O Sal - Concelho de Alcácer do Sal

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Descrição do Produto

Sal Freguesia/Concelho: União de Freguesias de Alcácer do Sal e Comporta Coordenadas: Bocas de Palma 38° 24' 57.28'' N / 8° 38' 37.71'' O *Rita Balona

Descrição: O sal é um produto indispensável ao Homem desde a mais remota antiguidade. Foi um dos mais importantes produtos, mesmo antes do uso refrigeração, ficando em segundo lugar a seguir ao cereal. O Sal foi usado na manufactura e preservação da comida, da pesca e de outras actividades que estavam dependentes deste produto do mar1. A zona da foz do rio Sado, Setúbal e Alcácer é um lugar onde se verifica uma imponente concentração de vestígios de actividades de exploração de recursos marinhos 2 . Apesar de pouca informação, em Setúbal e Alcácer acabaria por se desenvolver uma das mais importantes regiões da salicultura portuguesa com enorme volume de produção e exportação. O facto de esta actividade se desenvolver em estruturas de terra e utilizar instrumentos e materiais pobres, dificulta a sua conservação e identificação no registo arqueológico. As técnicas extrativas conservaram-se ao longos dos tempo, utilizando as mesmas áreas, no interior dos estuários, protegidas das grandes marés, mas alcançáveis pelas mesmas possibilitando a conserva da água salgada. Logo os vestígios de antigas salinas são quase impossíveis de datar a partir de observações de superfície, o que dificulta a investigação3. Sabe-se que a salicultura marinha é uma herança dos tempos romanos, mas já antes se desenvolvia no estuário do Sado uma intensa actividade de salga de peixe. As comunidades neolíticas do Baixo Sado praticavam alguma agro-pastorícia mas as suas actividades principais eram a pesca e recoleção de molusculos . É na zona da Comporta e Possanco que surgiu provas da exploração de sal no Neolítico e Calcolítico final, com a presença de suportes para a colocação de recipientes cerâmicos sobre lareiras, provavelmente para a concentração da salmoura/cristalização do sal. O processo que utilizavam para a obtenção de sal era o de ferver água do mar em pequenos recipientes até completa evaporação. Muito possivelmente, estas comunidades já fariam trocas de bens alimentares com produtos ligados a esta actividade como peixe salgado, sal, etc4. Não só através de materiais, a exploração do sal é reconhecida arqueologicamente a partir de depósitos, com zonas de sedimentação em ambiente de alta salinidade, na Comporta e zonas superiores do Possanco. Logo, a produção de sal marinho (via

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- Fotografia 1 (cedida por Fernando Jerónimo) - Fotografia 2(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 3 - Fotografia 3(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 4 - Fotografia 4(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 2

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ígnea) em moldes cerâmicos, já se fazia na segunda metade do IV e inicio do III milénio AC (Soares,2013). Já na época Romana o Sal ganha uma importância maior, apesar de ser um tema nunca verdadeiramente tratado devido à pouca informação nas fontes greco-romanas que apenas relatam grandes zonas de preparados de peixe na zona litoral5. É a forte presença de fabrico de ânforas romanas lusitanas, no Estuário da Sado principalmente no núcleo de Tróia, que sublinha a relevância da actividade pesqueira da região assim como da exportação dos recursos marinhos e dos preparados de peixe. Os grandes centros oleiros republicanos como Abul e Pinheiro produziam ânforas destinadas à exportação destes bens alimentares, o que, segundo abundantes referências ao sal, contribuíram muito para a economia da Lusitania. É exactamente no séc I dC que se generalizam as produções anfóricas (Fabião,2009). Mas é escassa as informações sobre as actividades de exploração do Sal6. Existem em toda a zona do Baixo Sado, como Tróia, várias áreas onde se conservam estruturas com cetárias, indicadores da produção de preparados de peixe que estariam altamente ligados ao uso do sal. Todas estas actividades (pesca, olaria, preparados de peixe) estariam ligadas entre si, mas as salinas romanas são muito difíceis de identificar assim como o seu contributo para o quadro social e económico da sua exploração7. As estruturas de exploração do sal são precárias e fortemente perecíveis e a sua estrutura parece ter-se mantido inalterada ao longo dos séculos. Deste modo, quando dispomos de evidências no terreno e/ou percetíveis na paisagem, muito difícil se torna identificar a sua cronologia. Mas é seguro afirmar que as zonas pesqueiras estariam ligadas à exploração de recursos marinhos como a salicultura8. As zonas pesqueiras de época romana têm 3 tipos de evidências possíveis: Cetárias para preparados de peixe; Olarias de fabrico de ânforas para transporte de bens alimentares; Marinhas para extração de sal. A pesca e a actividade conserveira encontravam-se do lado do mar e a salicultura e produção oleira do lado da terra. Estas actividades poderiam ser produções independentes apesar de se articularem entre si pois, por exemplo, nem todas as olarias esgotavam a produção de ânforas e nem todo o sal se destinava á preparação do peixe (Fabião, 2009). A técnica tradicional ou típica de extracção de sal nas marinhas do Baixo Sado denominava-se de método de "feltro". Era usado um manto de algas que cobria o fundo dos reservatórios e que contribuía para filtrar as impurezas em suspensão na água. Pensa-se que foi este método usado durante toda a época romana e é também de realçar que seria necessária uma área terrestre muito extensa para o fabrico do sal devido ao enorme complexo de Tróia9.

