O PAPEL DAS ESCALAS GEOGRÁFICAS NA DISCUSSÃO REGIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

June 30, 2017 | Autor: Diosmar Filho | Categoria: Geografia, Geografía Humana, Geopolítica, Geografia Política
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Geografias, Políticas Públicas e Dinâmicas Territoriais De 07 a 10 de outubro de 2013

O PAPEL DAS ESCALAS GEOGRÁFICAS NA DISCUSSÃO REGIONAL NA CONTEMPORANEIDADE

ARIOMAR DA LUZ OLIVEIRA1 DIOSMAR M. DE SANTANA FILHO2 1- Introdução

Os estudos referentes à região são marcantes na evolução epistemológica da Geografia. Debates acompanharam desde o paradigma moderno científico, cujas discussões caracterizadas pelas ideologias positivistas, já no século XIX até os dias atuais, com outras posturas, agora, pós-modernas e mais críticas, demonstram a pertinência de se discutir o referido termo. Entretanto, em meio a este processo, há quem afirme sobre o "fim" da região ou quem defenda a existência de uma possível crise conceitual-metodológica a respeito, impondo a necessidade de estudos dentro do corpo científico. Esta crise seria resultado das carências de publicações a respeito se comparado ás inúmeras reflexões, nas diferentes correntes de pensamento geográfico, bem como nas ciências sociais de uma forma geral. Ainda nessa linha, emergem estudos valorizando outros conceitos geográficos correlatos a região tais como, território e lugar. Se no desenvolvimento da ciência geográfica aparecem inúmeras concepções voltadas aos estudos regionais, isso prova a distância do consenso e algumas lacunas em torno do conceito e suas derivantes. Sobre esta análise, Santos (1999) destaca que "a região continua a existir, porém com um nível de complexidade jamais visto pelo homem. Agora, nenhum subespaço do planeta pode escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, de individualização e regionalização" (SANTOS, 1999, p.16). O posicionamento nesse texto tenta reafirmar a necessidade de se discutir a região dentro da complexidade da era técnica-científica e informacional advinda pelo processo de globalização, a qual impõe ao espaço, novas dinâmicas nunca vistas na história, reveladas em diferentes escalas espaciais e sendo assim, envolvendo diretamente a discussão em torno do papel das regiões nesses processos. 1

Mestrando do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected] 2 Mestrando do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia. E-mail: [email protected].

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Nesse sentido, o objetivo aqui, em primeira instância, não é fazer um resgate histórico da discussão de Região na ciência geográfica - apesar de reconhecer a importância desse apanhado histórico - mas sim, desenvolver um diálogo em torno de algumas idéias, que consideramos fundamentais no contexto sócio-econômico e espacial da contemporaneidade, bem como a sua dimensão teórica e pragmática. Logo, algumas questões, surgem à tona exigindo um ponto de interrogação, isto é, uma dimensão teóricometodológica não resolvida na Geografia (e talvez, longe de se resolver) que é o papel das escalas geográficas na compreensão das regiões. 1.1 - As Escalas Geográficas e os Estudos Regionais na Era Técnica-Científica e Informacional Entre algumas questões que se colocam nos estudos regionais, uma delas diz respeito aos limites ou extensão que uma região pode alcançar, isto é, à escala de análise que ela assume, levando ao encontro de um problema de delimitação regional. Castro (2010) afirma que a utilização da escala como recurso fundamental da cartografia é, e sempre foi, uma fração que indica a relação entre as medidas do real e aquelas da sua representação gráfica. No entanto, enquanto recurso para a Geografia, essa conceituação se mostra insatisfatória, tendo em vista as possibilidades de reflexão que o termo pode adquirir e na representação de alguns fenômenos há uma necessidade de ampliar a perspectiva para além das noções matemáticas. (CASTRO, p.117, 2010). Nesse debate, Marcon (2012) reforça essas idéias ao chamar a atenção para se considerar a escala gráfica do espaço como uma questão matemática, diferenciando da escala geográfica, cuja conceituação incorpora fenômenos geográficos, políticos, sociais, econômicos e culturais. Nesse sentido, Castro apud Marcon (2012) adota o uso da escala na Geografia, a partir da escala espacial, entendendo-a: Como exercício epistemológico de integração e não como exercício matemático de representação cartográfica, tendo em vista que a utilização do conceito de região envolve sempre um determinado nível escalar, o qual pode variar, por exemplo, de níveis correspondentes a um quarteirão ou a um hemisfério (CASTRO apud MARCON,2012,p.10).

