O STATUS APOCALÍPTICO DO LIVRO DE JOEL_UMA LEITURA LIBERTADORA CONTRA O IMPERIALISMO GREGO

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Anais do V Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade” ISSN:2175-9685

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O STATUS APOCALIPTICO DO LIVRO DE JOEL: UMA LEITURA LIBERTADORA CONTRA O IMPERIALISMO GREGO

Natalino das Neves1 Mestrado em Teologia Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) [email protected] ST 17 – LEITURAS LIBERTADORAS (ANTI-IMPERIALISTAS E ANTICOLONIALISTAS) DA BÍBLIA Resumo: A partir do século V a. C. a história caminha em ritmo acelerado para a sua ocidentalização. Dá-se uma reorientação da vida socioeconômica em direção ao Mediterrâneo. Este ocidente, que é grego por excelência, impõe-se econômica e politicamente muito tempo antes das conquistas macedônias sob Alexandre em 333 a. C. Esta expansão grega pode ser caracterizada no livro de Joel. Percebe-se que a expansão grega faz parte do contexto pós-exílio. São aos gregos que os filisteus, os fenícios e os comerciantes do litoral da Palestina vendem como escravos os filhos de Judá e de Jerusalém (Jl 4.6). Uma nova lógica econômica de arrecadação de tributos parece que está nascendo no horizonte. Um novo mecanismo de acumulação mais aperfeiçoado que os anteriores e, por isso mesmo, mais violento: sob o império grego tributa-se o próprio corpo. O ventre das mulheres pobres é necessário para gerar escravos e escravas para o Império. Um espírito comercial escravista próprio ao estilo grego. No IV século a. C. o Império grego se fazia presente, tornando-se hegemônico e, consequentemente, espalhando seus tentáculos pelas demais regiões. Até que ponto essa influência atingiu a literatura pósexílica, principalmente o livro do profeta Joel? Deve-se levar em conta que são duas mentalidades antinômicas pelo menos em sua origem. Mas certamente em algum momento há um processo de hibridismo cultural. Este estudo tem por objetivo geral identificar na sociedade helênica no período do surgimento e desenvolvimento do Império Grego, fragmentos epistemológicos, culturais, socioeconômico (escravismo e urbanização do corredor siro-palestinense) e políticos, que ajudem a reler o livro de Joel a partir do gênero literário apocalipse. Para isso serão desenvolvidos os seguintes objetivos específicos: 1) identificar as principais características da literatura apocalíptica; 2) descrever, de forma resumida, a mensagem e o contexto do livro de Joel, influenciado pelo helenismo; 3) Identificar as características da literatura apocalíptica presentes no livro de Joel e seu impacto na interpretação do livro. Palavras-chave: Literatura Apocalíptica, Apocalipse, Livro de Joel, Imperialismo, Helenismo.

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Este artigo expressa meu projeto de tese do doutorado em teologia, em andamento no Programa de Pós-Graduação de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Projeto de tese orientado pelo professor doutor Luiz Alexandre Solano Rossi.

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Introdução A história do povo de Israel se resume em uma constante alternância de submissão deste povo a impérios mundiais hegemônicos e opressores: assírio, babilônico, persa, grego e romano. Todavia, para efeito desta pesquisa, que tem o livro de Joel como referencial, a abordagem será a relação entre a sociedade helênica e a sociedade judaica, particularmente a influência da primeira em relação à segunda, universo em que estavam inseridos os escritores apocalípticos. A literatura bíblica foi construída a partir de relações de ordem social, econômica, política e cultural. Segundo Rossi (2005, p. 28) “isso implica em dizer que a construção da literatura bíblica está indelevelmente marcada pelo tipo de economia e de sociedade em que as pessoas viviam”. Neste artigo serão identificadas algumas questões políticas, culturais e socioeconômicas ocorridas durante o império grego, por entender que essas questões influenciaram na compilação final do livro de Joel sob a perspectiva apocalíptica. Aproximações à literatura apocalíptica Collins (2010, p. 20) afirma que a maioria das literaturas apocalípticas não foi reconhecida como pertencente a esse gênero antes do cristianismo. Segundo Collins (2010, p. 18), em pesquisas acadêmicas mais recentes, o termo “apocalíptica” tem sido abandonado como um substantivo. Estas pesquisas fazem distinção entre “apocalipse como um gênero literário, apocalipticismo como uma ideologia social e escatologia apocalíptica como um conjunto de ideias e motivos literários que também podem ser encontrados em outros gêneros literários e contextos sociais”. Villanueva (1992, 193217) assevera que é difícil definir conteúdos próprios de uma literatura apocalíptica, pois muitas características são também comuns a outros gêneros. Afirma que “há escritos claramente apocalípticos que não têm todas as características comuns a esse gênero”. Maia (2011, p. 32) afirma que as origens da apocalíptica “são tributárias de um contexto histórico-político-cultural e religioso que emerge do pós-exílio”. Acrescenta que os grupos apocalípticos surgem “como uma forma de protesto, e às vezes, de

