O SISTEMA AM DE RÁDIO EM CAMPO GRANDE (MS): A história e a possibilidade de migração para a banda FM

June 7, 2017 | Autor: Helder Lima | Categoria: Radio, Jornalismo, Comunicação Social, Radiojornalismo
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O SISTEMA AM DE RÁDIO EM CAMPO GRANDE (MS): A história e a possibilidade de migração para a banda FM

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Resumo: Desde a sua implantação na primeira metade do século XX, o rádio tem passado por inúmeras transformações que o tem tornado tão atual quanto os demais meios de comunicação existentes na “Era digital”. No Brasil, a mais recente mudança é a autorização para a migração das emissoras do espectro de AM para FM. O objetivo deste artigo é trazer ao leitor, além de um breve relato da história do rádio no País, destacar, também, o surgimento das duas principais emissoras AM de Campo Grande (MS): Rádio Cultura e a Sociedade Rádio Difusora de Campo Grande que além de pioneiras, estão entre as que pediram autorização junto ao Ministério das Comunicações para migrarem para o formato FM. Palavras-chave: rádio; migração; comunicação; programação; AM; FM;

INTRODUÇÃO Faltando menos de uma década para celebrar os 100 anos de implantação no Brasil, o sistema de radiodifusão passou por inúmeras transformações até chegar ao formato que se apresenta nos dias atuais. A última e talvez mais recente mudança que este meio de comunicação passa a experimentar no século XXI, foi a autorização da migração das emissoras de todo o território nacional da faixa AM para o formato FM pelo Governo Federal. Por meio do decreto 8.139 de 07 de novembro de 2013, assinado pela presidente Dilma Rousseff (PT), 1.781 emissoras que operam na faixa de AM em Ondas Curtas (OC), Ondas Médias (OM) e Ondas Tropicais (OT) estariam aptas a requerer a migração no prazo que terminou em 10 de novembro de 2014. Segundo dados da Secretaria de Comunicação Eletrônica dos Ministérios das Comunicações, ao todo 1.386 emissoras no País pediram a migração para a faixa de FM. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em Mato Grosso do Sul 59 emissoras que operam na faixa AM poderiam pedir a migração para o formato FM. No entanto, segundo a Anatel, apenas 50 emissoras do estado entraram Graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2008). Pós-graduado em Gestão Pública Municipal pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (2012). Atualmente, técnico administrativo na Pró-Reitoria de Extensão, Cultura de Assuntos Estudantis (Preae) e aluno especial do Mestrado em Comunicação Social da UFMS. E-mail: [email protected]

com o requerimento junto ao Ministério das Comunicações solicitando a migração dentro do prazo estabelecido. Em Campo Grande, as sete emissoras que operam em AM formalizaram o pedido para a migração dentre as quais estão: Empresa de Radiodifusão Campograndense (1120 KHz) conhecida como Concórdia AM, Rádio Cultura de Campo Grande (680 kHz), Rádio Educação Rural (4755 kHz) atualmente Rádio Imaculada Conceição (1490 KHz), Radiosul Emissoras Integradas (930 KHz) conhecida como AM Capital, Rede MS Integração de Rádio e Televisão (630 KHz) conhecida como Rádio Novo Tempo, Sociedade Campograndense de Radiodifusão (1180 KHz) mais conhecida como AM Ativa, e Sociedade Rádio Difusora de Campo Grande (1240 kHz) denominada comercialmente como Difusora Pantanal. Além de destacar as diferenças que há entre o formato AM e FM no que tange a qualidade sonora, grade de programação, conteúdo musical e jornalístico divulgado, não se pode deixar de citar os impactos que a migração trará quando se leva em consideração os fatores sociais, políticos e econômicos. Para que se possa compreender os impactos que a migração trará na grade de programação das emissoras AM, deve se conhecer primeiramente as diferenças técnicas entre ambos os formatos que serão abordados em seguida. AS DIFERENÇAS NO FORMATO Segundo Ferraretto (2001), o rádio é um meio de comunicação que se utiliza de emissões eletromagnéticas para transmitir a distância mensagens sonoras destinadas a audiência numerosas. Por ser um meio tradicionalmente de comunicação de massa, o rádio possui uma audiência ampla, heterogênea e anônima. Sua mensagem é definida por uma média de gosto e tem, quando transmitida, baixo retorno (feedback). (Ferraretto, 2001, p. 23). Segundo Batista (2011), AM e FM indicam os modos como são modulados os sinais de radiofreqüência emitidos pelo transmissor. Estes sinais modulados, AM ou FM, são detectados pelo receptor de rádio, quando ajustados a uma freqüência particular, que é passada então por uma série de circuitos a fim de decodificar e reproduzir o som original.

