O retrato de um diplomata enquanto jovem: pensamento e ação de Jorge Latour, o criador do Instituto Rio Branco

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R IHGB a. 176 n. 468 jul./set. 2015

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO DIRETORIA – (2015-2016) Presidente: 1º Vice-Presidente: 2º Vice-Presidente: 3º Vice-Presidente: 1º Secretário: 2º Secretário: Tesoureiro: Orador:

Arno Wehling Victorino Chermont de Miranda Affonso Arinos de Melo Franco José Arthur Rios Cybelle Moreira de Ipanema Maria de Lourdes Viana Lyra Fernando Tasso Fragoso Pires Alberto da Costa e Silva

CONSELHO FISCAL Membros

Efetivos: Antonio Gomes da Costa, Jonas de Morais Correia Neto, Marilda Correia Ciribelli. Marcos Guimarães Sanches, Pedro Carlos da Silva Telles, Roberto Cavalcanti de Albuquerque

Membros Suplentes:

CONSELHO CONSULTIVO Membros nomeados:

DIRETORIAS ADJUNTAS

Antonio Gomes da Costa, Carlos Wehrs, Célio Borja, Evaristo de Moraes Filho, Helio Leoncio Martins, João Hermes Pereira de Araújo, José Pedro Pinto Esposel, Luiz de Castro Souza, Miridan Britto Falci e Vasco Mariz

Arquivo: Biblioteca: Cursos: Iconografia: Informática e Dissem. da Informação: Museu: Patrimônio: Projetos Especiais: Relações Externas: Relações Institucionais: Coordenador da CEPHAS: Editor do Noticiário: ADMISSÃO DE SÓCIOS: Alberto da Costa e Silva Alberto Venancio Filho Carlos Wehrs Fernando Tasso Fragoso Pires José Arthur Rios GEOGRAFIA: Armando Senna Bittencourt Jonas de Morais Correia Neto Miridan Britto Falci Vera Lúcia Cabana de Andrade

Jaime Antunes da Silva Claudio Aguiar Antonio Celso Alves Pereira D. João de Orleans e Bragança e Pedro K. Vasquez (subdiretor) Esther Caldas Bertoletti Carlos Eduardo de Almeida Barata (pro tempore) Guilherme de Andrea Frota Mary del Priore Maria da Conceição Beltrão João Mauricio de A. Pinho Maria de Lourdes Viana Lyra e Lucia Maria Paschoal Guimarães (subcoord.) Victorino Chermont de Miranda

COMISSÕES PERMANENTES CIÊNCIAS SOCIAIS: Antônio Celso Alves Pereira Cândido Mendes de Almeida Helio Jaguaribe de Matos José Murilo de Carvalho Maria da Conceição de M. Coutinho Beltrão HISTÓRIA: Eduardo Silva Guilherme de Andrea Frota Lucia Maria Paschoal Guimarães Marcos Guimarães Sanches Maria de Lourdes Vianna Lyra

ESTATUTO: Affonso Arinos de Mello Franco Alberto Venancio Filho Célio Borja João Maurício A. Pinho Victorino Chermont de Miranda PATRIMÔNIO: Afonso Celso Villela de Carvalho Antonio Izaías da Costa Abreu Claudio Moreira Bento Fernando Tasso Fragoso Pires Roberto Cavalcanti de Albuquerque

REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO Hoc facit, ut longos durent bene gesta per annos. Et possint sera posteritate frui.

R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 176, n. 468, pp. 11-294, jul./set. 2015.

Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ano 176, n. 468, 2015 Indexada por/Indexed by Ulrich’s International Periodicals Directory – Handbook of Latin American Studies (HLAS) – Sumários Correntes Brasileiros

Correspondência: Rev. IHGB – Av. Augusto Severo, 8-10º andar – Glória – CEP: 20021-040 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Fone/fax. (21) 2509-5107 / 2252-4430 / 2224-7338 e-mail: [email protected]

home page: www.ihgb.org.br

© Copright by IHGB Tiragem: 700 exemplares Impresso no Brasil – Printed in Brazil Revisora: Denise Scorfano Moura Secretária da Revista: Tupiara Machareth

Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. - Tomo 1, n. 1 (1839) - . Rio de Janeiro: o Instituto, 1839v. : il. ; 23 cm Trimestral ISSN 0101-4366 Ind.: T. 1 (1839) – n. 399 (1998) em ano 159, n. 400. – Ind.: n. 401 (1998) – 449 (2010) em n. 450 (2011) N. 408: Anais do Simpósio Momentos Fundadores da Formação Nacional. – N. 427: Inventário analítico da documentação colonial portuguesa na África, Ásia e Oceania integrante do acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro / coord. Regina Maria Martins Pereira Wanderley – N. 432: Colóquio Luso-Brasileiro de História. O Rio de Janeiro Colonial. 22 a 26 de maio de 2006. – N. 436: Curso - 1808 - Transformação do Brasil: de Colônia a Reino e Império. 1. Brasil – História. 2. História. 3. Geografia. I. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Ficha catalográfica preparada pela bibliotecária Celia da Costa

CONSELHO EDITORIAL Antonio Manuel Dias Farinha – U L – Lisboa – Portugal Carlos Wehrs – IHGB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Eduardo Silva – FCRB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil João Hermes Pereira de Araújo – Ministério das Relações Exteriores e IHGB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil José Murilo de Carvalho – UFRJ – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Vasco Mariz – Ministério das Relações Exteriores, CNC e IHGB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil

COMISSÃO DA REVISTA: EDITORES Eduardo Silva – FCRB – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Esther Bertoletti – MinC – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Lucia Maria Paschoal Guimarães – UERJ – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Maria de Lourdes Viana Lyra – UFRJ – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Mary Del Priore – UNIVERSO – Niterói – RJ– Brasil

CONSELHO CONSULTIVO Amado Cervo – UnB – Brasília – DF – Brasil Aniello Angelo Avella – Universidade de Roma Tor Vergata – Roma – Itália Antonio Manuel Botelho Hespanha – UNL – Lisboa – Portugal Edivaldo Machado Boaventura – UFBA e UNIFACS – Salvador – BA Fernando Camargo – UFPEL – Pelotas – RS – Brasil Geraldo Mártires Coelho – UFPA – Belém – PA José Octavio Arruda Mello – UFPB – João Pessoa – PB José Marques – UP – Porto – Portugal Junia Ferreira Furtado – UFMG – Belo Horizonte – MG – Brasil Leslie Bethell – Universidade Oxford – Oxford – Inglaterra Márcia Elisa de Campos Graf – UFPR– Curitiba – PR Marcus Joaquim Maciel de Carvalho – UFPE – Recife – PE Maria Beatriz Nizza da Silva – USP – São Paulo – SP Maria Luiza Marcilio – USP – São Paulo – SP Nestor Goulart Reis Filho – USP – São Paulo – SP – Brasil Renato Pinto Venâncio – UFOP – Ouro Preto – MG – Brasil Stuart Schwartz – Universidade de Yale – Connecticut / EUA Victor Tau Anzoategui – UBA e CONICET – Buenos Aires – Argentina

SUMÁRIO SUMMARY Carta ao Leitor

Lucia Maria Paschoal Guimarães

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I – ARTIGOS E ENSAIOS ARTICLES AND ESSAYS “Homens que concorrem ao seu negócio”: 13 a comunidade mercantil da Colônia do Sacramento (1737-1777) “Men who concur to their business”: the mercantile community of Colônia do Sacramento (1737-1777) Fábio Kühn

Aproximações com os vassalos da América: 39 a concessão de sesmarias no governo de d. João Liaise with the vassals of america: land distribuition during the government of prince regent dom joão Marieta Pinheiro de Carvalho

Os primeiros japoneses que desembarcaram no Brasil The first japanese nationals to arrive in Brazilian territory

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Norio Kinshichi

As letras da civilização: língua, literatura, 77 cor local e periodização no Romantismo Nacionalista Words of civilization: language, literature and characterization of time and space in Nationalistic Romanticism Rodrigo Machado da Silva

Rafael Bordalo Pinheiro e a Monarquia Bragantina Rafael Bordalo Pinheiro and the Bragantina Monarchy

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Ana Nemi

O retrato de um diplomata enquanto jovem: pensamento 133 e ação de Jorge Latour, o criador do Instituto Rio Branco Portrait of a diplomat as a young man: thought and action of Jorge Latour, the creator of the Instituto Rio Branco Rogério de Souza Farias

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O RETRATO DE UM DIPLOMATA ENQUANTO JOVEM: PENSAMENTO E AÇÃO DE JORGE LATOUR, O CRIADOR DO INSTITUTO RIO BRANCO PORTRAIT OF A DIPLOMAT AS A YOUNG MAN: THOUGHT AND ACTION OF JORGE LATOUR, THE CREATOR OF THE INSTITUTO RIO BRANCO Rogério de Souza Farias1 Resumo O Instituto Rio Branco, criado em 1944, foi fundamental no processo de modernização do recrutamento dos diplomatas brasileiros. A personalidade central nesse processo foi o diplomata Jorge Latour. O objetivo deste artigo é examinar como ele estava inserido nos debates da década de 1920 sobre a modernização do país e como essas ideias influenciaram sua ação profissional nas duas décadas subsequentes, em especial a criação da referida instituição. Palavras-chave: Instituto Rio Branco, diplomacia, política externa brasileira.

Abstract: The Instituto Rio Branco was created in 1944 and had a fundamental role in the modernization of the recruitment process of Brazilian diplomats. The main agent in this process was the diplomat Jorge Latour. This article examines his participation in the debates of the 1920’s on the Brazilian Modernist period and the influence of these ideas in his professional activities in the two consecutive decades. Keywords: Instituto Rio Branco, diplomacy and Brazilian foreign policy.

Em abril de 2015, o Brasil celebrou 70 anos de existência de sua academia diplomática: o Instituto Rio Branco. O momento é oportuno para revisitar o processo pelo qual se buscou elevar a profissionalização de parte do serviço público brasileiro. Muitas contribuições já examinaram sua fundação e funcionamento.2 O objetivo deste artigo não é repetir essa análise, mas apresentar o personagem central de sua criação, o diplomata Jorge Latour. Seu nome é sempre citado nas efemérides do Instituto, 1 – Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Associado do Center for Latin American Studies da Universidade de Chicago e visiting scholar do Lemann Institute for Brazilian Studies. E-mail: [email protected]. 2 – Sérgio F. G. BATH, Instituto Rio Branco: um sexagenário sempre jovem; André AMADO, Por dentro do Itamaraty; impressões de um diplomata; Fernando Guimarães REIS, Por uma academia renovada: formação do diplomata brasileiro; Cristina Patriota de MOURA, O Instituto Rio Branco e a diplomacia brasileira: um estudo de carreira e socialização; Zairo Borges CHEIBUB, Diplomacia, diplomatas e política externa: aspectos do processo de institucionalização do Itamaraty; Zairo Borges CHEIBUB, Diplomacia e construção institucional: o Itamaraty em uma perspectiva histórica; Zairo Borges CHEIBUB, A carreira diplomática no Brasil: o processo de burocratização do Itamarati; H. Jon ROSENBAUM, A critique of the Brazilian foreign service.