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resistência, contra um sistema opressor, centralizador do poder, ideologicamente discriminador, religiosamente monopólico, etc., que de fato os marginaliza”. Uma expressiva literatura acadêmica de estudo sobre as origens da apocalíptica, ao longo dos anos, se dividiu entre os defensores de que a apocalíptica tenha surgido da profecia, os defensores da origem estrangeira (dualismo persa), os defensores da origem apocalíptica da sabedoria (literatura sapiencial), tendo como principal defensor von Rad2. Collins (2010, p. 44-45) afirma que os apocalipses têm influências de todas essas fontes. No entanto, percebe-se uma maior influência profética. Arens (2007, p. 111) afirma que a linguagem apocalíptica deu continuidade à linguagem profética. Uma filha da primeira hora. Herdeira da defesa das vítimas da história. Uma linguagem para as vítimas interpretarem a história e persistirem diante da violência dos mais diferentes impérios. A linguagem do gênero apocalipse é figurada e “em boa medida inspirada na linguagem figurada dos profetas de antigamente, com a qual se pintam quadros que, portanto, têm sentido quando são vistos como totalidades”. O contexto de hostilidades produz uma visão pessimista do mundo “que terá de ser destruído por Deus para inaugurar um mundo novo, livre de todo mal, paradisíaco para os seus fiéis”. A escatologia foi ao longo do tempo um recurso do gênero profético, que com a evolução do pensamento profético para o apocalíptico, da visão histórica do fim dos tempos, que foi frustrada no período pós-exílio, para uma visão cósmica (HANSON, 1979, P. 8-12). Villanueva (1992, p. 193) defende que a literatura apocalíptica "deve ser definida não só pelo seu conteúdo, mas também pelo seu gênero ou seus símbolos típicos”3. Em sua pesquisa sobre as características da literatura apocalíptica chega a conclusão de que o eixo temático dessa literatura é a revelação e suas características gira em torno desse eixo. Desse modo, afirma que resta analisar as características quanto ao meio e o conteúdo da revelação. Quanto aos meios de revelação são três as características: pseudonímia, visões e simbolismo; interpretação das escrituras (VILLANUEVA, 1992, P. 195-205). Quanto ao conteúdo da revelação são cinco as

2 Gerhard von rad, Theologie, 2. P. 315-330. Uma conexão entre a sabedoria e a literatura apocalíptica já havia sido proposta em 1857, por L. Noack. 3 “hay escritos claramente apocalípticos que no cuentan con todas las características comunes a tal género. Por tanto habría que definir la apocalíptica no sólo por sus contenidos, sino también por su género literario, o por sus símbolos típicos.”

