O PODER DO CHEFÃO: UMA ABORDAGEM HERMENÊUTICA SOBRE O MITO DA MÁFIA NO FILME THE GODFATHER

Share Embed


Descrição do Produto

O PODER DO CHEFÃO:
UMA ABORDAGEM HERMENÊUTICA SOBRE
O MITO DA MÁFIA NO FILME THE GODFATHER

Cristine de Andrade Pires[1]


Resumo: O poderoso chefão (The godfather, 1972), enquanto arte
cinematográfica, é uma das obras que mais se destaca em meio ao vasto
repertório fílmico do gênero gângster. Este estudo busca interpretar de que
forma a película retratou as características mitológicas atribuídas à máfia
e ao personagem mafioso. A escolha leva em conta o fato de o filme ser
apontado, por muitos pesquisadores, como referencial cinematográfico dentro
das produções da indústria hollywoodiana. A análise se dará,
principalmente, com base no pensamento de Douglas Keller e Fredric Jameson,
tendo foco na abordagem multiperspectívica dos Estudos Culturais. O método
utilizado é a Hermenêutica de Profundidade, sistematizado por John
B. Thompson. A análise narrativa descrita por John Stephens servirá de
ferramenta; o tipo de pesquisa será qualitativa, de acordo com Maria
Cecília de Souza Minayo. Fundamentando-se neste pilar, a pesquisa pretende
interpretar o mito da máfia e do mafioso em O poderoso chefão, de que forma
ele se sobressai à tela e habita o imaginário da cultura popular, tornando
a película um dos fenômenos da indústria cinematográfica.

Palavras-chave: Hermenêutica de Profundidade; Estudos Culturais; Máfia;
Mito; Cinema.


INTRODUÇÃO


A retratação da máfia pela sétima arte é quase tão antiga quanto à
história do próprio cinema. A presença das películas criminais marcou a
história da cinematografia desde os seus primórdios. Poucos anos depois da
primeira exibição feita pelos irmãos Lumière, em 1895, o tema estava
presente nas telas. A mão negra (The black hand, Wallace McCutcheon, 1906)
é considerado o primeiro registro cinematográfico da máfia, organização
criminosa surgida na Itália no século XIX (DICKIE, 2010). O poderoso chefão
(The godfather, 1972), primeira obra da trilogia de Francis Ford Coppola, é
considerada uma das obras mais marcantes não só da categoria, mas da
própria história do cinema.

O ano de 1972 possui alguns títulos interessantes, mas é,
sobretudo, o ano do filme de Francis Ford Coppola O
poderoso chefão (The godfather), que não só teve um
triunfo nas bilheterias para gerar mais dois capítulos da
saga da máfia, mas desencadeou uma série de imitações e
paródias inevitáveis. Um filme que certamente marcou uma
data na história do cinema sobre a máfia, ajudando a
fornecer dela uma imagem mítica[2] (ALBANO, 2003, p 43).





A análise de Albano (2003) é corroborada por De Stefano (2007), para
quem O poderoso chefão, apesar de não ser o primeiro filme bem elaborado
deste estilo cinematográfico, ultrapassou todos os seus antecessores. De
Stefano (2007) considera que a saga da família Corleone, narrada na obra de
Coppola, reinventou o gênero gângster de forma brilhante, e influenciou as
produções sobre máfia depois dele, uma vez que a comparação das demais
películas com a obra de Coppola passou a ser inevitável[3]. Os apontamentos
desses e de outros estudiosos embasam a escolha de O poderoso chefão como
objeto de estudo por considerar, conforme aponta a literatura
especializada, que o tema segue atual, uma vez que a máfia ainda desperta a
atenção dos espectadores.

Essas histórias da máfia são tão cativantes porque
dramatizam o cotidiano, acrescentando-lhe o arrepio de
emoção que surge quando o perigo se mistura com a astúcia
sem escrúpulos. O mundo da máfia cinematográfica é um
mundo em que os conflitos que todos nós sentimos – entre
as exigências concorrentes da ambição, responsabilidade e
família – se tornam questões de vida ou morte. (DICKIE,
2010, p. 31).




A obra de Coppola foi adaptada para as telas do romance ficcional de
Mario Puzzo, com o título original The godfather, e conta a trajetória da
família Corleone, cujo patriarca, Vito Corleone (Marlon Brando), é o
chefão[4] da máfia ítalo-americana em Nova York. A trama se desenvolve no
cenário pós-guerra nos Estados Unidos nos anos 1940, durante a tentativa de
recuperação econômica norte-americana, e narra a entrada da máfia no mundo
do narcotráfico.



CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO
Para analisar as condições sociais de produção, assim como suas formas
simbólicas, é preciso situar os fatos, levando em consideração toda a
estrutura que circunda o objeto de estudo. Para Jameson (1995), a
popularidade de determinadas produções como O poderoso chefão só pode ser
contextualizada justamente a partir do resgate de situações no espaço e no
tempo presentes nos campos de interação, instituições e estrutura sociais
da obra cinematográfica.


"A única maneira de pensar o visual, de inteirar-se de uma
situação em que a visualidade é uma tendência cada vez
mais abrangente, generalizada e difundida, é compreender
sua emergência histórica" (JAMESON, 1995, p. 1).



Esses campos de interação permitem averiguar, na película, de que
forma as estruturas sociais estão presentes e de que maneira esse conjunto
de regras abordam temas como classe, etnia, gênero e política, e suas
possíveis implicações e conflitos nas relações de poder naquele ambiente. A
complexidade das relações da narrativa fílmica, sob a luz do contexto sócio-
histórico, torna O poderoso chefão uma fonte rica em significações, e
ajudam a entender porque a obra se destacou como uma das principais
representantes de sua categoria[5].


Jameson (1995) preconiza que a obra reinventa o próprio Mito da máfia
e representa a permutação de uma convenção de gênero ao expor antagonismos
populistas, como crimes do colarinho branco ou hostilidade em relação às
companhias de serviço, comuns nos Estados Unidos à época do lançamento da
película.

Os gângsteres pós-guerra da era Bogart permaneceram
solitários nesse sentido, mas tornaram-se inesperadamente
investidos de um pathos trágico, de modo a exprimir a
confusão dos veteranos, retornando da Segunda Guerra
Mundial, em luta contra a antipática rigidez das
instituições e, em última instância, esmagados por uma
ordem social mesquinha e vingativa (JAMESON, 1995, p. 31).


Enquanto os norte-americanos esperavam mais do poder público,
deparavam-se, na obra de Coppola, com o envolvimento de agentes que
deveriam estar a serviço do cidadão em esquemas de corrupção. Em várias
cenas, Don Corleone dá a missão ao consegliere Tom Hagen de obter vantagens
junto a senadores, deputados, juízes e policiais. Ao mesmo tempo, a trama
se concentra nos dramas e conflitos familiares, desde festividades, como o
casamento de Connie, única filha do Don, ao convívio do patriarca com o
neto e seus diálogos repletos de conselhos aos filhos.
O conteúdo narrativo de O poderoso chefão passa, então, a explorar o
que Jameson (1995) classifica como uma "espécie de saga ou material
familiar", premissas que foram responsáveis pela quebra de paradigma no
gênero gângster[6]. Conforme levantamento realizado pela pesquisadora para
este estudo em sites especializados em cinema e em instituições antimáfia,
no início do século XX, quando surgiu a primeira obra do gênero, até 2015,
mais de duas centenas de filmes foram produzidas apenas sobre a máfia
italiana ou ítalo-americana. Vale destacar que os estúdios europeus, em
especial os italianos, são responsáveis por mais de mais de 80% dessas
produções, com uma abordagem antimáfia. No entanto, as obras produzidas em
Hollywood, pela hegemonia e força de sua indústria cinematográfica, tiveram
maior alcance de público e se tornaram referência no gênero.
Na produção de Coppola, a função Ideológica começa na mensagem
imaginária do título original do filme, que manteve o mesmo da obra
ficcional de Mario Puzzio. Na tradução literal, godfather significa
padrinho, palavra que remete à segurança protetora no Imaginário
utópico[7]. A responsabilidade dessa representação abarca não só os
parentes mais próximos, mas a própria comunidade em que o Don está
inserido. A coletividade estrangeira, que, no caso da película, é a
comunidade ítalo-americana, recebe uma espécie de solidariedade étnica.


Assim, numa época em que a desintegração das comunidades
dominantes é persistentemente "explicada" em termos
(profundamente ideológicos) de deterioração da família,
crescimento da permissividade e perda de autoridade do
pai, o grupo étnico pode aparecer como projeção de uma
imagem de reintegração social por meio da família
patriarcal e autoritária do passado. Portanto, os laços
estreitamente unidos da família (em ambos os sentidos)
mafiosa, a segurança protetora do pai (padrinho) com sua
onipresente autoridade, oferecem pretexto contemporâneo
para um imaginário utópico que não pode mais expressar-se
através de paradigmas e estereótipos antiquados, como a
imagem da ora extinta cidadezinha americana (JAMESON,
1995, p. 33).



Jameson (1995) aponta justamente a função Ideológica de investir no
Imaginário utópico como fator que leva a obra a exercer uma força de
atração e se tornar um artefato de massa.
Com efeito, quando refletimos sobre uma conspiração
organizada contra o público, que atinge cada esquina de
nossas vidas cotidianas e estruturas políticas para
exercer uma nefasta violência ecocida e genocida, a mando
de tomadores de decisão distantes e em nome de um conceito
abstrato de lucro – com certeza, não é na máfia, e sim nos
negócios americanos que estamos pensando, no capitalismo
americano em sua forma corporativa mais sistematizada e
computadorizada, desumanizada e multinacional (JAMESON,
1995, p. 32).