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ainda que de forma tímida. Mário Calábria, seu subordinado na segunda metade da década de 1940, afirmou que foi “funcionário competente, sério, austero, imensamente dedicado às suas tarefas”.3 Seus colegas da carreira salientaram sua dedicação profissional, em especial sua incessante busca pela melhora dos serviços do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty). Álvaro Teixeira Soares salientou que seu “entusiasmo” o fazia a personalidade escolhida para “desincumbir-se de assuntos que precisavam ser clarificados, postos em boa ordem dialética, e que ademais revelassem ímpar conhecimento da matéria versada”.4 Saindo do campo hagiográfico, vários estudos sobre a política imigratória brasileira nas décadas de 1930 e 1940 apresentaram Latour sob lentes extremamente críticas. Sua posição pouco lisonjeira decorreu de sua ação em Varsóvia (1936-1937) e em Roma (1931-1934 e 1936-1938). No primeiro posto, conjuntamente com um subordinado, foi ativo no envio de análises cáusticas sobre a situação dos judeus no leste europeu. Não é difícil compreender, diante desses registros, a razão para a escassa atenção dada ao diplomata pela historiografia oficial. Unindo admiradores e críticos, contudo, está o fato de pouco conhecermos sua vida intelectual e profissional pretérita. Não há, ainda, exame dos fundamentos ideológicos de seu posicionamento tanto no campo da imigração como no próprio papel da formação profissional do diplomata. Tal tarefa é certamente difícil. Latour esquivou-se de redigir suas memórias, escusando de legar aos historiadores um roteiro inicial para compreender sua vida que não fosse a biografia funcional nos anuários do ministério. Mesmo assim, apesar de exaustivamente utilizada, tal fonte indica algo peculiar. Na década de 1920, foi exonerado do Itamaraty, retornando para o órgão pouco tempo depois. Durante esse período, trabalhou como jornalista, publicando dezenas de artigos sobre cultura, literatura e política internacional. O fato de estar afastado de seu cargo permitiu, nessas intervenções, maior liberdade para apresentar seu ponto de vista sobre esses assuntos. 3 – Mário CALÁBRIA, Memórias (de Corumbá a Berlim), 51-52. 4 – Álvaro Teixeira Soares. Jorge Latour. O Globo. 2 de outubro de 1985.

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O objetivo deste artigo será reconstituir a vida intelectual de Jorge Latour usando principalmente essas fontes. Essa contribuição iniciará com uma biografia até o momento de sua exoneração. Depois, o foco recairá sobre suas ideias, da forma como foram apresentadas em sua militância no jornalismo. Posteriormente, será examinada a sua ação no tema migratório e na formação profissional dos diplomatas brasileiros, demonstrando como elas se vinculam à sua trajetória intelectual. Esta análise irá até a criação do IRBr. Esse corte não significa que tenha deixado de atuar em outros temas relevantes até a sua aposentadoria ou até em 1985, ano de sua morte. Este estudo é relevante para a historiografia em três níveis distintos. No primeiro, ajuda a preencher uma grave lacuna na produção sobre o pensamento diplomático brasileiro da década de 1920 à década de 1940. Nesse âmbito, também ajuda a área da história das ideias do período, ao apresentar como Latour observou o processo de modernização do país dentro das transformações observadas no sistema político internacional. Seu pensamento é convergente com o do grupo intelectual apresentado por Lúcia Lippi Oliveira – principalmente em sua busca na reestruturação do Estado.5 Segundo, seu pensamento demonstra como o Modernismo brasileiro, em sua face conservadora, teve impacto importante na diplomacia, ainda que Latour tenha sido uma figura secundária no Itamaraty. Essa análise é conduzida demonstrando como sua atuação no jornalismo é essencial para compreender o projeto de criação do IRBr que apresentou duas décadas depois. Tal iniciativa, em particular, representou os anseios da intelligentsia nacional do período de usar o Estado para moldar o cidadão brasileiro de acordo com uma ideia abstrata sobre a nação. O IRBr, nesse sentido, encaixa-se em um movimento que, na década de 1920, era meramente intelectual, mas que, após 1937, teve grande papel na reforma do aparato estatal.6 5 – Lúcia Lippi OLIVEIRA. A questão nacional na Primeira República, 187. 6 – Luciano MARTINS, A gênese se uma intelligentsia: os intelectuais e a política no Brasil, 1920 a 1940.

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Por fim, é um reforço de vários trabalhos que indicam a gênese do pensamento autoritário de direita brasileiro da década de 1930 no mesmo movimento Modernista em que atuaram futuros liberais e socialistas. A análise de Latour indica a complexidade desse núcleo intelectual. Apesar de o diplomata progressivamente apoiar “regimes fortes” e homogeneidade racial, era ardoroso defensor do feminismo e de outras causas não facilmente harmônicas com o ambiente intelectual em que militou. Seu nacionalismo também convivia em paralelo com uma grande admiração pelo internacionalismo da Liga das Nações. O CAMINHO PARA A RUA LARGA Jorge Latour nasceu no Rio de Janeiro em julho de 1897. Sua tia era costureira-modista; seu pai, jornalista e, depois, ajudante do guarda-livros da Companhia Tipográfica do Brasil. Estava, portanto, longe de ser rico.7 A atuação de seu pai com a imprensa indica, por sua vez, que a família estava vinculada ao jornalismo da capital – e, por intermédio desse vínculo, acompanhava os grandes debates políticos e literários da época. Sabemos que Latour obteve sucesso ao prestar a prova para entrar no Externato do Colégio Pedro II em 1910 – chamado na época Gymnasio Nacional. Esta talvez tenha sido a vitória com mais impacto em sua vida. O Pedro II, naquela época, ainda era o pilar de maior prestígio do sistema educacional brasileiro. A entrada nesse estabelecimento era disputada; a experiência, para seus alunos, intensa e formadora. No caso de Latour, o professor de português, Fausto Barreto, provavelmente incutiu-lhe a gramática apurada; Coelho Netto, na cadeira de literatura, o estilo rebuscado; o de geografia, João Coelho Gonçalves Lisboa, o apreço pela organização e pela ordem; o de história natural, Rodolpho de Paula Lopes, a busca por uma visão científica da sociedade.8 Sabemos que, no segundo ano na 7 – Ver Almanak administrativo, mercantil e industrial do Rio de Janeiro. Vários anos; Diário Oficial da União. 24 de maio de 1892; Gazeta de Notícias. 28 de setembro de 1892; Jornal do Brasil. 6 de agosto de 1899; O Paiz. 9 de julho de 1890; O Paiz. 20 de abril de 1892; Perde o Brasil um grande pintor. O Globo. 3 de outubro de 1942. 8 – Joaquim Alves de AGUIAR, Espaços da memória: um estudo sobre Pedro Nava, 87-94; Almanak administrativo, mercantil e industrial do Rio de Janeiro. 1911.

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instituição, o futuro servidor do Itamaraty teve a melhor pontuação de sua turma em desenho e uma nota regular em português.9 Pelas fontes que sobreviveram, Latour não foi estudante de gabinete, abrigado em bibliotecas, sem contato com o cotidiano da cidade. Era frequentador dos banhos de mar na praia de Santa Luzia. Em 1912, tornou-se membro do Clube Guanabara. Foi praticante de pólo aquático e um dos mais assíduos frequentadores do “Natação e Regatas”, por onde atuou até pelo menos 1920. Ele participou, por exemplo, das históricas competições de pólo aquático disputadas na enseada da praia de Botafogo.10 Continuou a buscar, pela educação, uma forma de ascensão social. Em 1915, iniciou seu estudo de Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Era o berço da alta burocracia jurídica do país. De lá sairiam mais de 20 membros do Supremo Tribunal Federal. A instituição, naquela época, abrigava um grupo de alunos e professores conservadores – muitos deles monarquistas. O curso também servia de trampolim para outras burocracias. Utilizando dados biográficos de 343 servidores que entraram no Itamaraty de 1842 a 1929, 37% eram bacharéis em Direito, a maioria oriunda dessa instituição. Esse seria o caso de Latour. Deve-se levar em consideração que, naquela época, o ministério era dividido em três carreiras – diplomática, consular e Secretaria de Estado. Não há ainda um exame do perfil sócioeconômico do Itamaraty no período. Os dados dos que estavam na ativa em 1860 e as 73 nomeações entre o 1902 e 1912, porém, indicam uma hierarquia da área de recrutamento. Os diplomatas tendiam a ser egressos da elite econômica, política e estatal brasileira; no serviço consular, é possível observar vários estrangeiros; na Secretaria de Estado, há proporção maior da classe média.11 Essa composição, distinta da existente em outros 9 – Gazeta de Notícias. 7 de abril de 1910; 17 de janeiro de 1911. 10 – Um mergulho no passado. O Imparcial. 17 de abril de 1927; Gazeta de Notícias. 14 de março de 1912; O Paiz. 23 de julho de 1921; O Imparcial. 20 de setembro de 1920 e 12 de março de 1924. 11 – Com base nos anuários e em Argeu GUIMARÃES, Diccionario bio-bibliographico brasileiro de diplomacia, politica externa e direito internacional.

