FÓRUM PESQUISAS CIES GÉNERO, CIDADANIA E POLÍTICAS DE IGUALDADE
O tráfico de pessoas é um problema de violência de género? Reflexões a partir de uma experiência de investigação empírica
Mara Clemente 16 de dezembro de 2016
ISCTE-IUL
Mara Clemente
O tráfico de pessoas é um problema de violência de género? Reflexões a partir de uma experiência de investigação empírica
Violência de género e tráfico de pessoas: contribuições e limitações Enquanto movimento, a violência contra as mulheres: • promoveu uma consciência e uma responsabilidade políticas sobre o problema do tráfico de seres humanos; • chama a atenção sobre a vitimização secundária e a re-traumatização das pessoas traficadas (Campbell, 1998; Campbell, Wasco, Ahrens, Sefl, Barnes, 2001).
Mara Clemente
O tráfico de pessoas é um problema de violência de género? Reflexões a partir de uma experiência de investigação empírica
Na experiência portuguesa “Às vezes nesse processo de colaboração com a polícia há uma revitimização. A re-vitimização tem a ver com a mulher passar… a pessoa já passou por uma situação de sofrimento, de grande sofrimento enquanto, enquanto traficada, e depois passa por uma situação de sofrimento por ser vítima de tráfico. O tempo para conseguir a autorização de residência… é um processo muito complicado, muito moroso. Muitas vezes elas têm que se articular com o país de origem, têm que enviar o dinheiro para tentar conseguir um documento, depois o documento não está bem. Nós tivemos casos reais de mulheres cuja família foi agredida, casos de pessoas que morreram mesmo, familiares, casos de pessoas que foram espancadas e que foram parar ao hospital… familiares, nos países de origem”. (ONG_01)
Mara Clemente
O tráfico de pessoas é um problema de violência de género? Reflexões a partir de uma experiência de investigação empírica
Violência de género e tráfico de pessoas: contribuições e limitações • Ênfase na opressão patriarcal das mulheres pelos homens em detrimento de uma análise estrutural e interseccional: importância de ter em conta a violência perpetrada por atores non-gendered (ex. os Estados) e outros fatores como etnicidade e classe. • Exclusão de homens e pessoas transgénero do debate, das estimativas e das próprias organizações. • Ideia das mulheres como atores vulneráveis e sem agency.
Mara Clemente
O tráfico de pessoas é um problema de violência de género? Reflexões a partir de uma experiência de investigação empírica
Na experiência portuguesa “A nossas mulheres passaram por muitos traumas. O conhecimento transmitimo-lo nós e estamos aqui disponíveis, tanto é que estou aqui consigo neste momento, mas disponibilizar as nossa vítimas e os testemunhos das mulheres nós nunca fizemos”.
(ONG_07) “A vítima de exploração sexual é diferente porque, para uma mulher ser rentável, deve ter certas competências físicas e relacionais para a gestão dos clientes. No caso da exploração do trabalho a vítima também pode apresentar uma diminuição cognitiva. No caso da exploração sexual, a vida ensinou-as a sobreviver e a ser espertas e elas não querem ser vítimas. Talvez elas venham com outros pressupostos. Elas precisam de dinheiro, vêm para melhorar as suas vidas, elas não querem ficar em Portugal sem trabalhar, à espera de um julgamento. São pessoas com propensão para outro tipo de trabalho, diferente das profissões normais”.
(OPC_03)
Mara Clemente
O tráfico de pessoas é um problema de violência de género? Reflexões a partir de uma experiência de investigação empírica
O tráfico de pessoas é um problema de violência de género? A violência de género, enquanto quadro de referência conceptual, foi estrategicamente importante, também em Portugal, no processo de amadurecimento de uma consciência política e na adaptação do país às políticas internacionais sobre o tráfico de seres humanos. O quadro de referência das migrações e não apenas o da violência de género poderia contribuir para uma melhor descrição das histórias dos migrantes traficados, para a formulação de melhores políticas e estratégias de assistência. Para a sua presença nas estimativas e na pesquisa.
Mara Clemente
[email protected]
