O PT E A DESMORALIZAÇÃO DA ESQUERDA NO BRASIL

June 6, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Sociology, Economics, Social Sciences, Political Science
Share Embed


Descrição do Produto

O PT E A DESMORALIZAÇÃO DA ESQUERDA NO BRASIL Fernando Alcoforado* Esquerda e Direita são uma forma comum de classificar posições políticas, ideológicas, ou partidos políticos. Esses termos surgiram com o advento da Revolução Francesa. Durante o reinado de Luis XVI, os membros do Terceiro Estado, que indicava as pessoas que não faziam parte do clero (Primeiro Estado) nem da nobreza (Segundo Estado), se sentavam à esquerda do rei enquanto os do clero e da nobreza se sentavam à direita. Os mais radicais que normalmente eram contra as decisões do rei ficaram conhecidos como a esquerda enquanto os favoráveis às decisões eram os de direita. Neste estágio, a direita era representada pelos conservadores e o centro pelos liberais. A esquerda, que ainda não havia assumido identidade própria, estava inserida entre os liberais como seu setor mais radical. Bobbio afirma que uma diferença fundamental entre esquerda e direita é a de que a primeira é defensora intransigente da igualdade e a direita não. A esquerda acredita que a maior parte das desigualdades é social e, enquanto tal, eliminável e a direita acha que a maior parte delas é natural e portanto ineliminável (Ver Bobbio, Norberto. Direita e esquerda. Editora UNESP.São Paulo, 1995). O confronto entre a direita e a esquerda atingiu as culminâncias em todo o mundo com o advento da Revolução Russa em 1917, a constituição do bloco de países socialistas no leste europeu e a luta de libertação nacional que levou à descolonização ocorrida em vários países da periferia capitalista após a 2ª Guerra Mundial, a Revolução Chinesa em 1949, a Revolução Cubana em 1959 e a Guerra do Vietnam. As vitórias alcançadas pelos movimentos de esquerda em todo o mundo criaram a sensação de que um mundo novo, socialista, mesmo com matizes diferentes em cada país, estaria em gestação. Mudar o mundo através do Estado foi o paradigma que predominou no âmbito dos partidos políticos de esquerda do século XVIII até a década de 1990 do século XX. A tese dos partidos políticos de esquerda que fundamentava essas concepções é simples: conquista-se o Estado que até então era um instrumento da burguesia e o transforma em um instrumento da classe trabalhadora através da Reforma ou da Revolução Social. A tese de considerar o Estado como centro irradiador da mudança foi um rotundo fracasso em todas as partes do mundo, tanto nos países que tentaram construir o socialismo, quanto nos países periféricos que adotaram uma postura nacionalista na promoção de seu desenvolvimento. Houve um gigantesco fracasso histórico. Ambos os enfoques, o reformista e o revolucionário fracassaram no seu projeto de mudar pacificamente ou radicalmente a sociedade. Com o fim da União Soviética e do sistema socialista na década de 1990, os grandes partidos de esquerda em todos os países do mundo abandonaram não apenas as teses revolucionárias, mas também as reformistas visando a realização das mudanças sociais. Muitos partidos de esquerda no mundo se tornaram partidos da ordem dominante. Muitos se tornaram neoliberais, inclusive no Brasil. No Brasil, o projeto de realizar mudanças sociais foi substituído por outro, pura e simplesmente, de conquista do poder para usufruir de suas benesses como ocorreu com os governos do PT de Lula e Dilma Rousseff, ambos movidos e dominados pela corrupção. Além da corrupção sistêmica que domina todas as esferas do poder no Brasil, os governos do PT deixaram uma trágica herança para o Brasil com o arruinamento 1

