O que é uma imperatriz - análise de Memórias de Agripina, Pierre Grimal - CF

July 19, 2017 | Autor: Cláudio Fonseca | Categoria: Ancient History, Ancient Rome
Share Embed


Descrição do Produto

História da Antiguidade Clássica Professor Doutor Nuno Simões Rodrigues O que é uma Imperatriz. Análise de Memórias de Agripina, Pierre Grimal

“[...]«os Romanos comandam o mundo, e as suas mulheres comandam os Romanos», e eu estava decidida a fazer com que um dia, ainda durante o nosso tempo, essa frase fizesse sentido e tivesse aplicação.[...]”1, esta frase sintetiza a tese que será defendida nas páginas que se seguem. Agripina é a figura usada neste romance para representar as mulheres que quiseram sair da sombra política e influenciaram os indíviduos do sexo oposto. No romance é claramente visível o quanto a infância influência as acções na vida adulta, as locuras de Caio podemos compreendê-las se olharmos para aquilo que foi a sua infância, dando o exemplo do seu incesto com a sua irmã Drusila, Caio vivia sempre absorvido pelas histórias dos deuses e ele contava várias vezes a história de Juno e Júpiter, por isso quando Agripina escreve sobre o episódio em que a avó Antónia encontra Caio e Drusila abraçados descreve-o assim: “[...] Não havia lugar para dúvidas: Caio acabava de tratar a sua irmã como Júpiter tratara Juno. Ele tinha-se igualado ao deus![...]”2, Caio buscava nos deuses “um modo de vida a seguir”, até porque ele conhecia a sua linhagem, sabia que a sua familia era resultado de um incesto e em parte podemos dizer que se orgulhava disso: “[...], sabes quem é o verdadeiro pai da nossa mãe? Não? Pois bem, o próprio Augusto, com a sua filha Júlia.» E acrescentava, como se essa mentira lhe inspirasse prazer: « Nós somos o produto de um incesto. Temos o mal conosco. Nada o pode apagar. Somos impuros! Impuros!» E subitamente: «Só os idiotas se preocupam com isso. Pensas que isso de dormir com a filha incomoda os deuses?»[...] Por fim ele acrescentou: « E não esqueças pequena Agripina, que Júpiter tomou como esposa a sua irmã Juno...»[...]”3. Se Caio foi influenciado foi influenciado, com o que viveu na ifância, Agripina também o será devido às conversas que a sua mãe tinha com ela: “[...] A minha própria mãe sentia essa sede de poder. Tive a certeza disso no dia em que ela voltou perturbada da casa de Tibério e, incapaz de se conter, me contou a conversa que tinha tido com o príncipe. Eu não tinha mais de onze anos, mas era já perfeitamente capaz de apreender todo o seu significado.[...] Ao contar-me a cena, a minha mãe acrescentou: «Não, eu não quero reinar. Jamais o quis, mas eu também tenho o sanhue do deus Augusto. 1

Vide, GRIMAL, Pierre, Memórias de Agripina, 1ªedição, [s.l.], Lyon Edições, 2000, p.219. Idem, ibidem,p.144. 3 Idem, ibidem, p.37. 2

