O projecto de arquitectura no processo de reinterpretação no Vale do Tejo: uma análise prospectiva. [Conferência Alto Tejo Português e Tejo Internacional].

CONFERÊNCIA ALTO TEJO PORTUGUÊS E TEJO INTERNACIONAL

Valores naturais e culturais do corredor fluvial Vila Velha de Ródão e Alcântara

O projeto de arquitectura no processo de reinterpretação do Vale do Tejo: uma análise prospectiva.

Mário Benjamim | CHAIA | UÉvora

Casa de Artes e Cultura |12 Out | VVRódão

Qual o papel do projeto de arquitetura neste processo? O projeto de arquitetura, como instrumento mediador que visa a reinterpretação do território e a valorização do lugar, e que se pretende objetivo no diálogo e na conciliação das duas realidades descritas.

Uma arquitetura exploratória alicerçada na investigação em projeto, que questione os lugares, e seja capaz de desenvolver programas e propostas de intervenção. O que se pretende com esta leitura? • Encontrar um modelo padronizado no conjunto de intervenções recentemente realizadas.

• Definir uma metodologia de intervenção em sítios arqueológicos em condições acrescidas desta complexidade.

• Confirmar e estabelecer novas apropriações e utilizações ao espaço, valorizando-se e concebendo-se desta forma novos territórios.

2

Casos de Estudo

Projeto de Valorização da área envolvente ao Castelo de Rodão e Capela da Senhora do Castelo

Coordenação : PB.ARQ – arquitetura paisagista, lda

Descrição

Sobranceiro ao Tejo e ao monumento geológico do Castelo de Ródão, engloba dois imóveis classificados: o Castelo de Ródão e a Capela da Senhora do Castelo, e que constituem, no conjunto, um núcleo de elevado valor patrimonial. A configuração e localização do sítio, em ponto dominante da paisagem, permitem excelentes relações visuais sobre o rio Tejo e territórios adjacentes, conferindo-lhe naturalmente a função de miradouro. Objetivos gerais

• Valorização funcional do conjunto e de cada um dos seus elementos. • Enquadramento paisagístico e potenciação da localização privilegiada. • Procurar novos equilíbrios aos elementos edificados e à envolvente direta

Estratégia Conceção • • • • •

Introdução de um eixo fortemente orientador, que reforce a aproximação aos dois elementos edificados. Inserção de soluções construtivas que permitam uma manutenção eficaz e simplificada. Adaptação de construções existentes a novas funcionalidades (Instalações Sanitárias). Resolução de acessibilidades entre imóveis e controle de acessos de automóveis. Manutenção e acentuação da vegetação espontânea e do caracter naturalizado do sítio.

Projecto

O projeto caracteriza-se pela inscrição de diferentes unidades funcionais. Caracterização do Projeto

A. Receção /Estacionamento B. Adro da Capela C. Plataforma de Prado /Terraço D. Zona de Merendas E. Rampa de Acesso ao Castelo F. Recinto Muralhado G. Miradouro H. Caminho de Ronda

A

B

D C

E

H

F

G

5

6

Projeto de estudo, preservação e valorização do Caminho e Calçada da Telhada

Coordenação : EMERITA Empresa Portuguesa de Arqueologia

Descrição

A Calçada da Telhada, também conhecida como Estrada Romana da Telhada entre o povo da aldeia de Perais, é uma antiga via de acesso a uma barca de travessia do rio Tejo que deu passagem a pessoas e animais entre a Beira e o Alentejo. Objetivos gerais • • • •

Estudo arqueológico da estrutura viária e ocorrências conectas Viabilização e recuperação da estrutura Definição sinalização e homologação do percurso pedestre Produção de material promocional (folheto tríptico) e documental (monografia).

• • • •

Estratégia de conceção

Adaptação e aproveitamento da estrutura para visita ou lazer Interligação com a rota de visita à arte rupestre Promover a utilização como infraestrutura para pedestrianismo Reforçar um dos eixos da estratégia turística do concelho Projeto

O projeto caracteriza-se por um conjunto de sequências e de ações executadas: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.

