O papel dos movimentos sociais na construção social de mercados agroalimentares: a experiência da região andina.

June 13, 2017 | Autor: I. Castilla Carra... | Categoria: Markets, Movimentos sociais, Región Andina
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O papel dos movimentos sociais na construção social de mercados agroalimentares: a experiência da região andina GT 35 - Sociedade e vida econômica

Resumo O artigo apresenta uma discussão sobre o papel dos movimentos sociais na construção social de mercados ilustrando empiricamente com os mercados de proximidade na Colômbia e do Equador. São objetivos do artigo analisar como os recursos dos movimentos sociais são usados para a ação econômica e social da construção de mercados de proximidade nos casos da Colômbia e Equador e identificar os elementos da governança associativa e da ação coletiva da Agrosolidaria e do Messe associados ao processo de construção social de mercado. Para ação coletiva e governança associativa, é elaborado um esquema analítico baseado nas contribuições de Ostrom (1990; 2000; 2005) e Marsden (2013). Os dados para elaboração do artigo resultam de documentos e entrevistas em profundidade que foram realizadas com os atores pertencentes às redes Agrosolidaria na Colômbia e Messe no Equador.

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O papel dos movimentos sociais na construção social de mercados agroalimentares: a experiência da região andina Introdução

São poucas as pesquisas sobre o papel dos movimentos sociais em atividades econômicas, especialmente nos mercados. Além disso, há também uma lacuna na literatura sobre desenvolvimento rural e construção social de mercados em torno da organização econômica produtiva e seus circuitos de circulação das economias indígenas e camponesas em países andinos. Na primeira década deste século, emergem iniciativas que conectam mercados de proximidade tradicionais aos movimentos críticos da modernidade tardia, especialmente aqueles que questionam os padrões de consumo e de produção nos sistemas agroalimentares. Segundo Schiller-Merkens (2013), muitos dos recentes avanços nos temas de mercado ganham seu significado a partir de valores morais sedimentados originalmente nas esferas dos movimentos sociais. Alguns estudos se referem ao ativismo como uma força perturbadora nos mercados existentes ou usam a literatura dos movimentos sociais para conceituar a criação de mercado como um processo de mobilização coletiva (FLIGSTEIN ET MCADAM, 2012). No entanto, não se sabe muito sobre o papel dos movimentos sociais como fornecedores de cultura material para a estruturação cultural dos mercados, em particular se os valores morais partilhados por estes movimentos tornam-se parte da justificação destes novos mercados. Segundo Gendron e colegas (2006), o mercado mais do que o Estado passa a ser objetivo central de atuação dos chamados novos movimentos sociais econômicos. Estudos como o de King e Pierce (2010) observam as mudanças institucionais e inovação dos mercados, influenciadas pelo papel que a controvérsia que colocam os movimentos sociais pode trazer. Essa controvérsia do mercado ajuda a refazê-los, modificá-los ou criar outros mercados. Segundo os autores, os mercados são contestados por atores que estão insatisfeitos com os seus resultados e usam o mercado como uma plataforma para a mudança social. King e Pierce (2010) citam a McAdam e colegas (1996) quando afirmam que movimentos sociais representam lutas orientadas às mudanças por parte de grupos que têm

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um acesso desigual ao poder ou que se opõem ao status quo. Se trabalhos teóricos sobre movimentos sociais tendiam, até o final da década de 1990, segundo MacAdam e colegas, a considerá-los como opositores ao Estado, os trabalhos mais recentes apontam para outra direção, indicando que de fato muitos movimentos orientados ao mercado têm procurado intervenções estatais para prevenir que os mercados causem resultados econômicos nocivos. As contribuições destes autores também colocam o papel dos movimentos sociais como ferramenta para alterar os mercados já existentes, seja desafiando às corporações, criando sistemas transnacionais de regulação privada ou criando alternativas de mercado através do empreendimento institucional. King e Pierce (2010) nos mostram que os atores de movimentos sociais podem escolher criar alternativas de mercado fora das grandes organizações. Para eles a produção de um novo mercado ou de novas formas organizacionais contempla recriar as possibilidades em que ditos mercados podem ser usados. Segundo os autores, o sucesso da criação de alternativas de mercado estaria na habilidade em mobilizar recursos coletivos e identidades e legitimar novas categorias. Schiller-Merkens (2013) recorda que as estruturas dos movimentos sociais são adotadas na arena econômica dos mercados. Valoração como avaliação Aspers e Beckert (2011) ressaltam uma forma específica de valor simbólico que é o valor imaginativo; este tipo de valor se assemelha ao atribuído por diversos atores dos movimentos sociais. Segundo Beckert (2011) o valor imaginativo aparece quando o dono do bem o vê como uma ¨conexão¨ com ideais simbolicamente representados no objeto. Os movimentos sociais têm valores e práticas que procuram traduzir tais valores. Por exemplo, o movimento da economia solidária e o movimento agroecológico têm em comum valores como a reciprocidade, que se traduz por exemplo, no consumo do que produtores do próprio movimento produzem. O valor imaginativo é dado a alguns bens que são representações simbólicas de ideais defendidos e valores que podem ser apropriados imaginariamente por meio da compra dos bens. Nas experiências objeto da pesquisa, se evidencia que grupos de consumidores participam de feiras, ajudam na elaboração das cestas e consomem regularmente os ¨bens¨ os quais representam simbolicamente a luta de mercado que as organizações fazem para a construção de tais espaços. Segundo Beckert (2011) ao que se dar valor quando se fala de

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valor imaginativo é aos próprios valores. Experiências de efervescência coletiva são uma das fontes de valor imaginativo, e é a comunicação entre consumidores, especialistas, produtores e críticos o que o mantêm vivo. Por outro lado, para identificar como os atores determinam o valor de um bem se realiza uma avaliação. Aspers e Beckert (2011) ressaltam que existe um mundo complexo de mecanismos sociais posicionados atrás da tarefa de produtores e consumidores de realizar juízos de valor no mercado. Segundo os autores o problema do julgamento das qualidades está em estabelecer o que se qualifica como qualidade. Eles reforçam que muitas pesquisas na sociologia econômica têm se focado em processos de qualificação de bens como uma parte indispensável da constituição do valor do mercado. E para pesquisar como os atores chegam a tais julgamentos das qualidades dos produtores tem sido aplicados diversos conceitos que fazem parte da teoria das convenções, conceitos como frame, status, networks, qualification, market devices e circuits of commerce. A economia das convenções para Aspers e Beckert (2011) começa a partir do problema da incerteza, levantando a pergunta de como os atores coordenam suas atividades nos mercados. Uma dessas incertezas é a da qualificação dos bens, que se refere ao desenvolvimento de conhecimento e entendimentos normativos compartilhados sobre as qualidades dos produtos que fazem parte dos intercâmbios. A avaliação (valuation) de bens usa dispositivos sociais que permitem a categorização das diferentes ofertas nos mercados e assim as incertezas podem ser reduzidas. Para Aspers e Beckert (2011) essa classificação e categorização dos bens permite distinguir seu valor com relação a outros, os autores mencionam o marco analítico conceitual de Lucien Karpick, quem desenvolveu os mecanismos que podem ser aplicados para determinar a qualidade dos bens singulares nos mercados. Com estes mecanismos, Karpik se refere aos dispositivos de julgamento, que são “marcos para a ação individual e coletiva” (Karpik 2010:44). Esses marcos dissipam a opacidade do mercado por meio da redução dos déficits cognitivos dos atores do mercado, resultado do conhecimento incompleto dos produtos e fornecendo motivos para suas escolhas. Os dispositivos de julgamento criam uma ordem nos mercados sinalizando as diferenças na qualidade dos produtos e entre o status dos produtores. Os dispositivos identificados por Karpik (2010) para classificar bens e serviços

