O Papel da Família na Educação em Moçambique: Uma análise no ensino básico na Escola e bairro de Assumane (1992 - 2014)

July 3, 2017 | Autor: Jaime Jose Henriques | Categoria: Psicología, Ciencias Sociales
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Jaime José Henriques

O Papel da Família na educação em Moçambique: uma análise no Ensino Básico na Escola e bairro de Assumane (1992-2014)

Licenciatura em Ensino de História com Habilitações em Geografia

Universidade Pedagógica de Moçambique Lichinga 2015

Jaime José Henriques

O Papel da Família na educação em Moçambique: Uma análise no Ensino Básico na Escola e bairro de Assumane (1992-2014) Licenciatura em Ensino de História com Habilitações em Geografia

Monografia

científica

Departamento

de

apresentada

Ciências

ao

Sociais

e

Filosóficas para obtenção do grau académico de Licenciatura. Supervisor: dr. Geraldo Cebola João Lucas

Universidade Pedagógica de Moçambique Lichinga 2015

Índice

Páginas

Declaração de Honra………………………………………………………………………......iii Dedicatória…………………………………………………………………………………….iv Agradecimentos………………………………………………………………………………...v Resumo…………………………………………………………………………………….......vi Lista de gráficos ………………………………………………….…………………………...vii CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO…………………………………………………………….......8 CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA, COLOCAÇÃO DE CONCEITOS E TEORIA DE BASE……………………………………………………………………………………...12 2.1. Revisão da Literatura…………………………………………………………………..12 2.2. Teoria de base……………………………………………………………………...…...16 2.3. Colocação de conceitos………………………………………………………………...17 CAPÍTULO III: METODOLOGIA……………………………………………...……………23 3.1. Tipo de pesquisa …………………………………………………………..……… . …23 3.2. Método de Abordagem indutivo…………………………………………..………..….24 3.3. Método de Procedimento monográfico………………………………………………………………………………25 3.4. Técnicas de Pesquisa…………………………………………………………………...25 3.4.1. Pesquisa documental …………………………………………………………...…….26 3.4.2. Entrevista ……………………………………………………………………..……...26 CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE, DISCUSSÃO E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS………………………………………………………………………………………..28 5.1. O papel da família na educação do ensino básico na escola e na comunidade de Assumanse …………...…………………………………………………………………..….. 28 5.2. As formas de participação da família na educação do ensino básico na Escola e bairro de Assumane………………………………………………………………………...……………31

5.3. O impacto dos preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico ……………………………………………..…….34 CAPÍTULO VI: CONCLUSÕES……………………………………………………………..40 6.1. Conclusão………………………………………………………………………………40 6.1.1. Recomendações……………………………………………………………………42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………………...44 APÊNDICES …………..………..………………………………………………………...… 48 APÊNDICE I (Guião de entrevistas às famílias do Bairro de Assumane) ………………..….49 APÊNDICE II (Guião de entrevistas aos professores da EP1 de Mbambala) ……………..…50 APÊNDICE III (Guião de entrevistas aos líderes comunitários) ………………...………...…51

Declaração de honra Declaro que esta monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para a obtenção de qualquer grau académico.

Lichinga, Abril de 2015 O Candidato ____________________________________ Jaime José Henriques

Dedicatória Dedico este trabalho aos meus pais, em especial a minha mãe Valéria Eusébio Carão e ao meu padrasto José Maria Sisto Carão, aos meus irmãos e aos demais familiares.

Agradecimentos Em princípio agradeço a Deus pelo dom da vida que me concedeu, pela saúde que me tem proporcionado em todas as etapas da minha vida. Aos meus pais, sobre tudo a minha mãe Valéria Eusébio que muito fez para que eu pudesse chegar onde cheguei tendo me ajudado em todas as vertentes. Agradeço também ao meu padrasto José Maria Sisto Carão que também me ajudou ao longo desta caminhada académica, através de vários conselhos que me foram bastante úteis. Aos meus irmãos Júnior, Fernazia, Reinaldo, Brunilde, Felizardo, Quitéria, Jubeta, Cláudia e aos demais familiares. Os agradecimentos são extensivos também ao dr. Geraldo Cebola João Lucas, meu supervisor, pela orientação e paciência na colaboração e execução do presente trabalho. Agradeço também a todos docentes do Departamento de Ciências Sociais em particular aos do curso de História que foram determinantes na minha formação. Não menos importantes também são os meus agradecimentos às estruturas do bairro de Assumane, nas pessoas dos Srs. Abudo Saide e Momade Saide, secretário e régulo do bairro de Assumane respectivamente, bem como aos professores da Escola Primária Completa de Mbambala e aos pais e/ou encarregados de educação do bairro em referência por terem colaborado e facilitado nas minhas entrevistas com vista a adquirir as informações necessárias para o desenvolvimento da presente pesquisa. Aos meus amigos Rui Luís Tino Marcos, Manganhe José Joaquim, Zito Aquiles Júnior, Óscar Macangira, Anastácio da Rosalina Banquione, Mário Dinis Catianje, Erasto Jone Camasso, Joaquim Maúnja, Noia Cinquenta, Luisa Olande, Helton Ripiah, Armando Monforte, Conrado Liberato, Caetano Amir José, Eusébio Buanahaque, Duarte Culpa, Eliúde Companhia e aos demais, que me acompanharam e contribuíram de forma directa e indirecta na minha caminhada estudantil, vai o meu muito obrigado. Agradecimento especial vai para o meu amigo Jafar Amado pela disponibilização do transporte durante os dias que me dirigi ao Bairro de Assumane.

Resumo A presente pesquisa versa sobre O Papel da Família na Educação em Moçambique: Uma análise no Ensino Básico na Escola e bairro de Assumane (1992-2014). A pesquisa tem como objectivo Compreender o papel da família na educação, a partir do Ensino Básico na Escola e bairro de Assumane. Para a obtenção de dados foram usados os métodos de abordagem indutivo e o método de procedimento monográfico. A razão da escolha do método indutivo deveu-se ao facto de poder-se partir de realidades concretas e particulares da área eleita para entrevista e análises de caso para se conceber o geral, este método permitiu chegar à conclusões mais amplas acerca do papel da família na educação do ensino básico na escola e bairro de Assumane. As conclusões foram suportadas com dados extraídos das amostras (de pais e/ou encarregados de educação, de professores e estruturas do bairro de Assumane). Escolheu-se o método monográfico porque facilita a aquisição da informação necessária para o desenvolvimento do tema e do problema da pesquisa, tal como a compreensão das causas que estão por de trás do problema da pesquisa. Da pesquisa feita, se constatou que na comunidade de Assumane, o papel dos pais na educação a partir do ensino básico do não tem sido significativo, pois segundo os pais entrevistados, os seus filhos uma vez participado nas cerimónias dos ritos de iniciação, já consideram-se crescidos e prontos para a vida, sendo que o papel da família já não é necessário pois as antigas gerações já ensinam o suficiente para os seus filhos. Por outro lado, o papel da família na educação é pouco notório naquela zona porque estes passam maior tempo das suas vidas nas suas machambas, o que não facilita a sua intervenção como educadores. Constatou-se também que a intervenção dos pais tem-se verificado através do incentivo dos mesmos aos filhos no sentido de complementarem a aprendizagem adquirida durante os ritos de iniciação com a aprendizagem adquirida por meio da educação oficial. E quanto aos impactos dos preceitos da educação tradicional sobre a educação oficial dos alunos do ensino básico, verifica-se que o impacto é negativo. Palavras-chave: Papel da Família, Educação, ensino básico, ritos, Escola e bairro de Assumane.

Índice de Lista de Gráficos Gráficos Gráfico 1: Formas de participação da família na educação de alunos do ensino básico na escola de Assumane …………..……………………………...……………………………… 31 Gráfico 2: Amostra dos inquiridos no âmbito da questão ligada ao Impacto dos preceitos da educação tradicional sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico……………………. 34

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO A presente pesquisa tem como objecto de estudo O Papel da Família na Educação em Moçambique: Uma análise no Ensino Básico na Escola e bairro de Assumane (1992-2014). A pesquisa foi realizada na Escola e bairro de Assumane, Posto Administrativo de Massenger, no Município da Cidade de Lichinga. O bairro de Assumane surge como consequência da expansão territorial da extinta aldeia de Assumane, antigamente o bairro era reduzido a uma simples aldeia (a de assumane), mas devido a um processo de expansão promovido pelo segundo régulo de Assumane (já falecido), formou-se o então bairro de Assumane, isso na era colonial, tal expansão acontecera por volta do ano 1964. Ao longo da sua história, o bairro de Assumane teve três régulos, sendo que o terceiro ainda permanece vivo, o sr. Momade Saide. O bairro é também dirigido pelo secretário de nome Abudo Saide. O bairro de Assumane localiza-se no Posto Administrativo de Massenger, localidade urbana nº3 entre o rio Luguesse e a montanha de Mbambala, próximo ao rio Lussanhando, no Município da Cidade de Lichinga. De acordo com os resultados do Censo 2007, o bairro de Assumane conta com uma população estimada em 3490 habitantes, dos quais 1712 são do sexo Masculino, correspondentes à 49% e 1778 habitantes são do sexo feminino, correspondentes à 51%. A Escola Primária Completa de Mbambala está localizada no município da cidade de Lichinga, na localidade urbana número 3, Posto Administrativo de Massenger, no bairro nº07. A escola foi fundada na era colonial, precisamente em 1 de Janeiro de 1963 com a denominação de Escola Extra-Escolar de Assumane. Após a independência nacional esta sofreu uma mudança de nome, na altura da retribuição de nomes às cidades, vilas e instituições do estado que se operou no país, passando a denominar-se de Escola Primária de Mbambala, nome de uma colina que se localiza neste bairro, na margem direita do rio Luguesse. A EP1 de Mbambala iniciou o seu funcionamento com 30 alunos da classe préprimária com uma única instalação de pau a pique. O primeiro professor e representante da escola foi o sr. Francisco Ncanbenge. Actualmente a escola é dirigida por Angelina Justo e Marta Camoto.

