O Potencial da Tecnologia da Informação na Gestão Pùblica

June 15, 2017 | Autor: Vania Sierra | Categoria: Gestão Pública, Serviço Social
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O Potencial da Tecnologia da Informação na Gestão Pública Vânia Morales Sierra Renato dos Santos Veloso

Com o desenvolvimento do processo de acumulação flexível, (Harvey,1993) o conhecimento e a informação tornaram-se centrais. A revolução informacional promoveu a cooperação entre produção e serviços, incidindo sobre a

divisão

empregada no taylorismo-fordismo, entre a elaboração e a execução (Lojkine, 2002). Por possibilitar que a informação não fique concentrada na gerência, a incorporação da tecnologia nos serviços públicos gerou a possibilidade de conferir aos “executores terminais das políticas sociais” (Netto, 1999) a possibilidade de realizar a articulação entre conhecimento, informação e execução, podendo, portanto, contribuir ao aperfeiçoamento de programas e projetos, mesmo se situando na etapa de execução ou avaliação do ciclo político. Em outras palavras, significa que o assistente social, ao mesmo tempo em que executa a política, pode avaliar as condições de acesso e de qualidade do serviço. A formação de banco de dados e a identificação do perfil dos usuários, assim como a realização de entrevistas, já fazem parte do processo de trabalho do assistente social. Neste sentido, a apropriação da TI pela categoria pode contribuir no trabalho de sistematização da prática, além de tornar o serviço menos burocrático e rotineiro. Ao inserir a criatividade no processo de trabalho, os assistentes sociais podem ser beneficiados no trabalho de implementação de seus projetos e na execução dos programas de políticas públicas. Além disso, na “sociedade da informação” a apropriação da TI pode favorecer o fortalecimento da categoria, da mesma forma que a negligência em sua importância pode significar uma

ameaça pelo desperdício da

chance de um maior domínio sobre a formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas. Segundo Tavares e Seligman (1984: 13), informação é poder. Poder para negociar, dialogar, intervir, enfim, desenvolver competências que permitam criar intervenções com grau de informação mais segura. Foi no sentido de perceber as modalidades de uso da TI e suas implicações nos processos de trabalho dos assistentes sociais, que realizamos esta investigação.

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Esta pesquisa compreende a Tecnologia da Informação (TI) como um recurso que pode ser colocado a serviço do social. Adotamos aqui o conceito empregado por Veloso (2007:31), que concebe a tecnologia não apenas como informática, mas como “coisa intangível”, que abrange procedimentos, métodos e técnicas. Nesta perspectiva, a valorização da TI no processo de trabalho do assistente social tende a fazer com que a gestão se faça de forma articulada, priorizando a troca de informação e experiência nas equipes, numa perspectiva de rompimento com o isolamento institucional. A possibilidade de transformar a prática profissional em conhecimento é favorecida no processo de apropriação da TI. Isto permite conferir visibilidade tanto aos aspectos quantitativos quanto qualitativos da demanda para o setor, favorecendo não apenas a realização de um melhor controle sobre os casos atendidos, mas também a reflexão acerca da articulação entre os conhecimentos teóricos e práticos-operativos adotados no processo de trabalho. Num contexto em que a democracia toma a cidadania como a linguagem comum dos programas e projetos, a apropriação da TI pelo Serviço Social pode significar um avanço no sentido da execução de seus objetivos. Portanto, seguir as novas diretrizes das políticas públicas requer atualização permamente do profissional da área. Neste sentido, o uso da TI pode tornar o profissional mais capacitado e instrumentalizado, um intelectual que não apenas processa os dados, mas que também sabe como interpretálos. Castells (2003), ao tratar da temática da divisão digital sustenta a idéia de que ser excluído numa economia global significa ficar a margem da sociedade, cujas redes geram valor. Essa exclusão ocorre por vários fatores como: falta de infraestrutura tecnológica, obstáculos econômicos ou institucionais ao acesso às redes, capacidade educacional e cultura limitada para usar a internet de forma autônoma, desvantagem na produção do conteúdo comunicado através das redes. (p. 227)

Neste sentido, a

desigualdade social pode ser reforçada pela divisão que estabelece entre os que sabem como se apropriar da TI e os que não tem acesso ou ainda não conseguem empregar a TI para melhorar o desempenho profissional, ou mesmo para utilizá-la visando seu desenvolvimento pessoal. Esta lógica tende a atingir as categorias, de tal modo, que outras categorias ou mesmo a sociedade passam a depreciar as instituições e os profissionais que não fazem uso das TI em seu ambiente de trabalho.

