O Rebanho Bovino Brasileiro em 2014
Osler Desouzart
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O presente artigo tem por objetivo central divulgar dados disponibilizados pelo IBGE sobre o rebanho bovino brasileiro em 2014, a partir de dados da Pesquisa da Pecuária Municipal daquele ano. Estou seguro que os pesquisadores, acadêmicos e estudiosos do setor, os dados aqui apresentados serão seguramente conhecidos, mas acredito que divulgar tais dados pode ser útil para os demais atores da cadeia bovina, onde há uma noção geral de grandeza dos rebanhos e sua localização, mas sem uma universalidade de dados precisos e atualizados.
Vamos começar mostrando a evolução do rebanho bovino, que no período enfocado de 1974 a 2014 cresceu 129,6%, enquanto a população brasileira nesse mesmo interregno cresceu 91,8%, confirmando a noção generalizada de que para cada brasileiro há um boi. Aliás, a afirmação mais correta seria que para cada brasileiro há 1,047 cabeça de boi.
Gráfico I
Esse crescimento acumulado de 129,6% não foi linear, como podemos apreciar na Tabela I. Apesar disso, firma-se o Brasil como um dos três maiores produtores mundiais de gado bovino, disputando a liderança com a Índia e com um rebanho que é o dobro do terceiro lugar ocupado pela China. Mesmo conhecendo vales e cimos cíclicos, é nítido que o rebanho bovino brasileiro seguirá crescendo e o futuro do país como potência em carne bovina advirá principalmente de um maior desfrute e produtividade desse rebanho, fatores que têm se acentuado na última década e que se acentuarão na próxima. Mas isso é tema para um outro artigo futuro.
Tabela I - Crescimento do Rebanho Bovino Brasileiro – Δ % sobre o ano anterior -
Além do crescimento, o rebanho brasileiro mudou de lugar (cfr. Gráfico II). No início desse período observado as Regiões Sudeste e Sul concentravam 55,3% do rebanho brasileiro, percentual esse que se reduz a 31,1% em 2014. Em contraposição, a Região Centro-Oeste que já em 1974 mostrava sua força ao concentrar 24,7% do rebanho aumentou sua participação para 33,5% em 2014. O crescimento da Região Norte foi ainda mais espetacular, migrando dos meros 2,4% de presença do rebanho para se tornar em 2014 a segunda maior região com 21,6% do rebanho nacional.
A Região Norte em 1974 registrava 2,21 milhões de cabeças, número que evolui para 45,8 milhões de cabeças, um crescimento de 1972,9%. A prevalência do modelo de criação extensiva está na raiz desse crescimento regional. Entretanto, o processo de valorização das terras agriculturáveis será permanente e se a bovinocultura de menos de uma cabeça por hectare alcançando 16 arrobas em quatro anos necessita de mais terras para seguir viável, essas se esgotam e as novas fronteiras agrícolas são invadidas pelas culturas de grãos e cana.
A perpetuação inviável de um modelo de baixa produtividade vem dando lugar a projetos com suporte científico de universidades e de empresas de nutrição animal. Vários pecuaristas da Região Norte já estão adotando o aperfeiçoamento dos sistemas de produção e logrando uma média de 4/cabeças/ha, com picos de 6,1 /cabeças/ha, ganhos de peso diário de 1,68 kg e animais prontos para abate em 18 a 24 meses.
Esses resultados não estão sendo obtidos em criações-laboratório de universidades ou de empresas de nutrição animal ou de suplementos. São resultados reais de propriedades da Região Norte e essa melhora de performance com tecnologia se traduz em até quintuplicar o ganho anual por hectare da propriedade. São esses os produtores que sobreviverão nesses tempos de darwinismo econômico.
Gráfico II
Posicionados com a série histórica vamos avaliar os últimos dados do IBGE, relativos ao ano de 2014. Inicialmente posicionamos os dados gerais das Regiões do Brasil.
Tabela II - Efetivo dos rebanhos bovinos em 31.12.2014
A Tabela III apresenta o rebanho bovino de cada estado da federação em 2014. É interessante notar que os dez primeiros estados (MT, MG, GO, MS, PA, RS, RO, BA, SP E PR) concentram 80,8% do rebanho nacional e que se a estes acrescentarmos os três próximos estados (TO, MA e SC) o nível de concentração seria de 90,3%.
Tabela III - Efetivo de bovinos em 31.12.2014 – Por Unidade Federativa
Os níveis dos rebanhos dos principais estados brasileiros assumem uma dimensão global que assinalo pedindo indulgência para que não me confundam com as jactâncias ufanistas de apedeutas cuja nescidade só é superada pela megalomania messiânica e desbriada. Ao promover a comparação com os rebanhos de outros países (cfr. Gráfico III), almejo simplesmente dar a dimensão da bovinocultura brasileira e de seus principais centros produtores. Em 2014, a FAO registrou rebanhos bovinos em 207 países, sendo que os dezesseis principais podem ser apreciados no Gráfico III. O rebanho mato-grossense situaria o estado em 11º lugar a nível mundial e Minas Gerais ocuparia o 13º lugar. Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará têm rebanhos só superados por treze países no mundo
Gráfico III - Rebanhos Bovinos – 16 Principais Países
Darei aqui o contraponto para mostrar o quanto ainda tem por fazer na bovinocultura brasileira. Apesar de termos o maior ou segundo maior rebanho mundial nossa produção de carne bovina não alcança as 11 milhões de toneladas produzidas pelos Estados Unidos em 2014 com um rebanho de 88,5 milhões de cabeças, ou seja, 41,6% do rebanho brasileiro. A má notícia é que há tanto por fazer e a excelente notícia é que há tanto por fazer, por melhorar, por aprimorar e por crescer.