Ele era meu avô de sangue. Enquanto Tibério é seu filho simplesmente por adoção, e porque Lívia o quis, pois manobrou-o para o conseguir. Tu e eu temos mais direitos do que ele ao Império![...]” 4 . Agripina irá continuar a usar este argumento para fazer com que a sua família chegue ao poder, não olhando muitas das vezes aos meios, ela chega mesmo a dizer que o seu filho a pode matar desde que ele reine, aquando Agripina pede a Balbilo que faça o horóscopo do filho e le lhe faz uma profecia a dizer que o seu filho seria seguramente rei mas que iria matar a sua mãe.5 A forma como as memórias estam organizadas mostram muito o espírito de posse de Agripina, que aliás está sempre presente no livro, ela orgulha-se de conseguir fazer as coisas e de tomar parte delas, já para não falar do seu amor de ser Romana, os exemplos são vários, destaco este: “[...] Eu não desejava o poder pelos prazeres ou pelas vantagens que ele proporcionava, ou pela satisgação secreta de se sentir acima de todos. É certo que, não me seria desagradável poder pensar que as leis não eram feitas para mim, mas, antes de tudo, parecia-me justo que nós, os herdeiros do deus Augusto, nós, os sobreviventes da antiga gens Iulia, conservássemos o estatuto que nos havia consignado a divindade. Isso era importante para Roma, para a sua salvação e para todo o Império.[...]” 6. Igualmente a sua postura de escrita, ela não se repete, o que ela disse estava dito e limitava-se a escrever então: “[...] que já referi.[...]”7, podemos dizer que tinha uma personalidade forte, estava para influenciar não para ser influenciada. Agripina já na sua adolescência, mostrava que tipo de pessoa era, ao reflectir, sobre o casamento e como seria o seu marido, uma coisa ela sabia que não se queria tornar-se escrava desse seu marido.8 Gostava de sentir o seu poder sobre a situação e ter capacidade de escolha ela demonstra essa atitude quando reflete sobre o casamento a situação de vestal seduz-lhe pelo facto de ter poder de controlo sobre si, isto é, disponham livremente da sua fortuna, podiam circular sem problemas de carro nas ruas em Roma, sendo assim respeitadas pelos cidadãos, contudo esta liberdade tinha um preço a pagar: eram admnistradoras da sua casa, limpavam as divisões sendo que tinham de transportar as impurezas e depositarem-nas longe, assim como tinham de ir igualmente longe buscar água. Exposta esta situação a então sobrinha-neta do Imperador Tibério concluiu que: “[...] Era pagar bem caro a honra de ser vestal! Feitas as contas, mais valia reinar sobre uma casa privada, sobretudo quando, como na nossa, servas e servos se dedicavam a fazer as tarefas quotidianas – e as outras. [...]”9. Agripina começa a construir uma grande amizade com o seu tio Cláudio o que lhe vai permitir posteriormente um maior controlo sobre ele quando este chegar a ser imperador, fazendo com que seja mais facil Cláudio adoptar Nero e casar-se com a sua sobrinha a própria Agripina ascendendo a Augusta. Aos treze anos, Agripina, estava na idade de se casar e pensava que marido iria ter, podemos dizer que fantasiava, mas que se preocupava com a sua linhagem. Aqui mais uma vez temos as influências da sua infância para a construção do seu pensamento, queria que o seu marido fosse belo e forte, tal como vira nas estátuas, dos heróis que ela vira na sua viagem ao Oriente, mas que a linhagem fosse compatível com a dela, que ela dizia que queria preservar a todo o custo pois ela não se “[...] sentia no direito de o deixar enfranquecer e perder numa união indigna. [...]”10, o que assustava ainda mais a jovem Agripina 4

Idem, ibidem, pp. 82-83. Cf. Idem, ibidem, p.160. 6 Idem, ibidem, p.162. 7 Idem, ibidem, p. 234. 8 Cif. Idem, ibidem, p.93. 9 Idem, ibidem, p.94. 10 Idem, ibidem, p.121. 5

