O tabique em Portugal - SALZEDAS

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ARQUITETURA DE TERRA

O tabique em Portugal

SALZEDAS Pesquisa para o Curso de Pós-Graduação em Restauro de Arquitetura Disciplina: Patologias – Professor: Raymundo Rodrigues Aluna: Silvana Borges da Silva – Turma D / 2012.

Arquitetura de Terra

A terra crua como material construtivo pode ser escavada, empilhada, modelada, prensada, apiloada, recortada, servir de enchimento como no caso do tabique, de cobertura, de recobrimento, entre outros. A arquitetura de terra é praticada há milênios por diversas culturas em todos os continentes, daí a sua universalidade. Atualmente cerca de 1/3 da população mundial vive em estruturas construídas em terra.

Diagrama das diferentes famílias de sistemas de construção antigos e modernos, que utilizam a terra como matéria-prima sob três formas: (A)Monolítica e portante (B) alvenaria portante manufaturada (C) enchimento e revestimento de uma estrutura de suporte Autores: Hugo Houben e Hubert Guillaud do grupo CRATerre (Centre International de la Construction en Terre)

Em Portugal, as principais técnicas tradicionais de construção que recorrem à terra são: a “taipa”, principalmente no sul; o “adobe”, junto aos estuários do Tejo e do Sado e no litoral centro; o tabique, distribuído em algumas localidades do centro e norte (Alto-Douro); a terra de cobertura, em construções circulares no Alentejo e as coberturas de salão do Porto Santo (Madeira). O tabique distingue-se da taipa e do adobe pelo fato de recorrer a uma estrutura resistente de madeira, enquanto a taipa e o adobe usam essencialmente terra como material de construção autoportante.

O Tabique O Tabique é uma das técnicas construtivas tradicionais que usa a terra crua como material de construção presente em Portugal na região de Trásos-Montes e Alto Douro, que é rica em edifícios antigos com esse sistema construtivo conforme as regiões demarcadas no mapa ao lado. Localizou-se no vilarejo de Salzedas uma concentração de edificações com exemplos deste tipo de construção. Foi realizado o registro fotográfico do estado de conservação e se pretende descrever a caracterização dos edifícios antigos encontrados e construídos em tabique que ainda é uma realidade na arquitetura existente nesta região.

• O tabique aparece como técnica construtiva tradicional em terra em algumas bibliografias, sendo também designado por “taipa de mão”, “taipa de sopapo”, “taipa de chapada”, “pau-a-pique”, “barro armado” (no Brasil), “bahareque” (na Colômbia e Venezuela), “torchis” (na França) e “ Wattle and Daub” (em Inglaterra). • Talvez o conhecimento desta técnica construtiva e a sua valorização no uso de materiais naturais, sensibilize o poder público e a comunidade para a conservação e reabilitação deste tipo de edifícios.

• Estima-se que esta técnica tenha aparecido em Portugal por volta do século XVII. De forma simplificada o tabique é formado por uma estrutura de madeira revestida por um material à base de terra crua, podendo em casos pontuais conter palha como enchimento, como pode se observar na foto.

• Um elemento construtivo de tabique, como por exemplo uma parede, é construído através da pregagem de “fasquio” (ripas de madeira, geralmente finas, colocadas horizontalmente) sobre tábuas de madeira colocadas na vertical, sendo o conjunto revestido em ambas as faces, com material à base de terra crua.

• Geralmente o tabique era utilizado para as divisões internas das residências, pela menor espessura e leveza das paredes, no entanto, as construções de tabique encontradas possuem ao nível do rés-do-chão paredes exteriores em alvenaria de pedra e somente nos níveis superiores uma parede exterior de tabique.

Ao aplicar terra sobre a estrutura de madeira forma-se uma estrutura mista em que a capacidade resistente é basicamente conferida pela estrutura de madeira onde a terra funciona apenas como um material de enchimento e de revestimento. O uso da terra se justifica por ser um material que possui excelentes propriedades acústicas na absorção do som. A sua massa térmica permite no inverno conservar o calor e no verão manter o ar fresco, retendo o excesso de umidade das habitações.