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No Brasil, a TI foi considerada uma ferramenta auxiliar para administração e as políticas públicas. Ao longo da década de 1990, foi sendo incorporada na gestão governamental, contribuindo para a construção de sistemas de informação. Apesar de sua penetração ser ampla na administração, sendo utilizada em todos os setores das Secretarias do governo, sua utilização ainda é bastante insuficiente no atendimento com o usuário. A situação não é diferente com o serviço social, setor que vem sendo informatizado muito lentamente, de modo que o uso da TI, de um modo geral, não está incorporado na rotina dos processos de trabalho. Nesta pesquisa buscamos nos concentrar no Hospital Universitário Pedro Ernesto e na Policlínica Piquet Carneiro, situados dentro da UERJ. Procuramos saber como a Tecnologia da Informação vem sendo utilizada no processo de trabalho do Serviço Social, a fim de identificar quais são as modalidades de uso da TI. No HUPE foram realizadas 9 entrevistas. Na Policlínica, 4. Optamos por realizar entrevistas semiestruturadas, que foram gravadas e posteriormente digitadas para análise. Também utilizamos as anotações do diário de campo. As entrevistas foram realizadas com assistentes sociais, mulheres, da faixa etária entre 30 e 58 anos. Para análise de dados empregamos a metodologia de Glazer e Strauss, conhecida no Brasil como Teoria fundamentada nos dados (TFD), que pode ser entendida como uma metodologia de pesquisa qualitativa, indutiva, que compreende “a realidade a partir da percepção ou significado que certo contexto ou objeto tem para a pessoa, gerando conhecimentos, aumentando a compreensão e proporcionando um guia significativo para a ação”. (Dantas et al., 2009). Procuramos em investigar não apenas as modalidades de uso da TI no âmbito profissional, mas também pessoal. Nossa intenção era conhecer a compreensão destes profissionais sobre a temática, buscando saber se tal reflexão foi inserida em sua formação profissional. Com os dados registrados, obtivemos os seguintes resultados:

a) Uso Pessoal Neste item, procuramos saber se o uso do computador e da internet já faziam parte do cotidiano destes assistentes sociais e de que forma era empregado. Os entrevistados responderam que, em casa, acessam o correio eletrônico, o orkut, o banco. Uma assistente social se considerou no nível iniciante, as outras preferiram se enquadrar no

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nível médio. A internet, principalmente o e-mail, vem sendo adotado como um veículo para comunicação e troca de informações. A rede ao promover a conexão online, possibilita adensar a comunicação criando uma nova forma de sociabilidade, que se desenvolve nos sites de relacionamento como orkut, o msn. Nestes espaços, a criatividade é pouca. A escrita muitas vezes corrompida. A comunicação é em geral serve ao entretenimento.

b) A Percepção da TI De um modo geral, as assistentes sociais utilizam o computador em casa. Elas têm uma percepção positiva da TI e sentem a importância de seu uso nas atividades profissionais.A identificação da TI com a informática é imediata, de modo que o uso do computador é o que caracteriza o trabalho com a TI.

