O Programa de Educação Tutorial no Brasil: Caminhos para a inclusão digital de professores na Universidade Federal de Pernambuco

June 1, 2017 | Autor: Cleyton Feitosa | Categoria: Educação, Novas Tecnologias Da Informação E Da Comunicação
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O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL NO BRASIL: CAMINHOS PARA A INCLUSÃO DIGITAL
DE PROFESSORES NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO


Cleyton Feitosa Pereira
(UFPE/CAA)
[email protected]

Anna Rita Sartore
(UFPE/CAA)
[email protected]


RESUMO: O artigo em questão discute o projeto e a atuação do Programa de
Educação Tutorial - PET na Universidade Federal de Pernambuco/Centro
Acadêmico do Agreste. Para tanto, apresentamos o PET, seus dispositivos
legais e seus objetivos para a modalidade de Ensino Superior nas
universidades públicas brasileiras. Na UFPE/CAA esse programa visa a
infoinclusão através da educação.
PALAVRAS-CHAVE: Educação. Novas tecnologias digitais de informação e
comunicação. Infoinclusão.

ABSTRACT: The article in question discusses the design and operation of the
Education Program Tutorial - PET at the Federal University of
Pernambuco/Academic Center of the Wasteland. We present PET, its legal
provisions and your goals for the type of higher education in brazilian
public universities. In UFPE/ACW program that aims to infoinclusion through
education.
KEY WORDS: Education. New digital technologies of information and
communication. Inclusion.

RESUMÉ: L'article en question traite de la conception et le fonctionnement
du Programme d'éducation Tutorial - PET à l'Université fédérale de
Pernambuco/Center académique du Wasteland. Nous présentons PET, ses
dispositions légales et de vos objectifs pour le type de l'enseignement
supérieur dans les universités brésiliennes public. En UFPE/CAW qui vise à
infoinclusion par l'éducation.
Mots-clÉ: l'éducation. Les nouvelles technologies numériques de
l'information et de communication. Inclusion.


1.Introdução

A educação brasileira tem enfrentado vários desafios para ofertar uma
educação de qualidade. Entende-se por educação de qualidade aquela que
desenvolva as potencialidades sócio-cognitivas e afetivas, possibilitando,
aos estudantes, aprendizagens significativas, conhecimentos úteis
alicerçados por uma prática pedagógica voltada para o exercício da
cidadania e a inserção de cada vez mais cidadãos no ensino superior. No
entanto, a nossa educação, como é amplamente sabido, padece de muitas
críticas vindas de diversos setores da sociedade. Conforme Novais

A escola, como instituição, e os professores, como os
principais responsáveis pelo desenvolvimento intelectual
das novas gerações de brasileiros, têm sido alvo de
inúmeras críticas, provenientes de vários segmentos de
nossa sociedade. A exigência quanto ao desempenho da
escola é, em grande parte, decorrente da premência que
nosso país tem por se desenvolver, avançando na solução de
muitos problemas que há muito nos acompanham,
especialmente no que tange à situação de extrema carência
em que vivem muitos brasileiros (NOVAIS, 2005: p. 47).


