O SISTEMA FILOSÓFICO HEGELIANO

July 24, 2017 | Autor: Emilio Sarde | Categoria: Historia, Filosofía, Dialética
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O SISTEMA FILOSÓFICO HEGELIANO

Emílio Sarde Neto

Muitos filósofos pretenderam explicar as várias facetas da realidade. Da filosofia grega se desgarraram várias formas do pensamento onde umas foram se especializando e focando em coisas determinadas, e outras se transformaram em ciências como a psicologia e a física, no entanto, não deixou de existir o enfoque do Absoluto no sistema da filosofia, o verdadeiro ensejo dos filósofos era poder explicar mais ou menos tudo, pois os conhecimentos eram fragmentários, então, a questão girava em torno de como organizar todas as ciências dentro de uma grande armação que seria o Sistema Filosófico, onde teriam lugar todos os conhecimentos existentes. Hegel foi o grande esforço de se realizar a grande síntese de um sistema filosófico onicompreensivo. O ideal do sistema é que ele possa albergar dentro de uma grande armação teórica, uma grande armação mental de tudo que os seres humanos acumularam no processo histórico da humanidade. Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em Stuttgart em 1770, faleceu em Berlim em 1831 vitimado por uma epidemia de cólera. Hegel foi considerado o grande filósofo do idealismo alemão, ele representa a descoberta do último grande sistema do pensamento ocidental. Neste sistema ele pretendeu compreender e explicar todo o pensável. Afirmou que o finito pertence ao infinito e que este se expressa naquele e que o Absoluto está em nós. Expos o método dialético que é a própria estrutura do real, e compreendia que sua filosofia tinha um movimento prévio a todas as anteriores. Todos os outros filósofos depois dele não poderiam ignorar sua filosofia. Filho de um funcionário de um ducado aos 18 anos se escreveu em uma cadeira de filosofia e teologia na universidade de Tübinger Stift e finalizou seus estudos em 1793, mas não tinha vocação pastoral. Trabalhou como preceptor 1

educacional de famílias da aristocracia até 1801 nas cidades de Berna e Frankfurt ano em que conseguiu uma cátedra na universidade de Jena onde o reitor era Wolfgang Goethe1. Logo depois entregou a prensa o que seria sua primeira obra publicada sobre a diferença das obras filosóficas dos novos sistemas dos filósofos Schelling2 e Friedrich Hölderlin3. Porém seu primeiro importante texto não apareceu até 1807, traduzido do alemão como A Fenomenologia do Espírito ou Fenomenologia da Mente devido ao significado dual da palavra alemã Geist, dando origem a primeira obra do seu sistema filosófico. A Fenomenologia do Espírito ou Fenomenologia da Mente traça as figuras

da

consciência,

passando

pela

consciência

sensível

e

pela

autoconsciência até chegar ao saber absoluto, ou seja, a consciência de que no próprio pensamento o absoluto pensa por si mesmo. Somos a instância do universo onde este se faz autoconsciente, por isso na introdução a fenomenologia, Hegel assinala que “o absoluto está em nós, e que o conhecimento é o raso do absoluto que nos toca superficialmente”. A filosofia toma a convicção profundamente racional de que o verdadeiro é o todo, um todo que se manifesta em cada um dos seus momentos e particularmente na articulação de todos eles como um sistema. Como consequência da invasão napoleônica a universidade de Jena fechou suas portas e a situação econômica de Hegel ficou quase insustentável ele chegou até a solicitar emprego como jardineiro nos parques públicos, mas não teve êxito. Com auxilio de amigos editou um periódico em Barmen, até que em 1908, foi nomeado reitor do colégio de Nuremberg, ocupando o cargo por oito anos. Na mesma época A Fenomenologia do Espírito começou a ser reeditada e traduzida. Mais tarde escreveu A Ciência da Lógica que inicia de onde termina A Fenomenologia do Espírito e constitui a primeira parte do sistema hegeliano abordado em detalhes. As ideias que estão nas bases deste livro são em 1

Pensador e escritor alemão considerado uma das mais importantes figuras da literatura alemã. 2 Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, filósofo alemão e um dos representantes do idealismo alemão. 3 Poeta lírico e romancista alemão. Conseguiu sintetizar em sua obra O Espírito da Grécia Antiga, os pontos de vista românticos sobre a natureza e a forma não-ortodoxa de cristianismo, alinhando-se hoje entre os maiores poetas germânicos. SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015.

