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O SERTÃO AMAZÔNICO COMO UM DESERTO Leandro Belinaso Guimarães

RESUMO: O artigo resulta de uma investigação de doutorado que estudou processos implicados na nacionalização da Amazônia brasileira, no período inicial da República. Defende-‐se a tese de que estavam em articulação processos culturais que buscaram nacionalizar o território amazônico concebendo-‐o como “abandonado” e “desértico”. 0RGRVGHQDUUDUDÁRUHVWDQRLQtFLRGRVpFXOR;;SURPRYHUDPXPDGHVFRQWLQXLGDGHFRP IRUPDV HQFRQWUDGDV QDV OLWHUDWXUDV GH YLDJHP GR VpFXOR ;,; 2 HVWXGR PHUJXOKRX QRV PDWHULDLVSURGX]LGRVSHODYLDJHPRÀFLDOGH(XFOLGHVGD&XQKDjÁRUHVWDHPFRPR &KHIHGHXPD&RPLVVmRTXHGHOLPLWDULDDVIURQWHLUDVDPD]{QLFDVGR%UDVLOFRPR3HUXH a Bolívia. PALAVRAS-‐CHAVE: $PD]{QLD(VWXGRVFXOWXUDLV(XFOLGHVGD&XQKD/LWHUDWXUD THE AMAZON SEEN AS A DESERT ABSTRACT:7KLVDUWLFOHFRPHVIURPDGRFWRUDOUHVHDUFKWKDWVWXGLHGSURFHVVHVLQYROYHG LQ WKH QDWLRQDOL]DWLRQ RI WKH %UD]LOLDQ $PD]RQ LQ WKH HDUO\ SHULRG RI WKH 5HSXEOLF ,W GHIHQGVWKHWKHVLVWKDWFXOWXUDOSURFHVVHVZHUHEHLQJFRQVLGHUHGLQRUGHUWRQDWLRQDOL]H WKH$PD]RQ WHUULWRU\ UHJDUGLQJ LW DV ´DEDQGRQHGµ DQG ´GHVHUWHGµ7KH ZD\ WKH IRUHVW ZDVGHVFULEHGLQWKHHDUO\WZHQWLHWKFHQWXU\SURPRWHGDGLVFRQWLQXLW\EHWZHHQWKHIRUPV IRXQGLQWKHWUDYHOOLWHUDWXUHRIWKHQLQHWHHQWKFHQWXU\7KHVWXG\GHHSHQHGLQWRPDWHULDO SURGXFHGE\(XFOLGHVGD&XQKDCVRIÀFLDOWULSWKHIRUHVWLQDVKHDGRID&RPPLVVLRQ WRGHOLPLWWKHERUGHUVRI%UD]LODQGWKH$PD]RQLDQ3HUXDQG%ROLYLD KEY WORDS:7KH$PD]RQ&XOWXUDOVWXGLHV(XFOLGHVGD&XQKD/LWHUDWXUH *

Dr. em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Prof. do Programa de Pós-­Graduação em Educação, Coord. do “Grupo Tecendo – Educação Ambiental e Estudos Culturais”. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Educação, Depto. de Metodologia de Ensino. Campus Universitário – Trindade – CED/MEN sala 21. 88040-­900 Florianópolis, SC, Brasil. Agência Financiadora: CAPES/Brasil. E-­mail: [email protected] Recebido em: 10/09/2010 Avaliado em: 22/09/2010

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INTRODUÇÃO

O

presente ensaio é resultado de uma investigação de doutorado que procurou compreender aspectos relativos aos processos implicados na nacionalização da Amazônia brasileira, no período inicial da República GR%UDVLOQRFRPHoRGRVpFXOR;;1HVWHHVWXGRGHIHQGRDWHVHGHTXHHVWDYDP em articulação, naquele período da Primeira República brasileira, processos sociais, políticos, culturais e econômicos que buscaram nacionalizar o território amazônico. Em outras palavras, tais processos visaram, efetivamente, tornar aquele território, concebido como “abandonado” e “desértico” (ou seja, sem marcas de civilização), IDPLOLDU j QDomR LQWHJUDGR D HOD H YROWDGR DR VHX GHVHQYROYLPHQWR H DR VHX progresso, tanto econômico como social. Tais pretensões instituíram determinados PRGRV GH QDUUDU D ÁRUHVWD QDTXHOHV WHPSRV SURPRYHQGR XPD GHVFRQWLQXLGDGH FRPIRUPDVSUHGRPLQDQWHVHQFRQWUDGDVQDVOLWHUDWXUDVFLHQWtÀFDVHHVWUDQJHLUDVGH YLDJHP²HVFULWDVQRGHFRUUHUGRVpFXOR;,; 2 HVWXGR PHUJXOKRX QRV PDWHULDLV HVFULWRV SRU XP LPSRUWDQWH ´OLWHUDWRµ EUDVLOHLUR(XFOLGHVGD&XQKD SURGX]LGRVHPGHFRUUrQFLDGHVXDYLDJHPjÁRUHVWD HP  FRPR &KHIH GH XPD &RPLVVmR SDWURFLQDGD SHOR 0LQLVWpULR GDV 5HODo}HV Exteriores, que procurou mapear o rio Purus (desde sua desembocadura em Manaus até suas cabeceiras no atual Estado brasileiro do Acre) e, com isso, delimitar as fronteiras amazônicas do Brasil com o Peru e a Bolívia. É importante ressaltar TXH (XFOLGHV GD &XQKD KDYLD VLGR DOoDGR j SRVLomR GH XP LPSRUWDQWH SHQVDGRU H escritor dos territórios “abandonados” da nação (dos seus interiores repletos de XPD QDWXUH]D KRVWLO j RFXSDomR H DR SURJUHVVR FLYLOL]DFLRQDO TXH VH DOPHMDYD DR SDtV  2 HVFULWRU KDYLD YLVWR SRU GHQWUR R GHVHQURODU GR OHYDQWH GH &DQXGRV XPD ´UHYROWDµ SRSXODU FRQWUiULD j 5HS~EOLFD TXH VH LQVWDODYD QR SDtV VHJXQGR D YLVmR RÀFLDO GDTXHOH PRPHQWR  QR VHUWmR EUDVLOHLUR FRPR HQYLDGR GR MRUQDO ´2 (VWDGR GH6mR3DXORµ7DOH[SHULPHQWDomRMRUQDOtVWLFDTXHLQFOXLXRDFRPSDQKDPHQWRGR massacre dos insurgentes pelas tropas militares republicanas, permitiu ao viajante escrever sua obra considerada máxima: “Os Sertões”, tido como um dos principais livros da literatura brasileira. E mais, essa obra foi consagrada, e publicada com ´r[LWR IXOPLQDQWHµ GHVGH R PRPHQWR GH VXD SULPHLUD HGLomR HP  $%5(8 1998). A investigação toma os textos euclidianos sobre a Amazônia como exemplares GH GLVFXUVRV FLUFXODQWHV QDTXHOH SHUtRGR TXH DWXDUDP QD LQVWLWXLomR GD ÁRUHVWD como um território nacional. (VWHWUDEDOKREXVFDUHÁHWLUHVSHFLDOPHQWHVREUHXPDGDVSHGDJRJLDVeuclidianas VREUHD$PD]{QLDDLQVWLWXLomRGDÁRUHVWDFRPRXPWHUULWyULRGHVpUWLFR$QHFHVVLGDGH de se vencer o deserto instalado no sertão amazônico, que sufocava terras e gentes,

