O papel das Milícias e das Ordenanças na Terceira Invasão

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Publicado em 2011 no III volume de O Exército Português e as comemorações dos 200 anos da Guerra Peninsular, Lisboa, Tribuna da História, pp. 75-104

O papel das Milícias e Ordenanças durante a 3ª Invasão Francesa Nuno Lemos Pires As milícias e ordenanças em Portugal foram, durante a Guerra Peninsular, de uma enorme importância a todos os níveis: político, estratégico, operacional e táctico. Mas porque as suas acções são menos conhecidas, muito pouco, ou quase nada divulgadas, muitas nunca sequer registadas, tem-se falado pouco delas1. Têm surgido muitas confusões nas comparações das milícias e ordenanças com outros tipos de forças. Por vezes aparecem confundidas com os Regimentos de Linha, ou seja, como fazendo parte das melhores unidades do exército “permanente português” e do exército aliado angloportuguês, e de forma mais geral, talvez porque estas unidades não tinham praticamente paralelo em nenhum outro país da época, foram muito confundidas com guerrilhas, milícias populares ou camponeses armados. Para “baralhar” um pouco mais as várias descrições, temos de nos lembrar que, embora as milícias e ordenanças se constituíssem como unidades organizadas, a sua actuação operacional, na maioria das vezes, seguia o padrão do combate das guerrilhas e a falta de fardamentos e equipamentos podia, naturalmente, originar essas confusões. Porque tivemos de tudo em Portugal durante a Guerra Peninsular, percebe-se a confusão. A guerra em Portugal envolveu toda a nação, como uma verdadeira nação em armas mobilizou centenas de milhares de homens, desde as forças projectadas para o ultramar, as forças permanentes em Portugal, as forças que fizeram parte do exército aliado anglo-português, as 2

forças incluídas no exército de Napoleão, as milícias e ordenanças e ainda, as guerrilhas e as milícias populares. Embora o País tenha sido praticamente “desfeito” após a primeira invasão francesa, o levantamento das forças armadas, incluindo as milícias e ordenanças, foi um feito notável. Portugal soube fazê-lo porque dispunha de uma estrutura de organização de segurança e defesa que praticamente remonta aos anos da sua fundação: um povo, uma língua, um território, um Rei e acima de tudo, as forças de defesa na exclusiva dependência do seu soberano3. Da relevância da actuação das milícias e ordenanças em Portugal, nos conflitos que precederam a Guerra Peninsular, permitam-nos recordar as palavras do célebre “primeiroministro” espanhol, responsável pela campanha de 1801 – A Guerra das Laranjas - Manuel Este tipo de acção e era por muitos considerada menor: “aquele modo de actuação de gente avulsa e rudimentarmente armada saía fora do que sabiam fazer e não era tropa que lhes desse brilho e honra comandar: era uma guerra mal estudada. Em consequência, os historiadores – inclusivamente os que se dedicavam à história militar – só relatavam e davam atenção às acções em que intervinham exércitos organizados e chefes militares de nomeada” Barata, 2003, Vol 3: 151; 2 “the crucial part they played - Milícias e Ordenanças - in the all-important draft system was largely ignored, possibly because there was nothing quite like it elsewhere” Chartrand, 2000, Vol 3: 8; 3 Da evolução das milícias e ordenanças em Portugal desde a fundação pode ser encontrada a descrição num trabalho do autor: Milícias e Ordenanças no Norte de Portugal em (2009), O Porto e as Invasões Francesas – Volume I, Porto, CM Porto e Edições Público; 1

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Godoy: “Distribuíam-se os camponeses em companhias de duzentos e cinquenta homens. Todo o camponês devia ter um chuço, sem prejuízo das demais armas que podiam arranjar, poucos precisavam de arcabuzes. Desarmados nas asperezas, nas alturas, nas gargantas e nos caminhos difíceis, faziam a guerra de guerrilhas, causando muito mais estrago ao inimigo que as tropas de linha. Na guerra da Aclamação [ou da Restauração – 1640-1668], quando Portugal sacudiu o jugo de Espanha, o país ficou a dever os seus grandes triunfos e a sua liberdade nas vinte e sete campanhas que susteve a esta milícia cidadã. Na Guerra de Sucessão esta mesma milícia foi a que em 1704 e 1705 tornou inúteis as conquistas de Filipe V, sendo-lhe mais fácil tomar as praças que dominar o país aberto. Igual dificuldade e resistência encontraram em 1762 o marquês de Sarria, o príncipe Beauvau e o conde de Aranda. O único êxito importante que as armas combinadas espanholas e francesas conseguiram foi a tomada de Almeida. A guerra de posições e de marchas e contramarchas que nos fez o conde de Lippe, em que sofremos inúmeros danos foi igualmente sustentada pelos camponeses armados”4. Como dissemos no início, a esmagadora maioria das acções das milícias e ordenanças não foram relatadas ou registadas, pelo que, no nosso estudo, tivemos de recorrer ao máximo número de fontes disponíveis: o Arquivo Histórico Militar (AHM), as memórias que recentemente têm vindo a ser publicadas (muitas traduzidas e publicadas também em Portugal) e estudos recentes sobre esta temática. Todas as transcrições do AHM estão referenciadas e identificadas no fim de cada extracto, no entanto alertamos que o português foi adaptado para a grafia mais moderna e que só se transcrevem as partes dos textos mais importantes para explanar uma ideia, referindo as omissões através de (…) e quando não foi possível identificar a palavra (pelo português antigo ou devido à legibilidade) identificando com um (?). Nas referências às memórias de combatentes da época fazemos, sempre que possível, na nota de rodapé, referência à data em que as mesmas memórias foram escritas (na bibliografia pode ser encontrada a informação completa – data do original e data da publicação). Para a leitura ser mais fácil, no meio de alguns textos acrescentámos os nossos comentários entre […] e para dar relevo ao assunto em causa decidimos sublinhar as referências às milícias e ordenanças.

AS MILÍCIAS E ORDENANÇAS DURANTE AS PRIMEIRA E SEGUNDA INVASÕES FRANCESAS

As invasões francesas foram para Portugal uma guerra de um exército contra uma nação e não apenas uma luta entre exércitos: “there has not been a commensurate focus on the very great contribution made by Portugal and the Portuguese people. Rather, the focus has been on the accomplishments of the Anglo-Portuguese military forces (…) this was not merely a war

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Godoy apud Manuel Moreno Alonso, 2010: 212;

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between the Anglo-Portuguese and French armies.”5 Porque de facto a guerra foi muito mais do que as batalhas que ficaram conhecidas na história, foi a luta de uma população e dos seus aliados contra um invasor: “com base em gente das milícias e ordenanças, que tinham uma vocação de defesa regional, foram surgindo grupos de guerrilheiros que, causando baixas e danos aos franceses e criando um generalizado clima de intranquilidade, obrigaram Junot a dispersar as suas forças”6. Por exemplo, sobre o uso das ordenanças na Batalha de Padrões de Teixeira (a primeira grande vitória sobre os Franceses na Península Ibérica e que apenas contou com portugueses contra o exército francês)7 de Silveira contra Loison: diz Francisco da Veiga Cabral de Barbosa (...) Capitão Mor das Ordenanças desta vila Real (...) sobre quinze de Junho de 1808 (...) e em carta assinado em Vila Real, 7 de Agosto de 1808: o que causa à heróica resolução que todos os habitantes desta vila tomaram no dia dezasseis de Junho de sacudir o jugo Francês e aclamaram, solenemente o Príncipe Regente Nosso Senhor na tarde desse dia em um concurso inumerável de pessoas de todos os estados e condições que juntando-se à porta do suplicante com este e com o Tenente Coronel Francisco da Silveira Pinto da Fonseca (...) o suplicante não se contentou com executar no Distrito do seu comando a sobredita ordem das Armas da Província, mas a comunicou também aos seus colegas capitães Mores dos distritos vizinhos animando-os a seguir o seu exemplo (...) em chegando a esta vila na tarde do dia vinte e um de Junho a notícia de ter passado o Douro no lugar da Régua uma Divisão francesa comandada pelo General Loison fez logo o suplicante tocar a rebate e aprontar com a maior brevidade as Ordenanças do seu Comando para correrem ao encontro do inimigo, o que fizeram com um valor, e denodadamento(?) inacreditável, pois que marchando sem munições de guerra de que havia a mais falta assim mesmo obrigaram os franceses a tornar a passar o Douro no dia vinte e três de Junho depois de bem (?) com a perda de muitos soldados e oficiais superiores mortos e feridos; e passando as mesmas Ordenanças o Rio lhe foram picando a retaguarda até perto de Castro de Aire por mais de quatro léguas fazendo um estrago horrível na coluna com que os franceses cobriam a sua retirada. (AHM -DIV-1-14-170-22). “As milícias foram o centro da Sublevação Nacional do Verão de 1808”8 porque praticamente nada mais existia depois da acção de Junot, o Exército tinha sido desfeito por uma

