O Povoado da Quinta de Crestelos (Meirinhos, Mogadouro, Portugal): Fortificação e controlo de um territorio

June 29, 2017 | Autor: J. Sastre Blanco | Categoria: Iron Age Iberian Peninsula (Archaeology), Iron Age, Edad Del Hierro, II Idade Do Ferro
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O Povoado da Quinta de Crestelos (Meirinhos, Mogadouro, Portugal): Fortificação e controlo de um territorio Sergio Pereira - [email protected] José Carlos Sastre - [email protected] Rita Gaspar - [email protected] ACE Baixo Sabor Israel Espí - [email protected] Crivarque Lda José Antonio Pereira - [email protected] Rosa Mateos - [email protected] Javier Larrazabal - [email protected] Novarqueologia Lda RESUMO O sítio arqueológico da Quinta de Crestelos localiza-se numa plataforma, da margem esquerda do rio Sabor, não muito longe da sua confluência no rio Douro. O rio Sabor percorre um vale encaixado e profundo, registando-se algumas zonas de exceção, como são os casos da Quinta de Crestelos e Silhades, locais privilegiados de ocupação humana. As intervenções arqueológicas patentearam uma longa diacronia de ocupação na área onde se localiza a Quinta de Crestelos, desde o Paleolítico Superior, no sítio Foz do Medal, à Idade do Ferro, Romanização, chegando mesmo até ao presente, como exploração agro-cinegética. Durante a Idade do Ferro reconhecemos dois tipos de implantação, pertencentes a um mesmo povoado: uma área elevada ou esporão, com cerca de 0,5 hectares, que contemplou um sistema defensivo com muralha, torreões, portas, fossos e plataformas. Em dado momento, a parte da crista parece transformar-se num recinto amuralhado que protege diversos celeiros; a sul, ao nível da plataforma, registou-se, numa área extensa, a presença de várias unidades familiar-funcionais, constituídas por cabanas circulares, estruturas de armazenamento e fornos. Destaca-se, também, o interessante conjunto de materiais arqueológicos, enquadráveis na I e II Idade do Ferro. PALAVRAS CHAVE Idade do Ferro, Quinta de Crestelos, celeiros, fosso, fortificação.

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ABSTRACT Quinta de Crestelos site is located in the left margin of Sabor River a few kilometers before it reaches Douro River, in Trás-os-Montes region. Sabor River runs in a region with very irregular topography and presents a valley with high-gradient slopes. Some exceptions to this topography can be observed along the river course, were the valley becomes wider and the formation of low platforms potentiate one intense human occupation. The Crestelos and Silhades areas are among these ideal locations. Crestelos area has a long diachronic occupation ranging from the Paleolithic, identified in Foz do Medal site, to modern times with the farm of Crestelos. One of the more intense and important occupation in Quinta de Crestelos corresponds to Iron Age phases where two distinct types of occupation were observed: a high and well defensed area, which occupies the top of a quartzite crest and a lower area, outside the walls. The higher area has about 0,5 hectares and presents a complex defensive system including walls, ditches, towers, gates, access, and platforms to protect the internal area where were located a lot of granaries and ovens. In the lower area were found a large number of habitat structures including circular huts, granaries, ovens, pits, among others., The site presents also a rich collection of archaeological materials from the first and second Iron Age. KEY WORDS Iron Age, Crestelos Farm, granary, pit, fortified 1. INTRODUÇÃO AOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS O sítio que se apresenta é conhecido como Quinta de Crestelos, localizando-se administrativamente na freguesia de Meirinhos, concelho de Mogadouro e distrito de Bragança (Portugal). No âmbito da construção de duas barragens (Projeto de Aproveitamento Hidroelétrico do Baixo Sabor) e do respetivo Plano de Salvaguarda do Património1 foi possível identificar, inventariar e estudar um grande número de elementos patrimoniais, destacando-se diversos sítios arqueológicos. Neste cenário, foi desenvolvida uma grande intervenção arqueológica na Quinta de Crestelos, entre Agosto de 2011 e Janeiro de 2014, que rondou 10.800 m2. Esta escavação foi coordenada por Rita Gaspar (Pré-histó-

1 O Plano de Salvaguarda do Património foi financiado pelo dono de obra (EDP - Energias de Portugal) e a estrutura de coordenação assegurada pelo consórcio construtor (Baixo Sabor ACE).

