O relógio do automobilismo: Bruce McLaren e a medida do tempo

June 9, 2017 | Autor: R. Venancio | Categoria: Sport Psychology, Sports History, Sport, Sports, Motorsports
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Rafael Duarte Oliveira Venancio Doutor em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e Professor da Graduação em Jornalismo e da Pós-Graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

O relógio do automobilismo: Bruce McLaren e a medida do tempo Tal como o ponteiro de um relógio, o trabalho do automobilista é correr em círculos. No entanto, se engana aquele que acha que o adepto do esporte a motor age tal como as engrenagens que medem o tempo. Se no primeiro, sua medida é o tempo ganho, vivido, contabilizado, no segundo, a lógica é oposta. Há quem diga que o automobilismo é, em si, a arte de correr “contra o relógio”. Bruce McLaren concordaria em parte com essa definição, mas ele preferia outra de sua autoria. Ele escreveu em Fromt he Cockpit, de 1964, acerca da morte de seu amigo, o piloto Timmy Mayer, que “as notícias de que ele havia morrido instantaneamente foi um choque terrível para todos nós, mas quem pode dizer que ele não viu mais, fez mais e aprendeu mais em seus poucos anos que a maioria das pessoas o faz em uma vida? Para fazer algo bem é algo que tão valioso que morrer tentando fazer melhor não pode ser considerado tolo. Seria um desperdício de vida não fazer nada com a sua habilidade porque eu acredito que a vida é medida em conquistas, não em anos apenas ”. Quem é esse que, com 27 anos, escreve tais linhas sobre a medida do tempo? Ora, para os amantes do automobilismo, o nome McLaren não é estranho, pois nomeia carros vencedores. No entanto, não foi como desenvolvedor de carros que Bruce McLaren entrou na Fórmula

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1, mas sim como piloto, indicado por Jack Brabham e pelo órgão neozelandês de automobilismo, da britânica Cooper-Climax aos 21 anos de idade. Ele ganha sua primeira corrida de F1, sendo o mais jovem no seu tempo a fazê-lo, em sua segunda temporada no GP dos EUA de 1960 com a Cooper. Seria apenas em 1963 que a McLaren seria fundada e em 1966 apenas que correria na Fórmula 1 com sua tradicional cor laranja. Inclusive, entre 1963 e 1965, Bruce continuaria na Cooper. Além disso, ironicamente, na Fórmula 1, Bruce McLaren foi mais vitorioso correndo pela Cooper-Climax, com 3 vitórias, 20 pódios e o vice-campeonato de 1960, do que pela sua própria companhia, com 1 vitória, 7 pódios e o 3º lugar de 1969. Em 1968, Bruce McLaren inova na aerodinâmica dos carros da Fórmula 1 com o McLaren M7A. O carro mais lembrado desse tipo, o de número 1, não era dirigido por Bruce no campeonato de 1968, quando ele consegue sua única vitória em sua equipe, mas sim pelo também neozelandês DennyHulme, campeão mundial pela Brabham em 1967, que tanto levou o número 1 para a equipe laranja como foi crucial para o vice-campeonato de construtores da equipe naquele ano. As maiores vitórias da McLaren com Bruce no volante foram aquelas na Can-Am. Após o terceiro lugar no campeonato de 1966, a McLaren domina a categoria, ponto mais alto de desenvolvimento de carros de corrida de sua época, entre 1967 e 1971 com dois campeonatos de Bruce (1967 e 1969), dois de Hulme (1968 e 1970) e um de Peter Revson (1971). O campeonato de 1971 foi a primeira conquista da McLaren sem Bruce. Ele desencarnou após um acidente testando o McLaren M8D em 1970. Ele tinha 32 anos e testava para melhorar a aerodinâmica do carro. Com isso, aquilo que ele escrevera 5 anos antes para seu amigo Timmy serviu como um “epitáfio” para ele próprio, mas também uma nova visão de tempo para os apaixonados pela velocidade. Conquistas e não anos, minutos, segundos: essa é a medida do tempo do automobilismo. E, assim, Bruce McLaren desafia aerodinamicamente a filosofia do tempo.

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