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Gray, 2011: 4-5; Barrento, 2010: 1033; 7 “Loison que, com 2 600 homens sai de Almeida, a 17 de Junho, e se dirige para o Entre o Douro e Minho, decidido a afogar em sangue a insurreição nortenha. À sua aproximação, as populações avisavam: “Vem aí o Jinot com as guilhotinas”. Mas Loison não foi capaz, sequer, de ultrapassar a Régua, quanto mais de chegar ao Porto, porque foi sistematicamente atacado pelas milícias do general Francisco da Silveira, que o emboscava com a força organizada em Vila Real; enquanto isso, em Bragança o general Manuel Sepúlveda arregimentou 2 000 agricultores e no Porto o general Bernardim Freire de Andrade congregou em torno de si 6 000 homens dispostos a pegar em armas. Destroçado e impotente, Loison retrocedeu para Almeida” Abílio Lousada, 2010; 104-105; ver também descrição da Batalha em Chartrand, 2001: 24 e em Pires, 2009c: 23; 8 Borrego, 2006: 72; 6

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ordem a 22 de Dezembro de 1807 e em Janeiro do ano seguinte foram as milícias e ordenanças “ao desarmar as milícias, desarmei o País”9. Em Junho de 1808, quando da proclamação da Restauração de Vila Real, o tenente-coronel Francisco Silveira mandou reorganizar a companhia de caçadores voluntários de Vila Real, dando-lhe o mesmo comandante de 1801 e feita a partir das ordenanças e que mais tarde irá dar origem ao 3º Batalhão de Caçadores. Tal como em Vila Real o mesmo procedimento foi adoptado para todo o país permitindo assim, desde o início da acção armada contra os franceses, que a população “em armas” pudesse encontrar uma forma organizada para se juntar, equipar e combater – em vários regimentos e para variados distritos de todo o país foram feitas cartas similares à que de seguida em parte transcrevemos: (Palácio do Governo em 8 de Dezembro de 1808): “Manda o Príncipe Regente Nosso Senhor a todos os Capitães Mores ou Comandantes de Ordenanças a quem pertencerem os Distritos abaixo declarados, que logo que esta lhes for apresentada pelo Oficial do Batalhão de Caçadores nº1 que vai encarregado do recrutamento para o dito Batalhão, procedam imediatamente a recrutar todos os moços solteiros, residentes nos mesmos distritos compreendidos na idade de vinte e um até trinta anos, inclusive, que forem necessários para preencher o sobredito Batalhão na forma do Plano de 14 de Outubro do presente ano. (AHM - DIV-1-14-194-05 ref de 1 a 7). Para além de Vila Real ou Lamego, também foi fundamental o papel das milícias e ordenanças em Trás-os-Montes, no bloqueio de Almeida10, na ocupação da Figueira da Foz, na defesa de Coimbra, na defesa de Évora, no ataque a Abrantes, na libertação do Algarve e do Baixo Alentejo, e ainda numa parte importante do corpo de observação da Beira11, ou seja, por todo o País12. O esforço de reorganizar (ou quase diríamos criar) uma estrutura política e militar sustentável surge após a primeira invasão: “O decreto de 11 de Dezembro de 1808 da regência (…) é o documento determinante de todo este conceito de defesa (…) «que toda a Nação Portuguesa se arme»”13 e não se pense, no entanto, que as milícias e ordenanças apenas se dedicaram a acções de guerrilha, porque num âmbito mais vasto de segurança e defesa foram estas forças que garantiram, em muitos casos, a ordem pública, os transportes e abastecimentos para alimentar a população e, entre numerosos exemplos, até garantiram a limpeza e a saúde Lisboa, Carta a Napoleão datada de 14 de Fevereiro de 1808, Junot, 2007: 142; “Portugal só está armado pelas milícias (…) ordenaram a 10 de Fevereiro o licenciamento das Milícias no resto do reino e a deposição das armas nos arsenais. O desarmamento foi efectuado e as armas ficaram provisoriamente depositadas em poder dos diversos capitães ou Coronéis de milícia (…)” Carta de Junot a Napoleão Bonaparte datada de 17 de Março de 1808; 10 “Thiébault, o chefe do estado-maior do exército francês, mandou a Loison vinte e cinco cópias da ordem para regressar a Lisboa, por vinte e cinco portadores diferentes (entre os quais vários portugueses), e só uma lhe chegou às mãos” Vasco Pulido Valente, 2007: 70; 11 “Moreover, in an attempt to capture these outbursts of popular support for the insurrection, and the enthusiasm displayed by those volunteering, many of the juntas raised volunteer battalions, many of which were to form the nucleus of armed opposition to the French - especially in those areas lacking a formal military presence - due to limited number of troops available” Gray, 2011: 76 12 Ver descrição dos levantamentos em Pires, 2008; 13 Barata, 2003, Vol 3: 165 e também: “this vacuum was filled, in the short term, by the creation of a series of provincial juntas, in the name of the prince regent, for the defence of Portugal: establishing civil and judicial authority, mobilising troops within their jurisdiction, proclaiming a „call to arms‟ for officers and soldiers demobilised by Junot earlier and establishing volunteer companies and battalions similar to the ordenança.” Gray, 2011: 75; 9

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pública: “referida a comunicação do desembargador João Gaudêncio Pães, sobre a impossibilidade de continuar a limpeza de Santarém. A ausência das tropas do Regimento de Milícias da Feira, que tinham sido retiradas dessa função em 13 de Março”14. Em síntese, quando não empregues em acção contra o inimigo, cumpriam o que hoje poderemos denominar de serviço cívico às populações. D. Miguel Pereira Forjaz (Ministro da Guerra, Estrangeiros e Marinha), em nome da regência portuguesa15, vai tomar então as medidas necessárias para a defesa de Portugal.16 Será essencialmente a partir das estruturas de milícias e ordenanças que se vão levantar, não só um novo exército de linha (que se irá integrar na acção do futuro exército anglo-português), mas também as novas forças territoriais e de guarnição: “Ao assumir as suas novas funções, Forjaz ordenou aos quarenta e três comandantes regimentais das Milícias que lhe enviassem relatórios completos da força efectiva das suas unidades, o número e a condição dos homens de todos os postos, o estado dos armamentos e dos quartéis. Também pediu uma declaração sobre a resistência dos oficiais de Ordenanças de cada distrito (…) Forjaz propôs destituir os coronéis de Milícias demasiado velhos ou doentes para servir”17. Quanto ao que deveriam fazer “as Ordenanças deviam permanecer a reserva a partir da qual o exército era recrutado”18 mas existe desde logo o enorme cuidado na preparação e na formação porque, uma vez que não há quadros em quantidade suficiente para enquadrar todas estas forças19, tem de se recorrer a algumas medidas possíveis: “Forjaz concebeu uma proposta de formar destacamentos de oficiais de todos os regimentos de Milícias, consistindo num capitão, dois subalternos, um ajudante e nove sargentos para receberem instrução no sistema de manobras recentemente introduzido na infantaria”20. Na segunda invasão francesa comandada por Soult, entre a saída dos franceses no final da invasão de Junot até à chegada de Wellington em 22 de Abril de 1809 a defesa, a preparação de defesa e a retomada da ofensiva fez-se quase exclusivamente com forças (militares e população

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Rita, 2011: 126; “But Beresford would need support in Portugal to ensure success and someone to organise and sustain that support. Such a man had already stepped forward and had made some important contributions to the war effort, both as one of the secretaries to the regency council and as the military adjutant to Bernadim Freire de Andrade. This man was Dom Miguel Pereira Forjaz, and he would play a key role in underpinning the defence of Portugal in 1810-11” Gray, 2011: 104; 16 “While in general terms, popular opposition to French rule was welcomed, the fear was that if not controlled it would degenerate into anarchy” Gray, 2011: 45; 17 Fuente, 2011: 35; 18 Fuente, 2011: 39; 19 “The vast majority of first line and milícia regiments had been demobilised and disarmed in 1808. Their subsequent mobilisation was hindered by the absence of competent officers, and the lack of proper arms and equipment. The major arsenals in Portugal had remained in French hands throughout most of 1808 and were located in the principal fortresses of Almeida, Elvas, Abrantes and Peniche. Therefore, whilst regiments could be recruited up to strength, the lack of arms and equipment meant that they would have limited effectiveness as military units. Britain had promised to provide both money and materiel, but these enormous deficiencies would take time to address” Gray, 2011: 102; 20 Fuente, 2011: 134; veremos que esta preocupação se mantém no ano seguinte adquirindo outras formas: “ Tinham sido mandados para os corpos de primeira linha do exército, oficiais, e oficiais inferiores dos regimentos de milícias, no racional intuito de os habilitar com o conhecimento prático dos deveres militares e instrução táctica, a fim de que, com vantagem para o serviço, fossem profícuos nos corpos a que pertenciam” Chaby, 1863: 140; 15

