O Papel das Profecias Apocalípticas na Consolidação da Identidade do Estado Islâmico

May 30, 2017 | Autor: Marli Barros Dias | Categoria: Hadith, Fundamentalismo Islâmico, Abu Bakr Al-Baghdadi, Estado Islâmico, DABIQ, Armagedão
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O Papel das Profecias Apocalípticas na Consolidação da Identidade do Estado Islâmico Author : Marli Barros Dias - Colaboradora Voluntária Sênior Categories : NOTAS ANALÍTICAS, ORIENTE MÉDIO, POLÍTICA INTERNACIONAL Date : 25 25UTC agosto 25UTC 2016

O Estado Islâmico, que tem se autoconstruído a partir de uma vertente religiosa radical, adotou desde o princípio o propósito de se verem cumpridas as profecias[1], tornando real o Armagedão[2]. Os seus combatentes, futuros mártires, se vêem no centro da batalha final entre o bem e o mal, na qual eles se assumem como as forças do bem. Estrategicamente, Abu Bakr al-Baghdadi definiu o seu raio de ação desde o Iraque até à Síria seguindo as orientações proféticas, o que, de certo modo, tomou corpo entre os seus jihadistas e se assumiu, também, como arma de propaganda. A própria revista do grupo, intitulada Dabiq[3], faz a alusão a uma pequena aldeia síria, nas proximidades de Aleppo, a aproximadamente 10 Km da fronteira com a Turquia, onde deverá se cumprir a profecia islâmica do confronto apocalíptico entre cristãos e muçulmanos. Dabiq não é uma localidade com riquezas naturais ou arquitetônicas, mas é simbólica, pois é reportada no hadith, a tradição oral islâmica, que afirma citar o profeta Maomé. Abu Huraia, companheiro do Profeta, considerado um dos melhores narradores do hadith, declarou: “A Última Hora não virá até que os Romanos tenham chegado a al-A’maq ou em Dabiq. Um exército composto pelos melhores (soldados) dos povos da terra virá de 1/3

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Medinahttp://www.jornal.ceiri.com.br (para neutralizá-los). Quando eles organizarem as fileiras, os Romanos dirão: Não fiquem entre nós e aqueles (Muçulmanos) que fizeram prisioneiros entre os nossos. Vamos combatê-los; e os Muçulmanos devem dizer: Não, por Allah, nós nunca iremos ficar de lado para que possa combater nossos irmãos”[4]. Este hadith é referido com frequência pelo Estado Islâmico para justificar que a intervenção internacional na Síria foi prevista pelo Profeta Maomé. O mito que alimenta o extremismo do Estado Islâmico corresponde a uma narrativa sunita com mais de 1300 anos, na qual está escrito que, antes da vitória islâmica, 80 bandeiras [80 países] tremularão em solo muçulmano. Os radicais têm acompanhado com expectativa a realidade síria na medida em que, segundo informações, somando todos os membros que fazem parte da coalizão internacional liderada pelos EUA, que estão na Síria, são mais de 60. No entanto, de acordo com uma fonte independente nãomuçulmana, em declarações privadas, hoje, 80 países estão naquele território. Independentemente da veracidade, ou não, das profecias apocalípticas, o fato é que a mitologia tem nutrido o ideal e os objetivos do Estado Islâmico. Se a história fabulosa é insignificante para o Ocidente, o mesmo não acontece com uma boa parte dos beligerantes do Estado Islâmico e para aqueles que pretendem se unir ao grupo. Segundo William McCants, bolseiro do Centro da Instituição Brookings para Política do Oriente Médio, e estudioso veterano de grupos jihadistas sunitas, no que diz respeito à relação entre o Estado islâmico e as profecias, “eles acreditam que o Califado vai voltar antes do Fim dos Tempos e [o planeta] será governado por apenas cinco Califados antes de o mundo acabar. O Estado Islâmico vê o restabelecimento do Califado como o início da contagem regressiva final para o Dia do Juízo. Eles se denominaram como o cumprimento dessa profecia”. O desejo do retorno do Califado é algo partilhado entre todas as organizações insurgentes sunitas. No entanto, para a maioria, a hora ainda não chegou, pois elas não se sentem fortalecidas e com habilidades suficientes para estabelecer aquela que consideram ser a última instituição política. Na visão de muitos sunitas radicais, o restabelecimento do Califado também passa pela conquista de amplo apoio popular, mas o Estado Islâmico discorda destas teses e crê que deve construir o Califado a qualquer preço e, se não conseguir apoio das populações, “deve impor a sua vontade de qualquer maneira”. Esta visão estreita da realidade, própria de al-Baghdadi e de seus jihadistas, ao contrário daquilo que se possa pensar, tem servido para atrair adeptos em nome de uma história fantástica que culmina no cumprimento de uma profecia. Enquanto isto, o Estado Islâmico, apesar de estar perdendo território é, de fato, conforme afirma William McCants, um Estado na medida em que “ele aumenta as receitas de impostos. Ele monopoliza a violência no território que controla. Ele fornece serviços públicos. Algo na ordem de dois a cinco milhões de pessoas vivem sob seu domínio. Eu acho que por qualquer medida, é um Estado, embora um Estado fraco. É certamente mais do que uma organização insurgente e muito mais do que um grupo terrorista”. Não é possível afirmar que o fortalecimento do Estado Islâmico decorra unicamente em função das profecias, que al-Baghdadi tem usado 2/3