A aplicação da argila como material de construção é mundial e de longa data pois existem vestígios de construções em terra há mais de 10.000 anos descobertos na Bacia do Rio Tigre (Mesopotâmia). • Argila – Nome radicado no grego argilós, a partir do étimo argos, branco. Este nome passou ao latim com a grafia argilla. • Barro – Termo de origem pré-romana, usado como sinônimo de argila.

Em todas as regiões onde a chamada arquitetura de terra foi utilizada, isso se deve ao fato da existência abundante da argila com excelentes qualidades de trabalhabilidade. No contexto atual, a argila apresenta-se como sendo um material de construção com enorme potencial atendendo a que é um material natural, reciclável, inesgotável, ecológico e sustentável.

Técnicas construtivas tradicionais encontradas em Portugal.

Salzedas Salzedas é uma freguesia portuguesa do concelho de Tarouca, com 8,92 km² de área e 767 habitantes. A sua origem remonta ao século XII, tendo aí sido construído o Mosteiro Cisterciense de Santa Maria de Salzedas. Chegou a ser um dos maiores e mais ricos mosteiros portugueses, detentor de um biblioteca notável.

Mosteiro de Santa Maria de Salzedas

O conjunto sofreu obras de ampliação nos séculos XVI, XVII e XVIII ao nível da fachada e dos claustros. Na foto a visão da lateral da igreja no plano posterior, ligada à uma das faces do pátio interno do claustro do mosteiro.

A construção do mosteiro masculino da Ordem de Cister iniciouse em 1168, com a sua fundação intimamente ligada à figura de Teresa Afonso, esposa de Egas Moniz, também conhecido como “o Aio” (1080-1146), assim chamado porque foi quem educou D. Afonso Henriques (1109-1185), primeiro rei de Portugal.

O complexo monástico foi largamente ampliado no século XVII e XVIII, destacando-se um novo e monumental claustro no século XVIII, com traço do arquiteto maltês Carlos Gimach.

Com a extinção das Ordens Religiosas em Portugal em 1834, a igreja foi convertida em igreja paroquial e parte das dependências monásticas vendidas a particulares.

Classificado Monumento Nacional em 1997. Em 2002, ao abrigo de protocolo com a Diocese de Lamego, o Estado Português iniciou o progressivo restauro dos edifícios e espólio, possibilitando a sua abertura ao público em Novembro de 2011.

Dentre as peças que estão em seu acervo, existem em exposição trabalhos de alguns dos maiores nomes da pintura em Portugal, entre eles: - Vasco Fernandes (Grão Vasco) - Bento Coelho da Silveira - Pascoal Parente.

O início da construção do mosteiro data do século XII. Assim como os templos gregos e romanos, as grandes catedrais e mosteiros medievais tiveram, em sua maioria, o sistema construtivo executado em cantaria.

Não se pode falar sobre a tipologia das construções em Portugal sem mencionar a cantaria, um serviço sofisticado, que exige profissional bastante habilitado: o canteiro, profissão que é também milenar.

Dentro da igreja e do mosteiro são visíveis os sinais feitos na pedra, como uma assinatura que identificava o trabalho dos vários canteiros que recebiam o valor dos seus serviços por cada pedra assentada.

Muitas vezes a cantaria não era utilizada na totalidade do edifício, mas apenas em suas partes mais importantes: nos frontispícios, nas soleiras, nas pilastras, nas cornijas, nos portais, nas janelas e nos cunhais, sendo, no restante das vedações, era utilizada outra técnica de alvenaria. Isso se justificava devido à dificuldade de mão de obra qualificada e custo.

No interior da igreja do mosteiro há um exemplo claro do tipo de parede mista, onde os arcos ogivais originais foram substituídos por outros de estilo neoclássico, na diminuição do vão, o preenchimento foi realizado em alvenaria de pedra.

Detalhe das colunas e capitéis que estavam ocultos pela argamassa, e a diminuição do vão de interligação do corredor dos altares laterais da igreja.

Uma urbe medieval

Salzedas destaca-se também pela existência ao lado do mosteiro de um conjunto arquitetônico único de construções em pedra e tabique na região norte. O tabique é uma das técnicas construtivas em terra dominantes no país como a taipa e o adobe, onde a terra crua é o material principal.