Segundo a srª. Marta Camoto, a EP1 de Mbambala caracteriza-se pela crescente evolução da taxa da população escolar, segundo demonstram os dados estatísticos que de 30 alunos em 1963 subiu para 683 alunos actualmente, dos quais 400 alunos são do sexo masculino, correspondentes a 59% e 283 alunos são do sexo feminino, correspondentes à 41%. A escola funciona com doze (12) professores, sendo que dez (10) são do sexo feminino, correspondentes à 83% e dois (02) professores são do sexo masculino, correspondentes à 17%. A pesquisa visa compreender o Papel da Família na educação a partir do ensino básico no bairro de Assumane. A intervenção dos pais na educação dos filhos é indiscutivelmente essencial. Dar apoio e cuidados adequados ao filho como o acompanhamento e aconselhamentos é uma responsabilidade bastante exigente. No âmbito da aprendizagem do aluno, é sempre importante analisar também o contexto social pelo qual este mesmo aluno se encontra, e um desses quadrantes é, sem dúvidas, a família. A escolha do tema prende-se ao facto do autor desejar estudar o papel da família na educação a partir do ensino básico na escola e bairro de Assumane, uma vez que os valores da educação tradicional tem grande influência na educação e continuidade dos alunos na escola, daí a razão da escolha do tema como forma de explicar em que medida a família contribui na continuidade dos seus filhos na escola oficial. A relevância do trabalho reside no facto dos resultados poderem constituir mais um ponto de reflexão sobre o papel da família na educação em Moçambique, a partir do Ensino Básico na Escola e bairro de Assumane, também, a partir dos resultados alcançados pela pesquisa pensa-se que poderão contribuir para a identificação e diversificação das formas de participação dos pais na educação, também o estudo vai contribuir para perceber os impactos da participação da família na educação do ensino básico na escola e bairro de Assumane. As escolas oficiais são instituições responsáveis pela alfabetização e educação das crianças, jovens e adultos. Na realidade educativa moçambicana existe dois currículos que vigoram em simultâneo, principalmente nas zonas rurais onde a maioria da população moçambicana é residente. Os dois currículos são colocados em prática realizados, um pelas

escolas tradicionais (educação tradicional) e outro, pelas escolas oficiais (Programas de ensino básico do Sistema Nacional de Educação). Portanto, ao longo da sua vida cronológica e escolar, os alunos são confrontados com estes dois currículos educativos, nomeadamente currículo do ensino básico e o currículo da educação tradicional (dirigido um pela escola oficial e outro pelas autoridades tradicionais locais respectivamente). Porém, ambos currículos têm como sujeito de educação comum as crianças que naquele preciso momento são, ao mesmo tempo, alunos da escola primária oficial e iniciados da escola tradicional. Este grupo etário é o mesmo para o qual as comunidades tradicionais se reservam o direito de transmitir a sua experiência cultural e tradicional submetendo-o aos ritos de iniciação. Entretanto, na cidade de Lichinga e no bairro de Assumane em particular, práticas culturais como o Unhago1 (dentre elas o Djando2 e o Nsondo3) tem grande impacto na educação e continuidade dos alunos na escola, influenciando a educação oficial, visto que tais práticas fazem parte da educação tradicional da comunidade em referência. Portanto, a preocupação básica no presente estudo reside no facto de se pretender saber em que medida os pais dos alunos da comunidade de Assumane apoiam seus filhos na educação oficial tendo em conta os fundamentos da educação tradicional da sua cultura.

1.1. Objectivos 1.1.1. Objectivo Geral Compreender o papel da família na educação a partir do ensino básico na Escola e bairro de Assumane. 1.1.2. Objectivos específicos  Identificar o papel da família na educação na comunidade do bairro Assumane;

1

Designação dos Ritos de iniciação entre os povos Yao

2

Ritos de iniciação dos rapazes

3

Ritos de iniciação das raparigas

 Descrever as formas de participação da família na educação a partir do ensino básico na Escola e bairro de Assumane.  Identificar o impacto dos preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico.

1.2. Pergunta de partida Para facilitar a selecção da informação e responder aos objectivos da pesquisa se formularam as seguintes perguntas de partida básicas: a) Qual é o papel da família na educação a partir do ensino básico na Escola e bairro de Assumane? b) Quais são as formas de participação da família na educação de alunos a partir do ensino básico no bairro de Assumane? c) Qual é o impacto dos preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico?

1.3. Hipóteses 

O papel da família na educação na Escola e bairro de Assumane não tem sido significativo na comunidade de Assumane, os pais, estes confiam a educação tradicional o papel de educar os seus filhos;



As formas de desempenhar esse papel têm sido várias, desde o acompanhamento das tarefas e trabalhos escolares, o incentivo dos mesmos aos filhos no sentido de conciliar a aprendizagem adquirida nos ritos de iniciação com a aprendizagem adquirida por meio da educação oficial, no sentido de mostrar a importância da educação tradicional no seio da comunidade;



O impacto dos preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico é positivo, pois regista-se uma mudança de comportamento e atitude por parte dos alunos, uma vez que lá adquirem conhecimentos de forma a agir numa conduta aceitável no seio da comunidade em

geral, dando os primeiros passos da vida adulta a partir desta educação tradicional da comunidade.

CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA, TEORIA DE BASE E COLOCAÇÃO DE CONCEITOS

Pretende-se com este capítulo, arrolar abordagens de diferentes autores sobre o objecto de estudo, bem como a fundamentação da teoria de base e a operacionalização dos conceitos seleccionados para este estudo. Aqui estabelece-se uma relação do tema com a literatura consultada, sob forma de debate sobre o estágio actual da investigação em torno do Papel da Família na educação do ensino básico.

2.1. Revisão da literatura Alguns estudos (MARQUES4, 2002; SZYMANSKI5, 2003; POLONIA & DESSEN6, 2005; GASONATO7, 2007) enfatizam a necessidade de a escola se aproximar das famílias de seus alunos, buscando realizar um trabalho em parceria com elas. Essa aproximação pode permitir a quebra de preconceitos por parte da escola em relação às famílias e uma compreensão maior por parte das mesmas do papel da escola e da sua forma de trabalhar. Quando há essa aproximação, as consequências são bastante satisfatórias. Os pais sentem-se valorizados e tornam-se aliados dos professores, os quais, por sua vez, passam a executar formas de acompanhamento e auxílio sistemático aos alunos, permitindo que eles desenvolvam mais seu potencial. POLONIA & DESSEN (2005); MARQUES (2002) advertem que o acompanhamento da vida escolar dos filhos pelos pais, é um factor importante para a aprendizagem e para o sucesso académico de crianças e jovens. Mostram que, mesmo numa boa instituição escolar, com bons programas curriculares, a aprendizagem dos alunos só se evidencia quando estes têm a atenção e o acompanhamento dos pais. Posições anuídas por Rocha e Macedo (2002), 4

In O Envolvimento das famílias no processo educativo: resultados de um estudo de caso de cinco países

5

In A relação Família/Escola: desafios e perspectivas;

6

In Em Busca de uma compreensão das relações Família e Escola;

7

In O sentido das expectativas das famílias em relação à escola para a formação de seus filhos.

que destacam que o envolvimento dos pais nas escolas gera efeitos positivos nos pais e nos professores, nas escolas e na sociedade. Os pais que contribuem frequentemente com a escola permanecem mais motivados para se submergirem nos processos de actualização profissionais e assim, aperfeiçoam a sua auto-estima como pais. A família exerce o principal papel na modificação da conduta dos filhos no meio social. É nela que a criança adquire conhecimentos para se adaptar em diferentes meios, independentemente da cultura e das regras impostas, pois a família é responsável por educar os indivíduos para viver em sociedade, concluem os autores. Entretanto, GUZZO & TIZZEI8 (2007), numa passagem do seu trabalho Olhar sobre a criança: perspectiva de pais sobre o desenvolvimento. In: GUZZO R. S.L, et al. Desenvolvimento infantil: família, protecção e risco, afirmam que a família representa um ambiente extremamente importante para o desenvolvimento da criança, porque é o primeiro sistema em que o ser humano se insere na sociedade, por meio do qual começa a estabelecer seu vínculo com o mundo. Para eles, a participação dos pais no quotidiano escolar dos filhos é um factor determinante para o desempenho do aluno na escola, tornando a família a instituição importante no Processo de Ensino e Aprendizagem. BHERING & SIRAJ-BLATCHFORD9 (1999) acrescentam que a participação de pais na escola não só colabora com o processo escolar, como também na melhoria do ambiente familiar, provocando uma melhor compreensão do processo de crescimento e aprimoramento das reacções. Porém, importa destacar que a parceria entre familiares e as instituições de ensino seja a educação formal ou a técnica, é concretizada quando ambos estão unidos em um único objectivo, formar cidadãos conscientes da sociedade em que habitam, com valores éticos e morais e com uma perspectiva de um futuro promissor. A família pode participar de várias maneiras na vida educacional do estudante, como afirmam Freitas, Maimoni & Siqueira, (1994) e de Maimoni & Miranda, (1999), elas podem: acompanhar tarefas e trabalhos

8

GUZZO, R. S. L; TIZZEI, R. P. Olhar sobre a criança: perspectiva de pais sobre o desenvolvimento. In: GUZZO R. S.L, et al. Desenvolvimento infantil: família, proteção e risco. Campinas, SP: Alínea, 2007. 9

BHERING, E. e BLATCHFORD, I. A relação escola-pais: um modelo de trocas e colaboração. Cadernos de Pesquisa, v. 106, 1999.

