O Papel das Rochas na Estruturação do Relevo

July 19, 2017 | Autor: Helio Feitosa | Categoria: Geografia, Morfologia
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Descrição do Produto

UNIDADE DE MORRINHOS Rua 14 n.º 625 – Jardim América – Morrinhos -GO CEP 75650-000 - Telefax (062) 413-1097

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA O PAPEL DAS ROCHAS NA ESTRUTURAÇÃO DO RELEVO1 SILVA, Ana Maria de Oliveira e FEITOSA, Hélio Pereira2

RESUMO

O objetivo desse estudo foi de dar um corpo didático aos

conhecimentos

adquiridos em sala de aula. Para este objetivo escolhemos o tema “O papel das rochas na estruturação do relevo”, como local de aplicação o município de Morrinhos-GO e como alvo a 2ª fase do ensino fundamental. Para tal reunimos dados de diversas fontes sobre a geologia, a geomorfologia e o uso da terra do município e baseados nesses dados construímos perfis e blocos diagramáticos

de pontos distintos do município. Como resultado obtivemos um

material que serve de base para estudos da formação geológica, da geomorfologia, da importância econômica e sua aptidão, da capacidade de suporte das áreas trabalhadas etc.

PALAVRAS CHAVES

Aula prática, rocha, estrutura e relevo.

1

- trabalho apresentado a disciplina de Mineralogia sob orientação do Professor Carlos Henrique Jardim. - graduados do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade Estadual de Goiás – Unidade Morrinhos. 2

1

INTRODUÇÃO

Atualmente, a velocidade dos meios de comunicação nos propicia a percepção clara de que o mundo é extremamente dinâmico, mesmo que os aspectos das formas sejam mantidos pelo fluxo de matéria e de energia que atravessa o sistema, que segundo Drew (1989) é definido como “um conjunto de componentes ligados por fluxos de energia e funcionando como uma unidade”, estes não permaneceram estáticos e imutáveis sofrendo mudanças tão lentas que não conseguimos perceber ou tão rápidas que nos deixam impossibilitados de compreendê-las com simples observações. Surge então a necessidade de se fazer com que os conhecimentos científicos tomem uma forma didática sem perda de sentido e conteúdo, ou seja, mantendo a complexidade, característica à realidade, e a linguagem científica inerente ao conhecimento, permitindo assim a experimentação e a vivência que propiciarão análises mais críticas que as comumente executadas, incentivando a projeção para o concreto do conhecimento adquirido e auxiliando no entendimento dos processos envolvidos na modelagem da superfície terrestre, mais especificamente o relevo continental , associados ao conjunto de processos endógenos, exógenos, antrópicos e naturais que

interagem sobre si revezando o comando das ações.

A resistência dos materiais que os diferentes tipos de rocha podem oferecer aos agentes intempéricos, tem grande importância na explicação das formas que o relevo assume, e como não se pode estudar este papel das rochas na estruturação do relevo sem se considerar fatores como tipo de clima, cobertura vegetal, declive, uso da terra etc, tivemos como objetivo desse trabalho o desenvolvimento de um roteiro de aula prática apoiado em modelos simplificados da realidade em forma de representações gráficas, que segundo Martinelli (1991) devem “integrar o sistema semiológico monossêmico”, ou seja, as representações visuais devem ser fiéis ao objeto representado e não devem permitir ambigüidades na interpretação, evidenciando principalmente o papel das rochas na estruturação do relevo. A hipótese de trabalho admite que as aulas de Geografia ministradas de forma tradicionalista, diante do exposto, se tornam puro discurso conferindo ao aluno a imagem de que a Geografia é um exercício de memorização de conceitos e nomes que não terão utilidade fora da sala de aula. No entanto, quando se contextualiza o conteúdo com a realidade do aluno, esse ganha significado e torna-se alvo do interesse do aluno “considerando-se o ensino como processo de construção de conhecimentos e o aluno como sujeito ativo nesse processo” 2

(CAVALCANTE, 2001). Na medida em que os conhecimentos geográficos passem a compor o conjunto de recursos cognitivos necessários e uma compreensão crítica da realidade.