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foi um dos ensinamentos que o viajante pretendeu instaurar nos sujeitos responsáveis pela construção de uma nação brasileira desenvolvida, integrada e próspera de progresso e de civilização. Argumenta-‐se, a partir do campo multifacetado dos estudos culturais em educação, em suas vertentes pós-‐estruturalistas de pesquisa &267$  6,/9(,5$   H GRV HVWXGRV FXOWXUDLV GD FLrQFLD :2570$11 H VEIGA-‐NETO, 2001), que tais produções estiveram implicadas, ainda, na produção discursiva do território amazônico como um território nacional. Naquela época, conforme se defende na tese, a Amazônia foi produzida como um território à margem da história, FRPR ´GHVpUWLFRµ GH FLYLOL]DomR H FRPR RFXSDGR SRU JUXSRV KXPDQRV Q{PDGHVHQÀPDTXHODHUDXPDWHUUDVHJXQGRGLVFXUVRVFLUFXODQWHVjpSRFDTXH WRUQDYDHVWUDQJHLURVRVEUDVLOHLURVTXHVHDYHQWXUDYDPDWUDEDOKDUQRFDORUGDÁRUHVWD YLVDQGRPHOKRUHVFRQGLo}HVGHYLGDIXWXUDDWUDYpVGDH[WUDomRGDERUUDFKD²FXMD produção estava no auge naquele período (ALMEIDA, 2004; DAOU, 2000; ARAUJO,   $VVLP SRU HVWH GXSOR DEDQGRQR HP TXH VH HQFRQWUDYDP WDQWR D ÁRUHVWD FRPR RV EUDVLOHLURV TXH Oi YLYLDP HUD SUHFLVR LQWHJUDU D ÁRUHVWD j QDomR WRUQDU aquele território “familiar” e repleto de marcas de progresso e de desenvolvimento econômico e social. Nessa direção argumentativa, o presente estudo salienta que RVPDWHULDLVSURGX]LGRVHPGHFRUUrQFLDGDYLDJHPRÀFLDOGHGHOLPLWDomRWHUULWRULDO GH (XFOLGHV GD &XQKD VREUHWXGR R GLiULR H R UHODWyULR GH YLDJHP  GLIHUHQFLDP se, sobremaneira, dos relatos de viagem processados por naturalistas e demais YLDMDQWHV HVWUDQJHLURV TXH SHUFRUUHUDP D ÁRUHVWD QR GHFRUUHU GR VpFXOR ;,; FXMR ROKDU´FLHQWtÀFRµHUDSURHPLQHQWHYLVWRTXHGHVFUHYLDP²FRQIRUPHVHSRGHOHUQR sumário do livro “Quadros da Natureza” do importante naturalista alemão Alexander YRQ+XPEROGW ²´DYLGDQRWXUQDGRVDQLPDLVµD´ÀVLRQRPLDGDVSODQWDVµ´R papel dos insetos alados”, “as observações termométricas”, etc. Embora a viagem de (XFOLGHVGD&XQKDWLYHVVHWDPEpPDSUHVHQWDGRXPLQWXLWR´FLHQWtÀFRµRULR3XUXV foi, efetivamente, medido, catalogado, mapeado), a “necessidade” de nacionalizar o território amazônico exigiuHQWUHRXWUDVFRLVDVRDSDJDPHQWRGDVPDUFDVFLHQWtÀFDV HHVWUDQJHLUDVTXHRVYLDMDQWHVQDWXUDOLVWDVLQVFUHYHUDPQDÁRUHVWDQRGHFRUUHUGR VpFXOR;,; Tecidas estas considerações introdutórias, passo a marcar sucintamente aquilo TXHLUiFRPSRUHVWHWUDEDOKR'HVWDFRQHVWHHQVDLRVREUHWXGRFRPRVHLQVWLWXLXXPD pedagogia para a Amazônia naqueles tempos iniciais de nossa República, que buscava DSDJDUGLVVROYHUYHQFHURGHVHUWRHPTXHHVWDYDMRJDGDDÁRUHVWD1HVVDGLUHomR SRQWXRLQFOXVLYHGHTXHPRGRIRLSRVVtYHOXPDÁRUHVWDH[XEHUDQWHJUDQGLRVDHMi tantas vezes enunciada como um paraíso terrestre, ser instituída como um território desértico.