Para mim tecnologia da informação é esse uso do computador que a gente tem, porque eu acho que trás benefícios para as nossas vidas, você poder usar recursos, essas ferramentas, essas técnicas para que traga mais qualidade para o seu dia-a-dia. É a informática em suas diversas formas. (Assistente social, HUPE) Tecnologia da informação... Eu acho que é uma das coisas mais modernas que você tem, onde você pode estar em contato com o mundo todo. Hoje em dia não existe mais distância, o fato é real. (Assistente Social , PPC) È uma tecnologia que chegou pra ficar. Só tem a aprimorar, chegou pra ajudar a gente a desenvolver um trabalho mais rápido, mais eficiente. Eu tenho muitos dados que não dá pra jogar em uma estatística. Eu lidei muito com a questão da analise da quantidade, em cima de uma base teórica pra você desenvolver a qualidade do dado; saber o que aquele dado diz . Os dados são pra essa função e a tecnologia é a base que vai agregar os dados. (Assistente Social, HUPE)

c) A TI e a Sociedade da Informação A informatização dos serviços, o avanço e a ampliação do acesso às tecnologias geram a impressão de que o mundo muda rapidamente. Apesar de constatarmos as transformações decorrentes do emprego de novas tecnologias, conseguimos também

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identificar as contradições deste processo visto que as mudanças, por mais profundas que possam parecer, ocorrem sempre no mesmo sentido, seguindo a lógica da acumulação capitalista, cujo principal objetivo é o lucro. Neste sentido, o avanço da tecnologia não representa a redução das desigualdades sociais, pelo contrário, ao dividir a sociedade entre os que sabem usá-la de modo socialmente valorizado e os que não sabem ou são excluídos por não terem oportunidade de acesso, a tendência é do aumento da distância cultural entre as classes.

A sociedade mudou, a terceira revolução industrial tá aí e encurtou tempo e espaço. A gente ganhou muito, mas não tá sabendo aproveitar o tempo que a gente ganhou. Quando a gente ganha tempo, a gente tem que fazer ele ir à favor do individual, mas também do coletivo. Essa impacto veio pra melhorar a qualidade de vida, pra inserir algumas pessoas e pra excluir outras tantas. Como as pessoas estão direcionando o uso da tecnologia me preocupa. Usar a tecnologia para ampliar, possibilitar uma maior automação, mas por outro lado eu tenho preocupações. Quando você cria a idéia que as pessoas devem ter determinadas competências e determinas das habilidades pra ser funcional ao sistema capitalista ( a gente não se enquadra em nada, a gente se constrói, construindo um todo), obrigando as pessoas a criarem inúmeras habilidades, e o capitalismo cobra que você desenvolva habilidades e competências, nesse momento você exclui muitas pessoas que não voa ter o acesso pra criar habilidades e não vai desenvolver as competências. .” (Assistente Social, HUPE) A gente está vivendo em um mundo globalizado, então, assim, se você não está antenado com o que tem de mais moderno, o que é a internet o computador, você acaba que não caminha junto com o mundo, você não consegue avançar, seja na sua vida pessoal ou profissional em suas diversas formas de viver... você precisa hoje, faz parte, a gente não consegue mais viver sem. .” (Assistente Social, HUPE) Ainda que expressem uma visão crítica da tecnologia ao considerar que seu avanço também acompanha processos de exclusão social, os entrevistados identificam a necessidade de atualização, inclusive, de mudanças na educação, que precisa se adaptar a uma sociedade em que a informação se tornou um valor.

Se a tecnologia veio pra ficar, ela não pode ser pra pouco, ela tem que ser pra todos. Ela tem o lado bom, melhora a qualidade, diminui