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serviços exteriores, parece não ter mudado muito com a Primeira Guerra Mundial. Por muito tempo, o recrutamento das três carreiras era realizado pela patronagem da política da capital. Após a morte do Barão do Rio Branco (1912), contudo, o concurso público de provas foi utilizado de forma mais sistemática. O ministro das Relações Exteriores entre maio de 1917 e novembro de 1918, Nilo Peçanha, e sua equipe de jovens colaboradores foram ativos não só na abertura de um concurso para preencher três vagas da Secretaria de Estado como tomaram a inusitada decisão de permitir a participação de uma mulher no certame.12 Jorge Latour enfrentou, entre 12 e 25 de setembro, nove concorrentes e uma banca de dez membros em 11 matérias.13 O perfil da maioria dos candidatos era semelhante. Eram, sobretudo, oriundos da classe média urbana que buscava, no Estado, uma via de ascensão social. Ao fim, passaram Maria José de Castro Rebello, Joaquim de Souza Leão Filho e Jorge Latour.14 O concurso fora um evento histórico. Caso conexões políticas tivessem algum impacto, Maria José e Latour jamais teriam passado. Após a posse, contudo, a igualdade de condições entre os recém-contratados acabou. Souza Leão Filho foi recrutado para trabalhar na prestigiada Sessão de Protocolo, sob a liderança de Sylvio Romero Filho e Hildebrando Accioly. Maria José e Latour foram lotados na Seção de Despesa da Diretoria Geral de Contabilidade e da Administração, sob a vetusta chefia de Gregório Pecegueiro do Amaral. Era um expediente enfadonho e o salário dava pouco conforto. Quase cinco anos após o concurso, Latour morava em uma residência simples na rua Didimo; Maria José, em Inhaúma. Com 12 – De Raul de Campos para Nilo Peçanha. 28 de setembro de 1918. Lata 580. Maço 1. AHI-RJ; Argeu GUIMARÃES, Cafarnaúm, 54-5. 13 – A banca, com Raul de Campos presidindo, tinha Antonio Jansen do Paço, Henrique José do Santos, Emilio de São Feliz Simonsen, Luiz de Faro Júnior, Raphael Mayrinck, Manoel Coelho Rodrigues, Mario Castello Branco, Mário Barros e Vasconcellos e Henrique Pinheiro de Vasconcellos. No início das provas escritas, um candidato abandonou a sala. Nas provas orais, dois não compareceram, reduzindo o número de competidores para seis. 14 – De Raul de Campos para Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro. Rio de Janeiro, 28 de setembro de 1918. Concursos, relatórios, resultados finais. Lata 580. Maço 1. AHI-RJ.

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o trabalho maçante e o salário magro, as atenções de Latour acabaram extravasando para outras atividades.15 As cinco horas de trabalho na repartição deixavam seus funcionários livres para atuar em atividades externas. Alguns, como o consultor jurídico Clóvis Bevilaqua, dedicavam-se ao magistério; Heitor Lyra, aos estudos históricos; e Ronald de Carvalho, à literatura. No caso de Latour, suas atividades gravitaram para uma banca de advocacia na avenida Rio Branco. Ele também manteve intensa vida social dentro dos círculos de intelectuais da capital. Alimentava, nessa época, a ideia de publicar um livro – “Nação e nacionalismo”. Latour pode ser associado, pelas suas relações sociais, admirações literárias, veículos de publicação e ideias, a um grupo de pensadores autoritários da República Velha. Um exame crítico desse núcleo intelectual foi realizado por Antonio Arnoni Prado em, Itinerário de uma falsa vanguarda. Os elementos centrais desse grupo eram Graça Aranha, Elísio de Carvalho, Ronald de Carvalho, Renato Almeida, Menotti del Picchia e Plínio Salgado. Esse núcleo esteve, no início da década de 1920, comprometido com a renovação do país sob a bandeira do modernismo. Eles, em especial, balizaram sua concepção de nação com os trabalhos de Afonso Celso, Rodrigo Otávio, Sílvio Romero e uma literatura europeia. A evolução do grupo no período, contudo, levou-os para um posicionamento nativista mais agressivo, dando grande relevo à necessidade da unidade nacional, à influência da geografia sobre o homem, ao papel de vanguarda de uma elite esclarecida e à necessidade de fortalecimento do Estado.16 Um dos veículos do grupo, no início da década, foi a revista América Brasileira. Criada por Elísio de Carvalho, inicialmente seus participantes eram ecléticos, pois agregava todo o difuso grupo de modernistas. Teve, entre seus colaboradores, nomes como Manoel Bandeira, Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Alceu Amoroso Lima, Afrânio Peixoto, Mário Simonsen, Menotti del Picchia, Lima Barreto, Oliveira Viana, Monteiro Lobato, João Ribeiro, Assis Chateaubriand e Rocha Pombo – 15 – Os dias festivos da exposição. O Brasil. 21 de outubro de 1923. 16 – Antonio Arnoni PRADO, Itinerário de uma falsa vanguarda: os dissidentes, a Semana de 22 e o Integralismo

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além de contar com capas confeccionadas por Di Cavalcanti. Interessante notar a grande participação de personalidades ligadas ao Itamaraty nessa revista. Na “Edição do Centenário” da revista, por exemplo, temos Graça Aranha, Rodrigo Octávio, Ronald de Carvalho, Hildebrando Accioly e Pontes de Miranda. Em outros números, há nomes como Teixeira Soares, Argeu Guimarães e Jorge Latour. O periódico teve curta duração, mas sua trajetória intelectual evoluiu para uma pauta cada vez mais nacionalista, antiliberal e antifederalista – aspectos defendidos por Latour.17 A maioria das publicações de Latour, contudo, foram no periódico de oposição O Imparcial. Foi ao sair da redação desse jornal, na madrugada de 6 de fevereiro de 1926, que foi preso. Um motorista, após ser espancado na delegacia, acusou ter transportado dinamite para Latour. Ele foi levado para a 4ª Delegacia Auxiliar, local conhecido por receber presos políticos e escola para uma geração de repressores que atuou no Estado Novo.18 Seus presos eram agredidos, passavam fome e ficavam dias incomunicáveis. Na ocasião, o delegado Francisco Anselmo das Chagas informou que havia matado recentemente um preso e iria “varejar” de balas a residência de sua família. Após seguidas ameaças, o servidor do Itamaraty foi forçado a prestar um depoimento falso que o incriminava. O senador Antônio Francisco Azeredo, que o visitou na prisão, informou-lhe que só com a autorização do presidente Bernardes poderia conseguir a liberdade. Sem perspectiva, foi encaminhado para a Casa de Detenção, onde ficou por vários meses.19 Para colocar em perspectiva a prisão, convém recordar uma situação semelhante ocorrida pouco tempo antes. Assim como o servidor do Itamaraty, o comerciante Conrado Niemeyer era um ardoroso crítico do governo. Após preso, os mesmos policiais que lidaram com Latour tentaram forçar a assinatura de uma confissão do comerciante. Ele recusou-se 17 – Felipe A CAZETTA, A revista América Brasileira e sua trajetória ao conservadorismo: análise de projetos políticos (1921-1924). Ver contribuição de Latour em Integração continental americana. América Brasileira. Números 9 a 12. Ano I. 18 – R. S. ROSE, One of the forgotten things: Getúlio Vargas and Brazilian social control, 1930-1954, 20. 19 – O bárbaro massacre de Conrado Niemeyer. A Rua. 25 de março de 1926.

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e, após ser espancado, morreu na prisão. Seus algozes simularam um suicídio, jogando-o do prédio. O julgamento do assassinato ocorreu somente na administração Washington Luís. Latour teria uma participação tangencial no caso, ao servir de testemunha.20 Anos depois, criticou a “ignorância e barbárie da tirânica e vesga” administração Bernardes.21 IDEIAS: EDUCAÇÃO E NACIONALISMO Após sua prisão, Latour foi exonerado do cargo.22 Foi nesse momento de ruptura da sua carreira que se lançou em tempo integral às carreiras de advogado e de jornalista. Seu desligamento oficial do ministério permitiu maior liberdade de expressão. É essa atividade que focaremos. Para tanto, foram utilizados mais de 25 artigos publicados desde a sua posse no Itamaraty, em 1918, até o fim da década de 1920. Latour abandonou temporariamente sua roupagem de servidor público e arrogou-se da identidade de tribuno, entendida por ele como “fazer coro, clamar, acentuar o diapasão dos competentes, chamando a atenção ausente dos responsáveis indiferentes, inibidos pela política absorvente e destruidora”.23 Como vários bacharéis da elite intelectual do período, arrogou-se do papel de orientador. Em sua opinião, cumpria uma função pedagógica em um país cujo público esclarecido era “pouco preocupado com assuntos internacionais”.24 As suas fontes eram comumente notícias de jornais e livros publicados na Europa, principalmente em francês. Mas muitas informações apresentadas indicam que ainda tinha acesso a colegas do ministério. Sua posição de jornalista não o fez um adorador da liberdade de imprensa. Muito pelo contrário. Assim como vários contemporâneos, ob20 – ROSE, One of the forgotten things: Getúlio Vargas and Brazilian social control, 1930-1954, 145; R. S. ROSE, Beyond the pale of pity: key episodes of elite violence in Brazil to 1930, 178. 21 – O espírito universitário. A Pacotilha. 18 de abril de 1927. 22 – O testamento do Itamaraty. Correio da Manhã. 9 de novembro de 1926; Aos poucos, o atual chanceler vai corrigindo os erros e desatinos do pé-choco. A Rua. 2 de junho de 1927. 23 – Ninharias fora de cartaz. O Imparcial. 3 de março de 1927. 24 – O titan oriental. O Imparcial. 10 de agosto de 1926.

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servava os grandes veículos internacionais como “a mais poderosa força de orientação moderna dos povos”. O jornalismo internacional, em sua opinião, tornara-se uma indústria, com fartos recursos materiais, mas era “engrenagem metodicamente montada” para atender a “titânicas empresas industriais, a governos empenhados no desenvolvimento de planos políticos, a doutrinas que se implantam, a sindicatos, ou, enfim, a qualquer interesse encoberto”. A via principal de realização desses interesses, na sua opinião, era o uso de boatos, mentiras, calúnias, falsas imputações e a intriga. As empresas de jornalismo eram “os monstros da modernidade”.25 Ele adiantou em várias décadas, desse modo, os debates sobre os interesses envolvidos nas indústrias culturais. Deve-se salientar, ademais, que sua opinião nesse assunto era muito convergente com o pensamento nacionalista de Alberto Torres.26 Apesar de dedicar-se predominantemente a assuntos internacionais, em diversas ocasiões examinou aspectos do cotidiano carioca. Um deles foi o avanço do feminismo no Brasil. Latour fora um observador privilegiado do avanço da mulher no histórico concurso de que participara. Um texto, seis anos após o fato, apresenta a linguagem da época de defesa do avanço do feminismo. Era, talvez, muito otimista: “Não há recintos impenetráveis ao talento feminino”, afirmou.27 Por essa intervenção, podemos observar que não comungava dos ideais de fortalecimento da família tradicional, como o fizeram correntes católicas autoritárias ligadas a Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima.28 A despeito de, em muitos sentidos, ser tradicionalista e conservador, era apologista da modernidade refletida em certos símbolos. Esse tópico é importante por demonstrar como aspectos à primeira vista superficiais do cotidiano demonstravam sua visão sobre nação e desenvolvimento. 25 – Os monstros da modernidade. O Imparcial. 22 de março de 1927. 26 – Alberto TORRES, O problema nacional brasileiro, introducção a um programma de organização nacional, 92. 27 – Migalhas para o feminismo. O Imparcial. 1 de junho de 1926. Ele voltou ao tema no fim do ano, quando examinou o avanço feminino na carreira dos cabeleireiros. A morte de fígaro. O Imparcial. 20 de novembro de 1926. 28 – Coisas do Rio. O Imparcial. 3 de maio de 1927.