Ao lado do Mosteiro de Salzedas de construção do início do sec.XII encontrase uma pequena viela que dá acesso ao beco, conhecido como judiaria ou bairro medieval, embora sem evidências que comprovem, algumas pessoas dizem que ali se encontraram inscrições e elementos de simbologia judaica, que atestariam a presença de uma comunidade isolada nesta aldeia, em tempos remotos.

Implantação do “beco” no lote urbano

Segundo palavras do padre Antonio Seixeira: "Pensa-se que este local remonta aos finais do século XIV. Sabemos que o Mosteiro de Salzedas tinha isenção régia e eclesiástica, o que significava que, no interior das suas terras, quem mandava era o abade. Daí que os excluídos da sociedade, os perseguidos, buscavam a sua proteção. Claro que isso também interessava ao abade, pois o mosteiro recebia como troco o trabalho destas pessoas, quer fosse no trabalho das quintas, no trabalho das granjas ou no comércio - onde os judeus sempre se distinguiram."

O pequeno beco desenvolve-se a partir de estreitos arruamentos e apresenta-se como um dos mais autênticos e importantes exemplares da arquitetura vernacular, em que em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída, apresentando um carácter urbano regional, representando um excelente retrato do que seria uma urbe medieval.

Hoje a maioria das 40 construções encontra-se inabitada, mas resistindo aos séculos, o registro da passagem do tempo encontra-se impresso nas pedras escurecidas e em vestígios de seus habitantes.

De traçado muito irregular os estreitos acessos são moldados pelas construções. No alto, os passadiços que permitem a passagem de uma construção para outra, completamente integrados arquitetonicamente ao conjunto, formam um labirinto de passagens que não foi possível acessar totalmente, devido ao estado precário da sua estrutura.

• Os populares dizem que todas as construções são de propriedade particular, como informou uma moradora: “o governo não os deixa reformar as casas e tão pouco realiza o conserto”. Porém não se sabe ao certo se são ainda os descendentes dos moradores originais que se refugiaram em Salzedas buscando segurança ao lado do grande mosteiro, há um dúvida ainda sobre essa questão. Fato é que se trata realmente de um exemplo único de vila medieval.

Como o mosteiro as casas do beco são em granito, mas apenas no piso térreo ou até o primeiro andar, a partir daí as paredes exteriores são em tabique, com painéis construídos com grelhas de madeira e o seu interior preenchido com terra e palhas. É um dos locais emblemáticos ao norte de Portugal, região onde essa técnica ainda sobrevive.

As madeiras das casas prolongam-se pelos balcões superiores, pelas varandas e pelos curiosos passadiços, que dão passagem de umas habitações para as outras, não se teve acesso as passagens interiores que uniam as casas.

Observou-se também os vários postigos, pequenas aberturas de vigias, que dizem serem utilizados pelos ocupantes, que como eram perseguidos, pouco se arriscavam à rua, e os utilizavam para observar os estranhos que adentravam ao lugar.

Tipologia

As características da planta são similares a da casa serrana ou minhota presentes na região norte de Portugal. A construção de habitações na tradicional arquitetura vernacular, era feita de materiais do próprio local: as pedras de rio, o granito, o xisto, o barro vermelho, a madeira (castanho e pinho) e a telha caleira ou chamada de Fontela.

Casas serranas típicas na Lapa

Como particularidade há a salientar que no topo da escada há quase sempre um patamar coberto por um alpendre . Por vezes mesmo aparece em certas regiões uma varanda coberta com um balaústre de madeira (balcão) essa área da casa é que serve de sequeiro para o milho, feijões ou para amadurecer a fruta .

Características da planta A divisão da casa era feita da seguinte forma: no térreo encontravam-se o curral (loja) e/ou depósito, como se aproveitava também o espaço sob a escada. No andar superior acessível por uma escada em pedra, há a cozinha com lareira e os quartos. A cozinha assume papel fundamental de carácter social, local de preparação das refeições e espaço de convívio. Os quartos eram sempre pequenos inerentes à sua função. A razão desta divisão tinha a ver com as condições climáticas da região, pois a presença de animais no piso inferior fornecia calor ao piso superior. Outra característica destas habitações era a não existência de chaminés, a fumaça saia diretamente pelo teto.