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UMA PEDAGOGIA EUCLIDIANA PARA A AMAZÔNIA: VENCER O DESERTO 3HUFRUUHUD$PD]{QLDGRLQtFLRGRVpFXOR;;HUDXPDWDUHIDPRQyWRQDSRLVRV YLDMDQWHV DYDQoDYDP VREUH XP WHUULWyULR GHVpUWLFR 2 ¶'LiULR GD 0DUFKD· UHODWR escrito pelos tripulantes da viagem euclidiana SHODÁRUHVWDGHVFUHYHHPPXLWDVGH VXDVSDVVDJHQVDPRQRWRQLDTXHDFRPSDQKDYDRVYLDMDQWHVSHORGHVHUWRDPD]{QLFR No decorrer de suas páginas, comumente encontrei passagens como a escrita no GLD  GH DEULO GH  ´FRQWLQXD D PHVPD PRQRWRQLD D ERUGR DV SDLVDJHQV VH sucedem sem, contudo, variarem” (BRASIL, 1994). Como destaca Graciela Montaldo (2004), em suas análises sobre o pampa argentino, “o pampa, o deserto, é assim XP WHUULWyULR PRQyWRQR RQGH QmR VH SRGH WUDoDU OLQKDV HUJXHU FHUFDV H PXLWR menos sobreviver” (p. 132). Penso, então, a partir dessas passagens, que a Amazônia EUDVLOHLUDHRSDPSDDUJHQWLQRHVWDYDPXQLGRVQRLQÀQGiYHOYD]LRGHVHXVWHUULWyULRV pois em ambos os casos uma monotonia escaldante abatia os transeuntes que se aventuravam a percorrer seus territórios. 1RFDVRGD$PD]{QLDFDXFKHLURVSHUXDQRVHVHULQJXHLURVEUDVLOHLURVpreencheram DTXHOH GHVHUWR ÁRUHVWDO QDTXHOHV WHPSRV LQDXJXUDLV GD 5HS~EOLFD GR %UDVLO &RPR DUJXPHQWRX (XFOLGHV GD &XQKD E  HP VHX 5HODWyULR RÀFLDO GD YLDJHP FDXFKHLURVHVHULQJXHLURVFRQVWLWXtDP´GXDVVRFLHGDGHVQRYDVHRULJLQDLVµQDTXHOHV OXJDUHVS SRLVDPEDVMiDSUHVHQWDYDPHPVLPHVPDVDWULEXWRVGDFLYLOL]DomR pois, embora “estrangeiros” naquelas paragens, não eram tidos como bárbaros ou VHOYDJHQV WDLV FRPR RV DJUXSDPHQWRV LQGtJHQDV HVWHV VLP FRP KiELWRV GH YLGD FRQIRUPDGRVSHODKRVWLOLGDGHGDÁRUHVWD&DXFKHLURVHVHULQJXHLURVSHORFRQWUiULR EXVFDYDP GRPiOD SUHHQFKrOD FRQTXLVWiOD 2V JUXSRV LQGtJHQDV HVWDYDP YHQFLGRV SRU XPD QDWXUH]D KRVWLO FDyWLFD GHVpUWLFD GHVHQFDQWDGD 2 YLDMDQWH QmRGHVFRQVLGHUDTXHDVRFXSDo}HVGRVFDXFKHLURVHGRVVHULQJXHLURVQD$PD]{QLD WHQKDPWLGR´XPDIXQomRQRWDELOtVVLPDQRatual PRPHQWRKLVWyULFRGD$PpULFDGR Sul” (p.138). A função a que se refere o autor é o preenchimentoGDÁRUHVWDVXD RFXSDomRVXDSDXODWLQDWUDQVIRUPDomRHQÀPVXDFRQTXLVWDVREUHRGHVHUWR1DV palavras do viajante: De fato, sem eles toda a vasta região que vai de norte a sul, GDV ~OWLPDV FDEHFHLUDV GR ,QDPEDUL j IR] GR7DUDXDFD >@ VHULD DLQGD R GHVHUWR (CUNHA, 1994b, p. 138)

Sobral, erguido em 1898 [pelos seringueiros], demarca hoje [1904] a mais avançada atalaia dessa enorme campanha com o deserto. [...] qua-­ tro quintos do majestoso rio estão completamente povoados de brasilei-­ ros, sem um hiato, sem a menor falha de uma área em abandono, ligadas as extremas de todos os seringais... (CUNHA, 1994a, p.164)