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ria), José Carlos Sastre (Idade do Ferro) e Sérgio Simões Pereira (Romanização), contando com uma vasta equipa de diretores de escavação e arqueólogos, ao serviço de várias empresas de Arqueologia - Arqueo’Estudos, Arqueologia e Património, Crivarque, Empatia, Munis, Neoépica e Novarqueologia. Inicialmente, foi efetuado um levantamento topográfico de pormenor, tendo em vista a posterior georreferenciação de todos os trabalhos arqueológicos. A estratégia de intervenção implicou a realização de sondagens e valas de diagnóstico, manuais ou com auxílio mecânico, derivando em alargamentos em área, sempre que os resultados das primeiras se revelaram interessantes em termos científicos ou essenciais para a caracterização do sítio. Dada a grande dimensão da área de escavação, os trabalhos acabariam por ser subdivididos em áreas ou setores, por sua vez confiados a diferentes direções de campo e empresas. A própria topografia do sítio, a distinção inicial de dois elementos patrimoniais - o Povoado da Quinta de Cres-

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Fig. 1: Parte da área de intervenção no sítio da Quinta de Crestelos, sobre levantamento topográfico.

Fig. 2: Vista geral da área intervencionada, com a crista ou esporão (à esquerda) e a plataforma (mais à direita) - foto aérea de Arte Fotográfica Lda. 279

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telos, para a zona mais elevada, e a Quinta de Crestelos, para a plataforma mais baixa-, acabariam também por condicionar a distribuição e o desenvolvimento dos trabalhos. Com base nas escavações sistemáticas efetuadas foi possível documentar uma evolução histórica deste troço do vale onde se localiza a Quinta de Crestelos iniciandose a ocupação humana da área durante o Paleolítico, nomeadamente no sítio Foz do Medal (Gaspar et al, 2014, Figueiredo et al, 2014, Gaspar et al, aceite)2, a nascente, percorrendo diversos períodos cronológicos até à atualidade, tendo em conta que ainda se explorava a quinta aquando da nossa intervenção. Os períodos de maior intensidade de ocupação verificaram-se na II Idade do Ferro e no período da Romanização deste enclave. 2. IMPLANTAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO A escavação arqueológica deste sítio revelou uma notável ocupação durante a II Idade do Ferro, que se prolonga pelo período Romano. É sobre estas fases que incidirá este trabalho. A zona mais alta ou esporão (220 m a.n.m.m.), a norte, acaba por ser um espaço circunscrito pelo próprio relevo (0,5 ha), revelando apetência para a implantação de estruturas do tipo defensivo, como as que se viriam a identificar: dois fossos, torreões, duas portas de acesso, linhas de muralha e de plataformas. Trata-se de um lugar de difícil acesso, mais pronunciado do lado do rio Sabor, todavia num segundo plano em relação à paisagem envolvente ou outras elevações (Cabeço do Aguilhão a este - 393 m a.n.m.m.). Não se tratando de um lugar de grande altitude, não temos dúvidas da sua direta relação com o rio e o vale, na perspetiva da exploração dos recursos e sustentabilidade. Ainda na área sobrelevada, para além dos elementos de

A intervenção no sítio do Medal (EP193MD) foi coordenada por Rita Gaspar, sendo os trabalhos de campo dirigidos por Joana Carrondo.