escolares, verificar se o filho fez as actividades solicitadas pelo professor, estabelecer horário de estudo, informar-se sobre matérias e provas, entre outras. A participação da família, incentivada pela escola, permite ao aluno a integração ao ambiente escolar, possibilitando um melhor aproveitamento nos estudos académicos. Sendo assim a família e a escola são agências socializadoras que, apesar de distintas, buscam atingir objectivos complementares. Para BARTHOLO10 (2001) a parceria Família - Escola é fundamental para que ocorram os processos de aprendizagem e crescimento de todos os membros deste sistema, uma vez que a aprendizagem não está circunscrita há conteúdos escolares. A posição de Bartholo é anuída por SNOW et al11 (1991) que destacam que o modelo de participação dos pais como professores ou educadores implica que a influência das famílias sobre o desempenho dos filhos é mais efectiva quando os pais actuam como agentes educadores. Para estes autores, os pais estão activamente envolvidos na educação dos seus filhos, continuando e reforçando o processo de aprendizagem iniciado pelo professor na sala de aulas. Os mesmos relatam que o papel dos pais se verifica na supervisão dos seus filhos para completar a sua lição de casa, realizar actividades que fomentem a aquisição de habilidades de leitura e escrita. As posições de Snow et al., relacionam-se com as de KELLAGHAN et al (1993), onde os autores destacam que os pais podem ajudar os seus filhos a desenvolver habilidades de leitura-escrita através de interacções planificadas e podem reforçar a aprendizagem supervisionando as tarefas dos seus filhos. As interacções planificadas, de acordo com estes autores, são a base da maioria dos programas de educação dos pais e de acordo com Purvis (1984, p.40) em Parent Participation: A Review of the Literature, esses programas são traço comum de programas bem-sucedidos que envolvem os pais na educação dos seus filhos.

10

11

BARTHOLO, M. H. Relatos do Fazer Pedagógico. Rio de Janeiro: NOOS, 2001. Pp.23.

SNOW, C. at al. Unfulfilled Expectations: Home and School Influencies on Literacy. Cambridge: Harvard University Press, 1991. pp.70.

Em uma outra análise, MARTINIELLO12 (1999) na sua obra intitulada Participación de los Padres en la Educación: Hacia una Taxonomía para América Latina, refere que os programas de participação da família devem formar parte de um repertório de políticas educativas dirigidas a elevar a qualidade de ensino. Essas políticas, defende a autora, devem incluir componentes de formação de pais e professores para a participação da família na educação com reformas curriculares que proporcionem incentivos para elevar o rendimento. Em contra partida, ROGOFF13 (1993) em sua obra Aprendices del Pensamiento, afirma que a família tem o papel de acolher a criança e promover individualização e pertencimento. No convívio diário, nas conversas, na forma de proceder diante das rotinas do dia-a-dia é que a criança compreende os mitos, as crenças, os ritos de sua família, assim como a forma deles de viver e conviver. Essas crianças afirmam os seus dotes de observação, aprendem a fixar-se nas coisas e, muitas vezes, alcançam autonomia na realização de determinadas tarefas valorizadas na família, utilizando, basicamente, estratégias de observação. A família tem um papel imprescindível na vida de seus filhos; é onde acontece o desenvolvimento das primeiras habilidades, os primeiros ensinamentos através da educação doméstica na qual o filho aprende a respeitar os outros, a conviver com regras que foram criadas e reformuladas no decorrer da formação da sociedade. E a escola, ela vem para reforçar esses valores primeiros, acrescentando, mas não assumindo para si o papel inicial da família. Dessa forma, TIBA14 (1996) refere que teoricamente, a família teria a responsabilidade pela formação do indivíduo, e a escola, por sua informação. A escola nunca deveria tomar o lugar dos pais na educação, pois os filhos são para sempre filhos e os alunos ficam apenas algum tempo vinculados às instituições de ensino que frequentam,”. Dando prosseguimento ao posicionamento de Tiba, Kaloustian (citado por PEREIRA15 (2008) afirma que a família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da

12

MARTINIELLO, María. Participación de los Padres en la Educación: Hacia una Taxonomia para América Latina. Harvard University, 1999. pp.35. 13

ROGOFF, Bárbara. Aprendices del pensamiento. Barcelona: Paidós, 1993. Pp.158-160.

14

TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. 1ª Edição. São Paulo: Editora Gente, 1996. Pp.111

15

PEREIRA, M. A relação entre pais e professores: uma construção de proximidade para uma escola de sucesso. Universidade de Málaga, 2008.

protecção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. Para ele, é a família que propícia os aportes afectivos e sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais. Neste sentido, a melhor colaboração entre a família e a escola é precisamente o veicular à criança confiança acerca da escolarização e ocorrências escolares, suportando e apoiando os anseios da criança e guardando para local próprio reacções relativas à própria escola, conclui o autor. Em consonância a esse posicionamento, MARQUES (2001), refere que as razões que justificam o envolvimento dos pais no apoio ao processo educativo, são que em primeiro lugar nota-se uma melhoria nos resultados escolares sempre que os pais apoiam os filhos em casa. Em segundo lugar, os pais passam a compreender e a valorizar melhor os professores; os pais e os professores aprendem a apoiar-se mutuamente na tarefa comum que é a educação dos alunos; por último e em quarto lugar, os pais aprendem a comunicar melhor com os filhos e a valorizar, ainda mais, o seu esforço e todo o seu trabalho. Por conseguinte, HENDERSON & BERLA16 (1995), na sua obra The Family is Critical to Student Achievement, referem que os benefícios da participação da família na educação dos filhos podem não compensar a falta de qualidade da educação. Portanto, A participação dos pais deve ser uma das estratégias a incluir-se nos programas compreensivos da reforma educacional. Não se pode esperar que a implementação de um programa de participação de pais por si só compense as deficiências do sistema educativo, referem os autores.

2.2. Teoria de base 2.2.1. Teoria não-crítica da Escola Nova Os princípios da Participação da família na educação aparecem plasmados na Teoria não-crítica da Escola Nova. Segundo MARTINS17 (2008), o movimento da Escola Nova 16

HENDERSON, A. T. & BERLA, N., Eds. The Family is Critical to Student Achievement. 2nd printing. Washington, DC: Center for Law and Education, 1995. Pp.13 17 MARTINS, Pura Lúcia Oliver. Didática. Curitiba: Ibpex, 2008. Pp.39.

fundamenta-se numa visão existencialista, centrada na vida, na actividade. Considera a natureza humana mutável, determinada pela existência. O homem é um sistema aberto, em evolução contínua; desenvolve-se em etapas, buscando um estágio final nunca alcançado; a educação é tida como condição para o desenvolvimento natural do homem, e a escola caracteriza-se como um laboratório de vivência democrática. A abordagem do processo didáctico nessa perspectiva desloca a ênfase da transmissão do conteúdo para a redescoberta do conhecimento, e a questão central passa a ser aprender o método de aprender, é o método de solução de problemas, que percorre o caminho: actividade, problema, colecta de dados, hipótese, experimentação. Entretanto, para SAVIANI18 (s/d), esta teoria mantinha a crença no poder da escola e em sua função de equalização social. Portanto, as esperanças de que se pudesse corrigir a distorção expressa no fenómeno da marginalidade, através da escola, ficaram de pé. Se a escola não vinha cumprindo essa função, tal facto se devia a que o tipo de escola implantado a escola tradicional se revelara inadequado. Para ele, A pedagogia nova começa, pois, por efectuar a crítica da pedagogia tradicional, esboçando uma nova maneira de interpretar a educação e ensaiando implantá-la, primeiro através de experiências restritas; depois, advogando sua generalização no âmbito dos sistemas escolares. Trata-se de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender. Na Pedagogia Nova a iniciativa desloca-se para o aluno, situando-se o nervo da acção educativa na relação professor-aluno, portanto, relação interpessoal, intersubjectiva, conclui o autor. Para a presente pesquisa, a teoria não-crítica da Escola Nova é que melhor conduziu o estudo, porque esta teoria esboça uma nova maneira de interpretar a educação, valoriza a integração dos diversos intervenientes da aprendizagem, apresenta novas práticas educativas no sentido de se procurar uma transfiguração na educação, mostra um desenvolvimento diferente na forma de ensinar e educar, através do método de solução de problemas e de acordo com os objectivos traçados neste trabalho, acabaram se relacionando com as linhas de abordagem desta teoria, daí a razão da escolha desta teoria de base para nortear a pesquisa.

18

SAVIANI, Dermeval. ESCOLA E DEMOCRACIA: Teorias da educação, Curvatura da vara, Onze teses sobre educação e política. Brasil, Editora Autores 4ª edição. Pp.08

2.3. Colocação de conceitos LA ROSA19 (2002) define Educação como actividade mediadora no seio da prática social, global, ou seja, uma das mediações pela qual o aluno, pela intervenção do professor e por sua própria participação activa, passa de uma experiência inicialmente confusa e fragmentada a uma visão mais organizada e unificada. Em contra partida, LIBÂNEO20 (1990), enuncia que Educação no sentido amplo, compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples facto de existirem socialmente, neste sentido, a prática educativa existe numa grande variedade de instituições e actividades sociais decorrentes da organização económica, política e legal de uma sociedade, da religião, dos costumes, das formas de convivência humana. Porém, PORTO21 (1987) define educação como um processo social que se enquadra numa concepção particular de mundo, a qual, por sua vez, determina os fins a serem atingidos pelo acto educativo e esses fins reflectem o espírito da época e as ideias colectivas dominantes; daí ser possível repetir como Durkheim que não é possível uma educação ideal, perfeita, homogénea e adequada a todos os homens em todos os tempos, porque esta só pode ser definida tendo em vista uma situação concreta de uma sociedade historicamente determinada. Quanto a educação, a presente pesquisa apoiou-se no posicionamento de LIBÂNEO em detrimento de LA ROSA & PORTO porque acaba englobando na sua definição todos os processos formativos, realçando que a educação não ocorre somente na escola, mas numa grande variedade de instituições das formas de convivência humana. GUEDES22 (1978) afirma que Professor – considera-se como o mediador, ajudando o aluno a concretizar um desenvolvimento que não atinge sozinho, sendo condutor do Processo de Ensino e Aprendizagem, realizando intervenções Pedagógicas que fazem com que os conceitos 19

LA ROSA, Jorge de (Org.). Psicologia e educação: o significado do aprender. 5ª Ed, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2002. 20

LIBÂNEO, José Carlos. Didáctica. Cortez editora, Brasil, 1990. Pp.15.

