O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica: limites e possibilidades de aprimoramento da Educação Básica em uma perspectiva inclusiva.

June 4, 2017 | Autor: Mônica P.Santos | Categoria: Teacher Education, Inclusive Education
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Publicado e Apresentado no XII Congresso da ARIC (Association Internationale pour la Recherche Interculturelle), que se realizou em Florianópolis, SC, Brasil, no período de 29 de junho a 03 de julho de 2009. SITE: ISBN 978-85-87103-36-9; CD (ISBN 978-85-87103-37-6).

O Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica: limites e possibilidades de aprimoramento da Educação Básica em uma perspectiva inclusiva. The National School of Managers of Basic Education Programme: limits and possibilities to enhance Basic Education in Brazil in an inclusive sense. Resumo: Este trabalho apresenta a implantação do Programa Nacional Escola de Gestores (PNEGEB) no Rio de Janeiro, fruto de parceria entre o MEC e a UFRJ, gerido pela Faculdade de Educação/UFRJ. O Programa é parte das atuais políticas de melhoria da qualidade da Educação do MEC (PDE, 2007), e consiste na oferta de curso de especialização lato sensu para gestores de escolas públicas de baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) abaixo da média nacional (4,2). O principal objetivo do PNEGEB é aprimorar a qualidade da Educação Básica estabelecendo mecanismos de acompanhamento e de avaliação dos processos de gestão, considerados uma das principais variáveis que interferem na qualidade da Educação. Partindo da pesquisa “Programa Nacional Escola de Gestores: Avaliando Culturas, Políticas e Práticas de Inclusão/Exclusão por meio da Gestão da Escola”, objetivamos discutir como o curso poderá modificar esta realidade, considerando seus preceitos teóricos e sua proposta curricular, em conjunção com a experiência narrada por alguns dos gestores/cursistas. Trata-se de curso em fase de implantação, e por isso, metodologicamente, adotaremos uma posição reflexiva, com vistas a discutir limites e possibilidades do entrelaçamento entre o PNEGEB, uma proposta governamental, e a qualidade da Educação Básica no Brasil, um discurso governamental, mas também necessidade nacional. Palavras-chave: Culturas, Políticas e Práticas de Inclusão; Formação Continuada de Gestores; Saberes e Poder Summary: The paper presents the National School of Managers of Basic Education Program (PNEGEB), a partnership between the Brazilian Ministry of Education (MEC) and the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ), managed by the UFRJ’s Faculty of Education. The Program is part of MEC’s current policies to improve the quality of the Education (PDE, 2007), and consists on a post-graduation course for managers of state schools which obtained a grade in the Index of Development of Basic Education

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(IDEB) which is lower than the national average (4,2). The main aim of the PNEGEB is to improve the quality of the Basic Education via monitoring and evaluation the processes of school management, considered one of the main intervenient variables in the quality of the Education. Based on the research “National Program School of Managers: Evaluating Practical Cultures, Policies and of Inclusion/Exclusion by means of the Management of the School”, we discuss if and how the course will be able to modify this reality, considering its theoretical rules and its curricular proposal. The course is in its implantation phase, so we will adopt a more reflexive position, with a view to discussing its limits and possibilities to intervene in the quality of the Basic Education in Brazil. Key words: Cultures, Policies and Practices of Inclusion; Continued Managers’ Education; Knowledge and Power.

O Programa Nacional Escola de Gestores: limites e possibilidades de aprimoramento da Educação Básica em uma perspectiva inclusiva.

Introdução: Em julho de 2007, a Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FE/UFRJ) recebeu, para análise, indicada pela própria Reitoria, uma solicitação do Ministério da Educação (MEC) para uma parceria relativa ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica (PNEGEB). Segundo consta no processo, o referido Programa constitui-se em um Curso de Especialização que esteve em fase de implantação desde 2005, por meio de estudos-piloto acontecidos ao longo de 2006 em 10 universidades federais. Um de seus principais focos de atenção refere-se à criação de condições propícias à ressignificação das práticas escolares em dois sentidos: o da melhoria de sua qualidade e o de sua democratização, tendo como parâmetros os princípios de uma educação inclusiva, parte do movimento de Educação para Todos.