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Plantara uma cidade [o Coronel Antônio Rodrigues Pereira Labre, ain-­ da nas últimas décadas do século XIX]. Lábrea surgira em breve no de-­ serto, perpetuando-­lhe o nome, e tornando-­se o mais avantajado ponto de apoio à conquista que prosseguia. (CUNHA, 1994a, p. 160) Como se pode ler nessas passagens, era a conquista do deserto amazônico que estava em jogo naqueles tempos. Considero importante salientar que a metáfora do deserto, utilizada para narrar e instituir um exuberante e vasto território longínquo, esquecido e não-‐civilizado da nação, como a Floresta Amazônica, já perfazia as textualidades constitutivas de outras amplas regiões do norte do Brasil (tal como o FKDPDGRDWXDOPHQWHVHUWmRQRUGHVWLQR ²YDOHOHPEUDUTXHQRLQtFLRGRVpFXOR;; o nordeste ainda não emergira como uma territorialidade singular, ou seja, o país dividia-‐se, somente, entre o norte e o sul. (ALBUQUERQUE, 2001) Em Os SertõesFRQVLGHUDGDDSULQFLSDOREUDGH(XFOLGHVGD&XQKDSRGHVHOHU uma narrativa que dramaticamente nos vai mostrando o quanto a caatinga das regiões VHPLiULGDVEUDVLOHLUDVDIRJDRYLDMDQWH´DEUHYLDOKHRROKDUDJULGHRHHVWRQWHLDR HQODoDR QXPD WUDPD HVSLQHVFHQWH H QmR R DWUDL UHSXOVDR >@µ &81+$  S 'HSRLVDRUHIHULUVHDRVHUWmRHPWHPSRVGHUDUDVFKXYDVRDXWRUFKHJDD marcá-‐lo como um paraíso, no qual sua fauna resistente ressurge, pois ao “sobrevir GDVFKXYDVDWHUUD>@WUDQVÀJXUDVHHPPXWDo}HVIDQWiVWLFDVFRQWUDVWDQGRFRP a desolação anterior” (p.48). Porém, após alguns poucos meses nessa conformação SDUDGLVtDFD´VXUGDPHQWHLPSHUFHSWLYHOPHQWH>@DVHFDVHGHVHQKDRXWUDVYH]HV QDVUDPDJHQVPRUWDVGDViUYRUHVGHFtGXDV>@µS Os desertos não são criados, segundo a epopeia euclidiana, simplesmente, pela QDWXUH]D$IDOWDGHFKXYDHPXPDOHLWXUDSRXFRDWHQWDDWpSRGHULDVHUYLVWDFRPRD UD]mRPDLVLPSRUWDQWHHHIHWLYDPHQWHVHFRQÀJXUDFRPRXPDJHQWHGDFRQIRUPDomR desértica da caatinga), para explicar porque vastas regiões da nação se tornaram tão LQyVSLWDVSHORPHQRVSDUDDYLGDKXPDQDSRLVKiLQ~PHUDVHVSpFLHVGHVHUHVYLYRV TXH VmR FRQVLGHUDGDV HQGrPLFDV QD FDDWLQJD  3RUpP R HVFULWRU YDL PDUFDQGR HP Os SertõesTXHKLVWRULFDPHQWHDVSUiWLFDVGHIRJRWDQWRGRV´VLOYtFRODVµFRPRGRV colonizadores, foram ações incendiárias “fazedoras de desertos”. Além de marcar as SUiWLFDVHFRQGXWDVKXPDQDVFRPRDSUHVHQWDQGRUHVSRQVDELOLGDGHVSHODFRQVWUXomR de um território desértico, o autor sugere uma saída para extingui-‐lo: produzir XPFRQMXQWRGHWHFQRORJLDVFDSD]HVGHHVWDQFDUHEDUUDUDViJXDVGDVFKXYDVSRU períodos de tempo maiores. Se em parte pelo menos os desertos foram construídos SRU SUiWLFDV KXPDQDV PDV WDPEpP SHOD QDWXUH]D  VHUmR DV WHFQRORJLDV GH XPD FLYLOL]DomRTXHPDUFKDUXPRDRSURJUHVVRTXHIDUiFRPTXHHOHVVHMDPYHQFLGRV1DV SDODYUDVGH(XFOLGHVGD&XQKDD 

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Não há mais elevada missão à nossa engenharia. Somente ela, ao cabo de uma longa tarefa (que irá das cartas topográficas, e hipsométricas, aos dados sobre a natureza do solo, às observações metereológicas sistemá-­ ticas e aos conhecimentos relativos à resistência e desenvolvimento da flora), poderá delinear o plano estratégico desta campanha formidável contra o deserto. (p.155) $FDDWLQJDDVHFDDVTXHLPDGDVSURYRFDGDVSHODVSUiWLFDVKXPDQDVDVHVFDSDGDV UiSLGDVGDViJXDVGDFKXYDDLQRSHUDQWHDomRJRYHUQDPHQWDOFRPEDWHQGRWDOIXJD toda essa imagem do deserto construída por Euclides, na primeira parte (A Terra) de Os SertõesSDUHFHHVWDUPXLWRGLVWDQWHGHXPDUHJLmRFRPRDÁRUHVWDDPD]{QLFD7DO FRQVWDWDomRPHID]SHUJXQWDUFRPRD$PD]{QLDSDVVRXWDPEpPDVHUFRQÀJXUDGD como um território desértico do Brasil? De que modo tal conformação passou a emergir como aglutinadora de um mesmo modo de referir-‐se a espaços tão distintos HPVHXVDVSHFWRVJHRJUiÀFRVELROyJLFRVVRFLDLVHFXOWXUDLV"(VVDVSHUJXQWDVID]HP VHQWLGR QHVWH PRPHQWR SRLV p UHFRUUHQWH FRPR GHVWDTXHL QR LQtFLR GR WUDEDOKR QD OLWHUDWXUD GH (XFOLGHV GD &XQKD VREUH D$PD]{QLD D PHWiIRUD GR GHVHUWR SDUD GHVFUHYHU LQVWLWXLU H QDUUDU WDO WHUULWyULR (XFOLGHV HP FDUWD HVFULWD HP MXOKR GH 1908, para seu amigo Alberto Rangel, nos diz:

[...] anseio por outro mergulho no deserto. O deserto é para mim o Brasil ainda indene, ainda não ocupado por uma gente que não o merece. Mas não sei quando terei a ventura de ver-­me outra vez na sociedade feliz dos rios, das constelações e das montanhas. (CUNHA apud LEÃO, 1946, p. 90) (P XPD HQWUHYLVWD FRQFHGLGD HP  SDUD XP MRUQDO GH 0DQDXV R YLDMDQWH UHODWD XPD SDVVDJHP GD YLDJHP QD TXDO H[SOLFLWD D YLQFXODomR GD ÁRUHVWD FRP D LPDJHPGRGHVHUWR9HMDPRVHVWHHOXFLGDWLYRWUHFKRQDVSDODYUDVGRYLDMDQWH