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para traçar os seus objetivos e como meio de publicidade para, deste modo, criar a http://www.jornal.ceiri.com.br imagem de que ele é parte da predição que terá, em Dabiq, a batalha final. No entanto, apesar dos reveses nos campos de batalha, o líder insurgente tem conseguido manter o ideal do grupo vivo junto das suas fileiras e, simultaneamente, tem atraído para o conflito sírio muitos países que, gradativamente, começam a definir alianças, colocando o Oriente Médio e o mundo na incerteza quanto a um futuro seguro. ----------------------------------------------------------------------------------------------Imagem “Dabiq, o epicentro do Armagedão do Estado Islâmico, é o local onde decorrerá a batalha final entre os jihadistas e os infiéis” (Fonte): http://cdn.newsapi.com.au/image/v1/acae8eb5933555ac73f1e0bf254b036b?width=1280&api_key=zw4ms efggf9wdvqswdfuqnr5 ----------------------------------------------------------------------------------------------Notas e fontes consultadas, para maiores esclarecimentos: [1] Para o cristianismo, que serve, em termos histórico-teológicos, como ponto de partida para o islamismo, “toda profecia verdadeira é palavra de Deus comunicada através do vidente, que atua como canal e não tem capacidade de profetizar por si mesmo. Os videntes são mensageiros da revelação de Deus porque somente Deus conhece o futuro”; ROBERT HOWELLS, O Último Papa. Francisco, o Declínio do Vaticano e as Profecias de São Malaquias, São Paulo, Editora Pensamento – Cultrix, 2015, trad. do inglês por Euclides Luiz Calloni, p. 64. [2] O Armagedão é identificado, na Bíblia, como a batalha final entre o bem e a sociedade iníqua, na qual Exércitos de todas as nações da Terra vão se encontrar na colina de Megido. Esta batalha aparece citada duas vezes no Livro do Apocalipse (Ap. 16, 14:16), embora, ultimamente, o Armagedão esteja associado a uma catástrofe mundial ou, também, a uma guerra nuclear global. A Bíblia fala do Armagedão como o local de uma guerra que preparará o caminho para um tempo de paz e justiça, que destruirá a iniquidade (Sl. 94, 20:23). [3] A revista Dabiq, da qual se publicaram, até hoje, 15 números, foi dada a conhecer em 2014. Os arquivos estão disponíveis, para download, no seguinte sítio web: http://www.clarionproject.org/news/islamic-state-isis-isil-propaganda-magazine-dabiq [4] Ver: Sahih Bukhari, Hadith, Hadith n.º 177, Volume 4, Livro 52 [854 d.C.]. Disponível online: http://sunnah.com/muslim/54/44

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