Dimensionados os rebanhos estaduais, quantificaremos os 50 maiores municípios em tamanho de seus rebanhos bovinos. Vale aqui registrar que em 2014, o IBGE informava ao TCU a população de 5.570 municípios no Brasil e em 99,21%, ou seja, em 5.526 deles havia plantel bovino. Essa lista vai do município de São Felix do Xingu, PA, onde para cada um de seus 111.633 habitantes há 19,83 cabeças de gado, até Barra de São Miguel, AL, onde há um total de 9 cabeças de gado para seus 8.191 habitantes.
Tabela IV – Rebanho Bovino em 2014 – 1º ao 25º maiores rebanhos
Tabela V - – Rebanho Bovino em 2014 – 26º ao 50º maiores rebanhos
Há ainda verdadeiras joias de dados na Pesquisa Pecuária Municipal anual do IBGE, de grande utilidade para o planejamento das empresas cujo negócio principal inclua o fornecimento de insumos, produtos e serviços aos produtores de gado bovino.
Há uma classificação por Unidades da Federação, Mesorregiões, Microrregiões e Municípios que encontrei de particular utilidade. A vontade que tive foi de listar todas, mas nem os editores e muito menos os leitores aguentariam 6.442 linhas de tabelas.
Para que o leitor possa ter uma ideia dessa seção de dados utilizarei um estado com exemplo da divisão em mesorregiões, microrregiões e estas com os municípios que integram cada uma.
Naturalmente ao pensar em estado de imediato veio-me à mente o mais lindo e importante estado do Brasil e do mundo, o amado Rio Grande do Sul. Entretanto, recordei-me que depois de nossa vitória na Guerra dos Farrapos, quando anexamos o Brasil ao Rio Grande do Sul, havia os próceres da pátria gaúcha decidido tratar os vencidos com magnanimidade, dando-lhes inclusive os mesmos direitos dos gaúchos. Espelhado nesses exemplos resolvi usar outro estado como exemplo, o Mato Grosso, que aliás está coalhado de gaúchos, aliás como a maioria dos lugares que lideram o progresso do mundo: Estados Unidos, Alemanha, Japão, China, etc. Há aliás quem diga que a União Europeia foi inspirada nos CTGs, centros que unem os gaúchos que partilham de ideais comuns tais como manter nossas tradições, difundir a cultura gaúcha, espalhar nossos valores de grandeza e modéstia, conquistar o mundo, etc
Pués buenas viventes, volvemos a lida principal. Vejam a partir do exemplo do estado do Mato Grosso essa utilíssima seção que permite o conhecimento num nível de detalhes e precisão muito úteis para aqueles que orientam suas ações por um planejamento prévio baseado em fatos e dados.
Figura I
Mesmo detalhar os dados do estado do Mato Grosso poderia cansar editor e leitores. Por isso, limitaremos o exemplo à principal Mesorregião do estado, Norte Mato-grossense, que concentra 44,41% do rebanho estadual, e às três principais Microrregiões, Aripuanã, Alta Floresta e Colider, com os municípios que as integram e o plantel bovino de cada um deles.
Tabela VI
Conforme mencionado em parágrafo anterior deste artigo, há dados sobre o rebanho bovino de 6.442 locais. Recorra às páginas do IBGE e da Pesquisa Pecuária Municipal 2014 para obter os dados que lhe possam particularmente interessar. Mas não hesitem em nos contatar para obtê-los. Será um prazer fornecê-los.
Acho que todos nós temos razões para estarmos orgulhosos da pecuária bovina nacional pela dimensão que alcançou. Mas abandonem o ufanismo e lembrem-se que há um país, os Estados Unidos, que com um rebanho menos da metade do nosso produz mais carne bovina que o Brasil. Vamos olhar e estudar esse benchmark, mas sobretudo acompanhar os exemplos que pululam já dentro de nossas fronteiras, onde produtores de gado, aliados a acadêmicos, técnicos e tecnólogos de empresas da cadeia vêm obtendo resultados comparáveis ao benchmark do mundo.
Temos que nos abrir para a ciência e a tecnologia. Não se constrói o futuro repetindo o passado, mas sim com a consciência no presente que há muito por fazer e que podemos fazê-lo.
OD Consultoria Planejamento e Estratégia de Mercados Ltda.
Calçada dos Cravos, 108 – 2º - Centro Comercial Alphaville
06453-053 Barueri, SP, Brasil
Todos os gráficos e tabelas deste artigo foram elaborados pela ODConsulting com base em dados do IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal.
Segundo o USDA, o rebanho indiano em 2014 alcançava 300,6 milhões de cabeças. A FAO registrava o número de 187,0 milhões de cabeça e mais 44,9 milhões de cabeças de vacas leiteiras. Ignoro a base do USDA para alcançar esse dimensionamento do rebanho indiano.
USDA dimensiona o rebanho chinês em 2014 de 103,0 milhões de cabeças e a FAO em 117,3 milhões de cabeças
Elaborado por ODConsulting a partir de dados da FAOSTAT, http://faostat3.fao.org/, C:\Users\Osler\Dropbox\A Documents\A Documents\Dados\aPaises\Brasil\IBGE\2014\Rebanho Grande Porte, 2014, Brasil, UF, Municípios e Regiões + Leite.xlsx