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são: as redes pessoais, os cicerones, as confluências, os rankings e as denominações. Aspers e Beckert (2011) revelam que a classificação dos bens não é somente uma forma de coordenação, senão também de distribuição e menciona como os diferentes tipos de estruturas sociais como as redes, as instituições, convenções, tem um papel na atribuição de valor e preço dos produtos, assim como as estruturas desempenham um papel sobre o processo da ação, focando a atenção sobre as práticas sociais. Segundo Beckert (2009), o valor depende da avaliação contingente de qualidade do produto, por isso a classificação de bens é parte de uma luta de mercado. Assim, os movimentos sociais têm um papel na luta política para o uso de dispositivos de julgamento específicos. A valoração, como processo de avaliação, encontra-se no coração de uma abordagem de sociologia econômica (Vatin, 2013). Ela retoma o tema central da criação e da atribuição do valor. A disputa em torno dos valores materiais e simbólicos dos bens é um vetor fundamental dos mercados de proximidade.

Ação coletiva e governança associativa

Em The Logic of Collective Action, Olson explica o comportamento de indivíduos racionais que se associam para a obtenção de algum benefício coletivo que se converta em vantagens individuais. Segundo Olson, o interesse comum dos membros de um grupo para obter um benefício coletivo nem sempre é suficiente para que cada um deles contribua na obtenção de tal benefício. O indivíduo pode não participar deixando que os outros paguem pelo custo da obtenção do seu benefício, pois sabe que participando ou não, não lhe será negado o beneficio que é coletivo. Segundo Ostrom (2000), Olson com esta publicação desafiou a fundação do pensamento democrático moderno, oferecendo a provocativa afirmação de que pessoas auto-interessadas não contribuiriam à produção de um bem público. Este argumento se converteria na conhecida Tese de Zero Contribuição que sustenta, segundo a autora, que o indivíduo não pode superar os problemas de ação coletiva e precisa ter regras aplicadas externamente para alcançar o seu próprio interesse a longo prazo. No entanto, Ostrom vem contestar estas e outras teses sobre a ação coletiva que, segundo ela, apresenta várias contradições.

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O trabalho de Ostrom (2000) parte da questão fundamental da diversidade de tipos de indivíduos, alguns com maior vontade que outros de iniciar alguma reciprocidade para alcançar benefícios da ação coletiva. Por isso uma das suas preocupações centrais foi a de como potenciais cooperadores sinalizavam uns aos outros e desenhavam instituições que reforçaram em vez de destruir a cooperação condicional. Para a autora, enquanto não houvesse uma verdadeira teoria da ação coletiva, as teorias evolucionárias pareceriam mais capazes de explicar as várias conclusões do laboratório e no campo e trazer o núcleo de uma teoria geral. Segundo Ostrom (2000) a maioria dos estudos dos economistas políticos assumem um modelo padrão único de ação individualmente racional (ou que ela chama de egoístas racionais). Uma ampla gama de experiências econômicas têm encontrado que o pressuposto egoísta racional funciona bem para prever o resultado de situações competitivas de mercado, mas com relação a situações de ação coletiva, os resultados são complemente diferentes. Boas experiências públicas são amplamente utilizadas para examinar a disposição dos indivíduos para superar os problemas da ação coletiva. Ostrom (2000) apresenta uma boa experiência pública onde cada indivíduo está dotado com um conjunto de ativos fixos e deve decidir quantos desses ativos contribuem ao bem público. Quando um indivíduo faz por exemplo uma contribuição de 10 unidades ao bem público, cada um dos participantes do grupo, incluído o indivíduo, recebe um beneficio de, por dizer, cinco unidades. Neste cenário, o resultado ótimo para o grupo de participantes como um todo é para que todos possam contribuir para fornecer os bens públicos. Esses fatos são difíceis de explicar usando a teoria padrão de que todos os indivíduos que enfrentem a mesma estrutura de jogo, avaliam decisões da mesma forma. Ao construir uma Teoria da Ação Coletiva com múltiplos tipos de jogadores ou participantes, Ostrom (2000) assume a existência de dois tipos de jogadores “utilizadores da norma”: os “cooperadores condicionais” e os “castigadores dispostos”- adicionalmente aos egoístas racionais, que permitem que se comece a fazer sentido mais coerente a partir dos resultados dos experimentos de laboratório em contribuições aos bens públicos. Os cooperadores condicionais são indivíduos que estão dispostos a iniciar uma ação de cooperação quando estimam que outros também serão recíprocos e repetem essas ações tanto como seja a proporção suficiente para que os outros se envolvam reciprocamente. A