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Assim, para Latour, a difusão do automóvel trazia “em si um gérmen patriótico promissor” por finalmente possibilitar a integração nacional. Constituíam os motoristas “os novos bandeirantes para traçar em incursões arrojadas o plano de consolidação definitiva desse todo imenso”. Utilizando um argumento comum na época, apontou que o Brasil não se constituía em uma unidade, pois um litoral denso enfrentava um interior de população descontínua. Faltava “intimidade nacional” – “Somos estranhos a nós mesmos”. A integração acabaria com “esse fato deprimente”, criando, no país, finalmente, um foco de civilização em um “Brasil contínuo, igual, e portanto uno e indivisível”. Seria só por essa via que o país finalmente se modernizaria e seu povo alcançaria “a definitiva comunhão” no “concerto das nações”.29 Assim como o automóvel, a aviação e o rádio tinham impactos, em especial nas relações internacionais. Era a opinião de Latour que os conflitos entre os Estados eram, de certa forma, consequência do desconhecimento mútuo e de ciúmes gerados pela distância – “povos estranhos entre si, são, antes do mais, antagônicos a qualquer ligeiro motivo de desconfianças”. A convivência ensejada pela tecnologia moderna, dessa maneira, eram formas para “se chegar à harmonia e à paz”.30 Não era uma opinião isolada. O liberal Norman Angell também acreditava nos efeitos pacificadores da integração tecnológica do mundo.31 Mas Latour estava longe de ser um liberal. Era, por exemplo, especialmente contrário ao espírito norte-americano no continente. Em 1927, quando forças estadunidenses desembarcaram na Nicarágua, ele definiu a força naval como “arrogante” e o ato, como “crime”.32 Não foi episódio isolado. Em uma conferência, apresentou a intrigante proposição de que a Doutrina Monroe, originalmente, tinha efeitos benéficos à América Latina, mas suas interpretações posteriores pelo governo norte-americano se29 – O carrapato. O Imparcial. 14 de setembro de 1926. 30 – Fatores de congraçamento dos povos. O Imparcial. 25 de maio de 1926; A emoção do progresso. O Imparcial. 7 de junho de 1927 31 – Norman ANGELL, The great illusion: a study of the relation of military power in nations to their economic and social advantage. 32 – O espírito universitário. A Pacotilha. 18 de abril de 1927.

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riam perigosas e nocivas à região, “afetando o princípio vital da soberania desses Estados, por ser uma imposição, (...) pois criam restrições que o direito internacional não sanciona”.33 Esse tipo de posicionamento, a partir da década de 1940, seria comum na sociedade brasileira – e mesmo em sua diplomacia profissional. Os maiores temores dos nacionalistas, no fim do século XIX, eram o avanço europeu. Latour fez parte de uma geração de transição, que percebeu a grande expansão dos Estados Unidos e como isso afetaria a América Latina. Seu nacionalismo coexistia com um forte pacifismo – daí suas repetidas críticas ao o que considerava ser o caráter militarista, agressivo e antidemocrático da Alemanha.34 Ao contrário do diagnóstico dado por J. M. Keynes de que a paz de Versalhes criou um sistema de restrição sobre a Alemanha que inviabilizava a normalização do país, Latour via situação oposta.35 Os alemães eram “o caso mais original de derrota da história”. Em poucos anos, o país recuperara seu território, elevara o bem-estar de sua população de forma mais rápida que muitos vitoriosos, entrara na Liga das Nações e conseguira um assento permanente no Conselho Executivo da organização. Para o diplomata, em breve ela revisaria o Tratado de Versalhes e retomaria sua expansão territorial – primeiro anexando a Áustria e depois avançando sobre Hungria, Tyrol Italiano, Tchecoslováquia, Bálcãs e Roma. Sua conclusão: “Um novo antagonismo surgirá para nublar a atmosfera cada vez mais e mais [sic] plúmbea deste século sombrio.”36 Seu nacionalismo não era cego. Latour criticou os que defendiam uma suposta autossuficiência de brasileiros diante dos problemas nacionais. Os cientistas, artistas e intelectuais que passavam pelo país exerciam 33 – Livro de ouro comemorativo do centenário da Independência do Brasil e da exposição. P. 345; Congresso Jurídico Comemorativo da Independência do Brasil. O Paiz. 29 de outubro de 1922. 34 – O oráculo de Doorn. O Imparcial. 12 de outubro de 1926; A mocidade argentina. O Imparcial. 29 de agosto de 1927. 35 – Sobre a opinião de Keynes sobre a paz de Versalhes, ver John Maynard KEYNES, The economic consequences of peace. 36 – A inversão do vae victis. O Imparcial. 5 de outubro de 1926.

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contribuição “decisiva para a nossa civilização”. O brasileiro deveria aprender a “obter de fora o que ainda não [podia] criar [sozinho] dentro do país”, disse ele.37 Na década de 1920 consistentemente apoiou movimentos revolucionários para derrubar os governos da República Velha. Isso denota que não via as urnas como o único caminho para implementar as mudanças julgadas necessárias para modernizar o país. Ele também julgava que o Estado nacional era a principal unidade de organização social e, diante das revoluções que o fragilizavam, era necessário fortalecê-lo – “[o] Brasil precisa de um centro de gravidade, um prumo e uma rosa dos ventos”.38 Isso envolvia, também, a necessidade de reorganizar a “consciência coletiva” da sociedade, iniciando pela juventude.39 Na mesma época, seu nacionalismo compatibilizava-se com um perfil internacionalista, especialmente na defesa da Liga das Nações. Em sua opinião, à instituição caberia grandes responsabilidades na manutenção da paz internacional – era “a maior força e a mais profícua para o progresso humano em marcha”. É instigante notar sua “fé absoluta” na organização, em especial em sua capacidade de regular “todos os problemas relativos às relações entre os Estados”. Para uma personalidade ao mesmo tempo nacionalista e que apoiava incondicionalmente a Liga das Nações, é curioso observar como Latour gostava de apresentar a organização como um “paradoxo aparente”.40 Sua profissão de fé pela organização chegou ao auge em 1926, quando publicou dois artigos sobre o tema na prestigiada revista Ilustração Brasileira. Um dos problemas da Liga das Nações sobre o qual se debruçou foi a questão dos mandatos. Um dos arremedos criados para a continuação da política de colonização das grandes potências era defendido segundo um discurso civilizacional e imperialista. Latour abraçou tal causa. Segundo ele, era uma “tutela” de nações que já alcançaram a “plena maturidade” 37 – Os missionários da cultura. O Brasil. 15 de julho de 1927. 38 – Impertinências. O Brasil. 31 de agosto de 1937. 39 – O espírito universitário. A Pacotilha. 18 de abril de 1927. 40 – Instituto dos Advogados. O Imparcial. 24 de julho de 1924; Instituto dos Advogados. O Paiz. 26 de julho de 1924. Ver, também, A Liga das Nações e o internacionalismo. Ilustração Brasileira. Fevereiro e abril. 1926.

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sobre sociedades, naquela época, “incapazes” de cuidarem de seus próprios destinos. O diplomata brasileiro abraçou a visão legalista do documento fundacional da Liga das Nações pelo qual tal missão era um fardo aos grandes países.41 Ele foi contra a saída do Brasil da organização – medida executada por Artur Bernardes após a falha em conseguir um assento permanente em seu Conselho Executivo. Em sua opinião, “por mais poderoso que seja um país”, não poderia “furtar-se à interdependência dos povos”.42 A sua admiração pela Liga das Nações também indica um antecedente das ideias que guiaram o seu projeto de criação do Instituto Rio Branco na década de 1940. Para Latour, a paz estava indissociavelmente vinculada à educação. Ela aplainava desconfianças e aproximava cidadãos – “a educação é fator dominante na evolução do homem e dos seres vivos. Amplia, multiplica os predicados, corrige os defeitos, modifica tendências”. A Liga das Nações, ao seu ver, era ferramenta fundamental na transformação desse quadro, pois competia a ela “educar o mundo” – dos estadistas às mães nos lares.43 Em outra oportunidade, indicou o elo entre a nação e a educação: Para o Brasil, governar é educar. É esta a premissa geral, ponto de partida de todas as iniciativas, preliminar indiscutível anteposta à qualquer movimento de avanço. Urge que se valorize pela educação e hygidez [sic], o elemento homem existente, selecionando de agora por diante esse fator fecundante das nacionalidades.44

Ele acreditava profundamente na participação da sociedade na política externa, mas esta deveria ser guiada por uma elite. No Instituto dos Advogados, em 1924, por exemplo, conclamou seus membros a promover uma “verdadeira cruzada” pela Liga das Nações, despertando no país o “entusiasmo” pela organização.45 Isso demonstra um distanciamento de uma visão totalitária crua. 41 – A França e o mandato sírio-libanês. Correio da Manhã. 14 de novembro de 1925. 42 – Novo rumo. O Imparcial. 15 de março de 1927. 43 – A Liga das Nações e o internacionalismo. Ilustração Brasileira. Abril de 1926. 44 – A fórmula triunfante. O Brasil. 8 de julho de 1927. 45 – Instituto dos Advogados. O Imparcial. 24 de julho de 1924.

