O prédio do IFCS ...se chegar lá... em 2010, bicentenário..doc

May 27, 2017 | Autor: Fábio Lima | Categoria: Educação, História Da Educação
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O prédio do IFCS ...se chegar lá... em 2010, bicentenário.


Fábio Souza Corrêa Lima
Graduando de História da Universidade. Federal Fluminense.
Graduando de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Publicado originalmente no Jornal do Centro, v. 1, Dezembro de 2004.


A construção do prédio que hoje abriga o Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da UFRJ nos remonta a meados do século XVIII. No início, a
edificação que encontra-se no Largo de São Francisco, foi concebido para
ser a Nova Sé, Igreja de São Sebastião, em substituição a antiga sede, no
morro do Castelo. Contudo, essa pretensa vocação Episcopal, esvaziou-se,
pois a chegada da família real engendrou reformas que para além de
estruturais, mudaram os planos para o edifício. D. João VI, em 22 de
janeiro de 1811, revoga a idéia de construção da Nova Sé e determina que
sejam feitas as adaptações necessárias ao recebimento da Real Academia
Militar, criada a apenas um ano antes.
Contudo, em 1858, a Real Academia Militar se divide em duas escolas,
uma parte indo para Urca e a outra, chamada Escola de Estudos Científicos e
Engenharia ou Escola Central, permanece no Centro. Em 1874, a Escola
Central é transformada em Escola Politécnica, que tendo em seu quadro de
alunos e funcionários nomes como André Rebouças e Paulo de Frontin,
desenvolve-se ao ponto de figurar, no século XIX, juntamente com a Escola
de Belas Artes e a Faculdade de Medicina, entre as maiores do país.
Durante a ditadura civil-militar, a Escola Politécnica torna-se
simplesmente Escola de Engenharia. No mesmo ano dessa mudança, 1966, a
Escola muda-se para a Cidade Universitária. Os novos ocupantes do histórico
prédio do Largo de São Francisco tem prioridade de ficar no centro do Rio
de Janeiro. Os cursos de História, Ciências Sociais e Filosofia –que na
reforma universitária de 1968 deram origem ao IFCS, formavam juntos a "má
influência" a ser controlada. O translado desses cursos do fundão para o
centro, onde melhor seriam vigiados por agentes federais infiltrados nas
turmas, atendia aos intuitos daqueles que acreditavam ter implementado a
revolução em 64.
Hoje, o edifício encontra-se sucateado e precário como tudo aquilo
que neste país, tem por intuito precedente, a privatização. As janelas e as
telhas quebradas permitem a entrada de água em dias apenas brandos de
chuva, os grandes vãos na parte superior dão origem a mansões de pombos e
fazem dos parapeitos dos andares superiores, uma área de superfície
intocável a qualquer aluno. As reles obras realizadas, tornam por exemplo,
o banheiro masculino do terceiro andar, um espaço alienígena à arquitetura
e historicidade do prédio. O bandeijão da UFRJ, fechado, alegra a única
lanchonete do campus, que por assim dizer, tem os seus preços "diferentes"
da média das demais lanchonetes do Centro.
O péssimo estado do prédio sensibilizou até um tal "prefeito
maluquinho", que garantiu para a recuperação do campus a liberação da verba
de R$ 1 milhão e, por conta disso, é claro, fez propaganda: "Prefeitura
investe R$ 1 milhão para recuperar patrimônio federal". Oito meses depois,
estudantes, professores e funcionários recebem a notícia de que a
prefeitura não estava mais disposta a recuperar uma Instituição Federal...
Quem sabe nas próximas eleições para presidente??!!
Porém, apesar de toda a situação, nada consegue ser tão emblemático
do que o estado da sua Biblioteca, batizada com o nome de Maria São Paulo
de Vasconcelos. São cerca de 100 mil títulos, interditados a dois anos por
suspeita de estarem contaminados por fungos. Deste grande acervo, apenas 2
mil estão abertos aos alunos, que com muita paciência, devem esperar o
esforço homérico dos poucos funcionários que resistiram as doenças
provocadas pelos fungos, que ainda não se aposentam, ou mesmo que não
faleceram durante esses anos de descaso.
Em setembro deste ano, alguns dos mais de 2.000 alunos ocuparam as
cadeiras do Conselho Universitário, o Consuni, exigindo soluções para os
problemas que perduram por décadas. No dia do aniversário de dois anos de
interdição da Biblioteca, alunos organizaram um protesto interessante;
doaram ao Conselho um pequeno caixão, que tinha a inscrição póstuma: "Aqui
jaz a biblioteca do IFCS".
Os responsáveis pela biblioteca afirmam que o processo de
higienização dos livros já começou, sendo que a previsão de conclusão do
processo, que se daria em novembro, também estaria confirmada. Contudo, um
outro "ia", intrínseco a qualquer obra pública, já ESTÁ confirmado: o
atraso. A nova promessa é para o próximo período letivo de 2005...
O IFCS como está hoje, é apenas mais um adereço da situação do todo
em seu entorno, cheio de mendigos e de casas antigas que sustentam apenas
suas paredes e o lucrativo negócio de estacionamento de carros em seus
interiores.
Duas placas comemorativas de bronze, colocadas no hall de entrada do
edifício, a primeira por conta de seu centenário (1910), pelo então
presidente Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, outra em 1960, pelo seu
sesquicentenário, por Juscelino Kubtschek, talvez dê idéia aos leitores da
importância histórica do prédio do IFCS, que até 2010, se tudo der certo
nas próximas eleições presidenciais maluquinhas, finalmente receberá R$ 1
milhão para sua reforma, e uma nova placa de bronze. Com inscrição de
bicentenário ...se chegar lá...
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