Nessa via de análise, o que se tenta é avançar em relação às lacunas deixadas pelas discussões tradicionais de região na Geografia, onde se propuseram definir a escala regional apenas pelo prisma matemático/geométrico e nesse processo de regionalização, os fenômenos eram representados parcialmente, em vez de sua totalidade, o que demonstra certa confusão metodológica. http://www.enanpege.ggf.br

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Tratar as questões escalares na concepção de Castro requer uma busca de um conhecimento que consiste em descrever, explicar e predizer uma realidade. Analisar o que ocorre, determinar por que ocorre dessa forma e utilizar estes conhecimentos para antecipar uma realidade futura são objetivos a alcançarem dentro de um propósito epistemológico e nos parece que a escala matemática não dá conta dessa totalidade. Avançar em termos teóricos sobre o uso da escala é admitir em primeiro lugar, a importância das escalas cartográficas como uma questão dimensional, porém com limitações nos estudos de determinados fenômenos que se espacializam de forma complexa e em múltiplas escalas. Por outro lado, se coloca o desafio de conceber a escala geográfica como tentativas de aproximação mais eficiente da espacialidade de fenômenos à realidade em que eles se apresentam. Uma contribuição importante na discussão aqui estabelecida vem de Haesbaert (1999) onde o mesmo sugere nas definições de região considerações a cerca de problemáticas como a das escalas e fenômenos sociais mais específicos (como os regionalismos políticos e as identidades regionais) entre aqueles que produzem a diversidade geográfica do mundo. Obviamente, não é uma tarefa simples discutir o papel das escalas na delimitação regional nesta direção, mas é um caminho metodológico proposto que espacializa os fenômenos sociais dentro da dinâmica globalizada, onde localismo, regionalismos e questões relacionadas a identidades aproximam os estudos regionais mais à realidade. Identificar e explicar as ações dos atores políticos no espaço seria objetos dos estudos regionais, cabendo à tarefa difícil compreender as escalas espaciais (e temporais) em que eles atuam. Isso, é claro, envolve um rigor teórico que restringe seu significado mais aprofundo, seu poder explicativo (HAESBAERT, 1999, p.17). A contribuição de Marcon (2012) é pertinente nesse caminho por entender que a escala geográfica está relacionada com a escala do acontecer ou da realização dos fenômenos no nível local, e que essas relações cotidianas se articulam com outro nível escalar de comando e de controle cada vez mais globalizado (MARCON, 2012, p.40). A importância da técnica e da informação dão a dimensão dessas novas relações entre espaços mundiais, interagindo o micro ao macro, o perto ao longínquo, o local ao externo e todas elas podendo ser mediadas pela escala regional. Para melhor entendimento e definição da escala sobre a ótica da perspectiva geográfica, Santos (1998), apresenta a abordagem metodológica quanto ao meio técnicocientifico-informacional, e sua compreensão em escala, que chamará de níveis de analise,

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dentro da visão compreensiva da questão: o nível planetário; o nível nacional; o nível regional e local, a saber O nível mundial - o primeiro nível supõe: a identificação, no nível mundial, das principais variáveis e sua definição; a verificação de sua distribuição desigual entre países e dentro de cada país e a tentativa de identificação dos fatores, mediante a aproximação dos fatos e de suas causas locais e extralocais. O nível do Estado-Nação - o segundo nível se ocupará de reconhecer: as repercussões mais gerais do novo período de um país, tanto na economia e na sociedade como no espaço; a repartição desigual das novas condições e a seletividade do seu impacto; a nova divisão territorial do trabalho resultante. O nível da região - o terceiro nível, a partir da divisão territorial do trabalho na "área core" do país junto com a busca de uma redefinição geográfica dessa área, deverá orientar-se para o estudo particular e empírico das áreas que sejam representativas do novo impulso dado ao aprofundamento do capital (deepening of capital) no espaço, assim como das ilhas de arcaísmo: o movimento desigual e combinado no espaço, fornecido pelos aspectos regionais ou locais da nova divisão territorial do trabalho no país, reflexo, por sua vez, de nova divisão do trabalho que se está operando em escala mundial. Esses três níveis são interdependentes, embora possamos dar mais ênfase a um desses níveis, segundo o enfoque escolhido. (SANTOS, 1998, p. 64)