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A proposta da Reitoria era a de que, caso o parecer da Faculdade de Educação fosse favorável à participação da UFRJ no referido programa, a parceria com o MEC seria oficializada e a própria Faculdade seria a gestora do Programa no estado do Rio de Janeiro. Assim foi que em dezembro de 2007, após algumas idas a Brasília, a Congregação da Faculdade votou favoravelmente à participação da UFRJ no Programa, aceitando, assim, a responsabilidade de implantá-lo, implementá-lo e geri-lo. A partir de então, elaboramos um roteiro de investigação que pudesse nos possibilitar avaliar os impactos do referido curso ao longo de seu processo de implantação e implementação, tendo em vista verificar, particularmente, os impactos do curso nas práticas cotidianas dos gestores participantes. Segundo nossas pretensões, designamos 3 pesquisadores/alunos da pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação/UFRJ, que “sombreariam” cada gestor ao longo de todo o curso, não só virtualmente (acompanhando cada passo e participação deste gestor no ambiente virtual do curso) como também pessoalmente – indo à escola pelo menos uma vez por semana para observar o gestor e seu contexto. No mesmo ano de 2007 o empenho foi liberado com vistas a que o Programa se iniciasse logo no início de 2008. No entanto, em que pese todos os esforços empreendidos com o intuito de cumprir o cronograma de trabalho encaminhado à UFRJ pelo MEC, o curso só se iniciou em fevereiro de 2009. Houve considerável atraso em vários momentos do percurso, como veremos adiante. O que representam estes atrasos? Como podemos compreendê-los, considerando a conjuntura nacional em que tal Programa se inscreve, e considerando uma das realidades locais em que está sendo implementado: a do estado do Rio de Janeiro? Que impactos tais atrasos podem trazer aos dois grandes focos do Programa (a melhoria e a democratização da educação) no que tange ao Rio de Janeiro? O presente artigo pretende, por meio da narração dos principais fatos ocorridos ao longo de 2008 sobre o referido Programa, bem como por meio de uma análise relativa aos documentos de âmbito nacional que o fundamentam (o PDE, 2007 e o Projeto Pedagógico do Programa), explorar algumas hipóteses relativas às perguntas acima. Nosso ponto de partida para tal compreensão é o referencial conceitual com vimos trabalhando e elaborando desde os anos 1980 (BOOTH, 1981, 1983), referente à

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inclusão em educação, segundo o qual: (a) a inclusão constitui-se (ou deveria constituirse) em fundamento básico à democratização da escola e de práticas educacionais em geral, e (b) as análises a respeito dos processos de exclusão que justificam as preocupações com (e a defesa da) inclusão em educação podem ser obtidas por meio da consideração de três dimensões de análise e intervenção, concomitantemente: a da criação de culturas, do desenvolvimento de políticas e da orquestração de práticas de inclusão. Nosso principal argumento é o de que, mesmo reconhecendo a importância da gestão, e conseqüentemente, aprimorando as práticas por meio de estudos e formação continuada, o pouco planejamento quanto à implementação de Programas como o aqui descrito pode alimentar as limitações que os obstruem, quando o que se esperaria é que fossem, pelo menos, minimizadas. A fim de melhor atingirmos nosso objetivo, organizamos o artigo em quatro seções. Na primeira, descreveremos sucintamente o Curso PNEGEB. Na seqüência, apresentaremos o que temos percebido como entraves à sua implantação e implementação, seguido de uma seção dedicada à apresentação de aspectos que consideramos potencialmente facilitadores do sucesso do Programa. Finalizaremos o artigo com algumas reflexões que retomarão as perguntas colocadas nesta introdução, com vistas a suscitar mais discussões e reflexões.

O Curso PNEGEB - RJ: Caracterizado como um curso de Especialização, é constituído de 400 horas de duração, na modalidade semi-presencial, no qual cerca de 80 horas são reservadas a atividades presenciais. Segundo conta do PPP do Curso (MEC, 2008), O curso surgiu da necessidade de se construir um processo de formação de gestores escolares que contemplasse a concepção do caráter público da educação e da busca da qualidade social, baseada nos princípios da gestão democrática, vendo a escola na perspectiva da inclusão social e da emancipação humana (p.1).