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As emissoras que operam no formato AM são denominadas “Amplitude Modulada”. De acordo com a autora, neste tipo de frequência é a amplitude (a força da onda) que é mudada. Uma das vantagens das emissões em AM é a sua capacidade de propagação, que permite, com um emissor de potência relativamente baixa, atingir longas distâncias, devido à refletividade das ondas eletromagnéticas (ou hertzianas) numa região atmosférica eletrificada chamada ionosfera e pela superfície da terra. (Batista, 2001)

Semelhante ao descrito por Batista (2011), Ferraretto (2001, p.66) acrescenta que no formato AM, a transmissão dos sinais pela modulação de amplitude das ondas variam de 525 a 1.720 kHz. Caracteriza-se por uma qualidade de som inferior à das emissões em FM, porque os receptores AM sofrem interferência de fenômenos naturais, como raios, ou artificiais como as provocadas por motores. As transmissões podem ser realizadas em ondas médias e curtas. (Ferraretto, 2001, p. 66-67)

Por outro lado, as emissoras que operam em faixas de FM, mais conhecidas como “Frequencia Modulada”, não apresentam amplitude modulada, mas sim a freqüência da onda de rádio. (...) os picos positivos do sinal modulado representam freqüências mais elevadas e umas os picos negativos apresentam freqüências mais baixas. Desse modo os rádios FM são menos sujeitos a interferência causada por "ruídos" eletromagnéticos (raios ou mesmo emissões de estações de rádio, TV ou radioamadores etc.), mas não tem o alcance das AMs. (Batista, 2011).

Apesar de apresentar uma melhor qualidade sonora que as emissoras que operam em AM, as transmissões das rádios em FM tem alcance máximo de um raio de até 150 km e operam em frequências que vão de 87,5 a 108 MHz (FERRARETO, 2001). No entanto, estes números de variação de frequência devem sofrer alterações após o início do processo de migração das emissoras AM para a banda em FM. De acordo com o Ministério das Comunicações, com o número amplo de emissoras AM que pediram a migração o espectro em FM em algumas regiões do País pode não comportar o número de estações. “Nas localidades com espectro cheio, essas emissoras terão de aguardar a liberação do espaço que vai ocorrer com a digitalização da TV no país. Os canais 5 e 6, que hoje são 3

ocupados por canais de TV analógicos, serão desocupados e destinados à FM. Hoje, as FMs são sintonizadas na faixa de 87.9 MHz a 107.9 MHz. Com a liberação dos canais, essa frequência será estendida de 76 MHz a 107.9 MHz”. (MC, 2014)

A ampliação do sinal será utilizada, sobretudo nos grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, entre outros que concentram grande parte das emissoras no País. Em Mato Grosso do Sul, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por conta do baixo número de emissoras existentes, as que pediram a migração não necessitarão da ampliação do espectro para entrar em funcionamento uma vez que caberão no espectro já disponível de FM no estado. POR QUE MIGRAR? Mesmo com o surgimento de novas tecnologias como a Internet que tem possibilitado o acesso rápido e imediato na busca de informações, o rádio ainda pode ser considerado um veículo de comunicação com grande abrangência no País. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2014, existem aparelhos de rádio em 601.852 domicílios particulares permanentes levantados em Mato Grosso do Sul, e em 156.774 domicílios não. As porcentagens são respectivamente 79,3% para os possuidores e 20,7 % para os desprovidos. Isto indica que o rádio ainda é presença marcante nos lares sul-mato-grossenses. Considerando-se que é possível ter acesso a transmissão da programação de diversas emissoras de rádio através de notebooks e desktops com conexões de Internet, pode-se afirmar que o acesso à informação radiofônica se aproxima dos 90% dos lares sul-mato-grossenses. Segundo Cominetti (2013, p. 9), emissoras antes limitadas a determinadas regiões, demarcadas muitas vezes por obstáculos físicos (no caso das rádios em amplitude modulada - AM) ou pelo alcance das transmissões (no caso das rádios em frequência modulada – FM), podem ser ouvidas em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora, se assim o quiserem seus produtores, basta que a rádio seja inserida na internet.

