O proêmio dos Paradoxa stoicorum (tradução)

July 24, 2017 | Autor: Angélica Chiappetta | Categoria: Seneca, Retórica
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

O proêmio dos Paradoxa stoicorum
Profa. Dra. Angélica Chiappetta (DLCV/FFLCH/USP)


1. Animaduerti, Brute, saepe Catonem auunculum tuum cum in senatu
sententiam diceret locos graues ex philosophia tractare abhorrentes ab hoc
usu forensi et publico, sed dicendo consequi tamen ut illa etiam populo
probabilia viderentur. 2. Quod eo maius est illi quam aut tibi aut nobis,
quia nos ea philosophia plus utimur quae peperit dicendi copiam et in qua
dicuntur ea quae non multum discrepant ab opinione populari, Cato autem,
perfectus mea sententia stoicus, et ea sentit quae non sane probantur in
uulgus et in ea est haeresi quae nullum sequitur florem orationis neque
dilatat argumentum sed minutis interrogatiunculis quasi punctis quod posuit
efficit.
3. Sed nihil est tam incredibile quod non dicendo fiat probabile,
nihil tam horridum tam incultum quod non splendescat oratione et tamquam
excolatur.
Quod cum ita putarem, feci etiam audacius quam ille ipse de quo
loquor. Cato enim dumtaxat de magnitudine animi de continentia de morte de
omni laude uirtutis de dis immortalibus de caritate patriae stoice solet
oratoriis ornamentis adhibitis dicere; ego tibi illa ipsa quae uix in
gymnasiis et in otio stoici probant ludens conieci in communes locos. 4.
Quae quia sunt admirabilia contraque opinionem omnium (ab ipsis etiam
"paradoxa" appellantur), tentare uolui possentne proferri in lucem id est
in forum, et ita dici ut probarentur, an alia quaedam esset erudita alia
popularis oratio: eoque scripsi libentius quod mihi ista "paradoxa" quae
appellant maxime uidentur esse socratica longeque uerissima.
5. Accipies igitur hoc paruum opusculum lucubratum his iam
contractioribus noctibus, quoniam illud maiorum uigiliarum munus in tuo
nomine apparuit, et degustabis genus exercitationum earum quibus uti
consueui, cum ea quae dicuntur in scholis "thetikos" ad nostrum hoc
oratorium transfero dicendi genus. Hoc tamen opus in acceptum ut referas
nihil postulo; non enim est tale ut in arce poni possit quasi Minerua illa
Phidiae, sed tamen ut ex eadem officina exisse appareat.

1. Observei já várias vezes, Bruto, que Catão, teu tio, quando discursava
emitindo um parecer no Senado, usava os argumentos graves da filosofia,
estranhos a este uso forense e público, mas ao discursar conseguia,
contudo, que eles parecessem prováveis até ao povo. 2. Tarefa mais difícil
para ele do que para ti ou para nós que usamos uma filosofia que já
possibilitou grandes recursos ao discursar e na qual são proferidas coisas
não muito discrepantes da opinião popular. Por outro lado Catão, no meu
parecer o perfeito estóico, não só experimentava coisas que não eram
provadas em meio ao vulgo, como também estava numa seita que não adota
nenhum enfeite no discurso nem estende a argumentação, mas prova o que
propôs apenas pinçadas algumas diminutas perguntinhas.
3. Mas nada é tão inacreditável que ao discursar não se torne
provável, nada é tão rude, não cultivado, que não resplandeça com o
discurso e seja como que polido.
Como eu assim julgasse fiz algo até mais audaz do que este de quem
falo. Catão, com efeito, acrescentados os ornamentos, discursava de modo
estóico somente a respeito da grandeza de ânimo, da moderação, da morte, do
todo o louvor da virtude, dos deuses imortais, da afeição pela pátria. Eu,
aquilo mesmo que com custo os estóicos provam nos ginásios e no ócio,
exercitando-me, relacionei para ti em argumentos comuns. 4. Como são coisas
extraordinárias e contra a opinião de todos (por isso são chamadas de
"paradoxos") quis ver se elas poderiam ser mostradas na luz, isto é, no
fórum, e assim ser ditas de modo a obter aprovação, ou se haveria mesmo um
discurso erudito e outro popular. E escrevi com muito gosto, principalmente
porque esses chamados "paradoxos" parecem por demais socráticos e os mais
verdadeiros possíveis.
5. Recebe, então, este pequeno opúsculo elucubrado nestas noites agora
bem diminuídas (visto que a tarefa das vigílias maiores já apareceu com teu
nome) e degusta este tipo de exercício que eu costumo usar quando transfiro
para o nosso gênero oratório de discursar as coisas que nas escolas são
proferidas por meio de demonstração. De modo nenhum, contudo, peço que
contes esta obra como uma receita; ela não é tal que possa ser colocada na
cidadela como a Minerva de Fídias, mas, contudo, é tal que pareça ter saído
da mesma oficina.

Bibliografia:

CICERO. Paradoxa stoicorum. De partitione oratoria. Trad. h. Rackham.
London, Cambridige, Harvard UP, 1997.

CICERÓN. Cuestiones Académicas. Intror., trad. Y notas de Julio Pimentel
Álvarez. Mexico, Universidad Autónoma de México, 1990.

DEBORDES, Françoise. La Rhétorique Antique. Paris, Hachette, 1996.

HADOT, Pierre. "L´histoire de la pensée hellénistique et romaine" e "La
philosophie comme manière de vivre" in Exercises spirituels et
philosophie antique. Paris, Études Augustiennes, 1987.

TRIMPI, Wesley. The early metaphorical uses of skiagraphia and
skenographia. Traditio, XXXIV: 403-13, 1978.
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