O sistema defensivo medieval de Barcelos

I Encontro Ibérico de Jovens Investigadores em Estudos Medievais - Arqueologia, História e Património  

O Sistema Defensivo Medieval de Barcelos António Manuel Portela de Sá Pereira1

A nossa comunicação destina-se à apresentação dos resultados provenientes do estágio realizado no 2º ano do Curso de Mestrado em Arqueologia da Universidade do Minho, efetuado ao abrigo de um protocolo estabelecido entre a Universidade do Minho e a Câmara Municipal de Barcelos. Como forma de introdução ao tema da “Análise diacrónica do tecido histórico de Barcelos”, o objetivo do estágio centrou-se na realização de um estudo sobre “O sistema defensivo medieval de Barcelos”. O ato de circunscrever um núcleo urbano com muralhas representa um fenómeno global, tão antigo quanto o próprio fenómeno urbano. No entanto, pelo impacto que este tipo de edificação possui na morfologia urbana, consideramos o seu estudo essencial para a compreensão dos mais diversos fenómenos e transformações ocorridas, tanto ao nível das fortificações urbanas medievais como da própria morfologia dos centros urbanos. No caso de Barcelos esta questão torna-se particularmente paradigmática, uma vez que o processo de amuralhamento ocorre já num período avançado do processo de urbanização. Na realidade, o aglomerado urbano apenas conheceu a existência de uma cerca defensiva no decorrer do século XV, altura em que a vila se encontrava em pleno processo de expansão e desenvolvimento. Neste sentido, motivados pela possibilidade de aplicação de uma metodologia de investigação de caráter inovador no estudo do urbanismo de Barcelos, observamos que o sistema defensivo medieval reunia as caraterísticas mais favoráveis à realização da nossa primeira abordagem a este tema. Outros fatores, como a ausência de um estudo arqueológico rigoroso e a necessidade de um levantamento de uma estrutura dispersa e em constante alteração, foram igualmente determinantes para a escolha. Metodologicamente, a análise do sistema defensivo medieval de Barcelos contemplou uma abordagem metodológica multidisciplinar, sediada em campos de estudo distintos, como a Arqueologia da Arquitetura e os Estudos de Morfologia Urbana.                                                              1

 Mestre em Arqueologia e Investigador do CITCEM, Universidade do Minho 

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Na abordagem efetuada assumimos a cidade como um sítio arqueológico complexo e dinâmico. Inserido neste meio, verificamos também que o edificado compreende níveis de estratificação que traduzem de forma diacrónica as várias ações de construção, transformação e destruição que foram ocorrendo no tecido histórico ao longo dos séculos. Por esta razão, a Arqueologia da Arquitetura assumiu grande importância no estudo, uma vez que dispõe de recursos metodológicos que permitem interpretar e datar, de forma devidamente contextualizada, os vestígios materiais conservados do passado. A perspetiva arqueológica do edificado permitiu-nos, ainda, expandir o universo de questões que comummente são valorizadas nos estudos tradicionais da Arquitetura e da História de Arte, indo além da avaliação das características formais, estilísticas e artísticas e permitindo a compreensão dos mais variados processos que constituem o quotidiano do meio urbano. Dado o carácter vulnerável do edificado, sujeito a céleres e constantes transformações, fruto da evolução a que a cidade, enquanto elemento dinâmico, está sujeita, a Arqueologia da Arquitetura prevê uma atuação de carácter preventivo e não intrusivo, permitindo a criação de um arquivo que assegure a informação e o valor histórico associados ao edificado. A cidade de Barcelos conhece, pelo menos desde o século XVIII, uma tradição historiográfica de onde sobressai um conjunto de obras extremamente importantes para o estudo do seu passado. No entanto, verificamos tratar-se de compilações de cariz historiográfico que espelham, naturalmente, as conceções ideológicas que nortearam o pensamento das diferentes épocas em que foram produzidas. Assim, no decurso da nossa análise focamo-nos também na revisão crítica de grande parte das referências ao sistema defensivo medieval de Barcelos, adicionando novas perspetivas e interpretações, como forma de contribuição para a renovação do conhecimento existente. Para além do fator multidisciplinar, a abordagem efetuada usufruiu ainda do cruzamento de diferentes fontes, tais como: o tecido urbano, as fontes documentais, iconográficas e cartográficas. O trabalho de campo efetuado firmou-se na tarefa de prospeção, tendo como resultado a identificação e registo dos vestígios relacionados com a muralha medieval de Barcelos. Do volume de dados obtidos, o trabalho de gabinete permitiu proceder ao seu tratamento, procedendo-se assim à transformação dos dados em estado bruto, em informação passível de utilização e interpretação. Desta forma, pretendeu-se criar um registo íntegro e detalhado, tornando a informação acessível a qualquer momento.

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Através dos resultados do nosso estudo pretendemos desconstruir as diversas transformações e sobreposições que atualmente ocultam as possíveis dinâmicas morfológicas que a cidade foi conhecendo. Tendo em consideração aspetos como as caraterísticas geomorfológicas do local de implantação do núcleo urbano primitivo de Barcelos, assumimos que a estratificação presente na paisagem urbana atual, designadamente no tecido histórico construído, constituiu um fator essencial para a compreensão da evolução da morfologia cidade, nomeadamente através da análise de alguns dos seus elementos estruturantes e nos quais inserimos as muralhas. Tirando partido dos recursos informáticos disponíveis na atualidade, os registos, as leituras estratigráficas e as propostas de reconstituição produzidas contaram com o recurso a softwares de edição de imagem, desenho assistido e construção de SIG’s. A partir da análise do sistema defensivo medieval de Barcelos foi possível estabelecer várias conclusões. Desde logo, permitiu-nos proceder a uma revisão crítica do conhecimento produzido até ao momento, tornando possível proceder à caracterização efetiva do sistema defensivo, numa abordagem dividida por três pontos essenciais. O primeiro vetor de análise recaiu sobre a comprovação do seu traçado. O objetivo deste ponto centrou-se na necessidade de se proceder a uma confirmação exata do perímetro da muralha, bem como à análise de algumas problemáticas que lhe estão associadas. A linguagem arquitetónica expressa no sistema, bem como os materiais e técnicas empregues, corporizaram o segundo vetor de análise. Para finalizar, abordámos o diagnóstico dos vestígios materiais conservados do sistema defensivo que podem, ainda, ser observadas no tecido urbano. A inclusão deste terceiro vetor teve como finalidade aferir o estado de conservação dos vestígios pertencentes ao sistema do século XV, bem como perceber as transformações ocorridas nos períodos posteriores à sua construção.