Kellner (2001) observa que a Ideologia no cinema apresenta interesses
específicos de grupos como se fossem universais. Para ele, a Ideologia
acaba representando o mundo às avessas, ou seja, "os interesses
particulares de uma classe aparecem como universais; as imagens, os Mitos e
as Narrativas eminentemente políticas aparecem como apolíticas" (KELNNER,
2001, p. 147). No entanto, o estudioso destaca que, além dessas técnicas de
dominação e de manipulação, a Ideologia apresenta outro lado, que é o seu
excedente utópico, que serve para a crítica social na afirmação política.
Daí a importância, segundo Kellner (2001), de se observar todo o contexto
cultural para problematizar a posição Ideológica, levando em consideração
os conflitos sociopolíticos de cada momento. Nesse sentido, "Os filmes e
outras formas de cultura da mídia devem ser analisados como textos
Ideológicos em contexto e relação" (KELLNER, 2001, p. 135).
Nos Estados Unidos, os anos de 1970 e de 1980 – salientando que o
filme foi exibido, pela primeira vez, em 1972 – foram marcados não só pela
crise econômica, com desemprego e inflação alta, mas também pelo escândalo
de Watergate, considerado um dos mais emblemáticos sobre corrupção. Esse
cenário está presente em O poderoso chefão. A cena em que as cinco famílias
mafiosas se reúnem em busca de uma trégua, em meio a vinganças e
assassinatos, a proposta é que Don Corleone compartilhe com os demais a
proteção que têm junto a políticos e juízes corruptos "que ele carrega no
bolso como se fossem moedas".


ANÁLISE FORMAL OU DISCURSIVA

Imagens, falas, cenários e textos são as formas simbólicas complexas
presentes nos campos sociais nos quais se dão as relações sob a luz do
contexto sócio-histórico da produção. Ao proceder à análise narrativa
desses elementos, Stephens (1992) aponta a necessidade de interpretar quais
são os modelos conceituais dentro em um todo, desconstruindo os elementos
internos, levando em conta três componentes: história, discurso e
significação.
Com relação à história, Stephens (1992) compreende o contexto em que
os personagens estão inseridos dentro do espaço-tempo, o que possibilita
uma primeira interpretação do que é contado. O discurso é a maneira como
essa história é apresentada, e a significação é a interpretação possível ao
entrelaçar a história e o discurso. A partir dessa tripla análise, pode-se
indagar de que forma os seres humanos – e os personagens – se relacionam.
Aplicando-se os conceitos ao objeto de estudo, encontramos expressões
verbais e não verbais que narram o que Stephens (1992) denomina as
histórias dentro das histórias, o que significa buscar as experiências e
visão de mundo do grupo social em análise. O poderoso chefão se apresenta
como um objeto rico no que diz respeito a expressões e objetos contidos em
suas formas simbólicas. A película trata de temas como honra, lealdade,
amizade e valores familiares, mas também por apresentar as características
que constituem o American Dream, o sonho americano de ascensão econômica e
social. Embora os personagens usem da violência para alcançar o sucesso
econômico e posição social na trama de Coppola, eles são uma espécie de
metáfora dos desejos da população norte-americana, segundo Benoski (2009),
ao projetarem no espectador a possibilidade de alcançar o topo da sociedade
por meio do sucesso financeiro.
Essa transcendência passa a ter importância uma vez que o valor máximo
da Narrativa Fílmica está na subjetividade com que é transmitida. O cinema
amplia seu papel de arte por meio da reprodução, arranjo de imagens e sons:
ele passa a ser uma prática social tanto para aqueles que o fazem quanto
para o público. A relação do espectador com a obra cinematográfica, então,
passa a ser construída com base em diferentes significados. Este processo
de significação, que inclui o que pensamos, sentimos e a acepção que damos
a objetos, pessoas e eventos, leva em conta a estrutura de interpretação
que trazemos na bagagem. Assim, objetos, pessoas e eventos só adquirem
significado a partir da representação mental dá a eles algum sentido
sociocultural (HALL, 1997), ou seja, sua Representação Social.
Carregadas de conotações, as imagens têm, também, o que Turner (1997)
denomina de carga cultural, uma vez que o ângulo usado pela câmera, sua
posição no quadro, a iluminação para realçar determinados aspectos ou
qualquer outro efeito que transmita o modo em que estão sendo representados
visualmente trazem consigo o potencial do significado social do cinema.
Jameson (1995) apregoa que obras bem-sucedidas como a de Coppola, mesmo
classificadas como cultura de massa, reforçam a aplicação da ideia de obras
de arte. Para Jameson (1995, p. 11), "Nós suspendemos totalmente nossas
vidas reais e preocupações práticas imediatas tanto assistindo ao Poderoso
chefão quanto lendo The Wings of the Dove ou ouvindo uma sonata de
Beethoven".
Para De Stefano (2006), o meio mais responsável por criar e perpetuar
a máfia tem sido justamente o cinema. Mesmo que leitor saiba que está lendo
um romance ou o espectador assistindo a um filme, existe nesta relação
estética uma participação ao mesmo tempo intensa e desligada. O poderoso
chefão é apontado por Renga (2013) e De Stefano (2006) como um exemplo
emblemático. Renga (2013) sublinha que as formas simbólicas presentes nos
filmes de máfia ainda estão presentes no Imaginário dos espectadores,
dentro e fora da tela e em diferentes momentos sócio-históricos, uma vez
que as obras da indústria de Hollywood continuam vivas na cultural popular
ao longo dos tempos.


