O TAO E A EDUCAÇÃO

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O
TAO
E A EDUCAÇÃO

Autor- Ivan da Silva Poli
E-MAIL – [email protected]
Índice-...............................................................................
Prefácio-............................................................................
Apresentação....................................................................
Os Oito Caminhos do TAO.................................
CONFUCIONISMO........................................................ Análise................................................................
Conversa com os Analectos.......................
TAOÍSMO........................................................................
Análise.................................................................
Conversas com o Tao Te King........................
Proposta do Tao-te King na Educação................
BUDISMO........................................................................
Educação Budista ......................................
REFLEXÃO FINAL..................................................
Modos de Produção Budista,Confucionista, Marxista , e diálogo entre China e Tibet ......................








Prefácio


































O Tao e a Educação.
Apresentação.
Esta obra pretende ser uma pequena contribuição para o Estudo do pensamento chinês e das filosofias do Extremo Oriente e seus reflexos na Educação.
Temos no Ocidente que homogeneamente o pensamento eurocêntrico deve guiar nossa Filosofia da Educação e esquecemos-nos da riqueza que a contribuição de outras formas de pensamento podem fornecer a nossa Filosofia da Educação.
O livro se inicia com uma breve apresentação dos conceitos mais comuns ao que o famoso conceito de TAO das filosofias chinesas se relaciona a partir do texto Oito Caminhos do TAO de Inty Scoss Mendoza.
Na seqüência apresentamos os principais conceitos do Confucionismo de forma condensada a partir da obra de Anne Cheng e cito alguns trechos do clássico os Analectos para ilustrar o que Confúcio definia como o senso de Humanidade.
Em seguida apresentamos os conceitos centrais do Taoísmo igualmente a partir da análise da obra de Anne Cheng para na seqüência travar "diálogos" entre a Educação e os versos do clássico de Lao tsé, o Tao te King.
Na penúltima parte trato da Educação Budista e brevemente do sistema filosófico budista, suas premissas e seus impactos na educação para concluir ao final com uma reflexão sobre os conflitos e afinidades do Confucionismo, Taoísmo e Budismo com o sistema econômico marxista da China atualmente.

Os oito caminhos do Tao.
Segundo o Texto de Inty Scoss Mendoza baseado nas obras de Shang Dainian e Zhang Liwen, o conceito de Tao tem diversos significados. Entre estes significados se destacam oito que são:
Tao como Caminho – Segundo Inty o tão está relacionado com o sentido de caminho em diversos períodos da história chinesa, sendo segundo Zhang Liwen o caminho trilhado pelos pés humanos.
Tao como a raiz e origem de todas as coisas – Esta versão é atribuída a Lao TSE, como o princípio que rege o Universo ao qual nada mais estaria acima deste princípio.
Tao como Um – Ainda influenciado pelo pensamento de Lao- Tsé , mas a posteriori, surge o conceito de Tao como Um , tomando por base uma passagem do Tao te Ching.
Tao como a não Existência – Há segundo Inty , a contrapartida da definição da existência da origem de tudo é definição que o Tao se aproxima do vazio e da não existência, o que também encontra justificativa em passagens do Tao Te King.
Tao como o princípio Li – Que está acima da forma, e pode ser explicado pela passagem neoconfucionista abaixo:
Entre o Céu e a Terra há o Princípio [Li] e o Sopro [Qi]. O princípio é o Tao que
Está acima da forma, é a raiz de onde nascem as coisas. O Sopro é a ferramenta que
Está sob a forma, é o instrumento do nascimento das coisas. O nascimento do ser
Humano e das coisas dependem desse princípio para depois possuírem uma
natureza; dependem desse sopro para depois terem forma.
Tao como Xin- Segundo Inty , não é fácil definir este conceito , e o que mais se aproxima dele segundo a definição de Zhang Dainian é Coração .
Tao como qi (Chi) – segundo o pensador neoconfucionista Zhangzi há a aproximação do conceito de Tao ao de Chi (qi) – Sopro Vital do Universo.
Tao como Humanismo – Segundo Inty, este é um dos conceitos mais modernos do Tao, e um dos que mais utilizaremos nesta obra, portanto transcrevo a justificativa do autor abaixo:
Essa é uma interessante definiçăo apresentada por Zhang Liwen, pois remontando aos primórdios do pensamento chinęs contido no "Livro das Escrituras", Shujing 书经
(compilado provavelmente entre os séculos XI e VI a.C.) ele aponta a divisăo entre o 
Tao celestial, tiandao 天道, e o Tao humano, rendao 人道, como duas categorias que remeteriam às dimensões divina e humana respectivamente.
Essa segunda englobaria as questőes das virtudes da benevolęncia e da justiça, das relações sociais , dos princípios morais e éticos. Contudo, esse autor apresenta tal questăo sob a ótica de um movimento recente do pensamento chinęs, iniciado no século 19 e que teve seu ápice nos movimentos para a derrubada da última dinastia, ocorrida finalmente em 1911. A China, nesse período, incorpora conceitos modernos como "liberdade", "socialismo", "igualdade", mas como já havia ocorrido com outros casos de conceitos estrangeiros em terra chinesa, eles foram rapidamente traduzidos em termos propriamente chineses, reconhecidos, até certo ponto, como sempre presentes no seu repertório filosófico
. O Tao năo saiu ileso desse processo, e o conceito de "humanismo" na sua acepçăo moderna – e burguesa, para Zhang Liwen –foi traduzido como ren dao, o Tao
humano: "aquele que comete um atentado ŕ liberdade alheia, atenta contra o princípio celestial e contra o rendao/humanismo" (Yanfu in Zhang L. org. 1996, p. 3)
Sun Yatsen, o "pai na naçăo" tanto para taiwaneses quanto para os chineses do
continente, e grande teórico da revoluçăo antiimperialista – aqui entendido tanto como
Império chinęs quanto imperialismo ocidental e japonęs do século 19 avança mais ainda na incorporaçăo do conceito de humanismo ŕs múltiplas faces do Tao:
O socialismo é um humanismo [ren dao]. Esse se baseia no amor ao próximo, na
liberdade e na igualdade. O socialismo năo pode se afastar desses tręs princípios
pois essa é a sua verdadeira essęncia. É também, sem dúvida, a "boa nova" para a
humanidade.(Partidos e métodos socialistas in Zhang L. org. 1996, p. 3)
Tal conceituaçăo é para Zhang Liwen uma "nova vida" para o Tao.
CONFUCIONISMO
Confúcio.
Baseado na obra História do Pensamento Chinês de Anne Cheng comentarei os trechos que falam tanto de Confúcio quanto de Lao tsé para expor o pensamento destes dois autores á luz dos objetivos desta obra.
A aposta de Confucio no Homem – Anne Cheng
Segundo a autora , mais que um homem ou um pensador, e mais ainda que uma escola de pensamento, Confúcio se traduz em um verdadeiro fenômeno cultural que se confunde com todo destino da civilização chinesa . Um verdadeiro fenômeno que se inicia no século V a.C e se mantém até hoje.
O pensamento confucionista representa algo decisivo traz um salto qualitativo não apenas na cultura chinesa, mas também na "reflexão do homem sobre o homem". Confúcio representa na China ao grande desenvolvimento filosófico que se nota também no primeiro milênio antes de cristo nos mundos grego, indiano e hebraico.
Segundo Anne Cheng seu pensamento parece algo feito de banalidades, contudo ele propõe pela primeira vez uma concepção ética do homem em sua integralidade e sua universalidade.
- Biografia
Como sabemos Confúcio é a latinização realizada pelos jesuítas missionários na China a partir do século XVI da designação chinesa de Kongfuzi (Mestre Kong). Existem poucas informações biográficas, e as que existem são de autores muitos posteriores a ele. Em os Analectos há um testemunho expressivo que chega até nós sobre sua personalidade e ensinamentos compilada a partir de seus discípulos e discípulos de discípulos.
Confúcio, sempre esteve engajado na vida política do reino de Lu, primeiro as voltas com responsabilidades administrativas subalternas, para ser ao final Ministro da Justiça.
A lenda conta que ele teria deixado sua terra natal por desaprovar o mau governo de seu soberano. Aos 50 anos ele renuncia definitivamente a carreira política por compreender que ela era feita de compromissos com lideres que perderam o sentido do mandato celeste. Mandato este que o encoraja a buscar o Caminho iniciando uma jornada de 12 anos por diversos reinos.
"Como diz Anne Cheng, Confúcio é conhecido entre seus contemporâneos como aquele que se obstina a querer salvar o mundo, mesmo sabendo que é tempo perdido". Ao voltar ao reino de Lu onde passa os últimos anos ele retoca e reinterpreta diversos textos em uma perspectiva ética e educativa.
- Aos quinze anos resolvi aprender
Os Analectos é a primeira obra chinesa em primeira pessoa, o que assume assim a dimensão de um verdadeiro autor.
A palavra de Confúcio é centrada no homem a na noção de humano, tema central deste fato filosófico. Três temas são centrais em seus ensinamentos: o aprender, a qualidade humana e o espírito ritual.
Os Analectos tratam no fundo de como se tornar um ser humano pleno. É um livro cheio de vida segundo nos fala Anne Cheng se consolidando mesmo em um livro de vida na qual o Mestre indica as grandes etapas, quando fala:
Aos quinze anos resolvi aprender. Aos trinta eu estava firme no Caminho. Aos quarenta, eu não tinha nenhuma dívida. Aos cinqüenta, eu conhecia o decreto do Céu. Aos sessenta, eu tinha um ouvido perfeitamente afinado. Aos setenta, eu agia segundo os desejos de meu coração, sem por isso transgredir norma alguma.
Confúcio é antes de qualquer coisa um mestre e todo seu pensamento está presente em seu ensinamento. O aprender tem um lugar central no ensinamento confuciano que crê que a natureza humana é perfectível, todo homem é tido como um ser capaz de melhorar , e aperfeiçoar-se indefinidamente assim como nos define Anne Cheng. Confúcio faz uma aposta universal no homem com um grande otimismo a respeito deste homem .
O aprender para Confúcio não é tanto um processo intelectual mas sim uma experiência de vida . Para ele o aprender é uma experiência que se pratica e se compartilha com os outros, sendo esta uma fonte de alegria por si mesma e em si mesma. Confúcio chega a dizer que "os antigos aprendiam em vista de si mesmos e não em vista dos outros" sendo que não procuravam o prestígio ou a aprovação. Para ele o aprender encontra sua justificativa em si mesmo. Trata-se de aprender não para os outros, mas junto aos outros, como nos narra Anne Cheng.
Para Confúcio a educação não pode ser unicamente livresca, apesar da reserva necessária ao estudo dos textos antigos. O que vale mais são os conhecimentos de ordem prática assim como sua intenção concreta. Anne Cheng nos diz que segundo Confúcio é mais importante "saber como" do que " saber que " sendo o conhecimento mais o desenvolvimento de uma aptidão do que a aquisição de conteúdo intelectual.
Confúcio propõe aos que começam a vida que dêem mais importância ao aprender a viver do que ao simples aprender, como fala nos versos:
O Mestre diz: "Um jovem deve ser respeitoso: em casa para com os pais; na sociedade para com os mais velhos. Ele é sério e digno de confiança. Sua simpatia se estende a todos os homens, privilegiando embora os que praticam a virtude e a benevolência. E se ainda lhe sobra tempo, pode consagrá-lo a aprender a cultura".
Para ele, segundo Anne Cheng, o objetivo prático da educação é formar um homem capaz, no plano político a servir a comunidade e ao mesmo tempo no plano moral tornar-se um homem de bem de forma que os dois planos se sobreponham, já que servir ao príncipe corresponde a servir ao pai.
A Grande revolução no pensamento confuciano é que em uma época na qual a educação era privilégio de uma elite, Confúcio afirma que esta elite tem uma responsabilidade moral que é governar os outros para seu maior bem. Desta forma se esboça o destino político do homem instruído que tem a responsabilidade de empenhar-se no processo de harmonização da comunidade humana.
- Aprender é aprender a ser Humano
Para Confúcio a nobreza não é aquela da categoria social ou do nascimento mas sim do valor moral , por tanto se valoriza o homem de qualidade , ou homem de bem em oposição ao homem pequeno no sentido moral .
Segundo Anne Cheng a razão do aprender é tornar-se um homem de bem. Aprender é aprender a fazer de si mesmo um ser humano. Ser humano é algo que se aprende e isto constitui um fim em si mesmo, não havendo valor mais alto. Para Confúcio nossa humanidade não é um dado, mas sim algo construído e tecido nos intercâmbios entre as pessoas e na busca de uma harmonia comum.
- O senso do Humano (ren)
Segundo Anne Cheng o termo ren já se encontra nos textos anteriores a Confúcio, e que neste caso evocam na maior parte das vezes algo único e magnânimo em determinado personagem. Confúcio dá um novo sentido a este termo, sendo sua nova grande idéia e a consolidação de sua aposta no homem.
Anne Cheng nos fala que o caractere ren é composto do radical "Homem" (que se pronuncia igualmente ren) e do signo dois o que significa que o homem só se torna humano em sua relação com os outros. Neste sentido o Eu não pode ser concebido como uma entidade isolada das demais, mas sim como um ponto de intercâmbio interpessoal.
Podemos traduzir este ren como qualidade humana, ou senso do humano, é o que constitui o homem como ser moral em suas relações com os outros. É um valor alto para Confúcio que o confere somente aos santos míticos da antiguidade:
Praticar o ren é começar por si mesmo, querer estabelecer os outros tanto quanto se deseja estabelecer a si mesmo e desejar a realização deles tanto quanto se deseja a própria realização. Busca em ti a idéia daquilo que podes fazer pelos outros- eis o que te porá no sentido do ren

- Entre os quatro mares todos os homens são irmãos.
Conforme nos diz Anne Cheng:
"Nosso potencial de ren não designa apenas nossa possibilidade individual de alcançar sempre mais humanidade, mas designa também à rede sempre crescente e cada vez mais complexa de nossas relações humanas. O ren se manifesta assim em virtudes eminentemente relacionais, porque fundadas na reciprocidade e na solidariedade, cuja importância ainda pode ser medida nos laços hierárquicos e obrigatórios que caracterizam a sociedade e as comunidades chinesas"
Estes laços estão ligados ao conceito de piedade filial (xiao) e é, portanto uma das chaves do conceito de ren e pode ser a "ilustração por excelência do laço de reciprocidade".
Da piedade filial, que é um conceito forte no mundo chinês surge a relação política entre o príncipe e o súdito. Da mesma forma o filho corresponde á bondade do pai, o súdito ou o ministro correspondem à benevolência do príncipe por sua lealdade, que se inicia com uma auto exigência.
Estas relações estabelecem uma série de outras relações sociais ou familiares. Como sugere o trecho dos Analectos "Entre Quatro mares todos os homens são irmãos, o ren inicia um sentimento de benevolência e confiança assim como existem entre membros de uma mesma família, propagando-se á comunidade e atingindo as dimensões de um país até atingir toda humanidade, assim como nos afirma Anne Cheng:
"para o Filho do Céu como também para o homem comum, o essencial consiste em aperfeiçoar se a si mesmo. Abandonar o essencial à desordem esperando dominar o acessório, isso é impossível. Negligenciar o que é muito importante atribuindo importância ao que não tem isso nunca viu.

