O paradoxo dos juros reais e o brejo iminente

July 12, 2017 | Autor: S. Rodrigues | Categoria: Political Economy
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O paradoxo dos juros e o brejo iminente
Com a desaceleração da economia e a consequente queda das receitas do governo, insistir em aumentar a taxa de juros reais é uma eutanásia consentida.
Porque ao dispender maior gasto para a rolagem da sua dívida interna bruta, o governo se vê obrigado a diminuir cada vez mais os recursos que pode dirigir aos investimentos públicos – estes sim, mais eficazes do que desonerações enquanto estratégia anticíclica – dada a inelasticidade dos seus gastos obrigatórios.
Pior: cria como sequela, a verdadeira dependência química na obtenção da renda de juros reais ascendentes por parte dos tomadores finais dos papéis da dívida pública.
Como toda dependência, faz como que tais detentores (ainda mais em cenário de inflação renitente), encurtem o prazo da retenção de ativos, para alcançar uma renda marginal cada vez mais vertiginosa embora diferencialmente menor a cada unidade de tempo, criando artifícios como a atração de novos dependentes para a corrente ilusória de ganhos, até o ponto em que esta roleta russa se dê apenas entre os participantes do festim, sem gerar renda agregada nenhuma que possa ser convertida em ativos reais.
É o que ocorre como corolário de pseudos políticas de ajustes como o que está levando à ruptura da sociedade grega e que pode gerar uma crise forçada de abstinência que pode se dar de duas formas: quando se esvaírem por completo os ganhos de margem ou quando houver um calote por se tornarem insustentáveis as contrapartidas exigidas para o pagamento dos juros.
Como num cassino, quem perde mais é quem entra depois: ou seja, os que são convidados a participar (sic) não para ganhar, mas para inflar e dividir ganhos marginais decrescentes, como os cotistas de fundos que carreguem estes papéis ou os sócios dos financiadores de dívidas sem lastro real, entre outros incautos.
Pode-se voltar ao dilema de Greenspan e Bernanke – principalmente deste que pensou fazer o contrário das autoridades monetárias americanas em 1929 – e que está levando ao mesmo paradoxo que já se repetiu no mundo em 1891 e em 1929, ou na crise das empresas ponto.com ou das hipotecas, ou no Brasil, com a primeira crise das bolsas ainda no século XIX com a quebra da Casa Souto ou nos anos 70, com a euforia dos ganhos das empresas do Brasil grande, pós-milagre econômico.
Em todos esses casos – no turbilhão das emissões privadas de ações ou hipotecas sem lastro ou na emissão das dividas de governos – faltava lastro para sustentar expectativas e retornos esperados ou prometidos. No primeiro caso, faltavam mercados ou até produtos tangíveis: no caso das dívidas públicas, poupança fiscal primária (o equivalente ao EBITDA das empresas privadas), resultante de balanços fiscais, cambiais ou de execução orçamentária, positivo. E não via o pagamento de juros lastreados na tomada de recursos que precisam ser ressarcidos a financiadores externos à geração primária de caixa.
Seria mais prudente que os detentores desses papéis de dívida fossem consultados sobre a possibilidade de trocar – convertendo – parte desses haveres financeiros, progressivamente sem lastro real, por direitos alternativos de geração de liquidez.
Por exemplo, no caso brasileiro, o governo poderia propor converter parte crescente destes haveres em direitos de partilha do pré-sal, ou de direitos emergentes das várias concessões que precisa realizar para gerar investimentos e ciclos de geração positiva de emprego, salário, renda, aluguéis, dividendos e, até (mas não exclusivamente) juros.
Para equilibrar este trade-off, isenções sobre o lucro gerado pela conversão destes direitos, nos impostos a pagar incidentes sobre receitas ou valor agregado, que poderiam ser pagos apenas após a maturação dos investimentos: por exemplo, tal como se faz na atração de plantas de produção, quando o governo abre mão da receita presente de impostos em troca de um fluxo de renda capitalizado que será pago e ressarcido no futuro, após a maturação do investimento, durante o mesmo prazo de sua isenção inicial.
Por outro lado, é preciso entender de vez que não se faz ajuste fiscal dando uma no cravo e uma na ferradura: ou seja, se prega a austeridade, mas se gasta em fundo partidário (quase R$ 1 bilhão), desonerações para alguns e sacrifícios para poucos, reposições de salários e benefícios para o judiciário e o legislativos, (ainda que intertemporalmente), ganhos reais para aposentados e perdas reais para assalariados de alguns setores em detrimento de outros...
Enfim, há uma guerra aberta para repor (antecipada e avidamente) perdas e ganhos típicos de um processo hiperinflacionário latente (ou como se estivesse se agindo como uma falsa defesa de tal situação), sem perceber que este movimento deprime cada vez mais a expectativa do equilíbrio buscado.
Neste cenário, custa a crer que ainda haja clima para disputar o lugar de Judas (ou de Cristo, conforme a preferência ou o viés político...) no primeiro escalão do Ministério da Fazenda.
Ou talvez este seja o sinal de que a vaca não apenas tossiu como já foi pro brejo.

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