[...] levamos um mês para chegarmos à boca do Acre; e quinze dias depois, a 21 de maio [1905], tivemos de estacar antes da confluência do Chandless, em virtude do lamentável naufrágio do batelão Manoel Ur-­ bano, onde iam os nossos gêneros. Retidos pelo doloroso incidente, que nos desaparelhava de recursos precisamente à entrada do deserto, e im-­ punha a reorganização da comissão enfraquecida justamente na ocasião em que deviam multiplicar-­se as suas energias para investir com o des-­ conhecido. [...] Íamos para o misterioso. (CUNHA, 1995b, p. 554, 555)

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,QLFLRPLQKDVUHÁH[}HVVREUHDVLQGDJDo}HVDQWHULRUHVTXHFRPSXV²VREUHFRPR foi possível associar a imagem do deserto a um território ao mesmo tempo visto FRPR H[XEHUDQWH YLVWRVR UHSOHWR GH XPD VXUSUHHQGHQWH IDXQD H ÁRUD ² ID]HQGR UHIHUrQFLDDXPDUWLJRGH:DOQLFH1RJXHLUD*DOYmR 1HOHDDXWRUDGL]TXHDV VRFLHGDGHVPDUtWLPDRVKRPHQVGRPDU IRFDGDQDOLWHUDWXUDGH-RVHSK&RQUDG VHUWDQHMDIRFDOL]DGDQDREUDGH(XFOLGHVGD&XQKDHDEHGXtQDQDGH7KRPDV(GZDUG /DZUHQFH²HVVHVWUrVLPSRUWDQWHVHVFULWRUHVGRÀQDOGRVpFXOR;,;HLQtFLRGRVpFXOR ;;²IRUDPFRQVWUXtGDVHPFRQWUDVWHFRPDVVRFLHGDGHVXUEDQDV,VVRSRGHULDH[SOLFDU DDJOXWLQDomRGDÁRUHVWDHGRVHUWmRQDPHVPDPHWiIRUDGHVpUWLFDMiTXHDPERV VHULDP YLVWRV FRPR WHUULWyULRV QmRFLYLOL]DGRV FRQWUDSRVWRV j FLYLOL]DomR XUEDQD H litorânea nas cidades em desenvolvimento da nação brasileira. Porém, como destaca DSUySULDSHVTXLVDGRUDKiXPDLQYHUVmRGDGXDOLGDGHSRLVQRPDUQRVHUWmRRXQR deserto (no caso euclidiano: nas regiões desérticas do Brasil) estaria o lugar de todas as virtudes e, ao contrário, nas cidades, a deterioração predominaria. Nas palavras da autora, para “Euclides a cidade é Sodoma, sede do vício e da degradação, da YDORUL]DomR GR GLQKHLUR GD FRUUXSomR GD WURFD PHUFDQWLO JHQHUDOL]DGDµ S  ( GL] DLQGD TXH RV ´WUrV HVFULWRUHV GmR VLQDLV GH XPD UHODomR HVSHFLDO FRP R LPSHULDOLVPRÀQLVVHFXODUTXHFRQGLFLRQDVXDVYLGDVHVXDVREUDVS >@7RGRV RVWUrVVmRDUDXWRVGLODFHUDGRVGRFRORQLDOLVPRHGHVHXFRUROiULRRJHQRFtGLRTXH DOpPGHWHVWHPXQKDUGHSORUDUDPµS 0DLVDGLDQWHHPVHXWH[WR*DOYmR FKDPDDQRVVDDWHQomRSDUDRFDUiWHU GLIHUHQFLDOGH(XFOLGHVGD&XQKD6HSDUD/DZUHQFHH&RQUDGVHULDQRWyULDDLQVHUomR GHVXDVREUDVQRkPELWRGRFRORQLDOLVPRHLPSHULDOLVPRGRVpFXOR;,;QRFDVRGH (XFOLGHV´HOHIRLWHVWHPXQKDGRFRORQLDOLVPRVHIRUSHUPLWLGRDEXVDUGHVVDQRomR estendendo-‐a a episódios da modernização capitalista ocorridos dentro de um mesmo SDtVµS 5HVVDOWDFRPLVVRRV´GHVtJQLRVGRSRGHUFHQWUDOLPSOHPHQWDGRV SHODV )RUoDV$UPDGDV LPSRVWRV j SOHEH GD KLQWHUOkQGLD UHPRWD TXH QHP VHTXHU concebe as razões da catástrofe que sobre ela se precipita e que acaba resultando HPVHXH[WHUPtQLRµS  (PERUD FRQFRUGDQGR FRPD VXSRVLomRGH TXH (XFOLGHV GD &XQKD SRGHULD HVWDU operando uma narrativa de inversão em consagrados dualismos tais como civilização e barbárie, gostaria de problematizar essa relação de oposição entre, por exemplo, RVHUWmRRXDÁRUHVWDQRFDVRGHPLQKDVSUHRFXSDo}HVQHVWHHQVDLR HDFLGDGH tal como enfatiza a autora em suas análises. Acredito, talvez, diferentemente de *DOYmRTXHDUHODomRHQWUHDÁRUHVWDHDFLGDGHWHFLGDQRVHVFULWRVGH(XFOLGHVGD &XQKDVHMDGHDUWLFXODomRGHKLEULGDomRHQmRGHRSRVLomR(PRXWUDVSDODYUDV D ÁRUHVWD FRPR R VHUWmR  HVWDULD DUWLFXODGD j FLGDGH DWUDYpV GD EDUEiULH TXH DV KDELWDPHTXHDVFRQVWLWXHP