Apesar do termo "nível" - o que poderia inferir uma noção exata, matemática -, a noção discutida por Santos evidencia a teia de relações socioeconômicas estabelecidas entre espaços de várias magnitudes, já que a nova divisão territorial do trabalho, característica do mundo globalizado, é que se encarrega de definir a atuação de um espaço perante as suas adjacências ou ao mundo. Logo, as particularidades são reforçadas nesse jogo de atuação do capital pelo mundo e vão sendo redefinidas no plano espacial, através de múltiplas escalas de ocorrência e aprofundamento da inserção do próprio capital nos lugares, tais como produção, venda, compra, consumo e etc. e suas repercussões socioespaciais. Se a globalização espacializa os fenômenos através dos lugares e regiões, os estudos regionais, ao contrário do que muitos defendiam, ganham força e novas roupagens. Egler (1996), por exemplo, ao fazer um estudo intitulado "Crise e Dinâmica das Estruturas Produtivas no Brasil", adota a região como uma escala de análise geográfica e mais ainda, valoriza a região como escala de operação produtiva do capitalismo. Segundo o mesmo, "a região possui o mesmo estatuto lógico dos níveis global, nacional e local, que são sincronicamente articulados através da dinâmica do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo" (EGLER, 1996, p.186). A região, nessa visão marxista, logo com uma carga econômica e política, seria resultante de um duplo movimento: de um lado, a regionalização, entendida como a divisão de um determinado espaço em territórios econômicos, com http://www.enanpege.ggf.br

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finalidades diversas; e de outro, o regionalismo, onde os agentes sociais localizados em um determinado território procuram exercer pressão sobre o Estado para dispor de tratamento político diferenciado do restante do espaço econômico em que se inserem (EGLER, 1996, p.186). Castro (2011) compreende que não se pode deixar de analisar os processos políticos que atuam no espaço, pela sua compreensão na organização dos espaços da política interna ou externa das nações, a autora cita o Dicionário Houaiss, que trata do substantivo que quer dizer “arte ou a ciência de governar, ou ainda a arte ou a ciência de organização, direção e administração de nações ou Estados e a aplicação desta arte aos negócios” (CASTRO, 2011, p. 51). Desta maneira a autora supracitada, aborda a necessidade de compreender que neste processo de analise do espaço geográfico, para o reconhecimento das escalas regionais, é importante reconhecer que no período atual vivido, a política, terá papel fundamental para delimitação e limites para o espaço social e econômico. Existe uma diferença fundamental na abrangência do impacto das ações desencadeadas entre cada uma destas acepções. No primeiro caso, as decisões políticas afetam todo o território e toda a sociedade sob a jurisdição da sua ação; no primeiro apenas o grupo diretamente vinculado e a área de propriedade são afetados. A política de uma empresa, por exemplo, afeta os seus funcionais, o terreno de sua propriedade e seus consumidores, mesmo assim sua política não pode contrariar aquilo que foi determinado pela primeira, ou seja, aquelas definidas pelas instituições públicas (CASTRO, 2011, p. 52).

A afirmação da escala regional dentro dos pressupostos da globalização é reforçada por Lencioni (2009), onde a mesma propõe para as geografias pós-modernas, o estudo regional com ênfase ao heterogêneo, á diferença e principalmente, vinculado a processos gerais, criticando as posturas que valorizam a subjetividade em estudos regionais sem fazer as referências a processos gerais. Assim, a questão da escala geográfica regional se torna um fundamento decisivo na era da globalização - enquanto dimensão de atuação capitalista - e principalmente para a geografia pós-moderna, enquanto estudos que busquem a compreensão da realidade de fenômenos e sua escala de atuação. A análise regional, voltada para as particularidades, pode revelar aspectos da realidade que seriam mais difíceis de serem percebidos e analisados se considerados apenas do ponto de vista global" (LENCIONI, 2009. p.192). Nesse sentido essa contribuição converge com o entendimento do estudo aqui proposto. Primeiro, é preciso concordar com a adoção de particularidade para compreender como a http://www.enanpege.ggf.br