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em geral) portuguesas21. Embora o processo de (re)criação dum exército nacional estivesse ainda no seu início, foi a partir da estrutura das ordenanças e milícias que se possibilitou uma primeira “organização” de defesa, embora com todas as faltas em material, estruturas, disciplina, armamento, etc., mas demonstrando a necessária vontade de combater: “O Povo de Lisboa mostra um espírito fervente para resistir perante o avanço do inimigo comum, e tem se estado a armar para conseguir esse objectivo tão importante para ambas as nações”22. Durante a marcha francesa de Soult em direcção ao Porto, as milícias e ordenanças vão estar em todos os momentos, como também vão estar as tropas de linha e os populares, cada um armado como podia e com o enquadramento possível das poucas chefias23. Houve indisciplina, caos e desorganização, o que levou, inclusivamente, à chacina do chefe militar português, Bernardim Freire de Andrade. Mas houve também forte resistência “The Portuguese people and local authorities clearly and positively encouraged British intervention”24 que incentivou a uma nova ajuda britânica, alguns combates de grande importância e, embora Soult tenha atingido o seu objectivo imediato, o Porto25, as forças portuguesas nunca lhe deram descanso. Enquanto Soult tomava o Porto, Silveira retomava Chaves, portugueses e espanhóis tomaram Vigo e cercaram Tuy. O resto do País estava controlado e grandes áreas do território nacional eram quase exclusivamente controladas pelas milícias e ordenanças26. O retomar da ofensiva pelas forças portuguesas (nomeadamente por Silveira após a reconquista de Chaves) e mais tarde com o auxílio do Exército anglo-português só foi possível devido ao enorme desgaste sofrido pelas tropas francesas na conquista do Norte e na contínua ofensiva na retaguarda das suas forças.

A TERCEIRA INVASÃO

Desde o desmembrar da força armada portuguesa no início de 1808 até à retirada de Soult em meados de 1809 tinha passado apenas 1 ano e meio. Neste curtíssimo espaço de tempo, levantaram-se vários corpos de forças e, com o exército de linha praticamente desfeito, foi “Despite the appalling circumstances and embarrassing outcome of the Convention of Cintra, the campaign had demonstrated the determination of the Portuguese to oppose the French invaders and resist the occupation of their country, whilst Britain had resolved to continue to make a substantial intervention in the Iberian Peninsula.” Gray, 2011: 86; 22 Carta enviada de Lisboa por John Cradock ao governo de Londres em 30 de Janeiro de 1809 em Rodríguez, 2009: 536; 23 “A major difference between 1808 and 1809, despite similarities in outcomes when the Portuguese forces came up against the better organized, if numerically inferior, French, was that by 1809 the state, the regional and local authorities, and the military, were more or less united in their resolve to oppose the French” Gray, 2011: 118; 24 Gray, 2011: 88; 25 “After taking the city of Oporto, Soult was obliged to make provisions for a number of possible eventualities. One portion of the disposable troops was needed to provide a garrison for Oporto itself: despite the Portuguese army having been pushed back some way, they continued to represent a threat. A detachment, of considerable size, needed to be posted south of the Douro to observe and, if necessary, contain these Portuguese troops. The division that had been detached on leaving Braga had to be sent north to replace the garrisons, temporarily lent to Soult and controlling the settlements of Tuy and Vigo, and to establish communications with Ney in Galicia. Loison, who had substantial experience of counter insurgency work in the first invasion, was despatched with a view to driving away Silveira and establishing communications with Lapisse. Gates confirms that these were very necessary precautions, ‚Soult‟s position remained precarious. The population was more hostile than ever and the partisan war ceaselessly sapped the strength of his field army.” David Gates, The Spanish ulcer: a history of the Peninsular War, (London : Pimlico, 2002), p. 142 in Gray, 2011: 157; 26 Ver descrição detalhada das operações em Portugal e Espanha durante a segunda Invasão Francesa em Pires, 2009a e 2009b; 21

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fundamentalmente nas milícias e ordenanças que se foram recrutar forças, organizações e chefes. Muitas unidades de milícias e ordenanças transformaram-se em corpos de voluntários, em batalhões de milícias ou em batalhões de infantaria, caçadores, etc e, simultaneamente, continuou-se a aperfeiçoar o sistema territorial, vejamos alguns exemplos: - Correspondência entre D. Miguel Pereira Forjaz e Carr Beresford: (...) O Coronel que foi do Regimento de Milícias de Arouca Alexandre de Alberto de Serpa para capitão do Regimento de Infantaria nº 23 (...) O Alferes do Regimento de Voluntários Reais de Milícias a pé de Lisboa Oriental, Lourenço Justiniano Francisco de Lima, para Alferes do Regimento de Infantaria nº 13 (...) Capitão mor das Ordenanças de Lamego Jozé Leite Pereira de Azevedo e Cunha, para Coronel agregado do Regimento de Milícias de Lamego, aprovada a proposta de Carr Beresford de 27 de Julho de 1809 em 9 de Agosto de 1809, com 4 rubricas dos Senhores Governadores do Reino (AHM-DIV-1-14-063-09). O esforço para reorganizar teve de contar com a colaboração de toda a população: - Tenho a honra de remeter incluso (...) um mapa dos Regimentos de Milícias que se ajuntaram em Braga, não compreendendo a cidade do Porto e a do Partido da parte meridional do Douro. Notará V. Exª que de 6400 homens que formam o total, só 1953 se acham armadas – determinam que os desarmados voltem para suas casas a ocuparem-se da lavoura27, entendo de pensar em os chamar ao primeiro sinal. Dos que ficaram formei um Batalhão para guarnecer Braga, parte de 1400 homens – e 350 ou 400 deverão ficar guarnecendo a cidade do Porto, em qualidade de Batalhão de Instrução. Os dois ulteriores corpos de que fiz menção serão revezados todos os 15 dias, pelas milícias que se vão agora formando. (Carta de Nicolau Trant para Miguel P Frojaz, QG no Porto, 25 de Junho de 1809, AHM - DIV-1-14-072-09 ref 19). Portugal prepara-se para se defender de acordo com um plano bem elaborado de defesa: “guarnecendo praças-fortes da fronteira e litoral com Milícias e alguma tropa de linha, protegendo populações e recursos com Milícias e Ordenanças e constituir um corpo de batalha, o Exército Anglo-Luso”28. Toda a acção da terceira Invasão se fará sobre um País, não só levantado em armas, como obrigado a evacuar as suas casas por onde se previsse que as forças francesas pudessem passar, a denominada política de “terra queimada” que tanta celeuma criou entre os decisores portugueses e ingleses. Na realidade, esta era a grande diferença entre combatentes ingleses e portugueses, os últimos combatiam na sua terra, junto com as populações que sofriam e morriam29. Os habitantes na Grã-Bretanha não podiam imaginar o sofrimento pelo que passavam os seus aliados portugueses: “Desejei mil vezes que fosse possível que todos os “Essentially, service in the first line was normally restricted to those best able to serve away from home, single men without dependants, with service in the milícias being a preferred option for married men with dependants, and service with the ordenanças compulsory for anyone not already in first or second line service (for example those too old or young, who had already completed military service or who were invalided out of service).” Gray, 2011: 210; 28 Santo, 2010: 36; 29 “em três meses de 1810 há 2969 assassinatos na diocese de Coimbra” Henriques, 2002: 13; 27