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questão é que alguns são facilmente desapontados se outros não contribuem, assim que começam a reduzir sua contribuição. Assim como reduzem suas contribuições, eles desencorajam outros cooperadores condicionais a dar mais contribuições. Por outro lado, os punidores dispostos transmitem um nível considerável de desprezo e raiva para com os outros que não tenham correspondido plenamente a sua confiança e incentivam positivamente aos outros quando as taxas de cooperação são elevadas. Para Ostrom (2000), é ainda mais importante para a sustentabilidade a longo prazo da ação coletiva a vontade de alguns de pagar um custo para sancionar a outros. A presença destes tipos de “utilizadores de norma” é difícil de contestar dada a evidência empírica. A questão central agora é: Como podem esses tipos de jogadores “utilizadores de norma” ter emergido e sobrevivido num mundo de egoístas racionais. Para a autora, o maior problema ao tentar compreender as instituições é compreendê-las na sua diversidade. A pergunta central que Ostrom se faz neste trabalho é: como podemos ver embaixo da imensa diversidade de interações e regulações sociais nos mercados, hierarquias, famílias, esportes, legislaturas, eleições e outras situações para identificar blocos de construção universais utilizados na elaboração de tais situações estruturadas? Segundo Grote (2008) a literatura sobre a governança muitas vezes não consegue dar conta de explicar todas suas características e recursos e isso é um dos motivos para a confusão conceitual que se apresenta. O exemplo que ele coloca é o da implantação inadequada da tríade 'estado', 'mercado' e 'sociedade civil', na medida em que se trata de empresários e membros de movimentos sociais (ou ONGs) que fazem parte da dimensão social. Não seria a sociedade civil, e sim a comunidade, a que seria considerada pelo autor como parte da tríade, essa tríade representa os mecanismos básicos da ordem social. Ser membro de uma comunidade de destino, segundo Grote, sempre implica a aceitação de mais ou menos bem definidas normas, regras e procedimentos. Streeck e Schmitter (1999) realizam uma comparação das dimensões centrais de diferentes mecanismos de ordem (Estado, mercado e comunidade) colocando a coordenação, os atores principais, as condições de acesso, os meios de troca e os recursos no centro de atenção. Cada mecanismo de ordem tem pela sua vez algumas propriedades como: a comunidade (solidariedade espontânea, famílias, pertencimento orgânico, estima e

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confiança); o mercado (concorrência, empresas e partidos políticos, capacidade de pagamento e entrega, votos, empreendedorismo econômico e político); e o Estado (subordinação hierárquica, a burocracia, a legitimidade, coerção e controle). Streeck e Schmitter adicionaram um quarto mecanismo de ordem, a 'associação', e realizam uma distinção entre associações de membros como grupos de produtores e uma forma de a sociedade civil, que seja formalmente organizada pelo menos em alguma extensão. Segundo o autor as associações do primeiro tipo operam mais perto do mercado e/ou do Estado, enquanto as associações do segundo tipo seriam mais fortemente regidas por lógicas comunitárias. Os dois tipos não entanto, teriam ao Estado como o principal fiador de acordos caso houvesse um mal funcionamento e também atuaria através da aplicação de sanções positivas ou negativas, para tentar restabelecer a ordem perturbada ou a suplantá-lo em conjunto com novas formas. Em soma, Grote (2008) define governança como um fenômeno segundo o qual propriedades específicas de diferentes mecanismos de ordem se complementam uns aos outros e fazem possível a criação deliberada de soluções a problemas altamente complexos. Por outro lado, o autor traz uma definição de Arranjos de Governança (Governance Arrangement) que se refere e denota as lógicas, os mecanismos, os critérios de desenho, os instrumentos de avaliação, as condições estruturais e de contexto, assim como os requisitos institucionais da governança. Adicionalmente a Governança Local (Local Governance) resume e consolida as ideais dos estudiosos de políticas locais e programas de organizações internacionais sobre diversas características de limites territoriais e arranjos de governança; E, finalmente os Arranjos de Governança Local (Local Governance Arrangement) seriam a manifestação empírica dos arranjos de governança ao nível territorial. Para Marsden (2013), a governança reflexiva como um conceito que tem ganho atenção cada vez mais nas ciências sociais. Denota um modo de governança onde os procedimentos cognitivos são desenhados para criar um feedback em vários marcos regulatórios, a fim de influenciar atores, crenças e normas. Marsden (2013) sugere que a governança reflexiva acontece quando os arranjos institucionais e procedimentais envolvem atores de diversos tipos de governança e ou que possuem diversos conhecimentos epistêmicos para integrar varias abordagens para a solução de problemas. Os nichos no sistema agroalimentar como os orgânicos, o comércio justo, os

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produtos regionais e redes de alimentos locais, uma vez fragmentados, operando fora do principal sistema econômico e de regulação, têm o potencial (sobre sistemas de governança mais reflexiva) de se fortalecer ao redor de novas formas de políticas de sustentabilidade e consumo, as quais poderiam alimentar ainda mais a governança reflexiva. Por outro lado, a governança associativa é definida por alguns autores como Schneiberg e Hollingsworth (1990), Van Stelle (2002), e Schmitter e Streeck (1999). Fontella (2010) constrói uma definição de Governança Associativa baseando-se nos trabalhos destes autores. A governança associativa seria uma forma voluntária de autoregulação coletiva, baseada em posições e interesses comuns de membros que para serem atingidos requerem de negociação entre membros, dirigentes da associação e importantes atores sociais de outras organizações. Ele coloca quatro componentes da governança associativa que seriam: a participação, onde esta considerada a adesão dos associados; a representação, que compreende a capacidade da associação servir não apenas aos interesses isolados dos associados, senão também do setor; o terceiro componente é o dos serviços onde esta incluída a concessão de benefícios seletivos e finalmente o quarto componente da governança associativa que será o controle, que inclui tanto a conquista de status como a marcação de mercado. Por outro lado, tendo em conta as ferramentas analíticas e práticas que o trabalho de Ostrom (2000, 2005) apresenta, encontramos alguns pontos de transição entre a ação coletiva e a governança associativa. A forma voluntária de auto-regulação coletiva, como uma das variáveis tanto da ação coletiva, como da governança associativa pode ser o equilíbrio que as organizações procuram para conseguir seus objetivos. Ostrom (2005) evidencia também três pontos importantes para o sucesso na ação coletiva que se relacionam com a governança na construção social de mercados. O primeiro são as limitações cognitivas e a aversão as risco, o segundo as normas e interações sociais e o terceiro as interações entre as condições contextuais. Somado ao anterior, a autora faz três suposições centrais que ajudam a pensar a relação com a construção social de mercados e especialmente com os dispositivos de julgamento como marcos que dissipam a opacidade do mercado por meio da redução dos deficits cognitivos dos atores do mercado, resultado do conhecimento incompleto dos