A área de estudo

O roteiro de aula prática foi confeccionado para o município de Morrinhos-GO, a sul da capital Goiânia, as margens da BR – 153, conforme figura 01. figura 01

Morrinhos localiza-se sobre o Grupo Araxá, com predominância de litologias metarmóficas como xistos de fildepato, moscovita, grafita, quatizito etc, com cobertura detrito – arenosos – argilosas com formação de latossolos avermelhados com ou sem desenvolvimento de crosta ferruginosa. O alvo do roteiro se insere no Planalto central Goiano, Planalto Rebaixado de Goiânia, Chapada de Morrinhos ao Médio Ribeirão das Araras. Apresentando relevo de topo tabular com interflúvios3 planos e pouco ondulados, submetido ao clima Tropical, quente e semi-úmido, com duas estações: uma seca e outra mais chuvosa. No geral há predomínio de cerrado com ocorrência de enclaves de Floresta Estacional Decidual e mata ciliar ao longo dos cursos d’água.

3

– ponto mais baixo do vale onde as vertentes se encontram.

3

A zona urbana localiza-se em áreas plana enquanto a rural ocupa tanto plana quanto ondulada, havendo o predomínio de agricultura nas partes planas e pecuária nas onduladas.

Procedimentos metodológicos

A partir da proposta de desenvolver um roteiro de aula prática apoiado em modelos simplificados da realidade em forma de representações gráficas, evidenciado principalmente o papel das rochas na estruturação do relevo, reunimos material cartográfico sobre o município de Morrinhos, por residirmos nele. De posse das folhas topográfica, geológica e geonorfológica do município e embasados no quinto táxon proposto pelo professor Jurandyr Ross em “O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo (1922), que se refere às vertentes fornecendo-se uma escala apropriada aos nossos objetivos, fizemos leituras e interpretações das folhas que nos permitiram a escolha de quatro postos garantindo a representatividade das feições do relevo, dentro do possível, considerando ainda as nossas possibilidades de acesso a estes postos, custos, tempo etc. Posteriormente à determinação dos pontos, fizemos uma vista a campo com a finalidade de captar o que fosse possível da paisagem morrinhense através de fotografias, entendo paisagem como: “Organismos complexos, feitos pela associação específica de formas e associados pela análise morfológica, sendo constituídos pela combinação de elementos naturais e de recursos naturais, disponíveis em um lugar, com as obras humanas correspondendo ao uso que deles fizeram o grupos culturais que viveram nesse lugar”. (SAUER in CHISTOLOLETTI, 1999).

Ou seja, resultantes das relações do homem com a natureza, pois princípios semelhantes podem promover resultados diferentes e diferentes gêneses podem trazer resultados semelhantes, dependendo da ordem como os agentes atuantes e os elementos se apresentam bem como das suas proporções, criando o que segundo Morin (2002) são as “propriedades emergentes”. Assim, selecionamos dois pontos que retratassem em primeiro plano a área urbana e em segundo a rural, possibilitando a visualização do uso de terra de forma mais abrangente, são eles: o ponto 01, localizado na Estrada Municipal sentido Morrinhos – Piracanjuba após o

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bairro Jardim Romano, no topo4 do Morro da Catraca. Apresenta a cidade de Morrinhos ocupando as duas vertentes5 do Córrego do Açude, com remanescente de vegetação à direita e agropecuária ao fundo e o ponto 02, localizado na saída para Buriti Alegre antes do aeroporto municipal, mostrando a cidade na margem esquerda do Córrego Cordeiro, com renascente de vegetação e na margem direita agropecuária. Ambos os pontos, 01 e 02, exemplificam uma topografia plana e o contato do urbano com o rural. Escolhemos ainda dois pontos na área rural destacando a topografia, o uso da terra e o relevo que são: ponto 03, localizado a aproximadamente 8 km da cidade de Morrinhos em direção a Burite Alegre à margem esquerda da pista, apresentando uma parte plana e outra ondulada, com uso da terra para práticas agropastoris acompanhando a drenagem

