O PSOL e o segundo Turno: não se trata de apoio, mas de voto

May 23, 2017 | Autor: André de Almeida | Categoria: Politica
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O PSOL e o segundo Turno: não se trata de apoio, mas de voto.



André de Almeida – Núcleo Zona Sul/RJ



Nestas eleições, creio, o PSOL obteve uma importante vitória.
Independente do resultado eleitoral agregado (ainda não disponibilizado, de
forma sistemática, pelo TSE) que permita uma efetiva comparação com as
eleições anteriores, esta vitória se concretiza na medida em que o PSOL
pôde se afirmar como um Partido com visão própria sobre a realidade e que
oferece uma perspectiva para o processo de transformação necessária. Enfim,
uma força política anticapitalista radical que tem no socialismo a sua
referência estratégica.

Em vista da proximidade de visões – a política econômica submissa ao
capital financeiro; o agronegócio e a produção de commodities - entre os
grupos políticos que passaram ao segundo turno, não resta dúvida que ao
PSOL caberá inevitavelmente o papel de partido de oposição a quem sair
vitorioso. Neste sentido não se coloca a pergunta sobre quem apoiar, mas ao
contrário, está posta a indagação sobre, entre os campos políticos em
disputa, qual poderia propiciar as condições objetivas mais férteis para o
desempenho da tarefa de uma oposição socialista. Em outras palavras: não
se trata de decidir a quem apoiar, mas de decidir em quem votar. Parece-
me, então, que sob esta perspectiva há diferenças a considerar entre o
projeto do lulismo e aquele vinculado ao demotucanato.

Para além do óbvio viés direitista de forças que sustentam o projeto
destes últimos, valeria destacar dois aspectos que me parecem centrais
nestas diferenças: a questão do Estado e o posicionamento em relação ao
Imperialismo.

Como um processo de intervenção populista, o lulismo necessita do
Estado para viabilizá-lo. Ao fazê-lo, reconstrói no imaginário popular a
importância e a essencialidade do Estado para atender às demandas
apresentadas pelo quadro das iniqüidades sociais presentes na sociedade
brasileira. Ao mesmo tempo, o Estado se apresenta como indispensável para
garantir o dinamismo econômico interno quando confrontado com as incertezas
advindas do movimento da economia internacional. Em ambos os casos, o que
se verifica é a aderência do Estado nas percepções sociais do povo
brasileiro. O que comparado à experiência dos governos dos Fernandos nos
coloca em um patamar superior. Não precisamos trazer a importância do
Estado para a discussão política. Cabe-nos, então, discutir a participação
deste Estado no processo de transformação da sociedade brasileira.

Do ponto de vista da política externa a questão é análoga.
Independentemente das motivações que levam o lulismo a estabelecer alianças
internacionais para fora da dominação imperialista, o fato é que se
constitui na sociedade brasileira uma percepção de autonomia soberana que
alavanca a luta antiimperialista. Nesta perspectiva as relações de
dominação e dependência se fragilizam. Mais uma vez, nos encontramos diante
de um patamar superior para travar a luta que nos interessa. Não precisamos
afirmar a necessidade desta independência; mas recolocá-la em uma nova
perspectiva.

Estas duas dimensões, aqui levantadas, já sugerem o caminho a ser
tomado. O voto no lulismo – e na sua candidata – nos coloca em uma posição
de oposição a uma estrutura com elementos objetivos a partir dos quais é
possível desenvolver uma luta em um padrão qualitativamente superior.

Em outra perspectiva, devemos considerar, ainda, que o lulismo tem as
suas próprias limitações intrínsecas. A conciliação dos interesses de
classe produzida é circunscrita a uma conjuntura que não tem porque se
manter. Este mundo fantasioso em que, parece, todo mundo pode ganhar não
pode ir muito longe. O que hoje é vendido como a ascensão de contingentes
populacionais relevantes, no médio prazo, se estagnará, levando a uma
frustração de expectativas. O lulismo – sem Lula – encontrará dificuldade
crescente para a administração desta nova conjuntura. Esta será uma
realidade em que o PSOL poderá encontrar espaço para afirmar o seu projeto
de transformação.

Por último, mas não menos importante, não podemos desprezar o
contingente imenso de pessoas que acreditam, verdadeiramente, no lulismo
como forma de enfrentar os problemas do país. Estas pessoas são aliadas
indispensáveis para o processo de transformação social com que estamos
comprometidos. Se hoje as diferentes avaliações de projetos nos dividem, o
caminhar da história nos reaproximará. Não precisamos criar antagonismos
desnecessários.

Acho que estas questões já justificariam o voto em Dilma, mas não
podemos, também, desprezar determinados aspectos mais pragmáticos. Não
seria desejável reproduzir a farsa do PT na oposição a um projeto, em todos
os sentidos, regressivo. Devemos considerar esta experiência historicamente
superada, sem capacidade de produzir as transformações necessárias à
superação dos graves problemas nacionais. Isto embaralharia o quadro
oposicionista, sem ganhos qualitativos para a sociedade brasileira.

Parece-me, então, que, sob qualquer ponto de vista, a vitória do
lulismo é melhor para os objetivos do PSOL. Qualquer posição puramente
dogmática será contraproducente para os nossos interesses estratégicos.
Assim é que, sem negociação, sem apoio, devemos declarar o voto no lulismo:
ou seja, o voto em Dilma.
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