Na arquitetura popular portuguesa dessa região os materiais de construção utilizados são no geral o xisto (à esq.) e o granito (à direita), que raramente é aparelhado, e o xisto utilizado sem argamassa ou reboco . O xisto, que se apresenta sob a forma de pequenas lajes, implica que nas casas, as ombreiras, padieiras e aventais sejam de madeira ou granito, assim como os cunhais que podem ser formados por grandes blocos de granito. As argamassas eram cal e areia, mais resistente, ou o barro, onde não existia a disponibilidade de cal. As pedras eram de tamanho variável, até 40 cm na maior dimensão ou mais, e acabamento irregular, sem qualquer trabalho de aparelhagem onde pedras menores eram colocadas para calçar as maiores.

Aldeia de xisto - Piódão

Tipologia da Alvenaria • Tabique

Alicerces

Segundo pesquisa no geral são em vala corrida, em pedra e barro com altura de até cerca de 1,20 m, largura um pouco maior que as alvenarias das paredes, mantendo a mesma espessura até o solo e variando de acordo com o número de pavimentos a suportar. Prospecção das fundações no interior da Igreja do Mosteiro de Salazedas >>

Alvenarias externas dos pisos inferiores • pedra e cal, ou junta seca, algumas rebocadas com argamassa de barro, ou ainda cal e areia, pontos de argamassa cimentícia em algumas edificações modificadas mais recentemente.

• Na alvenaria das construções nos andares inferiores feitas com pedra (algumas exceções em cantaria), no geral são executadas em junta seca, algumas paredes podem ser aglutinadas entre si por meio de uma argamassa, possivelmente do tipo mais utilizado na região, uma mistura de cal e areia ou de barro.

Na alvenaria de pedra seca, é dispensada a argamassa. Com se vê ao lado, as paredes têm grande espessura (0,60 a 1,00 m), as pedras irregulares eram as vezes assentadas com a ajuda de formas de madeira. Esta é uma técnica mais utilizada para muros exteriores. As pedras de mão, maiores, contornadas por pedras menores recebem o nome de cangicado como abaixo.

Em alguns locais percebe-se que as paredes foram construídas pelo simples empilhar das pedras, porém, seguindo um tipo de alinhamento no seu assentamento.

nos acabamentos das sacadas e alguns patamares de escada temos a presença do acabamento em cantaria.

As escadas possuem peças maiores e algumas com formas semelhantes a encaixes na extremidade que denunciam terem sido reaproveitadas de algum lugar (talvez até mesmo do Mosteiro).

Nos pisos inferiores, nas vergas de portas e janelas também há um trabalho de cantaria, mesmo que irregular.

• Por cantaria entendemos o serviço utilizando a pedra lavrada de maneira precisa, de modo que as peças se ajustam perfeitamente umas sobre as outras sem o auxílio de argamassa aglutinante.

Para o assentamento rigoroso também se utilizavam grampos metálicos e, às vezes, óleo de baleia como adesivo, para auxiliar na vedação. Na foto se vê a presença de três grampos metálicos no muro externo na entrada do beco.

Alguns patamares e passadiços são sustentados por acabamentos em cantaria, assim como as ombreiras e vergas nas paredes de pedra, no piso superior tem-se a presença do tabique.

Sistema Construtivo em Tabique

- paredes superiores externas e divisórias internas

Como explicado anteriormente, as paredes inferiores eram construídas em pedra, o granito era utilizado para a construção das esquinas das casas e para o suporte das janelas e o barro vermelho servia para vedar as paredes. Nos andares superiores as paredes eram em tabique e o piso superior da casa em madeira de pinho, assentando este último em barrotes de castanho.

As fachadas principais se confundem pelo prolongamento do madeiramento do piso que sustenta os passadiços superiores entre uma casa e outra ou pela simples projeção dos barrotes que sustentam a projeção do piso superior em tabique.