A principal pesquisa avaliativa em educação no Brasil, realizada por
órgãos governamentais como o Ministério da Educação e INEP (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), classificou a educação
brasileira muito aquém do ideal no Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB). Em 2009 (divulgado no ano de 2010) a média nacional foi a de
4,6 numa escala que vai de 0 a 10 (PORTAL DO MEC, 2011). A revista
"superinteressante" do grupo Abril (mesma editora que publica a revista
VEJA, de ampla repercussão no país) aponta as escolas do Brasil como ruins
(SUPERINTERESSANTE, 2011: p. 37). O periódico ainda sugere o trabalho
voluntário como solução alternativa de problemas no campo da educação e
convoca o leitor a "lutar pela educação do Brasil". Discurso este
amplamente divulgado pelo poder hegemônico, possivelmente com o intuito de
desenvolver economicamente o país através da produção e formação de mão-de-
obra para a indústria, o comércio e o setor de serviços. Como lembra Lage
(2009) o conflito surge quando, no sistema capitalista neoliberal vigente,
se faz necessário a troca entre força de trabalho e salário. O voluntariado
neste modo de produção torna-se inviável e insustentável para o trabalhador
ao mesmo tempo em que atende aos interesses dos grandes proprietários que
detém os meios de produção e a força de trabalho, além de ser conveniente
ao Estado mínimo que transfere as responsabilidades para a sociedade civil,
através do discurso de uma democracia falsamente forjada e uma dissimulada
solidariedade (LAGE, 2009).
O debate sobre o desenrolar da educação do nosso país nos próximos
anos contempla, hoje mais que nunca, a importância do uso das novas
tecnologias digitais da informação e comunicação - as TDICs - como
ferramentas indispensáveis para aprendizagens significativas. O fato é que
a escola do século XXI não pode continuar resistindo às novas práticas de
ensino e aprendizagem, tornando-se, desta forma, uma escola desconectada do
contemporâneo no qual está inserida. Seria pretensioso, ou ingênuo, dizer
que a raiz da resistência, em relação ao uso das novas tecnologias na
educação, se está em uma ou outra área, ou mesmo nível do percurso escolar
formal. Talvez se possa apontar o início do problema no currículo de
formação inicial e continuada de professores, bem como na avaliação da
aprendizagem e, porque não, nas questões de gestão escolar. Talvez a
política governamental, a legislação ou o financiamento sejam as
responsáveis pelas lacunas que há nesse sentido. A verdade é que nessa
complexa teia, uma gama de fatores (e interesses) estão relacionados a tal
déficit.
É fato também que diversos empenhos vem sendo realizados no âmbito da
construção de uma nova cultura escolar: esforços do Estado, através das
universidades, dos governos (federal, estadual e municipal) e outros
órgãos, incluindo tentativas da iniciativa privada, que no setor da
educação. Aliás, a rede particular de ensino, em todos os níveis da
escolaridade, tem se mostrado mais atenta e eficiente na infoinclusão de
seus alunos. No caso da Universidade Federal de Pernambuco em seu campus
Centro Acadêmico do Agreste, localizado em Caruaru, interior do estado de
Pernambuco e uma das principais cidades no que diz respeito à economia,
cultura e quantidade de habitantes residentes (cerca de 300 mil hab.), tem
iniciado ações para a infoinclusão, de estudantes podendo ser citada a
oferta de uma disciplina eletiva, no curso de Pedagogia, intitulada
"Educação e Tecnologias" visando à formação de pedagogos/as que atuem na
perspectiva da infoinclusão nos diversos espaços educativos, formais
(escolas) e não-formais, a saber: movimentos sociais, espaços
ressocializadores e onde quer que haja práticas de educação popular. É
válido dizer que estes/as estudantes não são apenas do município
caruaruense, expandindo e multiplicando assim a área de ação, a cidades
próximas tais como Toritama, Santa Cruz do Capibaribe, Bezerros, Riacho das
Almas, Tacaimbó, Surubim, Palmares, Catende, Altinho, Gravatá, Bom Jardim,
Camocim de São Félix, entre outras.
A mais nova conquista da região é a implantação do Programa de
Educação Tutorial, PET, nesse centro acadêmico, com vistas à infoinclusão.
O PET é um programa do governo federal que funciona nas universidades
públicas e faculdades privadas do país e tem como objetivo principal dar
melhor qualidade na formação acadêmica de graduandos/as para atuação destes
na sociedade, desenvolvendo, assim, o papel das IES (Instituições de Ensino
Superior) na construção de um país mais desenvolvido.

2.O que é o Programa de Educação Tutorial

O PET foi criado pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior em 1979 e seu nome inicial era Programa Especial
de Treinamento. Em 1999 foi transferido para o SESu – Secretaria de Ensino
Superior do MEC tendo o DEPEM – Departamento de Modernização e Programas da
Educação Superior como gestor responsável por sua administração. A partir
daí o PET ficou identificado como Programa de Educação Tutorial, como hoje
se concebe. Em 2005 foi regulamentado pela Lei N° 11.180 de 23 de Setembro
e sancionado pelo então Presidente Lula.
Segundo o site institucional do MEC, o Programa de Educação Tutorial


Foi criado para apoiar atividades acadêmicas que integram
ensino, pesquisa e extensão. Formado por grupos tutoriais
de aprendizagem, o PET propicia aos alunos participantes,
sob a orientação de um tutor, a realização de atividades
extracurriculares que complementem a formação acadêmica do
estudante e atendam às necessidades do próprio curso de
graduação. O estudante e o professor tutor recebem apoio
financeiro de acordo com a Política Nacional de Iniciação
Científica (PORTAL DO MEC, 2011).




