O tubarão de 12 mil pixels - A influência do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão
Descrição do Produto
O tubarão de 12 mil pixels A influência do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão
Isabel Vieira Lopes
Escola Superior de Propaganda e Marketing Publicidade e Propanganda 2015/2
LOPES, Isabel Vieira. O tubarão de 12 mil pixels: a influência do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão. São Paulo: Escola Superior de Propaganda e Marketing, 2015, 79 páginas
RESUMO Este trabalho tem por objeto de estudo as casas leiloeiras que comercializam obras de arte pela internet. A questão que norteará a discussão é: qual é a a influência do surgimento da internet no processo de compra de obras de arte por leilão para os consumidores? Com o objetivo de responder essa problemática, esse estudo se utilizará de uma pesquisa bibliográfica com um referencial teórico formado por Lipovetsky (2007 e 2015), Barbosa (2004) e Benjamin (2012) para entender a evolução da sociedade de consumo e o consumo estético na contemporaneidade, e Thompson (2010 e 2012), BenhamouHuet (2008) e Lamour (2014) para compreender como funcionam os mercados de arte físico e online, principalmente os leilões pela internet. Ainda, foi realizada uma pesquisa quantitativa e entrevistas com cinco consumidores e um questionário quantitativo com trinta indivíduos que compram arte em leilões online o consumo de arte, buscando extrair informações sobre os pontos levantados durante o projeto para possibilitar uma conclusão consistente sobre o assunto deste estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Consumo; mercado de arte; plataformas digitais; sociedade contemporânea.
Lista://de figuras/ Figura 01 – Evolução de preço do merccado global de Fine Art Figura 02 – Leilão Paddle8
7 30
Lista://de tabelas/ Tabela 01 – Diferenças entre os leilões online e offline
32
Tabela 02 – Aspectos da compra de obras de arte online
41
Lista://de gráficos/ Gráfico 01 – Motivações para a compra de arte
37
Gráfico 02 - Preferência por experiência de compra
40
Gráfico 03 - Vantagens da compra de obra de arte pela internet
42
Gráfico 04 - Desvantagens da compra de obra de arte pela internet
43
Gráfico 05 - Impactos do surgimento da internet na compra
46
12-21
6-11 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7
O PROJETO
2
Contextualização Objeto de estudo Problema Objetivos Objetivos específicos Metodologia Referencial teórico
2.1 2.2
48-51 5
FIM DE LEILÃO: AS CONSIDERAÇÕES FINAIS
2.3 2.5
34-47
22-33
COMO O CONSUMO CHEGOU ONDE ESTAMOS Introdução ao capítulo Senta que lá vem história: a evolução do consumo O consumo estético de hoje Síntese do capítulo
3
VAMOS COMPRAR ARTE!
4
3.1 3.2 3.3 3.3 3.5
Introdução ao capítulo Organizando o mercado As casas leiloeiras O leilão em pixels Síntese do capítulo
4.1 4.2 4.3 4.3.1 4.3.2 4.4.
OKEI, A INTERNET CHEGOU, MAS O QUE MUDOU?
Introdução ao capítulo Metodologia de pesquisa Análise dos resultados O consumo de arte A compra de arte pela internet Síntese do capítulo
74-79
52-73 6 ANEXOS 6.1 Questionário guia de entrevista em profundidade 6.2 Questionário quantitativo 6.3 Questionário dos respondentes 6.3.1 Entrevistado 01 – Fábio 6.3.2 Entrevistado 02 – João 6.3.3 Entrevistado 03 – Bruno 6.3.4 Entrevistado 04 – Adriano 6.3.5 Entrevistado 05 – Maurício 6.4 Resultado dos questionários quantitativos
7
BIBLIOGRAFIA
7.1 Livros 7.2 Artigos
Ao orientador e colega Caio Marchi, pelo rigor e companheirismo A todos os professores, que me ensinaram a raciocinar e refletir o universo, e que me inspiram a seguir a belíssima carreira acadêmica Aos colegas e amigos, por darem leveza à vida
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7
Contextualização Objeto de estudo Problema Objetivos Objetivos específicos Metodologia Referencial teórico
Introdução
7
1.