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carácter defensivo, reconheceram-se algumas cabanas e um número assinalável de estruturas de armazenamento de cereais ou celeiros (horrea). Era parte integrante deste povoado, a zona mais baixa (Quinta de Crestelos ou Plataforma da Quinta de Crestelos). Em determinados momentos ou fases, parece ser aqui a principal área habitacional, reconhecendo-se várias fases de ocupação, caracterizadas pela presença de unidades familiar-funcionais e cabanas, que nos oferecem uma valiosa informação dobre o desenvolvimento e evolução deste povoado. Importa assinalar o facto de termos escavado apenas uma parte do povoado, onde se registou um grande contraste entre estados de conservação de estruturas nas diferentes áreas. Assim, seria imprudente subvalorizar a presença de poucas cabanas na zona superior, muito alteradas pelas últimas construções e pela própria erosão das vertentes e plataformas. Com as devidas cautelas, intentaremos fazer uma aproximação ao percurso deste povoado, desde a sua implantação, nas primeiras fases da Idade do Ferro, evolução e posterior romanização. 3. I FASE: I IDADE DO FERRO A fase mais antiga, dentro da Idade do Ferro, levanta algumas dúvidas derivadas da descontextualização de muitos dos materiais recolhidos e, por outro lado, do reduzido número de contextos preservados. O panorama resultou, em parte, da intensidade da ocupação na II Idade do Ferro, que provocou a amortização, transformação ou sobreposição de contextos e estruturas, impedindo a obtenção de uma visão conjunta do sítio para a primeira fase. Cremos que a análise mais detalhada de alguns contextos e o estudo de pormenor do espólio exumado poderá acrescentar novos dados e contribuir para a caracterização desta fase, muito alterada pelas ocupações posteriores. Na área mais elevada reconhecem-se alguns contextos localizados em espaços restritos, sendo difícil caracterizar o conjunto de materiais cerâmicos associado este período. Trata-se de

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Fig. 3: Vista área do povoado da Quinta de Crestelos, localizado numa plataforma e esporão sobre o rio Sabor - foto aérea: Luís Pinto – sul-norte.

peças de fabrico manual, de aspeto muito tosco e que apresentam superfícies brunidas. Na zona mais baixa ou plataforma, sob a grande concentração de cabanas da fase seguinte, o cenário é semelhante, reconhecendo-se alguns contextos, materiais e estruturas que parecem associados à fase mais antiga da Idade do Ferro, mas sobre os quais é preciso investigar. 4. II FASE: II IDADE DO FERRO A II Idade do Ferro parece ter sido a fase de maior ocupação do sítio, em área e provavelmente em população, onde as estruturas e contextos se encontravam melhor preservados. Dentro deste período encontramos vários momentos de ocupação que ilustram a evolução e desenvolvimento do povoamento na Quinta de Crestelos até à sua romanização. Possivelmente, o sistema defensivo ter-se-á desenvolvido entre os inícios e meados

desta fase, à semelhança do sítio do Castelinho, também intervencionado no âmbito do Plano de Salvaguarda do Património, sendo os trabalhos coordenados por Filipe Santos (SANTOS, F. et alii: 2012). Num primeiro momento parece ter sido aberto o Fosso 1, que percorre a crista ou esporão pelo lado sul, delimitando um espaço interior que rondaria 0,5 hectares. O fosso foi escavado no afloramento de xisto, ou substrato geológico, servindo em simultâneo na extração de pedra, que seria utilizada na edificação de uma provável muralha e de plataformas internas. A estrutura em negativo (Fosso 1) compreendia um marcado carácter estratégico, vinculando-se com os restantes elementos defensivos que se localizam neste sector, como uma provável muralha primitiva. Esta estrutura murária acompanharia o fosso em paralelo, ainda que seja difícil recuperar a tipologia construtiva, face à sua des281

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Fig. 4. Fosso1 situado na crista do povoado da Quinta de Crestelos, com alguns fornos sobre a base, já num momento de reutilização.

