O QUE É TEORIA E O QUE NÃO É EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

June 8, 2017 | Autor: J. Todorov | Categoria: Análise Do Comportamento, Análise Experimental Do Comportamento
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O QUE É TEORIA E O QUE NÃO É EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO.

João Claudio Todorov
Universidade de Brasília

A linguagem teórica da analise do comportamento é o cimento que une todos os tipos de atividades compreendidas sob essa rubrica, marca, ou o que seja. A análise do comportamento tem alguns pontos muito distintos de outros que prosperam na psicologia, como pesquisas de laboratório animal com análise experimental do comportamento de indivíduos (n = 1) – mas não é apenas análise experimental do comportamento de indivíduos, nem no laboratório, nem no consultório clínico. Sua marca mais distinta é sua linguagem teórica.

Experimentação com n = 1 é a grande contribuição de Skinner para a psicologia experimental dos anos 30 do século passado. Trouxe de seus estágios nos principais laboratórios de biologia de Harvard. Junto com a taxa de respostas por unidade de tempo e os esquemas de reforço intermitente, forma o trio de ouro de Skinner. Mas nem ele ficou só na análise experimental do comportamento de organismos individuais (n = 1). Skinner logo de início em Ciência e Comportamento Humano mostrou como se pode avançar analisando exemplos da vida diária à luz da teoria. E é essa teoria, que começa a ser desenvolvida em O Comportamento dos Organismos (1938) e continua sendo desenvolvida até hoje, e continuará a ser desenvolvida pelas futuras gerações, que faz a conexão entre os diferentes campos de atuação da análise do comportamento: pesquisa básica, pesquisa aplicada, atuação profissional, análise funcional, análise conceitual, etc.

Não concordo com classificações da análise do comportamento que parecem existir para justificar erros do passado. Um triângulo com teoria em uma ponta, pesquisa básica no outro, e pesquisa aplicada no terceiro, com comunicação de mão dupla em tudo, é um desses erros que parece existir para justificar decisões tomadas no passado longínquo e que nos atrapalham até hoje. Atrapalham mas parece ser tabu falar disso. Vejo um V invertido, com a teoria acima, no vértice, que se comunica em mão dupla com os dois lados, o da pesquisa e o da atuação profissional. Não há comunicação entre pesquisa e atuação profissional a não ser via vértice, a teoria. Da mesma forma a atuação profissional alimenta a pesquisa via teoria.

Vamos aos erros do meu ponto de vista.

# 1 – Ficar só no periódico Journal of the Experimental Analysis of Behavior de início (1958). Ele era necessário para fugir da ditadura estatística do Journal of Experimental Psychology – o periódico experimental de maior prestígio da época - mas se fosse mais geral seria melhor, pois seria lido por todos e provavelmente teria promovido um desenvolvimento mais harmônico da análise do comportamento. O título e as normas para publicação ajudaram a montar uma barreira para os de fora em lugar de apenas proteger os de dentro.

# 2 – Criar o Journal of Applied Behavior Analysis (1968) como uma extensão do Journal of the Experimental Analysis of Behavior, para não ter que continuar publicando provas de que o reforçador reforça. As normas para publicação continuaram praticamente as mesmas, com adendos sobre importância prática e relevância social. Mas continuamos só com análise experimental do comportamento de indivíduos (n=1).

# 3 – Achar que com isso a análise do comportamento estava logicamente dividida em dois – pesquisa básica e análise aplicada, sempre com n = 1. Essa foi uma divisão de poder entre o JEAB o JABA, os modificadores do comportamento dos anos 60. Donald Baer ditou um conjunto de regras que tornou distintos os trabalhos do JABA. Os dois grupos quase não se misturam até hoje.. Por isso não gosto das classificações da análise do comportamento existentes. Não é por ai.

# 4 – A maior parte dos escritos de Skinner a partir dos anos 60 é muito política. Só um pequeno grupo que se identifica como Behaviorists for Social Responsibility continua esse trabalho, e para publicar foi necessário criar outra revista, atualmente intitulada Behavior and Social Issues. Essas divisões do grupo nos deixam muito frágeis aos ataques que sofremos vindo de esquerda, centro, direita, etc.

# 5 - Ignorar o resto da psicologia ou fazer de conta que análise do comportamento é outra ciência. Ao fazer isso perdemos uma oportunidade única. Ninguém mais tem como campo de ação tudo o que é coberto pelas chamadas ciências do comportamento, incluindo toda a psicologia, pois para nós onde houver comportamento, estaremos lá.


Ver também:
www.academia.edu/21667378/WHY_I_AM_NOT_A_RADICAL_BEHAVIORIST


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