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o tempo , você aproveita muito mais, mas se você souber gerenciar bem o novo que está chegando, senão você se perde nele. Ao mesmo tempo,, se é novo , deve ser novo pra todos e não pra minoria, senão a gente vai ter uma concorrência desigual. A empregabilidade deve passar por uma boa educação, uma pro cura de qualidade que envolva a tecnologia na escola a gente trabalha isso, a gente tem laboratórios. Qualquer pessoa tem que ter a base de como apertar a teclinha do “enter”, pelo menos. Se a escola não for o espaço pra isso, vai ser difícil daquele aluno carente ter outro espaço. Acho que é bom e ruim, tem que saber gerenciar os limites e as possibilidades... Sociedade da informação é bom e é ruim. Mercado financeiro encurtou tudo, é tempo e espaço ao mesmo tempo, é quase a dobra do Einstein. Você negocia, você fala em tempo real. Acho que sociedade da informação é excelente. Você fala com o filho na Europa pelo Spyke. Não pode ser só pra um grupinho. Se eles abriram em meado do século 20, não é pra ser uma rede barata na Europa, e você entra numa África que não tem nada, no Brasil tá capengando e a gente paga uma nota pra acessar uma rede pelo telefone. Deveria ser livre pra todo mundo, que vire uma aldeia global mesmo. .” (Assistente Social, HUPE) No depoimento a seguir observamos que existe na assistente uma preocupação com o controle sobre o uso da TI, principalmente pelas crianças. Se a TI pode ser reconhecida também pelo aumento do controle social, que constituiria numa “sociedade de controle”, por outro, também é percebida como perigosa, em razão da possibilidade de escapar, de certa forma, ao controle ao navegar livremente por qualquer site. Para a assistente social, A tecnologia, a informática está fazendo com que a sociedade se modifique. Eu acho que ela tem pontos extremamente positivos, e também negativos. Eu fico muito preocupada como o adolescente ou até a criança mesmo está usando o computador. Eu acho que teria que ter uma forma de controle mais eficaz para que não acontecesse tanta coisa através da internet.(Assistente Social, PPC) Uma das preocupações comumente atribuída a internet é que os relacionamentos virtuais substituem os espaços de participação e de entrosamento. Alguns assistentes sociais demonstram esta inquietação. Encontramos um depoimento em que esse receio é claro. Para a entrevistada, a mobilização na internet tende a esvaziar a participação coletiva, inibindo o desenvolvimento da discussão face a face. Neste sentido, a TI é percebida como espaço substitutivo dos espaços políticos, que permite ao individualismo se sobressair em detrimento da coletividade.

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Assim, eu vejo que se têm os prós e não sei se chega a ser contra, mas, por exemplo, eu vivi um momento que a gente ia para rua eu fui militante do PT, daquele PT histórico nada do que ele é hoje, então, por exemplo, em dez de abril de 1984 a gente estava na Candelária e um milhão de pessoas lutando pelas diretas-já, então eu faço parte daquela época, as pessoas iam para rua, hoje as pessoas usam a tecnologia da informação para fazer movimentações pela internet, eu acho que está trazendo mais comodidade para as pessoas, não é só isso, mas isso também é a expressão de que as pessoas não estão investimento mais no contato direto, de ir para rua, participação coletiva dos movimentos acho que isso minou um pouco. Posso estar falando besteira mais as pessoas ficaram mais individualistas, não sei se eu respondi. .” (Assistente Social, HUPE) As comunidades nas redes permitem que as pessoas sejam “ligadas ou desligadas” facilmente, o que pode comprometer a construção de elos fortes capazes de conferir sentido ao processo de formação das identidades coletivas. A sociabilidade no ciberespaço expressa em grande parte o emprego de uma racionalidade tecnológica, que segue uma lógica de abertura às possibilidades de respostas para as vontades individuais. Na policlínica, uma assistente considera ser a sociedade da informação algo real, que incide sobre as formas de relacionamentos, produzindo novas formas de sociabilidade. Eu acho que hoje uma sociedade da informação é uma veracidade, uma verdade no dia de hoje. Hoje a gente tem comunidades, sites de relacionamento... É o relacionamento virtual, uma comunidade virtual que existe.(Assistente Social, PPC) Neste item pudemos identificar diversas impressões sobre a TI que permeiam os debates. As assistentes sociais, em geral não possuem resistência a TI, mas a percebem como algo imperativo na sociedade moderna, sendo antes uma necessidade imposta pelas rápidas mudanças da sociedade contemporânea. Como não tiveram profissionalmente nenhum curso de capacitação, suas respostas são espontâneas e muito diversificadas. Percebemos que a maioria mantém contato com computadores e a internet, mas ainda necessitam de suporte para incorporar a TI no trabalho.