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Vivia-se uma era de montanha russa na complexa década de 1920, denominada pela historiadora Zara Steiner como o período em que “as luzes falharam”.46 Se, em determinado momento, o otimismo com a paz e a prosperidade duradouras varriam as chancelarias e a opinião pública; em outros, o choque da política internacional impunha grande pessimismo. Latour, em 1926, viveu essa ambivalência. Em agosto, apresentou o futuro da política internacional como de crescentes conflitos.47 Em outubro, após o acordo de Locarno, celebrou que a Europa passava por “um período promissor de paz e entendimento”. Ele indicava, no entanto, que a estabilidade era apenas aparente. Não “repousavam em fatos primitivos e sim em malabarismos de chancelaria”.48 Para Latour, o mundo presenciava o caótico fluxo de mercadorias, pessoas e ideias – “há surtos nebulosos em todas as regiões e o material humano se desloca em correntes de fluxo e refluxo, incapaz de orientar uma distribuição e longe de permitir [que] se entreveja em tão alto torvelinho o esboço de um esquema demográfico”. Os Estados eram trespassados cotidianamente por essa dinâmica, tornando-os, além de fluidos, em constante modificação. O “nomadismo” era parte central desse problema, na sua opinião. Do ponto de vista doméstico, essa corrente anárquica e desorganizada deveria ser enfrentada por um esforço racionalizador e consciente de construção nacional – uma “higiene social”. O diplomata era um dos apologistas “dos fins elevados da profilaxia geral”.49 Era natural que, diante dessas crenças, a literatura à qual se dedicava tivesse cunho mais autoritário e, em alguns casos, racial. Um exemplo é o seu uso do livro Le crepuscule dês nations blanches, do francês Maurice Murel. Editor do Journal dês Débats, fora um dos principais divulgadores da literatura autoritária italiana e alemã na França. Murel usava Splenger e defendia discretamente teses antissemitas. Com base nessas leituras, o 46 – Zara S. STEINER, The lights that failed: European international history, 1919-1933. 47 – O titan oriental. O Imparcial. 10 de agosto de 1926. 48 – A inversão do vae victis. O Imparcial. 5 de outubro de 1926. 49 – Jorge Latour. Nação e Nacionalismo. América Brasileira. Março, 1922. Ano I; Jorge Latour. Nação e Nacionalismo. América Brasileira. Março, 1922. Ano I; Higiene social. O Imparcial. 30 de agosto de 1927.

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entendimento de Latour sobre o significado de uma “nação” adiantava, em vários anos, o pensamento integralista: “Qualquer que seja o prisma por que se encare um país, para julgá-lo nação mister é concebê-lo integral em algum dos seus fatores determinantes.” Esses fatores tinham uma hierarquia. A constituição de uma nação dependia, primeiramente, do “determinismo geográfico”. Eram as características do solo, do clima e da hidrografia brasileiras os aspectos essenciais “para o surto de uma civilização íntegra”. Seu entendimento, no entanto, é que o meio provia somente a amplitude de possibilidades. Aproveitá-lo dependia de outros fatores e era aqui que ele introduzia o fator racial – o “preponderante na integração de uma nacionalidade”. Latour concebia o Brasil como produto da mestiçagem. Ele considerava-a irregular, pois cada região do país teria uma composição distinta. Isso, em sua opinião, era uma fonte de fraqueza. Repetindo a literatura racialista europeia, afirmou: “essa anarquia na trama biológica mina a seiva nacional, adultera a fibra de células enxertadas e, é meridionalmente claro, não pode preparar um organismo inteiriço e sólido”.50 Um fator central do conceito de “raça” era o julgamento de “valor” de cada uma – oportunidade na qual, certa vez, fez copiosos elogios à produção alemã sobre o tema. O país, aliás, se repetidamente criticado por sua política imperialista, era, nesse aspecto, apresentado sob uma luz mais positiva, particularmente sua “vitalidade insuperável” em decorrência de ter “o formidável tônico de 6 milhões de homens homogêneos no sangue”.51 A “vasta e profunda campanha bolchevista” era uma de suas grandes preocupações. Havia, para Latour, um “desenvolvimento subterrâneo” da ideologia comunista, movimento esse não contraposto por uma política contrária e ativa dos países capitalistas. Era esse tipo de lente analítica que utilizou para compreender a emergência do nacionalismo na Ásia e na África. Em sua opinião, tal movimento – “fermentação das raças” – seria aproveitado pela ideologia bolchevique por serem conduzidos por socie50 – Jorge Latour. Nação e Nacionalismo. América Brasileira. Março, 1922. Ano I; Integridade nacional. América Brasileira. Maio, 1922; O carrapato. O Imparcial. 14 de setembro de 1926. 51 – A inversão do vae victis. O Imparcial. 5 de outubro de 1926.

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dades despreparadas – mesmo a Índia estava “desfibrilada pelos divórcios intestinos” de suas castas, o que aumentava a chance de ser desvirtuada pela exploração comunista. Se a maior parte da África e da Ásia estava sob perigo, a situação era distinta nas áreas sob o movimento colonizador britânico – no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia, na África do Sul e na Irlanda, vitórias reputadas à homogeneidade racial. A América Latina, por sua vez, teria um futuro próspero, principalmente em decorrência do “triunfo da raça mediterrânea e o desaparecimento paulatino das demais, ou por força de aglutinação daquela, ou decréscimo espontâneo destas”. A mudança da composição racial, no entanto, era só o segundo nível. Para Latour, o potencial do país estava intimamente atrelado ao processo de elevação educacional da população, executado por “estadistas” de acordo com “um rigoroso roteiro”.52 O pensamento de Jorge Latour sobre a inserção internacional do país, dessa maneira, associava a nação a uma hierarquia composta de geografia, raça e educação. A primeira era praticamente estável. O uso da tecnologia, como o avião e o automóvel, contudo, prometia transformar o Brasil, possibilitando pela primeira vez a integração do povo em uma só unidade. A segunda também estava em fluxo. Em sua opinião, a mestiçagem era algo negativo, mas o crescimento da população de origem mediterrânea modificaria esse quadro. Daí seus esforços futuros na área migratória. Por fim, estava a educação, elemento integrador não só doméstico como internacional. A interação desses três parâmetros, por sua vez, era influenciada pelos fluxos transnacionais de ideias (como o comunismo), mercadorias e pessoas. Seria só o fortalecimento da infraestrutura de transportes, a transformação da estrutura racial e um processo dinâmico de educação que proveriam o arcabouço adequado para a nação brasileira sobreviver diante das rivalidades regionais, do desafio comunista e do legado da miséria econômica.

52 – O titan oriental. O Imparcial. 10 de agosto de 1926.; A concentração ocidental. O Imparcial. 14 de junho de 1927; O exemplo britânico. O Imparcial. 9 de novembro de 1926; Integração continental americana. América Brasileira. Números 9 a 12. Ano I.

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A ROTA PARA ROMA (E VARSÓVIA) Jorge Latour foi um dos vários servidores públicos perseguidos pelo regime Artur Bernardes. A mudança de governo, no entanto, trouxe-lhe boas notícias. Octávio Mangabeira, ministro das relações exteriores no governo Washington Luís, reconduziu-o ao cargo. Quando Latour chefiou interinamente a Seção de Limites e Atos Internacionais, em 1927, segundo Yves de Oliveira, teria redigido um relatório sobre o problema das fronteiras nacionais com grande influência na administração Mangabeira. Não foi possível encontrar tal documento e tampouco identificar como a cúpula do órgão o recebeu – em 1929, publicou o livro Problema nacional das fronteiras, volume no qual provavelmente divulgou as ideias contidas no documento.53 Latour, dessa maneira, foi ativo em examinar os problemas sob sua responsabilidade, levando propostas para seus superiores, uma característica que observaremos em sua vida profissional futura. Dois anos após sua reversão ao órgão, foi transferido para a prestigiada carreira diplomática, talvez como uma compensação pelo infortúnio que passara. Esse tipo de transferência era raro. Não temos dados completos da década de 1920, mas utilizando as biografias funcionais dos 343 servidores que estavam na ativa em 1935, somente 68 trocaram de carreira (20%). Para ter ultimado tal feito, o servidor certamente teve apoio de padrinhos externos. Apesar de ter conseguido a transferência para o quadro diplomático, Latour não tinha prestígio suficiente para conseguir uma boa remoção, entendida naquela época como um posto na Europa – principalmente Roma, Paris e Londres. Acabou ocupando a posição de segundo secretário na Legação do Brasil em La Paz. Lá, protagonizou um evento curioso. O presidente do país, Hernando Siles, após tentar prorrogar seu mandato, foi derrubado por um golpe de Estado. Latour, como encarregado de negócios brasileiro, conjuntamente com um general chileno, foi o responsável por acompanhar o ex-presidente até a fronteira com o Chile. Siles sentiu-se profundamente agradecido pela disposição e pela coragem 53 – Yves de OLIVEIRA, Otávio Mangabeira, alma e voz da República, 92; Jorge LATOUR, Problema nacional das fronteiras.

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dos dois.54 Provavelmente em decorrência dessa experiência, Latour publicou, em Assunção, no ano seguinte, o volume “El reconocimiento de gobiernos”.55 Sua estada na Bolívia foi curta. Em 1931, foi removido para Roma. Ele ficou lá de 1931 a 1934 e de 1937 a 1939, passando o período de 1934 a 1937 no Rio de Janeiro. Para a historiografia, o maior foco de atenção recai sobre sua atuação como encarregado de negócios em Varsóvia. Há poucas fontes sobre a produção intelectual de Latour após o retorno à carreira. Ele não mais assinou artigos na imprensa como o fez durante seu afastamento temporário. Sabe-se, no entanto, que fez parte de um grupo de pensadores progressivamente radicalizado para a direita. Isso envolveu o ceticismo crescente com o regime democrático, o apoio a fórmulas autoritárias centradas na Ação Integralista Brasileira (AIB) e a admiração pelo regime fascista italiano. Uma carta de 10 de julho de 1937 de Vincenzo Lojacono ao Conde de Ciano encontrada por Ricardo Seitenfus lança luz sobre o nível de comprometimento de Latour com o movimento integralista brasileiro. Lojacono, um fascista entusiasmado com Mussolini, tornou-se embaixador no Brasil em 1937, posto no qual permaneceu até o ano seguinte. Já Ciano era genro de Mussolini e ministro das relações exteriores da Itália. Na correspondência, Lojacono informou ter conversado pessoalmente com Plínio Salgado sobre Latour – que, aparentemente, disputava com um colega de embaixada a posição de representante oficial dos integralistas brasileiros junto às autoridades italianas. Pelo documento, fica claro ser Latour um ativo membro do movimento integralista, tendo laços pessoais com Salgado. Não é possível, pela documentação pesquisada, identificar a origem dessa relação. Tudo leva a crer que tenha iniciado na década de 1920, quando os dois militavam no movimento Modernista e no jornalismo, especialmente no âmbito da revista América Brasileira. Pelo relato do italiano, o chefe integralista

54 – Os acontecimentos na Bolívia. O Paiz. 4 de julho de 1930; A revolução triunfante na Bolívia. Diário de Notícias. 8 de julho de 1930. 55 – Jorge LATOUR, El reconocimiento de gobiernos.