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Com a crescente aquisição das pessoas por aparelhos eletrônicos tais como smartphones e tablets, é possível indicar que o rádio logo chegará ao nível de 100% dos lares sul-mato-grossenses. O crescente mercado destes tipos de aparelhos eletrônicos, fez com que empresários do sistema de radiodifusão buscassem junto ao Ministério das Comunicações um meio de concretizar a migração. “A baixa demanda por novas emissoras AM de caráter local pode ser explicada pela concorrência do serviço de FM e de sistemas mais modernos de comunicação. A faixa FM possui cobertura similar com maior qualidade de transmissão, o que explica o gradual desinteresse na continuidade da prestação do serviço de AM local. (...) Com a mudança, a expectativa do setor é de que as rádios AM recuperem a audiência. Essas emissoras foram prejudicadas não só por causa da interferência no sinal de transmissão, mas também porque não podem ser sintonizadas por dispositivos móveis, como celulares e tablets ou mesmo rádios de automóveis”. (MC, 2014).

Inicialmente, segundo o Ministério das Comunicações, as emissoras vão continuar operando tanto em AM quanto em FM, num período de cinco anos até que seja concretizada a mudança definitiva. Se por um lado a migração trará inúmeros benefícios, por outro, deve se levar em consideração os “rincões” de Mato Grosso do Sul, situados na região do bioma Pantanal onde o sinal de FM não alcança, quiçá o sinal de telefonia móvel e Internet. Na época das cheias, por exemplo, que geralmente ocorrem de outubro a abril, o nível dos rios sobem causando alagamentos nas fazendas da região pantaneira e as tornam inacessível. Diante deste quadro típico da região, o rádio acaba se tornando um dos principais quando não o único meio de comunicação e/ou informação para a população destas localidades. Para entendermos as transformações pela qual este importante veículo de comunicação vai passar com a migração do formato AM para FM, precisamos contextualizar o processo de como se deu a implantação deste meio de comunicação não só no âmbito nacional, mas principalmente no estado de Mato Grosso do Sul e, sobretudo em Campo Grande. Neste artigo, vamos explorar apenas as emissoras “Difusora Pantanal” e “Cultura AM” por ser serem as pioneiras no sistema de radiodifusão campo-grandense.

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HISTÓRIA DO RÁDIO No Brasil, há controvérsias sobre a primeira transmissão radiofônica que teria ido ao ar no País. Segundo Jung (2009), há quem defenda que a Rádio Clube de Pernambuco seja a primeira emissora de rádio a ir ao ar ainda que as características sejam mais próximas da telefonia. No entanto, diversos autores são unânimes em dizer que a primeira transmissão de uma emissora de rádio se deu em 1922 no Rio de Janeiro (então capital federal) durante as comemorações do Centenário da Independência pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Ferraretto (2001), explica que ambas as datas são verdadeiras. Segundo o autor, a diferença está no fato de que a transmissão pelo Rádio Clube de Pernambuco foi irregular e pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi regular. A primeira destas associações a transmitir efetivamente, embora sem freqüência ou continuidade, foi o Rádio Clube de Pernambuco, em Recife. No dia 6 de abril de 1919, jovens da elite recifense fundaram a entidade em um velho sobrado do bairro de Santo Amaro. Nos anos seguintes, eles se dedicariam a experiências com recepção radiotelefônica (FERRARETO, 2011, p. 95). A primeira emissora regular, portanto, foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Mesmo indo ao ar na década de 22, segundo Zuculoto (2012), a emissora só foi implantada de fato em 1923 por meio do hoje conhecido pai do rádio brasileiro, o cientista e professor Roquette-Pinto. Ferrareto (2001) lembra que o grupo liderado por Roquette-Pinto colocou a rádio no ar após conseguir emprestar do governo os transmissores da Praia Vermelha durante uma hora por dia. “Usando o tempo ocioso de um equipamento utilizado prioritariamente para radiotelefonia, o Brasil entra, em definitivo, na era do rádio no dia 1º de maio daquele ano, quando eles começam suas transmissões”. (FERRARETO, 2011, p.96). O rádio foi uma das atrações, apresentado como uma grande novidade tecnológica, com a finalidade de ajudar a amenizar o clima de tensão política do país. (...). Assim que chegou ao Brasil, os cientistas e a elite cultural tentaram fazer do rádio um veículo de divulgação de cultura e educação, transmitindo, por 6