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homens, mulheres e crianças, de todos os estratos sociais, em Inglaterra, pudessem ter sido transportados para esta cena avassaladora durante somente cinco minutos; que tendo tido a oportunidade de se inteirar das várias misérias às quais inevitavelmente os infortunados habitantes dos teatros de guerra são sujeitos, pudessem voltar satisfeitos e dando graças pelo facto de um exército de franceses não estar a tratar com rudeza a velha Inglaterra e a infligir ao seu povo misérias semelhantes àquelas que eu tentei descrever”30. Sobre o estudo que os franceses fizeram sobre as capacidades portuguesas na terceira invasão podemos observar em inúmeras memórias como a força das milícias e ordenanças foram sempre pouco (ou nada) consideradas antes das operações, mas depois, de quem reflecte sobre o ocorrido, as referências são inultrapassáveis31: “Tínhamos sobre eles uma superioridade numérica de 100 000 homens; no entanto, se atendermos às inúmeras ordenanças portuguesas e guerrilhas espanholas, que actuavam incessantemente nos nossos flancos e na nossa retaguarda, ver-se-á que essa superioridade era ilusória e que a balança das forças pendia para o lado deles”32. Os números estimados não variam muito: “35 000 homens de tropas inglesas e 50 000 Portugueses (…) independentemente de um grande número de corpos de guerrilheiros [uma das muitas designações que receberam as Milícias e Ordenanças] destinados a interromperem as comunicações e a interceptarem as colunas de víveres. Três destes corpos, que eram consideráveis, eram comandados pelo coronel inglês Trant, o general Silveira e o general Wilson [estes são corpos de milícias portuguesas] ”33, “30 000 ingleses e 40 000 portugueses (…) milícias organizadas em batalhões, que recebiam soldo e estavam bem armadas (…) comandados por Silveira, por Bacelar, pelo general inglês Wilson e pelo coronel Trant – e numerosos bandos de guerrilhas [outra das designações habituais] tinham a missão de cair sobre os flancos e as retaguardas do exército francês, cortar as suas comunicações e atacar os comboios”34 - “30 000 ingleses e 30 000 portugueses (…) Portugal dispunha, além disso, de 15 000 homens nas tropas regulares, diversos corpos móveis compostos por milícias portuguesas (…) Ordenanças, que os ingleses avaliavam apenas em 45 000, toda a população armada de Portugal; esta estava animada contra os Franceses pelo patriotismo, o ódio ou a vingança, e pela memória recente dos sofrimentos”35, “quanto à milícia, não ia alem de 25 000 homens regularmente organizados e armados, se bem que os registos indicassem um número de 55 000. O seu comando fora fortalecido com uma parte de oficiais provenientes do exército regular (…) lord Wellington podia contar com 25 000 a 30 000 ordenanças (…) não tardassem a formar na

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Recordações de Jonathan Leach (1784-1874) sobre a Guerra peninsular em Sousa, 2007: 231; “a invasão de Massena se caracteriza por uma ausência quase total de informação” Vicente, 2000: 417; 32 Koch, 1848: 23; 33 General Léocour em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 125; 34 Marechal Jourdan em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 191; 35 M. de Rocca em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 212; 31

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retaguarda do exército francês bandos mais numerosos e ainda mais sedentos de vingança que os guerrilheiros espanhóis”36. Em síntese: “Quanto a forças irregulares é significativo referir (…) a norte do rio Douro, estavam em pé de guerra 21 regimentos de milícias, alguns agrupados em brigadas, num total de 10 000 homens, a que há que acrescentar muitos milhares de ordenanças. O comando destas forças foi confiada ao general Pinto Bacelar, com o quartel-general em Lamego, de quem dependiam não apenas comandantes portugueses, mas também três coronéis ingleses – Trant, Miller e Wilson (…) Em Trás-os-Montes continuava a actuar Silveira”37. Para sabermos exactamente e com pormenor: “As Milícias (…) O coronel Lecor, na área de Castelo Branco, tinham sob as suas ordens três regimentos (Castelo Branco, Idanha e Covilhã). O coronel Miller, em entre-Douro-e-Minho comandava oito regimentos (Guimarães, Viana, Braga, Cabeceiras de Basto, Vila do Conde, Arcos de Valdevez, Barcelos e Ponte da Barca). O coronel Trant, entre os rios Douro e Mondego, comandava sete regimentos (Aveiro, Feira, Coimbra, Porto, Maia, Penafiel e Oliveira de Azeméis). Em Bragança, o general Silveira tinha sob as suas ordens seis regimentos (Lamego, Chaves, Vila Real, Bragança, Miranda e Moncorvo). O general Miranda Henriques comandava na região de Abrantes-Tomar, quatro regimentos (Tomar, Santarém, Leiria e Tondela). A trabalhar nas linhas de Torres Vedras estavam cinco regimentos de Milícias (1, 2, 3 e 4 de Lisboa e o de Torres Vedras). Regimentos de Milícias guarneciam Abrantes (Lousã e Soure) e Almeida (Viseu, Arganil e Trancoso)”38. Podemos, então, entender as missões confiadas às milícias e ordenanças: fazer o combate em profundidade (conceito actual que visa atacar as retaguardas do inimigo), ou seja, cortar as comunicações entre as unidades francesas, interromper o reabastecimento logístico, impedir a dispersão e liberdade de movimentos a pequenas unidades francesas, manter um ambiente de “medo” entre as forças francesas, etc. Iremos detalhar mais adiante mas, há ainda um factor fundamental para entender toda a estratégia de Wellington para Portugal, é que o General Britânico contava com as milícias e ordenanças para lhe permitir manobrar livremente com as suas forças de primeira linha: “Lorde Wellington tinha por princípio nunca fechar tropas inglesas nas praças; punha sempre aí os seus aliados [entenda-se as Milícias e as Ordenanças]”39 ou seja, a missão da segunda linha não era a de combater com a 1ª linha, nunca foi essa a indicação, pelo contrário, a actividade das milícias e ordenanças devia ser complementar à do exército aliado e não deviam expor-se em campo aberto contra as forças do exército francês: “Of the portuguese militia and the irregular levies of the Ordenança (…) formed part of Wellington‟s tools for carrying on the war, but not of his army (…) They were under strict orders not to fight – orders which enterprising officers like Silveira and Trant sometimes 36

Koch, 1848: 95; Barata, 2003, Vol 3: 177; 38 Santo, 2010: 39; 39 Guingret, 1815: 28; 37

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disobeyed [e assim se explicam tantas acções destes dois comandantes] (…) Their duty was to screen the country-side against small French detachments, to make the movement of the enemy save in large bodies impossible, to capture convoys, or to cut off stragglers (…) [e de facto todas estas missões forma cumpridas na íntegra e Oman termina a sua alusão com esta síntese] They were a valuable asset in Wellington‟s hands, but not a real fighting force”40. De uma forma geral, incluindo as milícias e ordenanças, houve subordinação operacional por parte de todas as forças presentes, ou seja, trabalharam para um fim comum com acções ajustadas e decididas dentro de uma estratégia global definida por Wellington, forças britânicas e forças portuguesas, regulares e irregulares, mas convém clarificar que não existia esta subordinação em termos administrativos ou organizativos: “Beresford (…) nunca dirigiu o aparelho administrativo do Exército Português, nem tão pouco determinou a sua regulamentação. Mesmo tendo tentado (…) nunca dirigiu os Regimentos de Milícias, nem tão pouco as Ordenanças”41. Por alguns autores franceses (e não só), a população portuguesa aparece por vezes descrita como manipulada ou refém dos interesses britânicos, mas na realidade a determinação da população, de onde vinham as milícias e ordenanças, era genuína e, acrescentamos, suficientemente esclarecida: “Despite the weakness of formal military opposition, the French faced a population prepared to fight to the death to protect their homes, families and livelihoods”42, “boas bibliotecas que existem com frequência nas cidades e mesmo nas aldeias, onde os principais habitantes têm sempre uma escolha de excelentes obras em diversas línguas; os instrumentos de matemática, de física, de astronomia, da marinha, que se vê comummente em Portugal, e de que se ignora até a forma em Espanha; tudo, digo eu, parece que a nação portuguesa é bem mais avançada do que a nação espanhola”43 ou noutra memória “Na casa que nos calhou encontrámos um esconderijo cheio de livros franceses, quase todos dos nossos melhores autores, bem editados e superiormente encadernados: eram duas enciclopédias, era Voltaire, Rosseau, Montesquieu, etc. Nada de semelhante se tinha oferecido aos meus olhos em Espanha”44. Naturalmente tudo isto num país, que antes de sofrer esta terrível guerra, era um país economicamente desenvolvido (facto que também aparece muitas vezes destorcido, a denominada “decadência” só acontecerá depois da guerra peninsular): “Lisboa ainda pode ser considerada a cidade mais rica da Europa”45.