era o facto de ela não ter já o seu pai ao seu lado, pois caber-lhe-ia a ele escolher o marido para a sua filha, legalmente, a escolha era feita pelo chefe de família (pai), quando na sua ausência seria outro membro da família sempre do sexo masculino, no caso de Agripina seria o seu irmão Nero que teria sensivelmente vinte e três anos e este encontrava-se no Senado, pelo que seria ele a escolher o seu marido, contudo o Imperador Tibério encarregar-se-ia ele mesmo de escolher um marido para a jovem Agripina. Agripina Maior, mãe da Agripina Menor, tentava confortar a sua filha que estava ansiosa, mas continuava a incutar na jovem a sede de poder e a vontade de ver a sua família na tribuna imperial: “[...] a nossa casa vai renascer e nós reencontraremos o nosso lugar, que deve ser o primeiro.» [...]”11. Contudo se Agripina Maior estava a querer impor os seus filhos ao Imperador Tibério, do outro lado existia uma outra força estava o comandante da guarda pretoriana: Élio Sejano, que tinha também os seus interesses entre eles era eliminar os seus adversários, a família de Germânico, que tinha muita influência nas hostes legionárias, devido às campanhas de Germânico, o que vai fazer com que Caio seja aclamado facilmente devido à memória que todos tinham de Germânico, Agripina recebe como marido Gneu Domício Aenobarbo. Um homem que contrastava com a vontade que Agripina tinha de subir, Domício queria apenas ser respeitado e temido no Senado, com dinheiro que ele não gostava de gastar, sendo descritos vários episódios de avareza, não só com Agripina, como também com a entrega de prémios aos condutores de cavalos, contudo recorria a todos os meios para conseguir mais dinheiro muitas das vezes da forma menos honesta. 12 Deste casamento, Agripina ficou feliz pela “qualidade” do sangue, visto Domício ser primo direito do seu pai, posto isto Agripina não tinha espaço de manobra e ainda ficou com menos ao saber que não podia ter filhos enquanto o Imperador Tibério fosse vivo, assim a casa imperial não teria problemas com eventuais usurpadores do trono imperial, contudo Sejano continuava cada vez mais influente junto do Imperador. Assim as esperanças da família de Germânico caiam nas figuras de Nero, Nero Druso e em última intância Caio, que estava a ficar cada vez mais próximo da sua avó, visto que Agripina Maior estava “presa” na sua villa (uilla) em Herculano. Mas as intrigas de Sejano continuavam e a mãe de Agripina acaba por ser enviada para o exílio juntamente com Nero para a ilha de Pôncia, já Nero Durso acabou os seus dias na cave no Palatino.13 Tibério não demitia Sejano com medo que a Cidade caísse em guerra civil entre os apoiantes de Sejanos e os que apoiavam Nero Druso. Tibério morre e dias mais tarde Gemelo também morre, não se sabe se Caio terá ordenado a more dos dois ou apenas a do último, Gemelo era aquel que podia fazer concorrência a Caio, o seu adversário directo, com a morte do prícipe, Agripina e Domício estão livres para poderem ter o filho tão desejado desde o ínicio.14 O filho de Agripina nasce e é logo atingido por um raio de sol, Agripina interpreta tal facto como um bom presságio, lembrava-se do que tinha visto com Querémon, o rei quando nascia recebia o primeiro raio de sol, mais uma vez a infância recupera-se, Agripina quer ter certeza do presságio e por isso procura a ajuda de Balbilo perito na ciência dos astros e é aqui que Balbilo faz a sua profecia e diz que: 11

Idem, ibidem, p.122. Idem, ibidem, pp.125-127. 13 Idem, ibidem, pp. 136-137. 14 Idem, ibidem, pp. 157-158. 12

“[...] aquela criança seria seguramente rei, mas que mataria a própria mãe! [...]”ao qual Agripina responde de imediato que ele a podia matar desde que reinasse, pois esse preço a pagar não era muito elevado para que o seu filho fosse o Imperador Nero15, nome que fora escolhido por Agripina que significava: “ o Forte” tendo por base a língua sabina, Agripina desejava que Nero fosse não só belo e forte como também queria que ele fosse sábio qualidade que para ele devia de estar inerente ao Imperador.16 Contudo Domício e a sua opinião contratavam com o pensamento de Agripina, ele dissera que dele e dela apenas poderia nascer um monstro. Enquanto isto Caio estava no cortejo fúnebre de Tibério, Caio caíra na graça do Povo e todos os cidadãos o aclamavam, e então aquilo que era um cortejo fúnebre parecia-se cada vez mais com um cortejo triunfal, onde cidadãos, mais humildes ou mais abastados, o saudavam quando ele entrara na Cidade (Roma), Caio sentia-se como um deus e sendo ele um amante do espetáculo nunca perdera a sua postura.17 Domício tornava-se cada vez mais distante de Agripina, por isso ela chegou a casa e ele não estava lá, começou a pensar como se podia tornar cada vez mais influente junto do irmão, que estava a corresponder às suas expectativas, nos seus primeiros discursos, que tinham como principal objectivo ele afirmar-se como o único descendente de Augusto e de Germânico, Caio para comover e dominar o povo romano bastava-lhe segundo Agripina usar duas palavras que seriam as chaves para o sucesso: Germânico e Liberdade, pois todos estavam cientes do sucesso de Germânico na Gália e na Germânia e a palvra liberdade acimentava as ilusões de que tudo correria melhor18, não esquecer que o povo romano não pode ser governado sobre forma de monarquia embora que na prática tal acontecesse, porque bastava ter o apoio da guarda pretoriana e do Senado, que era logo feito através da carreira política daquele que seria o sucessor do Príncipe, do Imperator. Caio não tinha nenhum gosto por literartura, contudo desde a sua infância que era um orador excelente, pois ele dominava a arte da retória que lhe é “[...] tão útil como as espadas dos seus pretorianos. [...]”19, Caio sabia como lidar com as massas, prova disso é o episódio que Agripina descreve quando Caio parte para a ilha onde tinham morrido a mãe e irmão que lhes eram comum, todo o povo lhe suplicava, incluindo o Senado, que não embarcasse, visto poder pôr em risco a sua vida.20 O novo imperador tranformava a sua vida e a dos outros numa comédia, uma autêntica peça de teatro em que toda a humanidade participava, Caio fez de toda a sua família personalidades oficiais, que para agrado de Agripina a permitia estar liga à máquina do Estado, conseguindo acima começar a fazer sentir a sua influência, nem mesmo o então sempre relegado Cláudio escapou, tendo sido nomeado cônsul pelo Imperador. Apesar da sua idade, Caio, segundo Agripina comportava-se como uma criança e começavam a aparecer os seus desvaneios, pelo que Agripina ciente dos problemas a que ela poderia ter no futuro, deixa de aparecer em público, para que a sua imagem não fique ligada à do seu irmão, ficando em casa na companhia de amigos.21 A irmã do Imperador pensava em quem ela escolheria como marido, visto que o seu marido estava sempre ausente e não a apoiava nas suas ambições políticas, ela sabia que ele estava mal de saúde pelo 15

