O Património Português de Arzila - A torre de Menagem

August 4, 2017 | Autor: José Pedro Mendes | Categoria: African History, História Da Expansão Portuguesa
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O Património Português de Arzila
A torre de Menagem


A vila de Arzila situa-se na costa Atlantica do norte de Marrocos. Foi conquistada pelas tropas portuguesas a 24 de Agosto de 1471, durante o reinado de D. Afonso V, dando continuidade à política de expansão no norte de África, iniciado por D. João I, com a conquista de Ceuta em 1415.
A presença portuguesa na vila de Arzila decorre entre 1471 e 1550. Durante este periodo, os arquitectos e construtores, vão deixar a sua marca patrimonial e urbanistica na vila marroquina. A ocupação da vila tinha objectivos comerciais e finalidades estratégicas, necessitando de uma estrutura defensiva, e uma nova organização comercial e urbana.
A fortificação das praças conquistadas no norte de África representavam a presença de Portugal como nação, assumindo um forte cunho identitário. Os fortes são estruturas defensivas construidas em território alheio, ou mesmo inimigo, como tal são uma imposição pela força das armas. A sua forma militar visa a defesa e manutenção das praças. Estas edificações militares variam em função do local e procuram adaptar-se à evolução das armas utilizadas. Apesar de muitas vezes existirem Tratados de Paz ou Acordos Comerciais, os fortes são extensões do modo de vida dos portugueses.
A construção da fortificação de Arzila representa, também, a necessidade de conviver com as populações já existentes, moldando as estruturas islâmicas às novas exigências da coroa. Este processo de aculturação prolonga-se durante os 80 anos de paz da permanência portuguesa, fruto de uma série de medidas de coabitação. Vários pactos de aliança geraram novos laços de solidariedade entre o poder instaurado e os grupos sociais autóctones, de modo a garantir uma nova ordem respeitadora da estrutura tribal tradicional.
A vila que os portugueses encontraram em 1471 era maior do que aquela que hoje se percebe nos escasos vestígios de um troço da muralha islâmica relativa ao perímetro original da cerca árabe de Arzila.
Segundo o relato de Bernardo Rodrigues e das suas crónicas de Arzila, a vila fortificada era um local de trocas comerciais com as populações locais e dos seus produtos regionais, em detrimento dos produtos nacionais. A população da vila era composta por alguns estrangeiros, como italianos, franceses e espanhois, apesar de ser uma praça de guerra.
No século X, a vila era cercada por muros, decerto em taipa e alvenaria, e assim se terá mantido até à chegada dos portugueses, visto que, com apenas uma pequena bombarda bastou para abrir dois lanços por onde entraram os invasores lusitanos. Segundo Rodrigues, os portugueses construiram um novo muro que deixou metade da população fora do seu perímetro.
O perimetro da vila era maior que o actual, a área urbana era muito vasta e apresentava quinze torres e cinco portas, ao invés das três portas posteriores. Estes factos podem ser observados nas tapeçarias de Pastrana, obra de arte que narra a entrada dos portugueses na vila, tecida na Flandres em 1475.
Existem indícios de obras de fortificação em Tânger e Arzila durante o reinado de D. João II. O traçado das fortificações actuais de Arzila, parece obedecer a um sistema defensivo tipicamente quatrocentista, podendo ser datado do governo de D. João de Meneses (1495).
Em 1508, registou-se um bem sucedido assalto mouro no baluarte de Tambalalão, fora do alcance da artilharia da nova muralha. O ataque incidiu nos pontos fracos de junção das cercas velha e nova, que cederam ao assalto dos sapadores, no primeiro dia. Como qualquer assédio medieval, a população resistiu uma semana no castelo até à chegada de reforços enviados do reino. A chegada da esquadra de D. João de Meneses e da esquadra do rei D. Fernando, comandada pelo Conde Pedro Navarro, conhecido engenheiro das guerras de Itália, que vai obrigar o rei de Fez a recuar e a abandonar a vila ocupada.
Este facto deve-se à astúcia e ás novas técnicas bélicas desenvolvidas por Pedro Navarro, juntamento com os venezianos Girólama Vianello e Battistina de Farsis, que o acompanhavam e que na altura estavam na vanguarda das técnicas de guerra.
Portugal beneficia do conhecimento destes especialistas aragoneses e venezinos, pois é dado como certo que estes deixaram planos e instruções para a futura defesa de Arzila.