- O Espírito Ritual.
Confucio define que ser humano é estar sempre em relação com os outros, e esta relação é percebida como sendo de natureza ritual. Segundo nos afirma Anne Cheng "Comportar-se humanamente é comportar-se ritualmente.
Na passagem abaixo temos um exemplo do que é dito acima:
" Yan Hui pergunta o que é ren.
O Mestre diz: "Vencer o seu ego para reintegrar-se no sentido dos ritos, isto é ren. Quem se mostrasse capaz disso mesmo que por um dia veria o mundo inteiro prestar homenagem ao seu ren. Não é porventura de si mesmo e não dos outros que é preciso esperar a realização do ren ¿"
Yan Hui : " Poderíeis indicar-me o procedimento a seguir ¿"
O Mestre: "Não olhes o que é contrário ao ritual, não ouças o que é contrário ao ritual; não fales do que é contrário ao ritual e não comprometa nisto tuas ações"
Desta forma este vencer do ego e integrar-se no sentido dos ritos fala da necessidade de um ascese afim de disciplinar a tendência ao egocentrismo e interiorizar ritualmente a humanidade de suas relações com os outros assim como nos fala Anne Cheng.
Outro trecho nos exprime bem este espírito que é quando um outro discípulo faz indagações sobre o ren e lhe é respondido :
" Em público , comporta-te sempre como se estivesses em presença de um convidado importante. No governo trata o povo com toda gravidade de quem participa de um grande sacrifício. O que não gostarias que te fizessem a ti, não faças aos outros. Assim não haverá nenhum ressentimento contra ti, quer esteja a serviço do Estado ou de uma grande família" .
Estas respostas deixam claro que na mente de Confúcio , o ren e o espírito ritual ( li ) são inseparáveis . Estes que são os dois termos mais usados nos Analectos são na verdade dois aspectos de uma única coisa : A concepção do Humano em Confúcio:
" O Mestre Diz : " Desprovido de ren, como poderia um homem sentir sequer o que são os ritos , o que é a música ritual ¿ "
Além disso, no espírito ritual existe uma perfeita harmonia entre a beleza exterior e a intenção interior :
" Lin Fang : " Qual a primeira coisa a se observar nas cerimônias rituais ¿"
O Mestre : Excelente pergunta! Em toda cerimônia mais fale a austeridade que o aparato. Nas de luto , mais vale a sinceridade na dor que o escrúpulo na etiqueta "
Promovendo sua idéia nova que é o ren que é associado ao li Confúcio cria um novo código ritual que não era presente na aristocracia antiga . Como nos fala Anne Cheng , a letra é animada pelo espírito . Contudo este li na verdade transfere-se o sagrado do domínio propriamente religioso para a esfera do humano. O li se torna, portanto aquilo que constitui a humanidade de um grupo humano e de cada homem neste grupo. Desta formas os sentimentos mais instintivos só se tornam realmente humanos quando os homens lhe conferem algum sentido e o ritualizam, assim como para as crianças pequenas algo só adquire sentido quando ritualizado.
Isso adquire sentido maior na passagem:
"Um papagaio pode aprender a falar; mas nunca será mais que uma ave. Um macaco pode aprender a falar, mas nunca será mais que um animal sem razão. Se um homem não observa os ritos, embora saiba falar, seu coração não é o de um ser desprovido de razão¿ Os animais não tem nenhuma norma de decoro; por isso o cervo e sua cria aproximam-se da mesma corça ( para acasalar-se ) . Por isso grandes sábios que surgiram no mundo formularam normas de decoro, para instruir os homens e ajudá-los a se distinguir dos animais pela observância dos ritos " .
- A missão sagrada do homem de bem
Segundo nos afirma Anne Cheng, para Confúcio o homem tem uma missão sagrada: a missão de afirmar e erguer cada vez mais alto sua própria humanidade. Esta missão está acima de qualquer outro dever sagrado, mesmo às ligadas á transcendência do divino e do além:
"O Mestre nunca falava de coisas extraordinárias nem dos espíritos, da força bruta nem dos atos contra a natureza.
Zilu pergunta como convém servir aos espíritos. O mestre lhe diz: "Enquanto não se sabe servir aos homens, como se poderá servir aos seus manes ¿" Zilu o interroga sobre a morte. O Mestre responde "Enquanto não se sabe o que é vida como se poderá saber o que é morte ¿ "(XI, I I)
Fan Chi pergunta em que consiste a sabedoria. O Mestre responde: "É dar aos homens o que lhes é devido por justiça, e honrar espíritos e demônios mantendo-os embora à distância" (VI 20)
Isto mostra perfeitamente a posição confuciana quanto ao sobrenatural. O sagrado não é o culto prestado às divindades, mas a consciência moral, individual, a fidelidade a toda prova ao Caminho (Tao) fonte de todo bem. Em nome do Tao o homem deve estar pronto a renunciar a todas as vantagens e sinais exteriores do sucesso e do reconhecimento social e político:
"O Mestre diz:" Honras e riquezas são aquilo que o homem mais deseja no mundo, e, no entanto mais vale renunciar a elas do que afastar-se do Tao. Humildade e pobreza são aquilo que o homem mais evita no mundo, e, no entanto mais vale aceitá-las do que afastar-se do Tao. O homem de bem que se afasta do ren já não é digno deste nome" ( IV, 5 )
"O Mestre diz:" Um adepto do Tao está totalmente voltado para a sua realização. Quem se envergonha de estar mal alimentado ou mal vestido, não vale a pena entreter-se com ele "(IV, 9 ) .
Assim Anne Cheng nos afirma que para o homem de bem, a exigência pode chegar ao sacrifício da própria vida:
O Mestre diz: "O adepto resoluto do Tao, o verdadeiro homem de ren, longe de apegar-se _à vida se isso prejudica o ren, sacrificá-la ia se necessário para o ren viver" (XV, 8 )
O Mestre diz: "Quem de manhã ouve falar do Tao pode morrer satisfeito à tarde" (IV, 8 )
Confúcio valoriza este caráter sagrado de adesão ao Tao, conferindo-lhe valor de "decreto do céu":
O Mestre suspira: "Continuo desconhecido de todos!"
Zizong : " Como explicas isto ¿ "
O Mestre: "Eu não acuso o Céu, não me queixo dos homens, Meu estudo é modesto, mas meu objetivo é elevado. Quem me conheceria, exceto o Céu ¿"
Confúcio fora ameaçado de morte diversas vezes em suas peregrinações, e declarava não ter nada a temer invocando seu destino celeste que ele afirmava ter conhecido aos 50 anos.
- Retrato do príncipe como homem de bem
Segundo Anne Cheng o aprender, o senso humano e o espírito ritual são uma espécie de tripé que fundamenta a aposta confuciana no homem, pois enquanto alguém não aprender a comportar ritualmente não poderá pretender ser plenamente humano. Vemos isso claramente nos Analectos em duas passagens:
O Mestre diz: Por não pautar-se pelo ritual, a cortesia torna-se penosa, a prudência timorata, a audácia rebelde, a retidão intolerante "(VIII, dois)
Sem o Amor ao estudo toda deformação é possível: o amor ao ren torna-se ingenuidade, o amor ao saber superficialidade, o amor a honestidade prejuízo, o amor a retidão intolerância, o amor à bravura, insubmissão, ao amor ao rigor fanatismo (XVII, oito )
Esta trindade é representada pelo homem de bem para além da ética individual, na prática política do soberano. A família é percebida como uma extensão do indivíduo, o Estado uma extensão da família, desta forma o príncipe para o súdito assume o mesmo papel do pai para os filhos teoria política e ética são extensões uma da outra. Deste modo Confúcio transforma a autoridade do príncipe nas bases que seguem as premissas do homem de bem ao qual é conferido o decreto celeste por seu mandato dinástico se tornando assim uma missão moral.
Confúcio crê que a natureza humana, graças ao aprender é ilimitadamente perfectível, o que abre caminho para um sentido de santidade que não deve nada ao divino, mas ao mesmo tempo também é religiosa.
Estes dois tipos de unidade, religiosa e ética, assim como nos fala Anne Cheng , convergem em seu caráter ritualista, na figura do homem de bem que é a encarnação de uma ética do comportamento ritual, vemos isso claramente na passagem abaixo:
" Zizhang pergunta o que é o ren. Confúcio diz: " Tornar-se capaz de praticar cinco coisas sobre o Céu, isso é o ren. Quais são elas¿ Deferência, Grandeza de alma, honestidade, diligência e generosidade. A deferência suscita o respeito, a grandeza de alma conquista o coração da multidão, a honestidade atrai a confiança do povo, a diligência assegura a eficácia dos empreendimentos e pela generosidade se merece o serviço do povo" ( XVII, 6 )

- O que é governar
Segundo nos diz Anne Cheng, o líder que segundo a concepção política confuciana, encarna naturalmente o ren e se impõe simplesmente pela benevolência, jamais pela força, possui o de ( virtude da retidão do coração que em Confúcio adquire simplesmente o sentido de virtude ). A premissa chave do governo confuciano não é o poder, mas sim a harmonia ritual. Um líder além do ritual tem que ter carisma pessoal para que haja a eficácia do sagrado em harmonizar as relações humanas. Isto se opõe ao poder pela força, pois é um poder transformador que obriga sem constrangimento como vemos no pensamento confuciano abaixo:
O Mestre diz: " Governa á força de leis, mantém a ordem utilizando castigos, e o povo contentará em submeter-se, sem sentir a menor vergonha. Governa pela virtude, promove a harmonia através dos ritos, o povo não só conhecerá a vergonha, mas regular-se á por si mesmo " ( II 3 )
Outro trecho memorável que define bem esta arte de governo está no diálogo do Mestre com o Soberano de Lu , o duque Ding .
O duque Ding : " Existe alguma máxima que por si só possa fazer a grandeza de um país ¿"
Confúcio: Uma simples máxima não pode ter esse poder. "Diz se, no entanto": " Ser soberano é difícil, ser ministro é fácil ", O soberano que tiver compreendido a dificuldade de sua tarefa não estaria próximo de fazer a grandeza de seu país através de uma única máxima¿ "
O duque Ding: " Existe alguma máxima que possa por si só causar a ruína de um país ¿ "
Confúcio: " Uma simples máxima não pode ter esse poder. Diz se, no entanto: Não tenho nenhum prazer em ser príncipe, a não ser quando ninguém ouse contradizer-me. No caso dos editos do príncipe serem sábios, não é motivo para felicitar-se por ninguém se opor a eles ¿ Mas caso contrário, o soberano que adotasse semelhante definição não estaria próximo de causar a ruína de seu país a partir de uma única máxima ¿ ( XIII, 15)
Para Confúcio um soberano em um governo exercido através do ren estará preocupado em educar seus súditos. Ai encontra-se a idéia que o soberano não tem como função coagir, mas para harmonizar transformando. O trecho abaixo mostra claramente isso:
Ao usurpador Ji Kangzi, que solicita uma receita para obter do povo obediência e submissão , o Mestre responde:
" Trata o povo com consideração e serás venerado, sê bom filho para teus pais, bom príncipe para teus súditos, e serás servido com lealdade , honra os homens de valor, educa os menos competentes , e todos ver-se –ão estimulados ao bem " ( II , 20 )
- O caminho Confuciano
Segundo nos atenta Anne Cheng, Confúcio diz:
" Eu transmito o ensinamento dos antigos sem nada criar de novo, porque me parece digno de fé e adesão" ( VII 1 )
Mas também diz:
" O bom mestre é aquele que, repetindo embora o antigo, é capaz de encontrar ali algo novo " ( II 11 ).
Assim como vemos em dinâmicas sociais de outros povos como os tradicionalistas na África que ressignificam o novo a partir do tradicional, em Confúcio vemos que há que se inserir um húmus novo a seiva original dos ensinamentos dos antigos sem desenraizá-las integrando a uma visão inovadora do humano.
A bimilenar vitalidade da tradição chinesa é devida ao fato de estar ancorada na interpretação e experiência pessoais dos indivíduos que a viveram e tem muito a dizer também a outras civilizações como a nossa no Ocidente.
Justamente por estar ao alcance de qualquer pessoa é que o caminho confuciano poderá alimentar pretensões de universalidade.