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Oman, 1913: 235-236; Manuel Amaral em Fuente, 2011: 11; 42 Gray, 2011: 157; 43 Guingret, 1815: 33; 44 Barrès em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 30; 45 Lisboa, Carta a Napoleão datada de 14 de Fevereiro de 1808, Junot, 2007: 107. A questão da subordinação económica também tem sido muito referida por vários autores pelo que, embora não seja do âmbito deste texto entrar nessa discussão, fazemos alusão ao excelente trabalho de Anthony Gray: “It has been argued, given the Methuen Treaty, that Portugal was no more than a dependent economy of Britain. The assertion is not only a considerable distortion of the complex economic relationships between the two countries but also seriously undervalues the autonomy of Portuguese political economy and foreign policy” Gray, 2011: 22; 41

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Em vésperas da 3ª Invasão, Wellington acredita no valor das forças: “By the first of May [1810] a total of 51,280 troops of the line and 54,229 militiamen were under arms, seconded by 329,016 ordenanza (sic) mobilised for the defence of the Kingdom. The Portuguese are in a good state‚ Wellington declared ‟we have arms for the militia and, upon the whole we have an enormous military establishment at our command. We only want money to put it in operation and to keep it up”46, porque sabia da vantagem operacional que lhe era conferida pelas milícias e ordenanças: “A guerrilha em Portugal, como já sucedera na Guerra dos Sete Anos, em Trás-osMontes, foi buscar homens, vontade e engenho às milícias e ordenanças, que utilizando meios rudimentares, mas uma força anímica e um conhecimento do terreno muito superiores aos do adversário, sublinharam o valor da força moral no combate e na guerra”47. A surpresa sobre as capacidades destas forças começaram ainda antes do início da campanha: “Prior to entering Portuguese territory, French patrols undertaking reconnaissance of the allied positions in the direction of Fuente Guinaldo, Vila Maior and along the Côa valley, were surprised to be fired upon by Portuguese ordenança. Their astonishment was to find the Portuguese not only were armed, but also determined to fight to protect settlements, contest river crossings and prevent surveillance and foraging. It would appear that the French anticipated no, or very little, sustained indigenous opposition to the invasion of Portuguese territory”48. E as acções podiam ser além fronteira: “A 1 de Agosto, um grupo de 1200 a 1500 espanhóis, comandada por Francisco Taboada Gil e apoiada pelos 6000 homens às ordens do General Silveira [sendo na sua maioria milícias], veio a pôr cerco a Pueblo de Sanabria”49. A actuação das milícias mereceu elevados elogios por parte do Marechal Beresford nas ordens do dia 11 de Agosto: “este general – Silveira – acaba de aprisionar no castelo de Puebla de Sanabria o batalhão suíço nº3, composto de quatrocentos homens que tinham ali refugiado para se escapar aos seus ataques em campanha rasa. O inimigo debaixo das ordens do general Serras em força superior avançava, para salvar este batalhão sitiado pelos milicianos de Trás-os-Montes, e parte daquele regimento de cavalaria 12; porém estes bravos milicianos, animados pelo comportamento do seu chefe o sr. Marechal de campo Silveira, não se intimidaram (…) está mostrado que os valorosos milicianos de Trás-os-Montes não se esquecem da glória dos seus antepassados”50. A importância das milícias e das ordenanças em toda a estratégia global defendida está bem patente nas preocupações de Beresford em apoiar, organizar, incentivar e “controlar” a actividade dos vários corpos espalhados por todo o país, exemplo de um ofício do marechal 46

Donald D. Howard, Napoleon and Iberia: The Twin Sieges of Ciudad Rodrigo and Almeida, 1810, (University Press Florida, 1984), p. 78 in Gray, 2011: 192; 47 Barrento, 2010: 1034; 48 Gray, 2011: 154; 49 Koch, 1848: 78; 50 Marechal Beresford em Chaby, 1863: 152;

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Beresford emitido a 7 de Agosto de 1810: “Eu dei toda a qualidade de socorro, diz o marechal, com algumas armas à companhia agora formada debaixo do comando do denominado José Ribeiro, ao qual pela sua conduta e patriotismo dei o posto de alferes, e uma ordem de comandar esta companhia de cem homens de guerrilha”51. Quando as forças de Massena entram em Portugal, logo após a tomada de Almeida, as milícias e ordenanças são notadas: “Alguns dias antes da rendição da praça [Almeida a 27 de Agosto de 1810], o coronel Pavetti e o chefe de esquadrão d‟Oraison, enviados por Massena em missão, perderam-se no meio da escuridão nocturna e foram parar à aldeia portuguesa de Nave de Haver, onde os camponeses os atacaram. O chefe de esquadrão d‟Oraison, morto por um tiro, foi esfolado pelas mulheres; o coronel e dois gendarmes que o acompanhavam foram garrotados depois de mil sevícias”52. “O príncipe d‟Essling concedeu a liberdade a uma parte da guarnição [de Almeida] mandou para as suas casas, depois de os ter desarmado, três mil homens da milícia portuguesa (…) apesar das suas promessas de se manter à margem do conflito, uma vez regressados a casa rapidamente encontraram armas, e tivemos mais três mil inimigos encarniçados a quem combater (…) que sob o nome de milicianos eram quase soldados como os nossos”53. Esta vontade de combater, em especial, das ordenanças, comportava riscos maiores do que os que corriam os soldados de 1ª linha, porque na maioria das vezes, não eram reconhecidos como soldados. Das acusações entre Massena e Wellington sobre o uso de milícias e ordenanças basicamente Massena chamava assassinos às ordenanças “poderia ele considerar e tratar como militares uns camponeses que só haviam sentado praça para impunemente cometer cobardes assassínios?”54 ao que Wellington respondeu “Ao recusar-se a estender os direitos da guerra aos que não têm uniforme, esquece – escreveu ele a Massena – que nunca alcançou tanta glória como quando comandou soldados mal aparelhados”55 em referência aos exércitos pobres e esfarrapados franceses de 1793/94.56 Tudo isto numa campanha em que a crueldade, embora abundante também nos aliados, foi permanente do lado francês: “Whatever the underlying motives there is a clear lack of discipline, unwarranted aggression, unbridled cruelty, and indiscriminate looting accompanying French foraging à la debandade”57. A acção das milícias e ordenanças vai acompanhar o avanço do corpo francês e, como consequência, Massena vai ser obrigado a deixar grandes efectivos para trás numa tentativa, que 51

Chaby, 1863: 228; Koch, 1848: 90; 53 Guingret, 1815: 28-29; 54 Kosh, 1848: 90; 55 Kosh, 1848: 90; 56 “One determining factor, confirmed in communication between Wellington and Masséna is that troops of the ordenança were shot upon capture. Eyewitness reports confirm that the French commanders, if not soldiers, recognized that they were ordenança and not brigands”Gray, 2011: 176 ou também “Massena pretendia fuzilar todos os guerrilheiros portugueses – conhecidos como Ordenança – que encontrasse, com o argumento de que eram meros salteadores sem uniforme. Mas a 24 de Setembro Wellington escreveu-lhe a relembrar que nas guerras Revolucionárias «também vós contribuístes para a glória do exército francês ao comandar soldados sem uniforme» Roberts, 2002: 138; 57 Gray, 2011: 165; 52

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veremos falhada, de manter abertas as comunicações com Espanha: “Os bandos [milícias e ordenanças] já infestavam as estradas e aguardavam que o exército tivesse penetrado duas ou três marchas em Portugal para o isolar da sua base de operações bloqueando Almeida e Ciudad Rodrigo (…) Para não debilitar excessivamente o seu exército, o marechal fixou em 1200 homens a guarnição de cada uma das praças”58, “Tendo os franceses três ou quatro navios, o seu movimento era dificultado (na margem esquerda do Tejo em 1810) tanto pelas Ordenanças como pelas canhoneiras britânicas”59, ou como vemos num conhecido autor espanhol: “a Ordenança, uma guarda patriótica portuguesa que recrutaria entre todos os homens adultos, e alguns regimentos de milícia provincial atacariam a vanguarda do exército francês, dificultando os seus abastecimentos, as tarefas de reconhecimento e as comunicações com Espanha. Wellington ia-se retirando com o seu exército anglo-português paulatinamente”60. A campanha segue em direcção ao Buçaco: “para Viseu a 21 [de Setembro de 1810] (…) tinham escapado na véspera a um perigo iminente: o brigadeiro Trant, do corpo de tropas de Bacelar, que saíra de noite de Moimenta da Beira com 2000 homens da milícia, 100 cavalos e cinco peças de canhão, apresentou-se às quatro da tarde pela direita e adiante do comboio (…) acabou com perdas de cerca de vinte homens para cada lado.”61 “foram forçados a esperar durante dois dias inteiros que chegasse a artilharia, cuja marcha tinha sido retardada pela dificuldade dos caminhos e pelos ataques das milícias portuguesas”62. A estratégia de Wellington afirmava-se certeira: “O marechal francês sabia que as comarcas lusitanas limítrofes tinham sido evacuadas pelos seus habitantes e esvaziadas de todos os seus recursos e nesta área apenas permaneciam as formações de Ordenanças, que atacavam os forrageadores franceses e atiravam sobre as suas avançadas (…) as praças de Almeida e Ciudad Rodrigo foram imediatamente bloqueadas pelos insurrectos portugueses e espanhóis63, sem comunicação directa nem sequer notícias do seu exército principal. O cordão da Ordenança previsto por Wellington demonstrava assim a sua eficácia”64. Na posição do Buçaco, onde se travou a famosa Batalha a 27 de Setembro de 1810, só podemos entender na plenitude, o dispositivo escolhido por Wellington, se referirmos as posições das milícias e das ordenanças porque, como ocupavam posições secundárias e cobriam itinerários de retirada, permitiram assim a concentração na Serra de Alcoba às restantes forças de primeira linha: “ordenava-se a Trant para se instalar com as milícias na Beira Setentrional em Águeda e Sardão, sobre a estrada do Porto para Coimbra e a Bacelar para se colocar em posição