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globalização é manifestada em espaços locais, o que nos remete a algo específico considerando as múltiplas relações que tais espaços faz com o todo. Da mesma forma, avança em relação aos inúmeros estudos regionais positivistas, os quais viam as regiões como singulares, únicas e muitas vezes, isoladas. Obviamente, Lencioni busca uma revitalização do conceito de região, via análise de uma escala regional dos processos sociais, com a categoria de análise da particularidade intermediando o local e o global, o singular e o geral, reforçando o vazio na discussão em que é afirmado o fim das regiões, num possível processo de homogeneização capitalista. São idéias que mostram uma continuidade do debate estabelecido com os posicionamentos de Gomes (1995) e Santos (1996) e Corrêa (1997), ao negar o radicalismo local versus global e apontarem para um direcionamento multiescalar de fenômenos sociais em sua espacialização, local, regional, nacional e global. Nesse tocante, Corrêa nos afirma que, A diferenciação de áreas [...] constitui-se na possibilidade de se poder falar em região. Mas a diferenciação de áreas não está, no nosso entender, associada à noção de unicidade hartshorniana (uniqueness). Não se associa à idéia de singularidade, que entendemos vincular-se ao conceito de lugar, mas sim a idéia de particularidade, isto é uma mediação entre o universal (processos advindos da globalização) e o singular (a especificação máxima do universal) (CORRÊA,1997, p.191).

Não é possível falar em fim de região, dentro das complexas relações econômicas e sociais que globalização infere entre os espaços. Reconhecendo as dificuldades metodológicas para delimitação regional, sabe-se que mais difícil ainda é excluir do bojo de discussão o papel que as escalas geográficas regionais assumem dentro dessas teias de relações, as quais revelam informações que em escala puramente global ou local não seriam possíveis. Entretanto, essa linha de raciocínio cai na iminência de outras análises, que se articula com a questão das escalas geográficas: a regionalização enquanto processo de recorte espacial.

1.2 - A Regionalização Enquanto Processo De Recorte Espacial Santos (1998) elucida que as regiões são subdivisões do espaço: do espaço total, do espaço nacional e mesmo do espaço local, porque as cidades maiores também são passíveis de regionalização. E afirma que as regiões são espaços de convivência, e a configura como “meros lugares funcionais do todo”, pois, “além dos lugares, não há outra http://www.enanpege.ggf.br

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forma para a existência do todo social que não seja a forma regional” (Santos, 1998, p. 48). E mais, A energia que preside essa realização é a das divisões do trabalho sucessivamente instaladas, impondo sucessivas mudanças na forma e no conteúdo das regiões. A ampliação da divisão do trabalho e do intercâmbio gera a aceleração do movimento e mudanças mais rápidas na forma e no conteúdo. As diferenças entre lugares que eram antes devidas a uma relação direta entre a sociedade local e o espaço local, hoje apresenta outra configuração, já que se dão como resultado das relações entre um lugar dado e fatores longínquos, vetores provindos de outros lugares, relações globais das quais cada lugar é o suporte (SANTOS, 1998, p. 48).

A menção aos recortes regionais, por essa via de interpretação, leva a um diálogo conceitual entre a própria região e à noção de lugar, possibilitada pelas regionalizações vinculadas à extrema divisão do trabalho dentro da lógica globalizante. Região passa a ser um elo essencial das relações globais com o espaço local; e os recortes regionais estariam atrelados á estas formas e conteúdos advindos por estas relações desiguais entre os espaços a que se queiram regionalizar. Gomes (1995), ao discutir os recortes regionais, busca uma abordagem teórica que minimiza a importância do senso comum como elemento fundamental em tais processos e chama a atenção para que haja um rigor científico maior nos processos de regionalização, haja vista suas complexas dimensões acadêmicas. Assim, ele afirma que, Certamente os possíveis recortes regionais atuais são múltiplos e complexos, certamente há recobrimento entre eles, certamente são multáveis, mas ao aceitarmos todos estes recortes como regiões não estaríamos voltando ao sentido do senso comum, de uma noção que tão simplesmente pretende localizar e delimitar fenômenos de natureza e tamanho diversos e que portanto, perde o conteúdo explicativo, como conceito (GOMES, 1995, p.73).

