O tempo é real? (Unifra, 2015)

June 24, 2017 | Autor: C. Schirmer dos S... | Categoria: Metafísica, Tempo
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O tempo é real?

Negar a realidade do tempo requer tempo.

huà xué

O que torna verdadeiras nossas expressões do tempo?

Realidade e aparência.

Cores. Qualidades, primárias e secundárias.

Beleza. No mundo das Formas? Nos olhos de quem vê?

Moral. “Fatos morais,” façons de parler. Montaigne e os canibais.

Números. Não ocupam espaço, nem tempo. Não são meras ficções.

– Se não existem números, então há zero números. – Mas, peraí, zero é um número! – Pensando bem, então existem números. – Ou ao menos o número zero. – Se existe o zero, então há um número! Logo, o número um também existe. – Então há ao menos dois números, o zero e o um. – Mas então o dois também existe! – Recontagem: há o número zero, há o número um, há o número dois… – Então há também o três! – Quando vamos jantar? Acho que essa contagem não terminará tão cedo…

John McTaggart.

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Série-A Há diferenças metafísicas entre os eventos passados, presentes e futuros. A mudança é analisável segundo as noções de passado, presente e futuro.

Série-B Todos os eventos são igualmente reais. A mudança é analisável segundo as noções de anterioridade, simultaneidade e posterioridade.

A série-B é temporal, pois é constituída pelas relações de anterioridade e de posterioridade. No entanto, a série-B não é suficiente para constituir o tempo, pois é uma série imutável, e tempo requer mudança.

Assim, outra série, dinâmica, tem que constituir o tempo, e esta outra série é a série-A, constituída pelas propriedades da passadidade, presentidade e futuridade.

(Esse argumento encontrará grande resistência da parte dos filósofos quadridimensionalistas/eternistas, os quais não veem o dinamismo como um aspecto fundamental do tempo.)

O paradoxo de McTaggart Se o tempo é real, então cada evento é passado, presente e futuro. No entanto, nenhum evento pode ser passado, presente e futuro. Logo, por modus tollens, o tempo não é real.

Um evento presente é presente no presente. Um evento presente é presente no presente no presente. Um evento presente é presente no presente no presente no presente.

Duas saídas.

Saída 1. Negar a mudança.

Objetos 3D. A cada momento, absolutamente constituídos por uma altura, uma largura, uma profundidade.

Objetos 4D. A cada fase ou parte temporal, uma altura, uma largura e uma profundidade relativa.

Eternismo. Versão substantivalista (Newton): os momentos do tempo repousam na coisa eterna que é o tempo. (Seria hipálage atribuir ao tempo o movimento. As coisas mutáveis mudam, o tempo não.) Versão relacionalista (Leibniz): o tempo é um fenômeno constituído pelas relações causais entre as coisas.

Saída 2. Dinamismo com algo a menos.

Três tipos de dinamismo. (Logo, três maneiras de abrir mão de alguma coisa.)

1. Presentismo. O passado e o futuro não existem. Logo, não há paradoxo.

2. Universo em crescimento. A cada momento vem a ser novos eventos que não deixam de fazer parte da realidade quando se tornam passados. (Sobra o suficiente para ½ paradoxo.)

3. Presente em movimento. Há mais coisas do que existem. (Meinong, McX e o sr. Y estavam certos.)

Em suma A metafísica do tempo é um exemplo nobre de oportunidade para exercer a tolerância ontológica. Que novas propostas surjam. Quanto mais teorias houver, mais chances temos de compreender. Você está convidado a participar desse banquete. Adote uma posição a partir de boas razões, e divirta-se fazendo filosofia.

Isto aqui é o esquemão de César S. dos Santos para sua fala no VII Seminário da Filosofia e Demais Saberes, na Unifra, em Santa Maria, RS, Brasil, no dia 23 de outubro de 2015. O autor agradece a Mitieli Seixas da Silva pelo convite. Você pode entrar em contato com o autor pelo email [email protected]. Estes slides estão disponíveis em ufsm.academia.edu/CesarSchirmerDosSantos

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