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&RPR GHVWDFD 5RFKD   ´D GLIHUHQoD GD SHUVSHFWLYD HXFOLGLDQD FRQVLVWH QD FRUURVmR FRP TXH REVHUYD DPERV RV HOHPHQWRVµ S   RX VHMD HVVD FRPS}H uma narrativa crítica tanto das naturezas do sertão e da Amazônia (obstáculos, TXDVH LQWUDQVSRQtYHLV j FLYLOL]DomR  FRPR WDPEpP GR KRPHP TXH HVFUDYL]D RXWURV KRPHQV ´VHOYDJHQVµ QRV ULQF}HV GD ÁRUHVWD SDUD WUDEDOKDUHP QD H[WUDomR GDERUUDFKDFRPRWDPEpPDLQGDGDVUHJL}HVXUEDQDVTXHVHGHVHQYROYLDPFRPR moldes, como copistas da civilização europeia. Nesta mesma direção argumentativa, Garramuño (2003) enxerga em Os Sertões um rompimento da moderna dicotomia entre civilização e barbárie. Ao utilizar-‐se, QDUUDWLYDPHQWHGHKLSpUEROHV(XFOLGHVGHVWDFDULDH[FHVVRVFRPHWLGRVHP&DQXGRV tanto pelos jagunços, como pelos soldados do exército brasileiro. Assim, nessa operação narrativa, se torna possível em alguns momentos considerar “bárbaras” ações e formas de vida tidas comumente como “civilizadas” e, ao mesmo tempo, tomar como “civilizadas” formas de vida comuns que poderiam ser vistas, em uma outra perspectiva, como “primitivas”. O interesse da pesquisadora reside em marcar, QRVHVFULWRVGH(XFOLGHVTXHD´FUtWLFDDR(VWDGRFRPRRULJHPGDYLROrQFLDID]FRP que se rompa a dicotomia civilização-‐barbárie” (GARRAMUÑO, 2003, p. 221). De qualquer forma, como argumentou Roberto Ventura (1988),

Euclides julgava inexorável a marcha do progresso e da civilização, que traria a absorção do indígena e do sertanejo pelas raças e culturas ti-­ das como superiores. Os sertões quer nordestinos, quer amazônicos, são vistos como desertos, espaços fora da escrita. Ao explorar a caatinga e a floresta e resgatar o sertanejo esquecido, o narrador-­viajante procura-­ va inseri-­los na história. O escritor defendia a integração dos sertões à escrita e à história, cujos limites e fronteiras estariam em contínua ex-­ pansão. Povoar, colonizar e escriturar são os instrumentos de tal trans-­ plante da civilização para os territórios bárbaros. Fora de escrita e da história, não há salvação: só existe o deserto. (p. 146) 9ROWDQGRDIRFDUHVSHFLÀFDPHQWHDPHWiIRUDGRGHVHUWRJRVWDULDGHGL]HUTXHRV territórios desérticos não eram tidos, naquele tempo, como espaços que poderiam, legitimamente, ser considerados como pertencentes a alguma nação. A natureza HQTXDQWR HQWLGDGH H[WHUQD DRVVXMHLWRVKXPDQRV SDVVRXMiGHVGHRVVpFXORV;9,,, H;,;DVHUREMHWRGHFRQTXLVWD´OXJDUSDUDLUHFRQWURODUµ0217$/'2S  $FRQTXLVWDGHVVHVWHUULWyULRVSDVVDYDSRUXPDRSHUDomRTXHSUHWHQGLDGRWiORV de marcas de civilização e, portanto, torná-‐los legítimos territórios de uma nação. 1HVWDGLUHomRDQDWXUH]DSUHFLVDYDVHUGRPHVWLFDGDHRVJUXSRVKXPDQRVÀ[DGRVH

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civilizados. Os desertos eram como terras de ninguém, territórios não escrituráveis QRVPDSDVGHXPDQDomR,QVFUHYrORVGHVHQKiORVWUDoDUVHXVOLPLWHVDSRQWDUVHXV FRQWRUQRVQmRHUDXPDVLPSOHVRSHUDomRFDUWRJUiÀFD(UDWDPEpPXPDRSHUDomRGH se apoderar dos mesmos, através do seu preenchimento, de sua ocupação efetiva com os mais elevados atributos culturais de uma época, de uma nação. $QDOLVDQGRDVQDUUDWLYDVQRGHFRUUHUGRVpFXOR;,;VREUHDVSODQtFLHVDUJHQWLQDV próximas a Buenos Aires, Montaldo (2004) argumenta que a extensão sem limites daquelas terras, sem demarcações, inclusive, naturais, que pudessem ordenar e À[DURHVSDoREHPFRPRDIDOWDGHXPDSRSXODomRLQVWLWXLXjTXHODVSDUDJHQVXPD paisagem descrita como deserto. Nas palavras da autora:

[...] a idéia de vazio, de nada, na verdade se refere melhor a essa terra baldia sem lei ou propriedade, que exige, como contraparte, a constitui-­ ção do Estado e da Nação, que serão a garantia do limite, da ordem e da lei [...]. O Estado cria o mapa e o mapa cria a nação. Quando as frontei-­ ras estiverem delimitadas, os sentidos, e, portanto, as identidades, serão finalmente normalizadas. (p. 131 e 132) 6HJXQGR 0RQWDOGR   QRV VpFXORV ;9,,, H ;,; VHQGR D OHL R HVWDWXWR TXH corrobora a propriedade, sua falta faz dos territórios lugares sem donos. Se um território desértico não tem dono, então a guerra passa a ser uma prática comum de usurpação do mesmo, isto é, a guerra passa a ser a única instituição que estabelece as relações entre os diferentes grupos (MONTALDO, 2004). E mais, a autora argumenta ser esta uma prática efetiva de disputa sobre o espaço desértico argentino no século ;,;RXVHMD´EDQGRVGHtQGLRVFRORQRVHIDFo}HVID]LDPJXHUUDFRQWtQXDSDUDRFXSDU um espaço”. (p.128) 1R ÀQDO GR VpFXOR ;,; SRXFRV DQRV DQWHV GD YLDJHP GH (XFOLGHV GD &XQKD j ÁRUHVWDRDWXDOWHUULWyULRGR$FUHDVVLVWLXWDQWRDFRQÁLWRVDUPDGRVFRPRDGLVSXWDV GLSORPiWLFDVHQWUHDVTXDLVHVWiDSUySULDYLDJHPGDVFRPLVV}HVGR%UDVLOFKHÀDGD SRU(XFOLGHVGD&XQKD HGR3HUXSHORULR3XUXVHPMiTXHHODID]LDSDUWHGH XPDHVWUDWpJLDGHSDFLÀFDomRFRQKHFLPHQWRHGRPtQLRGDVUHJL}HVHPOLWtJLR Segundo Veloso Leão (1946), em 1899 surge um movimento armado composto por grupos de seringueiros, que proclamariam a República do Acre tendo como seu ´GLWDGRUµ-RVp5DPDOKRHPLVViULRGRJRYHUQDGRUGR$PD]RQDV6LOYpULR1pUL´TXHYLD o seu Estado prejudicado pelos bolivianos” (p. 09). O governo do Brasil, atendendo a Bolívia, enviou tropas do exército e restabeleceu as autoridades bolivianas expulsas. (PÀQVGHVXUJHPQRYRVFRQIURQWRV(PFULDVHR´%ROLYLDQ6\QGLFDWHµ ´HPSUHVDDUUHQGDGDHÀQDQFLDGDSRUFDSLWDLVLQJOHVHVHDPHULFDQRVDTXDOSDVVDULD

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a gerir com ilimitados poderes as terras não demarcadas e ocupadas por brasileiros” S   >@ ´2$FUH HUD EROLYLDQR DSHQDV GH QRPH PDV EUDVLOHLUR GH IDWR >@µ (p. 10). Um último confronto armado teria sido o mais sangrento: organizaram-‐se RV VHULQJXHLURV FRPDQGDGRV SHOR DJULPHQVRU JD~FKR 3OiFLGR GH &DVWUR SDUD XPD ´5HYROXomR$FUHDQDµTXH´>@DVVDOWD;DSXULHSURFODPDDLQGHSHQGrQFLDGR$FUH no dia 06 de agosto de 1902” (p.10), dominando, em alguns meses, todo o território. Será a intervenção e a política diplomática do Barão do Rio Branco que encerrou as JXHUUDV QD UHJLmR 2 UHVWDEHOHFLPHQWR GH VROXo}HV GLSORPiWLFDV SDUD RV FRQÁLWRV evidenciava que o deserto estava sendo conquistado e um dono efetivo estava RFXSDQGRRR%UDVLO6HJXQGR+pOLR6FDUDE{WROR HPGHQRYHPEURGH IRLDVVLQDGRR¶7UDWDGRGH3HWUySROLV·HQWUHR%DUmRGR5LR%UDQFRHGRLV¶GHOHJDGRV· EROLYLDQRV)HUQDQGR*XDFKDODH&OiXGLR3LULOOD$WUDYpVGHVVHWUDWDGRVHS{VÀP´jV SHQGrQFLDVGHIURQWHLUDVHQWUHR%UDVLOHD%ROtYLDµS 2%UDVLODGTXLULUDMXQWR j %ROtYLD  NP2 FHGHQGR  NP2 LQFRUSRUDQGR ´PLOKDUHV GH EUDVLOHLURV TXHYLYLDPQR$FUHDRVHLRGDQDFLRQDOLGDGHSDJRXj%ROtYLDGRLVPLOK}HVGHOLEUDV esterlinas e construiu a estrada Madeira-‐Mamoré” (SCARABÔTOLO, 1966, p. 06). Por RXWURODGR´RVSHUXDQRVVHQWLDPVHIHULGRVFRPR7UDWDGRGHµS (HVVD seria a razão presumida das negociações diplomáticas que se seguiram entre o Brasil HR3HUXFXOPLQDQGRFRPDYLDJHPGH(XFOLGHVGD&XQKD Como ressalta Montaldo (2004), seriam as práticas da pesquisa, do mapeamento, GDGHVFULomRGRFRQKHFLPHQWRTXHJDUDQWLULDPDSRVVHGRWHUULWyULR$OpPGHWRGRV HVWHVDVSHFWRVjGHPDUFDomRJHRJUiÀFDDOLDYDVHLQWLPDPHQWHRWLSRGHRFXSDomR KXPDQD GR WHUULWyULR LVWR p HUD SUHFLVR SURYDU TXH DTXHODV WHUUDV DPD]{QLFDV Mi estavam prosperando nas mãos dos brasileiros. Vejamos um pouco, de forma breve, DKLVWRULRJUDÀDGDVGLVSXWDVGLSORPiWLFDVGRWHUULWyULRDPD]{QLFRRDWXDO(VWDGRGR $FUH SRXFRDQWHVGDYLDJHPGH(XFOLGHVGD&XQKD (P2ItFLR%5$6,/D GDWDGRGHGHVHWHPEURGHHQGHUHoDGRSRU (XFOLGHVGD&XQKDDR6XEFRPLVViULRGH3ROtFLD$GPLQLVWUDWLYDHP&DWD\ORFDOLGDGHjV margens do rio Purus), o viajante comunica que fora consolidada a extensão até 31 GHGH]HPEURGDTXHOHPHVPRDQRGRDFRUGR%UDVLO3HUXÀUPDGRHPGHMXOKRGH 1904, pelo qual consignam a neutralização do território do alto Juruá e do alto Purus. Através desse acordo, o território a ser explorado pelas comissões mistas continuava D VHU FRQÀJXUDGR FRPR QHXWUR RX VHMD FRPR QmR SHUWHQFHQWH j QDomR DOJXPD 6HUmR RV UHVXOWDGRV GRV WUDEDOKRV GD YLDJHP euclidiana (realizada, vale reforçar, conjuntamente com uma comissão peruana) que iriam determinar precisamente a quem pertencia aquele longínquo e desértico território. 1R GLD  GH RXWXEUR GH  R %DUmR GR 5LR %UDQFR HPLWLUD XP WHOHJUDPD %5$6,/ E  HQGHUHoDGR D (XFOLGHV GD &XQKD VROLFLWDQGR HQWUH RXWUDV FRLVDV