exemplo, apresentações de cantores líricos e palestras científicas. (ZUCULOTO, 2012, p. 27-28)

A dominação das elites sobre o rádio fica clara na obra de Jung (2009). Segundo o autor, eram os grupos formados por amigos da elite da época que custeavam as transmissões, comprando os equipamentos, material de escritório e alugando as salas para as transmissões da emissora, o que era mais fácil com a criação dos rádios clubes. Em Campo Grande, na época cidade do interior do Mato Grosso Uno, a primeira emissora instalada foi a PRI -7, Sociedade Rádio Difusora Campo Grande em 1939 que está no ar até os dias atuais operando na faixa AM (1240 Mhz). Já a segunda emissora da cidade, a Rádio Cultura AM entrou no ar no dia 09 de novembro de 1949 sob a direção do grupo Bandeirantes e administrada pela Cadeia Verde Amarela (Tellaroli, 2015, p. 59). Além das duas que são as pioneiras na capital, tivemos também a implantação de inúmeras emissoras tanto AM quanto FMs. Atualmente, segundo dados do Ministério das Comunicações também compõem a rede de emissoras AM em Campo Grande, a Novo Tempo (630 KHz), AM Capital (930 KHz), Concórdia AM (1120 kHz), Ativa (1180 kHz) e Imaculada Conceição (1490 KHz). Nome das emissoras

Frequencia

Rádio Cultura AM

680 KHz

Difusora Pantanal (Sociedade Radio Difusora de Campo Grande)

1240 KHz

Rádio Novo Tempo (Rede MS Integração de Rádio e Televisão)

630 KHz

AM Capital (Radiosul Emissoras Integradas)

930 KHz

Concórdia AM (Empresa de Radiodifusão Campograndense)

1120 KHz

AM Ativa (Sociedade Campograndense de Radiodifusão)

1180 KHz

Rádio Imaculada Conceição (Rádio Educação Rural)

1490 KHz

Neste artigo, tomou-se a liberdade de abordar apenas a Sociedade Rádio Difusora Campo Grande mais conhecida atualmente como Rádio Difusora Pantanal (1240) e a Rádio Cultura AM (630 KHz) pois ambas foram as primeiras emissoras a compor o sistema de radiodifusão da capital. Desde a sua fundação, ambas tiveram inúmeras mudanças como veremos a seguir.

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DIFUSORA PANTANAL AM 1240 Atualmente localizada na Rua Marrey Junior, 448 no bairro Tiradentes em Campo Grande a Sociedade Rádio Difusora de Campo Grande (Difusora Pantanal AM 1240), completou em 2015, 76 anos de plena atividade levando informações, cultura, e entretenimento aos seus ouvintes espalhados não só pela capital de Mato Grosso do Sul, mas também em cidades próximas. Sua história está intrinsecamente ligada à história da Capital de Mato Grosso do Sul, já que o dia em que foi ao ar pela primeira vez, 26 de agosto, é a data em que Campo Grande comemora sua emancipação política como município. Corrêa (2015, p.22) afirma que Peri Alves Campos, médico oftalmologista cuiabano que radicou-se em Campo Grande foi o responsável pela inauguração da Sociedade Rádio Difusora Campo Grande. Donato e Rezende Jr. apud Corrêa (2015, p. 26), afirmam que Peri comprou os equipamentos velhos da Rádio Record em São Paulo para colocar a emissora em funcionamento. A DIFUSORA quebrou o silêncio reinante dando voz à cidade e seus moradores. Seu lançamento presenteou o Centro-Oeste, mostrando a pujança e iniciativa do empresariado campograndense. A inauguração da nossa DIFUSORA aconteceu no dia do aniversário de Campo Grande: 26 de agosto, quando a cidade festejava seus 40 anos de Emancipação políticoadministrativa. (DIFUSORA, acesso em 2015).