Fig. 5. Localização dos diversos fornos, na zona interior do fosso principal (Fosso 1).

truição e ocultação, resultantes de reestruturações posteriores. Nesta fase, a entrada para o reduto defensivo seria uma porta localizada no extremo oeste da crista. Não é seguro que a porta identificada naquela área pertencesse ao primeiro momento, contudo, o facto de o primeiro fosso terminar também no extremo oeste, junto da entrada, aponta para um acesso algures nessa posição, até porque se trata de uma passagem difícil e algo escondida em relação à topografia do sítio. Dentro da mesma fase, mas num momento imediatamente posterior, verifica-se uma grande reformulação do espaço, nomeadamente na zona mais alta. O fosso perderia o seu carácter estratégico-defensivo, transformando-se numa área funcional e de circulação, onde se identificaram cerca de 30 fornos. A finalidade destas estruturas de combustão não é ainda segura, todavia poderiam relacionar-se com a confeção de alimentos, ou transformação de produtos agrícolas antes da sua armazenagem. Em simultâneo, à transformação do fosso numa área funcional, parece ter ocorrido o alargamento do mesmo, nalguns pontos, ganhando largura, espaço, e passando a ostentar uma forma em U alargado. Os fornos foram implantados sobre o nível de circulação, nas orlas do fosso. Pela temperatura a que parecem ter sido sujeitos só poderiam relacionar-se com a preparação

ou transformação de produtos agroalimentares. Aguardamos os resultados dos estudos arqueobotânicos, ainda em curso, que poderão contribuir para uma aproximação à verdadeira função dos fornos. Outra questão ainda em aberto prende-se com a reutilização do fosso e a perda eventual da função defensiva adjacente. Nesta fase, o povoado poderia apresentar uma dimensão que ultrapassasse a linha do Fosso 1, pelo que o mesmo estaria já numa posição interna. Outra hipótese plausível seria a de o momento de reutilização coincidir com um período estável em termos político-militares na região, pelo que a função defensiva ocuparia um segundo plano. Não podemos desconsiderar também a existência de plataformas interrelacionadas com um segundo fosso (Fosso 2), distanciado a alguns metros abaixo do primeiro. A segunda estrutura em negativo implantava-se já em zona de vertente, virada a sul, ainda sobrelevada em relação ao espaço habitacional e funcional da plataforma. A considerar pelos materiais recuperados em ambos os fossos, estes parecem ser contemporâneos, pelo menos, no momento da sua reutilização, ainda que no segundo caso não se tenha registado a existência de qualquer forno. Podemos supor que a diferença cronológica entre ambos os fossos possa ser curta, pelo que materialmente seja muito difícil distingui-los no tempo.

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O mau estado de conservação de ambos os torreões da porta, reduzidos às primeiras fiadas de pedra e ao respetivo preenchimento, não nos permite chegar a uma conclusão. Se por um lado, desconfiamos que o aparelho empregue na base do “novo torreão” pudesse sustentar uma estrutura em altura, não se podendo afastar, para já, a hipótese de se tratar de um reforço ou apoio a um torreão mais recuado. Quer se trate de um novo torreão ou de uma alteração ao primeiro, subentende-se nos dois casos uma intenção estratégico-defensiva de proteger e dificultar o acesso ao interior do recinto. Neste momento, o povoado da Quinta de Crestelos alcançaria o seu maior desenvolvimento. Paralelamente, na área mais baixa ou plataforma, a área ocupada por unidades familiar-funcionais e por outras estruturas, para já indeterminadas, atingiria a sua maior extensão. O povoado estava distribuído por grandes patamares ou socalcos, nos quais se implantariam as diversas unidades. Estas caracterizavam-se por um conjunto de estruturas - uma ou duas cabanas, estruturas auxiliares, forno e espaço amplo aberto -, delimitadas por uma cerca envolvente de tipo alvenaria. As cabanas, circulares, apresentavam algumas características comuns, como um empedrado de preparação sobre o qual assentava o piso de argila, paredes de adobe ou de entrelaçados de madeira revestidos de argila, lareira central de barro, cobertura ve-