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Assim, seu objetivo é, por meio da formação continuada de gestores das escolas públicas, aumentar a qualidade social da educação escolar básica por meio do oferecimento de elementos teórico-práticos. As finalidades do referido objetivo são possibilitar (idem, p.2): • • • •

maior flexibilidade na organização e no desenvolvimento dos estudos o fortalecimento da autonomia intelectual o acesso às Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTIC) a interiorização, garantindo o acesso daqueles que atuam em escolas distantes dos grandes centros urbanos

Fundamentado em bases legais como a Constituição Federal Brasileira de 1988, a LDB 9394/96 e o Plano Nacional de Educação (2001), o Curso é norteado pelo princípio de que: A gestão democrática das unidades escolares constitui uma das dimensões que podem contribuir significativamente para viabilizar o direito à educação como um direito universal e se configura como o princípio norteador deste curso (ibidem, p.2).

Vale lembrar que a gestão é definida no PPP como um princípio básico da educação nacional, relativo à organização coletiva da comunidade educacional com vistas a levar a cabo um Projeto Político-Pedagógico de qualidade e atrelado a uma formação crítica e cidadã. Assim sendo, constitui-se, para o Programa, presença obrigatória nas escolas. O Curso está estruturado em três Eixos Temáticos interligados, distribuídos em sete salas ambientes, sendo a primeira delas referente à Introdução ao Curso e ao Ambiente Virtual, este último tema relativo ao conhecimento da plataforma virtual por meio da qual o Curso irá acontecer, predominantemente. A segunda Sala é intitulada Projeto Vivencial, e é considerada o componente curricular articulador do Curso. Sua atividade central, de carga horária de 120 horas e longitudinal ao Curso, “consiste na formulação e no desenvolvimento de um projeto de intervenção na escola, com estreita vinculação com o Projeto Político-Pedagógico” (idem, p.4).

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A Sala seguinte chama-se Fundamentos do Direito à Educação, e nela são trabalhados, em 60 horas de Curso, tanto os limites e perspectivas do Direito à Educação como assuntos ligados a Conhecimento, Currículo e Cultura Escolar. A próxima Sala intitula-se Políticas e Gestão na Educação, em que se aprende, também ao longo de 60 horas, conteúdos ligados a Política Educacional e Gestão Escolar, relações entre Financiamento da Educação e Gestão Escolar e relações entre a Gestão Democrática da Escola e os Sistemas de Ensino. Em seguida, igualmente com 60 horas, o Curso propõe a Sala Planejamento e Práticas da Gestão Escolar, cujos conteúdos são Avaliação Institucional e Avaliação da Aprendizagem e Planejamento, Trabalho Pedagógico e Cotidiano Escolar. As duas últimas Salas têm seus conteúdos organizados em 30 horas cada uma, e denominam-se Sala Ambiente Tópicos Especiais, que tem por objetivo aprofundar as discussões e reflexões oriundas das outras salas do Curso, com o oferecimento de palestras de especialistas sobre temas específicos levantados como demanda ao longo do Curso; e Sala Ambiente Oficinas Tecnológicas, que consiste no suporte tecnológico e no desenvolvimento de aprendizagens relativas à utilização dos diversos recursos das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) no campo da gestão educacional.

Refletindo sobre o Curso: alguns entraves Como dissemos no início deste artigo, o Curso PNEGEB sofreu atraso de 13 meses para ser finalmente iniciado. Tal se deu por dois motivos imediatamente visíveis, mas também por uma série de outros fatores que pretendemos explorar nesta seção. O primeiro motivo visível consiste na lentidão dos trâmites burocráticos. Particularmente nos níveis do sistema estadual e da UFRJ. Vivenciamos, a cada vez que o processo solicitando a parceria ia para o nível central da universidade, uma espera desesperadora de semanas, assim como uma quase inesgotável e cansativa ioiotização1, estabelecia-se; ou seja: o processo caía em exigência e nos era retornado a cada vez que

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Neologismo criado pela autora para representar um velho conhecido de nossa cultura: a idéia do bate-evolta, dos eternos excessos das medidas burocráticas extremadas.