21

PORTO, Maria do Rosário Silveira. Função Social da Escola In: FISCHMANN, R.(org.). Escola Brasileira: temas e estudos. São Paulo: Atlas, 1987. 22

GUEDES, Maria Jose. Meios de Ensino. São Paulo, Editora Loyola, 1978. Pp.60.

espontâneos desenvolvidos pelos alunos na convivência social, evoluam para o nível dos conceitos científicos. Desta forma, o trabalho docente consiste numa actividade mediadora entre o individual e o social, entre o aluno e a cultura social e historicamente acumulada, sendo aquele um ser concreto e histórico, síntese de múltiplas determinações, produto das condições culturais e sociais. GUEDES (1978) refere que o termo Escola deriva do latim schola e refere-se aos estabelecimentos onde se da qualquer género de instrução. Também permite fazer alusão ao ensino que se dá ou que se recebe, ao conjunto do corpo docente e discente de um mesmo estabelecimento escolar, ao método, ao estilo peculiar de cada professor/docente para ensinar, a doutrina, aos princípios e ao sistema de um autor. Hoje em dia as escolas dividem-se entre públicas e privada, mas todas com objectivos e fins iguais. Para LIBÂNEO23 (1990), Ensino corresponde a acções, meios e condições para realização da instrução, contém, pois a instrução. Ligando com a posição de Libâneo, LA ROSA (2002) refere que ensino considera-se como uma forma sistemática de transmissão de conhecimentos utilizados pelos humanos para instruir e educar seus semelhantes, geralmente em locais conhecidos como escola. No que tange ao ensino, a pesquisa apoia-se na definição de LA ROSA porque traz uma abordagem bem contextualizada, num sentido mais amplo e caracterizado, em detrimento de LIBANEO, que apresenta-nos aqui o conceito Ensino como face da mesma moeda com a instrução, sem no entanto, fundamentar as bases. Segundo LIBÂNEO24 (1990), a Aprendizagem é a assimilação activa de conhecimentos, habilidades, normas mentais, para compreendê-los e aplicá-los consciente e autonomamente com a finalidade específica de aprender determinados conhecimentos, habilidades, normas de convivência social. Porém, GONÇALVES (2001) anuindo o posicionamento de Libâneo complementa que a Aprendizagem – é o processo pelo qual as competências, habilidades,

23

LIBANEO (1990, p.28).

24

LIBANEO (1990, p.91).

conhecimentos, comportamentos ou valores são adquiridos ou modificados, como resultado de um estudo, experiência, formação, raciocínio e observação. Quanto a definição de Aprendizagem, a pesquisa apoia-se nas duas posições, uma vez que, quanto as objectividades e finalidades, apresentam pontos similares na definição do conceito aprendizagem. Battaglia apud NOBRE25 (1987) conceitua a família dizendo que a família pode também ser considerada como um sistema aberto em permanente interacção com seu meio ambiente interno e/ou externo, organizado de maneira estável, não rígida, em função de suas necessidades básicas e de um modus peculiar e compartilhado de ler e ordenar a realidade, construindo uma história e tecendo um conjunto de códigos (normas de convivências, regras ou acordos relacionais, crenças ou mitos familiares) que lhe dão singularidade. Mas Para DIOGO26 (1998) A família é o espaço educativo por excelência, é vulgarmente considerada o núcleo central do desenvolvimento moral, cognitivo e afectivo, no qual se criam e educam as crianças, ao proporcionar os contextos educativos indispensáveis para cimentar a tarefa de construção de uma existência própria. Ainda de acordo com o autor, a família é também o espaço histórico e simbólico do qual se desenvolve a divisão do trabalho, dos espaços, das competências, dos valores, dos destinos pessoais de homens e mulheres. A família revela-se, portanto, um espaço privilegiado de construção social da realidade em que, através das relações entre os seus membros, os factos do quotidiano individual recebem o seu significado, conclui o autor. Entretanto, de acordo com PEREIRA27 (2008) a Família é considerada a instituição social básica a partir da qual todas as outras se desenvolvem, a mais antiga e com um carácter universal, pois aparece em todas as sociedades, embora as formas de vida familiar variem de sociedade para sociedade. A Organização das Nações Unidas (ONU) em 1984, refere a

25

NOBRE, L. F. Terapia familiar: uma visão sistémica. In. Py, L A.et all. Grupo sobre grupo. Rio de Janeiro. Rocco, 1987. Pp.118-119. 26 DIOGO, J. Parceria escola - família: A caminho de uma educação participada. Porto: Porto Editora, 1998. Pp.37. 27

(PERREIRA, 2008, pp.43).

Família como o elemento de base da sociedade e o meio natural para o crescimento e o bemestar de todos os seus membros. Papel da família De acordo com BLANCO & UMAYAHARA28 (2004) o papel da família é entendido como a capacidade de influenciar, decidir, de opinar, contribuir, de discordar e de actuar em diversos campos da educação, acordados previamente e de comum acordo entre professores, pais e outros agentes educativos com funções definidas e compreendidas por ambos.

Educação familiar Para BLANCO & UMAYAHARA29 (2004) educação familiar são os processos educativos intencionais dirigidos pelos adultos com propósitos de aprendizagem, que podem referir-se a diversos âmbitos (educação, saúde, trabalho) desenvolvido pela instituição de ensino, com ou sem a opinião dos pais através de uma diversidade de recursos de ensino, desde as reuniões clássicas até a participação em actividades educativas.

Comunidade WEBER30 (1973) chama de comunidade uma relação social quando a atitude na acção social no caso particular, em termo médio ou no tipo puro inspira-se no sentimento subjectivo (afectivo ou tradicional) dos participes da constituição de um todo. Para o autor, a maioria das relações sociais participa em parte da comunidade e em parte da sociedade. Weber refere que na comunidade os fins são racionalmente sustentados por grande parte de seus participantes, o sentido contrapõe-se à ideia de “luta”, participação comum em determinadas qualidades, da situação ou da conduta, situação homogénea, sentimento da situação comum e de suas

28

BLANCO, Rosa e UMAYAHARA Mami. Participación de Las Familias en la educación infantil Latinoamericana. Santiago, Chile, 2004. Pp.28. 29

30

(BLANCO & UMAYAHARA, 2004, p.29).

WEBER, M. Comunidade e sociedade como estruturas de socialização. In: FERNANDES, Florestan. (org.). Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, 1973. Pp.140.

consequências, mesma linguagem. Em contra-partida, BAUMAN31 (2003), enuncia que a palavra comunidade evoca sensações de solidariedade, vida em comum, independentemente de época ou de região. Hoje em dia seria o lugar ideal onde se almejaria viver, um esconderijo dos perigos da sociedade moderna, conclui o autor. Contudo, TONNIES32 (1973), além de trabalhar com as contraposições entre Comunidade e sociedade, apoia-se nas relações entre mãe e filho, entre esposos e entre irmãos e irmãs que se reconhecem filhos da mesma mãe para explicar um tipo de comunidade. A existência de processos comunitários estaria ligada, em primeiro lugar, aos laços de sangue, em segundo lugar à aproximação espacial, e em terceiro lugar à aproximação espiritual. O autor ainda relaciona comunidade a uma vontade comum, à compreensão, ao direito natural, à língua e à concórdia: aonde quer que os seres humanos estejam ligados de forma orgânica pela vontade e se afirmem reciprocamente, encontra-se alguma espécie de comunidade, ou seja, a vida em comunidade baseia-se em relações sociais, conclui o autor.

Educação tradicional Not apud CORREIA33 (1988) considera que a educação tradicional é o processo de transmissão da tradição activa e utilização da tradição constituída, casos de obras constitutivas do património cultural. Posição reforçada por SNYDERS34 (1974) que argumenta que a educação tradicional significa a transmissão de conhecimentos, podendo falar-se de tradição activa, em oposição à construção do saber pelo aluno onde é usada a tradição constituída (obras constitutivas do património cultural) em oposição ao recurso aos materiais do mundo moderno.

31

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo actual. Rio de Janeiro: Jorge Zajar Ed., 2003. Pp.07. 32 TONNIES, Ferdinand. Comunidade e sociedade como entidades típico-ideais. In: FERNANDES, Florestan. (org.). Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo: Editora Nacional e Editora da USP, 1973. Pp.104. CORREIA, Jorge, A. M. A Antinomia Educação Tradicional – Educação Nova: Uma proposta de superação. 1986. 33

34

SNYDERS, Georges. Pedagogia Progressista. Coimbra, Livraria Almedina, 1974.

Mizukami apud CORREIA (1986) argumenta que a educação tradicional está presente, implícita ou explicitamente, de forma articulada ou não, um referencial teórico que compreende os conceitos de Homem, mundo, sociedade-cultura, conhecimento, educação, entre outros. No capítulo seguinte apresenta-se o conjunto de procedimentos intelectuais, assim como as técnicas usadas para alcançar os objectivos traçados.