Portanto, tem como objetivo central a melhoria dos cursos de graduação e
almeja uma formação da mais alta qualidade àqueles/as que participam de
suas atividades.
Ao integrar o tripé universitário (Ensino, Pesquisa e Extensão)
de maneira indissociável em suas atividades, garante uma formação pautada
no rigor acadêmico com excelência e beneficia a sociedade, na medida em que
os cursistas poderão, posteriormente, atuar na sua região residente
fortalecendo, assim, o desenvolvimento dessas localidades e,
consequentemente, a globalidade. Segundo o manual de orientações básicas do
PET, em suas concepções filosóficas, o programa, ao integrar ensino,
pesquisa e extensão sob a orientação de um professor-tutor visa

Oportunizar aos estudantes participantes a possibilidade
de ampliar a gama de experiências em sua formação
acadêmica e cidadã. Assim, o Programa de Educação Tutorial
objetiva complementar a perspectiva convencional de
educação escolar baseada, em geral, em um conjunto
qualitativamente limitado de constituintes curriculares
(manual de orientações básicas do PET, 2006: p. 6).


De fato, esse programa oferece uma experiência que ultrapassa
os limites da sala de aula, na medida em que proporciona novas
experiências, abordagens, aprendizados e saberes que dificilmente poderia
acontecer na aula convencional, visto que esta já possui um fazer-acontecer
bastante cristalizado na nossa cultura ocidental, sendo, por vezes,
bastante inflexível e fechada em suas metodologias e modos de ser. Neste
sentido, o PET complementa a vida acadêmica dos sujeitos que são vinculados
ao programa.
A seleção desses estudantes é outro ponto forte do programa. Ela
acontece por meio de editais aos quais deixam claro quais os requisitos e
condições para concorrer à vaga e a seleção ocorre semelhante a um concurso
onde são realizadas prova teórica, prática e entrevista, classificando os
candidatos através do argumento de nota.
No âmbito da legislação, o PET foi instituído pela Lei N° 11.180/2005,
sancionado pelo ex-presidente Lula onde aparece ao lado de outros programas
desta gestão governista como o Projeto Escola de Fábrica e o Programa
Universidade Para Todos – PROUNI
Suas determinações são ditadas nos Artigos 12, a 15. Vejamos o que diz
o Art. 12 desta Lei:

Art. 12. Fica instituído, no âmbito do Ministério da
Educação, o Programa de Educação Tutorial - PET, destinado
a fomentar grupos de aprendizagem tutorial mediante a
concessão de bolsas de iniciação científica a estudantes
de graduação e bolsas de tutoria a professores tutores de
grupos do PET (LEI N° 11.180/05, 2011: p. 4).


As portarias que regulam os detalhes de funcionamento dos
grupos PET datam do ano de 2005, 2006, 2007 e 2010. A primeira portaria de
2005 é a que presta mais esclarecimentos de sua dinâmica, processos e
objetivos. Destacamos um trecho do documento que lista esses objetivos,
expostos nos incisos do Art. 2

I – desenvolver atividades acadêmicas em padrões de
qualidade de excelência, mediante grupos de aprendizagem
tutorial de natureza coletiva e interdisciplinar;


II – contribuir para a elevação da qualidade da formação
acadêmica dos alunos de graduação;


III – estimular a formação de profissionais e docentes de
elevada qualificação técnica, cientifica, tecnológica e
acadêmica;


IV – formular novas estratégias de desenvolvimento e
modernização do ensino superior no país; e


V – estimular o espírito crítico, bem como a atuação
profissional pautada pela cidadania e pela função social
da educação superior (PORTARIA N° 3.385/05, 2011: P. 1).

Vale ressaltar o quanto o programa possui uma essência verdadeiramente
freireana, já que preconiza o estímulo ao espírito crítico alinhando-se às
reflexões daquele teórico que muito contribuiu para uma reflexão
epistemológica de uma educação libertadora

A única maneira de ajudar o homem a realizar sua
vocação ontológica, a inserir-se na construção da
sociedade e na direção da mudança social, é substituir
esta captação principalmente mágica da realidade por uma
captação mais e mais crítica.


Como chegar a isto? Utilizando um método ativo de
educação, um método de diálogo – crítico e que convide à
crítica -, modificando o conteúdo dos programas de
educação (FREIRE, 1979: p. 28).