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um novo parecerista lançava olhos no mesmo, ou pelo menos assim nos parecia. Estamos cônscios de que tal “cultura” não é privilégio somente da UFRJ. Lamentavelmente, as instituições educacionais - públicas e privadas - estão repletas desta prática. Mas saber disso não altera o grau de frustração quando se tem que lidar com situações semelhantes. O fato é que muito do que teve de ser protelado o foi por conta desta lentidão e do duvidoso preciosismo na análise de minúcias burocráticas. O segundo motivo visível verificou-se na lentidão do próprio governo federal em liberar o material com o qual o curso trabalhará, assim como realizar, em tempo hábil, as alterações na plataforma Moodle, o ambiente virtual com base no qual o curso está acontecendo. Isto porque as universidades que pilotaram o Curso, em seus relatórios, sugeriram algumas alterações primordiais ao sucesso do Curso. Tais sugestões foram acatadas pelo MEC, mas por motivos ainda não esclarecidos, o novo material só foi distribuído em novembro de 2008. As alterações na plataforma, que dependiam deste material, por sua vez, só ficaram prontas quase no início de 2009. Além disso, vale mencionar que houve alterações na Coordenação Nacional do Programa duas vezes ao longo de 2008, com alteração nas funções e trocas de pessoaschave na equipe nacional, por motivos até o presente não muito claros para os Coordenadores locais. Quanto aos outros fatores, lembramos, a partir do projeto pedagógico do Curso, o fato de que ele é oferecido, planejado, elaborado e voltado para gestores. Em tese, isto significa estar em conjunção com a realidade da vida dos gestores, tanto no tocante ao desenvolvimento da escola sob sua gestão, quanto no tocante à sua experiência como gestor em (e, portanto, parte de) um sistema mais amplo, e sua importância como ator nesta grande arena social. Entretanto, tal conjunção não se vem verificando em base estável. Para começar, além das próprias trocas de pessoas chaves do programa no nível central (MEC), o ano de 2008 foi particularmente especial desde a criação do Programa na UFRJ, por ter contado com eleições municipais. Ora, um dos requisitos centrais à seleção dos cursistas era o fato de que todos fossem gestores (ou, pelo menos, da equipe gestora, como por exemplo Coordenadores pedagógicos, Supervisores ou Orientadores) em exercício

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quando da seleção e freqüência ao curso. Com as eleições municipais de 2008, muitos gestores saíram da gestão por conta do novo quadro político das prefeituras no estado do Rio de Janeiro, o que parece ser comum de modo geral em muitos estados de nosso país, para nossa infelicidade. Em outras palavras, em fevereiro de 2009, quando iniciamos o curso oferecemo-lo não mais para 100% de gestores (ou 387 cursistas), conforme previa e solicitava a proposta do MEC. O levantamento de quantos deixaram de ser gestores ainda está sendo feito na presente data – fevereiro de 2009, mas calculamos que cerca de 30% dos cursistas tenham sido removidos de suas funções como Diretores de escola, ou como equipe de gestão da mesma. Um exemplo bastante elucidativo e comprobatório desta realidade encontra-se no depoimento abaixo, de um dos cursistas: Este curso de gestores é um ganho para o nosso país, uma vez que sabemos que ele faz parte de diferentes ações que o governo federal vem implementando para a melhoria da educação. Formar gestores capazes de lidar com a gestão democrática é um grande passo, pois o líder de uma unidade escolar pode, e deve implementar a democratização das ações tomadas em relação à unidade escolar que dirige. Pena que muitos de nós que estamos neste curso que se inicia, devido a mudança de prefeito, fomos retirados de nossos cargos e não temos garantidas as 10 horas semanais de estudos, outro ponto é que não poderemos colocar em prática tudo que formos aprendendo ao longo do curso.(grifo nosso)