- Confucio e a formação dos textos canônicos
Segundo nos alerta Anne Cheng, o ensinamento de Confúcio une estudo, senso do humano e ritos numa visão única do que é uma tradição civilizada, uma cultura. Cultura esta que o mestre Confúcio estava consciente de ter a nobre missão de transmitir com o risco de sua própria vida. Há em Confúcio como em seus discípulos um conflito constante entre a letra e o texto e o espírito ritual, entre a ampliação da experiência e do conhecimento e a capacidade de relacioná-los a uma exigência moral:
O Mestre diz:
" O homem de bem que, ampliando embora sua cultura pelas letras, é capaz de disciplinar-se pelos ritos não pode trair o Tao" ( VI 26 )
Confúcio está presente na formação dos textos canônicos mesmo que se tente associar sua produção a outros, pois está repleto de citações do Mestre.
Como lembra Anne Cheng a ausência de homogeneidade do material canônico confuciano foi às vezes relacionada com sua orientação não teocêntrica. Mesmo que a tradição chinesa tenha se empenhado em estabelecer uma relação entre esses textos e a figura de Confúcio, isto por si só não é um critério de canonicidade. O principal critério está ligado á escrita, os signos escritos, em seu elo original com o oráculo ou a adivinhação.
Conversas com os Analectos
1 – Capítulo IV – Humanidade.
O senso do humano ( ren ) ou a virtude humana ( liren ) são centrais na obra de Confúcio e sua aposta no Homem. Apesar de Confúcio não definir em momento nenhum o que é o ren ( senso do Humano ) alguns aproximam este senso do amor, mas não do amor romântico e erótico como temos nas civilizações ocidentais, mas sim o cuidado e o zelo e para tanto são necessários os ritos para seu "culto". Algumas versões dos Analectos utilizavam as palavras benevolência ou bondade para tentar traduzir o que é colocado aqui como Humanidade ( ren ).
4.1 O Mestre disse: " Ter pessoas Humanas como vizinhos é belo. Se ao escolhermos ( um lugar para viver ), não habitarmos entre pessoas Humanas, como adquirir sabedoria ¿"
Neste diálogo com o senso de humanidade, se mostra que este senso de Humanidade ( ren ) é algo que se consegue a partir do coletivo e não do individual, no convívio com os demais homens.
4.2 O Mestre disse: " As pessoas que não tem Humanidade não podem não podem passar por privações por muito tempo, não podem manter-se alegres por um longo período. A pessoa Humana tranqüiliza-se com a Humanidade, a pessoa sábia beneficia-se com a Humanidade"
O senso do Humano para Confúcio é central na manutenção desta ordem social que torna uma sociedade equilibrada e auto-sustentável.
4.3 O Mestre disse: " Somente as pessoas Humanas têm a capacidade de gostar de alguém; somente tais pessoas tem a capacidade de não gostar de alguém ".
Só quem tem o senso do Humano podem julgar adequadamente os outros, usando a própria sensibilidade.
4.4 O Mestre disse: Se alguém de fato almejar a Humanidade, não fará o mal.
Se alguém buscar o ren, estará impedido de fazer o mal.
4.5. O Mestre disse: Riqueza e alta posição, eis o que as pessoas desejam; se não forem obtidas pelo caminho correto, não devem ser preservadas. Pobreza e baixa condição, eis o que as pessoas abominam, mas se não forem obtidas pelo caminho correto, não devem ser deixadas. Se o Homem Nobre abandonar a Humanidade, como construirá sua reputação¿ O Homem Nobre não pode dar as costas à Humanidade nem pelo tempo que se leva para fazer uma refeição . Mesmo em situações urgentes, deve ser assim. Mesmo em meio a tribulações, deve ser assim".
Todo Homem Nobre deve antes de tudo buscar o ren ( senso de Humanidade ) a qualquer custo para que se mantenha nesta posição.
4.7- O Mestre disse: "Cada um dos erros que as pessoas cometem pertence a um gênero. Ao observar os erros das pessoas é possível saber o que é Humanidade.
Enquanto dos homens virtuosos erram pelo excesso de virtude, os homens pequenos erram por sua falta.
4.9 – O Mestre disse: " Se um shi áspora ao Caminho, mas tem vergonha de se vestir mal ou comer mal, ele não é digno de que se discuta com ele sobre o Caminho ,"
O desapego é central para aqueles que buscam o Tao.
4.11 – O Mestre disse: " O Homem Nobre almeja a virtude, o Homem pequeno anseia por suas terras. O Homem Nobre almeja a justiça, o Homem pequeno anseia por suas vantagens.
Aqui se faz bem clara a diferença de prioridades entre os homens virtuosos e os demais homens.
4.12- O Mestre diz: " Agir desregradamente em favor de nossos próprios interesses traz muito ressentimento".
Todo aquele que age somente em função dos seus próprios interesses será rejeitado pelo grupo que o acolhe
4.14. O Mestre disse: " Não devemos nos preocupar com o fato de não haver quem nos reconheça, mas devemos buscar, sim, merecer tal reconhecimento.
Há uma crítica no pensamento confuciano em relação aos homens que ambicionam reconhecimento. Buscar se aperfeiçoar é uma finalidade em si mesma para Confúcio, muito mais importante que o reconhecimento que disto puder advir.
4.16. O Mestre disse: O Homem Nobre só quer saber de Dever. O Homem Pequeno só quer saber de Vantagem.
Aqui mais uma vez Confúcio coloca o dever como uma finalidade em si mesma para o Homem Nobre.
Abaixo deixo quatro passagens relativas à virtude que me tocam profundamente em minhas práticas educativas com meus alunos para que façamos um exercício de reflexão como educadores:
4.17. O Mestre disse: " Ao encontrar um Homem virtuoso deve-se pensar como igualar-se a ele. Ao encontrar um homem sem virtudes, deve-se olhar para dentro de si mesmo e refletir".
4.23. O Mestre disse: Aqueles que cometeram erros ao usar de moderação são poucos.
4.24. O Mestre disse: O Homem Nobre deve ser moroso nas palavras e lépido no agir.
4.25 – O Mestre disse: A virtude não é solitária. sempre há de ter vizinhos.
TAOÍSMO
O Tao do Não Agir no Laozi – Anne Cheng
- Biografia
Lao zen seria contemporâneo de Confúcio e vivido no Século VI- V AC. E ele inauguraria o caminho Taoísta.
Da mesma forma que se passa com Chuang tsé , devemos fazer uma distinção entre o texto e o personagem ao que se atribui o texto.
No caso, sobre Lao-tsé, não se sabe nada ao certo, nem se sua existência teria sido verdadeira. A Lenda diz que Lao tsé é fruto de uma gestação que teria durado sessenta e dois anos e por isso seria uma " Velha Criança " que vem a ser outro sentido possível para Lao-tse.
Diz se que na época em que era encarregado da conservação dos arquivos de Zhou, Confúcio teria vindo pessoalmente consultá-lo sobre uma questão ritual.
A mesma lenda conta que desanimado com o declínio de Zhou, Lao tsé teria partido para o Oeste montado em um búfalo verde e ao chegar ao ultimo posto de controle antes da estepe o guarda do posto lhe pede que lhe escreva um livro já que estava prestes a se retirar do mundo.
A partir disso Lao-tse escreve as cerca de 5.000 palavras do livro do Caminho e de sua Virtude ( Tao-te- King) depois parte e ninguém sabe onde houvera morrido. Estes escritos foram recuperados também no quadro do Budismo.