getal assente em estrutura e postes de madeira. Algumas das cabanas, com lareira central, apresentavam indícios de conterem um banco, de madeira ou argila, justaposto às paredes e envolvendo parte do seu perímetro. No interior de duas unidades familiar-funcionais registámos, como estruturas auxiliares, um tipo de construção delimitado por um murete de alvenaria, de forma oblonga, cujo interior estava preenchido de negativos de buracos de poste. Pensamos tratar-se de uma estrutura de armazenagem, contudo, não dispomos de elementos que permitam saber o que ali se guardava. Em termos gerais, o modelo de implantação das unidades documentou-se em quase todas as áreas escavadas na plataforma de Crestelos, registando-se, também ali, a maior densidade de cabanas. Para este tipo de estruturas de habitat encontramos paralelos no Cerro de San Vicente, em Salamanca (MACARRO ALCALDE y ALARIO GARCÍA: 2012) e em La Corona/El Pesadero, em Manganeses de la Polvorosa, Zamora (MISIEGO TEJEDA, et alii: 2013). Uma terceira fase, algures entre o final da II Idade do Ferro e os inícios da Romanização, caracteriza-se por uma reorganização e transformação do conjunto arquitetónico do povoado. O processo ficaria marcado por uma reintrodução de estruturas defensivas, no ponto mais elevado ou esporão. Esta intenção de proteger uma parte do povoado

Fig. 6. Torreão da porta noroeste, um dos acessos ao interior do povoado na área do esporão.

Fig. 7. Cabana localizada na Área 18, com lareira central e banco corrido de madeira. 283

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parece ao mesmo tempo contraditória, uma vez que o Fosso 1 parece ter sido colmatado na totalidade, anulando completamente a sua reutilização funcional e apagando definitivamente o seu carácter defensivo original. Esta tendência, de colmatar os fossos, regista outros exemplos no Fosso 2, um na vertente sul e outros na extremidade nascente da crista. Este procedimento de amortização de fossos está documentado no sítio do Castelinho, num mesmo ambiente crono-cultural (SANTOS, F. et alii: 2012, 168-169). A colmatação dos fossos em Crestelos derivou, em parte, de uma remodelação arquitetónica, que implicou a construção de uma nova muralha que ora segue outro traçado, ora reutiliza e oculta a muralha primitiva. De ponto comum, ao traçado da muralha primitiva, arrancaria a nova estrutura defensiva, passando sobre o fosso, agora preenchido, na direção sudeste. O troço da nova muralha terminaria numa entrada ou porta, aberta na área central, da vertente voltada para sul. Não foi possível recuperar elementos de que se trataria, efetivamente, de uma muralha, uma vez que não se conservou a estrutura em altura, acima do nível de sustentação ou circulação interna. A nova porta ou entrada, em cotovelo, daria acesso ao interior de uma primeira plataforma superior, à qual se acedia através de uma rampa. Desta porta, arrancaria outro troço de muralha, na direção nascente, que se perde

um pouco mais à frente, talvez devido ao seu desmonte parcial. No limite este, da zona mais elevada, foi ainda documentado a construção de um torreão, de planta semicircular, sobreposto ao Fosso 2 e que o amortiza, completamente, naquele ponto. A área intervencionada nesta zona não permitiu a identificação de qualquer porta que, a existir, poderia ladear o torreão, a este e no limite esporão. No exterior do torreão, foi-lhe adossada uma cabana, secundarizando de algum modo a função defensiva da estrutura. No lado oposto, na área da porta noroeste, não se afigura unânime, que o torreão, de maior dimensão e semicircular, tenha sido levantado nesta fase, até porque aparece enquadrado com o limite do Fosso 1. Poderemos apenas equacionar outra possibilidade, a de o reforço da entrada se relacionar com a anulação da estrutura defensiva em negativo. Um dos aspetos mais interessantes, registados no topo da crista, prende-se com um novo modelo de armazenamento de cereais, os celeiros (horrea) - estruturas de madeira sobrepostas a um lajeado de xisto, assente em muretes e com caixa-de-ar. Esta novidade poderiam ter chegado a Crestelos no séc. II a. C., pelo menos. A sua vulgarização parece ter ocorrido no século seguinte, prolongando-se a sua utilização, na zona da crista, pelo séc. I d. C. A generalização dos horrea, maioritariamente, implantados no topo do esporão, local

Fig. 8. Torreão localizado quase no limite este da crista com cabana adossada ao elemento defensivo.

