O Problema do Lixo Eletrônico: Possíveis Soluções Para a Situação Atual Angolana L. M. B. DA CRUZ (1) , F. F. B. GOMES (2) & D. P. COSTA (3) RESUMO – A geração de resíduos em Angola é uma problemática que engloba também o acúmulo de lixo eletrônico, principalmente nas grandes cidades pois, o acelerado crescimento do país, com a política de reconstrução ocasiona também o desenvolvimento das tecnologias da informação e das telecomunicações que, por sua vez, resultam no problema do descarte do material obsoleto. Este trabalho é uma pesquisa bibliográfica, que surge com a definição de problemas enfrentados nesta área atualmente, em Angola de modo que são listados também as possíveis soluções para resolver este problema. Nesta pesquisa é demonstrado o surgimento do lixo eletrônico e como eles são tratados em diversos países do globo, além do tratamento dado ao mesmo em relação a países ricos e pobres, o que pode servir de exemplo para futuras políticas públicas em Angola. A exemplo disso, existem maneiras de medir como a empresa está se preocupando mais com o meio ambiente, o que é feito através de ONGs reconhecidas. Muitas empresas participam dos projetos para mostrar ao mundo que estão preocupadas com o meio ambiente.
Palavras-Chave: Computadores, Resíduo e Impactos Ambientais.
Introdução A revolução da informática surgiu como uma possível solução para diversos problemas da humanidade em todas as áreas, ela veio para automatizar processos, dar mais velocidade na produção de produtos e serviços, trazer desenvolvimento, produção limpa e expandir as fronteiras dos países de todo o globo, através das telecomunicações e da internet.
Mas, junto com essa bagagem, também vieram novos problemas advindos da globalização e de um mundo essencialmente capitalista e consumista, o nome deste problema que vem causando imensos danos ao meio ambiente chama-se lixo eletrônico, que também pode ser conhecido como eletronic waste, e-Lixo ou e-Trash.[12] Dentro desse contexto, Angola se insere juntamente com outros países nessa problemática. Contudo, a realidade angolana se configura em uma situação crítica pelo facto da gestão dos resíduos sólidos ainda ser incipiente para o país e ainda é uma questão de muitos debates e investimentos pelos órgãos governamentais, no sentido de se buscar soluções estratégicas e eficientes. É importante ressaltar que a vasta biodiversidade e o grande número de atividades realizadas no território angolano resultam em uma grande variedade na geração de resíduos agrícolas e industriais. Em Luanda, são gerados diariamente cerca de 2.500 toneladas de lixo. Desse total, aproximadamente 40% é constituída de material inorgânico [9], e dentre eles, destacam-se diversos produtos tecnológicos, principalmente porque a falta de mão de obra especializada para a manutenção desses materiais, muitas vezes, ocasiona no descarte de um grande volume de equipamentos eletrônicos no lixo. Neste contexto, desde as pequenas, até as grandes cidades do país, notam-se acúmulos de lixo eletrônico, que são colocados em locais públicos não adequados e é com uma perspectiva de avaliação e propostas de soluções da problemática que circundam os objetivos do presente trabalho.