- O texto
O texto do Laozi tem uma existência histórica atestada e é uma obra totalmente diferente de todas as outras que a precederam. Ao invés de uma exposição didática a forma dos Analectos ou do Mengzi, o que temos é uma série de poemas rimados e ritmados de uma concisão extrema, de estilo único e que chega a ser obscuro de tanta simplicidade como nos narra Anne Cheng.
Assim como observa Isabelle Robinet, a forma poética do Laozi sugere que ele adquiria supostamente uma força encantatória através de repetição ritmada de recitações que reforçam uma prática que estava destinado a ser cantado e memorizado, como se fez em certas seitas religiosas ". O texto não se localiza em nenhum local ou espaço no tempo o que faz com que possam haver inúmeras interpretações possíveis e traduções existentes . Como diz Anne Cheng a obra pode ser lida e aplicada em diversos planos ao mesmo tempo: cultura individual do " não agir" , aplicação deste princípio a arte de governar ou às artes de combate , busca de métodos de vida longa dos quais Lao-tsé seria o ancestral. "
- O não agir
Mesmo contendo alguns aspectos esotéricos assim como nos fala Anne Cheng, o Laozi como toda obra filosófica tenta responder preocupações dominantes em sua época, que parece ser por suas referências um texto do final do período dos reinos Combatentes no qual os principados mais poderosos chegam mesmo a lutar até a morte pela hegemonia e desta forma se faz imperioso saber como sair do ciclo vicioso da violência e sobreviver em meio à destruição que provocam as superpotências em se exterminando mutuamente. O que parece sempre ser uma preocupação atual como nos assinala Anne Cheng.
O Laozi se inicia rejeitando explicitamente o moralismo confuciano acusando-o de ter provocado o declínio do Tao o que podemos ver nos versos.
Abandona a promoção dos mais capazes, E o povo deixará de batalhar ( 3 )
Abandona tua sabedoria e teu discernimento
E o povo tirará cem vezes proveito,
Abandona teu senso do humano e do justo,
E o povo reencontrará o amor de pai a filho ( 19 )
Do abandono do grande Caminho nasceu o senso do humano e do justo.
Do surgimento da inteligência e do discernimento nasceu o grande embuste.
Da discórdia dos seis laços de parentesco nasceram a piedade filiar e o amor paternal.
Da confusão e do caos no reino nasceram fidelidade e lealdade ( 18 )
Desta forma a resposta do Lao zi mesmo que paradoxal é " Nada fazer " e situar-se no " Não agir " e esta seria a melhor maneira de fazer se mostrar a tirania, o massacre a usurpação.
Para entender melhor a proposta do Laozi devemos tentar entender o que ele define por não agir: e a proposta de que em qualquer situação a força acaba sempre se voltado contra si mesma:
Não procures primar pelas armas
Pois Primar pelas armas é convida ao revide( 30 )
Aquele que age destruirá,
Aquele que se apodera perderá.
O Santo não agindo sobre nada, nada destrói
Não se apoderando de nada, nada tem a perder ( 64 )
Desta forma como nos mostra Anne Cheng o não agir visará romper o círculo da violência. Absorvendo a agressão, abstendo-se de agredir em troca para que não se caia no revide e em uma escalada sem fim fazendo assim que no final a agressão se torne inútil.
- Metáfora da água
Com o objetivo de ilustrar seu paradoxo central, conhecido por ser a estratégia que consiste em vencer cedendo, o Laozi recorre à metáfora da água ( que também encontramos em Mengzi comparando o fato da água naturalmente correr para baixo a uma predisposição da natureza humana à bondade)
Já no Laozi a água, segundo nos expõe Anne Cheng representa o elemento mais humilde, o mais insignificante na aparência e que embora não resistindo a nada vence a resistência do que de mais sólido existir:
O homem de bem supremo é como a água.
A água benéfica a tudo não é rival de nada
Ela permanece nos baixios desprezados por todos,
Do Caminho ela está bem próxima ( 8 )
Nada no mundo é mais flexível e mais fraco que a água.
Mas para atacar o duro e o forte nada a sobrepuja
Nada pode tomar seu lugar
Que a fraqueza vence a força
E a flexibilidade vence a dureza
Não há ninguém sob o Céu que não o saiba
Embora ninguém possa praticar ( 78 )
Esta metáfora é comum a diversos pensadores chineses e associada muitas vezes ao Tao a qual é a figura por excelência: assim como o Tao a água jorra de fonte única e constante mesmo se manifestando sob diversas formas.
Esta água está no centro de toda metáfora sendo o símbolo do feminino, do Yin que conquista o Yang por atração. A partir da figura do feminino chegamos á figura da mãe que no Laozi é uma das designações do próprio Caminho ( Tao ). O Laozi valoriza particularmente a parte feminina da existência ao contrário da ordem confuciana que valoriza a figura do Pai.
Com a metáfora da água o fraco consegue triunfar sobre o forte, o flexível sobre o rígido, desta forma neutralizando a violência colocando-se abaixo do agressor, pois a agressão é provocada por se colocar o outro em posição de inferioridade.
Esta idéia está presente em diversas artes orientais chinesas e migraram para outras artes do extremo oriente como o judô.
Há uma passagem que mostra bem a questão do não agir já na corrente confuciana,
O Mestre diz: " Quem melhor que Shun soube governar pelo não agir ¿ O que era a ação para ele ¿ Bastava-lhe fazer reinar a paz, ficar sentado com toda dignidade voltado para o Sul "
Quem governa unicamente pela força moral é comparável á estrela polar, imóvel sobre seu eixo, mas no centro de atração de todos os planetas "
Desta forma aproximando Laozi da corrente confuciana temos que o não agir não consiste em " nada fazer " no sentido de cruzar os braços passivamente, mas sim abster-se da agressividade, da ação dirigida, intencional, intervencionista para que assim se aja a força invisível do Tao. Laozi chama o não agir de " agir sem rastro" ( aquele que sabe agir não deixa rastro – 27 )
- Paradoxo
O Laozi, portanto começa por um paradoxo que se resume em ir contra os hábitos de pensamento: preferir o fraco ao forte, o não agir ao agir, o feminino ao masculino, o estar embaixo ao estar em cima, a ignorância ao conhecimento. De qualquer forma o Laozi fala em preferir e não em excluir, pois os pares de opostos no pensamento chinês nunca são de natureza exclusiva, mas sim complementar como temos no modelo do Yin Yang. Segundo Anne Cheng o maior paradoxo consiste em dizer que o nada vale mais que o algo, que o vazio vale mais que o cheio, que o não há , prevalece sobre o há.
Trinta raios convergem para o cubo da roda
Mas justamente lá onde não há nada que está a utilidade do quarto.
Molda se a argila para se fazer um recipiente
Mas é lá onde não há nada que está a utilidade do recipiente
Abrem-se portas e janelas para se fazer um quarto
Mas é La onde não há nada que está a utilidade do quarto
Assim o há apresenta comodidades que o não há transforma em utilidade ( 11 )
A autora afirma que aqui o paradoxo chega ao seu máximo, no qual a ausência teria mais presença que aquilo que está presente, e que o vazio tem uma efic cia que o cheio não tem.
Na questão entre ignorância e conhecimento o Laozi afirma:
" Ver o conhecimento como não conhecimento, eis o que é bom.
Ver o não conhecimento como conhecimento, ai está o mal.
Somos curados de um mal que consideramos um mal.
O sábio passa mal: é seu mal que passa mal.
Quanto a ele, ele vai muito bem ( 71 )
Como nos diz Anne Cheng
" O paradoxo que vai contra os hábitos intelectuais e os valores convencionais tem por função mostrar que postular alguma coisa é postular, por isso mesmo o seu contrário. As distinções e as oposições que fazemos por hábito ou por convenção não tem, portanto nenhum valor em si mesmas "
Isto pode ser claramente elucidado pelos versos do Laozi:
Quando cada um considera o belo como belo vem o feio.
Quando cada um considera o bom como bom, vem o mau.
Há e não Há engendram-se
Cômodo e incômodo se completam
Longo e curto remetem um ao outro.
Alto e baixo inclinam-se um para o outro
Música e barulho harmonizam-se
Frente a atrás se seguem. ( 2 )
Desta forma toda definição gera seu par contrário e toda definição que gera estas oposições não trazem em si mesmas nenhum valor.
- Amoralidade do natural
Segundo Anne Cheng todos os paradoxos do Laozi se fundamentam na constatação da lei cíclica natural na qual o que foi forte e superior já fora na origem fraco e inferior e está destinado a se tornar novamente forte e superior.
Toda árvore, todo ser nasce fraco e delicado.
Murcho e seco, ele morre
O que é grande e forte está mais embaixo
Mais ao alto está o flexível e fraco.
Tudo mais cedo ou mais tarde retorna a origem, e disso se serve o Laozi para o fato de reforçar a força de um inimigo para que assim se apresse sua queda.
Neste mesmo sentido diferentemente do Amor cristão ou compaixão budista o sábio taoísta manifesta para com os seres a tolerância do Céu e da Terra no sentido de que como estes ele não vive para si mesmo ( 7 ) Desta forma o santo taoísta , ao se colocar abaixo dos outros , faz com que os outros acabem indo no mesmo sentido que ele , e isto se chama " agir pelo não agir " .
O santo Taoísta assim o faz, pois segundo a lei natural , todas as coisas vão de baixo para cima depois retornam a sua fonte e para ele é estúpida a disposição humana em contrariar esta lei buscando superioridade e poder.
Segundo nos fala Anne Cheng, ao invés de ir contra a corrente o Laozi propõe ir ao sentido da corrente, pois assim ele naturalmente tornará a subir.
Esta metáfora da água e a corrente nos mostra que se consuma uma ruptura entre o natural e a moralidade. Para o Laozi a Natureza é totalmente desprovida de senso moral.
O Céu terra é desprovido de humanidade ( ren )
Tratando as dez mil coisas como cães de palha
O Santo é desprovido de humanidade.
Tratando as cem famílias como cães de palha
Entre Céu e Terra
Não é como que um imenso fole de forja ¿
Vazio e, no entanto inesgotável
Em ação, ele ventila sempre mais
Palavrório demasiado esgota-se bem depressa.
É melhor permanecer no centro ( 5 ).
Da mesma forma que os confucianos valorizam o Meio os taoístas buscam o centro, a Origem.
O Tao é vazio
Por mais que o enchamos, jamais transborda
Deste sem fundo as dez mil coisas tem sua origem
Ele embota todos os gumes
Desfaz todos os nós
Harmoniza todas as luzes
Faz um só de todos os grãos de poeira
Existe ao que parece, desde sempre,
De quem é filho ¿ Ignoro-o
Antes mesmo do Soberano do alto
Creio que ele existia ( 4)
Segundo Anne Cheng o mundo dos taoístas está orientado para o centro, mas também para o alto que formam uma unidade
- Valor político do não agir
No centro da reflexão política legista encontra-se o não agir, apresentando no Laozi como princípio de não interferência.
Abandona a promoção dos mais capazes,
E o povo deixará de batalhar.
Não valorize as coisas raras.
E o povo deixará de roubar.
Não exibas o que leva à cobiça,
E o povo terá o espírito em paz.
Assim apresenta-se o governo do Santo:
Esvaziar mentes,
Encher os estômagos
Enfraquecer as vontades.
Fortificar os ossos
Manter sempre o povo salvo do saber e do desejo,
Fazer com que os maus nada ousem fazer
Agir pelo não agir
E todo estará em ordem ( 3)
Ou seja, quanto mais simples for à vida do povo mais fácil será governá-lo no não agir. De qualquer forma também encontramos neste poema assim como nos fala Anne Cheng o que viria a se tornar o totalitarismo legista: " Esvaziar mentes, encher os estômagos " ou seja, instaurar uma ordem fundada em assegurar um conforto material mínimo e manter a ignorância dos governados " a quem se poupa pensar ou mesmo de interessar-se por algum progresso tecnológico:
Um Estado se governa pela retidão.
Uma guerra se trava através da surpresa
Mas é pelo não fazer que se conquiste o mundo.
Como sei,
Assim!
Quanto mais reinam no mundo tabus e interditos,
Tanto mais o povo empobrece
Quanto mais o povo possui armas cortantes
Tanto mais estrago causa a desordem no Estado
Quanto mais abundam astúcia e habilidade
Tanto mais se vêem frutos estranhos
Quanto mais se multiplicam leis e decretos
Tanto mais abundam bandidos
Assim diz o Santo:
Pratico o não agir: o povo evolui por si mesmo
Tenho amor à quietude: por si mesmo ele se corrige.
Permaneço sem nada fazer: por si mesmo ele prospera.
Permaneço sem desejo: por si mesmo ele volta à simplicidade ( 57 )"
- Retorno ao Natural
Segundo o Laozi o não agir é abster-se de toda ação que seja intencional, dirigida, Desta forma o tema central do não agir leva assim ao retorno à natureza original.
Assim como vimos o primeiro associado à água, o segundo evocado por imagens como a madeira bruta, a seda bruta ou o recém nascido.
Conhece em ti o masculino
Adere o feminino
Torna-te ravina do mundo
É unir se à virtude constante
É retornar à infância
Conhece em ti o branco
Adere ao negro
Torna-te norma do mundo
Ser norma do mundo
É comungar na Virtude constante
É retornar ao ilimitado
Conhece em ti a glória
Adere ao infortúnio
Torna-te vale do mundo
Ser vale do mundo
É ter em abundância a Virtude constante
É retornar à simplicidade da madeira bruta
O bloco do simples primordial
É retalhado em utensílios
Mas o santo é o bloco virgem
Que ele adota como ministro
Pois o mestre da arte abstém-se de cortar.
Este recém nascido ao qual Laozi retorna por diversas vezes segundo Anne Cheng representa a energia vital em estado puro que " todo ser deriva da força do Tao , o sopro original , ainda intacto , uma força " não dirigida e não canalizada "
Aquele que contém Virtude em abundância
Pode ser comparado ao recém nascido.
Vespas, escorpiões, serpentes venenosas não o picam,
Os animais selvagens não se lançam sobre ele
As aves de rapina não o arrebatam
Seus ossos são frágeis e seus músculos fracos , mas seu pulso é firme
Ele não conhece ainda a união do macho e da fêmea
Mas seu pênis é ereto,
Repleto de essência vital
Berra o dia todo sem ficar rouco
Repleto de harmonia
Conhecer a harmonia é o Constante
Conhecer o Constante é a Iluminação
Dar valor demasiado a vida é um mau para a vida
Deixar a mente dirigir o sopro é fazer lhe violência
Todo ser chegado à força da idade caminha para seu declínio
Isso se chama " a contrapelo do Tao"
O contrapelo do Tao corre para a morte ( 55)
Pode tua alma abraçar o Um
Numa união indissolúvel ¿
Podes, concentrando o teu sopro tornar-te
Tão flexível quanto um recém nascido ¿ "
Podes purificar tua visão interior
Até torná-la imaculada ¿
Podes afeiçoar-te ao povo e governar o Estado
Sem usar sua inteligência ¿
Podes abrir e fechar as portas do céu
Desempenhando o papel feminino ¿
Podes tudo ver e tudo conhecer
Cultivando o não agir ¿( 10 )
- Retorno à origem
Segundo o Laozi o não agir aparece como uma norma de voltar ao nosso estado de natureza tal qual era no momento de nosso nascimento. Este retorno a infância representa aqui não a inocência, mas a origem perdida. Segundo Anne Cheng a perda da origem é sentida no contato com as crianças pequenas, mesmo que tenhamos passado pela infância, temos o sentimento de que tudo se apagou e que não é possível reatar com este estado original.
Segundo a mesma autora, no plano coletivo também se trata de voltar ao nascimento da humanidade, a um estado original, anterior à formação de sociedades organizadas e institucionalizadas. O Laozi sonha com estado primitivo livre de toda forma de agressão ou de coação da sociedade sobre os indivíduos a serem agressivos uns contra os outros, e onde, portanto não há nem guerra, nem conflito, nem mesmo espírito de competição ou vontade de dominação.
Este panorama nos faz lembrar a questão do Homem no estado de natureza em Rousseau a o início da formação das sociedades na qual o homem longe da idade das luzes ainda não estava corrompido pelo amor próprio que é origem de todos os males sociais e somente tinha o amor de si que era o seu senso de auto-preservação. È algo semelhante a este estado não corrompido das sociedades primitivas que temos em Rousseau que o Laozi defende:
É um povoado pequeno quase sem habitantes
Mesmo que tivessem instrumentos para dez ou cem pessoas,
Eles não se serviriam delas,
Temem a morte e não vão longe
Mesmo que tivessem barcos e carros
Não os usariam
Mesmo que tivessem armas ou armaduras
Não fariam ostentação delas
Tem em grande estima o cordel com nós
Acham sua comida saborosa,
Suas vestes coniventes,
Suas moradias cômodas
Seus costumes agradáveis
Deste povoado a seu vizinho
Ouve se o cantar do galo bem como o latir do cachorro,
Mas ambos morrerão de velhice
Sem terem confrontado( 80 ) "
Há no Laozi a convicção que o homem em seu estado de natureza está privado de agressividade o que vem de encontro com a Piedade Natural do Homem em Estado Natural de Rousseau. Neste estado natural do Laozi é a imagem do santo taoísta que busca tudo na fonte original do Tao.
Abandona o estudo e com isso a preocupação
Qual a diferença entre sim e não ¿
Qual a diferença entre o bom e o mau ¿
Devo eu assustar-me com aquilo que assusta o outro ¿
Que insondável absurdo!
Cada um se excita e se dilata
Como se festejasse no sacrifício do boi
Ou subisse às torres da primavera
Só eu permaneço em paz, imperturbável
Como a criança pequena que ainda não riu
Sozinho, isolado como um sem teto
Cada um amontoa e entesoura
Só eu pareço despojado
Como sou ingênuo!
Como sou idiota
Todos parecem muito espertos
Só eu me calo
Flutuando com o mar
Vou para lá e para cá continuamente
Cada um tem algum negócio
Só eu me abstenho
Grosseiro e teimoso
Por que tão singular¿
Eu sei mamar em minha Mãe ( a fonte do Tao ) ( 20)
- O Tao
Segundo Anne Cheng os temas do não agir e da natureza original levam ao tema do retorno a origem, ao Tao.
Ao Tao se dirige o tema central do Laozi.
O Tao que pode ser dito não é o Tao constante.
O nome que pode nomeá-lo não é o nome constante.
Sem nome: começo do céu Terra.
Com nome: mãe das dez mil coisas.
Assim no Sem desejo constante consideremos o termo ( 1).
Já nos primeiros versos se evoca a questão do indizível, o que já de início diferencia o Tao de Lao zi dos demais caminhos. Na qualidade de Origem absoluta, antes de produzir o Céu e a Terra o Tao é inominável ( não nomeável ); mas no próprio fato de produzir o Céu Terra ele se torna "a " Mãe das dez mil coisas ", portanto nomeável.
Conforme Anne Cheng, na perspectiva do Laozi, não são nossos sentidos que nos enganam e permitindo assim captar apenas as aparências.
O Tao encontra sua constância no não agir.
Ora, por ele tudo se realiza
Se os reis e senhores ao menos se ativessem a ele,
As dez mil coisas se transformariam por si mesmas
Por pouco que a mutação se torne veleidade de agir,
A simplicidade sem nome poderia serená-la
Pois a simplicidade –sem nome é também sem desejo
O sem desejo atinge-se pela quietude
E o mundo determina então por si mesmo
- Do Tao às dez mil coisas
Segundo o Laozi o múltiplo nasce do Constante e do um assim como vemos nos versos.
O Tao gera o Um
O Um gera o Dois
O Dois gera o Três
O Três, as dez mil coisas
As dez mil coisas levam o Yin nas costas e o Yang nos braços.
Misturando seus sopros eles realizam a harmonia.
Segundo Anne Cheng esta aspiração a um retorno à unidade perdida encontra-se em outras culturas, mas o que é específico do pensamento chinês é a continuidade assegurada pelo vaivém constante entre o não há e o há e o visível.
- Via negativa ou mística ¿
Segundo o Laozi o retorno é um de seus conceitos centrais como vemos nos versos:
O retorno é o próprio movimento do Tao
O fraco é a própria eficácia do Tao
As dez mil coisas do o Céu nascem do há
E o há nasce do não há.
Este retorno é para um estado de natureza bruta, o estado de fraqueza do recém nascido no caso do indivíduo, e para a humanidade um estado de natureza não agressiva.
O Tao tem um processo de apreensão que implica em recuos, ou seja, uma verdadeira via negativa:
" Praticar o aprender é crescer a cada dia
Praticar o tão é decrescer a cada dia
Decrescer para além do decrescer até atingir o não agir
Nada fazer e nada há que não seja feito "
No Laozi praticar o Tao é caminhar por um caminho sem caminho a fim de aprender a desaprender, decrescer, reduzir-se ao cada vez mais simples a fim de atingir uma apreensão imediata das coisas e uma eficácia imediata e3m contato com elas segundo nos narra Anne Cheng.
Segundo a autora toda forma de espiritualidade começa por um largar, por uma renúncia ao eu limitado ou limitativo. Desta forma a mística taoísta é a única dimensão espiritual, a tomar uma direção diferente da aposta confuciana no homem, antes da aparição do budismo no pensamento chinês.
Quem sabe não fala
Quem fala não sabe
Mantém a boca fechada
Mantém a porta fechada
Embota todo gume
Desata todos os nós
Harmoniza toda Luz
Mistura toda poeira
Aqui está a Unidade misteriosa ( 56 )
Atinge o vazio supremo
Mantém em ti a quietude
Na manifestação abundante das coisas
Contemplo seu retorno
Pois cada coisa, após florescer,
Retorna à sua raiz
Retorno à raiz se chama quietude
Retorno ao destino se chama Constante
Conhecer o Constante chama-se iluminação.

Conversas com o Tao-te-King.

Síntese das Antíteses.
Só temos consciência do belo,
Quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom,
Quando conhecemos o mau.
Porquanto, o Ser e o Existir,
Se engendram mutuamente.
0/ácil e o difícil se completam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silêncio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo.
Eis porque o sábio age
Pelo não—agir.
Ensina sem falar.
Aceita tudo que lhe acontece.
Produz tudo e não fica com nada.
O sábio tudo realiza — e nada considera seu.
Tudo faz — e não se apega a sua obra.
Não se prende aos frutos da sua atividade.
Termina a sua obra,
E está sempre no princípio. Epor isto a sua obra prospera.
Conforme falado nos textos acima , quando definimos algo e lhe conferimos algum juízo de valor , isto basta para que encontremos seu oposto que na verdade é uma era convenção.
Ao olharmos as estátuas africanas vemos que o conceito de beleza para a maior parte delas está ligada à utilidade ritualistica ou social que desempenham e que fazem com que se ressaltem os pontos mais úteis do corpo humano . Nestas culturas o conceito de estética helênico não tem nenhuma representação e desta forma uma estátua grega não é considerada bela por não sobressaltar o que há de útil no corpo humano segundo as questões ritualísticas africanas. Desta forma são meras convenções assim como os meios de comunicação de nosso ocidente nos impõe um padrão estético eurocentrado que não é uma unanimidade na história de nossa humanidade ( tentando- o fazer como se fossem )
Outra questão importante nesta passagem é a do não agir , da ação na inação e inação na ação que também vemos presente em outras obras literárias orientais como o Baghavad Gita dos hindús.
Não agir não é não fazer nada , mas simplesmente ficar em posição de reação a acontecimentos não sendo o causador dos mesmos mas um agente passivo que antes de tudo observa o que está se passando para assim poder reagir ao que é proposto.
Na educação , quando ele fala que o sábio " ensina sem falar " , nos mostra a importância do exemplo e da vivência e experiência antes que um conhecimento enciclopédico e livresco.

Agir pela não interferência
Não exaltes os homens eminentes. Para que não surja rivalidade
entre o povo.
Não exibas os tesouros raros,
Para que o povo não os ambicione.
Não despertes as cobiças,
Para que as almas não sejam profanadas.
O governo do sábio não desperta paixões,
Mas procura manter o povo na sobriedade,
E dar-lhe as coisas necessárias.
Não lhe oferece erudição,
Mas dá-lhe cultura do coração.
O sábio governa pelo não-agir.
E tudo permanece em ordem.
Comentamos anteriormente este trecho, e aqui aparece novamente o não agir, ou seja, o reagir ao que é proposto.
Uma questão importante na educação é a valoração do ser antes que do ter e das paixões geradas pela cobiça. Outro ponto é esta cultura do coração do qual fala o Laozi, que antes de tudo não vem de uma erudição livresca, mas sim da experiência e da vivência. O Tao como Humanismo aqui se faz presente na educação, fazendo com que se sobressaltem os valores humanos acima dos materiais, os valores pessoais acima dos culturais e a pergunta que se faz é: Para que serve a cultura ¿ Para quem serve a cultura e a erudição ¿ Quem se utiliza das mesmas ¿ Qual a utilidade de adquirir capital cultural ¿Uma educação pode ser elaborada a partir somente da aquisição de capital cultural sem o cultivo de valores humanos ¿

A Sabedoria da Não Violência
Vida verdadeira é como a água:
Em silêncio se adapta, ão nível inferior,
Que os homens desprezam.
Não se opõe a nada,
Serve a tudo.
Não exige nada,
Porque sua origem é da Fonte Imortal.
O homem realizado não tem desejos de dentro,
Nem tem exigências de fora.
Ele é Prestativo em se dar
E sincero em falar,
Suave no conduzir,
Poderoso no agir.
Age com serenidade.
Por isto é incontaminável.