Alvenarias Internas e externas superiores - Pedra e cal nas paredes mestras no térreo, algumas divisões internas, sobretudo as alvenarias superiores apresentam paredes de vedação na técnica construtiva do tabique, com estrutura formada pela trama de esteios verticais que são fixados no frechal…

… onde depois é presa uma armação de pequenas tábuas horizontais bem próximas, que após montada é preenchida nos intervalos por uma mistura de barro e palha dos dois lados e posteriormente rebocada, recebendo uma pintura à cal.

A paredes internas de tabique eram rebocadas e caiadas. Quando existente mais um pavimento a ligação entre os dois pisos era feita por uma escada interior também em madeira.

Foto acima, topo da escada com vista da porta de acesso de um dos passadiços, a viga de sustentação do assoalho à esquerda, e uma parede recente em alvenaria de tijolos cerâmicos à direita. Foto ao lado, parede a esquerda em pedra rebocada e caiada, e a viga de sustentação do mesmo assoalho do piso superior que tem suas paredes em tabique.

Pisos - Terra batida, pedra lioz, pisos compostos de seixos rolados (pedras redondas de rio) alternados com pedra lioz. Em intervenções mais recentes, alguns pisos em pedra de lioz foram substituídos e/ou cobertos por cerâmica esmaltada e cimentado.

• nas edificações térreas que também apresentam assoalhos, estes ficam acima do nível do chão, separados por um porão (foto acima) para proteger as réguas de madeira da umidade do solo.

Vãos - as edificações apresentam vãos em portas, janelas e seteiras. As portas externas e janelas ao nível térreo, são em pranchas de madeira macheadas, sem bandeiras, como também as portas internas. Apenas as janelas superiores tem folhas com vidro.

Nos vãos superiores onde o sistema construtivo é em tabique, as janelas tem abertura lateral ou guilhotina e são arrematadas com vergas em madeira. As portas e janelas diferem do piso inferior por ter a moldura de madeira para fixação de suas folhas.

Apresentam também seteiras, que são pequenas aberturas, que complementam a iluminação e ventilação de alguns ambientes. Algumas das janelas em pranchas de madeira apesar de não ter as bandeiras, possuem orifícios de vigia que também permitem a ventilação.

Forros - apresentam no geral forro em madeira do tipo ripado na estrutura dos pisos superiores, coberturas e projeções das varandas e passadiços.

Passadiços

Destacam-se no conjunto arquitetônico a série de passadiços de comunicação entre as moradias, alguns constituídos pela projeção dos barrotes de sustentação dos pisos superiores, protegidos por coberturas de telhas e guarda-corpo ripado.

Coberturas - em telha cerâmica, tipo lusa ou portuguesa (acima) e tipo canudo (abaixo), com as águas voltadas para as vielas.

Telha Lusa - A telha Lusa é a mais usada em Portugal, sendo tradicionalmente considerada uma invenção nacional e também chamada de telha portuguesa. A sua aplicação é rápida pelo encaixe das peças sobre uma estrutura tradicional de madeira.

Telha Canudo - é uma telha artesanal, de forma curva, com um único canal, tipicamente de cor vermelha, bege ou castanha, de encaixe pouco eficiente, geralmente fixada com argamassa e pouco indicada para aplicação em coberturas com muita inclinação.

A telha lusa é colocada sobre um esquema tradicional de madeira como esquema à direita, enquanto que na telha canudo é disposta no sistema com uso do guarda-pó como desenho à esquerda.

O Guarda-pó é um suporte de madeira maciça no assentamento de telhas canudos formando um forro de tabuado de madeira colocado em geral entre o ripado e o varedo, e que pode substituir o primeiro no assentamento das telhas canudo (tipo capa e canal).

PATOLOGIAS Destacam-se entre as principais patologias: • Erosão • Fissuração • Ocorrência de manchas de umidade e infiltrações • Descolamento de reboco

As patologias comumente encontradas na construção em terra de origem estrutural incidem na degradação das estruturas de madeira que sustentam a grade do tabique, muitas vezes em decorrência da umidade provocada pela falha na estrutura do telhado e a umidade que compromete a estrutura de sustentação com o apodrecimento da madeira que estrutura todo o conjunto, tanto as vigas engastadas na pedra, como as colunas expostas em contato com o piso.