INTRODUÇÃO
Neste sentido, foi com o início dos questionamentos sobre a Igreja que os artistas gradualmente foram se separando
1.1
Contextualização
dela e um incipiente mercado começava a se formar a partir do século XV, quando surgiram os primeiros leilões sob o
É válido para o início deste projeto explicar a relevância
controle do Estado, principalmente na França e depois na
do estudo do mercado de arte. Isto porque, conforme aponta
Holanda, e quando as obras de arte eram adquiridas também
Severino, “inicia-se o projeto com uma apresentação onde
por meio de agentes e negociantes. Estes leilões cresceram
se exporá sinteticamente [...] qual foi a gênese do problema”
rapidamente ao redor da Europa, principalmente após o
(SEVERINO, 2007.p.130). Deste modo, em um primeiro
surgimento das duas maiores casas leiloeiras da época e até os
momento falaremos sobre o mercado da arte e, em seguida,
dias de hoje: Sotheby’s em 1744 e Christie’s em 1766, ambas
falaremos sobre as vendas online deste setor.
em Londres (BOLL, 2011).
Explicar a importância do estudo do mercado da arte significa entender a sua história. Isto porque sempre houve
FIGURA 01 – Evolução de preço do mercado global de
um mercado para a arte, desde a venda de imagens de deuses
Fine art (1761-2004)
para a Grécia Antiga até os dias de hoje (BOLL, 2011). Nesta época mais antiga, a arte não era uma propriedade privada e sim uma ferramenta dos deuses, que se manifestavam sob a forma de templos, esculturas e altares. Mesmo com esta importância religiosa, no entanto, já haviam alguns poucos colecionadores políticos, como reis egípcios. Este cenário, de acordo com o autor, começou a mudar apenas após a ascensão de Roma ao poder, quando na era imperial era importante que todo indivíduo educado e rico tivesse uma coleção de arte em casa. Essa produção somente acelerou com a queda do 1 Original: “[...] the production of art was so heavily influenced by the Church that it would be difficult to say that there was an art market” (BOLL, 2011, p.14)
império romano e a ascensão da Igreja no poder, mas ainda sim nesta época a “[...] produção artística era tão influenciada por ela que era difícil dizer que havia um mercado mercado de arte”1 (BOLL, 2011, p.14).
Fonte: BERNHARD apud RESCH, 2011
Introdução
8
O restante da evolução do mercado da arte pode ser
as vendas online de arte em 2013 chegaram a somar €2.5
melhor observado com o gráfico da figura 01, proposto pelo
bilhões, com uma estimativa de que até 2020 este mercado
pesquisador Bernhard e focado no estudo de Fine Art, isto
possa somar até €10 bilhões (TEFAF, 2014).
é, toda a arte feita unicamente pelo seu valor estético e sem
Neste sentido, notando o potencial crescimento
utilidade prática. O gráfico é dividido em quatro períodos,
da venda de arte online, é válido evidenciarmos algumas
dos quais o primeiro se estabelece entre 1761 e 1840, onde
vantagens da sua venda, que de acordo com uma pesquisa
o movimento de expansão do mercado é lateral por conta da
do instituto Hiscox (2004), são a possibilidade encontrar
forte influência do Estado e da Igreja (RESCH, 2011), que
novas obras com mais facilidade, a diversidade de material
manteve o volume de obras estável.
encontrado online e o ambiente menos intimidador para
De acordo com o autor, este cenário passa a mudar
compra, já que podendo encontrar o que precisam com
de 1840 até a Primeira Guerra Mundial, quando houve um
facilidade e sem se sentirem intimidados com o ambiente das
aumento do valor de arte através da ascensão da classe média,
galerias, 65% dos compradores de arte acabam se declarando
que começou a se interessar pela coleção artística. Neste
extremamente satisfeitos com suas compras e 45% dos que
momento começavam a surgir no mercado um maior número
ainda não fizeram uma compra online disseram que no futuro
de colecionadores e negociantes, interessados na compra e
o fariam (HISCOX, 2014).
venda de obras de arte.