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Koch, 1848: 93-94; Fuente, 2011: 206 Mas, 2008: 487; 61 Kosh, 1848: 102; 62 M. de Rocca em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 212; 63 “The French in Almeida found themselves surrounded and cut off to the west by Silveira‟s men and by the Spanish guerrillas of Don Julian Sanchez to east towards Ciudad Rodrigo” Chartrand, 2002: 38; 64 López, 1981: 227-229; 59 60

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de apoio com as milícias de Wilson, se porventura Massena efectuasse alguma demonstração importante sobre o Porto”65. Depois do Buçaco, Wellington, sabendo que não teria força suficiente para deter o envolvimento efectuado por Massena ordenou: “ao Coronel Trant que ocupasse a Serra do Caramulo”66. “Examinemos agora se uma expedição de Coimbra para o Porto tinha possibilidades de êxito: a conquista desta cidade, rica e povoada, exigia pelo menos, um corpo de exército, visto que ela estava protegida pelo corpo de tropas portuguesas de Bacelar, reforçado com as milícias do Norte de Portugal”67. “Os corpos volantes mandados pelos generais Miller e Manuel Pinto Bacelar, pelos coronéis Trant, Wilson e por outros, mediante activas e especiais operações, tinham os franceses de Massena em quase completo bloqueio, não lhes permitindo comunicar com o interior do país e com o vizinho reino de Espanha”68. Depois da reconquista de Coimbra pelas milícias portuguesas sob o comando de Trant (de que resultaram 29 baixas portuguesas)69 também foram decisivas as operações nas retaguardas do exército francês pelas restantes milícias nacionais: “Wilson e Miller chegaram no dia seguinte [a Coimbra] e continuaram a sua marcha até Condeixa e Pombal e capturaram cerca de 300 retardados franceses que caminhavam na retaguarda do exército de Massena”70. Nesse momento não restam dúvidas a Massena, as forças francesas estão cercadas e isoladas: “Os franceses estavam cercados por todos os lados e as suas comunicações eram interceptadas por corpos móveis [de milícias e ordenanças] antes mesmo de terem chegado ao pé das linhas de Torres Vedras (…) Silveira e Bacelar, Trant, Miller, Wilson e Grant tinham ocupado as estradas por onde deviam passar as colunas militares com os víveres e as munições (…) o flanco direito inquietado e acossado pelas investidas que as guarnições portuguesas faziam a partir das praças de Peniche, de Ourém e de Óbidos; os camponeses armados [Ordenanças]71 juntavam-se aos corpos de milícias para atacarem os destacamentos e os soldados franceses que se dedicavam à pilhagem, os quais, acossados sem tréguas, não efectuavam os saques sem sofrerem perdas humanas diárias”72. “O brigadeiro Blunt enviou grupos de Peniche, que estavam constantemente a assediar a direita do inimigo; travaram-se várias escaramuças perto de Óbidos, onde havia uma pequena guarnição portuguesa, comandada pelo capitão Fenwick”73, “o capitão Fenwick – tenente do regimento dos Buff – e daquele ponto saindo em diversas ocasiões, tinha durante dois meses 65

López, 1981: 233; López, 1981: 257; 67 Kosh, 1848: 236; 68 Chaby, 1863: 228; 69 López, 1981: 271; 70 López, 1981: 271; 71 Uma boa síntese que explica esta confusão nas denominações entre Ordenanças, Milícias, camponeses armados, guerrilhas pode ser encontrado em Santo, 2010: 64: “Interessar as populações na defesa do seu território, hostilizando o inimigo invasor, nos seus movimentos e na procura de subsistências, com corpos de guerrilheiros, organizados, localmente, a partir das Ordenanças”; 72 M. de Rocca em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 216; 73 Mayne, 1812: 199; 66

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entrado em mais de vinte combates com as partidas que o inimigo incumbia da busca de provimentos; em todos estes recontros (…) com os nossos milicianos, havia conseguido estorvar os intentos dos franceses, privando-os dos mantimentos obtidos, destroçando-os e obrigando-os à fuga”74. Massena começa “timidamente” a dar mais importância às milícias e ordenanças: “Se bem que as milícias portuguesas não inspirassem sérios receios, o marechal não deixou de tomar as suas precauções”75, “Se, nos desfiladeiros, tivéssemos sido atacados por guerrilhas, de que se conhecia o chefe mais audacioso nestas paragens, ter-nos-ia sido impossível defender-nos”76 mas decide prosseguir o seu caminho “progredindo então Massena numa terra deserta, era ainda atacado pelas milícias e ordenanças nos flancos e retaguarda, numa operação de contínuo desgaste”77. Nas Linhas de Torres Vedras, além de terem sido fundamentais para a sua construção, as milícias e as ordenanças também foram essenciais para assegurar a guarnição das posições fortificadas; em síntese: “este vasto sistema de redutos devia ser guarnecido exclusivamente por tropas de segunda linha”78 ou seja: “As fortificações, guarnecidas por milícias e ordenanças, permitiram a Wellington manter o seu exército (…) pronto para qualquer acção”79. Durante a permanência dos franceses em frente das Linhas de Torres Vedras foram muitas acções: “Todos os dias, destacamentos de cavalaria, sob o comando do General Miller e do Coronel Trant, traziam no regresso, um grande número de franceses que tinham sido enviados em busca de mantimentos”80. Depois foram as tentativas de comunicar com Espanha e França, mas todos os emissários que Massena enviava eram imediatamente capturados, apenas conseguiu passar o General Foy e só foi possível porque levou uma grande escolta: “Esta viajem perigosa do general Foy, à cabeça de um punhado de soldados81, através de uma região desconhecida e inteiramente sublevada, é uma das mais arriscadas e mais interessantes de que é possível dar conta (…) Cortado pelo inimigo em quase todos os pontos, o general Foy fez muitas vezes marchas insidiosas e contramarchas penosas, atravessando terrenos agrestes e impraticáveis, para evitar as ciladas que o cercavam (…) Todo o exército se tomou do mais vivo interesse pelo resultado dessa viajem”82. Inclusivamente, para além do elevado número de forças de escolta, três Batalhões83, foi necessário utilizar unidades francesas para criar manobras de diversão a fim de permitir a saída de Foy: “O Príncipe de Essling estava perfeitamente convencido de que todas as 74

Chaby, 1863: 251; Kosh, 1848: 128; 76 Nöel em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 96; 77 Rita, 2011: 104; 78 López, 1981: 392; 79 Santo, 2010: 70; 80 Shaumann em Norris, 2001: 52; 81 “ao qual tinha sido necessário dar três batalhões para o escoltar até Espanha” Marbot, 1847: 86 ou “el 4º Batallón del 47º de linea y 120 jinetes (en total, algo más de 500 hombres)” López, 1981: 303; 82 Guingret, 1815: 56; 83 Marbot, 1847: 86; 75