CAPÍTULO III: METODOLOGIA Pretende-se com este capítulo apresentar a metodologia de investigação usada durante a pesquisa, onde, de forma separada, estão identificados detalhadamente os métodos (de abordagem e de procedimento) usados na recolha e processamento de dados. Neste capítulo deu-se destaque aos autores de técnicas específicas. Ainda no desenvolvimento deste capítulo estão apresentadas as técnicas, ou seja, a instrumentação, que auxiliaram os métodos acima referenciados, na aquisição da informação necessária para o desenvolvimento da pesquisa.

3.1. Tipo de Pesquisa A pesquisa, quanto ao tipo, é qualitativa do estilo exploratória. As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. De acordo com GIL35 (2006), as pesquisas exploratórias habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objectivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado facto. Significa que estamos perante uma pesquisa centrada na compreensão do fenómeno em estudo, de forma subjectiva, sem controlo sobre o objecto de estudo, obtendo dados próximo dos agentes da pesquisa, procurando a descoberta e exploração do objecto de estudo a partir da realidade destes, ou seja, o conhecimento surge de dentro para fora. Apenas uma investigação qualitativa permitirá a obtenção das opiniões e perspectivas sobre O Papel da Família na Educação, uma análise a partir do Ensino Básico na Escola e bairro de Assumane. A pesquisa qualitativa tem como objectivo principal interpretar o fenómeno que observa, sendo que os seus principais objectivos são: a observação, a descrição, a compreensão e o seu significado. Para BOGDAN & BIKLEN36 (1994) a análise de dados é: O 35

36

GIL, António. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo, Altas, 2006. Pp.27.

BOGDAN, B. & BIKLEN, S. (1994). Investigação qualitativa em educação: Uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. Pp.205.

processo de busca e de organização sistemático de transcrições de entrevistas, de notas de campo e outros materiais que foram sendo acumulados, com o objectivo de aumentar a sua própria compreensão desses materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou. Trata-se de pesquisa qualitativa porque a finalidade deste estudo passa pelo desenvolvimento, esclarecimento e modificação de conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.

3.2. Método de abordagem indutivo O método de abordagem que norteou a presente pesquisa é o método indutivo. “No raciocínio indutivo a generalização deriva de observações de casos da realidade concreta. As constatações particulares levam à elaboração de generalizações37” Por conseguinte, RICHARDSON38 et al. define indução como um processo pelo qual, partindo de dados ou observações particulares constatadas, podemos chegar à proposições gerais. Ainda sobre o método indutivo, tal como RICHARDSON et al., LAKATOS e MARCONI (apud SILVA e MENEZES, 2001:25) também destacam que o método indutivo parte de observações particulares para gerais e possibilita o desenvolvimento de enunciados gerais sobre as observações acumuladas de casos específicos ou proposições que possam ter validade universal. Os autores acima mencionados convergem na sua apresentação e discussão sobre o processo do método indutivo que na óptica dos autores em referência, pode apresentar premissas verdadeiras e conclusões falsas. O método indutivo foi o mais adequado para esta pesquisa porque este leva em conta observações específicas e tira conclusões gerais a partir delas. Este método permitiu chegar à conclusões mais amplas acerca do Papel da Família na educação a partir do ensino básico na Escola e bairro de Assumane, a partir do estudo realizado de um grupo alvo pré-seleccionado e de acordo com GIL39 (2006), o método indutivo serviu para que os estudiosos da sociedade

37

GIL, (1999); LAKATOS e MARCONI, 1993 (apud SILVA, e MENEZES, 2001:25).

38

RICHARDSON. J. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3a Edição, São Paulo, Editora Atlas, 1999.

39

(GIL, 2006, p.11).

abandonassem a postura especulativa e se inclinassem a adoptar a observação como procedimento indispensável para atingir o conhecimento científico. As conclusões foram suportadas com dados extraídos das amostras (Famílias de alunos estudantes e residentes na Escola e bairro de Assumane bem como dos líderes comunitários locais).

3.3. Método de procedimento 3.3.1. Método monográfico Quanto ao método de procedimento, usou-se o método de procedimento monográfico. Segundo GIL40 (2006), O método monográfico parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos semelhantes. Esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades etc. MARCONI e LAKATOS41 (2003) defendem que o método monográfico consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido, observando todos os factores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos. Escolheu-se esse método de procedimento porque melhor facilita a aquisição da informação necessária para o desenvolvimento do tema e do problema da pesquisa, pois estamos diante dum estudo de caso e este método permitiu ao pesquisador manter um contacto com a área de estudo através da observação de determinadas componentes da pesquisa.

3.4. Técnicas de Pesquisa No concernente às técnicas houve preferência pelo ecletismo. Assim, para tornar possível uma recolha de dados eficiente e consubstancial para esta temática, foram eleitas a pesquisa documental de fontes secundárias e terciárias, documentos de arquivo (como relatório, documentos estatísticos); a entrevista estruturada e semi-estruturada. O objectivo que se teve com o ecletismo de técnicas foi de permitir que se obtenha informações de ângulos de

40

41

(GIL, 2006, p.18).

MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5ª Edição, editora: Atlas, São Paulo, 2003.

abordagens diversificadas. As entrevistas serviram, principalmente, para compreender o papel da família na educação do ensino básico na Escola Primária de Assumane. Assim, usou-se as seguintes técnicas: pesquisa documental e entrevista. 3.3.1. Pesquisa documental QUIVY42 et al., (1992), sustenta que a pesquisa documental inicia-se com algumas leituras exploratórias, que permitem uma primeira abordagem às temáticas e perceber o que já foi escrito sobre o tema para, assim, perceber a pertinência do nosso contributo. FONSECA43 (2002), argumenta que a pesquisa documental é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos, páginas de Web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objectivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta. A escolha desta técnica foi devido a importância desta para subsidiar a técnica da entrevista, uma vez colhidas as informações por meio da entrevista, houve a necessidade de se fazer uma confrontação com aquilo que já foi escrito sobre o que se está a estudar para se tirar outras conclusões de ângulos distintos.

3.4.2. Entrevista QUIVY (1992) defende que o que distingue a entrevista dos outros métodos é a aplicação de processos de comunicação específicos e de interacção humana, permitindo retirar desta técnica de recolha de dados informações bastante ricas. Goode e Hatt citados por LAKATOS e MARCONI (2003) fundamentam que a entrevista consiste no desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e validade de certo acto social como a conversação. Trata-se, pois, de uma conversação efectuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistado, verbalmente, a informação necessária. 42

QUIVY, R. et al. Manual de investigação em ciências sociais. Lisboa: Gradiva, 1992.

43

FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de História. Campinas, SP: Papirus, 2002.

Foi uma entrevista informal. GIL44 (2006) fundamenta que a entrevista informal é recomendada nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou então oferecer visão aproximativa do problema pesquisado. Nos estudos desse tipo, com frequência, recorre-se a entrevistas informais com informantes-chaves, que podem ser especialistas no tema em estudo, líderes formais ou informais, personalidades destacadas. A escolha deste tipo de entrevista recai no método acima referido e nos conceitoschave da investigação. Contudo, foi necessário que existisse liberdade de resposta, uma vez que se trata de dimensões que exigem um elevado grau de profundidade. Optou-se por esta técnica porque proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária para a pesquisa que se pretende realizar, a narração é feita face a face.

No capítulo seguinte são apresentados os resultados da pesquisa, é feita a análise dos mesmos bem como a sua interpretação. O objectivo é de analisar as informações colhidas no campo e confrontar com as hipóteses para depois tirar as conclusões em relação ao Papel da família na educação do ensino básico na Escola e Bairro de Assumane.

44

(GIL, 2006, pp.112).

CAPÍTULO IV: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Pretende-se com este capítulo apresentar os resultados da pesquisa, de forma sucinta, nesse capítulo também são discutidos e interpretados os dados da pesquisa com o objectivo de se fazer uma análise dos resultados e se fazer sua comparação com o que já é conhecido e posterior avaliação quanto ao seu significado. Aqui, para além de se estabelecer uma comparação ou se asseverar a veracidade dos resultados, procurou-se elucidar o leitor sobre determinados aspectos em discussão na pesquisa.

a) Qual é o papel da família na educação a partir do ensino básico na escola e na Comunidade do Bairro Assumane? Tradicionalmente, a família tem sido apontada como parte fundamental do sucesso ou fracasso escolar. A busca de uma harmonia entre família e escola deve fazer parte de qualquer trabalho educativo que tem como foco a formação de um indivíduo autónomo. Essa harmonia entre escola e família baseia-se na divisão do trabalho de educação de crianças, jovens e adultos, envolvendo expectativas recíprocas. Em resposta a esta questão, foi realizada uma pesquisa por meio da entrevista com pais e encarregados de educação, cujos filhos fazem parte da Escola e bairro de Assumane. Para esta pergunta, houve uma miscelânea naquilo que é a amostra, sendo assim, foram entrevistados alguns professores e pais ou encarregados de educação. De referir que para o grupo de professores entrevistados respeitou-se às liberdades individuais em relação aos nomes, tanto que o que importava de facto era o assunto e não as pessoas como tais. Sobre o papel da família na educação a partir do ensino básico no bairro e Escola de Assumane, o Professor A45 frisou o seguinte:

45

(Para o grupo de professores entrevistados respeitou-se as liberdades individuais em relação aos nomes).

“O papel da família é fundamental, porque a educação começa em casa, a base que o aluno leva da família é o que ele vai se dedicar lá fora, a escola é só um vínculo e também um meio para que ele possa se instruir e procurar se instruir, adquirir aprendizado para competir com o mundo aqui fora. Agora não se pode negar que a base de tudo é a família46”.

Ainda sobre a mesma questão, o senhor Yassine Cássimo (pai e encarregado de educação) teceu os seguintes depoimentos: “O meu papel é o de acompanhar cada passo, cada trabalho do meu filho, é sempre estar ali presente sempre que posso, porque nem sempre eu tenho tempo para isso porque eu e minha mulher temos uma machamba por cuidar e esta machamba está muito longe, as vezes ficamos muito tempo fora da comunidade e assim é difícil acompanhar a educação dos nossos filhos, mas como ele já aprendeu muita coisa no unhago eu acredito que ele não tem muitos problemas na escola e quando tem problemas sabe resolver sozinho porque já é adulto por isso eu não me preocupo tanto com isso47”.