Por outro lado, Cunha (2000) ao debater com Gomes (1995), discorda dessa perspectiva ao afirmar que há uma onipotencialização científica e um intelectocentrismo ao debater região e conclui afirmando que as noções de região vistas pelo prisma do “senso comum” correspondem a formas de conhecimento não-intelectuais, não necessariamente destituídas de valor explicativo (CUNHA, 2000, p.48). Enfim, Haesbaert (1999) propõe uma atualização do conceito de região pautada num processo de reconstrução a partir de suas articulações com os processos de globalização e por isso algumas questões devam ser pensadas tais como o grau de complexidade na definição

dos

recortes

regionais,

a

rapidez

da

mutabilidade

e

a

relação

globalização/fragmentação. http://www.enanpege.ggf.br

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Sobre essas dimensões, e principalmente sobre as questões da regionalização Ramires, Soares e Souza (2005, p. 33), produziram um estudo sobre a região e o regionalismo do Triangulo Mineiro em Minas Gerais. Pelos autores, desde a década de 60, a região passa por processos das transformações das estruturas econômicas, vinculadas às políticas estruturalistas nacionais; para tanto, a década de 90, veio a ser o período de consolidação ao recorte espacial produzido por uma elite conservadora com a instrumentalização de grandes projetos com pólos de alta tecnologia e turismo para a região, em detrimento dos movimentos emancipadores locais. Pois, segundo os mesmos autores, a questão está na complexidade da região, pois: A região do Triangulo Mineiro, possui uma formação especifica, na qual sua sociedade, com determinado modo de produzir e com uma intensa representatividade política, sem se contrapor ao processo de desenvolvimento do País, criou e preservou uma identidade social e econômica, quase se encontra materializada em diversas partes de seu território, forçada por uma imensa prática regionalista. (RAMIRES, SOARES e SOUZA, 2005, p. 33-34).

Contudo, a construção da emancipação política da região do Triangulo Mineiro, se remete ao século XIX, com a luta pela emancipação e criação do Estado, através do regionalismo, produzido pelas elites locais, corroborando com a reflexão sobre as relações entre espaço-mundo e região, proposto do Haesbaert. No estudo do IBGE, a regionalização da região do Triângulo, foi elaborada para fins do planejamento estadual, obedecendo principalmente fatores hidrográficos e orográficos. De acordo com esses critérios ela constitui a IV macrorregião hegemonia do estado, sendo composta por quatro microrregiões: Uberlândia (170), Alto do Parnaíba (171), Pontal do Triangulo Mineiro (177), Uberaba (178) e Planalto do Araxá (179) [...] A área abrangida por essa macrorregião é de 51 municípios, sendo os mais importantes Uberlândia, Uberaba, Araguari, Ituiutaba, Patrocínio, Araxá, Frutal e Iturama. (RAMIRES, SOARES e SOUZA, 2005, p. 34).

Portanto, esta regionalização, ou fragmentação do espaço por um processo de planejamento, apresenta duas questões a serem analisadas: i) no que se refere ao determinismo ambiental; ii) ao planejamento econômico sobre o espaço. Gomes (2012), debate sobre as questões relacionadas à identificação de critérios gerais e uniforme que estruturam o espaço, porém, questiona se estes critérios são mutáveis e podem se definir pelas explicações e coordenadas às quais o pesquisador faz variar de acordo com suas conveniências explicativas.

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As regiões são, assim, no primeiro caso, o resultado de uma divisão do espaço que é em princípio submetido essencialmente sempre às mesmas variáveis, definindo-se, pois, através dessa divisão um sistema espacial classificatório, uniforme e hierárquico; no segundo caso as regiões são concebidas com produtos relativos, fruto da aplicação de critérios particulares que operam internamente na explicabilidade daqueles que as propõem; têm, pois, um caráter demonstrativo na comprovação do domínio de certas variáveis no interior de determinados de fenômenos. (GOMES, 2012, p. 70)

Dessa maneira, a abordagem sobre regionalização, aprofunda um debate teórico e metodológico, sobre os conteúdos e formas, na qual se apresentam a região, pelo motivo que a regionalização, se estabelece no debate sobre o processo de regionalismos, que se configura em um recorte sócio-espacial. Quanto a esta dimensão, não é possível discorrer sobre a questão, sem levar em conta que esta se imbrica com o desenvolvimento estabelecido pelo Estado-Nação. Tanto é que, Castro (1986) compreende que os processos históricos de configuração (ocupação e construção) do espaço pelos Estados-Nações têm produzido diferenciações nos seus territórios. A questão das diferenças territoriais remete então para percepção de um espaço nacional regionalizado, no qual cada região define por identidade própria e confronta-se com as outras, no interior ou através do aparato institucional do Estado, numa disputa pelo domínio e pela preservação dos seus traçados fundamentais. (CASTRO, 1986, p. 27).