Fig. 9. Celeiro (horreum) de planta circular, depois de retirado o lajeado de base.

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Fig. 10. Cabana com alicerce de alvenaria, lareira central, registada na Área 18.

Fig. 11. Celeiro retangular localizado na vertente norte do esporão ou crista.

arejado e soalheiro, parece-nos coincidente com a última grande transformação arquitetónica operada nessa área. Grande parte do sedimento que se encontrava sob o lajeado dos celeiros foi flutuado, revelando grande quantidade e diversidade de cereais. O estudo dos macro-restos vegetais certamente contribuirá para conhecer as espécies ali armazenadas e uma das bases da dieta alimentar indígena. O mesmo cenário, de reestruturação arquitetónica do povoado e de implantação de celeiros, na parte alta e mais protegida, verificou-se também no sítio do Castelinho (SANTOS, F. et alii: 2012) e em horizontes crono-culturais idênticos. A semelhança entre os dois sítios estende-se também ao campo das tipologias dos horrea, onde se identificaram estruturas circulares, quadrangulares e retangulares. Supomos que as primeiras, de planta circular, possam ser mais antigas e que as quadrangulares ou retangulares mais recentes. Aliás, os celeiros retangulares, de maiores dimensões, são normalmente associados a contextos tipicamente romanos - Couriscada (Meda) e Casa Museu (Freixo de Numão). Este tipo de estruturas de armazenamento fornece indicadores muito interessantes em termos económicos, dietéticos, para além confirmar a sua presença em realidades culturais distintas. Situando-se o primeiro conjunto de celeiros, no interior do recinto amuralhado ou murado, a área do esporão deixou de ser encarada como reduto estratégico-defensivo, para passar a desempenhar uma função prática de armaze-

namento e proteção de cereais ou dos excedentes. Na mesma altura, verifica-se zona baixa de Crestelos uma evolução dos tipos construtivos habitacionais. As cabanas de adobe ou revestidas de argila parecem dar lugar à alvenaria de xisto, ainda que as formas das cabanas circulares, com lareira ao centro, e a organização das unidades se mantenham semelhantes. A sobreposição de estruturas habitacionais e funcionais, bem como de níveis de circulação pode levantar uma outra questão, relacionada cm a possibilidade de o sítio ter sido abandonado temporariamente, ainda que por pouco tempo. A densidade de ocupação e populacional parece regredir, em face das novas estruturas identificadas. Neste e noutros casos, importa lembrar que os dados disponíveis se reportam apenas a uma parte do sítio e que outra parte significativa permaneceu em reserva arqueológica. 5. III FASE: DA IDADE DO FERRO À ROMANIZAÇÃO DE CRESTELOS A última fase da II Idade do Ferro, na sua componente cultural ou indígena, mantem-se e convive com os novos modelos característicos dos inícios da romanização. Naturalmente o substrato indígena foi-se perdendo à medida que a cultura romana se sobrepôs, num processo que se afigurou lento e gradual. A mesma tendência e evolução foram possíveis de constatar nos sítios do Castelinho (Felgar), Chã (Cerejais) e Laranjeiras (Torre de Moncorvo).

