O Ponto de Vista Religioso de Wittgenstein (Tese - UFSC - somente sumário)

May 30, 2017 | Autor: Alison Mandeli | Categoria: Philosophy Of Religion, Philosophical Theology, Wittgenstein, Tractatus Logico-Philosophicus
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ALISON VANDER MANDELI

O PONTO DE VISTA RELIGIOSO DE WITTGENSTEIN

Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Filosofia, da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para a obtenção do grau de Doutor em Filosofia. Orientador: Prof. Dr. Darlei Dall’Agnol

Florianópolis 2016

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Para todo aquele que ler estas reflexões: quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame minha atenção. Assim haveremos de palmilhar juntos o caminho da caridade e da verdade. Agostinho

O pensador religioso honesto é como um equilibrista sobre uma corda. Aparentemente, caminha quase só pelo ar. O seu apoio é o mais reduzido que se pode imaginar, porém, é realmente possível caminhar por ele. Wittgenstein

Então respondeu Moisés, dizendo: Mas eis que não me crerão e nem mesmo ouvirão a minha voz, pois dirão: “O Senhor Deus não te apareceu”. Êxodo 4:1

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RESUMO O ponto de partida desta tese é a frase “Eu não sou um homem religioso, mas não consigo deixar de ver todo problema a partir de um ponto de vista religioso” (frase-W) dita por Wittgenstein em uma conversa com o amigo e ex-aluno Maurice Drury. Nosso objetivo é apresentar uma interpretação que articule a frase-W com a filosofia de Wittgenstein. Para tanto, e com o foco principalmente na primeira fase da obra, argumentamos que a filosofia wittgensteiniana implica duas ideias teologicamente importantes. A primeira sustenta que a realidade contém uma esfera valorativo/religiosa, porém, esta não pode ser expressa proposicionalmente. Segue-se dessa ideia a possibilidade de uma vivência contemplativa e esclarecidamente silenciosa. A segunda estabelece um método de trabalho para a filosofia da religião e para a teologia. Veremos que, a despeito da indizibilidade, é possível elaborar um discurso teológico significativo, no entanto, os critérios de sentido devem ser necessariamente práticos. Em outras palavras, neste contexto, as frases devem se relacionar com as vidas e as condutas daqueles que as utilizam. Dividimos a tese em quatro capítulos, os dois primeiros são negativos e os dois últimos positivos. Nos capítulos 1 e 2 discutimos aquilo que o ponto de vista religioso de Wittgenstein não é. No primeiro, nós apresentamos e mostramos as limitações da interpreção analógica da frase-W, proposta por Norman Malcolm no seminal ensaio “Wittgenstein: a Religious Point of View?”. No segundo, discutimos e refutamos as interpretações panteístas da primeira filosofia wittgensteniana. Nos capítulos 3 e 4 discutimos, respectivamente, a primeira e a segunda ideia do ponto de vista religioso de Wittgenstein, citadas acima. Mostramos que estas ideias se seguem logicamente e, mais que isso, são o cume da primeira filosofia de Wittgenstein. Palavras-chave: Wittgenstein; Filosofia da Religião; Teologia Filosófica

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ABSTRACT The starting point of this thesis is the phrase “I am not a religious man but I cannot help seeing every problem from a religious point of view” (call it W-phrase) uttered by Wittgenstein in a conversation with his friend and former student Maurice Drury. Our aim is to state an interpretation that articulates the W-phrase with Wittgenstein’s philosophy. We argue, focusing mainly in the early Wittgenstein’s work, that his philosophy entails two theologically important ideas. The first idea claims that reality contains a valorative/religious sphere but it cannot be propositionally expressed. It follows from that the possibility of a contemplative and silent experience. The second idea establishes a method for philosophy of religion and theology. We will see, a despite of its inefability, that it is possible to formulate a meningfull theological discurse; its meaning criteria, however, must be pratical ones. In other words, the sentences have to relate with life and conduct of who use them. This thesis is divided in four chapters, two negatives and two positives. In the Chapters 1 and 2 we will discuss what Wittgenstein’s religious view is not. In the first, Norman Malcolm’s analogical reading of W-phrase is presented and then its limitations are pointed out. In the second we discuss and refute pantheist’s interpretations of early Wittgenstein’ philosophy. In the Chapters 3 and 4, we discuss, respectively, the first and second idea just mentioned from the Wittgenstein’s religious point of view. We will show that those ideas logically follow from, and, more than that, they are the top, of Wittgenstein’s early philosophy. Keywords: Wittgenstein; Philosophy of Religion; Philosophical Theology.