As situações de colapso ou degradação mecânica da cobertura permite a erosão do revestimento das paredes ou deslocamento provocado pela infiltração nas paredes de pedra que alicerçam a arquitetura de tabique presente nos pisos superiores.

A ação da água provoca a perda de coesão do material constituinte das paredes de terra levando a sua rápida degradação, assim como o aparecimento de espécies vegetais que aceleram a deterioração, além dos ciclos de expansão e contração do material devido as variações climáticas que igualmente contribuem para a degradação desse tipo de parede.

As caixilharias de madeira de perfil irregular contribuem para a ocorrência de fissuras promovendo a infiltração de umidade nas paredes.

Descolamentos de rebocos de cimento recentes, devido a retração da argamassa por incompatibilidade com o suporte e estrutura de madeira comprometida pela umidade.

• Colapso estrutural pela deterioração da viga de madeira de sustentação do piso superior em tabique. • Provavelmente a infiltração e umidade provocou o apodrecimento da viga engastada na alvenaria de pedra

Prolongamento dos barrotes do piso que sustenta as paredes superiores em tabique comprometidos com manchas de pontos de umidade.

Deterioração do telhado provocada por umidade e com proliferação da vegetação acelerando a deterioração dos materiais

A degradação da estrutura de tabique bem como do madeiramento presente nos níveis superiores apresenta-se evoluído onde a condição da cobertura está mais precária.

os inimigos da vedação de barro são as infiltrações de água, seja por capilaridade do solo, seja por falta de proteção adequada com rebocos mal executados ou coberturas precárias.

As estruturas de madeira do fasquio que suportam o tabique nem sempre se apresentam perfeitas à vista, com peças regulares e alinhadas, dada a necessidade de muitas vezes utilizar madeira fora de esquadria, e portanto de pior qualidade sujeitando o revestimento a sofrer mais deformações e consequente descolamento do revestimento em terra.

Danos causados pela incidência da água das peças horizontais de madeira engastadas na pedra, bem como nos pilares e forquilhas que ficam em contato direto com o piso.

Comprometimento da estrutura

Escoramento das peças estruturais em madeira.

O que se observou é que grande parte deste tipo de construção se encontra em avançado estado de degradação, o acesso ao interior das construções foi impossibilitado por uma questão de segurança devido às edificações estarem em completa ruína.

• um dos maiores problemas das habitações de tabique deve-se à falta de revestimento; ele é imprescindível para que haja proteção das paredes contra ação da água, bem como para evitar o alojamento de insetos nas gretas, que surgem quando seca o barro.

A má conservação da cobertura acarretou a perda de todo o revestimento do tabique, chegando a camada central de tábuas verticais onde estaria preso o fasquio. A erosão evolui no assentamento das pedras no nível inferior, onde se vê uma argamassa aplicada, e comprometendo a sustentação da cobertura do passadiço à esquerda, já com escoramento provisório.

o conjunto estrutural apresenta-se muito deteriorado sem visivelmente apresentar a solidez e estabilidade que evitem a ocorrência de desnivelamentos e trincas que sujeitam as paredes à ação da erosão e a umidade que compromete as peças de sustentação em madeira.

A perda completa do revestimento do tabique implica em soluções alternativas inadequadas pelos populares como o fechamento da parede acima com madeirit, embora a não proteção implique expor a estrutura à contínua ação da umidade e ataque de térmitas no fasquiado exposto na foto ao lado

Parte de parede degradada (à esquerda) e parte de construção refeita em tijolo cerâmico e argamassa cimentícia (à direita).

Acima vestígios do reboco e caiação da parede em alvenaria de pedra, ao lado revestimento de uma parede em argamassa cimentícia e cobertura do tabique na lateral em telha plana de ardósia, tornando a aparência da construção desequilibrada com a estrutura das paredes desalinhada.

Na edificação à direita da viela de acesso, houve substituição no piso superior da caixilharia original por alumínio e vidro, com a reconstituição do reboco da pedra no nível inferior e do tabique, acima, com pintura a cal, Além da pintura melhorar a salubridade e conservação, torna a habitação agradável visualmente.