Acúmulo de Lixo em Angola. Na Cidade do Namibe, o lixo gerado pela população é deixado em qualquer lugar, sem o mínimo de cuidados com os perigos que ele pode causar para a população. O que agrava ainda mais este problema é a falta de uma coleta seletiva de lixo por parte do município. O cidadão também não se atenta para a separação
________________ Primeiro Autor é estudante do Instituto Médio Agrário do Malanje. E-mail:
[email protected] (apresentador do trabalho) (2) Segundo Autor é professor do Instituto Médio Agrário do Malanje. E-mail:
[email protected] (orientador do trabalho) (3) Terceiro Autor é professor do Instituto Médio Politécnico de Andulo. E-mail:
[email protected] (co-orientador do trabalho) (1)
seletiva do lixo visando uma possível reciclagem. Outro problema que fez o lixo aumentar na cidade foi o seu crescimento demográfico, que ocorreu nos últimos anos. Além do aumento do poder de compra dos cidadãos do Namibe, com mais condições, os cidadãos tem o poder de comprar mais produtos o que, consequentemente, gera um aumento do lixo. Há falta de pessoas especializadas na área de limpeza urbana e o setor está carecendo de investimentos. Falta uma forte campanha de conscientização da população a respeito do tema, pode ajudar no aumento do mesmo. No Namibe, há imensa falta de recipientes pelas vias públicas, com isso, a população deixa o lixo no chão, ao invés de andar até o recipiente de lixo. Com todos os problemas citados, o caso do lixo eletrônico é uma parte importante do problema, geladeiras, computadores, televisores, baterias de telemóveis, telemóveis e diversos aparelhos eletrônicos são descartados da mesma maneira que o lixo comum, o que pode causar diversos problemas para a saúde da população e para o meio ambiente que a mesma vive. [7] Após pesquisa feita na cidade de Malanje, foi verificado que a mesma possui o mesmo tio de problema que a cidade do Namibe, como pode ser verificado através da figura 1
Lixo Eletrônico O lixo eletrônico surge do descarte inapropriado de diversos produtos tecnológicos, como computadores, telemóveis, televisores, refrigeradores, dentre outros. Atualmente, há casos em que o lixo eletrônico é despejado sem nenhum tipo de critério no oceano Pacífico, existe uma massa do tamanho do estado americano do Texas de lixo eletrônico espalhado no oceano. Este tipo de material pode causar danos gravíssimos ao meio ambiente local. [6] Materiais como chumbo, cádmio, plástico, mercúrio e cromo fazem parte desses produtos e, jogados no lixo comum podem causar a contaminação dos lençóis freáticos, consequentemente lagos e rios. Seres humanos podem ser atingidos nas proximidades destes lixões, por contaminação pela água ou aérea. O lixo eletrônico mal descartado e reaproveitado pode levar até 300 anos para se decompor.[3] Além disso, o descarte indiscriminado desses produtos provocam a contaminação de solos gerando degradação ambiental e, além disso, muitos deles próximos ou em locais agricultáves se configuram em uma problemática para a saúde humana uma vez que metais pesados são inseridos na cadeia alimentar de muitas pessoas pelo consumo de produtos de origem vegetal cultivados em locais contaminados.
Processos Material
de
Reciclagem
e
Descarte
do
Os países ricos saíram na frente na tentativa de solucionar o problema, reciclando materiais nobres como ouro, prata e platina, que se encontram nos chips dos processadores de computadores e de outras máquinas modernas, eles conseguiram resolver parte do problema. [CAMPOS] O material não aproveitado está sendo exportado para países mais pobres da África e Ásia, como é o caso de Nigéria, Gana, Índia e até a China. Nesses países o lixo eletrônico é guardado em imensos lixões, onde as condições humanas estão em péssimo estado. [RIBEIRO] Muitos países são proibidos de exportar o lixo eletrônico, nestes casos eles exportam os materiais com o rótulo de "materiais usados para doação" e realmente eles doam os materiais, mas na Nigéria, por exemplo, de 100 mil computadores, apenas 25% são realmente materiais usados, enquanto que 75% são sucata, lixo eletrônico. Em Gana o procedimento é semelhante ao da Nigéria, com a diferença que o lixo eletrônico ainda é queimado, o que pode causar problemas respiratórios na população local, como pode ser visto na figura 2. [CAMPOS] e [RIBEIRO] Este procedimento foi descoberto pela ONG Greenpeace, que colocou um localizador em uma televisão obsoleta e danificada e a enviou para um centro de reciclagem em Londres, alguns dias depois o localizador informou que o televisor, que deveria ser reciclado na Inglaterra, estava na Nigéria.[MUNHOZ] A China também possui muitos problemas com lixo eletrônico, um exemplo disso é realizado na cidade de Guyu, litoral da China. As pessoas abandonaram o cultivo do arroz e conheceram uma nova função que é a coleta de coletar lixo tecnológico. [MUNHOZ] Este lixo vem de todo o mundo, 70% dos resíduos da Terra vão para a China. [WIKIPEDIA] Com as mãos descobertas, 80% dos 150 mil moradores de Guiyu buscam materiais como: cobre, plástico ou aço, que depois serão vendidos aos negociantes de segunda mão. Muitos moradores locais e emigrantes são atraídos pelo salário de 2 dólares ou 3 por hora, além disso não são utilizados EPI (Equipamento de Proteção Individual), o eu resulta na escolha das pessoas entre o dinheiro e a saúde. A saúde é um problema crítico, 80% das crianças da região possuem chumbo no sangue, o que causa danos aos sistemas nervoso e reprodutor, segundo estudo da Universidade de Shantou. Entre os trabalhos rotineiros está o de desmontar placas-mãe em um fogareiro caseiro de carvão, em busca dos cobiçados chips, que contêm ouro. Outro trabalho rotineiro é o de fundir as carcaças dos computadores para transformar o PVC tóxico em peças que se destinam a objetos que voltam ao mundo ocidental: as flores de plástico, por exemplo. Nos subúrbios de Pequim e Tiajin, existem pequenas favelas destinadas ao desmanche de materiais tecnológicos, o que sobra vai para a cidade de Guyu. A figura 3 demonstra o drama chinês.