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produtos e fornecendo motivos para suas escolhas (Aspers e Beckert, 2011). A primeira suposição feita por Ostrom (2005) é que os atores em geral tem informações incompletas sobre a estrutura da situação na qual interagem uns com os outros, mas podem adquirir informações mais completas e confiáveis com o tempo, especificamente em situações que são frequentemente repetidas e geram um feedback confiável para os envolvidos. Uma segunda suposição se refere as preferências dos atores para conseguir seus benefícios para si mesmo, mas são combinados com outras normas e preferências relacionadas aos outros. A terceira suposição é que os atores podem usar uma variedade de fatores para tomar suas decisões que podem levar à maximização de benefícios para si e para os outros em algumas situações competitivas, mas são altamente cooperativos em outras situações. Com base nestas suposições, especialmente na primeira, vê-se como os atores nos ambientes de recursos que são de uso comum, raramente têm informações completas para tomar uma decisão, mas eles as aprendem. Este aprendizado assume muitas formas, eles aprendem normas e regras sociais, o modo como indivíduos se comportam tipicamente (reputações), além de práticas sobre como guiar o comportamento em situações específicas. Esta primeira suposição se relaciona diretamente com a construção de processos de valoração, onde os dispositivos de julgamento tem uma especial importância. Ao definir que este dispositivos são marcos para a ação individual e coletiva, partimos de que a classificação dos bens com base neles pode completar as informações que os atores tem sobre certos produtos, por exemplo, os produtos agroecológicos e produtos orgânicos. A diferencia entre um e outro, depois de um ator ter as informações necessárias é simples de identificar. Pontualmente os dispositivos que interessam nesta pesquisa são as denominações e as redes pessoais. As denominações são todo tipo se selos como designações de origem, certificações, marcas, que fornecem sinais de qualidade emitidos por terceiros. As redes pessoais, proveem aos atores com informações credíveis e fiáveis, e são usadas redes de amigos ou colegas como guias para avaliar a qualidade.

Construindo o esquema analítico Constrói-se um esquema que tem como base dois construtos teóricos: a ação

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coletiva e os recursos dos movimentos sociais, e governança associativa e processos de valoração para explicar a construção social de mercados de proximidade. Se propõe trabalhar com três abordagens para a análise das categorias e do fenômeno como um todo. A primeira é a que nos dá o trabalho de Fontella (2010) quem coloca quatro componentes essenciais para verificar se existe uma governança associativa. Estes são: a participação, onde esta considerada a adesão dos associados; a representação, que é a capacidade da associação servir não apenas aos interesses isolados dos associados, senão de um coletivo maior; os serviços, onde esta incluída a concessão de benefícios seletivos e o controle, que inclui tanto a conquista de status como a marcação de mercado. Uma segunda abordagem para a análise das categorias é a Perspectiva Orientada ao Ator (POA) de Norman Long (2001). O autor afirma estar interessado em analisar as diversas práticas sociais, que são interpretadas por atores sociais na formulação e na reconstrução das suas vidas e as dos outros. Esta abordagem oferece informações valiosas sobre os processos de construção social e de reconstrução e também permite que se conceituem configurações de pequena escala. Segundo Gazolla e Pelegrini (2010), a Perspectiva Orientada aos Atores (POA) é uma abordagem de interpretação dos processos de mudança social e oferece alternativas teóricas e metodológicas para a análise dos processos sociais e econômicos, bem como alguns conceitos chaves, como agência, valor social e repertórios culturais. A noção de agência recoloca os atores sociais em permanente interação, em encontros com outros “mundos” e “projetos” de diferentes atores o que os faz absorverem, mediarem, reconstruírem seu sistema cognitivo e possuírem interfaces com outros processos sociais, econômicos e culturais que ajudam a moldar as suas percepções e motivações. Long (2001) apresenta algumas orientações metodológicas que podem dar a direção no trabalho de campo ainda a ser desenvolvido. O primeiro é adotar como ponto de partida alguns eventos críticos a serem definidos; ter em conta que se lida com múltiplas realidades; identificar os atores relevantes para as arenas de ação específicas e contestação; documentar etnograficamente as práticas sociais de atores, e as formas de que as relações sociais e outros recursos são implantados; se concentrar na organização e processos de pedidos que são relevantes para as diferentes arenas e domínios institucionais; rastrear os conjuntos críticos de relacionamento e redes sociais, bem como os significados e valores, produzidos

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e negociado no âmbito das diferentes arenas e cenários; explorar as interfaces críticas que retratam os pontos de contradição entre modos de vida dos diferentes atores, incluindo não somente os atores "locais", como também atores institucionais ou outras partes interessadas; esclarecer os processos de construção de conhecimento/poder, que se encontra nas arenas e Interfaces de contestação e negociação, dando especial atenção à reconfiguração de padrões de autoridade e controle; analisar como as questões de forma a escala e de complexidade, formam as práticas da organização e são produto deles; finalmente, identificar as bases discursivas e práticas de formas e conectividades sociais recém-emergentes. Estas orientações são entendidas melhor, se somada às anteriores a relacionamos com a abordagem de Ostrom (2000), quem apresenta cinco princípios que ajudam os grupos a manter e construir a sua cooperação durante longos períodos de tempo. O primeiro princípio ao que Ostrom faz alusão é apresença de regras claras de fronteira, é um princípio que lhes permite aos participantes de um grupo saber quem está dentro e quem está fora de um conjunto definido de relações e por tanto, com quais cooperar. Um segundo principio são asregras de utilização em locais onde se têm restringência de quantidade, de tempo, tecnologia de colheita do recurso, a alocação de benefícios proporcionais aos insumos. O terceiro princípio se refere à participação na tomada e modificação das regras de utilização pelos indivíduos afetados por um regime de recursos. O quarto princípio tem a ver com a seleção dos próprios monitores, que são responsáveis de manter um olho sobre as condições dos recursos, bem como sobre o comportamento dos usuários. O quinto princípio salienta que estes regimes de recursos devem usar sanções que dependem da gravidade e do contexto do delito. Com monitores locais, cooperadores condicionais está certo de que alguém é geralmente verificação quanto à conformidade dos outros para as regras locais. Assim, eles podem continuar a sua própria cooperação sem medo constante de que os outros estão aproveitando-los. Como mostra a Figura 1, a ação coletiva nos movimentos sociais com suas reivindicações e mobilização política e social estaria relacionada à governança associativa e aos processos de valoração com especial ênfase nas redes pessoais, cicerones (lideranças e formadores de opinião pública) e denominações (selos de comércio justo e outras certificações). A emergência da governança associativa é explicada (ainda que parcialmente)

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pela ação coletiva e pelos recursos outros dos movimentos sociais, assim tais recursos dos movimentos sociais também contribuem para os processos de valoração.

Figura 1 - Relação entre recursos do movimentos sociais e construção social de mercado

Ilustrando o esquema analítico com as experiências do Equador e da Colômbia

A construção de mercados em organizações como Agrosolidaria na Colômbia e o Movimento de Economia Social e Solidária no Equador desvela como os movimentos sociais em torno das quais estas organizações foram construídas mobilizam recursos para a construção de circuitos e mercados de proximidade. Cada experiência é vista pela sua trajetória, forma de organização, articulações com diferentes atores, e a constituição de circuitos de proximidade. A articulação com diferentes atores se refere não só com organizações solidárias, governo, organizações não-governamentais, senão também com outros movimentos como o movimento camponês, o indígena, o da agricultura familiar, o movimento agroecológico e especialmente os movimentos de economia solidária e de comércio justo. Estes últimos, em ambos países, são os principais aos quais as organizações pertencem ou que se entrecruzam entre as ações e atividades ligadas à comercialização. Em cada país atuam com suas

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particularidades. Longe de ser exaustiva, a caracterização constitui uma ilustração inicial do esquema analítico que combina a ação coletiva dos movimentos sociais com a governança associativa e processos de valoração.