e remanescentes

de vegetação

e ponto 04 localizado na mesma rodovia que o 03, a

aproximadamente 5 km de Morrinhos na margem direita. Contém o uso da terra e a ocorrência de topografia ondulada6 e plana7. A junção dos dados das folhas cartográfica, geológica e geomorfológica com fotos dos pontos escolhidos resultaram em perfins topográficos e blocos diagramáticos. As fotos são representações que apresentam o arranjo especial dos elementos da paisagem da forma como captamos a primeira vista, ou seja, seu principal uso é apreender uma imagem estática da paisagem sem organização ou sistematização. Os perfis foram construídos a partir das curvas de nível das áreas escolhidas, ligando-se os pontos de mesma cota, e acrescidos de informações acerca da geologia e do uso da terra. Os perfis topográficos têm como ponto forte a possibilidade de uma melhor visualização das feições do relevo. Além disso, contam com a presença do arranjo da estrutura do relevo (solo e rocha). No anexo I a ilustração simplificada da construção de um perfil. Os blocos diagramáticos são representações que reúnem as informações dos perfis às informações das fotos. No entanto, diferentemente das fotos, estes apresentam as informações de forma ordenada e sistêmica e distingue-se dos perfis por apresentarem as informações em três dimensões, o que permite uma melhor visualização da distribuição espacial das feições do relevo e do uso da terra. Para o efeito tridimensional do bloco diagramático, é recomendado o uso de no mínimo três perfis topográficos da mesma área, retirados de uma secção oblíqua da folha

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- Parte mais elevada de um morro ou de uma elevação. – planos de declives que divergem dos cristais ou dos interflúvios, enquadrados os vales. 6 - ou de colinas: terreno com pequenas elevações com declives inferiores a 50 m. 7 - terreno relativamente uniforme sem elevações. 5

5

topográfica ( figura 02) e dispostos em uma reta que forme um ângulo de no mínimo 30º com o eixo horizontal da folha, numa distância entre os perfis proporcional à eqüidistância das curvas de nível e posteriormente ligam-se os pontos de mesma cota dos perfis. No anexo II temos um exemplo simplificado da confecção de um bloco diagramático. SECÇÂO OBLÍCUA DA FOLHA TOPROGRÁFICA

figura 02

FOLHA SE-22-X-D-IV IBGE

Desse modo temos as fotos 01 e 02 com seus respectivos perfis e blocos diagramáticos exemplificando formas de relevo aplainados8, que remetem a um lima seco9 e mais antigo, e os conjuntos de representações gráficas 03 e 04 ilustrando feições onduladas, ou seja, colinas resultantes de clima úmido10 e mais recente. No anexo III.

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– relevo que sofreu intemperismo capaz de promover o desgaste de elevações existentes aproximando as altitudes a um mesmo valor. 9 - que possui irregularidade de chuvas, com longos intervalos entre elas, temperaturas altas durante o dis (acima de 30 ºC. 10 - que possui regularidade de chuvas, estações bem definidas e temperaturas médias abaixo de 30 ºC

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RESULTADOS

Enfim apresentamos um roteiro de aula prática sobre o papel das rochas na estruturação do relevo, para Morrinhos-GO, voltado para a segunda fase do ensino fundamental, que é contemplada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia com o estudo de questão do relevo, com ênfase na parte física. O roteiro é inserido aqui, por além do motivo já citado, ter caráter complementar por tratar também de questões econômicas, sociais, da realidade cotidiana do aluno etc, podendo trabalhar ainda com temas transversais como Meio Ambiente e Temas Locais. Esse material pode servir também de ponto de partida para se determinar a capacidade de suporte, comparando a aptidão com o uso da terra, sabendo que o uso é regido pela atividade humana que comprime a escala do tempo, acelerando os processos, e cientes de que segundo Drew (1989) “a intensidade dessas alterações inadivertidas dependem em primeiro lugar do espaço (tensão) aplicado ao sistema pelo homem e, em segundo lugar, do grau de sustentabilidade à mudança (sensibilidade) do próprio sistema”. Dessa forma o entendimento dos processos de formação geológica é facilitado e por conseqüência