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suas tentativas anteriores de comunicação com Espanha tinham falhado porque os seus emissários não foram escoltados por forças suficientes (…) Para proteger a marcha de Foy, Montbrun efectuou, com uma brigada de dragões e dois batalhões de Infantaria, uma demonstração contra Abrantes”84. O trajecto foi de facto muito difícil e penoso: “Entre Alpedrinha e Castelo Branco, caiu no meio de um destacamento de 200 homens da Ordenança (…) escapou à tropa de Silveira, que avançava de Pinhel para Abrantes (…) informado de que as cercanias de Almeida estavam infestadas de milícias portuguesas, dirigiu-se directamente a Ciudad Rodrigo, onde entrou a 8 de Novembro depois de uma marcha de seis dias entre perigos de todas as espécies”85. As acções das milícias (também com forças de 1ª linha) intensificam-se entretanto no norte: “Silveira, o qual na manhã do dia 14 [de Novembro 1810] acometeu os contrários, não completamente conhecedor, todavia, como ele confessa, da superioridade em número dos inimigos que se propôs derrotar (…) o regimento de milícias de Moncorvo mereceu pelo audaz comportamento com que se distinguiu (…) sessenta portugueses, estando esta perda ao inimigo a excedente a trezentos [referindo-se ao número de baixas]”86. As notícias das acções das milícias e ordenanças espalham-se entre as forças francesas e são os reforços franceses a partir de Espanha que, agora já convencidos do que estas forças representam, tomam todos os cuidados para se juntar às forças de Massena em Santarém: “No dia 5, à partida, o general preveniu-nos de que, daí a algumas horas, atravessaríamos uma planície onde poderíamos enfrentar a cavalaria de Silveira”87. “No mesmo dia [Dezembro de 1810], o general Bardet subiu pela margem direita do Zêzere sem nada encontrar; apenas foi alvo do tiroteio de um bando de camponeses que o seguiu durante todo o dia. (…) O reconhecimento efectuado na direcção de Coimbra pelo Coronel Dejean com quatro companhias de escol e um regimento de cavalaria partiu para Condeixa no dia 7 de manhã; receando que as milícias às ordens de Wilson (…) deteve-se (…) e enviou 100 cavalos até Coimbra (…) as tropas portuguesas que de começo se tinham instalado em colunas na ponte julgaram ver nesse destacamento a frente do exército em retirada e apressaram-se a voltar para a margem direita e a retirar as pranchas que haviam sido lançadas sobre o corte da ponte”88. “Finalmente [no princípio de Janeiro de 1811], anunciam-nos que as nossas comunicações estão momentaneamente restabelecidas com Espanha e que se vai enviar um correio para França”89. “Ferrey (…) queria fazer chegar uma carta a Brenier, incumbiu dessa delicada missão um sargento condecorado e um cabo voluntário que mandou acompanhar até dez quilómetros de Castelo Branco. Esses dois valentes nunca chegaram ao seu destino: foram provavelmente, 84

López, 1981: 303; Kosh, 1848: 135; 86 Chaby, 1863: 241; 87 Barrès em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 34; 88 Kosh, 1848: 147; 89 Nöel em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 113; 85

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presos ou assassinados. (…) Ferrey regressava ao exército quando alguns dos seus postos da Cortiçada foram atacados por camponeses [ordenanças] que os perseguiram a tiro de espingarda até à entrada da aldeia (…) Ferrey ordenou a três companhias do 59º que se emboscassem (…) mataram ou feriram uns vinte homens e puseram os outros em fuga. Esta severa lição não deu, contudo, o fruto que o general esperava: os camponeses reuniram-se novamente, perseguiram a retaguarda e flagelaram-na durante o resto do dia”90. “Tropas francesas, em número de três mil homens, comandadas pelo general Gardanne, tinham penetrado em Portugal, mas que após alguns dias de marcha haviam arrepiado caminho apressadamente, entrando em Espanha (…) o general Gardanne tinha dado crédito com demasiada facilidade aos falsos relatos de um desertor português que o governador de Abrantes lhe enviara de propósito [interessante notar que as operações psicológicas também foram abundantemente usadas pelas milícias e ordenanças]; as declarações dos habitantes, que ele pudera encontrar nas nossas retaguardas, tinham contribuído ainda mais para o induzir em erro (…) O general Drouet, conde d‟Erlon, já se encontrava com o seu corpo nas imediações de Ciudad Rodrigo. No entanto, tendo visto regressar desordenadamente as tropas do general Gardanne que, tomadas de um súbito terror, deviam exagerar ainda mais os falsos relatos”91. “Gardanne (…) não estava a mais de poucos dias do exército quando um dos seus espiões veio informá-lo de que uma divisão inglesa marchava ao seu encontro, flanqueada por seis mil portugueses comandados por Silveira”92. De facto, Wellington tinha ordenado as acções na área da retaguarda do exército francês: “Bacelar ordered a concentration of Trant‟s and other troops at Castro d‟Aire so that by January 1811, some 14 000 portuguese troops of all sorts had gathered here”93. Para comunicar com a retaguarda vai ser, de novo escolhido, o único francês que tinha tido sucesso, o General Foy: “ A intenção do General Foy era a de se juntar ao exército por caminhos fora das estradas ordinárias e conhecidas (…) queria assim evitar encontrar-se com o corpo de Silveira”94. “A divisão Claparède (…) também tinha entrado em Portugal, mas permaneceu nas redondezas da Guarda, para proteger as retaguardas do grosso do exército, ameaçadas pelos guerrilheiros Silveira, Muller, Wilson, Trant, Bacelar e Grant. A missão destes chefes de milícia era a de nos perseguir sem descanso e interceptar os nossos comboios e os nossos despachos”95. “Silveira era um dos guerrilheiros que maior embaraço causavam à guarnição de Almeida (…) atacou Claparède na Ponte do Abade, perto de Trancoso (…) debandou, Claparède foi-lhe na peugada (…) general Bacelar mandou vir a toda a pressa do Espinhal Miller e Wilson (…) Silveira esperou a pé firme o seu adversário com 5000 a 6000 homens de infantaria e algumas 90

Kosh, 1848: 148-149; Guingret, 1815: 60; 92 Péreuse em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 167 e também em Marbot, 1847: 87; 93 Chartrand, 2002: 44; 94 Péreuse em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 168; 95 Guingret, 1815: 61; 91

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centenas de cavalos (… ) Claparède atacou (…) Silveira escapou (…) seguido à ponta de baioneta até ao Douro (…) Claparède, já muito afastado do seu centro de operações, retirou”96. “Estes corpos de milícias portuguesas, que só atacavam as partes fracas do exército, isto é, vanguardas, retaguardas, destacamentos, pequenas guarnições ou corpos isolados, faziam-lhe bastante mal e era impossível destruí-los por causa do seu número e do conhecimento perfeito dos lugares”97. “Foi no dia 31 de Janeiro (…) uma pequena aldeia no sopé da montanha chamada serra do Estrela (…) caminho ladeado, à direita e à esquerda, por enormes rochedos, e camponeses portugueses tinham-se escondido atrás deles, para abrir, contra a coluna, um fogo nutrido e contínuo. Perdemos tempo a pô-los em fuga; alguns homens foram mortos, vários outros feridos (…) ao nascer do dia, a chamada não pôde reunir senão um pequeno número de homens [vítimas das ordenanças mas também do tempo] (…) quando chegámos lá, com as poucas bagagens que restavam, recebemos uma saraivada de balas que camponeses emboscados nos rochedos disparavam contra nós (…) a noite de 1 de Fevereiro (…) custou-nos, como dissemos, um terço dos nossos homens e reduzira o resto a um estado de abatimento (…) nós tínhamos evitado, com uma marcha cautelosa através de uma região desconhecida, um encontro com corpos inimigos organizados”98. “Tendo nos nossos calcanhares um inimigo numeroso, bem repousado, bem abastecido, animado pelo sucesso, sem contar com inúmeros bandos de guerrilha [milícias e ordenanças] mais encarniçados contra nós do que nunca”99. Quando os franceses saíram definitivamente de Santarém, a 5 de Março de 2011: “Lord Wellington supunha que ele retirava decididamente para Espanha. Portanto, em vez de contrariar a nossa marcha, seguia-nos de longe sem tentar qualquer recontro sério”100. Para os franceses, prolongar a permanência estava a tornar-se num inferno: “a maior parte dos generais sentia uma aversão a Portugal que os tornava surdos para a voz da verdade”101. A situação era cada vez mais crítica e arranjar comida obrigava a grandes destacamentos de forças (pequenos destacamentos eram imediatamente atacados pelas milícias e ordenanças) e a cada vez maior distância (devido à política de terra queimada): “Ao chegar ao Espinhal depois de ter esgotado toda a sua reserva de biscoito, esse general [Ney] vira-se obrigado a mandar metade das suas tropas forragear para alimentar a outra metade”102.