Equador: O Movimento de Economia Social e Solidária.

No Equador, há dois movimentos envolvidos na construção de mercados de proximidade, o movimento agroecológico e o de economia social e solidária. Os dois surgiram e se fortaleceram em momentos diferentes, mas desde essa última década articulam suas atividades para realizar incidência nas políticas públicas, na construção de espaços de comercialização e no fortalecimento de práticas agroecológicas, comunitárias, de soberania alimentar e que condizem com o incentivo às práticas do buen vivir1. A soberania alimentar e a agroecologia são temas discutidos no Equador desde aproximadamente 25 anos. A circulação das ideias e conceitos sobre agroecologia por meio de intercâmbios internacionais foi o primeiro passo. Em seguida, os movimentos camponeses e urbanos de agricultores somaram a estas discussões, e especificamente desde os anos 2000, já surgem experiências e iniciativas cujo foco é a comercialização associativa e a agroecologia. Nesse cenário surge o MESSE, Movimento de Economia Social e Solidária do Equador que se define como um coletivo de presença nacional que articula, compartilha e fortalece as iniciativas de atores e práticas e experiências da economia solidária, respeito à natureza e ao ser humano. Promove e constrói diálogos, conhecimentos e saberes mediante os aprendizados comunitários. Gera, difunde e posiciona propostas ao nível local, nacional, regional e global para transformar a sociedade. O MESSE hoje é resultado da junção de quase 200 organizações que realizaram 1

Buen Vivir constitui um movimento alicerçado em um visão de mundo que demanda uma nova ética que equilibra a qualidade de vida, a democratização do Estado e a preocupação com ideias biocentricos. Baseando-se na riqueza das culturas indígenas da região, o movimento emergiu como uma prática contra a comodificação de todos os processos sociais, uma forma de fazer as coisas de uma maneira diferente. Fonte: http://theconversation.com/buen-vivir-south-americas-rethinking-ofthe-future-we-want-44507

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uma ação coletiva para incidir na reforma constitucional no ano de 2008. Ele nasce liderado por organizações relativamente fortes no Equador como são Maquita Cuschinchic - MCCH e Fondo Populorum Progreso - FES e outras organizações que queriam além da incidência política, articular as práticas de economia solidaria no país. Atualmente a rede MESSE está organizada em três zonas, norte, centro e sul do Equador. E cada zona tem seus dinamizadores e articuladores que fazem parte dos grupos de produtores. Desde 2010, o Messe organiza os Circuitos Econômicos Solidários Interculturais (CESI). Os CESI são espaços de articulação das práticas e atores da economia solidárias relacionadas com a produção saudável, as finanças solidárias, o comércio justo, o consumo responsável e o turismo comunitário, a saúde ancestral, que se aos princípios da economia solidaria e que decidem se articular para satisfazer necessidades fundamentais do ser humano e construir una sociedade de cultura de paz. Atores como o Coletivo Agroecológico, el MAGAP, Organizações não governamentais como a Corporación Ecuatoriana de Agricultores Biológicos (Probio), Swiss Aid e o Servicio Paz y Justicia del Ecuador (Serpaj) entre outras. Estas organizações têm um papel no fortalecimento do MESSE como um espaço nacional. Em sintonia com uma das principais características dos mercados de proximidade, os produtores e consumidores de todo o território nacional também interagem com o movimento. A participação dos consumidores é mais ou menos ativa dependendo da região do país. A preocupação pelo consumo de alimentos saudáveis sem agrotóxicos tem crescido nos últimos cinco anos entre os consumidores. Entre os produtores, a narrativa se organiza em torno da preocupação com a soberania alimentar, com os direitos ambientais, sociais e econômicos e com o modelo de desenvolvimento em si. Se identificam dois atores do governo que um papel mais direto para a construção de mercados e que tem relação com o Messe. Um é o Instituto Nacional de Economia Popular y Solidaria – IEPS e o outro é a Coordenação Geral de Redes Comerciais do Ministério de Agricultura (MAGAP) que tem um papel ativo e apóia o fortalecimento dos circuitos alternativos de comercialização das agriculturas camponesas. Desde 2009, o MAGAP começa a apoiar mais aos agricultores camponeses e agricultores familiares com maior ênfase em temas como a comercialização e a inovação tecnológica. Com respeito à organização, o Messe se estrutura por zonas (norte, centro, sul), e a

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maior parte das organizações está na serra que é a parte andina do país e é também aonde está a maior parte da população indígena. A rede inclui um espectro maior de atividades econômicas como turismo comunitário, finanças solidárias, comercialização solidária, medicina ancestral. O movimento tem uma assembléia nacional que ocorre anualmente. Trata-se de um espaço de encontro e celebração que reúne todas as organizações, aproximadamente 200. O Conselho Nacional do MESSE se reúne anualmente e é o espaço de tomada de decisões. Nele participam os dinamizadores (que são 80 a nível nacional) e se definem as ações estratégicas, além disso se escolhem os integrantes da Comissão Executiva. A Comissão está formada por 15 pessoas das três zonas do país; eles executam as ações do Conselho Nacional e se reúnem cada três meses. Além desses espaços, existem outros que são mais específicos e que atuam diariamente como são as comissões. O MESSE tem cinco comissões: inter-aprendizagem, gestão, comunicação, práticas solidárias, incidência política. Em relação às experiências de comercialização solidária, as diversas iniciativas de atores do governo, organizações não-governamentais e movimentos sociais confluem. O comércio justo no Equador tem uma estratégia de promover um símbolo de pequeno produtor, algo como certificado de origem, para retomar a proposta inicial do comércio justo com a transformação do consumo e da produção. O comércio justo representa em muitas circunstancias os requisitos que produtores ou organizações devem cumprir para ter um selo. Os Sistemas Participativos de Garantia também fazem parte do MESSE. No Equador, são chamados de Sistemas Participativos de Garantia Local (SPGL) que constituem um conjunto de normas, procedimentos e controles técnicos que permitem garantir a qualidade agroecológica dos produtos que se vendem nos mercados. O SPGL precisa da colaboração de todo o grupo para que seus integrantes não realizem práticas fora da produção agroecológica. Nas férias não se trabalha muito com os SPGL porque os produtores não priorizam ter um selo, ou uma certificação, eles trabalham mais na base das relações de confiança com os consumidores. Muitos produtores participam dos sistemas, independentemente de procurar ter o selo ou não. No Equador existem diversas normativas para a regulamentação da produção orgânica, ecológica e biológica, mas a agroecologia está fora dessa normativa. A agroecologia têm