A experiência destes elementos nas guerras contra os turcos, permitiu a transferência da tecnologia militar do Mediterrâneo para o Atlântico, onde se iniciou uma nova fase de experimentação. As praças marroquinas portuguesas seriam palco de novas abordagens tácticas com armamento moderno, desenvolvidas pelas potências europeias, com a finalidade de novas conquista fora da Europa.
No fim de 1508, o governador de Arzila, D. Vasco Coutinho, Conde de Borba, encontra-se com o rei D. Manuel em Tavira, onde conhece o Mestre das obras do Reino, Diogo Boytac. D. Vasco Coutinho vai requisitar os serviços do Mestre francês, radicado em Portugal, para arquitectar a requalificação de Arzila. Diogo Boytac interrompe a direcção da obra do Mosteiro do Jerónimos em Belém.
Boytac viaja para Arzila em 1509, e planeia a restruturação da fortificação e a reconstrução das casas dos moradores. O prestigio do Mestre é suficiente para que lhe seja atribuido uma enorme verba para a requalificação de Arzila. O Mestre Boytac vai permanecer um ano e meio em Arzila, onde será armado cavaleiro como forma de recompensa pelos seus serviços.
Os planos do Mestre Boytac são muitos e variados, e vão prolongar-se no tempo. Assim, é estabelecido um regime de empreitada, de forma a dar continuidade ás obras planeadas. Começa a ser grande a afluência de arquitectos e trabalhadores que são chamados para as várias obras de vila.
A obra dividiu-se por vários sectores: a cava, a cerca, Baluarte da Porta da Vila, Baluarte de Pite João, Baluarte de Santa Cruz, Baluarte da Praia, Baluarte do Miradouro, Baluarte da Perna de Aranha, Baluarte de São Francisco, Baluarte da Couraça e Baluarte de António da Fonseca.
Perante a obra edificado podemos concluir que a coroa portuguesa optou por um sistema simplificado de defesa, embora modernizado e ampliado. A fortificação foi dimensionada para suster um ataque em massa de tropas a pé ou a cavalo, priveligiando a defesa da vila através do efeito dissuador da sua imagem e do poder da artilharia. As soluções encontradas não foram as mais avançadas para a época, e a construção mantém uma forte marca medieval. É no castelo e na torre de menagem que isto se torna mais evidente.
Boytac duplicou a área do castelo velho fechando com um muro o espaço entre o baluarte de Pite João e a Porta da Ribeira. Nesta zona foi erguida a Casa do Governador, de grande volumetria, e que hoje só resta a torre de menagem. O edificio formava um L e apresentava uma grande varanda para o mar. As dimensões generosas do rés-do-chão deveriam servir de aposentos para o governador e sua familia. O primeiro piso tinha comunicação com a torre através de uma porta gótica. Na área transversal situava-se uma série de salas de aparato e área social, que tinha acesso a partir do páteo do castelo. A marca do Mestre Boytac era bem visível através de duas janelas manuelinas e dos capiteis semelhantes aos das janelas da torre. A cobertura em açoteia terminava num elegante varadim em resalto portando onze ameias do tipo mudéjar ou luso-manuelino.
A torre de menagem, sólida e resistente, é constituida por grossas paredes em composição celular, é o único elemento que resistiu até aos dias de hoje, sendo uma obra inequívoca do Mestre Boytac. No seu interior abre-se o túnel da escada, tal como na igreja dos Jerónimos. Ao nível do segundo piso deveria ter uma estrutura em madeira destinada a alojar os vigias e a proteger os atiradores em caso de ataque.
A monumentalidade desta torre de menagem, não têm paralelo noutras construções no Norte de África, só podendo ser comparada a outras torres na Europa medieval, nomeadamente a torre de Sevilha, a torre de Olivença e a torre de Beja.
A torre de menagem é um edificio com vertente pública e cerimonial. Os balcões com matacães, alinhados com os vãos, não podiam ter fins de defesa, escondidos pela coroa decorativa das ameias. O janelão de sacada para as aparições oficiais do governador volta-se ao terreiro da vila onde se erguiam a igreja matriz de S. Bartolomeu e a Casa dos Contos ou gabinete das finanças.
A torre de menagem de Arzila é uma contrução de forte cariz identitário, promovendo a afirmação do poder real através da exibição das insignias do rei, como a bandeira com a cruz de Cristo, e materializado na pessoa do governador. A torre é um edificio de pouca funcionalidade militar mas arquitectonicamente muito vistoso.










Bibliografia
Lopes, David (1924)-"História de Arzila durante o dominio português" (1471-1550 e 1577-1589), Imprensa da Universidade, Coimbra.
Rodrigues, Bernardo (1561)-"Anais de Arzila-Crónica inédita da século XVI", Academia das Ciências de Lisboa, Lisboa.



Aluno: José Pedro Mendes
Nº48827


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