O QUE É LINGÜÍSTICA APLICADA?

June 16, 2017 | Autor: T. Biazi | Categoria: Applied Linguistics
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Fonte: BIAZI, T. M. D.; DIAS, L. C. F. O que é lingüística aplicada. Anais do Universidade em foco: o caminho das humanidades. UNICENTRO, agosto, 2007. O QUE É LINGÜÍSTICA APLICADA?

Terezinha Marcondes Diniz BIAZI (Delet/Guarapuava) Luciana Cristina Ferreira DIAS (Delet/Guarapuava) Você já ouviu falar em Lingüística Aplicada? Sabe explicar o que é Lingüística Aplicada? Qual é o seu foco de atenção? Qual é a contribuição dos estudos da Lingüística Aplicada para a sociedade? Você encontrará as respostas a seguir. A Lingüística Aplicada (LA), no novo milênio, é uma ciência que estuda criticamente os usos da linguagem nos mais variados contextos sociais. Como devemos entender a linguagem? O que é a linguagem? A linguagem é o meio pelo qual percebemos as coisas e que nos constituímos. Nós nos constituímos por meio da linguagem porque ela está em nossa relação com o outro, está no meio social o qual pertencemos, está em nossa história individual e na história de nosso meio, está nos textos com os quais já tivemos contato e também nas leituras de mundo que já temos. Pela

linguagem é que construímos nossa realidade, que nos situamos social e historicamente. A LA entende a linguagem como essencial para mudar o modo como as pessoas vivem e compreendem a si mesmas e o mundo. A partir dessa consideração, qual é o foco de atenção da Lingüística Aplicada? O foco da LA é justamente investigar sobre a relação da linguagem e os contextos de ação humana, como a linguagem é utilizada nos mais diversos contextos sociais, por exemplo: na sala de aula, na propaganda comercial e política, no consultório médico, nos tribunais de justiça, nas lutas ecológicas, pelos adultos não alfabetizados, pelos adolescentes de risco, pelos estudantes negros, por alunos e professores em escolas carentes, por pessoas em situações de dificuldades sociais (violência doméstica contra a mulher, na construção social do preconceito contra o homoerotismo), por populações que não têm poder social (trabalhadores de fábricas, favelados, indígenas, pobres), etc. Em outras palavras, a especialidade da LA é estudar como a linguagem acontece nos mais variados contextos de situação, no mundo real, buscando evidenciar como ela nos constitui como pessoas em nosso contato com o outro, como usamos a linguagem para interagir em grupos sociais e que sentidos ela adquire nas mais diversas circunstâncias de interação. Dessa forma, a LA procura explicitar como, através de

textos orais e escritos, as pessoas produzem, reproduzem, desafiam e/ou alteram as estruturas sociais onde estão inseridas e como a linguagem contribui para que algumas pessoas exerçam domínio sobre as outras nas práticas sociais. A LA atua na conscientização das pessoas sobre o poder e o impacto da linguagem nas práticas cotidianas. Toda ciência tem a tarefa de responder às necessidades da sociedade. Então, qual é a contribuição da ciência Lingüística Aplicada para a sociedade? Afirmamos que a LA é responsiva à vida social, pois busca falar à vida contemporânea sobre o mundo como se apresenta e atender às necessidades da sociedade que se relacionam a questões de linguagem, com o objetivo de melhorar a qualidade dos seus relacionamentos sociais das pessoas para que passem a desfrutar de uma melhor qualidade de vida. Podemos dizer que a LA procura dar um retorno à sociedade de duas maneiras: A LA procura dar um retorno à sociedade quando se centra em identificar, compreender e interferir em questões de conflito comunicativo em situações concretas de interação social. Como por exemplo, como a mídia constrói um determinado entendimento da mascunilidade, fazendo circular certas verdades sobre o que é ser homem; ou como a mídia e a lei constroem o estupro, os estupradores e as vítimas de estupro, e de que forma essas verdades influenciam o modo como a sociedade vê os crimes de violência sexual; ou ainda como a violência doméstica contra a mulher, veiculada seja pela mídia, pela lei ou pela família, exerce uma forte influencia na forma como agressores e vítimas são tratados, ou por fim, como os discursos judiciais constroem e reforçam noções do senso comum sobre as formas corretas e aceitáveis de comportamento social e sexual das mulheres. A LA também busca responder às necessidades da sociedade quando auxilia um profissional, por exemplo, na preparação de um programa ou material de ensino de língua materna ou estrangeira; na resolução de problemas de bilingüismo (uso de duas línguas ao mesmo tempo); na investigação sobre o uso de estrangeirismos de origem

inglesa no português do Brasil; na tradução literária e técnica; na tradução e legendagem de filmes; no trabalho com a linguagem de sinais (Libras); na discussão sobre política e planejamento educacional; no entendimento dos processos de aquisição de língua; no desenvolvimento de programas de formação de professores; na elaboração de programas para combater o analfabetismo; nas questões relativas ao processo de ensinoaprendizagem de línguas; na elaboração de dicionários e glossários; ou ainda quando

trata de relações profissionais, buscando auxiliar no tratamento verbal na relação empregador/empregado. A Lingüística Aplicada, desde sua origem em 1966, no Brasil, passou por várias fases até atingir maturidade como ciência preocupada com questões de uso da linguagem nas práticas cotidianas. Veja, abaixo, alguns fatos marcantes da história da Lingüística Aplicada no Brasil:

TRAJETÓRIA DA LINGÜÍSTICA APLICADA NO BRASIL

Em 1966, Francisco Gomes de Matos institucionaliza a Lingüística Aplicada no país, com a implantação do Centro de Lingüística Aplicada Yázigi, em São Paulo. Em 1970, Maria Antonieta Alba Celani estabelece o primeiro Programa de Estudos PósGraduados em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) da PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no Brasil. Em 1971, o Programa de Estudos Pós-Graduados em Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas (LAEL) é reconhecido como centro de excelência pelo CNPq. Em 1973, a Lingüística Aplicada é entendida estritamente como aplicação de teorias lingüísticas para perguntas de sala da aula de língua estrangeira (inglês), o que era demonstrado nos assuntos de dissertações produzidas na época, como por exemplo, entender um ponto gramatical para conseguir ensiná-lo. Em 1981, é criado o Departamento de Lingüística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em São Paulo. Em 1984, é criado um Fórum para discussões da Lingüística Aplicada durante o Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística (ANPOLL). Em 1983, é publicada a revista semestral - Trabalhos em Lingüística Aplicada, pelo Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), na Universidade Estadual de Campinas UNICAMP. Em 1985, é publicada a revista semestral - Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada (D.E.L.T.A.), pela Pós-Graduação em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) da PUC-SP. Em 1986, é criado o segundo programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada, iniciou na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Em 1990, é fundada a Associação de Lingüística Aplicada do Brasil (ALAB) Realizouse o primeiro Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada (CBLA). A entidade hoje congrega aproximadamente mil associados em torno da pesquisa aplicada na esfera da linguagem.

Em 1990, é criado o congresso Intercâmbio de Pesquisas em Lingüística Aplicada InPLA, pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem - LAEL/PUC-SP. É o primeiro congresso que dá espaço para a apresentação de trabalhos de estudantes em pós-graduação. Na década de 1990, há a inserção da disciplina de Lingüística Aplicada em cursos universitários de formação de professores nas universidades brasileiras. Na década de 1990, a Lingüística Aplicada estabelece-se como uma área própria de conhecimento. Seu campo de estudo passa a tratar, não somente sobre questões de sala de aula de línguas, mas, principalmente, sobre a linguagem em uso em diversos contextos sociais, tais como: a linguagem utilizada no trabalho, na mídia, no ambiente familiar, por grupos marginalizados socialmente (adultos não alfabetizados, indígenas, mulheres em situação de vulnerabilidade, homens e mulheres homoeróticos, etc.). Na década de 1990, subáreas da Lingüística Aplicada estabelecem-se em estudos de programas de pós-graduação, tais como estudos de tradução e educação bilíngüe, linguagem e gênero, linguagem e novas tecnologias, discurso e identidades, educação a distância, formação do professor, e educação bi/multilingual. Em 1996, realiza-se a publicação de livros cujos títulos enfocam a área da Lingüística Aplicada como, por exemplo, A OFICINA DE LINGÜÍSTICA APLICADA, de Luis Paulo da Moita Lopes (UFRJ). Na década de 2000, ocorre o fortalecimento da Lingüística Aplicada como uma área de estudo que trata de questões de uso da linguagem na interação social e que tem a responsabilidade social de pensar em alternativas que possam melhorar a qualidade de interação entre as pessoas. Em 2006, o Departamento de Lingüística Aplicada da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), comemora seus 25 anos, com a publicação do livro LINGUÍSTICA APLICADA - SUAS FACES E INTERFACES, que traz uma amostra representativa dos múltiplos e diversificados interesses de pesquisa na área, refletindo assim uma preocupação do departamento em estudar a linguagem na vida social. Bibliografia: CAVALCANTI, M. C. Applied Linguistics - Brazilian perspectives. In S. M. GASS and S. MAKONI (orgs.) AILA REVIEW,17, (2004), 23-30. HEBERLE, V. M.; A. C. OSTERMANN e FIGUEIREDO, D. C. (orgs.) Linguagem e gênero no trabalho e em outros contextos. Florianópolis: Editora da UFSC., 2006. KLEIMAN, A.; CAVALCANTI, M. (orgs.) Lingüística aplicada - suas faces e interfaces. São Paulo: Editora Moderna, 2007. MOITA L. (orgs.) Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Editora Parábola, 2006.

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