Com efeito, a sétima arte incorporou tecnologias e discursos
distintos por meio da câmera, e iluminação, montagem do cenário,
edição e som passaram a ter mais influência na representação. Segundo
Turner, "as imagens, assim como as palavras, carregam conotações"
(TURNER, 1997, p. 53). O jogo de luz e sombras, por exemplo, é a
forma de separar a família Corleone de seus dois mundos: quando a
trama narra os negócios da máfia, os ambientes são escuros, com poucas
cores. Os diálogos ocorrem em um absoluto silêncio: nada é ouvido além
da voz dos personagens. Nas cenas em que o foco é a família, como o
casamento, a luminosidade prepondera, com muitas cores, e também a
sonoridade é completamente diferente. Muita música, conversas
paralelas e descontração entre os personagens fazem a passagem de um
mundo para o outro. Assim, é dividido o espaço sagrado da família do
mundo sombrio do crime.

As formas simbólicas presentes na Narrativa Fílmica expressam,
nas imagens, construções complexas e revelam a relação dos personagens
com o contexto, caso da subjetividade no figurino de Kay Addams (Diane
Keaton). As roupas da esposa de Michael Corlone revelam sua
transformação à medida que se envolve com a família Corleone. Em sua
primeira aparição, na festa de casamento, Kay veste uma roupa vermelha
e está maquiada. Conforme o tempo passa, o vermelho começa a sumir de
suas vestes, e os tons escuros predominam. O vermelho torna-se um
detalhe, presente em mantas, chapéus e cintos, até sumir
completamente, assim como a maquiagem. Na cena final, Kay está
totalmente absorvida pelas mazelas vividas pelos Corleone, reveladas
pelas vestes cinzas e o rosto pálido (Figura 2).


Além das formas simbólicas das imagens, há todo um sentido
contido nos diálogos, fato que deu à película relevância por abordar o
grande dilema da época, que era a crise ética que assolava os Estados
Unidos dos anos 1970. A América passava por uma busca de liderança
popular e de paz depois de ter sido dividida pela guerra do Vietnã,
protestos civis, assassinatos e corrupção política, com o caso
Watergate em pleno processo. A narrativa fílmica mostra o deslocamento
da insatisfação de um segmento da população, que transferia para o
crime organizado a falta de crença na estrutura econômica e política
vigente e, assim, reinventa o Mito da máfia.

Estrelado por Marlon Brando e Al Pacino, O poderoso chefão
trata como celebridades seus gângsteres elegantes e
experientes, que controlam até mesmo o sistema legal. Em
um momento em que Watergate e a guerra no Vietnã foram
minando a autoridade moral do Estado, O poderoso chefão
apresentou a família como um estado de aluguel, e os
Corleones como fonte de significados de moralidade e
estabilidade[8] (RAFTER, 2000, p. 35).




INTERPRETAÇÃO - REINTERPRETAÇÃO

As interpretações realizadas neste estudo, com base no conteúdo das
formas simbólicas dentro do contexto de sua produção, permitem ampliar o
conhecimento sobre o fenômeno investigado. A estrutura interna, padrões e
efeitos da obra cinematográfica, com base em suas condições sócio-
históricas, possibilitam interpretar que os espectadores encontram, em O
poderoso chefão, o mafioso como uma figura carismática, evidenciada,
especialmente, no personagem Don Corleone. Embora ele ocupe uma posição
superior, tanto na hierarquia da máfia quanto como patriarca responsável
pela família, há outros elementos nessas relações de poder. O lado violento
do personagem divide espaço com seu papel paternalista. O mesmo Don que
comanda atividades criminosas para ganhar dinheiro planeja assassinatos e
cobra os favores prestados a quem lhe pede ajuda, ou seja, é aquele que
demonstra amor e cuidado dentro da estrutura social em que está inserido.
Biskind (1998) considera que, na verdade, o Don[9] poderia muito bem
ter sido um benevolente, pois oferecia às pessoas a justiça que elas não
obtinham nas instituições oficiais. Bonasera, que vai ao padrinho em busca
de vingança e pede que os rapazes que espancaram sua filha ao tentar
estuprá-la sejam assassinados, deixa claro o papel da máfia como um serviço
de proteção e manutenção:




Eu procurei a polícia, como um bom americano. Os rapazes
foram trazidos a julgamento. O juiz os sentenciou a três
anos de prisão e suspendeu a sentença. Suspendeu a
sentença! E eles ficaram livres naquele mesmo dia. Eu
fiquei na corte como um bobo e, aqueles dois bastados,
eles sorriam para mim. Então eu disse para a minha mulher:
Por justiça, nós devemos ir até Don Corleone (The
godfather, 1972).








Para Rafter (2000), O poderoso chefão restabeleceu a saga dos
gângsteres[10] na imaginação mítica da América, ao retratar uma família
mafiosa que segue regras ordenadas e tradicionais, respeitadas por um
rigoroso conjunto de códigos (sem drogas, por exemplo). Em outra opinião,


Na verdade, existe um viés subjetivo da máfia,
especialmente dentro de O poderoso chefão, como um
conglomerado de empresários bem-intencionadas que olha
para fora em busca dos melhores interesses para suas
famílias[11]" (PENDERGAST e PENDERGAST, 2000, p. 251).


Jameson (1995) considera que a película de Coppola ajudou a romper com
um silêncio da sociedade, ou seja, a ausência de crítica popular e
ressentimento coletivo iniciados no período pós-guerra. Essas assimetrias
presentes nas relações e nos campos de interação são marcas do personagem
ao longo da película. As formas simbólicas das relações de poder vão do
mundo das sombras, em imagens escuras que caracterizam a organização
criminosa, à luz abundante nas cenas que retratam a família, também
marcadas por sons e cores. Esse choque imagético reforça a fronteira tênue
entre os dois mundos: o profano e o sagrado. Assim, ao expor esses dilemas,
o filme também traz à tona, por meio da Linguagem e a estrutura fílmica,
valores que ajudam a sustentar as relações presentes também em outros
elementos presentes nos relacionamentos que não só a dominação, ou seja, o
amor, o cuidado, os ensinamentos, a preocupação com a família e a
sociedade.


[...] O filme de máfia era constitutivamente organizado em
torno da solidariedade entre o chefe individual e a
gangue, família ou grupo étnico do qual emerge. O glamour
secreto de tais obras pode ser explicado pelas maneiras em
que elas desvelam fantasias inconscientes de comunidade e
utilizam a trajetória individual do gângster como um
pretexto para vivenciar a representação de uma intensa
vida coletiva em grupo que está faltando nas experiências
privatizadas dos próprios espectadores (JAMESON, 1995, p.
150).







As relações sociais presentes na película podem até mesmo interferir
em processos de valorização simbólica das pessoas, objetos e práticas em
função de seus fortes atributos simbólicos. Essa cultura da mídia, segundo
Kellner (2001), molda a vida diária e influencia o modo como as pessoas
pensam e se comportam, como se veem e como veem os outros e como constroem
sua própria identidade, teoria que se mostra na prática. Jameson (1995)
aponta justamente a função ideológica de investir no Imaginário utópico
como fator que leva a obra exercer uma força de atração. É o real, a imagem
que se revela, e faz a obra de arte perdurar no tempo como algo imanente e
singular.

A trilogia de O poderoso chefão deu à máfia um elemento
que ela nunca tinha possuído antes disso: glamour. Perigo,
crimes e violência foram elementos que sempre permearam
qualquer discussão sobre a máfia, com o carisma de Marlon
Brando e Al Pacino na tela mudaram a visão sobre o crime
organizado. 'Os mafiosos e o showbiz se conheceram, e
ambos gostaram daquilo que viam' (SANTOPIETRO, 2012, p.
259).




Dickie (2010) relata que Luciano Leggio, um importante chefe da máfia
siciliana, conhecida como Cosa Nostra, baseou seu visual no personagem de
Don Corleone quando apareceu em um tribunal de Palermo, no ano de 1974,
como se pode constatar pelas fotografias da época (Figura 1).
Embora se estabeleça essa relação de tensão entre as transgressões do
personagem e o que é moralmente aceito pela sociedade, Mann (2013) completa
que o fora da lei busca coisas semelhantes às que as pessoas querem em suas
vidas: melhorar sua condição social e a satisfação de desejos. Isso não
significa dizer que os espectadores queiram vivenciar situações de
angústia, de derrame de sangue ou de medo no dia a dia, mas, por meio da
narrativa cinematográfica, elas podem viver isso sem correr qualquer risco,
ou seja, "podem viver por procuração", conforme define Joron (2003).


