. Secundarias ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Lisboa: Presença. 1969. ALMEIDA, Filipe. Ética, Valores Humanos e Responsabilidade Social das Empresas. Cascais: Principia. 2010. ARRUDA, Maria Cecilia de, et al. Fundamentos da Ética e Economia. 2 ed. São Paulo: Atlas. 2003. BUBER, Martin. Eu e tu. São Paulo: Centauro. 2001. CHIAVENATO, Idalberto. Administração: Teorias, Processos e Práticas. 2ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2007. CORTINA, Adele; MARTINEZ, Emílio. Ética. São Paulo: Loyola. 2005.

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