Aqui novamente a metáfora da água se faz presente. Da mesma forma o princípio do não agir, mas sim do reagir se apresenta implícito. Quando me infiltrei entre o povo de Rua da Bahia há alguns anos senti bem o que quis dizer esta passagem. Pois somente me adaptando aquelas condições de vida e sabendo o que passavam aquelas pessoas pude compreender as dificuldades que tinham para conseguir continuar estudando em suas vidas. Somente com o sentido de servir àquelas pessoas consegui ter resultados em minhas pesquisas. Adaptar-me àqueles valores humanos foi essencial para poder compreender e agir dentro daquele universo.
Fazer o Necessário e não o Supérfluo.
Só se pode encher um vaso até a borda —
Nem uma gota a mais.
Não se pode aguçar uma faca,
E logo testar a sua agudeza:
Não se pode acumular ouro epedras preciosas,
Sem ter lugar seguro para guardá-los.
Quem é rico e estimado,
Mas não conhece a sua limitação,
Atrai a sua própria desgraça.
Quem faz grandes coisas,
E delas não se envaidece,
Esse realiza o céu em si mesmo.

Aqui novamente lembrando Confúcio apesar do confronto de posições, há a passagem dos Analectos que fala que não devemos querer honrarias, mas agir fazendo por merecer ser honrados mesmo que jamais o sejamos. Tudo tem o seu limite e a justa ação de acordo com as possibilidades que se apresentam é mais que necessária em diversas ocasiões. Aqui o princípio da não ação também está implícito, pois só nos damos conta da medida certa das coisas quando nos colocamos em posição de reagir e não agir.


Rumo à Profundeza da Vida
O poder do espírito
E a harmonia das forças
Preservam da dispersão, a vida.
Assim procedendo, se torna o homem
Semelhante a criança,
Clarificando sempre sua visão
Epurficando sempre sua vida.
Segue as suas veredas
Sem jamais aberrar.
Quem conduz seu povo com amor
Permite que ele mesmo se harmonize,
Amparando-o em tempos de fortuna
E nas horas de infortúnio.
Quem possui verdadeira sapiência
Não necessita de erudição,
Sabe criar valores,
E não os guarda para si
Sabe agir sem se apegar
À sua atividade,
Sabe conduzir sem impelir –
Nisto reside a finalidade da vida.
Novamente o retorno ao homem original se faz presente no Laozi , assim como a importância da cultura do coração sobre a cultura da erudição . A figura do recém nascido também emerge ressaltando a necessidade de se buscar a origem perdida no tempo que os homens não haviam se corrompido pela erudição , em uma tempo onde não conheciam a agressividade e a lei era algo como a Piedade Natural que temos no discurso de Rousseau nos primórdios da humanidade antes da era das socializações.

Através dos visíveis, Rumo ao Invisível
O excesso de luz cega a vista.
O excesso de som ensurdece o ouvido.
Condimentos em demasia estragam o gosto.
O ímpeto das paixões perturba o coração.
A cobiça do impossível destrói a ética.
Por isto, o sábio em sua alma
Determina a medida para cada coisa.
Todas as coisas visíveis lhe são apenas
Setas que apontam para o Invisível.
O Tao define a medida certa para cada coisa, aqui o princípio da reação também se faz presente , pois somente este pode nos dar a medida certa para cada coisa. Todo exagero e excesso é mal visto pelo Laozi e pelo homem que busca o caminho do Tao , como sendo este a origem .


A Aparente Ausência dos Grandes chefes
A presença de um verdadeiro chefe de Estado
É sentida pelo povo como ausência.
Os maiores são amados e louvados,
Os medíocres são ignorados,
Os ambiciosos são desprezados.
Quando um soberano confia em seu povo,
O povo confia nele.
Os chefes sábios são ponderados em suas
palavras;
O que eles fazem é bom,
Desempenham a sua tarefa — Mas o povo tem a impressão
De se guiar a si mesmo.
Da mesma forma na Educação o Mestre que conduz , faz com que os discípulos cheguem ao conhecimento pelos seus próprios meios. Sócrates assim o fazia em seus diálogos aporéticos e em sua refutação . Os mestres do Vedanta na India assim o faziam através da técnica do Neti- Neti ( não é isso, não é isso ) indicando o que não era mas jamais dando a resposta para que o discípulo se apoderasse do conhecimento e chegasse através de seus próprios meios e visões subjetivas a uma visão comum.
O modelo do mestre do Laozi , e do governante , é aquele que deixa que o seu povo se guie por um consenso , sendo este superior a sua vontade . Aqui novamente o processo de reação e não ação se aplica .

A Tirania da Inteligência Derrotando a Soberania da Razão
A moralidade e o direito nasceram,
Quando o homem deixou de viver pela alma do Universo.
Com a tirania do intelecto
Começou a grande insinceridade;
Quando se perdeu a noção da alma,
Foi decretada a autoridade paterna
E a obediência dos filhos.
Quando morreu a consciência do povo,
Falou-se em autoridade do governo e lealdade dos cidadãos.
Segundo o Laozi há na origem do homem uma espécie de Lei Natural que emana deste Tao e que no fundo deveria guiar a humanidade. Neste contexto , assim como em Rousseau no seu clássico " Da desigualdade entre os Homens ". As leis são criadas para beneficiar uma parte da sociedade e fogem desta lei natural deste homem primitivo e natural. Buscar esta essência é o objetivo do Laozi. A pura essência Humana dos tempos que os homens não se guiavam por leis menores , mas por uma lei maior que lhes determinava a sobrevivência e que na Origem é ao que devemos retornar.
Na educação aqui vemos a importância do consenso de um grupo acima da vontade individual do Mestre , de forma a ensaiar se o resgate desta lei maior.

Fundamento da Verdadeira Ética
De mil benefícios goza um povo, Quando não se fala mais em ser
virtuoso nem santo.
Verdadeira reverência e amor sincero
Medram em uma sociedade
Em que o direito e a moral deixam de ser
prescritos.
A ordem não reina em uma sociedade
Onde o interesse determina o agir.
Esses princípios não podem ser prescritos,
Mas devem ser vividos.
Somente onde eles são vivenciados
É que ajudam os homens.
A ética genuína só existe
Onde o homem vive de dentro da sua fonte
E age pela pureza de seu coração;
Onde a genuidade do seu ser
Se revela em atos desinteressados
E isentos de desejos.
Este é para mim um dos maiores ensinamentos do Laozi. Uma sociedade cheia de leis , mostra que está cheia de corrupção pois necessita desenvolver estas leis para coibir a ação daqueles que se corromperam e perderam o sentido de uma lei natural . Lembrando também Rousseau quando fala que ao cercar o primeiro lote de terras e tomar posse dizendo isso é meu e os demais homens sendo suficientemente ingênuos para acreditar forma-se ai a sociedade civil e se iniciam todos os males desta sociedade , pois a partir da propriedade aparece a necessidade de criar dispositivos para defender este direito de propriedade enquanto antes tudo era de todos segundo a lei natural .
Esta Lei natural deste homem natural que conhece o que em Rousseau é chamado de Piedade natural é um ideal semelhante ao Laozi.
Na educação temos aqui mais uma vez a importância do exemplo e da não ação , mas sim reação do mestre perante seus discípulos .

Da Lei da Compensação Interior
O que é imperfeito será perfeito; O que é curvo será reto;
O que é vazio será cheio;
Onde há falta haverá abundância;
Onde há plenitude haverá vacuidade.
Quando algo se dissolve, algo nasce.
Assim, o sábio,
Encerrando em si a alma do Uno,
Se torna modelo do Universo.
Não dá importância a si mesmo,
E será consíderado importante.
Não se interessa por si mesmo,
E será venerado por todos.
Nada quer para si,
E prospera em tudo.
Não pensa em si,
E é superior a tudo
E por não ter desejos,
È invulnerável.
Por isto, há muita verdade
No velho ditado:
Quem se amolda é forte.É esta a meta suprema da Vida humana
Mais uma vez me vem à memória o tempo que passei entre o povo de rua, e ao me amoldar àquelas condições perceber o quanto há de possibilidades de reversões deste quadro a partir da educação que amolda a outras realidades.
Aliás, a educação tem por função moldar a uma determinada realidade e esta passagem mostra que devido ao fato de tudo ser convenção a humanidade de fato tem inúmeras possibilidades apesar de se fechar em algumas poucas por interesses alheios ao desenvolvimento desta mesma humanidade.
De qualquer forma aqui o Laozi, nos fala que tudo gira em ciclos e que estamos sujeitos a estes ciclos, desta forma reagir a estes ciclos nos faz, mas fortes se neste processo nos moldamos a estas novas realidades.

A vida correta nasce da Naturalidade.

Quem se ergue na ponta dos pés
Não pode fícar por muito tempo.
Quem abre demais as pernas
Não pode andar direito.
Quem se interpõe na luz
Não pode luzir.
Quem dá valor a si mesmo
Não é valorizado.
Quem se julga importante
Não merece importância.
Quem se louva a si mesmo
Não é grande.
Tais atitudes são detestadas
Pelos poderes celestes.
Detesta-as também tu, ó homem sapiente.
Quem tem consciência da sua dignidade,
De ser veículo do Infinito,
Se abstém de tais atos.
Na educação esta passagem sugere no mínimo a modéstia e o combate a impiedade intelectual. O senso de observação se faz mais que necessário nesta passagem que nos alerta para a busca deste caminho natural do qual fala o Laozi.

Maestria da Vida por uma dignidade Silenciosa.
Quem de boa vontade carrega o dficil,
Supera também o menos d!fícil. Quem sempre conserva a quietude,
É senhor também da inquietude.
Por isto, o sábio carrega de boa mente
O fardo da sua jornada terrestre.
Nunca se deixa iludir
Por deslumbrantes perspectivas.
Trilha com tranqüila dignidade
O seu solitário caminho.
O homem profano, porém,
Que se derrama pela vida superficial,
Dissolve com sua leviandade
A solidez da sociedade;
Destrói com sua inquietude;
A quietude do reino,
E destrói, também, o seu próprio reino

O que realmente importa no processo educativo é a essência do que é ensinado e neste caminho da busca pelo Tao, a busca pela simplicidade se faz mais que necessária.

Cultura Genuína
Quem anda direito não deixa rasto,
Quem fala bem não diz desacertos.
Quem calcula bem não usa lembretes.
Quem fecha bem dispensa fechaduras e ferrolhos,
E, contudo, ninguém o pode abrir.
Quem amarra bem não usa corda nem barbante,
E, contudo, ninguém pode desatar.
Assim, o sábio, em sua madureza,
Sabe sempre ajudar os homens.
Para ele, ninguém está perdido.
Sabe aperfeiçoar tudo que existe,
E não vê mal em ser algum.
É este o duplo segredo
De toda a realização do homem:
O homem pleni-realizado
Ajuda sempre ao menos realizado.
O homem mais culto
Ajuda sempre ao menos culto.
Pelo que, o homem, trata com reverêncía
Ao homem mais maduro que tu.
E envolve em sincero amor
Aquele que necessita de ti.
Quem não age assim
ignora a cultura genuína.
Vai nisto um grande segredo.
Estas palavras falam por si mesmas e tratam desta disposição em que o conhecimento em si mesmo é um objetivo do Mestre , assim como sua transmissão se faz necessária e importante. Fala também do combate à impiedade intelectual e do fato que este homem que busca a própria origem nem por isso despreza aqueles que buscam este conhecimento.

O poder da Não Violência.
Revela a experiência que o mundo
Não pode ser plasmado à força.
O mundo é uma entidade espiritual,
Que se plasma por suas próprias leis.
Decretar ordem por violência
É crear desordem.
Querer consolidar o mundo à força
É destruí-lo,
Porquanto, cada membro
Tem sua função peculiar
Uns devem avançar
Outros devem parar
Uns devem clamar,
Outros devem calar
Uns são fortes em si mesmos,
Outros devem ser escorados.
Uns vencem na luta da vida,
Outros sucumbem.
Por isto, ao sábio não interessa a força,
Não se arvora em dominador,
Não usa de violência.
No não agir , há o sentido de reação , mas não de ação , portanto neste caso não há lugar para o desencadeamento da violência. Segundo nos diz o Laozi na análise de Anne Cheng, este livro surge em uma época que as nações se destruíam em batalhas fratricidas o que gerou o desencanto de Lao tsé.
Portanto segundo o caminho do Taoísmo a força jamais deve ser utilizada como arma. Na educação também se mantém uma atitude não violenta em relação aos demais discípulos.

A Paz nasce da mansuetude
O Chefe de Estado que obedece a Tao
Não tenta dominar com violência,
Porque sabe que toda a violência
Recaí sobre o próprio violento.
Nos campos de batalha,
Só medram espinhos e cardos.
Guerras geram angústias e miséria.
Por isto, o sábio vive sem armas,
Não obriga ninguém com violência,
Não conhece ambição nem glória,
Não alimenta presunção alguma,
Nem aspira ao poder.
Faz o que deve fazer,
Mas sem forçar ninguém.
Ele conhece o ritmo da evolução,
Sabe que tudo falha
Quando contradiz as leis da vida,
Porque todas as ilusões
Depressa se dissipam.

Nesta passagem há a evocação de uma lei natural regida por este Tao que é Origem e Fim de tudo o que há o que na educação segundo este princípio nos leva a crer que esta mesma lei natural que deve ser exaltada. Lembro que esta lei natural é algo diferente do senso do humano presente no Confucionismo , e que não é algo que deve ser desenvolvido como este ren ( senso do Humano ) do Confucionismo mas algo que está intrínseco a esta natureza humana. Aqui mais uma vez há a questão do retorno à origem .
Todas as armas são nefastas
Armas, por mais excelentes, são instrumentos nefastos,
Que o homem correto despreza.
Quem conhece Tao
Não se serve delas.
O homem nobre, em tempo de paz,
Se serve da benevolência;
Só, na guerra, recorre à víolência.
Todas as armas são calam idades,
De que o homem correto não faz uso.
Só quando obrigado, as usa,
E, mesmo na luta forçada,
A paz e o sossego lhe são supremos.
Quando vencedor, não se alegra.
Quem pode ter gozo em massacres humanos?
Quem se alegra com guerras homicidas,
Não realiza o destino da vida.
Em tempos bons, apreciamos a justiça;
Em tempos maus, recorremos ao "direito"
Sabedoria é paz e amor
Estultícía é ódio e guerra,
A ilusão do "direito" é do ego,
A verdade da justiça é do Eu.
Ilusão e direito geram violência.
Verdade e justiça geram benevolência.
A questão do combate à violência se faz presente novamente nesta passagem do Laozi , sendo esta uma característica artificial que o homem desenvolve fugindo de sua condição natural em sua origem e por isso causa de sofrimento por afastar-se desta lei Natural .
Também na educação há o conceito de justiça e direito o que nos mostra bem claramente que nem sempre o direito e as leis humanas trazem em si o conceito de justiça que está presente nesta origem deste homem natural.

Sapiência Suprema

Inteligente é quem outros conhece;
Sapiente é quem se conhece a si mesmo.
Forte é quem outros vence;
Poderoso é quem se domina a si mesmo.
Ativo é quem muito trabalha,
Rico é quem vive contente.
Firme é quem vive em seu posto,
Eterno é quem supera a morte.

Conhecer este estado natural , segundo o Laozi é o maior conhecimento que se pode haver e o que realemnte deve ser conhecido e toda educação deve se basear nas premissas do conhecimento deste estado original .