Sem distanciar-se do posicionamento do sr. Yassine, em resposta a esta questão, o também pai e encarregado de educação, sr. Cássimo Anussa destacou que: “O meu papel como pai é cuidar do meu filho e lhe dizer para ir na escola todos dias e voltar para fazer os trabalhos aqui em casa quando nós vamos pra machamba. Mas ele nunca deve abandonar a escola, porque apesar dele ir no unhago e aprender muitas coisas da vida (como ser adulto), eu tenho que lhe acompanhar e lhe explicar que tem que ir a escola estudar para ser alguém na vida e não ser um camponês, sem escola como hoje é o pai dele aqui

46

47

(Professor A, 2015, cp). (Cássimo, 2015, cp.).

e também lhe fazer ver que se o governo fez essa escola aqui no bairro de Assumane é porque é importante para os nossos filhos48”. Fazendo uma análise em torno dos depoimentos prestados por esses três (03) entrevistados (dentre eles pais e encarregados de educação e um professor), verifica-se que os pais não cumprem na íntegra o seu papel como educador, sendo que cada um deles apresenta as suas motivações, uma parte alega que por questões de tempo não o fazem porque muito tempo têm passado nas suas machambas, e os outros atiram a responsabilidade a educação tradicional, pois para esse grupo de pais, o simples facto do seu filho ter passado pelos ritos de iniciação, constitui preocupação a menos para si como pai, pois para esse, seu filho já está ligeiramente preparado para resolver os seus próprios problemas e para esses mesmos pais, os ritos de iniciação abrem uma nova página no seio do modo de vida na comunidade, onde é o filho quem passa a ajudar os seus pais e não o contrário.

48

(Anussa, 2015, cp.).

b) Quais são as Formas de Participação da Família na Educação a partir do Ensino Básico na Escola e Bairro de Assumane?

Com vista a se dar respostas a pergunta inerente as formas de participação da Família na educação a partir do ensino básico na escola e bairro de Assumane, organizou-se um roteiro de perguntas dirigidas aos pais e encarregados de educação com vista a se ter pareceres distintos acerca da questão em estudo, tendo as respostas apresentadas no gráfico 1.

Gráfico 1: Formas de participação da família na educação de alunos a partir do ensino básico na escola de Assumane

35

33,3%

33,3%

33,3%

30 25 20 15 10 5 0 Incentivo os meus filhos Encorajo a conciliarem Dou conselhos no a estudarem mais, as duas aprendizagens sentido de obedecerem apesar deles terem porque todas sao e respeitarem os seus passado pelo Unhago importantes professores e colegas

Fonte: Autor (2015)

Em resposta a esta questão referente as formas de participação da família na educação a partir do ensino básico na Escola e Bairro de Assumane, o sr. Bonomar Jemusse (Pai e encarregado de educação) frisou o seguinte: “Eu incentivo a ele a estudar para ter uma boa educação para amanha ele ter um futuro na vida dele porque a escola é muito importante, ele já aprendeu como ser um homem quando estava no unhago, agora deve estudar para ser alguém na vida e eu costumo a lhe moralizar para conseguir isso49”.

Ainda para responder esta questão, o sr. Ndala Carlos referiu o seguinte: “Bom, eu como pai tento lhes fazer ver que o que aprendem na escola é importante sim, mas também não podem se esquecer das coisas que aprendem durante o unhago porque também são coisas muito importantes, aquilo é nossa cultura, é nossa tradição e isso não pode ser esquecido nunca, porque aquilo faz parte de nós, e eu como pai tenho a tarefa de lhes explicar isso e acho que é isso que eles devem sempre levar na cabeça, estes dois ensinamentos, da escola e da comunidade50”.

Dando prosseguimento as respostas a questão acima descrita, a srª Maria Joana (encarregada de educação) deixou os seguintes depoimentos: “Eu dou conselhos aos meus filhos para respeitarem e obedecerem os seus professores porque eu sei que eles querem o seu bem, eu faço-lhes ver que eles são crescidos e que está na hora de seguirem um bom caminho a partir das coisas que foram ensinados com os mais velhos aqui na comunidade durante a circuncisão para que eles se comportem bem lá na escola51”.

49

(Jemusse, 2015, cp.).

50

(Carlos, 2015, cp.).

51

(Joana, 2015, cp.).

Os posicionamentos acima descritos, mostram ângulos diferentes mas com objectivos comuns, no que tange as formas de participação dos pais na educação a partir do ensino básico na comunidade de Assumane. Nota-se aqui uma grande valorização dos dois currículos (o da educação tradicional e o da educação oficial), entretanto, é de referir que a escolha pela educação tradicional ainda é muito visível, alguns pais tentam incutir nos seus educandos a necessidade de focarem-se na escola como única via para se dar bem na vida. Porém, há pais que ainda preferem que os seus filhos valorizem a educação tradicional e depois a educação oficial, com isso, tais pais ao exercer seu papel de pais na educação dos seus filhos, olham mais para a questão da educação tradicional em primeira instância e de seguida conciliam com a educação oficial. Nota importante é a questão das formas de participação, todos eles pautam por uma intervenção (quando dispõem de tempo, pois vários deles, se não todos, são camponeses e passam maior parte do tempo nas suas respectivas machambas), mas tal intervenção não se destaca tanto, porque alguns dos pais tem a noção de que só pelo simples facto de os filhos passarem pela educação tradicional (baseada nos ritos de iniciação), estão naturalmente preparados para resolver os seus problemas sem a intervenção dos seus pais (alias, para estes, os seus filhos não oferecem grandes problemas na comunidade e na escola porque já são adultos) daí que falar do papel dos pais na comunidade de Assumane, sobretudo na vertente da educação do ensino básico dos filhos parece ser meio complicado porque dificilmente se verifica.

c) Qual é o impacto dos preceitos da educação tradicional da comunidade de assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico?

Tal como nas outras duas questões anteriormente apresentadas, foi elaborado um guião de entrevistas com vista a se colher depoimentos distintos acerca do impacto dos fundamentos/preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico. De referir que para esta questão, houve respostas dadas por vários quadrantes da pesquisa, como pais e encarregados de educação, professores da Escola Primária Completa de Assumane, o secretário do bairro e um outro líder comunitário. Portanto, foram entrevistadas oito (08) pessoas, das quais, três (03) pais e encarregados de educação, correspondentes à 38%; três (03) professores, correspondentes à 38%; um (01) secretário do bairro, correspondente à 12% e um (01) líder comunitário, correspondente à 12%. (conforme ilustra o gráfico 2). De referir que tal como na pergunta anterior, para o grupo de professores entrevistados respeitou-se as liberdades individuais em relação aos nomes, tanto que o que importava de facto era o assunto e não as pessoas como tais.

Gráfico 2: Amostra dos inquiridos no âmbito da questão ligada ao Impacto dos preceitos da educação tradicional sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico Impacto dos preceitos da educação tradicional sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico Pais e encarregados de educação

12% 38%

12%

Professores Secretário do bairro

38%

Fonte: O autor (2015)

Líder comunitário

Para começar a responder essa questão, o sr. Juma Cássimo (pai e encarregado de educação) disse o seguinte: “Eu penso que isso ajuda muito as nossas crianças lá na escola, porque para mim, esse sistema nacional de educação implementado pelo governo apresenta muitos problemas educativos e na formação porque ele apenas cumpre o seu papel de ensinar a ler e escrever mas não forma um homem de família e nem educa como fazem os homens da nossa geração nos tempos da circuncisão, o que provoca um descontentamento nos pais que bem queremos ver nossos filhos com uma educação bem produtiva, e penso que os dois tipos de educação devem ser ensinados conjuntamente52”.

O posicionamento do sr. Juma parece estar em consonância com o parecer do sr. João Bernabé, porém este afirma que: “Por mim meus filhos tinham que frequentar menos a escola e mais o unhago, não produzi tanto na minha machamba porque os meus filhos não podem me ajudar na produção pois eles tinham que ir a escola porque caso eles faltem quem irá responder nas autoridades do bairro sou eu e eu não quero entrar em choques com o governo, nós os pais ensinamos uma coisa e eles vão aprender novas coisas na escola, não sei se é bom ou mau, mas quando eles vão a escola se esquecem das tarefas de casa e isso não está certo, a escola recebe nossos filhos já preparados e saem na vantagem, e eu acho que a escola também tinha que nos ajudar a dar continuidade a tudo que nossos filhos aprendem durante a circuncisão53”.

Dando continuidade a resposta a essa pergunta, a srª. Anita Bernardo (mãe e encarregada de educação) distancia-se um pouco dos posicionamentos dos senhores Juma e João, ao afirmar que:

52

(Cássimo, 2015, cp.).

53

(Bernabé, 2015, cp.).

“Para mim, por mais que a educação oficial como vocês chamam, seja importante e traga um impacto positivo, eu penso que tudo começa com a educação tradicional, daí que saem bons alunos na escola oficial porque vão para lá sabendo o que querem nas suas vidas. Eu por exemplo, perdi o meu marido há alguns anos e tive que me arranjar para poder dar educação verdadeira para os meus filhos e lhes mandei aos ritos de iniciação, era o único jeito. Sem isso eles seriam desprezados pela sociedade adulta e eles não estariam preparados para essa vida. Assim eu sei que eles já estão preparados não só para terem sucesso na escola, mas também para cuidarem de mim quando eu envelhecer, porque eu sei que lá nos ritos de iniciação as crianças aprendem como cuidar dos velhos e quando vão para escola continuam a aprender outras boas coisas importantes para eles. Mas o importante é juntar as duas coisas, o que eles aprendem no unhago e o que eles aprendem na escola, porque em todos esses sítios eles estão para aprender coisas importantes para a vida deles e quando os pais morrerem eles não sofrerem54”.