Um outro aspecto notável é a relação – ou falta da mesma – estabelecida por alguns de nossos educadores (mesmo alguns da própria equipe de coordenação do PNEGEB – UFRJ – para com as novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) como veículo de ensino. Em que pese o aparente amplo uso que se faz hoje das tecnologias da informação e comunicação, esta parcela da população que é alvo da presente narrativa ainda possuía um número considerável de sujeitos (cerca de 20%) que só passaram a ter emails porque foram aprovados no curso aqui descrito. Dos que já possuíam acesso, percebemos que o uso das mesmas como ferramentas de inovação pedagógica ainda sofre grandes resistências, ou, pelo menos, causa certa apreensão, conforme mostra a fala abaixo: O que tem sido um desafio para mim é esta nova forma de estudar. Estudar à distância. Não que seja impossível, mas de cara começamos

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a desconstruir alguns conceitos, o que é bom para nós enquanto educadores e eternos aprendizes.

Em parte, temos verificado que tal se dá por falta de conhecimento técnico da classe de profissionais da educação, o que nos leva a refletir sobre a necessidade premente de investimento em cursos e programas que eduquem os educadores a usarem estas ferramentas de modos mais amplos do que o simples uso doméstico. Um outro motivo já percebido refere-se à atribulada vida dos educadores, em particular, talvez, daqueles que atuam na equipe de gestão da escola, conforme o depoimento da gestora abaixo, extraído do fórum do PNEGEB ao final da primeira semana de aula: Oi, Turma! Realmente o melhor ambiente para nossos contatos será virtual! Esta semana foi terrível para conseguir comparecer em compromissos extra-escola, devido aos inúmeros problemas para início do ano letivo, não pude comparecer nas aulas presenciais, parece até desculpas muito profícuas, mas são verdadeiras. Gostaria de conhecê-los com maior proximidade, mas estou disposta a me comunicar com todos que necessitarem. Beijos!!

Por outro lado, muito da resistência se verifica pelo simples comodismo de muitos educadores e profissionais da educação: simplesmente não se quer aprender e inovar. Felizmente, estes são minoria, mas estão presentes em nosso cotidiano. Para agravar a situação, esta resistência parece acirrar-se quando os profissionais da educação finalmente vencem suas barreiras pessoais e decidem aprender a usar as ferramentas, apenas para caírem em uma frustrante experiência em que nem sempre as condições operacionais mínimas para que tal aprendizado se dê funcionem com propriedade. Em outras palavras, a frustração com a queda de linhas telefônicas e serviços de provedores, falta de acesso, vírus, falta de orientação e auxílio imediatos quanto às dificuldades, etc., são aspectos desmotivadores para estes cursistas. Alguns depoimentos extraídos do fórum da disciplina inicial, já em curso, exemplificam melhor estas resistências: 1. Estou clicando no link e não está abrindo a página?

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2. Por que não estou conseguindo visualizar a atividade? 3. A página está aparecendo com caracteres (símbolos, letras ou números) estranhos, por que isto está ocorrendo? 4. Como e que faço para enviar um arquivo para um fórum? 5. Não estou conseguindo inserir a acentuação correta no texto digitado, inclusive o Ç (cê-cedilha), como resolvo este problema? 6. Eu já escrevi o texto e não está aparecendo na atividade?