Experiências de Alguns Países Para Tentar Solucionar o Problema do Lixo Eletrônico Vários governos, ONGs e companhias tecnológicas estão tentando achar uma solução adequada para o problema. [AGENCIA LUSA] Em 1989, cerca de 120 países do mundo assinaram o tratado de Basiléia, para tentar frear o problema, os EUA não assinaram o acordo. Em 1994 este acordo foi estendido, sendo que a empresa que exportasse lixo eletrônico seria punida e multada. A ONU também faz parte do grupo que quer solucionar o problema e lançou o stEP (solving the EWaste Problem), programa que tem como principal objetivo a união de todas as empresas de telecomunicações e informática do mundo para criar padrões mundiais para a reciclagem do e-Lixo, aumentando a sua vida útil e reaproveitando o máximo possível. [MUNHOZ] Em Portugal existe um imposto em vigor denominado eco que é uma taxa paga na compra de aparelhos novos, além disso os equipamentos podem ser devolvidos ao fabricante na compra de um novo. A câmara municipal tem a responsabilidade de coletar o lixo eletrônico e levar a um centro de reciclagem. Com isso, o equipamento não é descartado aleatoriamente e a fabricante irá possuir material para produzir um equipamento novo através do material do equipamento antigo.[GUERRA] No Brasil, especificamente no estado de Santa Catarina, surgiu uma ideia interessante a da metareciclagem, a ideia é divulgar para as empresas e para a população que aquele lixo eletrônico ainda pode ser muito bem reaproveitado. Esta iniciativa pode gerar, emprego e renda para os trabalhadores locais e consequentemente, irá ter menos lixo poluente, limpando o meio ambiente e reaproveitando ao máximo o material eletrônico. Algumas medidas importantes para tentar solucionar o problema do lixo eletrônico são: maior fiscalização nos países emissores e nos receptores deste material; investimentos na área de reciclagem, que pode ser muito interessante, pois é possível reciclar materiais como ouro ou platina, conscientizar a população quanto a seleção de lixo, investir em novas técnicas de reciclagem e, o mais importante, a mudanças de hábitos. Existem 10 mandamentos que podem ajudar na mudança de hábitos, são eles: pesquise, prolongue, doe, recicle, substitua, informe-se, opte pelo original, pague, economize energia e mobilize. A ONG (Organização Não Governamental) Greenpeace possui um ranking que mostra as empresas mais "verdes" do mundo. Este ranking é importante para o momento de pesquisa da melhor empresa, quando a questão é meio ambiente, a empresa que mais se preocupa com estas questões e está com sua política
interna voltada ao tema, ganha pontos no Greenpeace para subir no ranking. Atualmente as primeiras colocadas são a Nokia e a Sony Eriksson, enquanto que as últimas são a LeNovo e a Nintendo. Pode-se ver a imagem do ranking na figura 4 [GREENPEACE]. Muitas dessas soluções podem ser aplicadas em Angola, já que muitas delas não necessitam de dinheiro e sim de um trabalho de conscientização, através de campanhas publicitárias em todos os meios de comunicação, conforme demonstrado na solução brasileira. A solução portuguesa também pode ser adequada a realidade angolana são interessantes e podem vir a ser úteis no ambiente angolano. A campanha publicitária sugerida poderia abordar o problema do lixo eletrônico e utilizar os 10 mandamentos para ajudar a diminuir o problema. O que necessita realmente de investimentos é na criação de um sistema de coleta de lixo adequado que cubra todos os municípios do país, além disso o aumento do número de recipientes de lixo.