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde a sua primeira exibição, em 1972, O poderoso chefão se impõe
como objeto de referência e intertextualidade. O filme de Coppola é rico em
significados não só em relação ao contexto sócio-histórico da época, mas
também de toda uma Ideologia vigente e que fazia – e ainda faz – parte do
cotidiano dos espectadores. Os problemas da vida contemporânea retratados
àquela época ainda ecoam nos dias de hoje, em que pese a busca por sucesso
econômico e social, a preocupação com a família, a questão da corrupção nos
órgãos públicos e o descontentamento com a prestação de serviço por parte
do Estado, para citar apenas alguns deles.
A obra evidencia todas essas aspirações e são os mafiosos que vivem
essas transformações sociais na película. Embora os personagens obtenham o
sucesso de forma ilícita, sua representação social permite identificar os
mesmos objetivos dos homens de negócios do mundo capitalista, de êxito
financeiro e pessoal. É como se vivessem o American Dream de uma forma
trágica, apostando no crime como forma de conquistar tudo aquilo que também
era desejo da sociedade na era do consumo.
Embora a trama principal da película seja o crime organizado e todas
as suas mazelas, como vinganças e assassinatos em nome da conquista de
poder, o personagem interpretado por Marlon Brando apresenta-se como uma
figura paternalista e sensível às demandas de sua comunidade, de sua
família de sangue e da família mafiosa. Mesmo sendo um criminoso, Don
Corleone apresenta características como lealdade, amizade e dedicação à
família, e faz críticas ao Estado e seu sistema considerado ineficiente.
Esses componentes presentes na narrativa fílmica auxiliaram a reforçar o
poder da imagem do principal líder da organização criminosa e criar o
carisma do anti-herói. Graças à força da indústria de Hollywood, a história
ficcional da família Corleone ultrapassou as fronteiras dos Estados Unidos
e tornou-se um fenômeno mundial.

A saga vivida pela família Corleone rompeu o paradigma do gênero
gângster, e fez os filmes desta categoria voltarem a ocupar espaço de
destaque nas salas de exibição. Toda essa combinação de fatores faz com que
O poderoso chefão mantenha a máfia viva e permite que personagem ficcional
do chefão se sobressaia às telas e habite o Imaginário da cultura popular,
tornando a película um dos fenômenos cinematográficos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBANO, Vittorio. La mafia nel cinema siciliano – da in nome della gelle a
Placido Rizzotto. Manduria: Barbieri Editore. 2003. 158 p.

AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema.
Campinas: Papirus Editora, 2003.

BARBOSA, Marialva Carlos. Comunicação e história: presente e passado em
atos narrativos. Comunicação, mídia e consumo. São Paulo, vol. 6 n. 16 p.
11-27 jul. 2009.

____________. Comunicação e História: confluências teóricas e
metodológicas. Seminário do Mestrado em Práticas Culturais nas Mídias,
Comportamentos e Imaginários da Sociedade da Comunicação do Programa de Pós-
Graduação em Comunicação Social da PUCRS, 13 a 17 de abril de 2015. Notas
de aula.

BENOSKI , Diogo Albino. Violência e mobilidade social nos filmes de
gângster. Tese de Doutorado do curso de Pós Gradução em História Centro de
Filosofia e Ciências Humanas. Orientadora Profa. Dra. Ana Lice Brancher.
Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina, 2009, 320 p.

BISKIND, Peter. Seeing is Believing. Nova York: Pantheon, 1983.

______. Como a geração sexo-drogas-e-rock'n'roll salvou Hollywood. Rio de
Janeiro: Intrínseca, 1998.

CARROL, Noel. Simpatia pelo diabo. In IRWIN, William (Org.). A família
Soprano e a filosofia. São Paulo: Madras, 2004.

DE STEFANO, George. An offer we can't refuse – The mafia in the mind of
America. Nova York: Faber and Faber. E-pub, 2007.

DEVICO, Peter J. The Mafia Made Easy: The Anatomy and Culture of La Cosa
Nostra. Tate Publishing, 2007.

DICKIE, John. Cosa Nostra - História da Máfia Siciliana. Lisboa: Edições
70, 2010, 487 p.

GALVÃO, Cecília. Narrativas em Educação. Lisboa: Ciência & Educação, v. 11,
n. 2, p. 327-345, 2005.

HIKIJI, Rose Satilo Gitirana. Imagem e violência - Etonografia de um cinema
provocador. São Paulo: Terceiro Nome, 2012, 200 p.

JAMESON, Fredric. As marcas do visível. Rio de Janeiro: Graal, 1995. 262 p.