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outros padrões de produção e nos SPGL podem se ver claramente. Existem cerca de 115 férias de produtores agroecológicos no Equador, dentro das quais pode se contar também com algumas cestas (canastas) organizadas por produtores ou consumidores dependendo da região. Algumas com o apoio do governo, de ONGs, outras sem apoio mas com o compromisso dos próprios consumidores e produtores em fazer funcionar. As férias são um tipo de circuito curto como têm sido caracterizado no Equador, outras modalidades são as cestas (canastas), as lojas camponesas, a exportação camponesa com comércio justo e as compras públicas. Um estudo de AVSF (Agrônomos e Veterinários Sem Fronteiras – 2012) caracterizou os seguintes circuitos curtos: Feiras agroecológicas e solidárias. São os espaços onde produtores e produtoras camponesas vendem seus produtos através de um trabalho associativo e comunitário. Para o MESSE são consideradas espaços para a vida, porque se cuida a saúde tanto dos produtores como a dos consumidores, com a produção agroecológica. Além disso, são espaços culturais aonde se resgatam saberes e conhecimentos ancestrais, também são espaços de capacitação e aprendizagem, se intercambiam experiências, conhecimentos e técnicas de outras organizações e pessoas envolvidas nos processos solidários. Lojas camponesas. São espaços para a venda e comercialização de produtos de associações ou cooperativas de produção e são, na sua maioria, administradas pelos dirigentes das organizações ou técnicos administrativos. Nas lojas camponesas se mantêm os princípios de margens de uma negociação justa e com uma visão do comércio solidário. Neste tipo de estratégia o público que compra caracteristicamente é urbano e de classe média. Cestas comunitárias. A canasta é uma organização popular urbana de consumidores, principalmente dos setores populares do país. Nelas, as famílias se organizam para comprar produtos frescos, mais baratos e em volumes que se repartem nas canastas equitativamente. Estas canastas têm evoluído para uma relação com organizações de produtores agroecológicos para melhorar a qualidade dos produtos que compram, e estabelecendo laços de confiança relacionais com os consumidores. Há também cestas organizadas pelos consumidores, neste caso os consumidores se organizam para comprar dos produtores, na sua maioria de produção agroecológica. Nestas cestas também se têm uma relação direta

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das organizações de produtores com os consumidores. Compras públicas com produtores camponeses. Por meio das compras públicas, as organizações de pequenos produtores ofertam seus produtos ao Estado, espacialmente para os programas alimentares onde se têm uma demanda de produtos básicos e de primeira necessidade como escolas, restaurantes comunitários. O Estado atua como intermediário sem fins lucrativos para que as organizações possam cumprir com os requisitos solicitados nas licitações, e nos processos de compra que antes eram só do acesso de grandes produtores. Em 2013 se criou uma instituição vinculada ao Ministério da Agricultura encarregada de realizar as compras públicas e prover alimento para as instituições como escolas, hospitais, prisões, entre outros. É o Instituto de Provisão de Alimentos (Proalimentos) e prioriza a agricultura familiar camponesa. A experiência foi inspirada no PAA do Brasil. Exportação associativa de produtos camponeses mediante o comércio justo. As organizações de pequenos produtores com volumes importantes de produção procuram fazer alianças com outros países em mercados de comércio justo. Para acessar a este tipo de mercados as organizações camponesas precisam da certificação que garante cumprimento obrigatório de certos parâmetros e requisitos.

Van der Ploeg (2008) afirma que os circuitos curtos e descentralizados e os impérios são os dois modelos dominantes que resultam das interligações entre três grupos agrários (agricultura camponesa, a empresarial e a capitalista ou corporativa) e a sociedade em geral. O MESSE adota os circuitos curtos como uma forma de distribuição que além de aproximar produtores e consumidores, incorpora elementos de interculturalidade, fala se de Circuitos Econômicos Solidários Interculturais. Estes circuitos são una proposta metodológica e política que está em construção. Intentam reunir a todos os atores da economia solidária no espaço da comercialização, não somente física senão também de rede. Há um envolvimento desde o produtor até o consumidor, passando por não somente quem produz, senão aqueles que prestam serviços ou trabalham com educação, finanças, etc. Todos esses atores estão chamados a fazer parte dos circuitos. Para o MESSE, os circuitos são interculturais. O Equador é um país plurinacional, pluricultural e o tema de

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interculturalidade permite ajudar a construir a identidade e o diálogo intercultural entre campo-cidade, entre camponeses-indígenas. Nas férias se vive de maneira mais direta o tema da interculturalidade.

Colômbia: Agrosolidaria.

A Agrosolidaria nasce em 1994 com o incentivo da Asociación para el Desarrollo Sostenible – Semillas que inicia o desenvolvimento e validação de programas de desenvolvimento local e regional. A Agrosolidaria é uma das principais organizações que faz parte do movimento agroecológico e da economia solidária na Colômbia. Na base destes dois movimentos e de seus princípios é que Agrosolidaria se constitui e se organiza. Ela se organiza em cinco atividades básicas: microcrédito, produção, transformação, distribuição e o consumo de alimentos e de artesanato. Além disso, há um turismo comunitário e ecológico que vem se fortalecendo. Como programas transversais estão o de Herdeiros Solidários que é um programa para os filhos dos produtores continuar no campo e se tornarem mais conscientes do patrimônio econômico, natural e cultural das suas comunidades, e o programa da Escola Agroecológica, da qual já está sendo pensando um marco metodológico, epistemológico, para ir ajustando e validando. Uma das principais inovações na construção de mercados na Agrosolidaria é a introdução de um modelo organizacional com base em outras experiências da América Latina como as do Equador (Maquita Cusunchic, Salinerito), Honduras (Red de Comercialización Comunitária (COMAL), Venezuela (Central de Servicios Cooperativos do Estado Lara - CECOSESOLA) e Argentina (Unión Argentina de Trabajadores Rurales y Estibadores – UATRE), entre outras. Agrosolidaria construiu um modelo descentralizado de trabalho que tem fortalecido a interdependência, descentralização e desenvolvido um autogoverno liderado pelas comunidades. Para entender o processo de integração de Agrosolidaria, deve-se pensar como níveis de um sistema maior. O primeiro é a Unidade Socioeconômica Familiar, que se integra aos Grupos Associativos organizados por produtos ou serviços (segundo nível). Depois vem as Seccionais de Agrosolidaria (terceiro nível), que se integram pela sua vez nas Federações (quarto nível), as federações normalmente são departamentais. E o último nível ao que se