Nessa direção, questões postas para a regionalização, não se afastam do contexto temporal e espacial. Existem pelas escalas geográficas, estas aqui, sendo analisadas pela ação política do Estado, sobre os critérios de desenvolvimento regional, que fortalecerá ou irá emergir o fortalecimento de uma elite, capaz de capitanear todo este processo. Esta se apoiará em identidades territoriais (simbólicas ou materiais), que lhe servirá no processo de acumulação e apropriação dos espaços políticos, econômicos e culturais. Assim, o recorte espacial, na atualidade, tendo como exemplo o processo de definição das macros e microrregiões do Triângulo Mineiro, apresentam dimensões multiescalares de observação e atuação. Neste processo, a atuação da elite proverá um regionalismo para fortalecimento e apropriação dos bens oriundos de uma ação articulada pelos interesses diferentes em escalas nacionais (Estado) e supranacionais (firmas), que pela política incorporada de caráter neoliberal pelo governo central articula e aprofunda uma regionalização. Para Gomes (2012, p. 66), cada modo de produção apresenta um conjunto de formações sócio-econômicas com aspectos particulares, de evoluções diversas, que tem em http://www.enanpege.ggf.br

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comum características que darão unidade aos modos de produção. Essas unidades organizam o seu espaço de maneira própria sendo que a base será a regionalização, princípio de diferenciação do espaço em momentos históricos diferentes. Surge também deste tipo de reflexão a idéia de região como de uma totalidade sócio-espacial, ou seja, no processo de produção da vida, as sociedades produzem seus espaços de forma determinada e ao mesmo tempo são determinadas por ele, segundo mesmo os princípios da lógica dialética. (GOMES apud DUARTE, 2012, p. 66)

Quanto às questões apresentadas, Santos (2004, p. 279), analisa que do ponto de vista das condições espaciais de realização das grandes firmas, quanto aos países desenvolvidos, de uma especialização vertical do território, sendo compreendido que a fricção do espaço é relativamente nula com a fluidez assegurando a funcionalidades entre pontos diferentes de produção complementares, colocadas como realizadas. Em países subdesenvolvidos (atualizados como emergentes), só se pode falar em especialização horizontal, mesmo com seletividade do espaço para diferentes níveis de produção industrial, pela raridade de pontos que dispõem de vantagens locacionais (rodovias, ferrovias, portos e áreas planificadas para condomínios industriais), que representa entre outras questões que podem ser abordadas a principal o efeito cumulativo privado. A força atual do Estado decorre essencialmente das novas realidades da economia internacional (Navarro de Britto, 1972), criadoras de novas necessidades e que obrigam o Estado a se modernizar e a estar presente em toda parte. A participação nas condições de modernização tecnológica conduz o aparelho do Estado a uma série de obrigações seja para estar em condições de responder às necessidades da população nacional. No primeiro caso, a necessidade de criar certos mecanismos ou instrumentos de trocas internacionais atribui ao Estado o papel centralizador no domínio da moeda, dos impostos, do comércio exterior, dos bancos. (SANTOS, 2004, p. 279)

Quanto esta interpretação Castro avalia que: A identificação da região como espaço social e político, aponta para a possibilidade de reinterpretar o caráter e a dinâmica dos agentes políticos na formação do espaço regional, ao mesmo tempo em que levanta a questão da disputa territorial contida no domínio político do Estado Nacional. (CASTRO, 1986, p. 28)

Portanto, a Castro (1986, p. 28), avalia que novos elementos precisam ser colocados neste processo de análise para a compreensão de construção do espaço nacional, “este engendrado, e afetado pelas importantes diferenciações internas do território, sejam elas físicas, econômicas ou sociais”. http://www.enanpege.ggf.br