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LQIRUPDo}HV VREUH D QDFLRQDOLGDGH GRV KDELWDQWHV GH &DWD\  VH HOHV SRVVXtDP HVWDEHOHFLPHQWRVÀ[RVRXVHHUDPFDXFKHLURV&RPRGLVFXWLPRVQDVHomRDQWHULRU DVVRFLDYDVHDRVFDXFKHLURVjÀJXUDGRQ{PDGHHSRUWDQWRDXPDIRUPDGHRFXSDomR GRWHUULWyULRTXHGHYHULDVHUFRPEDWLGD3RUHVVHPHVPRPRWLYRRVJUXSRVKXPDQRV que estariam preenchendo o território amazônico necessitavam ser marcados, WHVWHPXQKDGRVHSURYDGRV1DTXHOHWHPSRGDYLDJHPeuclidianajÁRUHVWDHVWDYD HPYLJrQFLDXPDFRUGRGH´PRGXVYLYHQGLµSHORTXDORWHUULWyULRSHUWHQFHULDDRSDtV que nele tivesse a maioria populacional. Dessa forma, importava saber se lá estavam RV SHUXDQRV FDXFKHLURV FRQVLGHUDGRV FRPR HVWXGDPRV DQWHULRUPHQWH FLYLOL]DGRV menores, ou se eram os “laboriosos” sertanejos brasileiros, capazes de construírem XPDFLYLOL]DomREUDVLOHLUDQDÁRUHVWD Em resumo, o deserto amazônico estava sendo conquistado, demarcado, integrado, domado e preenchidoSHORVHULQJXHLURVHUWDQHMRHVSHUDQoDGHHGLÀFDomR de uma próspera, desenvolvida, produtiva nação republicana brasileira em solos DPD]{QLFRV (QÀP LQVWLWXLU R WHUULWyULR QDFLRQDO SDVVDYD SRU XPD SHGDJRJLD TXH buscava uma vitória contra o deserto, contra esse território de nômades.

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BRASIL0LQLVWpULRGDV5HODo}HV([WHULRUHV&RPLVVmRGH5HFRQKHFLPHQWRGR$OWR 3XUXVH([pUFLWRGR%UDVLO>Ofício a Antônio do Nascimento Linhares@FRPXQLFDQGR que o Barão do Rio Branco anunciara em telegrama a prorrogação, até 31 de GH]HPEURGHGRDFRUGRSURYLVyULRGHGHMXOKRGHFRPR3HUX permanecendo assim durante o novo prazo “a neutralização do Alto Juruá, acima GDFRQÁXrQFLDGR%UHXHDGR$OWR3XUXVDSDUWLUGH&DWD\µDI$UTXLYR +LVWyULFRGR,WDPDUDW\ BBBBB0LQLVWpULRGDV5HODo}HV([WHULRUHV>Telegrama do Barão do Rio Branco@ HQYLDQGRSHUJXQWDVVREUHSRVWRVHKDELWDQWHVGDUHJLmRGH&DWD\>VO@RXW EI$UTXLYR+LVWyULFRGR,WDPDUDW\ COSTA, Marisa Vorraber. Estudos culturais – para além das fronteiras disciplinares. In: _____ (Org.). Estudos culturais em educação: mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema... Porto Alegre: UFRGS, 2000. CUNHA, Euclides da. Plano de uma Cruzada. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Euclides da CunhaREUDFRPSOHWD5LRGH-DQHLUR1RYD$JXLODUDY BBBBB2VWUDEDOKRVGD&RPLVVmR%UDVLOHLUDGH5HFRQKHFLPHQWRGR$OWR3XUXVIn: COUTINHO, Afrânio (Org.). Euclides da Cunha: Obra completa. Rio de Janeiro: 1RYD$JXLODUEY BBBBB*HRJUDÀDGR$OWR3XUXV,QBBBBBUm paraíso perdido: ensaios, estudos e pronunciamentos sobre a Amazônia. Organização de Leandro Tocantins. Rio de -DQHLUR-RVp2O\PSLRD _____. O Rio Purus. In: _____. Um paraíso perdido: ensaios, estudos e pronunciamentos sobre a Amazônia. Organização de Leandro Tocantins. Rio de -DQHLUR-RVp2O\PSLRE _____. Os Sertões. São Paulo: Círculo do Livro, 1988. DAOU, Ana Maria. A belle époque amazônica5LRGH-DQHLUR-RUJH=DKDU *$/9®2:DOQLFH1RJXHLUD$QVHLRVGHDPSOLGmRCadernos de Literatura Brasileira, São Paulo, edição especial, n. 13 e 14; p.162-‐200, 2002. GARRAMUÑO, Florencia. Rebeldes modernos: Os Sertões, Estado e refugiados. In%5$92ÉOYDUR)HUQiQGH]*$55$08f2)ORUHQFLD62612:6.,6DXO2UJV  Sujetos en tránsito: LQ PLJUDFLyQH[tOLR\GLiVSRUDHPODFXOWXUDODWLQRDPHULFDQD Buenos Aires: Alianza, 2003. HUMBOLDT, Alexander von. Quadros da Natureza6mR3DXOR-DFNVRQY LEÃO, Veloso. Euclides da Cunha na Amazônia (ensaio). Rio de Janeiro: São José, 1946. MONTALDO, Graciela. A propriedade da cultura: ensaios críticos sobre literatura e LQG~VWULDFXOWXUDOQD$PpULFD/DWLQD&KDSHFy$UJRV

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