Ações de limpeza da via Levantamento topográfico e fotogramétrico Prospeção da área do projeto Levantamento dos grafismos rupestres Execução de sondagens arqueológicas Aprofundamento de conhecimentos Reconstrução de alguns trechos Reparação das passagens hidráulicas

Planta e perfil da sondagem arqueológica transversal à via na Barreira da Barca .

(A Calçada e a Barca da Telhada, 2013, p.30)

9

Projeto de valorização e musealização da estação arqueológica de Foz de Enxarrique

Coordenação : Dr. Luís Raposo

Descrição:

• Imóvel de Interesse Público, constitui tanto do ponto vista patrimonial e científico, um dos mais importantes locais da sua tipologia (acampamento de ar livre) e datação (Paleolítico Médio Final) conhecidos em Portugal e em toda a Península Ibérica. A configuração e localização do sítio, em ponto estratégico da paisagem, permitem excelentes relações visuais sobre o rio Tejo e portas de Ródão, conferindo-lhe uma particularidade do local a explorar. Objetivos gerais : • • • •

Proteção e musealização do núcleo arqueológico. Implementação do projeto escavação-escola. Construção de um espaço verde de recreio e lazer, Complemento e remate ao percurso ribeirinho em execução.

Estratégia de Conceção

• Integração no percurso urbano e no arranjo da frente ribeirinha. • Desenvolvimento de ações, atividades e eventos com vista, nomeadamente, ao funcionamento e promoção do local. • Dinamização cultural, social e turística local e regional. • Reforço da componente didática do local. • Realização de protocolos e iniciativas com organismos e instituições, no âmbito do projeto escola- escavação. Projeto O projeto caracteriza-se pela inscrição de diferentes unidades funcionais. A. B. C. D. E. F. G.

Acessos e nivelamentos gerais ; Áreas escavadas : Taludes / estratigrafias; Áreas de “reserva arqueológica” ; Áreas potenciais de “escavação-escola” Plataforma sobre o Tejo Restante Plataforma

Planta de compartimentação. (Raposo, 2013)

Maquete de estudo

Corte Transversal | Sistema Construtivo

Planta de Proposta

Análise Reflexiva

Ainda que os casos de estudo apresentem diferenças inerentes a cada um, é possível retirar conclusões transversais a todos: •

Apesar dos diferentes contextos de inserção, todas as intervenções estão vinculadas com a paisagem natural e com vestígios marcadamente arqueológicos.

• Em todos os projetos analisados, verifica-se uma abordagem relativamente semelhante ao nível de implementação de estratégias de gestão e conceção. • Em todos os projetos se verifica um enorme cuidado e atenção ás pré-existências, considerando-as como ponto de partida para o desenvolvimento do projeto.

• Independentemente do sistema ou estratégia utilizados em cada um dos projetos, existe uma clara intenção de convocação do sentido de experiência do lugar. • A relação e o discurso entre as partes acontece através de vários momentos que se relacionam entre si pelo percurso físico, através de uma dialética temporal ou espacial.

• A estrutura conceptual sobrepõe-se à estrutura pré-existente numa lógica articuladora e evocativa de significados, conferindo um caracter intensionalmente experimental a cada uma das propostas.

Calçada da Telhada (organização radial)

Ramificações Vale do Tejo

Castelo Rodão (organização linear)

Foz de Enxarrique (organização agrupada)

Cabeço D’Ante

Allmannajuvet

Vale do Ocresa

•ser reversível •minimizar o impacte negativo no sítio e estrutura arqueológica •ser contrastante e não induzir em erro os visitantes •ter um custo viável (Caninas , 2015) • Reconvocar a quase esquecida história da mina de Zinco e reativar este lugar. •Atrair as pessoas e criar momentos de pausa que despertem um sentido de história e lugar. (Tunner, 2014)

• interpretar uma região • implementar equipamentos que façam a ponte entre o passado e o presente e que construam uma paisagem cultural. (Pereira , 2013)

• proteção e musealização • leitura de palimpsesto • clarificar o carácter palindrómico (Helm, 2012)

Castelo S. Jorge

Análise processual

A descrição e análise de processos tão independentes entre si, traduziram-se em casos muito específicos que, no seu conjunto, acabaram por revelar significativas afinidades que revelaram padrões de atuação próximos a todas as intervenções, como reflexo de uma cultura patrimonial comum. Um “modelo chão” ou um processo metodológico ?