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definiu Latour como “pessoa muito honrada”, mas não lhe deu a responsabilidade que o diplomata julgava poder desempenhar.56 Como observamos anteriormente, os supostos perigos que a desagregação decorrente da modernidade ocasionava na constituição das nações estava no centro das preocupações intelectuais de Latour na década anterior. Esse aspecto tornou-se mais premente em meados da década de 1930, especialmente em suas intervenções públicas na Itália. Assim, após o golpe que instaurou o Estado Novo no Brasil, em uma palestra, apoiou o autoritarismo do novo quadro constitucional brasileiro como resposta às transformações que o sistema internacional trazia para a soberania dos Estados. Era, portanto, um arcabouço muito semelhante ao defendido na década de 1920. Para ele, o Brasil era “um adolescente numa tumultuosa assembleia de homens mais velhos e mais experimentados”, enfrentando o “redemoinho das doutrinas diversas e contrárias em que se debate o mundo”. A Constituição de 1937 era uma oportuna “pausa”.57 Um aspecto central do pensamento de Jorge Latour, na década de 1920, era como a composição racial de uma nação afetava o progresso material diante de um quadro internacional em constante transformação. Naquela época, em seus artigos, pouco se pode assinalar em termos de preconceito ao judeus – com exceção de aparições incidentais, como no uso do termo “mercantilismo de judeu” para criticar empresários de teatro.58 Havia, contudo, as premissas de uma posição intolerante com 56 – Ricardo SEITENFUS, A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, 331-332. Calábria apresentou o dado importante de que seu ex-chefe teve muitos amigos no Partido de Representação Popular, criação de Plínio Salgado na qual se reuniram os antigos integrantes da Ação Integralista Brasileira. Calábria, contudo, afirmou que, na década de 1940, Latour informara-lhe ser esse “um passado que abjurara”. CALÁBRIA, Memórias (de Corumbá a Berlim), 51-52. 57 – O encontro fora mais um exercício da diplomacia cultural italiana de aproximar os pensadores autoritários brasileiros do regime fascista. A conferência de Latour naturalmente foi elogiada pelos meios de comunicação fascistas do país. Sobre a nova Constituição brasileira. Correio da Manhã. 10 de dezembro de 1937. Ver, por exemplo, Comentários de jornais italianos à conferência do diplomata Jorge Latour. Correio da Manhã. 12 de dezembro de 1937. 58 – Rio de Janeiro. O Imparcial. 19 de outubro de 1926; Coisas do Rio. O Imparcial. 3 de maio de 1927.

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relação ao grupo. Tratando o “nomadismo” populacional como um dos aspectos mais negativos na construção de um Estado e associando os judeus a essa característica, o diplomata acabou abraçando as correntes de pensamento mais radicais da época. Em uma característica que o acompanhava desde a década de 1920, Latour era loquaz em sugerir aos seus superiores ajustes nas políticas em que era designado a atuar. Foi natural, portanto, ao chegar à Polônia, em 1936, como encarregado de negócios, ter redigido vários documentos sobre questões de imigração – alguns, inclusive, extrapolando o âmbito de suas responsabilidades, como Jeffrey Lesser bem apontou.59 O foco de sua atenção geralmente recaía sobre os judeus. Eram, segundo ele, “nocivos” e “perniciosos elementos indesejáveis em todos os países”. O judeu médio seria “ave de rapina, ganancioso, usurário”. Ele produziu um verdadeiro inquérito sobre a situação na Polônia, enviando à Secretaria de Estado fotografias de guetos de Varsóvia para reforçar suas opiniões.60 Ao retornar ao Brasil, suas opiniões sobre a migração judaica não mudaram. Segundo Leonardo Senkman, quando presidiu o Conselho Nacional de Imigração, em 1948, “se opôs radicalmente” à entrada de imigrantes que não fossem portugueses, espanhóis e italianos – convergente com o seu pensamento sobre o perfil racial ideal da população brasileira (“mediterrâneo”).61 A literatura sobre a política imigratória do Estado Novo coloca a ação de Latour no plano central da política imigratória da época. Convém considerar que a maioria atuou nesse tema entre março de 1936 e maio de 1937, quando foi o encarregado de negócios brasileiros em Varsóvia, e depois da guerra, quando chefiou o Conselho Nacional de Colonização 59 – Latour redigiu um texto, na época, sobre a imigração japonesa. Jeffrey LESSER, Japanese, Brazilians, Nikkei: a short history of identity building and homemaking, 5-21. 60 – Apud Maria Luiza Tucci CARNEIRO, O anti-semitismo na era Vargas: fantasmas de uma geração (1930-1945), 157, 304, 9, 11; Avraham MILGRAM, O Itamaraty e os judeus, 379-411; Ricardo SEITENFUS, Ideology and diplomacy: Italian fascism and Brazil (1935-1938), 516. 61 – Leonardo SENKMAN, Los sobrevivientes de la Shoa en Argentina: su imagen y memoria en la sociedad general y judía: 1945-1950, 4.

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e Imigração. Ele não tinha, no primeiro período, responsabilidade administrativa pela política imigratória nacional. O foco sobre sua ação pode, dessa maneira, ser justificado por ser um dos poucos burocratas dentro do aparelho do Estado Novo que despejou em documentos oficiais seus preconceitos mais íntimos, como bem argumentou Gerard Daniel Cohen.62 Não há nenhuma indicação de que a cúpula do Ministério das Relações Exteriores se tenha guiado por suas recomendações, muito menos que seus relatórios tenham sido lidos por Getúlio Vargas – o decisor em última instância da política brasileira para refugiados e imigrantes. Ademais, convém considerar a existência de uma engrenagem muito maior – como o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o Conselho de Imigração e Colonização – além de outros diplomatas com posição igualmente contrária à imigração judaica, de Oswaldo Aranha a Régis de Oliveira, de Moniz de Aragão a Cyro de Freitas Valle.63 O fato de o diplomata ter sido removido para dois postos na América Latina após sua estada em Roma demonstra que esteve longe de ser uma figura de grande relevância, ou que tenha recebido qualquer benefício pela sua conduta em Varsóvia ou em Roma.64 INSTITUTO RIO BRANCO Na década de 1920, Latour demonstrou admiração com a promoção institucional do conhecimento científico, em contraposição à perseguição meramente solitária. Assim como Azevedo Amaral, Francisco Campos e Oliveira Viana, o servidor do Itamaraty via a carência de uma identidade nacional e a ignorância como causas relevantes do atraso do país. Era especialmente crítico do esquecimento sobre os grandes fatos da história nacional: “Hoje, mais do que nunca o brasileiro precisa recordar”, dis62 – MILGRAM, O Itamaraty e os judeus, 379-411; Gerard Daniel COHEN, In war's wake: Europe's displaced persons in the postwar order, 116; Anna Rosa BIGAZZI, “In difesa della razza”: os judeus italianos refugiados do fascismo e os anti-semitismo do governo Vargas, 1938-1945, 114. 63 – CARNEIRO, O anti-semitismo na era Vargas: fantasmas de uma geração (19301945), 157, 304, 9, 11; MILGRAM, O Itamaraty e os judeus, 379-411; SEITENFUS, Ideology and diplomacy: Italian fascism and Brazil (1935-1938), 516. 64 – BIGAZZI, “In difesa della razza”: os judeus italianos refugiados do fascismo e os anti-semitismo do governo Vargas, 1938-1945, 96.

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se. Sua solução era “a consciência do todo, o estudo total e a realização posterior paulatina, vencendo todas as etapas do plano geral prévio”.65 O aparato estatal era reputado como elemento essencial na reforma dessa situação. A proposta de criação do IRBr na década de 1940, portanto, deve ser observada dentro de um quadro mais geral de intervenção do Estado na sociedade.66 Apesar de sempre salientar as transformações da época, julgou não ter sido a diplomacia abalada por esse instável ambiente.67 Para Latour, as características do diplomata de outrora, do Congresso de Viena, ainda eram essenciais para a década de 1920. “Um Metternich ou Talleyrand avultariam com o mesmo porte, sem nada perderem da fidalga estatura que os consagrou.” O argumento para justificar tal tese é que etiqueta, prerrogativas honoríficas e precedência permaneciam com o mesmo peso sobre as relações internacionais. Ele concedia que as missões diplomáticas exigiam cada vez mais técnicos e políticos para seu sucesso, mas, em sua opinião, este dependia não de uma conduta nova, mas de reproduzirem fielmente os atributos da diplomacia tradicional. A nova diplomacia fundava-se no respeito à linhagem tradicional da profissão.68 O diplomata certamente acompanhou de perto as demandas por reforma do Itamaraty. Na política, no jornalismo e nos encontros das “classes produtoras”, o tema recorrentemente emergia. Uma das sugestões 65 – “A simples meta da especialidade científica, ativada na estrada larga da pesquisa, já seria uma audácia digna de louvores sem regateios. A obra criadora se evidencia em ciência na pesquisa. Ela é a fonte da riqueza intelectual em valores palpáveis. Dela irradiam os conhecimentos profundos. Organizar, pois, as indagações e concatenar as conquistas resultantes é engrandecer, é opulentar descomedidamente. Perquirir com aparelhamento e método é estabelecer o máximo de propulsão nos domínios do saber. Os institutos de fama universal são colméias de elaboração constante, a serviço do prestígio da pátria e em benefício da humanidade.” Fundação Juliano Moreira. O Imparcial. 26 de julho de 1926. Sobre o pensamento autoritário brasileiro nesse período, ver Boris FAUSTO, O pensamento nacionalista autoritário (1920-1940); OLIVEIRA, A questão nacional na Primeira República. 66 – Sobre esse tema, ver Simon SCHWARTZMAN, Bases do autoritarismo brasileiro, 113. 67 – Educação Nacional. O Imparcial. 18 de julho de 1926; À margem do túmulo de Lopes Trovão. O Imparcial. 19 de julho de 1927. 68 – Os novos aspectos da diplomacia. O Imparcial. 23 de setembro de 1926.