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Sendo que o processo apresentado terá impacto em escalas múltiplas, fragmentado por processos diferentes e desiguais de acumulação capitalista do espaço social e político. Cabe acrescentar que os processos, são conectados e hegemônicos, no que se refere à ampliação das desigualdades e o fortalecimento de novas regionalizações, em prol do capital rentista, que tem possibilitado a transformação temporal e espacial de determinadas frações do território nacional em regional. Quanto a esse olhar, cabe o argumento trazido por Castro (1986, p.30), que compreende que o componente regional do sistema político é implicado por determinações internas e externas de uma área política, ação regional que tem implicado em ações circunscritas a região, revelando limites da concretização política, e os múltiplos encadeamentos, ao nível de outros subsistemas sociais em diferentes escalas. 1.3 - Conclusões Todas as considerações expostas refletem de certa forma, como a discussão regional demanda mais estudos. Para os que defendiam o fim das regiões em função das tentativas homogeneizadoras do espaço pela globalização, fica aqui a reafirmação do papel desses conceitos (região e regionalização) na interpretação da realidade contemporânea. A efervescência desse debate acadêmico, discutido aqui, é uma tentativa de situar algumas das "lacunas", ou melhor, das indefinições em torno da dimensão escalar e dos processos regionais de recortes, perpassando, é claro pela dimensão das temporalidades. Obviamente, não é uma tarefa simples, "resolver" esses impasses teóricometodológicos, visto que as contradições são mais que presentes na realidade espacial do terreno da era técnica-científica e informacional. O local, o regional, nacional e o global, assumem papéis, ora mais evidentes, ora menos evidentes, num jogo dialético nunca visto na história, e por isso requerem abordagens mais minuciosas para a compreensão da temática em questão. Portanto, como nos informa (Haesbaert, 1999) a região e a regionalização - o primeiro visto como conceito e o segundo como instrumento de análise - resistem à era técnica-científica e informacional. Talvez, por meio da discussão escalar, algo que não foi resolvido pelos paradigmas anteriores da Geografia, os estudos regionais possam ganhar força e mais do que isso, passem a exigir uma renovação teórica e metodológica como premissa à evolução conceitual num movimento de reafirmação da pertinência de seus estudos face a importância socioespacial que eles carregam.

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1.4 Referências Bibliográficas CASTRO, Iná Elias de. Problemas e alternativas metodológicas para a região e para o lugar. In: SOUZA, Maria Adélia A. de. Natureza e Sociedade de hoje: uma leitura geográfica. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1994, p. 56. ______ Geografia e política: território, escalas de ação e instituições.4ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 300 p. ______ Estado e Região: considerações sobre o regionalismo. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. Rio de Janeiro, 1986, p. 27-47. CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias Geográficas. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 1997. p.183-194. CUNHA, L. A. G.. Sobre o Conceito de Região. In: Revista de História Regional. Inverno, 2000. 5(2): p.39-56. EGLER, C. A. G.. Crise e Dinâmica das estruturas Produtivas Regionais no Brasil. In: CASTRO, Iná E.; GOMES, Paulo C.; CORRÊA, Roberto L..Questões Atuais da Reorganização do Território. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996, p. 223-244. GOMES, Paulo C. da C. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná E.; GOMES, Paulo C.; CORRÊA, Roberto L. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1995, p. 49-76. HAESBAERT, Rogério. Região, diversidade territorial e globalização. In: GEOgrafia, ano 1, n°.1, jun. p. 15-39,1999. LENCIONI, Sandra. Região e Geografia. São Paulo: EDUSP, 1999. 44. MARCON, Maria Teresinha de Resenes. A Ressignificação do Conceito de Região. In: Revista Discente Expressões Geográficas, nº 08, ano VIII. Florianópolis, 2012, p. 29 – 51. RAMIRES, Júlio Cesar de Lima. SOARES, Beatriz Ribeiro. Cláudio Vanderli de. Triangulo Mineiro? região e regionalismo. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v 59, n 1, jan/jun, 2005, p. 33-60. SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico-científico informacional, Hucitec, São Paulo, 1994. 4ª edição: 1998, 94p. ______: Modo de produção técnico-científico e diferenciação espacial. Território n. 6. Rio de Janeiro: UFRJ/Garamond, 1999. ______: O Espaço Dividido: Os Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos / Milton Santos; tradução Myrna T. Rego Viana. – 2. ed. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. 440 p.

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