Corrêa (2015, p. 26-27), questiona onde realmente teria sido as primeiras instalações deste histórico veículo de comunicação. Para o autor, a emissora poderia ter sido instalada inicialmente num sobrado da Rua 14 de julho entre a 7 de setembro e a 15 de novembro. No entanto, Machado (1990, p. 47) apud Corrêa (2105, p.27) deixa subentendido que o primeiro local da rádio teria sido na rua 14 de julho, 1944 próximo a rua Dom Aquino, 524. Além do sucesso com a veiculação de programas de auditório, narrações de partidas de futebol, e fomentar a realização de peças de teatros e apresentações musicais, a Difusora fez despontar no cenário musical nacional inúmeros artistas regionais como “Délio e Delinha”. Segundo Corrêa (2015, p. 37), primeiramente a dupla se apresentou na emissora como “Nhô Tuca” e “Nha Delinha” e após transferirem

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domicílio para São Paulo e se casarem que a dupla ficou conhecida como “Délio e Delinha”. Com caráter regional e dando enfoque sempre as coisas que faziam parte do dia-a-dia do pantaneiro, a Rádio Difusora consagrou-se com o programa “A hora do Fazendeiro” apresentado pelo ícone do rádio, Carlos Sebastian Achucarro. O locutor ficou conhecido como “Juca Ganso” e fazia sucesso com o bordão “quem ouviu, favor avisar”. O programa, líder de audiência não apenas na cidade, mas também em toda a região, servia como transmissor de recados para aqueles que ficavam nos sítios, chácaras e fazendas. “Era um internamento, um falecimento, a criança que nasceu [...], sentamos para o almoço com o rádio no meio da mesa [...] para ouvir os avisos e daí ninguém conversava [...]” (COGO, apud Corrêa, 2015, p.44-45) Nestes 76 anos de existência, a Rádio Difusora não mudou apenas de nome e local de sua sede, mas teve mudanças significativas em sua grade de programação, troca de locutores e o perfil da emissora. Por dez anos, de 1995 a 2005, por exemplo, o veículo trocou o nome comercial para CBN Pantanal. Nesta época, ela foi afiliada à Rede CBN com destaque para notícias e esportes em sua grade de programação. O esporte permaneceu com um dos carros-chefes da emissora que em 2010 foi a única do Estado a gerar a transmissão da Copa do Mundo da África do Sul para uma cadeia de 35 emissoras. O programa Difusora Esporte Clube, com a equipe Bola de Ouro dirigida por Ricardo Paredes, é um dos campeões de audiência. (PORTAL DE MÍDIA – UFMS)

Atualmente, a emissora possui uma grade de programação variada com espaço para programas jornalísticos, policial, de cunho religioso, esportivo e também de entretenimento. Tradicional, a rádio procura manter o caráter regional com enfoque para o sertanejo, contando em sua grade de menos três programas para o público que cultiva música de raiz como Batidão Sertanejo, Roda de Tereré, Geração Sertaneja, Canto Rural, Porteira Velha e Comando Sertanejo. No segmento religioso destaque para o programa católico veiculado de segunda a sexta-feira em dois horários da emissora (11h55 às 12h e 17h55 às 18h) denominado “Momento de Reflexão e Fé” com o padre Antônio Maria. Há também a programação diária da “Hora Milagrosa” que vai ao ar de segunda a sexta das 20 às 21 horas pela 9