É importante observar que programas e projetos político
pedagógicos de educação na América Latina, advindos dos governos, comumente
se dão numa perspectiva de permanências de estruturas desiguais[1], o que
não acontece no PET - programa de cunho social que fomenta criticidade e
com ela o tensionamento da democracia[2]. O que chama atenção é o fato de
essa educação vir do Estado, especificamente do anterior e atual governo,
não de classes, organizações e movimentos populares, embora a pressão
destes movimentos exerçam forte influência nesse governo. A atuação da
sociedade civil na América Latina, através de reivindicações, marchas,
greves e outros tipos de ação, é fundamental para a diminuição das
desigualdades sociais existentes desde a época da colonização nos países do
Sul e a questão da infoinclusão é tema da maior importância se quisermos
buscar um mundo mais igualitário. A exclusão digital pode configurar-se
como fenômeno comprometedor da luta por um mundo mais desenvolvido, humano,
solidário e justo visto que um infoexcluído está apartado de um importante
meio de circulação de informações.

3.Funcionamento do grupo PET na UFPE/CAA

Considerando a essência do programa, seus objetivos e
metodologia, o PET na Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico
do Agreste volta-se para atividades voltadas para a infoinclusão a partir
da educação. Tal projeto tem início através do Edital nº 09 de 2010 com
início no mês de Dezembro do mesmo ano e a sua justificativa é esclarecida
pela coordenadora e tutora deste projeto no Campus do Agreste Anna Rita
Sartore. Tal justificativa se dá

Pelo fato de os surpreendentes avanços das Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), abrirem um
leque consistente de possibilidades para as atividades de
ensino e aprendizagem. Tais tecnologias, quando guiadas
por concepções atualizadas do fenômeno de construção de
conhecimento, podem ser parceiras valiosas na formação de
boa qualidade dos graduandos do CAA, de modo geral, e dos
licenciandos de Pedagogia, em particular.


(...)


Os saberes e o uso pertinente desse potencial enriquecerão
a formação da comunidade discente não só por colaborar no
exercício profissional, já que as tecnologias permeiam
inúmeras práticas da sociedade, mas, e, sobretudo, por
viabilizar, já no estudante, a instauração de uma
filosofia de atualização contínua e autônoma, demanda
justa da cultura em relação a todos os profissionais que
nela atuam (SARTORE, 2010: p. 2).




De fato, é demanda da cultura e direito de todos/as (como
afirma a autora) a infoinclusão dos sujeitos a partir do período escolar,
desde a educação básica.
Deste modo, o grupo PET na UFPE/CAA é composto por oito
estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia e quatro do curso de
Bacharelado em Design. Essa proposta é feita com base nas intenções dos
tutores que vêem nessa integração um enriquecimento acadêmico proporcionado
por poucas instituições de ensino superior as quais não existem (salvo
alguns poucos casos) momentos de interação entre cursos, fortalecendo,
desta maneira, uma prática positivista, fragmentada na academia. Aliás, a
própria academia questiona a fragmentada educação básica e acusa a escola
de ser uma instituição mercadológica que funciona aos moldes de uma empresa
ou indústria, mas esquece-se que ela própria é fundamentada na Ciência
Moderna baseada em valores segregacionistas. Afinal, como se dão os
currículos dos cursos de graduação? E os cursos de especialização, sem
falar nos strictu sensu Mestrados e Doutorados que só se aprofundam numa
área específica da ciência? Nesse sentido, a metodologia do PET busca um
caminho de estender horizontes, convocando saber de várias áreas em seus
momentos de estudo e pesquisa.
Destarte, sem perder de vista os objetivos do Programa de
Educação Tutorial, o grupo PET no CAA tem por objetivo geral

Promover maior qualidade na formação dos alunos do Centro
Acadêmico do Agreste, por meio de um processo que
contemplará a pesquisa, o ensino e a extensão visando a
infoinclusão dos graduandos nas tecnologias digitais de
informação e comunicação (TDIC) com vistas a promover uma
cultura de formação autônoma e contínua dos estudantes e
provê-los de habilidades necessárias para o uso de seus
recursos nas respectivas profissões, de forma competente,
ética e comprometida (Ibidem, 2010: p. 3).