____________. O Inconsciente Político: a narrativa como ato socialmente
simbólico. São Paulo. Ed. Ática¸ 1992, 317 p.

JORON, Philippe. A vida improdutiva: Georges Bataille e a heterologia
sociológica. Porto Alegre: Editora Sulina, 2003, 222p.

KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru: Edusc, 2001, 452 p.

MANN, Glenn. Ideology and genre in the Godfather films. In: SILVA, Tiago
Gomes da. Bonnie e Clyde: um estudo do gênero de gângster. Porangatu:
Revista de História da UEG, v. 2, n. 1, 2013.

MESSENGER, Chris. The godfather and american culture - How the Corleones
became "our gang". Albany: State University of New York, 2002, 327 p.

MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes, 1994.

MORIN, Edgar. O cinema ou o homem imaginário. São Paulo: Realizações
Editora. 2014, 288 p.

PENDERGAST Tom, PENDERGAST, Sara. St. James encyclopedia of popular
culture, Volume 2. Michigan: St. James Press, 2000, 584 páginas.

PUZO, Mario. O poderoso chefão. Rio de Janeiro: Record, 2002.

RAFTER, Nicole. Shots in the mirror: crime films and society. Nova York:
Oxford University Press, Inc. 2000, 216 p.

RENGA, Dana Mafia Movies: A Reader. The Editing Company. Toronto:
University of Toronto, 2011, 400 p.

SANTOPIETRO, Tom. The godfather effect – Changing Hollywood, America and
me. New York: St. Martin's Press, 2012, 311 p.

SPICER, Andrew Historical Dictionary of Film Noir - Historical Dictionaries
of Literature and the Arts, No. 38. Toronto: The Scarecrow Press, 2010, 533
p.

STEPHENS, J. Language and ideology in children's literature. New York:
Longman Publishing, 1992.


SWANN, Travis. The Godfather: Cultural Value. Department of English and
Communications. Pensacola State College. Disponível em
http://ecorsair.com/the-godfather-cultural-value, acessado em 06.06.2015.

TURNER, Graeme. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997, 176 p.

THOMPSON, J.B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era
dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, Vozes, 1998.

ZATTI, Angela Helena. Caracterização do personagem - vilão em produções
audiovisuais: estudo do paradoxo do vilão aprovado. João Pessoa:
Universidade Federal da Paraíba, revista Temática, ano VI, nº 8, 2010, 11
p.


REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS

CHASE, David. Família Soprano (The Sopranos). [Seriado-vídeo]. Produção e
direção de David Chase (HBO). Estados Unidos, 1999 - 2007. 86 episódios, 6
temporadas. color. son.

COPPOLA, Francis Ford. O poderoso chefão (The godfather). [Filme-vídeo].
Produção e direção de Francis Ford Coppola. Estados Unidos, 1972. 175 min.
color. son.

COPPOLA, Francis Ford. O poderoso chefão II (The godfather – Part II).
[Filme-vídeo]. Produção e direção de Francis Ford Coppola. Estados Unidos,
1974. 200 min. color. son.

COPPOLA, Francis Ford. O poderoso chefão III (The godfather –Part III).
[Filme-vídeo]. Produção e direção de Francis Ford Coppola. Estados Unidos,
1990. 170 min. color. son.




GROENING, Matt. Os Simpsons (The Simpsons). [Série animada–vídeo]. Produção
Fox Broadcasting Company. Direção de Matt Groening. Estados Unidos, 1989,
26 temporadas, 554 episódios. color. son.


HAWKS, Howard. Scarface – A vergonha de uma nação (Scarface). [Filme-
vídeo]. Produção de Howard Hawks, direção de Howard Hawks e Richard Rosson.
Estados Unidos, 1932, 93min, pb.

LEROY, Mervyn. Alma no lodo (Little Caesar). [Filme-vídeo]. Direção de
Mervyn LeRoy. Estados Unidos, 1931. 79 min. p.b. son.

MCCUTCHEON, Wallace. A Mão Negra (The black hand). [Filme-vídeo]. Direção
de Wallace McCutcheon. Estados Unidos, 1906. 11 min. p.b.

PEEN, Arthur; NEWMAN, David, BENTON, Robert. Uma rajada de balas (Bonnie
and Clyde) [Filme-vídeo]. Direção de Arthur Pen. Estados Unidos, 1967. 111
min. color. son.





ANEXOS





Figura 1: Marlon Brando, no papel de Don Vito Corleone, à esquerda, e
Luciano Leggio, à direita



















Figura 2: Kay Adams (Diane Keaton), em sua primeira e última cenas na
trama.