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Kosh, 1848: 162; M. de Rocca em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 220; também encontramos uma descrição parecida: “os nossos milicianos, atacavam eles, geralmente as partes menos fortes do exército inimigo: as guardas avançadas, as de retaguarda, os destacamentos, pequeñas guarnições, ou os corpos separados” Chaby, 1863: 250; 98 Péreuse em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 171-177; 99 Nöel em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 115; 100 Kosh, 1848: 178; 101 Kosh, 1848: 179; 102 Kosh, 1848: 195; 97

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“O Major-ajudante Lesueur, enviado em reconhecimento até ao Mondego, repeliu para Penha-Corvo uma parte das milícias que Trant já mandara para a margem esquerda do rio”103, os franceses já não ignoram a enorme importância das milícias e das ordenanças: “Esta guerra de pormenor, a que nunca demos importância suficiente (…) porque se considerava pouco glorioso combater milícias e camponeses, tornava-se todavia muito destrutiva com o andar do tempo (…) as pequenas facções que os nossos generais desdenharam por causa da sua fraqueza nunca perdiam uma ocasião para atacar e degolar todos os soldados doentes ou feridos que encontravam isoladamente, nos caminhos, na retaguarda dos nossos regimentos”104. “Os nossos saqueadores, indo através dos campos, furtavam-se facilmente aos bandos portugueses que acossavam sem cessar as nossas tropas ao longo dos caminhos, e que nos faziam pagar sempre a nossa subsistência com o sangue de alguns dos nossos camaradas”105. A 19 de Março à noite, em mais um movimento de retirada francesa, encontramos as milícias e ordenanças a cumprir as ordens no plano geral de Wellington causando atrito e desgaste: “O 9º corpo partiu de Torrozelo pela estrada de Celorico; tendo encontrado por alturas de S. Romão um grupo de 300 homens das milícias, apoiados por paisanos da Ordenança, repeliu-os para os montes”106. Para este tipo de combate de atrição e desgaste os portugueses estavam naturalmente melhor preparados para aguentar longos períodos do que propriamente os seus aliados: “a falta de mantimentos punha Wellington no mais cruel embaraço. Embora o generalíssimo não mostrasse grande imparcialidade na distribuição das tarefas e dos alimentos, os portugueses, mais frugais que os ingleses, tinham até então suportado todas as privações sem um queixume; no entanto a fome dizimava-os havia já alguns dias [finais de Março de 1810], enquanto os ingleses recebiam meia ração”107. Temos estado a descrever as operações das milícias e ordenanças nos flancos e retaguarda do corpo francês mas não nos podemos esquecer que são estes corpos (com as restantes foças de 1ª linha que não estão no Exército aliado) que ocupam, defendem e garantem o restante território nacional: Nas fronteiras do norte de Portugal, do Alentejo e Algarve, estão forças francesas significativas que são mantidas e vigiadas por estes corpos108. Por exemplo, sobre possíveis reforços vindos a sul do Tejo, por Soult, as posições ocupadas maioritariamente pelas milícias portuguesas e tropas espanholas faziam toda a diferença: “há nesta fronteira cinco praças de guerra: Badajoz, Juromenha, Elvas, Campo Maior e Albuquerque; ao todo, contêm 20 000 homens e 2500 cavalos, como é que o corpo de 10 000 homens que ele enviaria para o Tejo 103

Kosh, 1848: 197; Guingret, 1815: 62; 105 Guingret, 1815: 65; 106 Kosh, 1848: 202; 107 Kosh, 1848: 203; 108 “French memoirs speak of Portuguese irregular opposition on the Spanish frontiers, large bands of irregular and poorly armed paysans - although the organization of the companies of ordenança were much better organized and disciplined during the third invasion – men, women and children constructing fortifications to protect river crossings and fighting to the last to protect their homesteads, entire towns and rural areas depopulated and laid waste” Gray, 2011: 242; 104

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poderia chegar ao seu destino sem se ver imediatamente envolvido?”109. Lembremos uma dessas acções na defesa da praça de Campo Maior (12 a 22 de Março de 1811): “quarenta e cinco soldados do regimento de artilharia (…) noventa a cem milicianos de Portalegre e algumas ordenanças, eram somente os recursos de que para a defesa podia dispor o major Talaya (…) o general Girard [comandante do ataque francês], que pela vigorosa defesa, julgava ter feito prisioneira uma forte guarnição, à vista do mesquinho número de soldados que lhe eram presentes, e do aspecto pouco marcial dos nossos milicianos, duvidou (…) Talaya asseverando ser somente aquela a guarnição (…) convencido Girard da verdade desta declaração, não pode ocultar o maior espanto”110. Os franceses querem sair o mais rapidamente possível: “Quanto mais nos aproximávamos da Espanha, mais fortemente o desejo de para lá voltar se manifestava no exército, no qual o clamor era unânime; todos os soldados, oficiais ou generais, ardiam no desejo de sair de Portugal”111 e as milícias e ordenanças são também causa desse mal-estar: a 29 de Março de 1810 “lord Wellington resolveu desalojar-nos da Guarda (…) as divisões Picton, Campbell e Erskine (…) e à esquerda pelas brigadas de milícias Trant e Wilson”112, “o exército de Massena diminuía diariamente devido aos ataques parciais das milícias portuguesas, à falta de víveres e às doenças, estando reduzido a menos de metade do número que tinha aquando da sua entrada em Portugal”113. Até ao final da campanha as operações intensificam-se com as milícias: A 5 de Abril de 1810 “conforme as ordens do tenente-general Spencer, Trant atravessara o Côa com 4000 homens das milícias, instalara-se a dois quilómetros de Almeida e fizera retirar para a praça vários postos exteriores”114 - “Wellington enviou imediatamente as brigadas Trant e Wilson para Gallegos e para o Águeda, onde tomaram posição em Cincovillas e Malpartida”115. Nos últimos dias em Portugal, Massena, além de se defrontar com uma resistência feroz, já não encontra nada para se alimentar: “os cereais da última colheita tinham sido consumidos, em grande parte, pelos ingleses enquanto o exército francês cercava Ciudad Rodrigo e Almeida; o resto fora consumido por Silveira e por Trant ou enviado para lá do Vouga” 116. Tinha terminado a terceira Invasão francesa. “Está fora de dúvidas que se o Imperador tivesse podido continuar a dirigir ele próprio as operações, a Península teria imediatamente sucumbido aos seus golpes (…) mas o que mais espanta é que este grande génio tenha acreditado na possibilidade de comandar, a partir de Paris, os movimentos dos diferentes exércitos que ocupavam, a quinhentas léguas dele, Espanha e 109

Kosh, 1848: 158; Chaby, 1863: 300-301; Kosh, 1848: 204; 112 Kosh, 1848: 214; 113 M. de Rocca em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 223; 114 Kosh, 1848: 226; 115 Kosh, 1848: 230; 116 Kosh, 1848: 235; 110 111

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Portugal, cheio de insurrectos que prendiam os oficiais que levavam cartas e que obrigavam, desta forma, os chefes do exército francês a ficar sem notícias e sem ordens durante meses”117. “Esta expedição a Portugal não foi mais feliz do que as duas que a precederam porque o imperador, desprezando demasiadamente os obstáculos que a natureza do país apresentava, a sua pobreza e os meios de resistência que o amor pela pátria e pela independência pode inspirar a uma nação, não proporcionou os meios de ataque senão em número e conforme a natureza dos exércitos regulares que ele tinha de combater [ou seja, ignorou os corpos de milícias e ordenanças]. Não tomou qualquer precaução para garantir as comunicações com Espanha nem com a subsistência das tropas que lançava para o meio de uma população em armas”118.

Reflexão final “Na Península Wellington introduz princípios para a força militar e condução da guerra mais consistentes do que os de Napoleão. Em primeiro lugar na concepção estratégica de defender um território, tirando proveito da sua posição marítima, da extensão e configuração do terreno, como multiplicador de uma força inferior e envolvimento da força local e das suas populações na sua defesa”119. A vontade de se defender que fez, virtualmente, de cada cidadão um soldado, a possibilidade de organizar parte destes cidadãos em unidades e dar-lhes missões, tarefas e objectivos, e por último, saber que estas formações contribuíam de facto, para uma estratégia global, foi o que fez toda a diferença. Como afirmou mais tarde o Marechal Jordan, o planeamento francês não teve em linha de conta as capacidades das milícias e das ordenanças e a forma disciplinada como as mesmas eram colocadas em acção. Não terá sido este o único erro de Napoleão mas foi sem dúvida um factor fundamental para entender o que desequilibrou a balança a favor dos aliados. “Feitas as contas, os franceses perderam na Península cerca de 240 000 homens, dos quais 50 000 morreram em combate. E os outros? Os outros morreram por doença e muitos à fome. Mas a grande maioria tombou pela acção das tais segundas e terceiras linhas da estrutura de Defesa, no caso português, essa Nação em Armas, feita de Milícias e Ordenanças120, que lhes fizeram a vida negra e a tornaram impossível”121. Quem derrotou Massena foi quem mais sofreu com Massena, foi a população portuguesa, foram milhares os que morreram, muitos mais os que combateram e sem eles, não teria havido vitória.

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Marbot, 1847: 136-137; Marechal Jourdan em Linhas de Torres Vedras – Memórias francesas sobre a III Invasão, 2010: 209; 119 Santo, 2010: 21; 120 Segundo Avillez, 2008: 99 “As Francesas em 240 000, dos quais 45 000 em combate campal, 76 000 por acção das guerrilhas e o restante por doença e acidente”; 121 Henriques, 2008: 131; 118

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