A Grandeza está no serviço espontâneo
Ó Tao
Tu, que tudo superas!
Em ti está o Todo.
Em ti, a vida de todos os seres!
Tu não te negas a ninguém,
Tu, que tudo realizas,
Tudo nutres,
Tudo fazes prosperar!
Tu, o eterno servidor da vida,
Jamais te vanglorias de nada.
Pequenino pareces aos que ignoram
A tua grandeza.
Grande, porém, és
Tu, de que tudo vem
E a quem tudo volta.
Nunca te arvoras em dominador.
Assim, também, o sábio sempre serve, Realizando grandes coisas, Sem se ufanar da sua grandeza.
Tao , Origem e destino dos Homens segundo o Laozi , na Educação a valorização de nossa condição humana que conhece como certo somente o nascimento e a morte se faz um objetivo central a partir desta refexão.

Dominar sem Violência
Para diminuir alguém,
Deve-se primeiro engrandecê-lo.
Para enfraquecer alguém,
Deve-se primeiro fortalecê-lo.
Para fazer cair alguém,
Deve-se primeiro exaltá-lo.
Para receber algo,
Deve-se primeiro dá-lo.
Esse deixar amadurecer
É um profundo mistério.
O fraco eflexível
É mais forte que o forte e rígido.
Assim como o peixe
Só pode viver em suas águas,
Assim só pode o chefe de Estado
Dominar sem violência.
Na origem das coisas , este estado Natural do Homem defendido pelo Laozi , deve estar presente , ou ser buscado pelo chefe de Estado e pelo Mestre obedecendo e tendo em vista estas leis cíclicas presentes no conceito do Tao nesta obra.

Harmonia pelo não agir
Tao não age,
E por esse não-agir tudo é agido. Se reis e príncipes assim fizessem, Todas as coisas do mundo prosperariam por si
mesmas
E se, mesmo assim, os homens tivessem desejos,
Tao os satisfaria pela simplicidade
Do seu íntimo ser.
Quem se une ao Uno,
Não tem desejos,
Onde não há desejos h paz. E onde há a paz,
Tudo é harmonia e felicidade.

Aqui temos algo parecido com o budismo quando coloca que a causa de todo sofrimento é o desejo , contudo também está presente o princípio de inação ( reação ) . O Laozi crê em uma ordem natural que se estabelece pro si mesma e que deve ser percebida pelo mestre na dinâmica que desenvolve com seus discípulos.

Moralidade ou Ética¿
Quem vive nas profundezas do seu ser Nada sabe de virtuosidade.
Dele brotam espontanea mente As íntimas forças da vida.
Quem vive na superfície do seu agir
Não pode fazer brotar as forças profundas.
Quem vive nos abismos da sua alma
Ignora a moralidade do seu agir.
Desconhece o que seja ego-agência.
Quem vive na superfície da sua alma
Age egoica mente, visando fins externos.
O amor impele ao agir,
Mas não quer nada para si.
A justiça impele ao agir,
Mas não age por ambição.
A moral também impele ao agir,
E, se não consegue o que quer,
Recorre a violência.
Por isto, ó homem, reconhece:
Quem não tem a visão do Tao,
Age por virtuosidade.
Quem não tem virtuosidade
Age pela caridade.
Quem nem disto é capaz,
Obedece a ritos e tradições.
Mas a dependência de ritualismos
É o ínfimo grau da moralidade.
É mesmo o início da decadência.
Quem julga poder substituir pela inteligência
A cultura do coração,
Esse é um tolo.
Pelo que, atende a isto:
O homem correto
Age por uma lei interna,
E não por mandamentos externos.
Bebe as águas da Fonte,
E não dos canais.
Transcende estes
E vai sempre à origem daquela

Novamente aqui se desvela a crença em uma lei natural que rege a ação e a inação. Lei esta que está presente nos corações dos homens e no sentido deste Tao origem e destino de tudo.
Há também claramente uma proposta bem diferente do que vemos na educação confuciana que se baseia em ritos.
Há aqui o desprezo de todos estes ritos, o que na educação nos faz buscar o sentido central do objeto de estudo sempre , ao invés de meras postulações a propósito de seu modus operandi.

Toda diversidade se baseia na Unidade.
Toda a pluralidade radica na unidade,
E esses dois são um em si.
O céu é puro porque é Uno
A terra é firme porque é Una.
As potências espirituais são ativas,
Porque são unidade.
Tudo que é poderoso assim é,
Porque é unidade.
Tudo que é vivo assim é,
Graças à sua unidade.
Os soberanos são modelos,
Somente quando preservam sua unidade.
Tudo se realiza pela unidade.
Sem ela, os céus se partiriam,
E a firmeza da terra pereceria.
Sem a atuação da unidade,
Falhariam as potências espirituais.
Sem a sua plenitude,
Acabaria tudo em vacuidade.
A fecundidade acabaria
Em total esterilidade.
Sem o poder da unidade,
Pereceria tudo que é vivo.
E os soberanos ruiriam no pó
Os sábios sabem que toda a sabedoria
Radica na simplicidade;
Que tudo que é alto,
Se apoia no que é baixo.
Por isso também os reis e príncipes
Se consideram servos do povo,
Sabendo que toda a sua grandeza
Tem por alicerce o Uno e simples.
Quem dissolve uma carruagem
Não tem mais carruagem.
Quem quer brilhar como pedra preciosa,
E se dissolve, cai por terra,
Como uma poeira sem valor
.
Nestes versos temos a questão do desdobramento do Tao , que é criador desta lei natural , origem e destino dos homens . É a Mãe das Dez mil coisas que começam no Uno e se desdobra em diversas formas.
Outras culturas também têm esta questão do desdobramento de uma suposta unidade a origem de todas as coisas.
Na educação e na administração este sentido de Unidade faz com que as relações entre mestres e discípulos se tornem horizontais.

A Sabedoria parece Estultície.
O verdadeiro sábio,
Quando conhece Tao,
Procura realizá-lo em si.
Quem ainda vacila, incerto,
Na sabedoria, só de vez em quando
Segue o caminho certo
Quem apenas fala em sabedoria
Não a toma a sério.
Se Tao não lhe parecesse absurdo,
Não seria Tao.
Por isto disse o poeta:
'Quem é iluminado por dentro,
Parece escuro aos olhos do mundo.
Quem progride interiormente,
Parece ser um retrógrado.
Quem é auto-realizado,
Parece um homem imprestável.
Quem segue a luz interna,
Parece uma negação para o mundo.
Quem se conserva puro,
Parece um bobo e simplório
Quem é paciente e tolerante,
Parece um sujeito sem caráter.
Quem vive de acordo com seu Eu espiritual,
Passa por um homem enigmático".
Tao se parece com um quadrado infinito
Sem ângulos.
Com um vaso de tamanho ilimitado
Sem conteúdo algum
Parece-se com um som de infinita vibração
Que não se ouve.
Com uma imagem infinitamente grande
Que ninguém pode ver.
Mas, embora Tao não seja cognoscível,
Nem nominável,
Ele é tudo e realiza tudo.
Vemos aqui no que se refere à educação Taoísta a possibilidade de não se reconhecer o mestre com autoridade para tal posição se não levamos em conta esta lei natural que rege a Humanidade segundo esta vertente filosófica.
O cultivar a simplicidade a hábitos modestos é uma característica do mestre que se guia por este Tao presente no Laozi.

O poder do Inconspícuo

O mole vence o duro.
O vácuo penetra o pleno.
Nisto se revela a poderosa atuação
Do não-agir.
Entretanto:
Poucos homens, aqui na terra, sabem
Do segredo do ensinamento sem palavras
E do poder do agir
Pelo não-agir.

Novamente aqui temos a questão da ação na inação , do não agir e ao mesmo tempo construir uma realidade a partir do senso de reação. Na educação se faz central o senso de observação do mestre no conhecimento das aspirações e motivações de seus discípulos para o desenvolvimento de uma estratégia pedagógica que leve a determinado aprendizado.

A Riqueza do Ser e a Pobreza do Ter.
Que vale mais:
Meu nome de família ou meu Ser?
Que é mais meu:
Minhas posses externas ou meu íntimo Ser?
Que me é mais importante:
Meus lucros ou minhas perdas?
Quem prende seu coração a algo
Está preso.
Quem deseja possuir tesouros
É um pobre possesso.
Quem vive satisfeito
É feliz com os satisfeitos.
Quem respeita os seus limites
Não corre perigo.
Isto gera verdadeira serenidade.
De dentro vem o que por fora se revela.
Ser e ter, novamente colocados em questão, assim como os limites humanos que nos fazem na educação novamente recorrer ao senso de observação de motivações de nossos aprendizes para que possamos então agir dentro do que lhes é mais prioritário ou não.

Os Paradoxos da Verdade
Quem demanda a perfeição
Parece ser imperfeito.
Embora a sua oculta plenitude
Plenifique todas as vacuidades
Quem possui verdadeira plenitude
É inesgotável,
Por mais que se esgote.
Quem anda direito,
Parece torto.
Grande habilidade
Parece inabilidade.
Arte genuína
Parece mediocridade.
Movimento supera o frio.
Quietação vence o calor.
O que é puro e reto
Sempre orienta o mundo.
Mais uma vez recorrendo a esta passagem do Laozi temos que este Tao define uma lei Natural a que os homens estão sujeitos, assim como os valores da simplicidade nas práticas educativas.

A suficiência garante a Paz
Quando a humanidade vive em ordem,
Os cavalos puxam o arado;
Quando ela renega sua lei interna,
Os cavalos se preparam para a guerra.
Não há pecado maior
Do que o excesso da ganância.
Não há mal maior
Do que querer sempre mais.
Não há maior calamidade
Do que a mania de sucesso.
Quem se contenta com o necessário,
Vive numa paz imperturbável
Novamente esta lei interna natural se faz presente nesta passagem do Laozi , o que nos alerta para que recorramos a quais são as prioridades de nossos aprendizes e a que leis estão seguindo em seus processos cognitivos.
A sabedoria interna
Para conhecer o mundo,
Não é necessário viajar pelo mundo.
Posso conhecer os segredos do mundo m olhar pela janela do meu quarto. uanto mais longe alguém divaga,
menor é seu saber
o sábio atinge sabedoria
Sem erudição,
Alcança a sua meta
Sem esforço;
Termina a sua jornada
Sem viajar
Aqui mais uma vez no que se refere à educação se faz necessário o senso de observação que deve ser valorizado em nossos processos pedagógicos como mestres.

O poder da Vida Silenciosa.
Tao é o seio materno do Universo.
Quem conhece sua mãe, sente-se filho seu.
Quem se conhece como filho, vive a vida de sua
mãe,
Nem vê detrimento na morte.
Quem refreia os seus sentidos
E conserva as suas forças,
Não se esgota.
Mas quem se desgasta,
Quem se dissipa e dispersa,
Esse vive em vão.
Quem tem a consciência de ser apenas uma
centelha,
Esse é iluminado.
Quem, em seu dever,
Permanece maleável e flexível,
Esse é forte.
Permanece maleável e flexível,
Quem segue à luz interna,
Esse não sucumbe à morte,
É imortal.
Quem vive na essência
Não se prende a nenhuma aparência.

O retorno a nossa origem aqui se faz de novo uma constante nesta passagem do Laozi, assim como a inversão dos valores mundanos em valorizar a força e deixar de observar que o sensível e a sensibilidade tem um grande valor e poder em nossos processos educativos .

Criança como modelo.
Quem vive na plenitude lo seu Ser
Vive como criança recém nascida.
Víboras venenosas não a picam,
Feras selvagens não a atacam,
Aves de rapina não a agarram
Flexíveis ainda são os seus ossos,
Tenros são os seus músculos,
Mas ela prende com firmeza o que segura.
Ignora ainda o uso dos sexos,
Mas não lhe falta o sexo.
O embrião do sexo nela dormita.
Pode gritar o dia inteiro,
Sem ficar rouca,
Tão perfeita é sua harmonia.
Compreender o poder que harmoniza a vida
É encontrar a permanência.
Encontrar isto é iluminação.
Sentir-se permeado pela vida total,
Isto é ser bendito.
Mas, pôr as forças vitais
A serviço de gozos egoístas,
É ilusão, embora pareça força.
Toda a atividade nascida do ego
É ilusória e acaba perecendo.
Creio que o maior exemplo desta passagem para mim é minha experiência como professor de ensino fundamental, sobretudo de crianças deficientes.
Tive um aluno especial ( aliás, muito especial em todos sentidos para mim ) que tinha paralisia cerebral e certo dia a forma como as outras crianças o trataram em um processo de socialização que incentivava me emocionou. Vi naqueles seres a igualdade e me senti tão inferior a sua grandeza em não se medir por suas deficiências que não pude deixar de conter as lágrimas.
Aquela fagulha de humanidade que me fora confiada me ensinou o sentido deste Tao como este sentido desta essência Humana que segue uma lei natural do qual fala o Laozi, diferente do senso do humano construído pelo pensamento confucionista.
Não havia rituais em seus tratamentos ao meu aluno especial e todos pareciam saber o que deveriam fazer tal qual um processo natural que se desenvolve por uma lei que parece estar na origem de nossa humanidade e a guia.
Ao fazer estas imagens daquelas crianças sinto exatamente o sentido destes versos e peço que façam esta imagem para que se aproximem do que senti para compreender esta passagem do Laozi.

A Serenidade do Sábio.
Quem sabe, cala.
Quem fala, não sabe.
O sábio vive calado,
Voltado para dentro de Si
Mitiga o que é agudo,
Deslinda o que é emaranhado,
Suaviza o que é violento,
Nivela-se com o que é singelo.
Assim conscientiza ele a Realidade.
Unflca-se com o grande Uno,
Mantém-se eqüidistante de simpatia e antipatia,
Indiferente a lucro e perda
Acima de louvor e vitupério.
É nisto que ele vê a verdadeira nobreza.
Nesta passagem o poder da não ação e da observação se fazem centrais neste processo que desenvolvemos em nossa educação.

Agir Não agindo
Pela retidão se governa um país.
Pela prudência se conduz um exército.
Mas é pelo não-agir
Que é regido o Universo.
Donde sei que assím é?
É evidente por si mesmo.
Quanto mais proibições existem,
Tanto mais o povo empobrece.
Destrói-se toda a ordem
Quanto mais os homens procuram
Os seus interesses pessoais.
Prepara-se a revolução,
Quando os homens só pensam em si mesmos.
Abundam ladrões e salteadores,
Quando o governo só confia
Em leis e decretos,
Para manter a ordem.
Pelo que diz o sábio:
Não intervenho!
E eis que por si mesma
Prospera a vida
Na sociedade.
Mantenho-me imparcial!
E por si mesmo o povo se endireita.
Não me meto em conchavos!
E por si mesma floresce a ordem.
Não nutro desejos pessoais!
E eis que por si mesmo tudo vai bem

Segundo o Laozi , o interesse não deve determinar o agir , e tanto mais leis precisa uma sociedade , tão mais desviados desta lei natural está o homem. Novamente aqui em processos educativos o Laozi clama pelo dom da observação antes que a imposição de qualquer método.