Idem, ibidem, p. 160. Idem, ibidem, pp.l 171-172. 17 Idem, ibidem, p.163. 18 Idem, ibidem, p.164. 19 Idem, ibidem, p. 164. 20 Idem, ibidem, p. 165. 21 Idem, ibidem, p. 176. 16

que ela dizia não se importar de esperar pois ela sabia que ele não duraria muito tempo e depois ela seria livre: “[...] Finalmente, eu seria livre. Poderia escolher um marido que apoiasse as minhas ambições. [...]”22. Agripina encontra em Séneca um homem que a podia ajudar sempre, porque ele não censurava as ambições da irmã do Imperador, antes dava-lhe “ferramentas”: “[...] Eu só podia reconhecer a verdade nas palavras de Séneca. Mas isso, longe de me desviar dos projectos ambiciosos, só reforçava as minhas resoluções. Eu pertencia, por todo o meu ser, à raça dos deuses. [...]” 23, Agripina cada vez mais estava a ficar perto de ter o poder e sentia-o, sabia que “[...] deveria lutar e estava resolvida a não poupar esforços, a não recusar nenhum meio para isso, a matar, se fosse necessário.[...]”24. Caio continuava com as locuras que tinha tido na infância, a mitologia egípcia estava presente, tranformando-se ele mesmo em Osíris, estes episódios podem ser analisados igualmente da seguinte maneira: o poder corroi e muda as pessoas, se as pessoas não tiverem “pulso” para aguentar a vida política caem num mundo de fantasia, buscando igualar-se aos deuses como acontece agora com Caio, que tomou a sua irmã Drusila e quando ela morrer ele vai divinalizá-la, mais tarde Caio vai declarar guerra ao próprio Oceano Atlântico, talvez possamos concordar com a opinião de Agripina não é para todos e que só alguns são dignos de o deter. Caio por exemplo vai cair num estado quase de esquizofrenia que o vai levar a que mande exilar as suas próprias irmãs, pensando que elas faziam parte de uma eventaual conspiração que existia devido às conversas de Getúlico e Lépido, cujo conteúdo não nos é revelado.25 Agripina e Livila são então enviadas para a ilha onde Agripina Maior e Nero já tinham estado. Nero o filho de Agripina fica entregue à irmã de Domício, Lépida, contudo Agripina não estava totalmente descansada, pois não sabia que tipo de educação Nero iria receber. Agripina a poder de dinheiro consegue fazer com que pescadores levem e entreguem cartas de e para Palas, que irá manter Agripina informada daquilo que se passa em Roma. Caio estava a eloquecer cada vez mais o que vai levar a que Quérea e Sabino matem o Imperador, com a sua morte, a ordem de exílio é levantada e Livila e Agripina podem voltar. O trono imperial estava vazio, o nome de Cláudio era aclamado pelos pretorianos para que este sucedesse ao seu sobrinho assasinado, Caio. Agripina sentia-se feliz, voltando o seu sentimento de pertença a uma grande família e que esta era escolhida pelos deuses.26 Agripina volta, mas, encontra-se despojada de bens que foram confiscados por Caio, Cláudio dá uma soma de dinheiro a Agripina. Séneca e Agripina discutem aquilo que tinha sido o reinado de Caio, o perigo de as nossas paixões cegarem a nossa razão e Agripina tinha de pensar assim, para não cair no mesmo estado de loucura que tinha caído o seu irmão, quando subira ao poder, o poder tinha de ser o ponto de equilíbrio, enttre o coração e a razão do prícipe: a Sabedoria! Gostaria de invocar aqui um filósofo de seu nome Cícero que disse o seguinte: “Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.”, e era isso que Agripina aprendia com Séneca, que a ajudava nesta vontade de chegar ao poder: “[...]Pouco a pouco, ele abria-me os olhos e fazia-me perceber que o grande segredo de uma monarquia, a única maneira de fazer com que esta não degenere numa tirania, é fazer com que o monarca se aproxime o mais possível da Sabedoria! Aí se encontrava o ponto de equilíbrio, no coração e na razão

