O papel do jornalismo na pós-modernidade

June 4, 2017 | Autor: Eduardo Gayer | Categoria: Sociology, Comunicacion Social, Comunicacion
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O papel do jornalismo na pós-modernidade Eduardo Gayer Sabe-se que o a mídia atua como um quarto poder. Como o “poder moderador”, exercido pelos imperadores brasileiros ao longo de seus reinados para diluir decisões dos demais poderes – o que configurava um absolutismo travestido de regime liberal – a mídia, com sua persuasão, consegue reverter e até mesmo direcionar decisões do Executivo, Legislativo e Judiciário a seu bel-prazer. Vê-se o decisivo papel da grande imprensa na eleição de Collor e em sua derrubada; na deliberada blindagem em relação ao desgoverno do PSDB em São Paulo; na notável campanha negativa sobre a vinda de médicos cubanos ao Brasil; no midiatizado julgamento do mensalão. Em suma: através de seu singular poder de difusão de informações, os oligopólios da mídia utilizam-se de concessões públicas para manipular a opinião pública, e consequentemente nos três poderes, de acordo com seus interesses. Isso por si só revela o quão urgente deve-se democratizar a imprensa de modo a permitir a difusão de diferentes visões políticas. O monopólio da informação e muito perigoso e acaba por configurar um tal quarto poder. O jornalismo tradicional acaba por servir aos interesses da grande imprensa e seus (co)mandantes. A narrativa da notícia, sempre tão igual nos diferentes veículos tradicionais, possuem a mesma estrutura com o objetivo de não romper com o sistema proposto. E o jornalismo alternativo, por sua vez, acaba por atrair cada vez menos gente, pela razão de ser pouco reconhecido e com condições de trabalho degradantes – que vão desde empregos informais e com baixa remuneração a amaças de morte por propor algo que rompa com o tradicional. É evidente que nosso jornalismo está em crise. Diversos fatores podem explicar tal crise: o advento da internet, que permitiu a difusão de outros pontos de vista com mais facilidade; comportamentos da pós-modernidade, ávidos pela instantaneidade e que não suportam ler ou assistir a reportagens longas; descrença e desinteresse na política; cortes maciços em meios de comunicação tradicionais. O jornalismo, mais cedo ou mais tarde, precisará reinventar-se. No entanto, apesar de tal crise, é evidente que o jornalismo, ou melhor, a mídia em geral, ainda possui profunda influência nos indivíduos – configurando-se como o tal quarto poder. Stuart Hall traz-nos a ideia de que a pós-modernidade acabou gerando uma fragmentação de identidades. Ou seja, hoje, não haveria mais a identificação a um único e determinado grupo. Diferentemente do século XIX, atualmente não se é apenas burguês ou proletário, mas pode-se assumir variadas identidades de acordo com o contexto em que se está inserido: proletário, homossexual, comunista, etc. As identidades, de fato, fragmentaram-se. O jornalismo tem (ou poderia ter) um papel central nesse processo, através da concessão de voz às mais diversas identidades, inseridas em seus grupos, para legitimá-las na sociedade por meio de seu quarto poder. Entretanto, não é isso que identifico, ao menos na mídia hegemônica: na verdade, a grande tendência é de se promover uma cultura una, sem divergências e fragmentações de identidades que

são oprimidas, com o claro objetivo de esconder as tensões sociais que podem levar a abalos no status quo. Nossa imprensa é cara ao positivismo e seus dizeres de ordem para chegar ao progresso. A configuração de uma cultura una e comum é essencial nesse processo. E a grande mídia tem papel fundamental nisso, realmente, associada à globalização. A globalização, sob a falsa pretensão de universalizar culturas e costumes, na verdade acaba por impor a cultura do país dominante e imperialista e sufocar as culturas regionalistas e populares. Com ajuda da indústria cultural e da imprensa, transforma a cultura imperialista em grande sucesso planetário e não dá espaço às culturas populares, tampouco às manifestações das novas identidades formadas através da fragmentação de identidades. Portanto, embora a internet, assim como o jornalismo, tenha uma dupla personalidade – podem quebrar com as tendências da imprensa hegemônica ou fortalecê-las – o que se verifica na mídia é a configuração de um quarto poder, altamente influente, cujo objetivo é conservar o status quo, formando uma cultura una e estável que impede a manifestação de tensões sociais e das diversas identidades formadas com a fragmentação narrada por Stuart Hall. O jornalismo hegemônico, de fato, é conservador.

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