Refletindo sobre o Curso: possibilidades de sucesso Se na seção anterior discutimos alguns potenciais entraves ao sucesso do curso no que tange à plenitude de seus objetivos, é com satisfação que apresentamos e defendemos, em contrapartida, a idéia de que as possibilidades de sucesso também existem, ainda que fiquem mais a cargo do esforço pessoal dos cursistas do que dos contextos e decisões políticas que os tornam, muitas vezes, reféns da má qualidade de suas ações. Destacamos, a título de ilustração, alguns depoimentos que nos pareceram bem explicativos do argumento acima colocado: Não pretendo parecer impertinente, mas devo reconhecer que esta iniciativa já é tardia. A implementação deste curso é valiosa (como já mencionei) no sentido de ampliar os questionamentos a cerca (sic) da gestão democrática e a sua colaboração para garantia de acesso à educação. (...) Apenas gostaria de salientar que tais políticas se desenvolvem em contextos ora estraçalhados pelo próprio setor público, afinal na minha situação específica (menciona seu lugar de origem), o próprio governo determina os seus gestores. Outra questão decisiva é a falta de condições objetivas de trabalho. (...) Creio que tanto eu quanto a maioria dos meus colegas, não contamos com os recursos necessários em nosso ambiente de trabalho, mas na contramão da situação lutamos pela melhoria do ensino, como fator determinante da nossa formação e consequente valorização da nossa profissão. Prefiro acreditar, que mesmo sendo um contexto contraditório (gestão democrática/indicação de Diretores) ainda temos meios de melhorar o acesso e a permanência no sistema público de ensino, definindo metas e mobilizando os profissionais envolvidos. O curso de especialização em gestão escolar, será um facilitador para todos nós,através dele teremos a oprtunidade (sic) de ingressar nesse universo virtual,no meu caso em particular posso afirmar que será de grande valia.O programa também nos beneficia,contribuindo na nossa formação pessoal nos dando ferramentas adequadas para a ampliação dos nossos conhecimentos.Em minha Unidade Escolar já existe o PPP,porém ele será reelaborado,após uma nova reflexão de todo o grupo que agora atua na escola,juntamente com toda a

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comunidade escolar (alunos e pais ) pretendo fazer uso de tudo o que aprender para reformular o que já existe. Como já relatie, (sic) o curso vem criando uma expectativa muito grande,a cada encontro descubro coisas novas e aos poucos vou percebendo que o ambiente virtual esta ao meu alcance. Ao refletir sobre o curso percebo uma grande oportunidade de conhecer e interagir com as novas Tecnológias (sic) da Informação e da Comunicação, proporcionando a cada aula o acesso ao mundo virtual.O gestor precisa se apropriar deste conhecimento como uma ferramenta facilitadora de seu diálogo com as mudanças do mundo, assim permitindo ampliar seus conhecimentos para fortalecer sua prática. O mundo virtual já faz parte de nosso dia-a-dia, necessitamos dele para interagir em várias áreas e aspectos de nossas vidas. Certamente, o gestor precisa apropriar-se desta ferramenta e incorporá-la ao seu cotidiano. O curso de Especialização em Gestão Escolar vem reforçar a visão de que a construção da gestão democrática da escola passa também pela utilização desta linguagem. Ressalto ainda que a dialética entre a teoria e a prática (proposta no currículo do curso) e a preocupação em abordar as diversas áreas de atuação do gestor, muito contribuirão para nossa prática e formação, conseqüentemente para a melhoria da educação pública em nosso país. A maior contribuição que particularmente percebo ao refletir sobre o curso, na verdade o seu grande barato, é a obrigatoriedade de interagir com as novas tecnologias da informação e da comunicação, que articula o tema principal de nosso estudo com o acesso ao mundo virtual que vem se tornando a sala de aula global de nossos alunos. O gestor precisa se apropriar deste conhecimento como uma ferramenta facilitadora do seu diálogo com a modernidade e o domínio desse ambiente permite a ampliação de sua vivência investigativa e aperfeiçoamento de sua prática. O suporte tecnológico dado pela Sala Ambiente Oficinas Técnológicas (sic), nos mostra que integrar o gestor a essa "nova" linguagem é uma das propostas do curso apontando a relevância quanto a utilização dos diversos recursos das Tecnologias da Informação e da Comunicação no campo da gestão educacional.

Outro fator que parece preponderante quanto à manutenção da motivação a despeito de todas as dificuldades e apreensões narradas refere-se à ‘marca’ UFRJ. Em outras palavras, tem sido fala corrente entre os cursistas o fato de que serem alunos de uma Universidade Federal, com direito à vida de estudante (carteirinha, bibliotecas, etc.) e status de universidade federal, em muito tem contribuído para que enfoquem seus olhares e sua atenção no que poderão alcançar, mais do que nas dificuldades enfrentadas.

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Aliada a este aspecto, encontra-se a satisfação expressa em saírem titulados como especialistas em gestão, um aspecto da vida escolar que quase todos enxergam como de fundamental importância, o que coincide com o texto da proposta do próprio Ministério da Educação ao definir o curso em questão.

