O que é curriculo escolar

Reflexões sobre currículo
Currículo é definido no dicionário Aurélio como "as matérias constantes de um curso". E para muitos, o currículo de uma escola refere-se apenas aos planos de ensino e os conteúdos propostos para o estudo. Mas na verdade o currículo perpassa todas as práticas educativas da escola e, portanto precisa de uma análise mais detalhada.
Na sua forma mais ampla, o currículo escolar pode ser definido como a organização do conhecimento escolar. Esse conhecimento abrange os conteúdos, as estratégias de ensino, a organização do espaço escolar, e as formas de comunicação presentes na escola, ou seja, todo o cotidiano escolar ensina valores e procedimentos que vão além dos conteúdos didáticos.
No que tange a discussão sobre currículo, é importante ressaltar que toda prática curricular é norteada pela compreensão que se tem do processo ensino-aprendizagem. Dessa forma, se entendêssemos o processo de aprendizagem a partir da concepção inatista, ou seja, acreditando que as habilidades de um indivíduo já nascem com ele, o currículo seria uma espécie de revelador de competências. E os alunos que apresentassem dificuldades em algum conteúdo, seriam apenas descartados.
Assim, se a concepção empirista norteasse nossa prática, ou seja, se acreditássemos que o indivíduo é como uma tábula rasa e todo conhecimento é fruto de experiências, teríamos um currículo rígido e inflexível. O treinamento e a repetição regeriam nossa prática curricular.
Por outro lado, partindo de uma concepção interacionista, que acredita que o conhecimento é algo inacabado, construído socialmente através das interações do homem e o meio. As práticas curriculares optariam por estratégias de ensino que valorizam a troca, a pesquisa, e as discussões.
Entendemos então, que nenhuma proposta curricular é neutra e espontânea. Sempre há uma intencionalidade atrás de qualquer prática de ensino. Além das concepções do processo ensino- aprendizagem, o currículo ao longo da história foi ganhando forma através das influências dos processos históricos, políticos e sociais. O currículo foi mudando junto com a sociedade e suas necessidades. Assim nos cabe questionar, quem define o currículo escolar? E quais interesses norteiam essa escolha?
A Revolução Industrial representa um marco na construção do currículo escolar. A partir dela que nasceu o currículo tradicional que buscava atender a demanda do mundo do trabalho na escola. Basicamente, o papel da educação passou a ser de preparar mão-de-obra para o trabalho eficiente. E para isso os métodos precisavam ser eficientes e padronizados, então controle e planejamento passaram a integrar as práticas curriculares. E os conteúdos eram considerados neutros e verdadeiros. Assim, a discussão do currículo nessa perspectiva estava voltada para as técnicas e métodos de ensino apenas.
Mas por volta dos anos 1960, os valores da sociedade começaram a mudar, a partir de diversos acontecimentos políticos, culturais, sociais e científicos. E no meio desse efervescer de ideias, o currículo tradicional começou a ser questionado.
Foi nesse cenário, a partir do trabalho de educadores como Paulo Freire, que nasceu a perspectiva curricular crítica. Percebeu-se que o currículo tradicional, reforçava as desigualdades sociais. Que existia uma relação de poder, cultura e ideologia por trás das práticas curriculares vigentes.
A partir dessa perspectiva, podemos compreender criticamente o currículo. E entender que o que ensinamos na escola, nunca é neutro, sempre está a favor de um grupo social. E normalmente a escola colabora para que status quo seja mantido.
É preciso se pensar em que sujeito se pretende formar, e para qual sociedade. O currículo representa um papel fundamental no contexto escolar desde que entendido amplamente. Ele diz respeito ao que se ensina, como se ensina, para que e para quem se ensina. Assim, ele precisa sempre ser analisado criticamente, atentando sempre para os valores e ideais que se quer construir.
O filme Escritores da Liberdade, nos mostra o trabalho de uma professora com uma turma de alunos problemáticos, socialmente excluídos e desacreditados pela escola. No filme a proposta curricular da escola que era tradicional, reforçava essa exclusão