d) Resistência a TI

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Duas entrevistadas com mais de cinqüenta anos apresentaram dificuldades para lidar com a TI. Uma delas afirmou que não utiliza o computador em casa e nem no trabalho. A outra está tentando usar para fins profissionais. Elas também declararam possuir resistência ao uso do computador. Eu acho que eu sou meio da idade da pedra (risos), eu tenho um pouco... A tecnologia é uma coisa que me assusta. Não é que eu tenha medo, mas eu tenho um pouco de resistência. Sei lá, talvez por teimosia...Olha só, quando eu me formei não existia isso. A internet, se você observar, a internet mais efetivamente tem uns 10 anos, 15... 15 se tiver. Mas, eu sou formada há 32 anos. Então eu sou da época da máquina de escrever, do mimeografo. Então eu sou de outra época. (risos) (Assistente PPC) eu acho que a resistência que eu tenho ainda do computador devido a minha idade, porque eu não nasci nesse meio, hoje em dia não quem tem quinze anos, dez anos já domina, eu sou do tempo da máquina de datilografia, então eu acho que eu já avancei muito. Eu estou tentando quebrar essa resistência eu até oito anos atrás não tinha email eu ia para os congressos alguma coisa assim e perguntavam você tem e-mail eu respondia não, eu tenho telefone e endereço de casa serve então aos pouquinhos eu fui vendo que eu ia ficar isolada do mundo se eu não fizesse um e-mail, então eu fui pelas circunstâncias da vida profissional eu tive que começar a quebrar essa resistência (Assistente Social HUPE)

e) O Acesso a TI no Ambiente de Trabalho Quanto ao emprego da TI no processo de trabalho do assistente social, os entrevistados reclamaram da falta de infra-estrutura adequada para a prestação do serviço por conta de uma série de fatores que tornam muito precárias as condições de trabalho.

Nas entrevistas, vimos que os computadores são mais acessíveis na

Policlínica Piquet Carneiro que no Hospital Pedro Ernest, mas ainda assim está longe do necessário: “As condições são extremamentes precárias: você não tem rede; você não se conecta com lugar nenhum; o computador foi doado; o telefone só fala com o Pedro Ernesto, e olhe lá, no Rio de Janeiro. Se você tem que falar com algum lugar, você tem que sair do hospital e procurar uma sala aberta que dê pra ligar pra fora.” (Assistente Social, HUPE)

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Péssimas, para você ter uma idéia lá no serviço social do Pedro Ernesto são várias equipes que trabalham com crianças, com adolescentes, tem equipe que trabalha com idosos que até aqui o NAI no décimo andar, nós somos da área de adultos, tem a área da saúde mental, então não existe um aporte tecnológico para cada área de serviço social. Nós temos um computador sem internet e assim mesmo porque foi doação de uma colega de área, na sala da chefia tem dois computadores para a equipe inteira, nós somos mais de cinqüenta pessoas, então muitas vezes você é obrigada a ficar na sua casa usando o seu computador pessoal para dar conta do trabalho..” (Assistente Social, HUPE) Olha é muito difícil fazer essa utilização no meu dia-a-dia de trabalho, geralmente eu faço em casa, porque dentro do trabalho a gente não tem condições para isso essa é a realidade, porque a gente tem poucos computadores, por exemplo, na sala onde eu trabalho tem um computador, não tem internet e a gente sabe que isso dificulta muito o nosso atendimento, o nosso dia-a-dia de trabalho. .” (Assistente Social, HUPE) No serviço social é um grande problema. Você, às vezes... tirando o Pedro Ernesto, que é uma instituição de renome , mas extremamente arcaica...é tão arcaica , que na sala que a gente atende não existe rede, só 1 computador pra 7 pessoas, e esse foi doado por uma assistente social que saiu. .” (Assistente Social, HUPE) Olha, aqui na Policlínica a gente tem acesso aos computadores, embora como somos muitas Assistentes Sociais, as vezes... E não tem computadores nos setores onde nós trabalhamos. Isso dificulta um pouco. Apesar de que assim, eu vejo que em outros locais os Assistentes Sociais não tem acesso nenhum, aqui a gente tem um acesso, sim. Mas facilitaria se nós tivéssemos obviamente computadores nas nossas salas, nos setores que a gente trabalha. (Assistente PPC) Na minha instituição tem sim, o computador. Mas aí vai ser utilizado para trabalhos, pesquisas. Porque ainda não existe a informatização do prontuário, quer dizer... Os nossos atendimentos eles não são registrados através do prontuário.(Assistente social, PPC).