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mais pertinentes, por sua proximidade com o projeto de Latour, foi a da plataforma do movimento integralista. Ela tinha, em sua agenda, o propósito de elevar o nível cultural e técnico de todo o funcionalismo do Ministério do Exterior, criando um clima de entusiasmo e supervisão de problemas de ordem externa, renovando a consciência e a mentalidade diplomática. dia:

Segundo o seu manifesto-programa de 1936, o integralismo preten1) criar um Instituto, anexo ao Itamaraty, com funções de: a) manter vivas as nossas tradições diplomáticas e organizar a história do Brasil, em todos os seus pormenores; b) formar um meio estudantil especial onde sejam recrutados e preparados elementos das carreiras diplomáticas e consular; c) formar um meio estudantil especial onde sejam recrutados e preparados elementos das carreiras diplomática e consular; d) manter cursos de aperfeiçoamento para os quadros do Ministério das Relações Exteriores.69

Sabemos que Latour foi uma personalidade não tão distante de Plínio Salgado e a data do lançamento do manifesto coincide com suas últimas semanas no Brasil antes de partir para Roma. Apesar da inexistência de fontes que o vinculem a esse trecho do documento, é relevante notar que a proposta era bastante convergente com suas crenças pessoais e com as demandas de sua geração para uma reforma no processo educacional de potenciais candidatos à carreira. O terreno já estava preparado para o da proposta que viria anos depois. Entre abril de 1939 até agosto de 1943, Latour trabalhou nas legações do Brasil no México e em Bogotá. Eram recantos tranquilos para enfrentar a turbulência da Segunda Guerra Mundial. Distante dos grandes teatros do conflito, levou uma vida sem grande atribulações. O aspecto mais peculiar de sua vida funcional, no fim desse período, era sua posição relativa na carreira – após mais de 20 anos de trabalho, ainda era primeiro secretário, o terceiro degrau da hierarquia. Para se ter ideia do que isso 69 – O manifesto-programa da “Ação integralista brasileira”. Correio da Manhã. 29 de janeiro de 1936.

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significa, é necessário examinar a situação dos 22 servidores que entraram em 1918 e 1919 no Itamaraty e que estavam na ativa em 1944.70 Destes, somente um estava em situação pior que Latour (Hermes Rodrigues da Fonseca Filho era segundo secretário) e outros três permaneciam como primeiros secretários (Leopoldo Teixeira Leite Filho, Affonso Barbosa de Almeida Portugal e Lauro de Andrade Muller). Joaquim de Souza Leão Filho, que passara no mesmo concurso de 1918 do qual Latour participara, em 1941, já era ministro.71 Latour tinha, naquela época, pouco prestígio junto aos seus colegas; era afastado da cúpula do órgão e carecia de padrinhos na estrutura de poder do Estado Novo varguista, apesar de ter sido entusiasta do regime. Por um lado, o diplomata deveria sentir-se feliz simplesmente por ainda ter seu cargo. Em 1943, o ministro das relações exteriores, Oswaldo Aranha, aposentou compulsoriamente vários diplomatas, muitos deles em decorrência do ativismo nas fileiras integralistas.72 Por outro lado, ter levado seguidas “caronas”, como os diplomatas se referem ao serem ultrapassados na hierarquia por colegas mais jovens na lista de antiguidade, demonstrou que sua carreira estava estagnada e as chances de ser um dos grandes decisores da diplomacia eram mínimas. Quando Latour chegou ao Rio de Janeiro, em setembro de 1943, fazia cinco meses que haviam sido abertos os preparativos da celebração do centenário do nascimento do Barão do Rio Branco. A iniciativa decorreu da sugestão do intelectual e historiador Luiz Camillo de Oliveira, na época trabalhando na chefia do Serviço de Documentação do Departamento de Administração do Itamaraty. Ele foi um dos signatários do Manifesto dos Mineiros, primeira iniciativa organizada de oposição ao Estado Novo, sendo demitido após o episódio. Latour substitui-o.73 70 – Dezesseis outros desligaram-se no meio-tempo. 71 – Exame feito com base no Relatório do Ministério das Relações Exteriores de 1920 e no Almanaque de Pessoal de 1944 da mesma instituição. 72 – Inicialmente eram 24, mas no fim foram menos da metade. Carta de Oswaldo Aranha a Getúlio Vargas. Rio de janeiro. 2 de agosto de 1943. GV c 1943.08.02. Vol. XLI/48. 73 – Sobre o episódio e a substituição ver Maria Luiza PENNA, Luiz Camillo: perfil intelectual, 284-294.

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Uma de suas tarefas foi organizar uma coleção das obras completas do Barão do Rio Branco. Esta atividade aproximou o já experiente diplomata do acervo histórico do órgão. Ao fundo do palácio da rua Larga, o novíssimo prédio que acomodava o arquivo e a biblioteca dava um sentido de austera superioridade a um recanto tranquilo da atribulada avenida Marechal Floriano. Toda aquela riqueza de materiais primários e de publicações raramente era consultada; havia um fosso entre o passado e o modo depreendido pelo qual o cotidiano da diplomacia era conduzido. Jorge Latour, admirado com o acervo, estava, ao mesmo tempo, incomodado pela situação de abandono. Em sua opinião, esse material deveria “influir produtivamente sobre as gerações moças que ingressam na carreira diplomática e consular, de modo a exercer, até certo ponto, uma função universitária, uma ação de aperfeiçoamento, um estímulo à curiosidade sã e construtiva dos estudiosos”.74 Para isso, propôs a criação de uma Comissão Preparatória, na qual se integraria a publicação dos volumes da obra do Barão com um concurso para premiar uma biografia, uma exposição de documentos, um monumento, um filme, um ciclo de palestras e, por fim, a proposta de criação do “Instituto Rio Branco”, voltado para a pesquisa de seu patrono e ser “um centro de alta cultura e de estudos superiores e teóricos, relativas às matérias e funções da órbita de cogitações do Itamaraty”.75 A proposta de reforma, em 1944, foi estruturada no exame do que ocorria em outros países e, mais importante, atacava um dos principais problemas identificados por ele como fonte de atraso da sociedade brasileira: a carência de instituições que incutissem, de forma organizada e sistemática, um processo de elevação de conhecimento na juventude brasileira. Foi dentro dessa lógica que propôs a criação de uma instituição direcionada para 74 – De Latour para Lourenço Filho. 4 de dezembro de 1944. LF c 1945.03.07. Rolo 7. Fot 259. 75 – Álvaro Teixeira Soares. Jorge Latour. O Globo. 2 de outubro de 1985; Como será comemorado o centenário do Barão do Rio Branco. Uma palestra com o chefe do Serviço de Documentação do Itamaraty. Correio da Manhã. 28 de fevereiro de 1945.

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o ensino e treinamento de todas as matérias de interesse para a conservação e consolidação interna da nação e da nacionalidade brasileiras e de sua expansão ou projeção no exterior, mediante o desenvolvimento de sua política externa e de suas relações internacionais em seus diferentes aspectos (grifo no original).76

Como observamos, na década de 1920, a definição do que é uma “nação” e o próprio nacionalismo eram, em seu pensamento, associados ao processo de formação de uma elite intelectual, aspecto que atacava com essa proposta. Devemos notar, contudo, que o nacionalismo cultural e político apresentado por Latour, na década de 1940, era já ultrapassado – a maioria dos operadores do regime varguista atuavam sob a premissa de um nacionalismo econômico, voltado predominantemente para a industrializção. O IRBr seria um projeto, portanto, convergente com o pensamento conservador da década de 1920 de ir “ao encontro do povo como se fosse um objeto exótico, quase uma massa à qual é preciso dar forma (...)”.77 Na sua opinião, a nova organização deveria ser uma entidade mista, oficial e privada, com a forma civil de fundação, anexa ao Itamaraty e voltada tanto para a administração pública como para os interessados de forma geral, além de ofertar cursos avulsos e esporádicos para “cronistas internacionais” e “agentes comerciais no exterior”. Os modelos para a sua proposta eram o British Museum, o Louvre, o Pergamon e o Vaticano. Ao mesmo tempo em que enriqueciam seus patrimônios culturais, eram escolas de formação técnica e artística.78 Esse plano inicial, portanto, era muito diferente do que acabou sendo o IRBr. Primeiro, havia uma forte vinculação entre o acervo histórico do órgão e as atividades propostas – as últimas servindo para dar utilidade ao primeiro. Segundo, seria distinta 76 – De Latour para Lourenço Filho. 4 de dezembro de 1944. LF c 1945.03.07. Rolo 7. 77 – E. Bradford BURNS, Nationalism in Brazil: a historical survey, 77; Milton LAHUERTA, Os intelectuais e os anos vinte: moderno, modernista, modernização, 93114. 78 – Ele justificou tal desenho em decorrência da natureza do empreendimento e porque isso, em sua opinião, emprestaria maior solidez, estabilidade e recursos financeiros à instituição. De Latour para Lourenço Filho. 4 de dezembro de 1944. LF c 1945.03.07. Rolo 7.

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do ponto de vista administrativo em decorrência de sua maior independência com relação ao Itamaraty. Terceiro, e mais importante, voltar-se-ia para um público mais amplo. O diplomata levou seu plano a Carlos Alves de Souza, chefe do Departamento de Administração, provavelmente no início de 1944, e ao Ministro das Relações Exteriores, que aprovou a iniciativa em 19 de maio do mesmo ano. Posteriormente, Latour redigiu um resumo da iniciativa para o presidente da República. Os benefícios para o Itamaraty eram claros. Primeiro, era um passo importante na agenda de formação de pessoal. Segundo, poderia servir de plataforma para influenciar o processo de recrutamento de servidores, recuperando uma competência zelosamente guardada pelo Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) desde 1938. Terceiro, era proposta concreta em momento peculiar do ministério, que celebrava o centenário do nascimento do Barão do Rio Branco (Latour utilizou as reuniões da Comissão encarregada de celebrar o evento como caixa de reverberação interna de sua sugestão). Latour esmerou-se em apresentar sua ideia como convergente com o ideário do DASP. Ele propôs até que o futuro instituto mantivesse todos os cursos que o departamento desejasse organizar na área internacional, além de direcionar a proposta mais para a formação de servidores públicos e menos para atividades diletantes. Foi assim que conseguiu o beneplácito inicial do poderoso órgão que dava as cartas na administração orçamentária e organizacional do Estado Novo. Com o sinal verde, Alves de Souza assinou a Circular Telegráfica Nº 11, de 3 de outubro de 1944, divulgando no ministério pela primeira vez a ideia. A iniciativa chamava-se “Instituto Barão do Rio Branco” e a descrição de seus objetivos já era uma modificação do plano inicial de Latour. Agora, assemelhava-se a um centro de estudos e pesquisas, da forma que existia, já naquela época, nos Estados Unidos. Teria um currículo didático permanente em diversas áreas das ciências humanas e promoveria a vinda ao Brasil de grandes pensadores estrangeiros. Já se vislumbrava, contudo, seu papel como “escola especializada de preparação diplomática” e na formação dos funcionários já em exercício no órgão – os exemplos a guiarem a iniciativa, dessa