Conclusão Seguindo as soluções que foram verificadas neste trabalho, o problema do Lixo Eletrônico em Angola poderá diminuir se estas soluções forem bem aplicadas. Uma possível solução sugerida neste trabalho, além das soluções já verificadas em capítulos anteriores pode ser o uso de recipientes de lixo feitos de forma a atingir a reciclagem local dos diversos tipos de lixo. Recipientes que recebem o lixo da população podem ser criados com o ideal da reciclagem, com cores definindo o tipo de lixo, partindo do princípio que haverá uma forte campanha de conscientização ambiental no País, demonstrando o problema do lixo e os pontos positivos da reciclagem e da coleta seletiva deste material. Com a criação de centros de reciclagem e de um sistema de coleta de lixo eficiente, a coleta seria feita de forma a não agredir o meio ambiente, todos estarão ajudando a eliminação do lixo eletrônico e, também, do lixo comum reaproveitando ao máximo a matéria prima retirada dos materiais que, atualmente são descartados nas ruas. O lixo é um problema sério que deve ser tratado com muito cuidado por todos, deve-se ter consciência deste grande problema que está atingindo todo o meio ambiente e, se não for tratado agora, irá se tornar um fardo cada vez maior para as gerações futuras.
Agradecimentos
Referências [1] AGÊNCIA LUSA. O Futuro de Lixo Eletrônico Preocupa. Disponível em: , Acesso em Junho, 2010
[2] CAMPOS, A. Gana vira depósito de lixo tecnológico de nações ricas, diz ONG Disponível em: Acesso em Junho, 2010. [3] DIAS, A. P. Lixo Tecnológico, Como Solucionar? Disponível em: Acesso em Junho, 2010. [4] GREENPEACE, Guide To Greener Electronics, Disponível em: Acesso em Junho 2010. [5] http://www.inclusaodigital.gov.br/noticia/curitibainicia-projeto-para-reciclar-lixo-tecnologico [6] GUERRA, A. R. Lixo Eletrónico, o Que Fazer Quando o Telemóvel Fica Velho Acesso em Julho 2010. [7] LEMBA, A. Degradação Ambiental Causada Pelo Acondicionamento Inadequado dos RSU na Cidade do Namibe Disponível em: < http://www.abelardolemba.blogspot.com/> Acesso em: Julho, 2010
[8] MUNHOZ, C. A Comodidade Que Contamina Disponível em: Acesso em Junho, 2010. [9] OLIVEIRA, W.S.J. Uso de Resíduos Orgânicos em Angola: Uma Perspectiva Para o Quadro Rural Angolano, Boletim Informativo, IN: Dia do Meio Ambiente, IMAA, Andulo, 2010. [10] RIBEIRO, S. A.. Lixo Tóxico Britânico Está a Ser Despejado em África Disponível em: Acesso em Junho, 2010. [11] ROSA, A., Fabricação de Cada Computador Consome 1800 Quilos de Materiais, Disponível em: Acesso em Junho de 2010. [12] TERRA.COM, Lixo Tecnológico é Preocupação Ambiental Disponível em: Acesso em Junho, 2010 [13] WIKIPEDIA, Eletronic Waste, Disponível em: Acesso em Junho, 2010.
Figura 1. Lixo em Malanje (GOMES, 2010)
Figura 2. Tratamento do Lixo Eletrônico em Gana (CAMPOS 2010)
Figura 3, Criança no lixo eletrônico (TERRA.COM, 2010)
Figura 4. Guide To Greener Electronics (GREENPEACE, 2010)