Se entre os pais e encarregados de educação, os posicionamentos acerca do impacto dos fundamentos/preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico iam divergindo na medida em que se entrevistava um novo encarregado de educação, o mesmo se pode dizer também sobre os posicionamentos dos professores da Escola Primária de Assumane enquadrados na presente pesquisa, não obstante fazerem parte da mesma escola, os professores entrevistados divergem naquilo que são os impactos dos preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico, como atestam os resultados abaixo descritos: A este respeito, o Professor A55 teceu os seguintes depoimentos: “Eu penso que o impacto é positivo. Os alunos iniciados sentem-se adultos e mais responsáveis pelos seus actos e seus feitos; são participantes 54

(Bernardo, 2015, cp.).

55

(Para o grupo de professores entrevistados respeitou-se as liberdades individuais em relação aos nomes).

activos no processo de ensino e aprendizagem, melhor que dantes. Entregam-se prontos para a realização de qualquer actividade tanto dentro como fora da sala de aula. Fazem tudo para se diferenciarem dos ainda não iniciados. Por isso, o seu aproveitamento pedagógico é mais elevado que antes da iniciação”. Em contra partida, o Professor B56 apresenta comentários contraditórios ao do seu colega, e defende-se dizendo o seguinte: “Penso que o impacto não é tão relevante, pois os alunos que participam das cerimónias tradicionais, incluindo os ritos de iniciação (iniciados), têm menor rendimento escolar do que aqueles que não participaram (não iniciados), porque o estatuto de adulto que lhes foi atribuído reduz o seu interesse pelos estudos57”. Mas o Professor C58 é apologista dos ideais do professor A, porém este apresenta os seus argumentos para defender o seu posicionamento, o mesmo refere o seguinte: “Penso que o impacto desta educação tradicional sobre a educação oficial é bom porque a educação tradicional é parte integrante da vida e da educação de um povo. Através deles, as velhas gerações ensinam aos mais novos a moral, o respeito ao próximo e aos mais velhos, e isso acaba influenciando positivamente na educação oficial destas mesmas crianças, pois grande parte das crianças submetidas ao unhago encontram na escola (Primária Completa de Assumane) o espaço de aplicabilidade dos preceitos ensinados durante a prática do unhago59”.

56

(Para o grupo de professores entrevistados respeitou-se as liberdades individuais em relação aos nomes).

57

(Professor B, 2015, cp).

58

(Para o grupo de professores entrevistados respeitou-se as liberdades individuais em relação aos nomes).

59

(Professr C, 2015, cp).

Porém, a esse respeito, o régulo Assumane, sr. Momade Saide pensa o seguinte: “Esta educação tradicional manifestada pelo unhago aqui no bairro de Assumane eu acho que é muito importante e traz benefícios positivos. Se um indivíduo não tiver passado pelo unhago, tem todas as portas da vida fechadas. Não pode conviver com a sociedade adulta do mesmo bairro. Dificilmente pode encontrar mulher para casar. Não pode dirigir e nem participar em nenhuma cerimónia social mesmo da sua própria família, agora já viu sobrinho, como é importante isso? É só imaginar um homem que deve pedir ou alugar um outro homem para vir dirigir cerimónias da sua própria família só porque você não participou do unhago, é grande vergonha, não acha? Argumentou o líder. “Agora se me perguntar que importância tem essas práticas lá na escola eu não preciso dizer muita coisa porque eu sei muito bem que os alunos vão bem preparados lá na escola, nós ensinamos boas práticas a eles e a escola só lhes recebe depois de nós fazermos grande parte do trabalho, porque nós ensinamos como ser homem, como ser chefe de família, como cuidar da casa, agora isso a escola não ensina, a escola aproveita muito de nós, acho que é esta a vantagem destes dois ensinos60”, concluiu o líder. Sobre esta questão, o Secretário do bairro, o sr. Abudo Saide apresentou o seu posicionamento, tendo deixado os seguintes argumentos: “A educação tradicional ajuda os nossos netos aqui na comunidade a se comportarem bem na escola, porque o governo não tem escola onde se pode realizar estas cerimónias que tão bem contribuem para a saúde moral das crianças. Nós que passamos por esta educação não sabemos o que é matar uma pessoa, o que é roubar a alguém na rua ou na sua própria casa. Isso tudo nós admiramos hoje em dia ao vivermos situações em que os nossos próprios filhos são autores dos maiores crimes na sociedade. Nós ensinamos a moral, o respeito pela pessoa e pela vida, o respeito pelos outros, a ajuda mútua, o

60

(Saide, 2015, cp.).

trabalho colectivo, a solidariedade e muitas outras coisas da vida e com isso, os nossos netos lá na escola aprendem bem e descobrem novas coisas e seguem um bom caminho na escola depois de sair do unhago. Mas para terminar, o importante é dizer que esta educação tradicional é importante para o ensino oficial porque a partir do unhago saem meninos bem comportados, maduros para a escola e lá eles sabem como devem agir tanto com os amigos, professores, colegas e até mesmo com os seus pais lá em casa, por isso que estas práticas eu acho que ainda devem continuar a se realizar não só aqui no bairro de Assumane, mas também em todos os bairros da cidade61”. Os relatos dos entrevistados mostram o interesse que estes têm pela escola oficial e o esforço que eles empreendem para que seus filhos frequentem a escola, apesar de algum sinal de medo (por parte dos pais) que se faz sentir nas suas declarações acerca do real impacto positivo dos preceitos da educação tradicional sobre a educação oficial. Isto deve-se ao facto de não haver uma divulgação clara e precisa sobre o valor da escola, embora seus frutos demorem a aparecer na vida das populações. É de referir que os frutos da educação tradicional na comunidade parecem serem imediatos para a população, daí a maior inclinação daquela população para a valorização dos preceitos da educação tradicional (maioritariamente manifestada pelos ritos de iniciação) em detrimento da educação oficial (desenvolvida no âmbito do Sistema Nacional de Educação). No capítulo seguinte estão apresentadas as conclusões do trabalho, apresentadas sob forma de teses sumárias, (concisas e claras). As conclusões apresentadas no capítulo posterior referem-se tanto ao que foi alcançado, como também ao que se poderia alcançar, portanto, trata-se dum balanço final sobre os objectivos, questões e hipóteses, bem como a metodologia do trabalho. Não menos importantes também são as recomendações principais a apresentadas logo após as conclusões do trabalho no capítulo em referência. Importa referenciar que durante a apresentação das conclusões deu-se ênfase aos objectivos e as hipóteses do trabalho com o intuito de infirmar ou confirmá-las de forma clara e concisa.

61

(Saide, 2015, cp.).

CAPÍTULO V: CONCLUSÕES Na parte introdutória do presente trabalho, as inquietações fundamentais estavam centradas em torno das seguintes questões, como forma de facilitar a selecção de informação e responder aos objectivos da pesquisa: a) Qual é o papel da família na educação a partir do ensino básico na Escola Primária de Assumane? b) Quais são as formas de participação da família na educação de alunos a partir do ensino básico no bairro de Assumane? c) Qual é o impacto dos fundamentos/preceitos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico? Para responder a essas questões, levantaram-se três (03) hipóteses relacionadas com os objectivos do trabalho, nomeadamente: (i) O papel da família não tem sido significativo porque na comunidade de Assumane, grande parte dos pais tem as suas vidas concentradas nas machambas e por via disto falta-lhes tempo para desempenhar o seu papel de pai na educação do ensino básico e se tratando dum meio rural onde práticas culturais como o unhago têm jogado papel fundamental na educação dos filhos, estes confiam a educação tradicional o papel de educar os seus filhos; (ii) As formas de desempenhar esse papel têm sido várias, desde o acompanhamento das tarefas e trabalhos escolares, o incentivo dos mesmos aos filhos no sentido de conciliar a aprendizagem adquirida nos ritos de iniciação com a aprendizagem adquirida por meio da educação oficial, no sentido de mostrar a importância da educação tradicional no seio da comunidade; (iii) O impacto dos preceitos/fundamentos da educação tradicional da comunidade de Assumane sobre o ensino oficial dos alunos do ensino básico é positivo, pois regista-se uma mudança de comportamento e atitude por parte dos alunos, uma vez que lá adquirem conhecimentos de forma a agir numa conduta aceitável no seio da comunidade em geral, dando os primeiros passos da vida adulta a partir desta educação tradicional da comunidade. Com base nos resultados alcançados com a pesquisa, se pode concluir que a hipótese (i) é confirmada pois de acordo com os pais entrevistados, os seus filhos uma vez participado