Como pudemos ver, tanto na PPC quanto no HUPE, o uso da TI não está incorporado no processo de trabalho do Serviço Social, ficando sua utilização mais acessível aos gestores. A situação do HUPE ainda é mais precária, tanto pela falta de computadores quanto pelas dificuldades de acesso à internet. Este ambiente além de 9

não promover motivação aos assistente sociais, ainda permite que os mais antigos se acomodem, por não sentir necessidade de atualização, quer dizer, ao se acostumarem a não utilizar a TI no processo de trabalho, acabam reproduzindo uma rotina que requer pouco conhecimento, informação e comunicação. f) Capacitação para apropriação da TI Quanto a formação profissional, as entrevistadas responderam ter tido pouco ou nenhum contato durante a graduação. A capacitação em TI por parte do serviço social parece não ser um tema de relevância no HUPE, apesar das assistentes, que lá trabalham, reconhecerem a importância do uso da TI no processo de trabalho do Serviço Social. Ao serem perguntadas sobre a oportunidade de fazer um curso sobre TI em Políticas Sociais, responderam positivamente. Eu acho que seria importante, porque assim política social é o que você trabalha você é um executor de política social e se você consegue fazer uma interlocução entre política social e informatização eu acho que o ganho vai ser imenso, porque você vai conseguir eu acho que adequar um instrumento de trabalho seu que é a política social com a informática, eu acho um ganho sim. .” (Assistente Social, HUPE) Não sei se teria que ter um preparo a mais, uma capacitação mais avançada ou se seria uma coisa simples de fazer, mas se eu pudesse articular isso as políticas sociais seria ótimo, porque eu acho que vem facilitar um pouco a vida da gente, da gente poder trocar experiências com outras pessoas que estão fazendo esse mesmo trabalho em outros Estados, acho que isso traria benefícios para gente. .” (Assistente Social, HUPE) Eu acho que podia até ter alguma disciplina que trabalhasse alguns programas, de repente... Alguns programas específicos, ou... Ainda que fosse alguma eletiva, ou então que a faculdade pudesse ofertar um curso mesmo, para os alunos, é... Com alguns programas específicos: Power Point, porque a gente sempre tem que fazer apresentações. O próprio Word... Tem algumas ferramentas do Word que apesar de ser um programa básico, tem algumas ferramentas que a gente não consegue usar, não sabe usar. E principalmente para sistematizar a pesquisa.(Assistente Social PPC)

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g) A TI no exercício das competências e atribuições profissionais. Apesar de o Serviço Social trabalhar com prontuário, o que facilitaria caso fosse utilizado o computador, não foi mencionado a utilização da TI para a formação do banco de dados. Tanto no HUPE quanto na PPC, o uso da TI no trabalho é muito similar e consiste em elaboração de apresentações com programa Power Point, produção de textos

em Word, utilização de e-mails. Mesmo sem ter recebido

formação em TI, nem capacitação para o seu uso no trabalho, as assistentes sociais em geral consideram-se ter usuárias de nível médio e afirmam conhecer o básico em informática. Com relação às modalidades de uso profissional, elas responderam que: Olha eu utilizo muito para pesquisa de recursos sociais, pela internet. Eu utilizo para a elaboração de folder, de mural. Eu utilizo muito para isso. Acho que eu posso vir a utilizar mais quando eu tiver sistematizando pesquisa que a gente ta implementando. Então eu acho que eu vou poder utilizar para isso também. (Assistente social, PPC) Power Point, porque a gente sempre tem que fazer apresentações. O próprio Word... Tem algumas ferramentas do Word que apesar de ser um programa básico, tem algumas ferramentas que a gente não consegue usar, não sabe usar. E principalmente para sistematizar a pesquisa. (Assistente Social, HUPE) Como o acesso ao computador é muito difícil, as assistentes sociais acabam levando realizando em casa algumas tarefas do trabalho. No HUPE, várias assistentes utilizam o computador em seus lares,

