O professor Bill

June 3, 2017 | Autor: R. Charters-d'Aze... | Categoria: History, Leiria
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stóríasdanossaHistóría Ricardo Charters d'Azevedo

3 Professor Bill Nos anos 40 do século passado, a vid a era lifícil para quem se perm itisse criticar 0 governo lo dr. Salazar, m esm o para indivíduos que .ivessem tido sem pre cargos de responsabilidade na adm inistração do Estado e sobre os quais nenhum a “ desconfiança” tivesse existido. Eduardo d’A zevedo Monteiro (1893-1976), m eu avô m aterno, era engenheiro Civil de Obras Públicas, de Minas e Industrial pela Universidade do Porto, e foi diretor das Estradas do Distrito de Leiria da Junta Autónom a de Estradas, Presidente da Comissão de Iniciativa e Turismo de Leiria, Presidente das Comissões Adm inistrativas das Obras do Castelo de Leiria, Mosteiro da Batalha e Convento de Alcobaça, entre outros cargos. Foi condecorado com o grau de Oficial da Ordem de Cristo. Reformou-se em julho de 1958 . Representante do Autom óvel Clube de Portugal em Leiria e membro do Rotary Club de Leiria era presença assídua nos serões da Assembleia Leiriense, sendo ali conhecido pela forma como tratava 0 seu parceiro de cartas quando perdiam! Era tam bém frequentador do café Santiago, em Leiria, onde se encontrava coi os seus amigos depois de almoço. O café Santiago, em frente ao antigo mercado de Sant’Ana em Leiria, era frequentado por pessoas afetas ao regime, ao contrário do café Colonial, uns metros mais para poente, que tini muita gente do “reviralho” . No restaurante do café Santiago, no seu primeiro andar, almoçava muitas vezes o dr. Salazar quando se deslocava ao norte do País. Um dia de abril de 1940, no café Santiago, mostraram-lhe uns versos contra o regime iJomal de Leiria 18 de Fevereiro de 2016

chefiado por Salazar. Como estavam bem feitos, pediu-os emprestados para copiar. No dia seguinte, trouxe várias cópias feitas à máquina de escrever. Distribuiu-as aos amigos, devolvendo o original. Ao que parece, um tal "Bill", professor do liceu e muito "afeto ao regime", reparou na distribuição e fez "caixa para Lisboa", o que levou o eng. Eduardo d’Azevedo Monteiro a sofrer uns "dissabores". No seu Livro de diversas notas para os meus filhos quando forem já velhinhos relata assim a forma como foi tratado: "A 11 de Abril de 1940, às 8 da noite, quando eu estava à espera do meu carro novo, na minha casa em Alcogulhe, chegou o comandante da polícia de Leiria para me prender

No restaurante do café Santiago, no seu primeiro andar, almoçava muitas vezes odr.Salazar ) quandose deslocava ao norte do Pais.

por ordem de Lisboa. Fui no autom óvel dele para Leiria e tendo de estar incom unicável, ele deixou-m e que me instalasse no seu gabinete. Pouco depois chegou tam bém preso o M aldonado. Ficam os no gabinete do com andante e no dia seguinte, às 8 da m anhã fom os para Lisboa para a PVDE - Policia de Vigilância e Defesa do Estado (que funcionou de 1933 a 1945 , percursora da PIDE). Chegamos cerca das 2 da tarde e fom os para o Aljube. Visitou-m e o cor. Luís Moreira de Almeida e o dr. Luís Carlos Charters d’Azevedo, respetivam ente m eu cunhado e o futuro sogro de minha filha. No dia seguinte visitou-m e o general Amílcar Mota, m eu padrinho de casamento, que foi Ministro da Guerra (1918), chefe do Estadomaior do Exército (1923-1931) e era à data chefe da casa militar do Presidente da República. Às 4 V2 da tarde de sábado, dia 13, fomos soltos mas com residência fixa em Lisboa, sendo obrigados a apresentarmo-nos todos os dias das 2 às 4 na polícia. Durou isto até ao dia 22 em que às 7 V2 me autorizaram a vir para Leiria, mas tive que pagar 6 contos." Acrescente-se que teve igualmente de doar 10 escudos aos pobres de Lisboa! Durante o período em que esteve em Lisboa, o tal professor "Bill", no liceu de Leiria fazia gala de chamar a atenção dos outros alunos para que os dois filhos do eng. Monteiro tinham um pai preso por atacar o regime. Uns anos mais tarde, a 26 de Outubro de 1949, visitou Leiria o Generalíssimo Franco tendo havido um almoço no Castelo no qual participou o eng. Monteiro sentado entre o diretor da PVDE e o comandante militar de Leiria.

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