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integram todos os anteriores é a Confederação Agrosolidaria Colômbia. Agrosolidaria têm um modelo descentralizado, onde cada seccional e federação são autônomas, e a confederação têm certos níveis de autonomia. De qualquer forma, a confederação que é a maior instância, não é usada para fazer intermediação financeira ou comercial porque isso faria com que a comercialização dos produtos ficasse mais cara. Se um produtor precisar vender e não têm uma figura jurídica, e nem seu grupo associativo, então pode recorrer à seccional, ou à federação. Também para consolidar alguma venda de grande volume ou fazer parte do sistema de poupança e crédito. Os grupos associativos se organizam dependendo das atividades dentro do circuito econômico agro-alimentario. A primeira atividade é a do microcrédito, nela estão os fundos solidários, bancos comunitários, entre outros. A segunda atividade é a produção, nela se desenvolvem os cultivos e sistemas pecuários das Unidades Produtivas Familiares Associadas. Uma terceira atividade é a transformação dos produtos, onde estão as máquinas de trabalho para processar produtos frescos. A quarta atividade do circuito econômico é o da distribuição, nela as equipes de trabalho mantêm contato com os produtores, processadores, consumidores solidários e empresas compradoras externas ao Circuito Econômico Solidário. A quinta e última é o consumo solidário. Neste elo estão os grupos de pessoas que representam as unidades familiares, e compartilham um território comum. Todas as seccionais têm seu regulamento, seu estatuto, seu comitê, seu conselho administrador e em cada seccional existem todas as atividades do circuito que foram mencionadas. As associações conformam as federações, cinco associações mínimo conformam uma federação. Podem ser estas, associações de cooperativas, associações de grupos informais, não é preciso que sejam formais, porque se precisaram de uma figura jurídica para alguma venda, porque já estariam integradas às federações e isto as respalda. Por isso em cada Federação existe um contador e um auxiliar administrativo que ajuda aos grupos também a levar suas contas. Para conformar uma confederação são necessárias 12 federações como mínimo. Todos esses elos se integram para formar um grande Circuito Econômico Solidário, que até fevereiro de 2014 se encontravam em 18 departamentos, 104 municípios, 123 seccionais em 12 Federações de operação autônoma e uma Confederação Nacional. Sendo

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mais de 32 mil famílias associadas que se organizam à sua vez em 384 grupos associativos. Para se associar a Agrosolidaria eles identificaram seis passos, o primeiro é se comunicar com a seccional mais próxima. Depois preencher um formulário de solicitude de associatividade e é entregue na seccional. O terceiro passo após receber orientação é preencher o formulário de Registro de Associatividade e de Herdeiros. Após isto se paga a quota de inscrição e aporte social. O quinto passo é participar das reuniões e exercer seus direitos e deveres. E é colocado como último passo a contribuição com as propostas de bem comum e organização, unidade e reciprocidade. Em nível nacional Agrosolidaria se articula a vários movimentos, mas principalmente ao movimento de agroecologia liderado pelo Maela Colômbia e ao movimento de economia social e solidária liderado por Redess. Redess propõe um modelo que integre o mutualismo, o cooperativismo, o associativismo, as empresas comunitárias, os fundos de empregados e as demais formas de organização da economia social e solidária. São aproximadamente 35 organizações que fazem parte e aderiram aos eixos programáticos definidos pela Redess. Indesco (Instituto de Economia Social e Cooperativismo) é atualmente a secretaria técnica e se encarrega de mobilizar, fazer articulações, e Agrosolidaria têm um importante papel como dinamizador Nacional. Procuram trabalhar de maneira articulada temas de economia solidária e agricultura familiar e fazer uma incidência nacional. O enfoque agroecológico começa a ganhar força na Colômbia a partir dos anos 90, mas este tem sido um processo lento. Atualmente como movimento nacional de agroecologia está o Maela (Movimento Latino americano e Caribenho de Agroecologia) do qual Agrosolidaria foi a secretaria técnica por dois anos para a mobilização de recursos, encontros, e outras articulações. Aproximadamente 25 organizações fazem parte e há uns cinco anos têm estado se mobilizando e incidindo no tema da agroecologia. Nos dois últimos anos têm encontrado mais dificuldades para o diálogo sobre vários temas como o das sementes, da certificação participativa, entre outros, e por isso está um pouco paralisado atualmente. Entre as organizações mais ativas a nível nacional e fazem parte do Maela estão a RECAB (Rede Colombiana de Agricultura Biológica), a Rede de Mercados Ecológicos Camponeses do Valle del Cauca, o INCA (Instituto Maior Camponês), a ADC Nariño (Associação para o

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Desenvolvimento Camponês), a Chanquiñan que é uma associação indígena dos Pastos de Nariño, Swiss Aid, Escola de agroecologia de Uniminuto, entre outras. Outro movimento que tem mais força atualmente na Colômbia e que vêm sendo liderado pela Agrosolidaria é o Movimento de Agricultura Familiar. Esse movimento tenta articular a agricultura familiar com a economia solidaria, com a agroecologia, e com o comércio justo. Tem se produzido documentos desde a sociedade civil, desde o próprio movimento e desde el governo, e é um tema que tem conseguido apoio e recursos pelo contexto internacional de apoio à agricultura familiar. Em nível latino-americano, nos temas de Economia Solidaria como as Finanças Solidárias, Agrosolidaria está articulada ao Foro Latino americano e Caribenho de Finanças Rurais (FOROLACFR). Também integram a Aliança pela Soberania, Autonomia e Segurança Alimentar Nutricional (ASASAN), espaço onde estão caracterizando o estado da arte da agroecologia no país. E pelo geral Agrosolidaria se integra a movimentos que têm marcos programáticos mais específicos, atividades concretas e com uma participação democrática, de participação e governança do modelo. O Coletivo Agroecológico que é tão ativo no Equador também faz parte da ASASAN, além de Conveagro de Peru, e outras organizações de Bolívia, Paraguai e Colômbia. Agrosolidaria também faz parte da IFSN que é a Rede Internacional de Segurança Alimentar, que é uma rede bem posicionada no comitê mundial de segurança alimentar da FAO. Também fazem parte da Coalizão dos Povos pela Soberania Alimentar desde o 2010. Agrosolidaria tem algumas parcerias nacionais e internacionais para projetos específicos. Agrosolidaria têm se fortalecido mais desde o ano 2005 até hoje, em 2006 tiveram alguns convênios com o antigo Dansocial que apoiou a organização de encontros, seminários, oficinas, estágios, para reproduzir e fortalecer o modelo Agrosolidaria. Mas essa parceria foi diminuída com a mudança de governo alguns anos atrás. Com a UNAD (Universidad Nacional Abierta y a Distancia) têm um convênio para que os jovens continuem estudando. A comercialização comunitária em Colômbia e os mercados agroecológicos começam a ter mais força nos últimos 10 anos, sobre todo em Bogotá com algumas lojas, férias, e outros pontos de venda de produtos ecológicos. E num nível menor em Medellín, Cali e Bucaramanga. Temas como os Sistemas Participativos de Garantia também ganham