22

Idem, ibidem, p. 177. Idem, ibidem, p. 179. 24 Idem, ibidem, p. 179. 25 Idem, ibidem, pp. 186-187. 26 Idem, ibidem, pp. 198-199. 23

do príncipe.[...]”27. São estes tipos de conselhos que vão levar Agripina a escolher Séneca para que este lhe ensinasse Nero, embora que ela não quisesse que “[...] fazer de Nero um académico. Mas começava a entrever que a sabedoria não passa forçosamente pelas tagarelices dos Gregos e dos seus discípulos romanos.[...]”28, Agripina percebia cada vez mais que tinha de dar ao seu filho Nero uma boa educação, para que ele conseguisse dominar as multidões, havendo sempre equilibrio. Cláudio estava agora no poder, todavia, existia agora um obstáculo que separava Agripina do seu tio: a sua esposa Valéria Messalina. Messalina era uma rapariga jovem e que já tinha dado a Cláudio uma filha, Octávia. Agripina estava então solteira, a ideia de se casar com Cláudio, mas não queria arriscar muito, pos ela própria tinha receio de Messalina, então casasse com Crispo que era o marido da sua cunhada Domícia, pareceu-lhe uma melhor aposta do que Galba, Agripina escolhera-o, não por ter caído na graça dos deuses mas porque era “[...] bastante rico e, por outro lado, era um homem inteligente, como já disse. Além disso, estava entre os amigos de Séneca[...]”29, A sobrinha do Imperador Cláudio sabia que precisava de ter muitos trunfos para conseguir os seus objectivos começando pela riqueza de Crispo, eram “[...] precisos meios consideráveis para atingir os meus objectivos. Tinha de demonstrar generosidade para assegurar apoios e, também, de mostrar uma vida faustosa, pois os Romanos têm tendência a admirar e a respeitar as personagens cuja riqueza está acima da comum.[...]” 30, Agripina começava a fazer uso do que aprendera com Séneca e da sua experiência, começava a jogar na política, outro aspecto que Agripina salientava em Crispo era que ele era “[...]uma grande figura. Tinha o prestígio que a sua eloquência lhe dava.[...]” 31, Agripina encontrava na figura de Crispo aquele que ela podia usar para subir, sim porque ela não esconde que na oportunidade que tiver de encontrar um melhor partido ela mudaria: “[...] Eu tinha intenções de me servir dela em proveito próprio.[...]se num futuro próximo encontrasse um partido melhor, ser-me-ia sempre possível separar-me de Crispo.[...]”32. Agripina estava assim a começar a reunir “armas” para toamr de assalto o coração de Cláudio e assim ser designada de Augusta, título que agora pertencia a Messalina e que provocava tanta inveja à sobrinha do Imperador, visto que embora estas duas mulheres fossem da mesma família Agripina se mostrasse como sendo ainda mais superior a Messalina, pela “qualidade” do seu sangue. Messalina também tinha um bom séquito que a ajudavam sempre que ela precisava entre eles estava um liberto chamado Narciso, prova de que ela era bastante influente foi o processo de desterro que foi levantado contra Livila e Séneca, que messalina queria na verdade que fosse o exílio, mas Cláudio que gostava muito dele acabou por lhe alterar a pena para desterro, assim não perdia o seu património, Agripina tinha-o perdido porque tinha sido exilada.33 Este jogo de influências pode parecer bastante simples, mas na verdade, não o é, tudo depende de quem é o Imperador, se é um Imperador com uma personalidade forte ou não, Cláudio aqui é simbolo daqueles que tem uma personalidade fraca existe o episódio em que Cláudio na aflição de perder o poder imperial, confia o poder ao liberto Narciso 34, coisa que já não acontece com Nero por exemplo, Agripina pensava que o conseguia influenciar, contudo, não o conseguiu influenciar, contudo no caso de Nero saliento a serva por quem ele estava apaixonado, Acte, que o podia influenciar mas ela não tinha qualquer interesse em influenciá-lo