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LISTA DE ABREVIAÇÕES CSE - Conferência Sobre Ética CV - Cultura e Valor DC - Da Certeza DS - Diários Secretos IF - Investigações Filosóficas LC - Lecciones y conversaciones sobre estética, psicologia e creencia religiosa. LD - Wittgenstein in Cambridge: Letters and Documents 1911-1951. LVL - Linguagem, Verdade e Lógica MP - Movimentos de Pensamento: Diários de 1930-32/1936-37 NB - Notebooks, 1914-1916 ORF - Observações sobre o ramo dourado de Frazer RFM - Remarks on the foundations of mathematics TLP - Tractatus logico-philosophicus WCV - Wittgenstein y el Círculo de Viena Z - Zettel

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................... 17 1 O “PONTO DE VISTA RELIGIOSO” DE WITTGENSTEIN...... 25 1.1 Considerações Iniciais ................................................................... 25 1.2 A Estratégia Interpretativa de Malcolm ..................................... 27 1.3 As Quatro Analogias ..................................................................... 29 1.3.1 Primeira Analogia: Limite Explicativo ...................................... 30 1.3.2 Segunda Analogia: Espanto ....................................................... 34 1.3.3 Terceira Analogia: Enfermidade................................................ 36 1.3.4 Quarta Analogia: “No Princípio Era a Ação” ............................ 39 1.4 Algumas críticas à estratégia de Malcolm ................................... 43 1.5 Uma interpretação alternativa da Frase-W ................................ 55 2 DISCUSSÃO DAS INTERPRETAÇÕES PANTEÍSTAS ............ 59 2.1 Considerações iniciais ................................................................... 59 2.2 Apresentação do problema ........................................................... 60 2.3 O Argumento de Garver ............................................................... 61 2.3.1 Primeiro Excurso: a ontologia tractatiana ................................. 62 2.3.2 Apresentação detalhada do argumento ...................................... 67 2.3.3 Refutação do argumento de Garver ........................................... 71 2.3.3.1 Um Deus que precisa de um fundamento ontológico? ......... 71 2.3.3.2 “Ontologia de fatos” sem panteísmo .................................... 73 2.4 O Argumento de Zemach ............................................................. 77 2.4.1 Segundo Excurso: Teoria Figurativa ......................................... 79 2.4.2 Terceiro Excurso: Dizer e Mostrar ............................................ 86 2.4.3 O núcleo do argumento panteísta de Zemach ............................ 91 2.4.4 Objeções ao argumento de Zemach ........................................... 95 2.5 Dissolução das Interpretações Panteístas .................................. 101

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3 INDIZIBILIDADE, CONTEMPLAÇÃO E SILÊNCIO .............105 3.1 Considerações iniciais ..................................................................105 3.2 O Desafio de Anscombe ...............................................................107 3.3 Um paralelo entre Deus e Lógica ................................................113 3.4 A Metáfora da Escada .................................................................120 3.4.1 Um Elo Intermediário: o Sujeito Volitivo ................................127 3.4.2 Projetando a Vontade Sobre a Totalidade ................................136 3.4.2.1 Assombro ............................................................................139 3.4.2.2 Anseio .................................................................................143 3.4.2.3 Segurança............................................................................156 3.4.2.4 Culpa...................................................................................160 3.5 Silêncio ..........................................................................................164 4 A TEOLOGIA PRÁTICA DE WITTGENSTEIN .......................167 4.1 Considerações iniciais ..................................................................167 4.2 O sentido das sentenças valorativas............................................169 4.3 Teologia wittgensteiniana: três estudos de caso ........................180 4.3.1 Vida Eterna...............................................................................180 4.3.2 Milagres....................................................................................187 4.3.3 Predestinação............................................................................199 4.4 Considerações finais....................................................................208 CONCLUSÃO ....................................................................................211 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................221

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