Voltando ao Começo: Dissemos no início do presente artigo que um dos objetivos centrais do PNEGEB é aprimorar a qualidade da Educação Básica por meio do estabelecimento de mecanismos de acompanhamento e de avaliação dos processos de gestão, considerados uma das principais variáveis que interferem na qualidade da Educação. Assim, nosso objetivo foi, com base em dados preliminares da pesquisa “Programa Nacional Escola de Gestores: Avaliando Culturas, Políticas e Práticas de Inclusão/Exclusão por meio da Gestão da Escola”, iniciada em 2008, discutir as possibilidades e limites do referido curso em proporcionar a modificação desta realidade, considerando seus preceitos teóricos e sua proposta curricular, e contrastando-as com a realidade narrada por alguns dos gestores/cursistas. Vimos, ao longo do texto, que até o presente identificamos muito mais limites do que possibilidades, a começar pelo atraso de um ano no início do curso, pelas dificuldades que educadores têm relativas às novas tecnologias e suas funções aliadas ao seu campo de trabalho, pelas mazelas políticas e das políticas locais e das condições de trabalho dos profissionais da educação. E ainda assim, apesar de tudo, o curso, iniciado em fevereiro de 2009, parece seguir com certa tranqüilidade. Parece-nos que, por ora, as limitações aqui descritas, embora desmotivem parcialmente os cursistas, não são suficientes para fazê-los desistir, pelo menos não aos que permaneceram no curso. Mesmo na hipótese de que a evasão já tenha se processado em cerca de 30% vale a pena refletir porque o restante permaneceu, já que as condições trabalhistas e de vida, porque não dizer, em muito se assemelham. Terá sido o selo UFRJ? Terá sido a sede de conhecimento? Estes e outros fatores juntos? O ano de 2009 será vital para nossas reflexões, na medida em que poderemos ver de perto que fatores

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(se estes ou outros ou estes e outros) interferem na capacidade de persistir destes gestores, a despeito das dificuldades aqui apresentadas. De todo jeito, não podemos deixar de também refletir sobre os que abandonaram o curso: teriam sido apenas as questões políticas locais que os influenciaram? Ou fatores pessoais estariam envolvidos? Este tipo de decisão dependeria somente de um destes aspectos, ou ambos? Uma vez mais, ainda não temos como responder. Mas podemos afirmar uma coisa: na medida em que o PNEGEB é, ele mesmo, parte de uma política pública, é extremamente importante que seja avaliado. Afinal, se há um aspecto que tem levado historicamente este país a, por vezes, nadar e morrer na praia, este é o da descontinuidade e falta de avaliação de suas próprias políticas. Aguardemos, então, o final de 2009. E enquanto isso, lancemos mãos às nossas maiores habilidades de investigação e problematizemos o que se apresenta como ‘dado’. Referências: BOOTH, T. Demystifying Integration. In: The Practice of Special Education. London: Basil Blackwell, 1981. ______. Integrating Special Education. In: Integrating Special Education. London: Routledge, 1983. BRASIL/Ministério da Educação. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro. Brasil, 1996. ______. Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, Brasil, 2007. BRASIL/Ministério da Educação. Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica – Curso de Especialização em Gestão Escolar. Brasília: MEC, 2008. SANTOS, Mônica P. dos et. al. Ressignificando a formação de professores para uma educação inclusiva. Relatório de Pesquisa apresentado ao CNPq. Rio de Janeiro: LaPEADE/UFRJ, 2007. UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e ação. Paris, 1998. ______. Educación para todos em 2015. ¿Alcanzaremos La meta? Paris, 2007.

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PERFIL PROFISSIONAL DA AUTORA: Mônica Pereira dos Santos; Professor of the Graduation and Post-graduation Programmes of Education of the Faculty of Education of UFRJ. Contacts: Rua Constante Ramos 70-801, Copacabana, Rio de Janeiro, CEP: 22051-012. Telephone: (21) 2547 1568; Fax: (21) 2549 3521; Mobile: (21) 8136 2400; email: [email protected]

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