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- Fotografia 5(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) - Fotografia 6(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 7 - Fotografia 7(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 8 - Fotografia 8(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 9 - Fotografia 9(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 6

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É também na época islâmica que se verifica um silêncio nas fontes escritas acerca da produção do sal. Estes estariam mais empenhados em sublinhar a riqueza agrícola do Garb al-andaluz do que em mencionar os recursos marinhos o que pode justificar a escassa atenção que se deu á salicultura. Mas quando a conquista Cristã chega ás áreas do sudoeste da Península Ibérica, no séc. XII, a exploração do sal prosseguia apesar da organização do território e comércio ter sido um processo lento10. Em 1378, o rei D. Fernando quitou o alfolim do sal para estimular a produção e o comércio local mas só a partir do séc. XV e XVI se deu um grande desenvolvimento no comércio e pesca no estuário do Sado. Isto fez crescer a actividade salineira o que levou a uma série de aforamentos e sesmarias sobre locais onde novas marinhas se iam construindo (Rau,1984)11 . Foi no séc. XVI que através de um pedido ao Mestrado de Santiago na comarca de Setúbal para que reparassem os danos nas marinhas sadinas. Nesta altura já a Ordem de Santiago era a responsável pela manutenção, construção das salinas no país. Estavam activas, na zona de Alcácer, nesta altura as salinas de Espim, Abul, Telhada, Palma, Alberge, Montevil, Batalha, Fonte Santa, Enxarroqueira e Musgos. As marinhas de Setúbal e Alcácer do Sal nos séculos XV e XVI atingiram o seu auge de produção, tendo sido um dos centros de exportação de sal mais importantes da Europa. As rotas do Baixo Sado ligavam as rotas do Oeste Europeu, com o Norte da Europa, Báltico e Escandinávia e foram essenciais para a sobrevivência de produções locais e de outras rotas comerciais (Rau, 1958). A importação do sal português, principalmente do sal do estuário do Sado, teve um grande impacto na relação Portugal - Amesterdão. A sua importância foi tal que graças ao sal das salinas de Setúbal e Alcácer, Portugal pagou à Holanda 4.000.000 de cruzadas pondo assim termo ao conflito entre os dois países e libertando o território do Brasil da ocupação holandesa. Nesta altura estas mesmas marinhas tinham áreas de exploração compreendidas entre os 6.5 e os 5.2 hectares. A maioria na ordem dos 2.9 a 1.5 hectares12. Nos finais do séc. XV, o Cardial D. Henrique criou uma instituição denominada "Roda do Sal" com o fim de fixar preços e evitar uma verdadeira anarquia que pairava no comércio do Sal. Segundo esta instituição e o sistema de "repartição do sal", ordenada por D. João IV, estava em "causa não apenas calcular, estipular e efectuar a cobrança de direitos, mas prever que a venda do sal fosse feita proporcionalmente à colheita de cada produtor, numa distribuição ordenada, sem preferências de marinhas, evitando descida de preços que a venda livre fomentava" (Amorim, Inês)13. A prosperidade e incremento das salinas do vale do Sado pouco ultrapassou o séc. XVIII. A abolição da "Roda do Sal" em 1852, provocou um descalabro total numa exploração já muito abalada e com o desenvolvimento da salicultura nos países do 10

- Fotografia 10(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) - Fotografia 11(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 12 - Fotografia 12(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 13 - Fotografia 13(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 11