27

Idem, ibidem, p. 210. Idem, ibidem, p.210. 29 Idem, ibidem, pp. 214-215. 30 Idem, ibidem, p.215. 31 Idem, ibidem, p.215. 32 Idem, ibidem, p.216. 33 Idem, ibidem, p.221. 34 Cif. P.263. 28

Messalina tinha tido sorte com o marido, pois não só ele se deixava influenciar como também permitia que tivesse uma outra vida que ele desconhecia, por ele ser distraído, Messalina à noite satisfazia o seu desejo carnal sobre forma de Licisca, Messalina eliminava todos aqueles que tentassem contar ao Imperador, embora poucos ousassem fazê-lo, contudo um homem tentou: “[...] Justo, o prefeito do pretório, um velho soldado que servira sob Augusto e que estava indignado com a conduta da imperatriz, tentou, por isso, contar tudo a Cláudio. Messalina teve muito medo, mas conseguiu impedir que ele tivesse acesso ao imperador e «conseguiu» a sua destituição, ao preço de algumas carícias[...]”35, tais atitudes repugnavam Agripina, temos aqui se quisermos dois “estilos” de Imperatriz (enquanto mulher do Imperador), ambas querem-no ser para satisfação pessoal e as formas para lá chegarem são semelhantes, ambas estão dispostas a matar se preciso, para ascenderem e ambas querem que os seus filhos sejam os sucessores de Cláudo, Britânico para Messalina, Nero para Agripina e isso vai ser notório quando o momento chegar, ambas querem ser vistas junto do Imperador e aclamadas de Augusta, mas as suas posturas são de todo diferentes, Messalina procura a sua própria satisfação carnal e fá-lo à vista de todos, já Agripina é sempre fiel aos seus maridos e procura alcançar e usar o poder político, tem um papel político muito mais activo que Messalina, sendo frequente ela invocar as suas origens (que eram semelhantes às de Messalina), para querer participar e engrandecer ainda mais Roma: “[...] Ora bem, a minha natureza, a minha própria natureza, não consistia em meditar em silêncio. Essa natureza implusionava-me a chegar ao topo, não pelas vantagens materiais que isso implica, mas por ele mesmo, porque eu me sentia profundamente romana e não esquecia os versos de Virgílio, que recordam aos Romanos que o seu destino é governar o mundo. Enquanto eu não estivesse em situação de contribuir directamente para isso, não poderia encontrar a serenidade. E essa tarefa, eu sentia-me capaz de cumpri-la, melhor do que ninguém, melhor, principalmente, do que o infeliz Cláudio,a quem enganavam tanto a própria mulher como os seus libertos.[...]”36. Vemos então que Agripina tem o sentido do dever de Estado, tal Messalina não possuía, talvez esteja relacionado com a diferença de dez anos que têm uma da outra. Assim sendo vemos que existe uma quantidade de variáveis que alteram o “conceito” de Imperatriz enquanto figura de influência do poder imperial. Messalina apenas o quer ser por vaidade: “[...] por que razão estamos há tanto tempo sentados com este calor, sem ver nada? [...] – Os cavalos não têm qualquer culpa. Há que dar tempo à Augusta, para que a vejam bem. O príncipe não pode negar-lhe esse gosto, [...]” 37. Messalina vai contrair mais tarde matrimónio com Sílio, está em causa o trono imperial, Sílio o que pode levar a uma revolução acabando Sílio por poder tomar o poder assim os oficiais são reunidos, mas Cláudio está em estado de choque e o seu principal medo era: “[...] Então já não sou imperador?[...]” 38, Narciso um liberto assume então o controlo da situação e dirigem-se para o local onde a boda está a ser celebrada, Messalina tenta o suicídio, mas Messalina morre às mãos do tribuno do pretório, estava assim acabada a tentativa de revolução, Messalina pensava que tinha encontrado um melhor partido, todavia, morreu, Cláudio estava assim solteiro, e Agripina não podia perder esta oportunidade para alcançar assim finalmente o estatuto de Augusta de Imperatriz. Todavia, Agripina ainda se encontrava casada com Crispo, Agripina sabia que tinha muito dinheiro, nem posses, perdeu muitos bens quando esteve exilada, pelo que se queria separar de Crispo mas convinha-lhe ficar com algum dinheiro que Crispo detinha, justificando-se que Nero estava cada vez mais perto de começar a exercer magistraturas e que precisava de “[...] oferecer Jogos, oferecer