Igreja Apostólica. Ainda no segmento religioso, destaque para os programas evangélicos A voz do Cenáculo e Louvores para Jeová. Algo que já tem se tornado comum em diversas emissoras de rádio em todo o País é a ocupação da grade de programação por políticos. Na Difusora Pantanal há atualmente programação com o deputado estadual Marquinhos Trad (PMDB) que de segunda a sexta-feira utiliza os microfones das 08 às 09 horas com o programa “Amigo de Verdade”. Outro com espaço garantido na rádio é o vereador Paulo Siufi (PMDB) que apresenta diariamente das 12 às 13 horas o “Paulo Siufi: compromisso de fé e saúde”. Aos sábados mais dois políticos ocupam a grade da programação: o ex-vereador Clemêncio Ribeiro apresenta o “Programa do Ribeiro” das 08 às 11 horas; e o vereador Chiquinho Telles (PSD) apresenta o “Seu amigo de sempre” das 13 às 17 horas. A programação completa da emissora de segunda à domingo está disponível nos anexos páginas 12 e 13. CULTURA AM Além da Difusora, a segunda emissora instalada em Campo Grande que até hoje opera na faixa AM é a Rádio Cultura de Campo Grande (680 MHz). A rádio pertencente atualmente ao grupo Barbosa Rodrigues só veio ao ar dez após a implantação da Rádio Difusora. Segundo Tellaroli (2015), a Cultura começou a ser operada no dia 09 de dezembro de 1949, “trazendo aos ouvintes programas de auditório, radionovelas, valorizando a produção local”. A sociedade tinha por objetivo a execução de serviços de radiodifusão, para fins culturais, educacionais, científicos e recreativos. (cf. Contrato Social de 1945, que consta na pasta n. 54-2- 0014043-9 do arquivo da JUCEMS apud MOREIRA, 2010).

Antes de pertencer ao Grupo de Comunicação do Correio do Estado de José Barbosa Rodrigues, a emissora pertencia ao Grupo Bandeirantes e era administrada em Campo Grande pela Cadeia Verde Amarela que por alguns anos também chegou a administrar a Sociedade Difusora de Campo Grande. (TELLAROLI, 2015, p.59) Localizada atualmente na Avenida Senador Filinto Muller, 1059 – Vila Ipiranga, a Rádio Cultura AM foi durante muitos anos administrada por José Maria 10

Hugo Rodrigues. Após seu falecimento a rádio foi dirigida pelo empresário do grupo Correio do Estado, Antônio João Hugo Rodrigues e posteriormente pelo filho de José Maria, Luciano Barbosa Rodrigues. Assim como a Sociedade Difusora de Campo Grande, a Cultura AM teve contribuição considerável para o desenvolvimento da capital de Mato Grosso do Sul. Na emissora, diversos locutores se profissionalizaram e galgaram espaços maiores em outras emissoras de rádio pelo País. Entre as similaridades com a Difusora, destaque para o programa “Entardecer do Sertão” apresentado pelo ícone do rádio sul-mato-grossense, Juca Ganso. Tellalori (2105, p.63) conta que “Juca Ganso começou na Cultura em 1962, passou por outras emissoras, mas retornou em 2009 até 2013, quando faleceu”. Com uma programação popular, o público da emissora tem sido as classes C e D na faixa acima dos 30 anos. Ao longo desses 60 anos, a programação musical tem acompanhado a evolução do mercado passando do samba ao pagode, da autêntica música caipira ao atual sertanejo universitário, mas sem deixar de veicular os gêneros antigos. (PORTAL DE MÍDIA, UFMS)

Na programação atual, percebe-se que a Cultura mantém a identidade regional com ênfase à musica sertaneja através dos programas Rancho Caboclo, Miltinho Viana – Cowboy do Rádio, Estilo da Terra e Coração Sertanejo. Além destes, tem ainda a retransmissão dos programas Siga Bem Caminhoneiro e Amado Batista. Os programas de cunho gospel também têm dominado boa parte da programação, com programas que ocupam pelo menos quatro horas diárias tais como: Fonte da Vida, A voz do Sétimo Anjo e Missionário Sol da Justiça. Nos sábados e domingos, os programas de cunho religioso ocupam entre 4 e 5 horas diárias com os programas Força Gospel, Santidade ao senhor e Chegou a hora do seu milagre. Além destes, há também um especial com Músicas Gospel veiculados durante duas horas aos domingos. Algo curioso que se pode observar na programação da Difusora Pantanal que não consta na programação da Rádio Cultura são programas de cunho popular apresentados por políticos. No entanto, a Cultura se diferencia pela quantidade de espaços sem programação com locutores onde apenas são tocadas músicas e veiculadas propagandas, como pode ser observado nos Anexos (páginas 14 e 15). 11