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Parece intensificar-se a função de Crestelos como área de produção e armazenamento de cereais. As estruturas mais imponentes ou estratégicas perdem claramente o seu carácter defensivo. A entrada ou porta noroeste é condenada e sobre um dos torreões, chega mesmo a ser construído um celeiro retangular. Para além da multiplicação de celeiros na parte mais alta, verifica-se que os mais recentes apresentam uma forma retangular e, como é óbvio, uma maior dimensão. Subentende-se nesta alteração estratégico-económica uma nova ordem ou influência, provavelmente, relacionada com o domínio ou controle romano pleno. Neste ambiente, a área habitacional parece ocupar uma área mais reduzida, entre o meio da vertente sul da crista até ao sopé. As estruturas detetadas e que se encaixam nesta fase reduzem-se à área 18, Valas 48 e com mais dúvida a Vala 34 A. Poderemos ainda considerar algumas estruturas, quase apagadas por desmonte, registadas na Área 19.

Para finalizar, convém sublinhar que o momento final da ocupação da crista poderia relacionar-se com uma viragem económica do sítio, que deixaria de produzir tantos excedentes cerealíferos, culminando numa degradação progressiva das estruturas de armazenamento. A prova desse desinteresse pela parte alta residiu no seu abandono generalizado, derrube de estruturas, erosão e sedimentação pontual. A base da economia local pode ter conhecido outro rumo ou outros produtos mais vantajosos, como por exemplo a vinha e o vinho. Paralelamente, a zona da plataforma foi alvo de uma grande reestruturação, apagando da paisagem as construções de aspeto pré-romano. O espaço é reorganizado em função de modelos claramente romanizados. Construiu-se um grande edifício, onde funcionou um lagar de vinho, que incluía um grande armazém ou cave. A parte habitacional pensamos que se localizasse na zona de vertente, abrigada e virada a sul (Vala 48). A armazenagem de cereal foi relocalizada um pouco a sul, materializada num

Fig. 12. Muralha tardia do Povoado de Crestelos, amortizando o Fosso 1. 286

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grande celeiro retangular, envolvido por uma cerca que o protegeria (Zona 7). Surgiram, ainda, outras estruturas auxiliares, que não foi possível interpretar, pelos condicionalismos e limites das áreas escavadas. Na zona mais elevada só voltamos a registar ocupação, de forma pontual, em períodos e níveis tardo-antigos. Trata-se de dois contextos junto da porta sul, a entrada mais recente. Após o desmonte de uma parte do tramo da nova muralha, a este da porta, parece ter sido criado uma espécie de abrigo, onde se reconhecera alguns níveis de ocupação, sobrepostos. A considerar pelos materiais recuperados, não parece tratar-se de uma ocupação contínua, mas de uma situação temporária e muito improvisada. O próprio enterramento tardio (séc. VI), detetado na entrada da porta sul, por onde se acedia ao antigo recinto dos celeiros, reflete a descaracterização e abandono a que a parte alta estaria voltada. Todavia, a depreender da posição do enterramento, parte das estruturas da porta ainda estariam conservadas. O facto de ali se reconhecer um enterramento daquela cronologia, não deixa de ser enigmático, uma vez que foi identificado no sítio da plataforma uma necrópole, cuja diacronia abarca aqueles horizontes cronológicos e se prolonga pela Alta Idade Média. CONSIDERAÇÕES FINAIS No âmbito do projeto hidroelétrico do Baixo Sabor foi possível desenvolver um conjunto de intervenções arqueológicas no sítio da Quinta de Crestelos, que envolveu uma vasta equipa de arqueólogos e de Empresas de Arqueologia. A escavação sistemática de uma grande área permitiu obter uma ampla visão do povoamento e respetiva evolução, desde a Idade do Ferro aos inícios da Romanização. Assim, desde a primeira metade do Iº milénio a.C. distingue-se uma primeira fase relacionada com a I Idade do Ferro, da qual se reconheceram apenas pequenos contextos, assim como materiais descontextualizados. Tratando-se ainda de dados dispersos, tentaremos, num futuro próximo, centrar alguns esforços no estudo destes contextos, com o objetivo de poder obter uma