Assim, os objetivos específicos demonstram as propostas, na
prática, deste grupo. Pretende-se

Consolidar a cultura da pesquisa entre os graduandos
, suas técnicas e metodologia, em três momentos
distintos, a saber:
o pesquisa sobre as interfaces das TDICs e as
diferentes ideologias que alicerçam a sua
utilização;
o investigação do grau de infoinclusão da comunidade
docente do CAA;
o pesquisa do grau de infoinclusão dos professores da
rede pública de ensino da cidade de Caruaru e
entorno (prevista para o segundo ano de trabalho),
Aprimorar competências para:
o o uso da interface WIKI, enquanto ambiente virtual
de aprendizagem;
o a produção de material didático para a interface.
Desenvolver, no grupo, habilidades necessárias para:
o compor, organizar, ministrar, com a orientação do
tutor, cursos de nivelamento e oficinas de TDICs
para a comunidade discente do CAA;
o compor, organizar, ministrar, com a orientação do
tutor, cursos de nivelamento e oficinas de TDICs
voltadas para o ensino e aprendizagem para os
professores da rede pública de ensino de Caruaru e
entorno (Ibidem, 2010: p. 3 e 4)


Nesta direção, as ações do grupo PET se orientam por pensamentos de
teóricos que estudam a necessidade da infoinclusão nos diversos espaços
sociais no sentido de democratização da sociedade, sobretudo no campo da
educação – área que resiste com certa notoriedade às novas práticas, modos
e culturas. Essas ações também expressam uma real necessidade de as escolas
implantarem um ensino proficiente e com qualidade quanto ao uso das novas
tecnologias como ferramentas imprescindíveis para o processo de ensino e
aprendizagem. Para Prado

Embora a tecnologia seja um elemento da cultura bastante
expressivo, ela precisa ser devidamente compreendida em
termos das implicações do seu uso no processo de ensino e
aprendizagem. Essa compreensão é que permite ao professor
integrá-la à prática pedagógica. No entanto, muitas vezes
essa integração é vista de forma equivocada, e a
tecnologia acaba sendo incorporada por meio de uma
disciplina direcionada apenas para instrumentalizar sua
utilização, ou ainda, de forma agregada a uma área
curricular. Diferentemente dessa perspectiva, ressaltamos
a importância de a tecnologia ser incorporada à sala de
aula, à escola, à vida e à sociedade, tendo em vista a
construção de uma cidadania democrática, participativa e
responsável (PRADO, 2005: p. 55).


Os grupos PET devem atentar para o Projeto Pedagógico e
Político dos diferentes cursos bem como aquele institucional. Em nosso
caso, o programa apresenta uma relação mutualística com o curso de
pedagogia (PPC) e com o Projeto Político Pedagógico Institucional da UFPE
(PPPI). Conforme o projeto pedagógico da licenciatura em pedagogia, o/a
pedagogo/a deve ter competências no sentido de

Relacionar as linguagens dos meios de comunicação
aplicadas à educação, nos processos didático-pedagógicos,
demonstrando domínio das tecnologias de informação e
comunicação adequadas ao desenvolvimento de aprendizagens
significativas (PPC, 2008: p. 17, grifo nosso).


O projeto PET na UFPE/CAA também se coaduna com o PPPI no que
concerne às missões da UFPE quando este diz:


[...] a criação de disseminação do conhecimento, em suas
diversas formas, contribuindo na formação profissional,
através da indissociabilidade do ensino, pesquisa e
extensão, para a apropriação de tecnologias e inovação de
instrumentos, produtos e processos (...) (PPPI, 2007: p.
8, grifo nosso).


Outra questão que fortalece ainda mais a importância deste
projeto nesse campus, nesse momento de mudanças no currículo do curso de
Pedagogia, é o entendimento de que

O desenrolar dos trabalhos colaborará para as reflexões em
um momento decisivo do curso de Pedagogia do CAA, visto
que, tendo formado sua primeira turma em 2010/1, o
colegiado do curso estuda as modificações a serem feitas
no Projeto Pedagógico, sendo que uma das questões a ser
debatidas é a promoção da disciplina Tecnologia e
Educação, de eletiva para obrigatória no currículo
(SARTORE, 2010: p. 5)


Nesta direção, Ezequiel Silva (2005) nos aponta a importância e
o debate do currículo na vida de qualquer estudante

Tenho comigo que a educação – e mais especificamente o
ensino – tem a ver com o aprimoramento das pessoas para a
vida em sociedade. Essa intenção maior consubstanciada em
projetos pedagógicos e currículos específicos, prevê a
exposição dos estudantes a um corpo de conteúdos do
conhecimento e, num percurso seqüencial ou espiralado, o
desenvolvimento de competências, condutas, atitudes,
valores e posicionamentos para que esses estudantes se
formem cidadãos para viver em sociedade, participando dos
seus rumos e destinos (SILVA, E., 2005: p. 33).