35

Vide, p. 234 Idem, ibidem, p. 233. 37 Idem, ibidem, p. 245. 38 Idem, ibidem, p.263. 36

banquetes ao povo.[...]”39 . Crispo parece entender Agripina e ele próprio já saberia o seu fim, modo que ele não quis ser “[...] Eu sou o último obstáculo que se entrepõe entre ti e o poder. Mas não vou sê-lo por muito tempo. Se te nomeei herdeira, é porque a minha morte está próxima. Não farei nada por retardála. Antes, farei tudo para a acelerar.[...]”40, Crispo apenas pede a Agripina que faça com que Séneca volte para Roma e que Crispo seja sepultado na Via Ápia onde estará à vista de todos. Cláudio estava solteiro e os seus libertos proponham as mulheres que ele devera desposar, Palas defendia a causa de Agripina que ganhara à concorrência, Agripina tinha conseguido uma das etapas mais importantes para ela ser aquela que iria influenciar as acções do imperador tarefa essa que teria sido confiada a ela pelo Senado e pelo povo romano “[...] Eu teria de libertá-lo das preocupações domésticas. Aí acabariam os meus domínios. Por pouco não me pediam também que me dedicasse a fiar a lã! Aquela ideia provocou-me indignação [...]”41, Agripina mostrava-se então empenhada a não se submeter a niguém mas antes deter as rédeas do poder. Agripina vendo cada vez mais próxima o seu desejo final de ver o seu filho Nero no trono imperial, começa a pensar na sua educação, antes não o podera fazer pois tinha receio de Messalina. Agripina procurava agora que Nero fosse adoptado por Cláudio, começava assim o processo e mais uma vez Agripina contava com o apoio do liberto Palas, Agripina começou igualmente a preparar a educação de Nero, tirou-o da casa da tia que Agripina receava que ela o influenciasse, Agripina segue um pouco o ideal grego de: “Mente sã em Corpo são”: “[...] um imperador de Roma tinha de ser, primeiro que tudo, um orador, como os de outrora, um homem capaz de penetrar os espíritos, de fazer obedecer através do simples poder da sua palavra, de persuadir tanto os Patrícios, na cúria, como o povo no Foro, [...] Mas o imperador de Roma não devia ser apenas hábil em usar a palavra; ele era também detentor do poder militar, desse imperium que ele mais ou menos camuflava dentro da Cidade, [...] tal como Germânico e, antes dele, Tibério, fosse capaz de levar os nossos exércitos à vitória, de combater em campo de batalha e de lutar corpo a corpo com o inimigo. [...]”42, Séneca seria encarregado da parte intelectual ele que iria voltar, já Burro será aquele que irá assegurar a segurança de Nero quando ele for adoptado por Cláudio e irá também desenvolver a competência da luta. Cláudio adopta finalmente Nero e assim o filho de Agripina estava cada vez mais perto de ser imperador, todavia Agripina não se esquece da existência de Britânico que poderá ser um eventual foco de revolução. Assim Britânico é por ordem de Agripina isolado em casa pedindo aos pedagogos que “[...] se lhes perguntassem por Britânico, respondessem que estava doente, [...]” 43, Nero por seu lado era levado a ser conhecido ao povo que o aclamava: “[...] Pouco a pouco, o meu plano ia desenvolvendo. Houve Jogos no Circo e, naturalmente, Nero e Britânico participaram na procissão: Nero de toga, Britânico com a pretexta. A diferença entre ambos saltava à vista. Nero era já um homem, quase um magistrado, e o seu irmão adoptivo era ainda um menino. Esse era o contraste que eu quis evidenciar e, como eu esperava, a multidão aclamou Nero, [...]”44, se analisarmos o processo de subida ao poder de Nero e de Agripina vemos que a estratégia é toda ela muito semelhante, Agripina quando era irmã de Caio aparecia sempre na tribuna imperial, modo a ser vista, quando morreu Caio, Agripina casou-se com Crispo que tinha não só muito dinheiro, como também detinha popularidade em Roma e por isso era influente, ora Nero agora pela mão da mãe começa a conviver no meio da multidão a ser visto, o que vai permitir uma melhor aclamação pelo povo, e Agripina quando foi a altura de Cláudio escolher uma nova 39