Paradoxos Criadores
Um governo que não aparece Faz o povo feliz.
Um governo que tudo quer determinar
Faz o povo infeliz.
Felicidade repousa em renúncia.
Renúncia é a base da felicidade.
Quem prevê o que vai acontecer?
Desordem reveza com ordem,
Erros sucedem a verdades.
Em sua cegueira, o homem ignora
As vicissíl-udes das coisas.
O sábio:
É retilíneo por índole —
Mas não fere ninguém.
É intangível — Mas não inatingível
É intransigente — Mas não intolerante.
É brilhante — Mas não ofuscante
Aqui se faz presente o princípio da não ação mais uma vez , e a ordem natural das coisas que s estabelece por si mesma.
O poder da Serenidade
Para servir aos homens e a Tao,
Nada melhor do que a serenidade.
Serenidade é agir sem agir,
Atividade pelo próprio Ser,
Serenidade é silenciosa superíorídade.
Serenidade é passividade dinâmica,
Que atua de dentro sem agir por fora.
Tao é infinita potência,
Porque é silêncio Creador.

Mais uma outra faceta da inação se apresenta nesta passagem.

Reintegração Cósmica.

Tao é a pátria de todos os seres,
É a querência dos bons,
É o refúgio dos maus.
Belas e piedosas palavras são fáceis,
Mas somente boas ações
Conduzem o homem à perfeição.
Será sinal de nobreza
Re/eitar os homens maus?
Para que foram instituídos
O Imperador e seu fausto?
Visam tão-somente a realizar Tao.
Qual a razão porque os antigos
Tanto veneravam Tao?
Não é porque quem o procura
O encontra, finalmente?
Não é por que todo transviado
Encontra nele o bom caminho ??
E todo doente encontra saúde e sanidade?
Por isto é Tao o Bem supremo.
Mais uma vez aqui se mostra o Tao como esta lei natural que rege a Humanidade.

Ver o Grande no Pequeno.
Agi pelo não-agir! Sede ativos na inatividade!
Achai gosto no desgosto!
Vede o grande no pequeno!
Vede o muito no pouco!
Enfrentai o ódio com o amor
Reconhecei o dfícil,
Antes que apareça a sua dficuldade!
Realizai o grande,
Amando o pequeno!
Todo o complicado no
Começa simples!
Todo o grande
Nasce pequeno!
O sábio não se preocupa com sua salvação,
Epor isto a encontra.
Quem facilmente promete
Não merece confiança.
Quem age levianamente
Esbarra com dificuldades.
O sábio prevê as dculdades.
E por isto as supera.

Outra face do Não agir do Laozi aqui se faz presente.

Vivência pelas Leis Cósmicas
O que está em repouso
É fácil conservar.
O que é insignficante
Pode Jácílmente ser influenciado.
O que é frágil,
Pode ser quebrado facilmente.
O que é leve
Pode ser levado pelo vento.
A ordem deve ser mantida,
Antes que surja a desordem.
A árvore mais gigantesca
Nasceu de uma raizinha
Fina como um cabelo.
Uma torre de nove andares
Repousa sobre uma pequena área de terra.
Uma viagem de mil léguas
Começou com o primeiro passo.
Quem faz algo contra a lei
Tem de falhar.
Quem se apega a algo
O perderá.
Por isto, o sábio não é egocêntrico,
Epor isto nunca falha.
Não se apega a nada,
Epor isto não perde nada.
Outros falham
Antes de chegar à meta,
Porque não esperaram
Pelo momento oportuno,
Quem enxerga o início e o fim,
Esse não falha
O único desejo do sábio
É não ter desejos.
Não deseja nada
O que a outros
É desejável.
Nem deseja intelígir
Objetos de inteligência.
O que a outros é insignflcante
O sábio o considera importante.
Assim estabelece ele a reta ordem
Em si e nos outros,
Não agindo jamais
Em desacordo com as leis cósmícas.
Ordem e desordem se alternam em diversas sociedades , não somente segundo a tradição chinesa. Nas tradições africanas há sempre a figura do Trickster , aquele agente transgressor que dá moto social e histórico às sociedades. Apesar de falar pouco do assunto , ao admitir a questão de sua alternância abre-se espaço para que discutamos a utilidade da desordem como sendo para que uma nova ordem mais perfeita se estabeleça assim como é mostrado em dinâmicas sociais de diversas culturas da humanidade.
Na educação isto vem com a figura do questionamento e da reflexão necessárias ao processo cognitivo.

Orientar-se pelas leis imanentes
Antigamente, os que viviam em Tao
Evitavam erudição intelectual.
Para um pafs nada é mais perigoso
Do que um povo pseudo-erudíto.
Querer governar massas pseudo-eru ditas
Acaba em grande calamidade.
Abençoado aquele que evita
Esse conhecimento superficial
E educa o povo segundo
As leis imanentes no coração.
Orientação assim modelar
Nunca desvia do caminho certo,
Porque o sábio conhece o poder misterioso
Das leis auto-atuantes do mundo,
Que as massas ignaras ignoram.
A obediência a essas leis imanentes,
Que atuam de dentro de si mesmas,
Garante a ordem do cosmos.
Mais uma vez em conflito com o pensamento confuciano , o Laozi coloca aqui que existe uma lei natural na origem deste Tao que governa a Humanidade , o que faz se de forma diversa da versão do Tao Confuciano que é algo construìdo pelo caminho dos ritos e da erudição.

Governar Servindo.
Rios e mares demandam os vales,
Porque procuram os lugares baixos.
O soberano só pode governar
Quando o seu governo brota do interior.
Por isto o verdadeiro sábio,
Quando quer governar
Modera as suas palavras,
E renuncia ao seu próprio ego.
Assim é ele um verdadeiro soberano,
E o povo não se sente humilhado.
Governa, mas ninguém
Se sente governado.
Todos lhe obedecem de boa mente
E se sentem amparados
E livres.
Nada dele reclamam
Nada desejam.

Mais uma vez se busca aqui inspirar o governo ( e a educação ) por estas leis naturais existentes no início da Humanidade ao que novamente podemos nos remeter ao Homem natural de Rousseau.

As três coisas preciosas
Dizem os homens que eu sou grande,
Como se eu fosse algo especial.
Grande só é quem nada se importa
Com sua grandeza.
Quem deseja ser grande perante os outros,
Esse é pequeno.
Três palavras me são sagradas:
A primeira é bondade,
A segunda, suficiência,
A terceira, modéstia.
A bondade dá força,
A suficiência alarga a estreiteza,
A modéstia faz do homem um vefculo
Para a atuação das forças eternas.
Hoje em dia não é assim.
O homem não conhece mais bondade,
E, ainda assim, se julga forte.
Não tem mais suficiência
Só reclama seus direitos;
Ninguém sabe ser modesto,
Mas só pensa em sucesso.
E isto conduz à ruína.
Quem é realmente bom —
Vence na luta
Porque é invencível,
Quando o inimigo avança.
Esse homem é amparado pelo céu
Mais uma vez o Laozi nos atenta para estas leis originais do Tao.

Invencível pela paz interior
O Mestre realmente competente
Convence,
Mas nao discute.
Um verdadeiro soldado
Luta,
Mas não tem raiva.
Um vencedor real
Supera,
Mas não se irrita.
Um autêntico chefe
Coloca cada homem no seu lugar,
Mas não tiraniza ninguém.
Essa atuação nascida de dentro
Conserva a paz verdadeira,
Pratica a arte sublime
De conduzir os homens suavemente.
É uma atuação oriunda do céu
Semelhante atuação foi desde sempre
Considerada como a mais alta.
Este é o sentido do não agir que o Laozi esboça para os processos educativos.

Superioridade pela Modéstia.
Quem quer ganhar seu ínimigo,
Em terra hostil,
Não se arvore em dono de casa,
Mas porte-se como hóspede
Em casa alheia;
Prefira sempre recuar um metro
A avançar tm centímetro.
Assim ele progride sem marchar.
Assim pode reprimir sem ameaçar.
Assim pode avançar sem lutar.
Assim pode tomar posse,
Sem usar armas,
Não há mal maior
Do que desprezar o inimigo;
Quem menospreza o inimigo,
Perde os seus tesouros,
Se dois exércitos forem iguais,
Quem vence é o mais sensato.

Trecho que mostra a importância do senso de observação mais uma vez.

A pequena Elite dos Sábios
Quem conhece a sua ignorâncía
Revela a mais alta sapíêncía.
Quem ignora a sua ignorância
Vive na mais profunda ilusão.
Não sucumbe á ilusão
Quem conhece a ilusão como ilusão.
O sábio conhece o seu não-saber
E essa consciência do não-saber
O preserva de toda a ilusão.

O mestre fala da questão do saber como uma fonte inesgotável na qual o mais instruído ainda assim necessita aprender. Aprendemos uns com os outros em um processo contínuo.


Mentalizar o Mal é Perigoso

Quando o homem não mentaliza o mal
O mal não lhe acontece. Deixa o mal no berço da maldade
E o mal não desgraça o homem.
Ainda que o sábio conheça o seu valor,
Não exibe valores.
Ainda que conheça a sua dignidade,
Não reclama dignidades.
Ele conhece as suas possibilidades,
Por isso não exorbita dos seus limites.
Mais uma vez ressalta o que é o não agir no processo educativo.

Matar ou deixar viver
Alguns são assaz corajosos
Para terem a coragem de matar.
Outros são assaz corajosos
Para parecerem covardes
E terem a coragem de conservar a vida.
Matar e deixar viver —
Tanto isto como aquilo por vezes considerado mau.
Quem ousaria dizer
Qual o critério das potências eternas?
Nem o sábio o sabe
E, na dúvida, entrega tudo
Ao Tao do Infinito
Mas o Infinito se revela assim:
Ele prevalece — sem violência.
Ele dá ordem sem comando,
Ele atrai — sem se impor.
Atua com finalidade — mas sem interesse.
É uma rede de malhas largas,
Mas nada lhe escapa.

Mais um verso que nos mostra o princípio da não violência inerente ao caráter do não agir que prega o Laozi.
Vida e Morte
Se um povo não teme a morte,
Quem pode então governar
Com pena de morte?
Mas, se teme a morte,
Quem ousaria cometer crime de morte?
Há sempre um juiz que decrete
E execute pena de morte.
Mas, se qualquer um se arvora
Em juiz sobre vida e morte,
Quando somente Tao é juiz,
Esse se parece com alguém que,
Em vez de um perito
Que sabe usar o machado,
Usa-o e corta a mão.

Outro trecho que defende o princípio da não violência no Laozi

Porque o Povo se revolta
O povo sofre,
Quando é explorado pelos chefes.
O povo se queixa,
Quando os chefes não o deixam em paz.
E por isso se revolta
O povo nem teme a morte,
Quando os chefes se arrogam
O direito sobre a vida.
E isto nasce do fastio da existência.
Mais sábio é
Quem não se apega à vida
Do que aquele
Que se apega.

Mais um verso que alia a questão da lei natural e do retorno com o princípio original que nesta lei não há a natureza agressiva no homem.

Lei da Compensação.
A atuação de Tao é como um arco:
Desarma os poderosos
E arma os humildes.
Diminui onde há demais,
E aumenta onde há de menos.
Assim é a atuação do Tao:
Tira da plenitude,
E enche a vacuidade.
Não é assim que os homens agem:
Diminuem onde já há pouco,
E acrescentam onde já há muito
Quem está baseado no céu de Tao,
Oferece aos outros da sua plenitude.
Por isto age o sábio:
Sem nada pretender para si,
Sem se apegar à sua obra.
Sem nada querer ser, Sem nada querer ter.
Mais um paradoxo do Tao em defender os princípios sensíveis e femininos da natureza humana se faz presente neste trecho do Laozi.

Passividade Dinâmica.
Nada há no mundo
Que tanto se adapte ao solo,
Nada há mais frágil
Do que a água.
E também nada há mais forte
Que derrote o mais duro,
Do que a água,
Incomparável e invencível.
Todos sabem que o fraco derrota o forte,
E que o mole vence o duro,
Mas ninguém o pratica na vida.
Somente o sábio aceita a verdade,
Quem, nos labores agrícolas,
Suporta as imundícies da terra,
Esse é o senhor da colheita.
Quem toma sobre si as culpas
E os sofrimentos dos pais,
Esse é o verdadeiro patriota,
Verdades ingratas são estas.
Aqui é usada a metáfora da água para ressaltar a lei do não agir do Laozi.
A Felicidade pela vida Simples
Que um país seja pequeno
E de escassa população — Que importa!
E se suas forças armadas
Fossem de apenas 10 ou 100 homens,
Que nem usassem suas armas — Deixemos seus habitantes viver em paz,
E cultivar seu torrão de terra!
E, se não usassem seus navios,
Nem os seus carros de batalha,
Nem suas armaduras —
Deixem o-los voltar às tradições paternas!
Estão contentes com seus alimentos
E felizes com seus trajes,
Acham lindas as suas moradias,
E bons os seus usos e costumes;
E se tão próximos deles fossem os vizinhos
Que se ouvissem o canto dos galos e o latir dos cães,
De lá para cá e de cá para lá — Deixemo-los viver em paz!
Envelhecer contentes
Morrer tranqüilos..
Mas não os privemos da sua liberdade.
Mais uma vez dá pra fazer aqui uma comparação com os estágios da evolução social da obra de Rousseau e o processo de corrupção dos homens das Luzes.
Rousseau defendia que o segundo estágio de evolução humano , que era o período do início da socialização das sociedades tradicionais foi o auge da humanidade . Neste período o homem ainda não tinha transformado o amor de si ( sentido de auto preservação ) em amor próprio ( exaltação da própria personalidade ) e todos viviam felizes.
Este momento glorioso da Humanidade antes que as luzes corrompessem os homens é algo que igualmente encontramos nesta descrição do Laozi.
Há muita semelhança entre a lei natural proposta por Laozi e o Estado de Natureza do Homem em Rousseau.

A proposta do Tao-te-King na Educação.


Para entender a proposta educativa do TAO é bom se ater ao que fala o segundo poema do Tao-Te-King, "Síntese das Antíteses"

"Só temos consciência do belo,
Quando conhecemos o feio,
Só temos consciência do bom,
Quando conhecemos o mau.
Portanto o Ser e o Existir,
Engendram-se mutuamente.
O fácil e o difícil se completam.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo.
O som e o silêncio formam a harmonia.
O passado e o futuro geram o tempo.
Eis por que o sábio age
Pelo não agir "

Nestes trechos o Tao propõe o equilíbrio entre opostos como sendo a lei natural do Universo, o que se materializa no símbolo do TEI-GI, mais conhecido como Ying e Yang. Neste aspecto, se faz importante, segundo a proposta do Tao (se o voltarmos para a cultura e educação) o respeito pela diversidade e pela igualdade como sendo um fator natural do equilíbrio universal como afirma o poema 39 do Tao te King quando diz:
Toda a Diversidade se Baseia na Unidade.
"Toda pluralidade radica na unidade,
E esses dois são um em si.
O céu é puro porque é Uno
A terra é firme por que é Uma. (...)
Tudo o que é poderoso assim é,
Por que é unidade.
Tudo o que é vivo assim é
Graças à sua unidade"

Sendo dessa forma, podemos considerar que segundo o Tao, as diversas culturas existentes no mundo devem ser respeitadas em igual espaço como integrantes de um todo cultural. Afirma se dessa forma, utilizando o símbolo do Ying Yang e da harmonia das culturas opostas que, segundo o Tao a cultura Mundial é híbrida, pois deve ser a síntese harmônica de todas as culturas se interpenetrando assim como vemos no Tei-Gi e não o que vemos hoje que é uma cultura dominante, que é a cultura do consumo, se sobrepondo sobre as outras como se fosse universal e única, menosprezando assim o estudo de culturas tradicionais ou não, dos diversos povos do globo que deveriam formar este hibridismo cultural e harmonia entre culturas opostas formando o que se deveria conhecer como cultura geral.
Quando uma cultura, como a de consumo que vivemos em nossos dias, se impõe sobre as outras como universal de forma a menosprezar a validade das outras culturas, não as inserindo em um conjunto, é o que podemos chamar de violência simbólica.
Hoje vivemos a violência simbólica cultural em nosso processo de globalização, que ao invés de fortalecer e Unidade na diversidade, a cultura do consumo tem imposto às culturas tradicionais suas leis, desrespeitando desde a autoridade destas tradições culturais e vindo até mesmo a se refletir no Meio Ambiente, imergindo-nos em um mundo de uma pós modernidade incerta devido à esta violência simbólica cultural.