Assim, considerando todos os dados anteriormente
Essa ascensão, no entanto, sofreu uma queda entre
citados e analisados, é possível reconhecer a crescente
1840 e a Segunda Guerra Mundial, devido aos resultados da
importância do mercado da arte na economia global,
Primeira Guerra Mundial, à inflação e às crises econômicas
destacando uma grande oportunidade para o mercado online,
que surgiram dela e abalaram a economia. Este período de
cujas vendas e reputação estão aumentando cada vez mais.
queda do mercado se encerra em 1950 e a partir de então o
É inegável que, na busca pelo melhor modelo de negócio, e
mercado volta gradualmente a crescer, com a globalização e
considerando o grande alcance e influência que o digital tem
com o reaquecimento da economia, ascensão que permanece
na vida das pessoas, as galerias vão continuar explorando as
constante até os dias de hoje.
plataformas digitais, tornando o mercado online um pertinente
Estas vendas vieram majoritariamente dos leilões de arte, que em 2013 já representavam 47% do mercado, impulsionados por uma alta dos preços e pelo desenvolvimento do mercado chinês (TEFAF, 2014). Nesse mesmo ano,
tema de análise e estudo.
Introdução
9
1.2
Objeto de estudo
conhecimento sobre esta esfera percebida pelo público leigo como de alta complexidade. Afim de compreender
Conforme
sugere
Severino,
procura-se
neste
como a esfera digital influencia um mercado originalmente
momento “[...] delimitar, circunscrever o tema-problema”
tão tradicional, nos questionamos qual é a influência do
(SEVERINO, 2007, p.130). O objeto de estudo deste
surgimento da internet no processo de compra de obras de
projeto é o leilão de arte online, a principal forma de venda
arte por leilão para os consumidores?
de arte (em questão de rentabilidade e reputação) até hoje. Unindo um potencial grupo de compradores em um mesmo
1.3
Objetivo geral
tempo e espaço, os leilões são eventos responsáveis pelos repetidos recordes de preço alcançados neste mercado. As
A delimitação dos objetivos de pesquisa é importante
principais casas leiloeiras, de acordo com Boll (2011), são
para demonstrar quais são “[...] os resultados que precisam
a Christie’s e a Sotheby’s, líderes de mercado responsáveis
ser alcançados para que se construa toda a demonstração”
por dois terços das obras vendidas em todo o mundo. Ambas
(SEVERINO, 2007, p.130), entendendo por demonstração
possuem plataformas de vendas de leilão online, e junto a
o problema anteriormente definido. O principal objetivo de
outras casas exclusivamente online, como a Paddle8 e a
pesquisa, nesse sentido, é analisar qual é a a influência do
The Auction Room, suas vendas estão projetadas a chegar
surgimento da internet no processo de compra de obras de
em €10 bilhões até 2020.
arte por leilão para os consumidores.
1.2
Problema
1.4
Objetivos específicos
Conforme sugere Severino, este tópico é fundamental
Após a definição do objetivo principal da pesquisa,
para expor de maneira técnica e objetiva como o tema
torna-se importante definir os “[...] objetivos intrínsecos da
está problematizado, de modo a obter “[...] uma ideia
pesquisa, pertinentes ao tema e vinculados ao desenvolvimento
muito clara do problema a ser resolvido” (SEVERINO,
do raciocínio” (SEVERINO, 2007, p.131). São eles:
2007, p.131). Apesar do mercado da arte à primeira vista parecer rigorosamente tradicional, podemos perceber que ele vem se abrindo gradualmente para o meio online, não só em termos de vendas como também de propagação do
1. Entender a evolução da sociedade de consumo e o consumo estético na contemporaneidade 2. Compreender como funcionam os mercados de arte
Introdução
10
físico e online, principalmente os leilões pela internet
analíticos. Neste sentido, para este estudo, a seleção de autores
3. Compreender a influência do surgimento da internet no
foi feita com base nos diferentes temas a serem estudados.
processo de compra de obras de arte por leilão para os
Dentre outros autores, foram utilizados para a primeira etapa
consumidores através de entrevistas em profundidade
deste trabalho os autores Zygmunt Bauman, Lívia Barbosa e
e uma pesquisa quantitativa com consumidores de
Gilles Lipovetsky, que analisam a sociedade contemporânea.
arte por leilão online
Já na segunda parte deste projeto, onde analisamos como funcionam os mercados de arte físico e online, com foco nos
1.5
Metodologia
leilões de arte, utilizamos como autores os pesquisadores Don Thompson, Xavier Greffe e Catherine Lamour, além de
Nesta etapa, conforme sugere Severino, “[...] devem ser
diferentes teses e artigos sobre o assunto.