Considerações Finais Diante das pontuações elencadas acerca das emissoras AM no município de Campo Grande, percebe-se, com a realização deste trabalho, a falta de fontes bibliográficas de consulta sobre a temática no âmbito regional. De forma que a história dos meios de comunicação, sobretudo o rádio tem ligação íntima e estreita com a construção da Capital, é necessário que haja novas pesquisas e trabalhos sobre o assunto para que a história deste meio possa ser resgatada e levada ao conhecimento da sociedade. Além disso, recomenda-se ainda que os próximos trabalhos tratem dos desdobramentos que a migração das rádios que operam ainda em Amplitude Modulada (AM) terão não só no aspecto “grade de programação”, ou seja, conteúdo que vai ao ar diariamente, mas também no que diz respeito a fidelidade dos ouvintes, aspectos técnicos e econômicos, qualidade da informação, entre outros. Os desafios que vem pela frente com o novo viés que cada uma das sete emissoras campo-grandenses adotarão ao se tornar FM serão objetos de estudo de outros trabalhos adiante.

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ANEXOS

Programação Difusora Pantanal 1240 Mhz Segunda à Sexta Horário

Programa

Apresentação

00:00 às 03:00

Difusora na Madrugada

Musical Variado

03:00 às 05:00

Café Com Pimenta

Pimenta

05:00 às 06:55

Batidão Sertanejo

Oswaldo Batista

06:55 às 07:00

Momento de Reflexão e Fé

Padre José Maria

07:00 às 08:00

Boca do Povo

B de Paula Filho

08:00 às 09:00

Amigo de Verdade

Marquinhos Trad

09:00 às 11:55

Agito da Manhã

Osmar Soares

11:55 às 12:00

Momento de Reflexão e Fé

Padre José Maria

12:00 às 13:00

Paulo Siufi, Compromisso de Fé e Saúde

Paulo Siufi

13:00 às 15:00

Wilson de Aquino

Wilson de Aquino

15:00 às 17:55

Roda de Tereré

Artêmio Moreira

17:55 às 18:00

Momento de Reflexão e Fé

Padre José Maria

18:00 às 18:45

Difusora Esporte Clube com a Equipe Bola de Ouro

Ricardo Paredes

18:45 às 19:00

A Voz da Policia

Ricardo Paredes

19:00 às 20:00

A Voz do Brasil

20:00 às 20:30

Hora Milagrosa

Igreja Apostólica

22:30 às 00:00

Geração Sertaneja

Valdemir Silva

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Sábado Horário

Programa

Apresentação

00:00 às 03:00

Difusora na Madrugada

Difusora

03:00 às 05:00

Café Com Pimenta

Pimenta

05:00 às 07:00

Batidão Sertanejo

Oswaldo Batista

07:00 às 08:00

A Voz do Cenáculo

Pastor Josiel e Pastor Jericó

08:00 às 11:00

Programa do Ribeiro

Ribeiro

11:00 às 11:30

Show da Saúde

Luciano Perssinotto e Claudir

11:30 às 13:00

Canto Rural

Amigo Onça

13:00 às 17:00

O Seu Amigo de Sempre

Vereador Chiquinho Telles

17:00 às 20:00

Sabadão Especial

Piazza Santos

20:00 às 23:30

Saudade Não Tem Idade

Celso Saraiva

23:30 às 02:00

Difusora Especial

Difusora Especial Domingo

Horário

Programa

Apresentação

02:00 às 05:00

Show de Domingo

Dr Cicero da Conceição

05:00 às 08:00

Porteira Velha

Compadre Oliveira

08:00 às 09:00

Tô Chegando

Josceli Pereira

09:00 às 12:00

Catedral do Pampa

João Melo

12:00 às 12:30

Show da Saúde

Luciano Perssinotto e Claudir

12:30 às 16:00

Sambalanço/ Jornada Esportiva

Daran

16:00 às 20:00

Comando Sertanejo

Valdemir Silva

20:00 às 23:00

Louvores Para Jeova

Pastor Eli Rangel

23:00 às 00:00

Difusora Especial

Difusora Especial

Fonte: www.difusorapantanal.com.br

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Programação Cultura AM 680 Segunda a Sexta Horário