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características: visão da história; caráter esotérico; as duas idades; clímax escatológico; dimensão cósmica (VILLANUEVA, 1992, P. 205-217). Richard (2006, p. 139) afirma que “na literatura apocalíptica, o tema central é a oposição aos impérios”. Para compreender a mudança de expressão escrita do autor profético para o autor apocalíptico, se faz necessário conhecer melhor o contexto em que o este autor estava inserido. A mensagem e o contexto do livro de Joel O livro de Joel contém pouca informação a respeito do protagonista do livro. Todavia, as ausências de informações não param somente no protagonista ou autor /redator do livro. O contexto, a data da escrita, unidade do livro, entre outras informações importantes para interpretação e compreensão do livro são questões que tem provocado dúvidas e muitas suposições sobre a mensagem de Joel. Godoy (2003, p. 82) afirma que a discussão sobre a unidade e estrutura do livro de Joel tem sido uma constante desde 1872, quando pela primeira vez foi questionada por Maurício Vernes4 e surgem novos aspectos como a possibilidade de acréscimos posteriores à primeira escrita do livro. A partir de então, as discussões seguem duas linhas principais: a) o livro como uma unidade e com um único autor; b) o livro como mão de um redator, porém com acréscimos posteriores. Esta pesquisa segue a segunda linha (b). Uma das maiores polêmicas ou problemas do livro é situá-lo historicamente. Sicre (2008, p. 325) inicia o comentário sobre o profeta Joel com a seguinte afirmação: “Na etapa final da profecia israelita podemos incluir um livro de datação muito difícil, o de Joel”. Dentre os especialistas, as proposições de datação vão do século IX a. C. até o século II a. C. Esta pesquisa defende a hipótese da datação pós-exílica, durante a dominação grega. Dentre os principais argumentos para uma datação pós-exílica estão: a) não se menciona nenhum rei ou aristocrata; b) referências aos sacerdotes e anciões (1,2.9.1314); c) uso frequente da expressão “Dia do Senhor”, que pode significar uma ação de 4 VERNES, Maurice. Le Peuple d’Israël et ses espèrances relatives à son avenir depuis les origins jusqu’a l’èpoque persane. Paris: Sandoz et Fischbacher, 1872.

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justiça de Deus sobre seu povo e, especialmente, sobre povos estrangeiros e opressores. Esta que é ênfase dada no livro de Joel; d) Não são mencionados os assírios e nem os babilônicos, que são tradicionais inimigos de Israel no período préexílico e exílico, respectivamente; e) Menção de inimigos do período pós-exílio como os gregos e Edomitas; f) O chamado ao arrependimento (2,12) não menciona os pecados específicos denunciados pelos profetas pré-exílicos: idolatria, formalismo, sensualidade e opressão. g) Identificação dos destinatários como Judá e não como Israel; h) O Templo (1,9.13.14.16.2,17; 4,5) e seu ritual (1,9.13; 2,14) são consideradas como elementos muito importantes da religião, em contraste aos profetas que criticaram ritualismo pré-exílico; i) Uma catástrofe nacional já havia ocorrido, o povo de Judá haviam sido dispersos, e a terra dividida entre os estrangeiros ( 4,2); j) Há pelo menos vinte e sete paralelos com outros escritos do Antigo Testamento; l) Não é mencionada a prática de idolatria ao deus Baal, comum nos livros escritos no período pré-exílio (Eissfeldt, 1965, p. 394-395; Weiser, 1967, p. 106; Wolff, 1969, p. 2-4; Andiñach, 1992,

p. 9-14; Rendtorff, 1998, p. 26-27; Rossi, 1998, p. 8; Konings, 2011, p.90-91). Os gregos são citados explicitamente em Joel 4,6. Segundo Koester (2005, p. 1-2) “a expansão das colônias gregas começou muitos séculos antes das conquistas de Alexandre”. Entretanto, o mundo já não era mais o mesmo depois das conquistas de Alexandre e a imposição da cultura grega. As culturas da Pérsia, Síria, Judéia e Egito “não gozavam do mesmo prestígio porque eram culturas de povos conquistados, de populações que não tinham sido capazes de resistir ao poderio superior de Alexandre e de seus sucessores” (SKARSAUNE, 2004, P. 20). São aos gregos que os filisteus, os fenícios e os comerciantes do litoral da Palestina vendem como escravos os filhos de Judá e de Jerusalém. A dominação do povo grego ou helênico (333-63 a. C.), povo citado por Joel como comerciantes de escravos, soube aproveitar a organização já instaurada pelos persas e ampliou, implementando o modo de produção escravista. Sob o império grego tributa-se o próprio corpo. O ventre das mulheres pobres é necessário para gerar escravos e escravas para o Império.