Intervenções Soluções mais populares encontradas na região para proteção exterior das paredes em tabique: • revestimento de telhas de zinco • revestimento de telhas cerâmicas • revestimento de ardósia • preenchimento de argamassa cimentícia

Acima, revestimento de argamassa cimentícia e caiação, ao lado aplicação de folhas de zinco com revestimento em ardósia.

Tipologia Arquitetônica da região Nível superior em tabique totalmente envidraçado, por ser uma região de inverno rigoroso, é uma forma de aquecer a habitação A varanda envidraçada, como foi durante muitos anos usual por terras do DouroSul, permite um maior aproveitamento solar-térmico durante o Inverno.

Nas ruas adjacentes externas ao beco também observou-se que as construções características de Salzedas são também em tabique fazendo parte do sistema construtivo adotado na região para esse tipo de habitação unifamiliar com um máximo de três pisos.

Exemplos das habitações próximas ao beco com o uso do sistema construtivo em tabique e proteção em zinco e ardósia.

As construções adjacentes também apresentam a ocorrência das patologias comuns a esse tipo de sistema construtivo: • Erosão • Fissuração • Ocorrência de manchas de umidade e infiltrações • Descolamento de reboco

O TABIQUE NO ALTO-DOURO Sobre o pavimento térreo normalmente em pedra, o tabique constitui no AltoDouro o último andar de muitas habitações. O tabique é também usado na região para construção das paredes interiores, apresentando-se rebocado com argamassa à base de cal. Ao lado uma casa em Viseu.

Essas casas apresentam paredes exteriores em alvenaria de pedra, pisos e escadas interiores em madeira e, paredes exteriores ao nível dos pisos superiores em tabique, alguns protegidos da ação natural da erosão provocada pelos agentes naturais tais como a chuva e o vento, com a colocação no exemplo encontrado em Viseu de telhas de cerâmica.

Manchas de umidade, erosão, fissuração e descolamento do revestimento em outra fachada de uma construção de 4 andares encontrada em Viseu.

O tabique forma muitas vezes acréscimos e águas furtadas. Apresenta-se rebocado ou, para maior proteção, revestido no exterior por telhas cerâmicas, placas de lousa, ardósia ou chapas de zinco. Ao lado uma habitação em Sernancelhe.

Ao lado um exemplo da arquitetura em tabique localizada em Lamego, onde temos lado a lado exemplos dos quatro tipos de revestimentos associados às paredes de tabique alto-duriense: - tabique rebocado, nos dois últimos andares da casa da esquerda; - tabique revestido a chapa, na fachada dos dois últimos andares da casa do centro; - tabique revestido a telha cerâmica, na parede lateral dos dois últimos andares da casa do centro; - tabique revestido de ardósia, na fachada do último andar da casa da direita. (Foto: Rafael Carvalho/Abr2008)

CONCLUSÃO A importância do desenvolvimento de uma base de conhecimento que apoie futuras ações de reabilitação destas construções e da sua preservação, não se vincula apenas a aspectos históricos e culturais mas, fundamentalmente, à potencialidade que apresenta como exemplo de arquitetura de terra crua. Sabe-se que é uma técnica de fácil assimilação e de simples execução, harmonicamente equilibrada com o meio ambiente, que apresenta excelente desempenho térmico, utiliza materiais locais e renováveis, além de apresentar baixo consumo de energia e resultados técnicos excelentes, desde que seguidos os procedimentos de execução.

Bibliografia: • CAETANO, Paulo. Terra Crua, Arquitectura de Natureza. Lisboa, Bizancio, 2011. • MOUTINHO, Mário. A Arquitectura Popular Portuguesa. Lisboa, Ed.Estampa, 1979. • TORGAL, F.Pacheco, EIRES, Rute M.G., JALALI, Said. A Construção em Terra. Tecminho, Guimarães, 2009. • CARVALHO, J. e outros autores. Construções em Tabique na Região de Trás-os-Montes e Alto Douro. UTAD, Vila Real,2008. • http://construcaociviltips.blogspot.com.br/search/label/CO BERTURA • http://arquitecturadouro.blogspot.com.br/2008/02/tabiqu e-modalidades-de-revestimento.html

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