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Norte da Europa, a exportação do sal português começou a diminuir até se extinguir por completo 14 . Os produtores abandonaram as marinhas e a produção desceu acentuadamente. Esta decadência da exportação do sal foi notória ao longo da segunda metade do séc. XIX e das primeiras décadas do séc. XX15. Já no séc. XX criou-se uma Comissão Reguladora para assegurar a estabilidade do comércio pela fixação de preços e delimitação de zonas de escoamento natural do sal, para pôr fim aos abusos que se vinham praticando16. Hoje em dia a produção por marinha salgada de Alcácer pouco passa das 200 toneladas anuais. Nos últimos anos bastantes marinhas têm sido dessalgadas para se transformarem em arrozais, por motivos de maior lucro17. Estendiam-se numa área de cerca 40 km e produzem um tipo de sal branco, formado por rijos e grossos cristais de grande pureza 18 . A partir da década de 60 eram conhecidas na área de Alcácer cerca de 137 marinhas, localizadas nas duas margens do rio, divididas pelos grupos de salinas de Enxarroqueira, Musgos, Batalha, Montevil, Telhada, Alberge, Palma e Fonte Santa, Espim, Abul, Pera e Faias19. Actualmente na zona de Alcácer existe apenas uma salina activa, a salina da Batalha do proprietário Venâncio Bicha.

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- Fotografia 14(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) - Fotografia 15(cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 16 - Fotografia 16 (cedido por fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal) 17 - Fotografia 17 (mapa cedido po Dr. António Rafael Carvalho) 18 - Fotografia 18 (Cedido por Fernando Jerónimo) 19 - Fotografia 19 (Cedido por Fernando Jerónimo) 15

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Bibliografia

AMORIM, Inês , Monopólio e Concorrência- A "Roda do Sal" de Setúbal (Portugal) e as Rotas Internacionais (Segunda metade do século XVII a inícios do XIX), in "A Articulação do Sal Português aos circuitos Mundiais - Antigos e Novos Consumos", p. 183-209.

ANTUNES, Cátia, The commercial relantionship between Amsterdam and the Portuguese salt - Exporting ports: Aveiro and Setúbal 1580-1715, in "A Articulação do Sal Português aos circuitos Mundiais - Antigos e Novos Consumos", p. 161-181.

ASSIS, José Luís , Algumas palavras sobre a Extracção do Sal nas Salinas Portuguesas no século XIX: O Sal do Rio Sado (1), in "Revista Neptuno", Associação de defesa do património cultural de Alcácer do Sal (ADPA).

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C.R.D.Q.F., Comissão Reguladora dos produtos Químicos e Farmacêuticos, 1957, "Inquérito à Industria do Sal - Salgado de Alcácer do Sal", vol. VI.

QUINTAS, Maria da Conceição, 1998, "SETÚBAL - Economia , Sociedade e Cultura Operária 1880-1930", Livros Horizonte, Lisboa.

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O SAL, Roteiros, Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Fundo local da Biblioteca Municipal de Alcácer do Sal.

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RAU, Virgínia, 1984, "Estudos sobre a História do Sal Português", Editorial Presença, p. 66-88.

RIBEIRO, Américo, 1993, "Um Tesouro Guardado - Setúbal d'outros tempos", 3ª edição, Setúbal.

SILVEIRA, Ana Cláudia, "Setúbal na Baixa Idade Média: Intervenientes e protagonistas da actividade económica num núcleo portuário urbano", p.1-18.

SOARES, Joaquina; SILVA, Carlos Tavares, 2013, "Economia agro-marítima na Pré-história de estuário do Sado. Novos dados sobre o Neolítico da Comporta", in "Pré-história das zonas húmidas - Paisagens de Sal", vol. 14, Setúbal Arqueológica, p. 145-170.

SOARES, Joaquina, 2013, "Sal e conchas na Pré-história portuguesa. O Povoado da Ponta da Passadeira (estuário do Tejo)", in "Pré-história das zonas húmidas - Paisagens de Sal", vol. 14, Setúbal Arqueológica, p. 171-196.

VIRGOLINO, Francisco Benedito Marques, " Inquérito á Indústria do Sal Salgado de Alcácer do Sal", Lisboa 1957.

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ANEXOS

Fotografia 1 - Salinas recentes

Fotografia 2 salinas antigas

[Escrever texto] Fotografia 3 -salinas antigas

Fotografia 4 - salinas antigas

Fotografia 5 -salinas antigas

[Escrever texto] Fotografia 6 salinas antigas

Fotografia 7 salinas antigas

Fotografia 8 salinas antigas

[Escrever texto] Fotografia 9 salinas antigas

Fotografia 10 salinas antigas

Fotografia 11 salinas antigas

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Fotografia 12 salinas antigas

Fotografia 13 salinas antigas

Fotografia 14 salinas antigas

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Fotografia 15 salinas antigas

Fotografia 16 salinas antigas

Fotografia 17 - mapa de salinas séc XIX

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Fotografia 18 - salinas recentes

Fotografia 19 salinas recentes

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