buscando

informações para

subsidiar o seu trabalho. Acerca do uso da TI no trabalho, uma assistente social afirmou que:

É complicado porque no trabalho eu geralmente não uso, não utilizo porque justamente ele não me dá esse recurso e no outro local que disponibiliza dois computadores são computadores difíceis de você acessar principalmente porque é uma equipe grande para acessar esses dois computadores, agora atualmente um só porque o outro está pifado, então para você acessar é difícil, a internet é lenta, para abrir um documento, para fazer um parecer social então eu prefiro fazer em casa, acaba que fica inviabilizado de você fazer isso no seu dia-adia de trabalho. (Assistente Social, HUPE)

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Em uma das entrevistas, a assistente respondeu que não se sentia capaz de responder acerca do uso profissional da TI. De qualquer forma é notória as inúmeras dificuldades encontradas pelo Serviço Social na realização de um trabalho sem o computador. Desperdiçam tempo, perdem na

capacidade de organização e

sistematização da prática e, consequentemente, de respostas as demandas dos usuários.

Sobre os obstáculos enfrentados no cotidiano do trabalho do Serviço

Social no HUPE, a assistente declarou que:

O caderninho preto é coisa mais complexa que tem na Terra. Se você pegar um prontuário de um usuário que tenha algum atendimento há 5 anos e você não tenha feito um prontuário só dele, você terá que pegar vários cadernos e folhear , folha-a-folha. O usuário pode se tornar uma pessoa solta no ar, sem história Tem pessoas que são atendidas há quinze anos no Pedro Ernesto, ai ele fala que era atendido por fulana, ai você liga pra pessoa e pergunta o que ele tinha. Fica na memória. Isso é um problema, você ter um relato de uma vida inteira na memória de uma pessoa que está no trabalho hoje e amanhã pode não estar, é errado... Até na troca do dia, porque tem usuário que faz jogo. Em alguns dias da semana tem assistentes sociais diferentes, no dia em que não estou, como não tinha prontuário, teve uma usuária que se aproveitou pra pedir uma bolsa, que não tem mais direito, à uma outra assistente social. A gente até faz à mão., mas no “à mão” a gente nem sempre faz tudo. (Assistente Social, `HUPE) As assistentes sociais, quando levadas a refletir sobre a incorporação da TI no processo de

trabalho,

demonstraram interesse acreditando ser positivo para

realização do serviço que prestam. A impressão geral é de subutilização da TI, apesar das evidências apontarem a sua necessidade:

Eu acho assim, essa tecnologia da informação no meu trabalho poderia ser utilizada assim a gente hoje utiliza vários papéis eu acho que se a gente conseguisse centralizar dentro de um programa essas informações eu acho que traria impactos significativos para o nosso cotidiano, para os atendimentos, acho que seria bem melhor.(Assistente social, HUPE) Eu acho que no dia-a-dia, das exigências que a realidade mesmo coloca para gente.. acho que qualifica e você pode ampliar o escopo da tua intervenção na unidade de saúde que você está, acho que é a realidade mesmo, ela que ensina a gente olha precisa aprender mais coisas para poder responder os desafios profissionais que se 12