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primeiro lugar o finito que não se opõe ao infinito como se fossem coisas distintas, se assim fosse o finito teria o infinito como limite, logo não seria infinito. É pertinente dizer que o finito pertence ao infinito e que esse se expressa naquele, este pensamento já havia sido expressado por Baruch Espinoza que havia pensado o absoluto como substância, como algo, e para Hegel o absoluto deveria ser sempre pensado como sujeito, mas não separado dos múltiplos sujeitos finitos. Não se trata de pensar o absoluto como algo cognoscível entre outros captáveis pelo nosso entendimento, se não que o absoluto se pensa a si mesmo em nosso pensar. O absoluto está em nós. Em segundo lugar todas as categorias estão entrelaçadas entre si, e o modo dinâmico de sua relação é o que Hegel chamou de movimento dialético onde uma afirmação ou tese supõe sempre sua negação uma antítese, e a diferença entre ambas resulta superada em uma síntese que supõe sua negação e assim sucessivamente. A razão dialética. O processo hegeliano. Negatividade Superação dialética Ritmo ternário superação dialética

da

Lei da totalidade

Suporte e dialética

motor

da

Processo de diferenciação pelo qual o que era posto encontra-se negado e renegado. Designa o ato de superar conservando. Alfheben: suprimirconservar. Tese: afirmação Antítese: negação; Síntese: negação da negação. Nada é isolado e separado. “Chamamos dialética ao movimento racional superior, graças ao qual temos aparentemente separados passam uns para os outros espontaneamente, em virtude precisamente daquilo que eles são, encontra-se assim eliminada a hipótese as sua separação” (Science de la Logique. T.I Paris: Aubier, p. 99). O conceito

Este processo não permite a estagnação do pensamento. O pensamento dialético opera no livro Ciência da Lógica, do princípio ao fim, inicia pelo mais indeterminado e vago o mero ser. Porém, um ser tão vazio que não admite predicado, somente ser, o mesmo que nada, e essa é sua antítese. A síntese do ser e nada é o devir, porque é um passar do ser ao não ser ou de um não ser a um ser. Assim, o que advém é um ser que tem em si a negação, um ser determinado que é algo e não outra coisa.

SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015.

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Negação da Negação Síntese o Devir

Afirmação Tese o Ser

Negação Antítese Nada

SARDE NETO, E. 2015

A partir desses traços que ele inicia os seus estudos, Hegel está em condições de afirmar que qualquer coisa que possamos assinalar está em Devir e que tudo que existe é intimamente contraditório. E que toda afirmação que empreendemos implica também sua negação. Dito de outro modo, se Deus é a representação imaginativa do absoluto, então Deus não é para Hegel a suma perfeição, se não a síntese das contradições, com mais radicalidade, Deus seria o puro Devir. Também podemos afirmar que Deus vive em nós, e nós nele, o absoluto é o processo infinito da sua autodeterminação e da sua autoconsciência Deus de Bem quer dizer Deus está fazendo e o verdadeiro é o processo mesmo considerado em sua totalidade infinita e em cada um dos seus momentos. Para Hegel o pensamento vai se desenvolvendo com a sua negação que dá origem a outro pensamento que vai superar e desmentir o pensamento anterior, que o leva a outro caminho, a uma síntese de superação. Uma ideia sempre pode ser superada, na dialética sua síntese e antítese não avançam de formas lineares, mas em contraposições que se enfrentam gerando outras superiores encobrindo outros processos de contradições. A consequência do sucesso ganho com A Ciência da Lógica a universidade de Haidengard lhe ofereceu uma cátedra de professor de filosofia. Foi em Heidenberg que Hegel apresentou por fim a visão geral do seu sistema A Enciclopédia das Ciências Filosóficas que conta, além dos prólogos a cada uma das três primeiras seleções, com uma introdução e três partes.

