O Que Podemos Aprender Com Eles

June 1, 2017 | Autor: Fernando Chiavassa | Categoria: Literatura brasileira, Literatura, Literatura Norte-Americana
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O Que Podemos Aprender Com Eles Reportagem: Fernando Chiavassa

O bate papo proporcionado pelo escritor Roberto Taddei, do Instituto Vera Cruz e pelos acadêmicos e escritores americanos William Wadsworth e Alicia Meier ambos da Columbia University School of the Arts, em 28/06/2016, no Instituto Vera Cruz, foi muito interessante. Através de um encontro regado por incessantes perguntas e respostas de um público bastante heterogêneo, formado por alunos, professores e curiosos, deu perceber como eles fazem nos Estados Unidos, como tudo acontece por lá, tão diferentemente do que vai por aqui no Brasil. Começa pela tradição do ensino de escrita criativa que recua para lá – no século passado – , onde seu começo paira na casa dos anos 1920, 30, 40. E as escolas de escrita criativa tanto para ficção, quanto para não ficção (categorias ou gêneros que sempre andam juntas lá e nunca em separado como aqui), nasceram dentro de um meio artístico completo com escolas de teatro e dramaturgia, cinema, música e artes plásticas. Assim, a ideia – ou a necessidade – da fundação destas escolas surge para congregar artistas, (seja lá como se entende isso, como uma comunidade, ou trupe de doidos malucos (marginais)) que sentem que “receberam um chamado” e que se reúnem para trocar ideias e difundir sua maneira de ver a vida. Ao mesmo tempo, vejam bem – ou depois –, pensam em como ganhar dinheiro com isso. Embora vejamos a produção artística norte americana com olhares enviesados – criticando sua aproximação exagerada com o comércio de entretenimento – eles veneram a excelência artística e aceitam partir de encontro à convergência de interesses que possibilita um certo equilíbrio entre a arte pela arte e a arte para consumo. Eles verdadeiramente afastam um trabalho puramente comercial. É muito comum você encontrar trabalhos medíocres seja em Hollywood, seja na Broadway, seja no mercado literário; faz parte. Mas a questão é que tem muita coisa boa. Muita. Eles consideram com muito afinco a noção de artistas que verdadeiramente “receberam o chamado”, e que partem em busca de algo sagrado que poucos sabem o que é e pouco se pode explicar. Tendo essa comunhão com sua arte, o escritor acaba se comprometendo cada vez mais, frequentando comunidades de escrita, sejam escolas ou grupos, não importa, dedicando-se cada vez mais para aperfeiçoar seu trabalho textual. Essa dedicação pode ser caracterizada como um profundo comprometimento que o leva a ler muito, aproximar-se de múltiplas artes e formas de expressão, discutindo e se expondo, aprendendo como outros fazem e depois, escrevendo muito mais ainda. Chega ao “cúmulo” de ser ler um livro por semana, no mínimo. Na sequência, para os escritores novos – nos Eua –, há muito apoio do mercado (que tem fome de novos escritores), diferentemente do que acontece por aqui. Os novos se aproveitam, também, do grande mercado de revistas e jornais e publicam longas séries de narrativas curtas de modo que possam ser descobertos, não somente no mundo eletrônico. Depois, há as escolas de criação artística que em conjunto com as outras, desempenham forte papel de servir como trampolim não só para escritores, como para artistas em geral – músicos, dramaturgos, cineastas (como fosse uma Usp artista (Eca?)), onde todos se apresentam em wokshops, saraus e múltiplas apresentações de vários gêneros, para diversos tipos de público. Este movimento está sendo o tempo todo acompanhado pela mídia, já que parte dela está lá, nos cursos de não ficção. A não ficção de qualidade literária, que engendra quase todo o mundo jornalístico, além do acadêmico da história (entrevistas, reportagens, biografias, etc.), forma uma comunidade gigantesca que publica muito e vende uma enormidade (mais que ficção). É possível ter como vitrine desta produção, além de livros de alta qualidade como aqueles 1

produzidos por Gay Talese, Truman Capote, Susan Sontag, até Oliver Sacks, revistas literárias como a Paris Review, New Yorker e inúmeras outras mais. Esta comunidade que se expressa diariamente seja em jornais, revistas ou televisão, forma um esteio que a comunidade de ficção não tem. Esta é a razão primordial que reúne escritores em torno das universidades e faculdades que divulgam e ensinam escrita criativa. O escritor genuíno – aquele que atende ao chamado –, está sempre muito sozinho e depende de uma comunidade mais do que nunca para amadurecer seus trabalhos, discutir suas ideias e conviver um pouco socialmente enquanto não mergulha de novo numa viagem ficcional para destrinchar um novo trabalho. Então, embora saibamos que esse é o mundo americano, podemos aprender muito – muito – com eles, pois vivemos muito sozinhos também e não temos apoio de nada, nem de escolas, nem de comunidades midiáticas. Chama bastante atenção, também, o fato de que tradução é uma atividade considerada como pertencente aos núcleos de ficção, já que a atividade de tradução é considerada como criativa. Segundo os seus pontos de vista, que não há como verter uma obra sem que tenhamos impresso nossa própria maneira de sentir o trabalho artístico. Cada um que lê, traduz de maneira própria. Então todo o trabalho de tradução é entendido como de criação literária. Enfim, de acordo com sua última resposta (mais ou menos assim: o que fazer num país, onde não há público leitor, onde não se tem apoio nem do mercado, nem do governo) o americano William Wadsworth, garante que não é vergonha nenhuma ter dois ou três empregos e se desgastar em atividades não artísticas, no mercado. Vergonha, vergonha mesmo é parar de escrever. Por que é um chamado. Sagrado.

Participaram da palestra os seguintes escritores e professores: William Wadsworth é diretor do programa de escrita da Columbia University School of the Arts. É autor de The physicist on a cold night explains, publicado pela Vaso Rota Press em 2010. Seus poemas foram publicados em revistas como The New Republic, The Paris Review, The Yale Review, Tin House e Boston Review, dentre outras, e em antologias como The best American erotic poems e Library of America anthology of American religious poems. É ex-diretor executivo da Academia Americana de Poetas. Alicia Meier é mestra em Escrita Criativa de Não Ficção e Tradução Literária pela Columbia University (2015), coordenadora do programa Word for Word, de Columbia, em que também atua como gerente de comunicações e projetos especiais. Trabalha na finalização de um longo ensaio sobre o impacto das Olimpíadas de 1992 no cenário urbano de Barcelona e na tradução do catalão do livro El cel segons Google, de Marta Carnicero Hernanz. Roberto Taddei é coordenador do curso de pós-graduação Formação de Escritores do Instituto Vera Cruz e mestre em Escrita Criativa de Ficção pela Columbia University (2010). É autor dos romances Existe e está aqui e então acaba (Dobra, 2014) e Terminália (Rocco, 2013)

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