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espaço. Agrosolidaria não é uma organização exclusivamente de produtores agroecológicos, porque têm muitos que ainda estão na transição, sabendo que a agroecologia não é só a produção orgânica, senão vá desde a produção até o consumo, como as distâncias que recorrem os produtos para ser entregues, o tipo de empaque, a pegada ecológica, por isso Agrosolidaria prioriza a comercialização em circuitos curtos, como parte da aposta agroecológica. Por outro lado, a produção orgânica ou agroecológica tem três níveis. O primeiro nível é o dos produtores que já têm certificação de terceira parte, ou certificação de confiança como a participativa. No segundo nível estão os produtores em transição e no terceiro os que ainda estão se iniciando a entender os processos agroecológicos. A produção nacional é muito variada, no sudeste do país têm produtores de mandioca, banana da terra, abacate, chontaduro. No sudoeste produtores de araza, de cupuaçu, frutos amazônicos. No centro, todo tipos de folhas verdes, batata, tomate, entre outros. Basicamente Agrosolidaria trabalha na linha agroalimentar que é a mais forte, na linha do artesanato, e no turismo comunitário que ainda está se estruturando. O nível de organização do consumo agroecológico é ainda muito fraco na Colômbia e isso é algo que está sendo trabalhado para fortalecer os circuitos. Na Colômbia se têm cerca de seis certificadoras de terceira parte para produtos agroecológicos, a maioria estrangeras, Biotrópico é o nome da certificadora de terceira parte nacional. A certificação de segunda parte, que a certificação dada pelo governo nacional, é um selo de produto ecológico do ministério da agricultura. Esta resolução saiu desde 2006. No entanto, desde 2009 para poder ter esse selo o produtor deve se certificar primeiro com uma terceira parte. Também existe um certificado ecológico do ministério de médio ambiente, mas está inativo. A certificação de primeira parte, chamada também certificação de confiança ou Sistemas Participativos de Garantia (SPG) têm avançado lentamente. Não existe ainda um marco regulatório nacional para os mesmos, mas existe um trabalho impulsado por organizações não governamentais, movimentos agroecológicos e organizações de produtores para ajudar a forjar uma espécie de SPGs. Pode se ressaltar o trabalho que tem sido feito no Valle del Cauca (Estado), apoiada pela Corporação Autônoma do Valle del Cauca para a criação de uma rede de consumidores que estão formando esse sistema. Os consumidores estão essencialmente interessados no processo agroecológico desde a

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perspectiva da saúde. Diferentemente do caso do MESSE no Equador, a perspectiva do consumo político com o compromisso de participar das visitas aos produtores, levantar informações e participar em reuniões ainda é frágil. A comercialização acontece dependendo da dinâmica de cada seccional, ou federação. Têm algumas que institucionalizaram as feiras semanais, com uma rede estruturada de consumidores, sejam famílias, restaurantes, ou outros que compram semanalmente direto do produtor. Outra modalidade são as lojas permanentes, que é algo menos frequente devido ao alto custo de manter uma loja, e mais quando ainda não está fortalecida uma rede de consumidores conscientes. A Agrosolidaria tem como objetivo mais a curto prazo fortalecer o consumo consciente, com uma rede de consumo que possa crescer. No caso da Agrosolidária Engativá (seccional) que têm um grupo de distribuição, eles afirmam que a criação da rede de consumo pode ser muito lenta, mas se organizam para que se consolide já no longo prazo e incentivar um movimento distrital de comércio justo. A loja permanente que têm funcionado está dentro de um resguardo indígena, no Tambo-Cauca. Têm funcionado porque o cabildo promove o consumo de produtos orgânicos e eles também distribuem produtos externos que a comunidade precisa. Hoje têm quatro grupos étnicos vinculados a Agrosolidaria, mas a maioria são camponeses como em Cundinamarca e Santander, e no Cauca são maioria indígenas e afrocolombianos. Mario Bonilla, Diretor da Confederação Agrosolidaria Colômbia afirma que é preciso uma maior caracterização dos circuitos de comercialização da Agrosolidaria em nível nacional, já que existem trabalhos aprofundados na área de finanças solidárias e em outros temas, mas nada em nível de comercialização comunitária.

Considerações finais A relevância da construção social de mercados no desenvolvimento rural tem crescido nos últimos trabalhos sobre mercados de proximidade e cadeias curtas de produção. Por sua vez, as categorias sociais de camponeses e de agricultores familiares possuem uma larga tradição em movimentos sociais na América Latina. Apesar da relevância de ambos no desenvolvimento rural, há uma lacuna na literatura sobre a relação entre movimentos

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sociais e construção de mercados. Um conceito importante de Fligstein e McAdam (2012) presente nas ações coletivas é o de habilidades sociais. Por habilidades sociais, os autores entendem as habilidades cognitivas, linguisticas e afetivas que tornam os atores habilitados para sua ação estratégica adaptando-os as demandas de ação coletiva. Ainda para os autores, trata-se de um entendimento sociológico de sentido e membresia como fundamento para entender como as pessoas criam e sustentam os mundos meso-sociais. O conceito pode ser um elo de ligação entre a ação coletiva na esfera política e a agência nos mercados. Este artigo reflete o estado inicial de uma pesquisa sobre redes de camponeses e indígenas que se organizam para a produção e comercialização de produtos orgânicos. O esquema analítico ainda em construção combina abordagens que não conversam entre si tais como processos de valoração e ação coletiva de movimentos sociais. No contexto latino-americano, tal combinação adquire especial relevância considerando as fortes conexões entre os movimentos sociais camponeses e as iniciativas de construção social de mercados. As evidências empíricas iniciais apontam para uma conexão entre a ação coletiva de natureza política do MESSE com o entrelaçamento entre as ideias, valores sociais do buen vivir e comercialização. A diferença na relação entre movimento social e construção de mercados ocorre nos casos da Colômbia e do Equador. Os recursos dos movimentos sociais incluem diferentes tipos de capital como o caso do capital político, social e simbólico. Examinar empiricamente a passagem destes tipos de capital para os processos de construção de mercado revela-se algo promissor como a ilustração empírica dos casos da Colômbia e do Equador revelam. Um outro aspecto fundamental nesta passagem tem a ver com a diferentes tipos de governança que caracterizam estes mercados; relações interpessoais de confiança, confiança baseada em características étnicas, relações com as políticas públicas, relações de mercado e de imbricamento com os consumidores.

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