Idem, ibidem, p.270. Idem, ibidem, p.271. 41 Idem, ibidem, pp.281-282. 42 Idem, ibidem, pp.290-291. 43 Idem, ibidem, p.309. 44 Idem, ibidem, p.307. 40

mulher depois de Messalina, passou-se o mesmo processo, o povo conhecia Agripina, aqui vemos uma igualdade de caminho para chegar ao poder, Nero como imperador, Agripina como imperatriz. “[...] Se eu queria concretizar de facto o meu projecto, não podia demorar-me. Quando voltaria a encontrar uma oportunidade tão boa? A morte do príncipe tinha de parecer natural, como resultado de uma doença ou, pelo menos, de um acidente. [...]”45, gripina iria consumar a morte de Cláudio para que assim o seu filho Nero pudesse ser Imperador. Cláudio comeu os cogumelos envenenados, Agripina contou ainda com a ajuda do médico Xenofonte. Contudo fora proclamdo que o imperador estava a dormir, e então Agripina e Xenofonte ficaram no quarto a velar por nada mais nada menos que um mero cadáver. Cláudio estava morto e assim Burro proclamou: “[...] « Soldados, eis o vosso imperador!» [...]”46, Agripina tinha conseguido alcançar o seu propósito fazer com que o seu filho fosse imperador e que assim a linhagem de Germânico assumisse o poder do Império, Agripina reflectia assim: “[...] Depois de tantos esforços e riscos voluntariamente corridos, o desfecho chegara. O meu filho filho era imperador e para mim era absolutamente evidente que tinha sido eu, a sua mãe, que tinha feito dele aquilo que ele era hoje e estava determinada a partilhar com ele aquilo que eu lhe tinha dado.[...]” 47. Nero agora era imperador e Agripina pensava que seria fácil de o influenciar tal como fizer com Cláudio, todavia, Nero mostrava-se cada vez mais distante da mãe: “[...] Era evidente que Nero escapava cada vez mais à minha influência e se entregava nas mãos de Séneca.[...]” 48, a personalidade de Nero era diferente da do seu pai adoptivo, Nero não se deixava influenciar pela mãe tendo-lhe criticado o facto de a mãe querer matar Narciso, este que nas palavras de Nero tinha o ajudado tanto. Nero conquistava cada vez mais apoios quer no Senado quer o carinho do povo. Agripina pelo contrário estava vazia, com a morte de Britânico, Agripina já não tinha mais metas de vida: “[...] Eu estava verdadeiramente só. Era-me forçoso comprovar que com o desaparecimento de Britânico tinha-se concluído um período da minha vida e que eu estava face a um grande vazio.[...]”49. Cada vez mais Agripina se lembrava das palavras de Domício. Que dele e dela só poderia nascer um monstro, Nero estava a ficar como Caio inicialmente caira na graça de todos agora começava a degenerar. Nero vai acabar por montar uma cilada à sua mãe e ela morre estava assim cumprida a profecia que Agripina tinha ouvido, quando o seu filho iria reinar, mas, que ela seria morta por ele. Em suma o que se retem é que uma imperatriz tem um processo de afirmação muito semelhante ao do imperador, dá-se a conhecer sobe vários degraus antes de poder ser aclamda de Augusta, quando aclamda pode ter duas posturas, a de aproveitar a sua posição hierárquica e fazer-se respeitar conseguindo influenciar o imperador para que este faça o que lhe é pedido, ou então abster-se de participar na vida política e entregar-se aos prazeres e previlégios que lhe são inerentes, ser como Agripina ou ser como Messalina, uma imperatriz não olhará a meios para alcançar o que deseja e acima de tudo jamais se tornará numa escrava. Para concluir volto a citar Cícero: “Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.”

45

Idem, ibidem, p.327. Idem, ibidem, p.332. 47 Idem, ibidem, p.333. 48 Idem, ibidem, p.355. 49 Idem, ibidem, p.367. 46

Cláudio Fonseca Nº50350

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.