nas cerimónias dos ritos de iniciação, aqueles já consideram-se crescidos e prontos para a vida, sendo que o papel da família sobre a educação dos seus filhos já não é necessário pois as antigas gerações já ensinam o suficiente para os seus filhos, porém, ainda de acordo com os resultados da pesquisa, o papel da família na educação é pouco notório naquela zona porque estes passam maior tempo das suas vidas nas suas machambas, o que não facilita a sua intervenção na educação oficial dos seus educandos. Quanto a hipótese (ii), esta também é confirmada. De acordo com os resultados da pesquisa. Os pais entrevistados afirmam que quando dispõem de tempo tem incentivado, encorajado e aconselhado os seus filhos a frequentarem a escola apesar de estes terem já passado pela educação tradicional, pois entendem os pais que a educação dos seus filhos será a única salvação dos mesmos para que não tenham as suas vidas cravadas a pobreza tal como hoje se caracteriza a vida dos seus pais que maioritariamente vive na base da agricultura. Por fim, a hipótese (iii) é infirmada, pois grande parte dos entrevistados afirma que o impacto dos preceitos da educação tradicional sobre o ensino oficial é negativo, porem, uma parte dos entrevistados afirma que o impacto é positivo. Os professores defendem que os alunos que participam das cerimónias tradicionais (educação tradicional), incluindo os ritos de iniciação (iniciados), têm menor rendimento académico escolar do que aqueles que não participaram (não iniciados), porque o estatuto de adulto que lhes foi atribuído reduz o seu interesse pelos estudos. Por outro lado alguns pais consideram a educação oficial pouco produtiva porque os seus resultados não são a curto prazo como os resultados da educação tradicional, e segundo estes, a educação oficial ganha vantagem ao receber alunos oriundos dos ritos de iniciação e não o contrário. Nas zonas rurais como o bairro de Assumane, a educação tradicional é uma das grandes alternativas de moldar o jovem nos paradigmas sócio-culturais das comunidades. E nesta zona, como em outras rurais, muitas vezes quando os alunos terminam com as cerimónias de iniciação, esses alunos se sentem homens que devem obedecer todas as normas e obrigações sociais, o que pode contribuir para o seu desinteresse em continuar a estudar; a partir daí se alerta para a eficácia do papel da família na garantia da continuidade destes alunos na escola oficial, na comunidade de Assumane, infelizmente os pais não estão muito ligados

aos preceitos da educação oficial, grande parte deles está enraizado nas culturas e tradições locais. Portanto, o papel da família é pouco visível porque para estes, só pelo simples facto de os seus filhos terem passado pelos ritos de iniciação, estes já estão preparados para enfrentar a vida e ajudar os seus pais, e não necessariamente o contrário disto. Para os pais da comunidade de Assumane, a grande valorização da educação tradicional em detrimento da educação oficial tem um único propósito: o tempo que a escolarização oficial leva até que o indivíduo seja capaz de produzir algum resultado visível para si e para os seus encarregados de educação é longo demais, o que não os estimula de modo que estes possam encorajar seus filhos a continuarem a estudar depois de regressado dos ritos de iniciação. Daí o facto do papel da família ser pouco notório no seio da comunidade de Assumane. Entretanto, o papel da família ainda tem-se verificado, ainda que de uma forma exígua, pois até ao momento, esta educação tradicional (caracterizada pelos ritos de iniciação) ainda continua a se verificar nos períodos de férias escolares tal como preconiza o calendário do Sistema Nacional de Educação, reflectindo-se assim a entrega e vontade dos pais em encorajar os seus filhos a permanecer nas escolas e não pautando por desistências escolares para a realização de diversas actividades inerentes à educação tradicional, com maior enfoque aos ritos de iniciação, atendendo e considerando que nesta comunidade em referência, práticas culturais como o unhago têm jogado papel fundamental sobre a educação oficial, visto que tais práticas fazem parte da educação tradicional da população da comunidade de Assumane.

5.1.1. RECOMENDAÇÕES Levando em consideração a pesquisa desenvolvida e as constatações feitas durante a pesquisa diante dos intervenientes, há necessidades de proporem-se algumas recomendações de modo que o papel da família na educação do ensino básico seja mais abrangente. Em princípio é necessário que os pais da comunidade de Assumane assumam o seu papel de educadores e não atribuam as responsabilidades da educação dos seus filhos a

terceiros. Para tal é necessário que pais e encarregados de educação se envolvam activamente nas actividades desenvolvidas na Escola Primária de Mbambala, em Assumane; A Escola Primária Completa de Assumane, é necessário que envolva os pais nos seus programas educacionais, fazendo ver aos pais que os alunos precisam de um acompanhamento integral dos seus pais, apesar desses mesmos alunos terem passado pelos ritos de iniciação. É importante articular uma forma de enquadrar tanto os preceitos da educação tradicional como os da educação oficial num só programa, uma vez que o fim último das mesmas é comum: a formação e educação da criança. As autoridades comunitárias devem demonstrar o seu papel influente na comunidade, estes é que melhor poderão facilitar na sensibilização dos pais no sentido destes últimos desempenharem de forma exemplar o seu papel como educadores.

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FONTES ORAIS -----ANUSSA, Cássimo. Pai e encarregado de educação. Entrevistado no dia 08 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----BERNABÉ, João . Pai e encarregado de educação. Entrevistado no dia 11 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----BERNARDO, Anita. Mãe e encarregada de educação. Entrevistada no dia 10 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----CAMOTO, Marta. Adjunta Pedagógica da Escola Primária Completa de Mbambala. Entrevistada no dia 09 de Fevereiro de 2015, na Escola Primária de Mbambala – bairro de Assumane. -----CARLOS, Ndala. Pai e encarregado de educação. Entrevistado no dia 08 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----CÁSSIMO, Juma . Pai e encarregado de educação. Entrevistado no dia 10 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----CÁSSIMO, Yassine. Pai e encarregado de educação. Entrevistado no dia 08 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----JEMUSSE, Bonomar. Pai e encarregado de educação. Entrevistado no dia 08 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----JOANA, Maria. Mãe e encarregada de educação. Entrevistada no dia 10 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----JUSTO, Angelina. Directora da Escola Primária Completa de Mbambala. Entrevistada no dia 09 de Fevereiro de 2015, na Escola Primária de Mbambala – bairro de Assumane. -----Professor A. Entrevistado no dia 09 de Fevereiro de 2015, na Escola Primária de Mbambala – bairro de Assumane.

-----Professor B. Entrevistado no dia 09 de Fevereiro de 2015, na Escola Primária de Mbambala – bairro de Assumane. -----Professor C. Entrevistado no dia 10 de Fevereiro de 2015, na Escola Primária de Mbambala – bairro de Assumane. -----SAIDE, Abudo. Secretário do bairro de Assumane. Entrevistado no dia 04 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane. -----SAÍDE, Momade. Régulo Assumane. Entrevistado no dia 04 de Fevereiro de 2015, no bairro de Assumane.

APÊNDICES (inquéritos para a finalização do trabalho de campo)

APÊNDICE I

I.

Guião de entrevistas às famílias

1. Como pai e/ou encarregado de educação, mostra-se interessado e preocupado com a educação do seu filho? 2. O que lhe motivou a escolher esta escola para o seu filho estudar? 3. O que espera da escola do seu filho quanto a sua educação? 4. O que acha que a escola do seu filho espera do senhor (a) como pai? 5. Tem participado na educação básica do seu filho? 6. De que forma tem participado? 7. O que pensa das reuniões que a escola promove e convida aos pais? 8. Tem participado nas reuniões escolares em que são convocados os pais e/ou encarregados de educação? 9. Quais são os seus deveres como pai, na educação do seu filho? 10. Como é a sua relação com a escola do seu filho? 11. Qual é a importância do acompanhamento familiar na vida escolar dos alunos? 12. Já alguma vez foi contactado pela escola para resolver assuntos ligados a educação do seu filho? 13. Quando tem questões ou dúvidas específicas sobre o ensino do seu filho, tem procurado algum professor para se informar? 14. Acha que a escola ouve e acolhe as reclamações e queixas dos pais sobre algo que não corre bem na escola? 15. Submeteu o seu filho ao unhago? 16. Como vê esse fenómeno aqui na comunidade? 17. Que importância o unhago traz para o seu filho e para a comunidade em geral? 18. Acha que os valores aprendidos durante o unhago vão de acordo com o que o seu filho aprende na escola? 19. O que o seu filho aprende no unhago, acha que se reflecte na escola onde ele estuda? 20. De quê forma?

APÊNDICE II

II.

Guião de entrevista aos Professores

1. Como professor, tem estabelecido uma relação com os encarregados de educação dos seus alunos? 2. Pais e/ou encarregados de educação tem vindo a escola para se inteirar sobre a situação educacional dos seus filhos? 3. Acha que o papel dos pais na educação dos filhos tem-se verificado? 4. De que forma? 5. Porque não se verifica? 6. Como analisa o fenómeno do Unhago cá na comunidade? 7. Acha que os valores adquiridos durante esta prática são benéficos para o aluno? 8. Porquê? 9. Os alunos submetidos ao unhago, distinguem-se dos alunos não submetidos ao mesmo no que se refere ao seu comportamento? 10. Acha que esta prática produz efeitos positivos nos alunos? 11. Como analisa a aprendizagem adquirida durante o unhago, confrontada com a aprendizagem adquirida cá na escola? 12. Acha que os alunos assimilam melhor a aprendizagem adquirida cá na escola ou no unhago? 13. Como professor, qual é a sua opinião sobre o impacto (positivo e negativo) desta prática, acha que esta prática tem influenciado na educação oficial? 14. De quê forma?

APÊNDICE III

III.

Guião de entrevista aos líderes comunitários

1. Como é a sua relação os membros de cá na comunidade? 1. Como vê o Unhago aqui na comunidade? 2. O que pensa sobre a importância da Escola Primária de Mbambala cá na comunidade? 3. Que importância o unhago traz para as crianças cá na comunidade? 4. Acha que os valores aprendidos durante o unhago vão de acordo com o que as crianças aprendem na escola? 5. O que as crianças aprendem no unhago, acha que se reflecte na escola onde eles estudam? 6. De quê forma? 7. Acha que os valores adquiridos durante esta prática são benéficos para o aluno? 8. Porquê? 9. Os alunos submetidos ao unhago, distinguem-se dos alunos não submetidos ao mesmo no que se refere ao seu comportamento? 10. Acha que esta prática produz efeitos positivos nas crianças de cá na comunidade? 11. Como analisa a aprendizagem adquirida durante o unhago, confrontada com a aprendizagem adquirida na escola? 12. Acha que as crianças aprendem melhor na escola ou no unhago? 13. Como líder comunitário, qual é a sua opinião sobre o impacto (positivo e negativo) desta prática, acha que esta prática tem influenciado na educação oficial? 14. De quê forma?

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