o papel das rochas na estruturação do relevo bem como a importância

econômica de cada área, assim pode-se chegar a entender a distribuição espacial da morfologia morrinhense e a partir dela todo o conjunto do país, isto é, partindo-se do particular para

compreender o geral

e vice e versa. Atingindo este nível as aulas de

Geografia cumprirão seu papel, conferindo ao educando uma visão geográfica e sistêmica do mundo, sendo segundo Morin (2002) o “sistema uma umidade global e organizada de interrelações entre elementos, ações ou indivíduos”.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALCANTI; Lana de Souza. Geografia e práticas de Ensino. Goiânia: Alternativa, 2002. CHISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. 1ª ed. São Paulo: Rdgnd Bluches, 1999. DREW, D. Processos Internativos: Homem - Meio Ambiente. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. MARTINELLI, Marcelo. Curso de Cartopografia Temática. São Paulo: Contexto, 1999. Ministério do Planejamento e Coordenação Geral. IBGE – Superintendência de Cartografia. Carta do Brasil. Folha SE – 22 – X – D – IV. Morrinhos. Carta Topográfica. 1ª ed. 1974. MORIN, Edgar. O método 1: a natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina, 2002. Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado de Goiás. Mapa Geológico e Mapa Geomorfológico. Área de abrangência: Microrregião Meia Ponte, 1999. ROSS, Jurandys Luciano Sanches. O Registro Cartográfico dos Fotos Geomórficos e a Questão da taxonomia do Relevo, Revista do Depto. de Geografia – FFLCH-USP, 6: 17-29. 1922.

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ANEXO I Procedimentos básicos para a confecção do Perfil topográfico

Talão A Após a construção de um plano com dois eixos perpendiculares entre si, um vertical contendo a altimetria e outro horizontal com os a mesma extensão do talão ( o talão consiste em um pedaço de papel no qual serão registradas as informações referentes as curvas de nível), transfere-se os dados marcados no talão para o plano do perfil marcando as altimetrias. EXEMPLO DE PERFIL

T O P O

VERTENTE

Posteriormente a marcação dos pontos de cota altimétrica, segue-se ligando-os com o cuidado de se suavizar possíveis retas para que se forme o perfil. Com o perfil traçado insere-se as informações que se deseja destacar (vegetação, construções etc). Acima temos um perfil com informações básicas. 9

ANEXO II Etapas básicas para a construção do Bloco Diagramático PERFIS DISPOSTOS EM EIXO DE 30°

NE SO

30° No eixo que forma um ângulo de 30° com o eixo horizontal, são dispostos os perfis, observando-se a mesma ordem e distância em que eles se encontram na folha topográfica (fig. 02) e obedecendo a altimetria de cada um. PERFIS E DRENAGEM

775

600

NE SO Aos perfis acrecenta-se a drenagem para que se tenha uma melhor localização dos interflúvios, que são os pontos mais baixos do terreno onde as vertentes se encontram e das cristas, que diferem dos interflúvios por serem os pontos mais altos do terreno, proporcionando um melhor destaque das áreas de declive e aclive. 10

ANEXO II EXEMPLO DE BLOCO DIAGRAMÁTICO

775

600

NE SO

Após termos unido os perfis e as curvas de nível no mesmo desenho podemos usar de efeitos de sombreamento ou como no caso acima de rachuramento para dar o efeito de três dimensões. Com o bloco diagramático pronto, temos uma visão em perspectiva e em três dimensões da área desejada e podemos então adicionar as informações que queremos destacar.

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ANEXO III

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