colocam cotidianamente. Ontem por exemplo a gente estava aqui no hospital com uma referência de cirurgia de transgenitação, de mudança de sexo, aí eu apresentei como a nossa área está lidando com isso, foi no PowerPoint, eu tive que pedir ajuda para alguém, então assim a realidade exige da gente isso e a gente tem que correr atrás do prejuízo. (Assistente Social, HUPE) Bom, a TI acho que é importante para o Serviço Social. Embora a profissão possa se apropriar mais dessa tecnologia, em vários aspectos. (Assistente Social, PPC) Com base nas entrevistas realizadas identificamos que as dificuldades com relação ao uso da TI não se restringem a falta de acesso. A ausência de familiaridade com a TI pode ser o resultado de uma resistência em razão do avanço da idade e da falta de motivação. h) O Serviço Social e a TI Procuramos identificar a relação que as assistentes sociais poderiam estabelecer entre a TI e o Serviço Social. As assistentes sociais destacaram a importância de se estabelecer contatos, de se manter informado e de realizar pesquisas. Elas indicam a necessidade de melhor domínio sobre TI e de ampliação de seu uso no processo de trabalho. Apresentam demandas como o aprendizado do uso do Excell, aprofundamento do Word e conhecimento de programas de estatística. Reconhecem que poderiam realizar um trabalho mais qualificado caso pudessem fazer uso da TI: Bom, a TI acho que é importante para o Serviço Social. Embora a profissão possa se apropriar mais dessa tecnologia, em vários aspectos. (Assistente, PPC) O Serviço Social, ele utiliza, ele precisa ter conhecimento dos recursos disponíveis na sociedade, e através da informática isso chega muito rápido. Você tem um acesso às informações, leituras, contatos através de e-mail com profissionais da mesma área; Instituições diferentes. Enfim, eu acho que tem uma gama muito grande de possibilidade para o Serviço Social. (Assistente, PPC) Acho que essa tecnologia é basicamente ...de ser instrumento de trabalho, ela pode facilitar muito no que a gente vem trabalhando aqui, que é a organização dos recursos institucionais, recursos sociais. Então isso ajuda muito. Essa tecnologia otimiza muito a

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nossa capacidade de organizar e ter acesso a essas informações, então, para o assistente social essa questão dos recursos é fundamenta,l é assim importantíssimo que a gente tenha, para está facilitando o nosso trabalho, isso na questão do atendimento e aí eu acho que também entra na questão de organização do próprio trabalho, quando você vai digitalizar, sistematizar tudo e você ter como guardar essas questões seriam boas, as próprias entrevistas que você faz, os dados dos usuários se você tivesse como digitalizando isso para depois você olhar esses dados sistematicamente facilitaria muito a gente aqui no nosso trabalho no dia-a-dia. (HUPE) Além destas questões percebemos que alguns entrevistados demonstraram certa preocupação com o sigilo das informações, no caso de haver um outro administrador que não seja o próprio Assistente Social. As entrevistas apontam, ainda, certa insegurança para lidar com a TI no trabalho, seja pela falta de capacitação, ou pela possibilidade de objetivação do tempo e do processo de trabalho, seja pela sensação de que a TI pode fazer com que o assistente social perca o domínio sobre sua rotina de trabalho. Em síntese, a pesquisa demonstra que o problema não está na tecnologia em si, mas no uso social que se faz dela e que as possibilidades e limites da TI variam de acordo com os recursos (e qualidade dos mesmos) disponíveis em cada instituição e com conhecimento técnico-crítico dos assistentes sociais. A TI pode potencializar a realização de contatos e o acesso às informações, ajudando na socialização das mesmas, além de oferecer aos assistentes condições mais favoráveis para a realização de encaminhamentos e o oferecimento de respostas às demandas apresentadas. No entanto, para que o uso da TI venha acrescentar mudanças qualitativas no processo de trabalho, uma mudança na cultura organizacional das instituições públicas torna-se imprescindível. É preciso fazer com que os assistentes sociais se sintam mais seguros, e vençam os receios de se apropriarem da TI, utilizando seus recursos no processo de trabalho. Esse trabalho será possível ser realizado a medida em que estes profissionais começarem a entender a sentir os benefícios do emprego da TI. Isso, no entanto, só poderá acontecer mediante a disponibilidade de acesso a TI e o investimento em capacitação.

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