Fig. 13. Trabalhos de escavação da muralha tardia do povoado da Quinta de Crestelos.

maior informação sobre este período. O maior volume de informação reporta-se à II Idade do ferro, onde se registou uma ocupação intensa, semelhante à que se encontra documentada em outros sítios como Cerro de San Vicente, em Salamanca (MACARRO ALCALDE y ALARIO GARCÍA: 2012), La Corona / El Pesadero, em Manganeses de la Polvorosa, Zamora (MISIEGO TEJEDA, et alii: 2013) e o Castelinho, em Felgar, Torre de Moncorvo (SANTOS, F. et alii: 2012). Denota-se neste período uma evolução dos modelos de povoamento indígenas, que se prolongam pelo início da romanização, desaparecendo progressiva e espaçadamente face à cultura romana. Na área mais elevada, o modelo de implantação inicial parece partir de uma arquitetura de caracter defensivo, constituída por um fosso, muralhas, plataformas, torreões e uma ou duas entradas protegidas. Importa relembrar que o povoado desta fase era bem mais alargado no espaço, ocupando em simultâneo uma área aberta e mais vulnerável, a sul do esporão, em zonas de vertente e plataforma. Assim, o sistema defensivo do povoado circunscrevia-se ao topo do esporão. Num momento subsequente, o reduto mais alto sugere ter perdido a sua função defensiva em favor de uma nova organização espacial e funcional. O Fosso 1 foi alargado e transformado numa área de trabalho, através da implantação de inúmeros fornos. No espaço interior do recinto surgiram vários celeiros (horrea). Na zona mais baixa, o povoamento organizava-se em 287

FORTIFICACIONES EN LA EDAD DEL HIERRO: CONTROL DE LOS RECURSOS Y EL TERRITORIO

patamares ou socalcos, onde se implantavam as unidades familiar-funcionais e, por conseguinte, cabanas e estruturas auxiliares. Nesse momento, a extensão do povoado e do próprio número de indivíduos pode ter atingido o seu auge. O substrato cultural e material da II Idade do Ferro não teria cessado com a ocupação político-militar de Roma. Os novos modelos implementados ou facultados pelo invasor vão-se miscigenando e sobrepondo gradualmente, num processo que se arrastou até meados do século I d. C. Pelo que se observa em Crestelos, o período flaviano parece romper definitivamente com os modelos socioculturais e arquitetónicos autóctones, dando um novo rumo e orientação ao modelo de exploração do sítio e respetiva envolvente. As ligações deste sítio a uma rede de sítios detetados no vale do Sabor parece mais intensas em termos económicos e de exploração do território. Para finalizar, os trabalhos desenvolvidos permitiram o conhecimento do sítio e de um modelo de implantação da II Idade do Ferro, até agora pouco investigado. O volume de informação e o notável conjunto de materiais recolhidos permitirão aprofundar o conhecimento que temos do sítio e da sua interligação com outros lugares da Idade do Ferro localizados no vale do rio Sabor, nomeadamente aqueles que foram também escavados no contexto dos trabalhos de salvaguarda do património. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, importa agradecer a todos os diretores de escavação que dirigiram trabalhos no sítio da Quinta de Crestelos: Alexandrina Amorim, Ana Roriz, António Ginja, Bruno Silva, César Neves, Cláudia Costa, Filipe Pinto, Gabriel Pereira, Israel Espí, Javier Larrazabal, João Nisa, José António Pereira, Marco Liberato, Rosa Mateos, Rui Couto, Susana Cosme e Teresa Barbosa. Agradecemos também a toda a equipa do Estudo da Idade do Ferro (Baixo Sabor ACE): Carlos Merino, Ricardo Teixeira, Pilar de la Fuente, Raquel Quintana, Fiodora López, Cristina Mateos, Aaron Lackinger, Enrique Paniagua, David Sánchez, Noelia Hernández, Isa288

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O POVOADO DA QUINTA DE CRESTELOS

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