-----------------------
[1] Mestranda em Práticas Culturais nas Mídias, Comportamentos e
Imaginários da Sociedade da Comunicação do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da PUCRS. E-mail: [email protected].
[2] Tradução da autora. Texto original: Il 1972 vanta alcuni titoli
interessanti, ma è soprattutto l'anno del film di Francis Ford Coppola Il
padrino (The godfather), che non solo ebbe un trionfo al botteghino tale da
originare altri due capitoli della saga mafiosa, ma scatenò tutta una serie
di imitazioni, con le inevitabili parodie di contorno. Un film che ha
segnato certamente una data nella storia del cinema sulla mafia,
contribuendo a fornire di questa un'immagine mitica.
[3] Tradução da autora. Texto original: The godfather, by brilliantly
reinventing the gangster genre, influenced every mafia movie that came
after it. It became the touchstone by which all its successors were
measured.
[4] A estrutura típica dentro da máfia na Sicília e nos Estados Unidos
geralmente se apresenta no seguinte formato, segundo aponta De Vico (2007):
Chefe de todos os chefes, chefão - também conhecido como o capo di tutti
capi ou padrinho, título dado a quem ocupa o topo chefe da máfia e que
comanda o crime da família mais poderosa; Chefe - Também conhecido como a
capofamiglia, capo crimini, representante, Don ou padrinho, este é o nível
mais alto em uma família do crime; Subchefe - Segunda pessoa na hierarquia
do comando, responsável por garantir que os lucros das empresas criminosas
cheguem até o chefe e, em geral supervisiona a seleção do caporegimes e
soldados para realizar assassinatos. Consigliere - Conselheiro do chefe de
uma família crime, é terceiro classificado na hierarquia. O chefe,
subchefe, e consigliere constituem a "Administração"; Caporegime - Também
conhecido como capitão, capo, ou "chefe de equipe", supervisiona os
soldados e executa as operações do dia a dia da equipe; Soldado - Também
conhecido como um sgarrista, "homem feito", "wiseguy" ou "goodfella". Este
é o nível mais baixo de mafioso ou gangster. O "soldado" deve passar pelo
ritual da omertà (juramento de silêncio), e, em algumas organizações,
precisa ter matado uma pessoa a fim de ser considerado "homem feito". É
quem faz o trabalho do dia a dia de ameaçar, bater, e intimidar os outros;
Associado - Também conhecido como um "giovane d'onore" (homem de honra),
trabalha para a família na busca de lucros. Geralmente são membros da
organização criminosa que não são de ascendência italiana.
[5] O poderoso chefão é considerado o melhor filme de gângsteres de todos
os tempos e o segundo melhor filme entre todos os gêneros da história pelo
Instituto Americano do Cinema (American Film Institute). Figura em oitava
posição no ranking da revista de cinema do British Film Institute, Sight &
Sound Magazine, divulgada em 2013, entre os 10 melhores filmes da história
da sétima arte. A partir do sucesso da produção, a obra se tornou uma
trilogia, com O Poderoso Chefão II (The Godfather: Part II, 1974) e O
Poderoso Chefão III (The Godfather: Part III, 1990). Também é o 23º
colocado entre as maiores bilheterias de todos os tempos, com US$ 568
milhões, valores atualizados pela inflação.
[6]
[7] De acordo com a igreja católica, a figura do padrinho no sacramento do
batismo é a de repassar a fé para a criança que passa a ser reconhecida, no
momento do ritual, como filha de Deus. Também cabe ao padrinho, além de
acompanhar a vida religiosa da criança, desempenhar um papel de "segundo
pai", de forma a guiar o afilhado por sua vida, em uma relação de afeto e
segurança.


[8] Tradução própria do texto original: "Starring Marlon Brando and Al
Pacino, The Godfather lionizes its elegant and savvy gangsters, who control
even the legal system. At a time when Watergate and the war in Vietnam were
undermining the moral authority of the state, The Godfather presented the
Family as a surrogate state, the source of the Corleones' morality,
security, stability, and sense of purpose" (RAFTER, 2000, p. 35).
[9] É a forma reduzida da palavra do vocabulário italiano antigo donno – em
desuso - derivada do latim dominus, que significa senhor. Era usada para
tratamento de príncipes, duques e nobres, e se manteve como forma de se
referir a uma pessoa com respeito.
[10] O gênero gângster viveu a chamada era de ouro nos anos 1930 com obras
clássicas como Alma no lodo (Little Caesar, Mervyn LeRoy, 1931), O inimigo
público (Public Enemy, William A. Wellman, 1931) e Scarface – A vergonha de
uma nação (Scarface, Howard Hawks, 1932). Também teve importantes
representantes dos anos 1940 até o final da década de 1950 com os filmes
noir[11] e, depois, entrou em um período de dormência e declínio.
[12] Tradução da autora. Texto original: In fact, there is a built-in
bias toward the Mafia, especially within The Godfather, as a conglomerate
of well-intentioned businessmen looking out for the best interests of their
families.
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.