econômico e social e a desintegração das instituições políticas do País. O arruinamento econômico e social dos governos do PT, sobretudo, de Dilma Rousseff se traduz na estagnação da economia, no descontrole da inflação, no crescimento vertiginoso da dívida pública que poderá alcançar 80% do PIB em 2018, no desemprego em massa (10 milhões de desempregados atualmente), na falência generalizada de empresas (51,4% micro e pequenas empresas, 22,2% companhias de médio porte e 26,4% de grandes empresas atualmente), na desindustrialização, na precariedade extrema dos serviços públicos de educação e saúde, no gargalo logístico e na falência do setor público do Brasil. O próprio programa Bolsa Família, um dos troféus exibidos pelo PT de combate à desigualdade social, está ameaçado de redução dos recursos. Por sua vez, a desintegração política do Brasil resulta da desmoralização de suas instituições políticas, haja vista termos um presidencialismo de coalizão movido pela corrupção que demonstra ser incapaz de solucionar a grave crise política em que vive o País no momento, além de os principais dirigentes do Congresso Nacional e grande número de parlamentares estarem respondendo a processos de corrupção. A democracia representativa no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento. Toda esta situação é geradora da convulsão social que já domina o País e coloca em confronto as forças políticas interessadas na permanência de Dilma Rousseff na Presidência da República e do PT no poder e aquelas que lutam pela destituição dos atuais detentores do poder. O Brasil já está vivenciando a anarquia descrita por Ralf Dahrendorf em seu livro chamado A Lei e a Ordem (Editora Instituto Liberal, 1997), que escreveu em 1985 porque as demandas da grande maioria da sociedade de destituição de Dilma Rousseff e do PT do poder, de combate à corrupção e de retomada do desenvolvimento econômico e social não estão sendo atendidas. A incapacidade do governo brasileiro e das instituições políticas em geral de oferecer respostas eficazes para superação das crises econômica, política e social em que se debate a nação brasileira está contribuindo para que possa ocorrer o desrespeito às normas sociais e para o aumento da violência política no Brasil. Todos esses fatos demonstram o descrédito do PT e das forças de esquerda que lhe dão sustentação política. Confirma-se na prática a tese de Immanuel Wallerstein apresentada em sua obra Utopística ou as Decisões Históricas do Século Vinte e Um (Editora Vozes. Petrópolis, 1998) de que “o elemento principal que levou ao afastamento popular desses partidos foi a desilusão, uma sensação de que esses partidos tinham tido sua oportunidade histórica, que tinham obtido apoio com base em uma estratégia de duas etapas para transformar o mundo (tomar o poder do Estado, depois transformá-lo), e que não tinham cumprido sua promessa histórica”. Esta tese de Wallerstein se aplica inteiramente ao Brasil contemporâneo. Depois de ter fracassado na gestão do Brasil ao levá-lo à bancarrota e de não ter atendido as expectativas da grande maioria da população, o PT e seus aliados partidos de esquerda estão lutando desesperadamente pela manutenção do poder alegando que seus oponentes são golpistas quando, na realidade, quem patrocina o golpe de estado é Lula apoiado pelo PT e seus aliados partidos de esquerda com a ascensão do ex-presidente ao ministério de Dilma Rousseff que a transformaria em “rainha da Inglaterra”, isto é, todo o poder ficaria com Lula. Além do fracasso econômico, político e administrativo, os partidos de esquerda aliados do PT estão compactuando com a maior corrupção promovida no Brasil por um partido político no poder.

2

A continuidade da situação vivida atualmente pelo Brasil é, portanto, insustentável abrindo caminho para um tempo de catástrofe no País. Só há um caminho para evitar a convulsão política e social no Brasil que seria a formação de um governo provisório composto por respeitáveis figuras públicas que teria a incumbência de convocar uma nova Assembleia Constituinte para reordenar a vida nacional, buscar o consenso do País na solução da crise econômica e social, evitar a escalada da violência no Brasil e realizar novas eleições gerais no País. As alternativas de destituição de Dilma Rousseff pelo Congresso Nacional ou sua renúncia e posse do vice-presidente Michel Temer ou de cassação de Dilma Rousseff e Michel Temer por corrupção eleitoral no TSE e convocação de novas eleições presidenciais em 90 dias não seriam capazes de solucionar a crise econômica e social e evitar a escalada da violência no Brasil. *Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected]

3

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.