De fato, o currículo de qualquer instituição dita o percurso,
as abordagens, os conteúdos e valores a serem adquiridos e construídos
pelos estudantes, constituindo um dos pilares da formação de sujeitos. Para
Tomaz Tadeu da Silva, especialista em currículo, em sua obra "Documentos de
Identidade" afirma

O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é
relação de poder. O currículo é trajetória, viagem,
percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida,
curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade.
O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é
documento de identidade (SILVA, T., 2007: contracapa).




Concorda-se com o autor, visto que no embate do currículo estão
presentes muitas forças, grupos, pressões e interesses, quer sejam aqueles
de movimentos populares, quer sejam os de classes privilegiadas ou o do
próprio Estado. Nessa disputa de interesses existem ideologias, objetivos e
metas de um projeto de sociedade. A inserção das novas tecnologias no
currículo das escolas e das instituições que formam professores tem precisa
ter como horizonte o interesse emancipatório do cidadão comum. Cabe a nós,
sujeitos críticos, nos empoderarmos das discussões e seguir a caminho de
uma sociedade livre e justa para todos/as. Caso contrário arriscamos,
enquanto profissionais da educação, sermos apenas instrumentos para o
fomento de desigualdades e desumanização. A infoinclusão se faz urgente e
necessária.

4.À guisa de conclusão

Em nosso trabalho, nos detivemos nas perspectivas que se descortinam
através do trabalho no Programa de Educação Tutorial, enquanto projeto de
fortalecimento das IES e IFES (Instituições Federais de Ensino Superior),
na medida em que eleva este a qualidade dos cursos de graduação ofertados
pelas universidades públicas brasileiras.
Percebemos ainda a importância das novas tecnologias de informação e
comunicação nos espaços educativos, na medida em que tais ferramentas além
de melhorar qualitativamente o processo de ensino e aprendizagem,
possibilitando aprendizagens significativas, oferecer instrumentos para
emancipação de muitos sujeitos oprimidos, pois terão outras fontes de
informação que não a televisão através dos canais abertos, sustentada por
grupos do poder hegemônico.
As novas possibilidades de comunicação funcionam como fortes
instrumentos de libertação. Isso porque, levando em consideração o nosso
modo de vida urbano corrido, concorrido e individual, as TDICs viabilizam
novas interações sujeito-sujeito e sujeito-objeto de conhecimento, levando
a cabo ensaios de libertação. As interfaces dedicadas a fóruns, comunidades
de aprendizagem, chats, entre outros, são exemplos disto. Nesse sentido,
cabe à escola, e ao professor, mediarem a utilização das TDICs por parte de
estudantes para que seu uso não caia no superficialismo ou até noutras
formas de dominação. É nesta perspectiva que o PET na UFPE/CAA pretende
atuar: fomentar caminhos para a infoinclusão através da educação.
Dessa forma, entende-se que o Programa de Educação Tutorial é um
exemplo dos percursos possíveis de uma nação que busca meios, na educação,
para promover uma sociedade mais desenvolvida científica, cultural e
economicamente, além da ação de cultivo de espírito pesquisador, atuante e,
sobretudo, crítico do estudante brasileiro, pois uma formação de qualidade
deve estimular essa criticidade nas pessoas para que estas deixem de ser
objetos e passem a ser sujeitos (FREIRE, 1986), protagonistas de sua
própria vida e da sociedade.


5.Bibliografia de referência

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introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

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PRADO, Maria Elisabette Brisola Brito. Articulações entre áreas de
conhecimento e tecnologia. Articulando saberes e transformando a prática.
In: ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de; MORAN, José Manuel (Orgs.).
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UFPE (2007). Projeto Político Pedagógico Institucional, Recife.

_____ (2008). Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia, Caruaru.

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[1] Tendo como principais interessados grupos elitizados, países que
defendem o sistema capitalista e instituições neoliberais como o Banco
Mundial, FMI, OMC, entre outras.

[2] O tensionamento da democracia ocorre quando, em nome de seus
princípios (liberdade, igualdade, fraternidade), questionam-se culturas e
práticas anti-democráticas e rompe-se com elas, ampliando assim seus
horizontes. Um exemplo: Um casal de homossexuais se beijam e são impedidos
por alguém. Neste caso, a democracia defende a igualdade e liberdade,
inclusive condena qualquer tipo de discriminação, entretanto, existe uma
cultura heterossexista historicamente instituída. No momento em que se luta
pela emancipação dos homossexuais e luta-se contra essa cultura opressora,
tensiona-se a democracia, ampliando/alargando seus limites (LAGE, 2009).
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