• Uma arquitetura com uma linguagem própria, relacionada com as tradições de um dialeto ainda visível, fortemente caracterizado pela monumentalidade do lugar.

• Uma herança conceptual de âmbito cultural, fortemente interligada com a paisagem, (mediterrânica) construída sobre uma matriz geológica e pelo valor intrínseco dado ao rio. • A afirmação de um modelo “chão”, deve-se à racionalização e simplificação formal dos elementos compositivos e na necessidade de se encontrar soluções financeiramente equilibradas e resolúveis com os meios disponíveis, integradas num contexto de visita livres aos sítios arqueológicos intervencionados.

• As soluções arquitetónicas utilizadas, comprovam esta adaptação tipológica e funcional ao espaço, verificando-se influências estruturais e funcionais com outras intervenções de âmbito semelhante, mas evidenciando-se o carácter próprio do lugar, nunca esquecendo a relação quer física e visual que mantem com a paisagem.

Projecto Eco-Revelatório

Na conceção de novas propostas teremos que ter em consideração os seguintes fatores: • As condicionantes físicas e funcionais próprias que o definem morfologicamente

• Contribuição do programa implementado no qual se define o processo de gestão do sítio arqueológico • Conteúdos funcionais : museológico, informativo, integração infraestruturas , lazer , educativo

• Articulação com o vestígio arqueológico: proximidade, visibilidade, articulação com o traçado, envolvimento e sobreposição

• Relação com a paisagem envolvente de grande alcance, encarada como uma mais valia, evocativa e acentuando-se o carácter formativo dos percursos. • Conceitos de Conceptualização: reabilitação, valorização e reversibilidade Propostas de Intervenção

Interpretativas

Representativas

Reconstrutivas

Estruturas de Retaguarda

Modelo de gestão centralizado, (CIART) com semelhanças ao parque arqueológico de Foz Côa, cujo paralelismo tipológico, social e económico se aproxima do complexo rupestre do Médio Tejo.

Projeto “Terras de Oiro, que criou uma rede de núcleos museológicos temáticos, (Lagar de Varas do Enxarrique, em Vila Velha de Ródão, Núcleo Museológico História de uma Comunidade Rural, em Fratel e Núcleo Museológico do Contrabando, em Perais).

Reorganização e uma Reinterpretação natural e cultural (progressiva e evolutiva) do corredor fluvial entre a barragem da Pracanha e a foz do Rio Erges.

U5

U6

U5 / U6 - Unidades Operacionais de Planeamento e Gestão (UOPG)

Fontes CANINAS, João e Al. A Calçada e a Barca da Telhada (Perais, Vila Velha de Ródão), Associação de Estudos do Alto Tejo, 2013.

CANINAS, João. Nota Técnica Proposta de reconstrução parcial da anta do Cabeço d´Ante (Vila Velha de Ródão) e respetiva mamoa, 2015. HELM, Joana. Musealização da Área Arqueológica da Praça Nova do Castelo de S. Jorge / Carrilho da Graça Arquitetos. 2012

MARTÍN, Marcelo (2001), Sobre el necesario vinculo entre el património y la sociedade Reflexiones criticas sobre la Interpretación dei Património. Estudos/Património. Lisboa. ISSN 16452453, 1, , p.2537. PEREIRA, Paulo (2001), "Lugares de passagem" e o resgate do tempo. Estudos/Património. Lisboa. ISSN 16452453, 1, p.616.

PEREIRA, Pedro Miguel Sampaio, Arquitetura do Território. Mapear Paisagens do Baixo Mondego, dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura Departamento de Arquitectura da FCTUC . 2013 RAPOSO, Luís “Bases para um projeto de Valorização Patrimonial e Educativa do Sítio Arqueológico da Foz do Enxarrique”, 2013. TURNER, Chistopher. Peter Zumthor: Zinc mine museum, Norway . 2014 . http://www.iconeye.com/architecture/news/item/10837-peter-zumthor-zinc-mine-museum-norway

VILHENA, Joana; Pesquisa em projeto ou projeto em pesquisa? O espaço e o tempo na construção de um projeto. Estudo Prévio 8. Lisboa: CEACT/UAL - Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa, 2015.