Programa

Apresentação

04:30 às 05:00

Siga bem Caminhoneiro

05:00 às 06:50

Rancho Caboclo

Brejinho

06:50 às 08:30

RC 360

Artur Mário

08:30 às 12:00

De bem com a vida

Reinaldo Ayala

12:00 às 13:00

Fonte da Vida

Pra. Mirian Paliarin

13:00 às 15:00

A tarde é nossa

Vanderlei Lopes

15:00 às 18:00

Miltinho Viana – Cowboy do Rádio

Miltinho Viana

18:00 às 19:00

Esporte e CIA

Artur Mário

19:00 às 20:00

Hora do Brasil

20:00 às 21:00

A voz do sétimo anjo

Pr. Domício

21:00 às 23:00

Missionário Sol da Justiça

Arno Domingos

A partir das 23h

Programação musical

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Sábado Horário

Programa

Apresentação

04:30 às 05:00

Amado Batista

05:00 às 08:00

Coração Sertanejo

Marcos Antônio Marrom

08:00 às 10:00

Programa de Sábado

Gino Rondon

10:00 às 12:00

Sabadão Sensação

Reinaldo Ayala

12:00 às 13:00

Programação Musical

13:00 às 14:00

Força Gospel

14:00 às 21:00

Programação Musical

21:00 às 00:00

Santidade ao senhor

Bruna Brum e Juscelino Brum

Pr. Roney Jr. Domingo

Horário

Programa

Apresentação

06:00 às 08:00

Programação Musical

08:00 às 09:00

Programação Musical

09:00 às 10:00

Estilo da Terra

Vanderlei Lopes

10:00 às 13:00

Chegou a hora do seu milagre

Pr. Cícero

13:00 às 21:00*

Programação Musical

14:00 às 19:00

Transmissão de Partidas de Futebol

21:00 às 23:00

Programação Musical Gospel

Fonte: https://www.facebook.com/Rádio-Cultura-AM-680-193150534096020

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Referência BATISTA, Alessandra. Qual é a diferença entre AM e FM? 2011. In: Impacto Cerebral. Disponível em:< http://www.impactocerebral.com/2011/01/qual-e-diferencaentre-am-e-fm.html>. Acesso em: 12 set. 2015. BRASIL. Decreto, de nº 8.139, de 07 de novembro de 2013. Dispõe sobre as condições para extinção do serviço de radiodifusão sonora em ondas médias de caráter local, sobre a adaptação das outorgas vigentes para execução deste serviço e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato20112014/2013/Decreto/D8139.htm>. Acesso em: 27 ago. 2015. COMINETI, Ariane. Repórter 104: a apresentação da informação noticiosa na emissora educativa de Mato Grosso do Sul. 2015. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande. COMUNICAÇÕES, Ministério. Dados Gerais: número de emissoras no País. 2015. Disponível em < http://www.mc.gov.br/numero-de-emissoras-no-pais > Acesso em: 06 set. 2015. ________________,________. Dados do setor de radiodifusão. 2015. Disponível em < http://www.mc.gov.br/dados-do-setora > Acesso em: 06 set. 2015. ________________,________. Espaço do Radiodifusor. 2015. Disponível em < http://www.comunicacoes.gov.br/espaco-do-radiodifusor >. Acesso em: 06 set. 2015. ________________,________. Migrações das rádios AM. 2015. Disponível em < http://www.mc.gov.br/migracao-das-radios-am>. Acesso em: 06 set. 2015. ________________,________. Migrações das rádios AM – Lista das entidades que pediram adaptação. 2015. Disponível em: . Acesso em: 06 set. 2015. ________________,________. Últimos dias para Rádios AM pedirem migração de faixa. 2014. Disponível em < http://www.mc.gov.br/radio-e-tv/noticias-radio-etv/33213-ultimos-dias-para-radios-am-pedirem-migracao-de-faixa>. Acesso em: 12 set. 2015. FACEBOOK Fan Page. Rádio Cultura AM 680. 2015. Disponível em: < https://www.facebook.com/R%C3%A1dio-Cultura-AM-680-193150534096020>. Acesso em: 23 set. 2015. FACEBOOK. Difusora Pantanal AM 1240. 2015. Disponível https://www.facebook.com/difusora.pantanal>. Acesso em: 23 set. 2015.

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