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maneira, deixaram de se ser o British Museum, o Louvre, o Pergamon e o Vaticano.79 Latour continuou a oferecer subsídios. Ele propôs a criação de cursos de história da cartografia, geografia das fronteiras do Brasil e mapoteconomia. O propósito não era somente a elevação do nível espiritual e acadêmico de seus participantes. Cogitou-se utilizar o curso para recrutar futuros técnicos da mapoteca – um primeiro sinal de que se tinha a intenção de captar diretamente os melhores alunos sem concurso. Posteriormente, foi deliberada a criação de um curso de prática e legislação consular. Latour, nesse momento, titubeou no alvo do Instituto. Apesar de, em suas manifestações iniciais, relevar o papel do público mais amplo, em dezembro de 1944, afirmou que as aulas seriam dedicadas, em grande parte, “aos quadros do Itamaraty e do alto funcionalismo público.” Bem mais restrito do que a versão original, porém mais amplo do que efetivamente se processou.80 Em 12 de abril de 1945, Leão Velloso, o novo ministro das Relações Exteriores, enviou o projeto a Getúlio Vargas. A redação da exposição de motivos acentuou as diferenças com as premissas originais concebidas por Latour. Enquanto este pensou o instituto primordialmente com uma função cultural, voltada para o público externo, o ministro das Relações Exteriores enquadrou-o mais ainda como uma ferramenta para “dotar os funcionários da carreira de ‘diplomata’ de um preparo que não [podiam] obter no regime normal do ensino”. Justificou-se sua criação pela necessidade de democratizar a carreira, no sentido de viabilizar a entrada no ministério de pessoas menos favorecidas e de regiões mais afastadas do país por intermédio de cursos gratuitos, organizados em colaboração com o DASP e convergente com o currículo dos concursos. Outra frente atacada no documento foi o processo de recrutamento. Recomendava o critério único de concurso de provas.81 79 – Circular Nº 11. Projeto de criação do Instituto Barão do Rio Branco. 3 de outubro de 1944. Maço 35.211. AHI-RJ. 80 – De Latour para Lourenço Filho. 4 de dezembro de 1944. LF c 1945.03.07. Rolo 7. Fot 259. 81 – De Leão Velloso para Getúlio Vargas. 9 de abril de 1945; De P. Leão Velloso para

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O Decreto-Lei Nº 7.473, de 18 de abril de 1945, criou o Instituto Rio Branco, “um centro de investigações e ensino”. No texto da lei, o novo órgão teria cinco finalidades. A primeira era “a formação, o aperfeiçoamento e a especialização de funcionários do Ministério das Relações Exteriores”. A segunda, “o preparo de candidatos ao concurso para a carreira de diplomata”. A terceira, a realização de cursos abertos para a sociedade, funcionando como uma universidade. Nesse mesmo sentido, propunha a difusão mediante conferência e cursos de “conhecimentos relativos aos grandes problemas nacionais e internacionais.” Por fim, estava a sistematização de dados e documentos e a realização de pesquisas sobre história política e diplomática. A regulamentação do instituto foi executada por uma comissão que começou a trabalhar em maio de 1945, com a participação de Hildebrando Accioly, Manoel Lourenço Filho (diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), Benedito Silva (DASP), Jorge Latour, Murillo Miranda Basto e Mellilo Moreira de Mello. Eles fizeram quatro reuniões, sob a presidência de Accioly. Aqui, é perceptível identificar uma crescente divergência entre os princípios defendidos por Latour, o que desejava a cúpula do Itamaraty (principalmente Accioly) e os interesses do DASP. Em uma reunião com Benedito Silva, Latour teria afirmado preferir “renunciar à criação do instituto a vê-lo reduzido a um órgão burocrático como Divisão, Serviço ou Seção.” Para ele, a independência administrativa era aspecto essencial para o sucesso de uma instituição que, em sua opinião, deveria focar em temas culturais – uma visão que defendia desde a década de 1926. O relator da comissão, que redigiu o regulamento, afirmou que as alterações tiraram “idealismo” e “elevação cultural”. Mas é um exagero. Elas só reforçaram o inevitável afastamento do Instituto do projeto inicial de Latour.82 A cerimônia de inauguração oficial ocorreu Getúlio Vargas. Criação do Instituto Rio Branco. 12 de abril de 1945. Maço 35.211. AHIRJ. 82 – De Mellilo Moreira de Mello para Hildebrando Accioly. 19 de setembro de 1945; Ata das reuniões da Comissão Designada para Elaborar o Regulamento e Plano de Trabalho do Instituto Rio Branco. 14 de julho de 1945; Proc Nº 16241/45. DASP. Regulamento do Instituto Rio Branco. Parecer. 30 de agosto de 1945. Maço 35.211. AHI-RJ.

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em 17 de maio de 1945, ainda sem a regulamentação do órgão, com a presença de Getúlio Vargas. O instituto foi instalado no terceiro andar do 83 prédio da rua Visconde da Gávea, que o Itamaraty acabara de adquirir. Qual a reação de Latour ao IRBr, em especial aos jovens formandos? Seu projeto inicial, que consubstanciava uma trajetória intelectual de duas décadas dedicada a pensar sobre a formação educacional do cidadão brasileiro, fora progressivamente distorcido. A instituição afastou-se de sua missão de aproveitar o acervo histórico do arquivo para o processo de formação educacional. Mais que isso, cerrou suas atenções para somente a corporação diplomática, esquecendo que o ponto fundamental da proposta era exatamente ser um eixo de formação de capacidade na própria sociedade. O fato de o instituto ter-se tornado um apêndice da estrutura burocrática do Itamaraty deve ter sido outro fator a trazer-lhe desgosto. A principal dificuldade de Latour, depois de uma década de funcionamento, era identificar algum sucesso da iniciativa. Ao observar os jovens diplomatas egressos da instituição, não os via como bastiões de uma nova elite reformadora da nação. Achava-os, sobretudo, soberbos. Saíam “do Rio Branco cheios de estudos e crêem que eles é que tem sabedoria”, disse em 1956.84 CONCLUSÃO Neste artigo, apresentamos a vida intelectual e a ação profissional do diplomata Jorge Latour. Ele adquiriu notoriedade na historiografia por dois motivos. O primeiro foi sua participação no processo que levou à criação do IRBr; o segundo, sua ação no tema imigratório. Ignorava-se, até agora, sua atividade como jornalista durante a década de 1920. 83 – Respectivamente ministrados por Adolfo de Camargo Neves, Fernando Antônio Raja Cabaglia, Everardo Backhauser, Affonso Varzes e Jaime Cortesão. De Mellilo Moreira de Mello para Hildebrando Accioly. 12 de dezembro de 1945. Maço 35.211. AHI-RJ; Inaugurado, ontem, o Instituto Rio Branco. Correio da Manhã. 18 de maio de 1945; Segundo Carlos Alves de Souza, foi um evento planejado abruptamente (Carlos Alves de SOUZA, Um embaixador em tempos de crise, 189). 84 – Notas taquigráficas da Reunião da Comissão de Estudos para a Reestruturação dos Serviços do Ministério, realizada em 22 de junho de 1956. Maço 84.258. AHI-BSB.

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Da data de criação do IRBr, em 1945, até sua morte, autor e obra nunca estiveram no mesmo patamar – e tampouco reconheciam-se. Com seu passado no movimento integralista e a documentação que redigiu quando esteve em Varsóvia e em Roma, seu nome tornou-se incômodo. Foi natural, portanto, o constrangimento com que o Itamaraty se viu diante dos eventos relacionados à criação do IRBr. Era melhor associá-lo ao patrono ilustre, o Barão do Rio Branco, do que à figura de um servidor periférico e controverso. Este trabalho buscou trazer vários avanços para a historiografia da política externa brasileira. A vida profissional de Latour demonstra que a área de recrutamento do Itamaraty era mais ampla do que se imaginava. Jovens de classe média que tivessem uma base educacional sólida não tinham obstáculos que não fossem as limitações de vagas – pelo menos na carreira de Secretaria de Estado. A emergência do concurso de provas facilitou a possibilidade desse grupo de aceder a um cargo nessa relevante repartição governamental. Tendo sido beneficiado pelas oportunidades que sua educação lhe ofertou no serviço público, foi natural Latour ter privilegiado tal questão na forma de pensar um programa de resgate da história e modernização cultural do país. O segundo aspecto foi identificar que grande parte da atividade intelectual dos servidores do Itamaraty, no Rio de Janeiro, dava-se fora do órgão, em rodas literárias, tertúlias intelectuais e atividade de imprensa. Essa dimensão ainda é pouco explorada na literatura, mas oferece a potencial pesquisadores uma arena mais complexa sobre como, na República Velha, era concebida a inserção internacional do país. O terceiro foi identificar Jorge Latour dentro de um núcleo de pensadores modernistas da década de 1920 preocupado com os aspectos educacionais da formação nacional brasileira. Esse grupo progressivamente abraçou ideias autoritárias, mas nunca se esquivou de indicar a importância da formação intelectual da juventude na conformação de um projeto de transformação social. Latour não abraçou nenhuma doutrina fixa e tampouco seu arcabouço intelectual guardou uma coerência padronizada. A defesa do fortalecimento do Estado diante da fragilização dos fluxos globais de pessoas,

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ideias e mercadorias harmonizou-se com a admiração pela Liga das Nações. Ele, contudo, acreditava que esses fluxos tinham efeito negativo caso não fossem organizados em uma matriz predeterminada. Como outros intelectuais da década de 1920, acreditava que no fortalecimento do Estado estava “o projeto da modernidade associada ao ideal de construção da nação”.85 Isso deveria ser conduzido, primeiro, pelo uso da tecnologia para integrar regiões separadas em um todo homogêneo; segundo, pela promoção da unidade racial; e, por fim, por um programa educacional voltado para a formação da juventude sob uma agenda nacionalista e de resgate da memória nacional. Foi este último aspecto que guiou sua iniciativa de criar o IRBr. Seu esforço, contudo, acabou sendo apropriado por outros atores. Jornais, revistas e publicações seriadas Almanak administrativo, mercantil e industrial do Rio de janeiro. Almanaque de Pessoal do Ministério das Relações Exteriores. América Brasileira. A Pacotilha. A Rua. Correio da Manhã. Diário de Notícias Diário Oficial da União. Gazeta de Notícias. Ilustração Brasileira. O Brasil. O Globo. O Imparcial. O Paiz. Relatório do Ministério das Relações Exteriores

85 – LAHUERTA, Os intelectuais e os anos vinte: moderno, modernista, modernização, 93-114.

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Outras fontes primárias Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio de Janeiro (AHI-RJ). Arquivo Histórico do Itamaraty em Brasília (AHI-BSB). Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC). Fundos Lourenço Filho (LF) e Getúlio Vargas (GV).

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Texto apresentado em julho/2015. Aprovado para publicação em agosto/2015.

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