Importante ressaltar que além do respeito à diversidade, o Tao nos incita a processos educativos não violentos, o que se mostra claramente nos poemas 29 e 30 do Tao-Te-King quando afirmam:

"Revela a experiência que o mundo
Não pode ser plasmado à força.
O mundo é uma entidade espiritual,
Que se plasma por suas próprias leis,
Decretar ordem por violência
È criar desordem.
Querer consolidar o mundo à força
É destruí-lo, (...)
Por isto, ao sábio não interessa a força,
Não se arvora em Dominador,
Não usa a violência. "
"O Chefe de Estado que obedece ao Tao
Não tenta dominar com violência,
Por que toda a violência
Recai sobre o próprio violento. (...)
Guerras geram angústias e miséria.
Por isso o sábio vive sem armas
Não obriga ninguém com violência,
(...) faz o que deve fazer
Mas em forçar ninguém.
Ele conhece o ritmo da evolução,
Sabe que tudo falha
Quando contradiz as leis da vida,
Porque todas as ilusões, depressa se dissipam"

Para concluir, pode se dizer que os dois principais que o Tao nos traz para a educação moderna é o respeito à diversidade ( encontrar unidade na diversidade ) e a não violência que vão contra o que o atual processo de mundialização vêm nos trazendo atualmente na cultura de consumo .
Para ir contra esse fluxo destrutivo atual, o Tao nos sugere, como educadores, que adotemos uma posição não violenta em relação aos educandos, mesmo que a sutil violência simbólica e que para tal, juntando se ao outro pilar do Tao, desenvolvamos sempre nossos trabalhos em uma perspectiva multicultural para que encontremos no final o que ele afirma como Unidade na diversidade que nada mais é que uma formação cultural híbrida que garanta o respeito às diferenças.
Interessante também é ressaltar o conceito de Cultura Genuína segundo o Tao, presente, que nada mais é do que um mandamento para a educação para a Paz, como podemos verificar no poema 27 do Tao-Te-King que nos incita virtudes como a firmeza de propósitos e à solidariedade, quando afirma:

"Quem anda direito não deixa rastro,
Quem fala bem não diz desacertos.
Quem calcula bem não usa lembretes.
Quem fecha bem dispensa fechaduras e ferrolhos
E, contudo, ninguém o pode abrir.
Quem amarra bem não usa corda nem barbante,
E, contudo, ninguém pode desatar.
Assim, o sábio, em sua madureza,
Sabe sempre ajudar os homens.
Para ele ninguém está perdido.
Sabe aperfeiçoar tudo que existe,
E não vê mal em ser algum.
É este o duplo segredo
De toda realização do homem:
O homem plenamente realizado
Ajuda sempre ao menos realizado.
O homem mais culto
Ajuda sempre ao menos culto.
Pelo que, o homem, trata com reverência
Ao homem mais maduro que tu.
E envolve em sincero amor
Aquele que necessita de ti.
Quem não age assim
Ignora a cultura genuína.
Vai nisto um grande segredo."



PROPOSTA DE JOGO DIDÁTICO PEDAGÓGICO

JOGO – O YING E O YANG, O TEI-GI

Segundo o Taoísmo e como pudemos ver nos trechos do Tao- Te -King acima, todo universo se baseia em uma harmonia entre opostos que se interpenetram. Isto é simbolizado pelo símbolo do Tei-Gi, também conhecido como o Ying e Yang que devem se harmonizar para que o universo permaneça em estabilidade.
Segundo o Taoísmo os elementos e tudo na natureza ou tem uma natureza Ying (negativa) ou Yang (positiva).

A idéia do jogo didático pedagógico é fazer vários tabuleiros com o símbolo do Tei Gi e distribuí-los aos integrantes dos grupos juntamente com papeis nos quais estão escritos elementos de natureza Ying e Yang e a idéia é que em grupos separem o que é Ying e o que é Yang no tabuleiro, quem acertar mais ganha o jogo e quem errar mais vai ter que formar com as sílabas das palavras que colocaram no lugar errado, outras palavras, segundo o método de alfabetização da palavra chave de Paulo Freire pra tentar recuperar os pontos perdidos.
Ganha quem acertar mais e formar mais palavras.


BUDISMO.
Educação Budista


Não podemos negar a importância da educação Budista no Mundo, pois grande parte do Oriente fundamentou e fundamenta seus Estados a partir do Budismo. Isto pode até mesmo parecer uma contradição e se tratando do Budismo, pois ao contrário do Islã, que é uma religião de cunho legalista, o Budismo, sobretudo o Budismo Hinayana exalta a ação individual no sentido do ascesce espiritual.

Contudo o Budismo, segundo as Suttas do Dhammapadda, um dos principais cânones do budismo, delineia Caminhos, pré requisitos e práticas morais dentro do convívio humano no processo de desenvolvimento espiritual.
Países como a Tailândia, Vietnã e outros países do Sudeste Asiático assim como Sri Lanka e Japão adotaram ou adotam conceitos budistas na consolidação de suas instituições. Isto faz com que, neste módulo, estes conceitos educativos e morais mereçam nossa atenção no âmbito de estudar a diversidade cultural desta parte do mundo, que vem crescendo e se tornando cada vez mais importante no cenário mundial.
Na Tailândia, por exemplo, a devoção ao imperador, fundamenta se nos conceitos do Budismo e é muito comum que os jovens tailandeses passem, ainda nos dias atuais, pelo menos um ano no processo de sua educação em um monastério budista.
Atendo se mais aos códigos desta religião, tida por muitos estudiosos como filosofia. O budismo não sustenta em seus cânones, nenhuma figura de poder Divino que pudesse vir a sustentar a autoridade de um Chefe de Estado, como acontece ou aconteceu nas religiões ocidentais sejam elas semitas ou cristãs. É justamente esse fato que faz com que pareça contraditório, para nós ocidentais, que um governo se mantenha a partir desta religião ou filosofia.
Contudo, como dito anteriormente, o budismo, em sua mística ou filosofia, apesar de não ter uma figura de poder central, sugere comportamentos, assim como práticas de cunho moral necessárias para o desenvolvimento espiritual dos indivíduos. É nos códigos que se delineiam a partir destas práticas que formaram se nestes Estados budistas diversas instituições que inclusive serviam de base de sustentação para estes Estados. Contudo não havia nestes conceitos budistas, um caráter legalista punitivo como nas religiões semitas e cristãs, mas sim uma sugestão de comportamentos adequados ou não adequados à ordem do social.
È importante lembrar que toda uma civilização se formou e ainda é influenciada por esta filosofia ou religião e inclusive a Índia, terra natal do budismo, já foi budista na época do rei Azoa. Neste período enfraqueceu se o sistema de castas até que o mito de Buda fosse adaptado ao hinduísmo e a velha ordem das sociedades bramânicas retomasse o poder e restabelecesse a religião e conseqüentemente a ordem antiga.
Para entender melhor como funcionam estas regras de conduta, é preciso entender brevemente como funciona budismo.
Segundo o exemplo de Buda o homem deve buscar a iluminação, e não as glórias deste mundo, que tanto segundo o budismo e o hinduísmo é ilusão.
O objetivo dos homens é superar este mundo atingindo o Nirvana. Contudo o Nirvana, que é o Estado para onde vão os homens iluminados não é descritível neste mundo.
De qualquer forma, não são todos os que estão preparados para atingir nesta vida a iluminação, pois o budismo acredita em reencarnação. Contudo quando decidido e preparado o homem deve seguir o ascesce, ou seja, o caminho para a iluminação que é o caminho dos monges budistas.
De outro lado o budismo afirma que todo homem, de acordo com as atitudes de suas vidas pregressas, tem um dever que é nomeado em língua sânscrita de Dharma.
O homem deve, tanto no budismo quanto no hinduísmo seguir o seu dever e não perdê-lo jamais de vista, para um dia chegar ao ascesce.
No objetivo de cumprir com esse dever, existem regras morais a serem seguidas. Regras que garantam que o homem se mantenha ligado ao mundano e ao espiritual a fim de agindo neste mundo cumprir seu Dever e um dia chegar ao ascesce. Este é o caminho do homem em sociedade.
Por aliar conceitos de condutas social e espiritual este caminho é denominado o "Caminho do Meio".
Para seguir este Caminho do Meio é necessário seguir outro caminho moral que muito nos interessa como objeto de estudo, enquanto educadores que é o Nobre Caminho Óctuplo. Também é necessário seguir três práticas ligadas ao caminho óctuplo e abrir a personalidade para seis pré requisitos chamados Paaramitas.
O NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO, AS TRÊS PRÁTICAS E OS SEIS PRÉ REQUISITOS MORAIS BUDISTAS NA EDUCAÇÃO.
Em suma, o caminho óctuplo se baseia como o nome diz em oito atitudes morais ou mentais que adaptaremos á realidade da educação.
1 - Visão Correta – É importante na educação que o mestre comece por jamais distorcer uma visão para defender o que lhe apraz. O verdadeiro mestre deve antes de tudo ter uma visão isenta.
2- Pensamento Correto – É dever do mestre não trazer outros pensamentos ao assunto tratado desde que não sejam correlatos ao assunto tratado.
3- Palavra Correta- O mestre deve procurar utilizar a palavra correta que defina de melhor forma o que se quer apresentar, sem excesso de verbosidade ou palavras de caráter degenerativo.
4- Ação Correta- As ações do mestre devem ser coerentes com o que ele ensina.
5- Meio de Vida Correto – Mesmo vivendo em meio à criminalidade ou em meios onde as virtudes morais são duvidosas o mestre deve se mantiver se em um correto meio de vida. Honestidade.
6 – Esforço Correto – Toda e qualquer energia deve ser bem empregada, evitando se esforços inúteis. Ou atitudes do mestre em relação ao s discípulos enquanto estes não estiverem preparados.
7- Intenção Correta- Deve se evitar mascarar as intenções de um ato educativo e mostrá-lo de forma bem clara e honesta aos discípulos
8 – Concentração Correta- Não deve se deixar com que os discípulos se percam do objetivo central do que busquem no processo educativo.
As três práticas
Sabedoria – que está na Visão, pensamento e Esforço Corretos
Preceitos- (Moralidade) – que se reflete na Palavra, Ação, meio de vida e esforço corretos
Concentração – que se reflete na Intenção e Concentração Corretas.

Os seis pré requisitos
Desapego – Necessário para o desenvolvimento das práticas da Moralidade
Moralidade e Honestidade - Necessárias para a prática dos preceitos Morais
Paciência – Necessária para o desenvolvimento da prática da Moralidade
Esforço – Necessário para as três práticas, (sabedoria, Preceitos e Concentração)
Inclinação para a Concentração- Necessária para a prática da concentração.
Sabedoria- Necessária pára o desenvolvimento da sabedoria como prática e para a concentração.

Dessa forma todos esses preceitos se fazem necessários no processo da educação dentro do Budismo.
Nada nos impede que nos influenciemos por eles em nossos processos educativos no ocidente.
JOGO DIDÁTICO PEDAGÓGICO CAMINHO DO MEIO CAMINHO ÓCTUPLO
A idéia desse jogo é fazer com que os alunos façam relações com os elementos constituintes da educação Budista que é a correta conduta no Caminho do Meio.
Por isso se faz um quadro com o Nobre caminho óctuplo, as três práticas e os seis pré requisitos e pede se que os integrantes ou os grupos façam as relações de ligação entre os três elementos, cada acerto vale um ponto.
Para recuperar pontos perdidos, os grupos que erraram nas relações transformam a palavra errada em palavra chave segundo o método de alfabetização de Paulo Freire e formam outras palavras a partir delas.
Ganha quem tiver mais pontos
Modo de Produção Budista, Confucionista , Marxista e diálogo entre China e Tibet.
O Budismo desde os primórdios de sua propagação na China encontrou resistências. O ascetismo budista e a vida dos monges que abandonavam a família chocavam-se com o conceito de xiao (ou piedade e obediência filial) que estruturava a sociedade chinesa a partir de suas bases confucionistas.
O abandonar a família para uma vida monástica para o ascetismo conflitava com as bases sociais a partir das quais se organizavam as sociedades chinesas baseadas na ordem familiar confucionista que equilibrava esta sociedade em seus meios de produção desde o início.
No século XX com o advento do Marxismo na China Continental isto se agrava ainda mais pois, nas relações de produção ideais para o Estado Chinês baseadas no Marxismo a vida monástica confrontava-se diretamente, o que se alia com o choque entre o pensamento marxista e a metafísica budista.
Comparando com as demais linhas filosóficas predominantes na China aqui estudadas, o Budismo é o que mais conflita com o marxismo chinês uma vez que o Confucionismo se estrutura na hierarquia familiar assim como se distancia de ideais metafísicos, e se centra em regras de conduta de convívio Humano.
O senso do Humano do Confucionismo levando em conta sua capacidade de se adaptar vai de encontro com os ideais da busca da Utopia Marxista, assim como o delineamento de sua organização social também vai de encontro com o modo de produção da economia marxista chinesa.
De qualquer forma apesar de sua estrutura metafísica e de ordem social, o budismo (tibetano e em suas outras formas) também podem ir de encontro com os ideais do modo de produção modelos da China Moderna.
O conceito de dever presente no conceito de Dharma budista assim como a disciplina que se delineia em seu caminho óctuplo podem se estruturar de forma a atender este modo de produção da China Moderna e inclusive de forma a dialogarem com o modo de produção atual na China Moderna.
Tendo-se em conta que o conflito entre China e Tibete se dá basicamente devido a esta questão dos choques entre estruturas sociais ideais e seus modos de produção, o diálogo de convívio e reconciliação independente da situação política administrativa deve começar justamente por estas questões dos diálogos entre suas estruturas sociais e alinhamento de modos de produção.
Uma vez alinhadas estas questões centrais geradoras do conflito inicial, a autonomia cultural e mesmo administrativa dentro de uma união econômica pode ocorrer seja pelo processo policultural, seja pelo processo intercultural.
A tendência para um diálogo sobre os modos de produção, estruturas sociais e modelos econômicos a fim de alinhar e se reunir em parti-la de características econômicas antes que culturais contribuirão no diálogo real no sentido de auto-afirmação cultural e identitária de regiões como o Tibete, Sikiang assim como outras regiões dentro da atual China Continental sem que por isso se criem os conflitos atuais.



















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