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A primeira parte é um resumo da já publicada Ciência da Lógica, a segunda parte se ocupa da Filosofia da Natureza e a terceira parte tem como tema A Filosofia do Espírito. A obra em seu conjunto oferece ao leitor a impressão de uma catedral onde cada elemento guarda relação com todos os outros, onde nada se escreveu por capricho, onde cada frase está justificada pela totalidade da obra. No livro A Filosofia do Espírito na parte mais original do livro Hegel expõe que o espírito é a verdade da alma e da consciência, esta primeira parte da enciclopédia está dividida em três seções, uma dedicada ao espírito subjetivo (referência a si mesmo), a segunda ao espírito objetivo (na forma da realidade) e outra ao espírito absoluto (divino). Se a natureza é a existência espaço temporal do absoluto o espírito é o voltar-se sobre si. Hegel explora este voltar-se a si como alma, consciência e sujeito para si. No Espírito Objetivo encontramos o direito formal, a moralidade e a ética. A ética é do âmbito da justiça e por isso é a síntese e a superação dos momentos anteriores. O direito formal é meramente abstrato, só se preocupa com o cumprimento dos pactos e normas, e a moralidade é individual e não pode se instalar adequadamente no campo do social. Para Hegel não há ética possível mais do que no seio de um Estado e por isso se desprega do espírito objetivo e finaliza finalmente em uma filosofia de um Estado.

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No Espírito Absoluto encontramos finalmente a arte, a religião e a filosofia. Na arte o absoluto se manifesta sensivelmente, na religião mediante as representações, e só na filosofia alcança o âmbito conceitual. O absoluto está na arte, Deus na religião e ideia na filosofia. Essas determinações devem ser pensadas em sua unidade concreta, não unilateralmente se quer evitar que o pensar resulte abstrato e incompleto. A Enciclopédia das Ciências Filosóficas termina com uma complexa citação da metafísica de Aristóteles, onde se define Deus como o pensar que se pensa perfeitamente a si mesmo, um pensar que é em si atividade infinita e vida eterna. Agregou ainda um pensar que é haver em si que se desprega da história universal, pois o tempo não é mais do que sair de si do absoluto, só existir mesmo. Em 1818, Hegel aceitou as reiteradas propostas da universidade de Berlin e ocupou uma cátedra de filosofia três anos depois publicou seus Princípios Fundamentais da Filosofia do Direito em que expunha com mais detalhes algumas ideias que já havia planteado na sua enciclopédia. Em 1830 foi nomeado reitor da universidade cargo que exerceu até sua morte. Os textos retirados das suas aulas e cursos foram publicados postumamente por seus discípulos resultado da análise dos rascunhos do filósofo com os apontamentos feitos por diferentes alunos. Desse modo foi possível conhecer suas lições sobre a história da filosofia, religião, filosofia da história universal, estética e outros temas. O sentido global da filosofia hegeliana segue sendo matéria de discussões. Não cabe dúvida, por exemplo, de que afirmou a identidade da natureza humana com a divina e assim disse que a verdade do cristianismo está na figura de Cristo como homem e deus ao mesmo tempo. Porém esta concepção foi interpretada de diversas maneiras, para os hegelianos significava que os humanos eram nada menos que divinos e para os chamados hegelianos de esquerda o divino era nada mais que humano. Na política, para alguns Hegel foi o político do Estado Prussiano, apesar de que em sua Filosofia do Direito propõe um parlamentarismo ao estilo dos britânicos e outras particularidades alheias ao governo prussiano. Outros o qualificaram como um jacobino moderado, como uma espécie de democrata revolucionário.

SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015.

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Hegel pretendia estar mais para lá do conservadorismo na revolução, também pretendia estar mais para lá de deísmos e ateísmos ou de direitas ou esquerdas, pretendia descrever como são as coisas, como é o Todo.

Referências HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Sobre o Ensino da Filosofia. Universidade da Beira Interior, 2011. ________ Princípios da Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ________ Filosofia do Espírito. (Parte I – II). Petrópolis: Vozes, 1992. REALE, Giovanni. ANTISERI, Dário. História da filosofia. Do romantismo até nossos dias. São Paulo: Paulus, 1991. RUSS, Jacqueline. Os Métodos em filosofia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

SARDE NETO, Emílio. Meu Acervo Digital, 2015.

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