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Ribeiro (2008, p.80) afirma que o modelo de produção escravista interfere na forma de convívio social da sociedade. O modo de produção escravista ocorre quando a economia tem como base a comercialização da mão de obra escrava como a principal fonte de produção, inclusive com a separação da pessoa escravizada de sua própria sociedade, sendo levada para um novo ambiente no processo de dessocialização e despersonalização. O grande sistema de dominação grego, que tinha a economia como um ponto forte, não poderia ser manter sem o modelo escravagista e desumano imposto sobre os dominados. O modo de produção escravista se constituía em um modelo hegemônico e que era alimentado pelo sistema opressor que empobrecia o camponês livre, que acabava se tornando escravo por dívidas ou pelas guerras, que tinham como um dos principais objetivos a escravização dos povos conquistados. O redator final do livro de Joel, influenciado pela literatura apocalíptica, percebia a situação de extrema opressão desumanizadora (Jl 4,4-8). No restante do capítulo quatro demonstra a insatisfação de Deus com a prática de produção escravista. O autor coloca na boca de Deus o anúncio de julgamento das nações estrangeiras e de libertação dos escravos judeus, que estavam sendo submetidos a práticas de desumanização. Neste momento ele apresenta um Deus não mais exclusivo de Israel, mas um Deus universal, que intervém na história e implementa um reino cósmico e escatológico. Considerações finais Segundo Valdez (2002, p.57) o gênero literário “se reflete num grupo de textos que contém um conjunto de características que os permite reunir por afinidade”. Se analisarmos o conteúdo do livro de Joel, o que este artigo devido sua limitação de espaço não permite detalhamento, mas de forma resumida, pode ser percebido o contexto histórico-político-cultural e religioso de opressão acentuada, assim como é caracterizado o ambiente apocalíptico. O diferencial opressor do Império Grego é o modo de produção escravista citado em que a mulher judia passa a ser considerada como uma “fábrica” de escravos. Um sistema opressor como nunca visto que suscita sempre movimento de revolta.

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Neste ambiente que surge os grupos apocalípticos como forma de protesto e resistência

contra

esse

sistema

imperialista

grego

extremamente

opressor,

principalmente no caso dos moradores da Palestina, que foram marginalizados. O redator final do livro de Joel, utilizando de textos anteriores, faz uma releitura apocalíptica e acrescenta novos textos, como no capítulo quatro, para denunciar, em especial, o modo de produção escravista, uma prática extremamente desumanizadora. No livro de Joel, pode-se ver Deus tomando a causa para si e fazendo justiça. Uma mensagem que motiva o povo a uma ação libertadora para transformar a situação-limite em que se encontravam. REFERÊNCIAS ANDIÑACH, Pablo R. Imaginar caminos de liberación - Una lectura de Joel. 1992. 214 fl. Tese (Doutorado em Teologia). Instituto Superior Evangélico de Estudios Teológicos. Buenos Aires, 1992. ARENS, Eduardo. A Bíblia sem mitos: uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007. COLLINS, John J. A imaginação apocalíptica: uma introdução à literatura apocalíptica judaica. São Paulo: Paulus, 2010. EISSFELDT, O. Old Testament: An introduclion. Trad. by P. R. Ackroyd. New York: Harper and Row, 1965. GODOY, Daniel. O derramamento do Espírito – Fortalecimento dos enfraquecidos. 2003. 239 fl. Tese (Doutorado em Ciência da Religião). Universidade Metodista de São Paulo, Pós-Graduação em Ciência da Religião, São Bernardo do Campo – SP, 2003. HANSON, Paul D. The dawn of apocalyptic: the historical and sociological roots of Jewish apocalyptic eschatology. Philadelphia: Fortress Press, 1979. KOESTER, Helmut. Introdução ao novo testamento 1: história, cultura e religião do período helenístico. São Paulo: Paulus, 2005. KONINGS, J. A Bíblia, sua história e leitura. 7ª edição atualizada. Petrópolis: Vozes, 2011.

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Disponível

em:

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