anunciadas as fontes (empíricas, documentais, bibliográficas)
com que o pesquisador conta para a realização da pesquisa
entrevistas em profundidade com compradores de obras de
e os procedimentos metodológicos e técnicos que usará”
arte por leilão online no Brasil e uma pesquisa quantitativa
(SEVERINO, 2007, p.131). A metodologia deste trabalho
com o mesmo público, onde levantaremos e analisaremos
parte de uma pesquisa sobre a sociedade de consumo e da
com 30 respondentes os aspectos positivos e negativos desta
dinâmica do mercado da arte através de pesquisa bibliográfica,
plataforma, a intenção de compra pela internet, as diferenças
quantitativa e qualitativa, visando “[...] apreender o que os
que existem entre o leilão presencial e online e outros pontos
sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam”
que foram compreendidos e analisados ao longo deste
(SEVERINO, 2007, p.124), através de um roteiro pré-definido
projeto, a fim de validar o impacto do surgimento da internet
com questões que orientem as discussões e visem levantar
na compra de obras de arte por leilão online.
informações que podem ser quantificadas e processadas com recursos estatísticos (LIMA, 2008).
Para Severino (2007), a pesquisa bibliográfica é “[...]
aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc” (SEVERINO, 2007, p.122). Esta é uma metodologia importante para a sustentação teórica do trabalho, pois permite o contato com diferentes estudos
Na terceira etapa deste estudo serão realizadas cinco
Introdução
11
1.7
Referencial teórico
BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (orgs). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006 BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. São Paulo: Zahar, 2005 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. LAMOUR, Catherine. Grandes e pequenos segredos do mundo da arte. São Paulo: Tinta negra, 2014 THOMPSON, Don. O tubarão de 12 milhões de dólares. São Paulo: Bel Comunicação, 2012 GREFFE, Xavier. Arte e mercado. São Paulo: Iluminuras, 2013 BOLL, Dirk. Art for sale. New York: Hatje Cantz, 2011 LEHDONVIRTA, Vili. Virtual consumption. Finland, 2009 LOMBARDI, Monica. Social media and contemporary art market. Italia, 2009 THOMPSON, RJ. The changing art market in the digital age. Warren, 2014
2.1 2.2 2.3 2.5
Introdução ao capítulo Senta que lá vem história: a evolução do consumo O consumo estético de hoje Síntese do capítulo
Como o consumo chegou onde estamos
1.1
13
Introdução ao capítulo
e a substituição das produções artesanais pela produção em série de carros, sabonetes e vários outros bens de consumo.
O presente capítulo tem por objetivo entender a evolução
De acordo com Campbell (2011), essa revolução também
da sociedade de consumo e o consumo estético na
foi responsável por trazer novos significados e novas formas
contemporaneidade. Para tanto, com base em uma pesquisa
para a produção de bens, como a produção em massa e o
bibliográfica que contemplará diferentes autores, este
valor simbólico dos bens de consumo. Esta nova forma de
capítulo será dividido em dois momentos de reflexão, com
consumir, para Barbosa (2004), substituiu gradualmente um
o objetivo de facilitar a compreensão dos temas discutidos
consumo meramente familiar para se tornar um consumo mais
ao longo deste projeto. São eles: a sociedade de consumo
individual, já que até então as famílias eram responsáveis
e o consumo estético. Os principais autores utilizados para
pela produção do que consumiam e todo o estilo de vida
se aprofundar no estudo da sociedade contemporânea são
desses diferentes grupos eram regulados pelas leis suntuárias,
Bauman (2005), Lipovetsky (2007 e 2015), Barbosa (2004),
que separavam por segmentos sociais o que cada um deveria
e Benjamin (2012).
consumir. Para a autora,
2.2
Senta que lá vem história: as transformações do consumo
Para
compreendermos
os
impactos
de
uma
transformação nas dinâmicas de consumo, parece importante em primeiro lugar conhecermos as diferentes fases que esta sociedade de consumo passou ao longo de sua história para
Essa relação de dependência entre status e estilo de vida e de independência em relação à renda é inteiramente rompida na sociedade contemporânea individualista e de mercado. Nesta, a noção de liberdade de escolha e autonomia na decisão de como queremos viver e, mais ainda, a ausência de instituições e de códigos sociais e morais com suficiente poder para escolherem por e para nós são fundamentais (BARBOSA, 2011, p.21).
entendermos a sua evolução ao longo do tempo. De acordo com Barbosa (2004), esta sociedade de consumo surgiu a
Deste modo, Barbosa nos mostra como a sociedade
partir do revisionismo sobre a Revolução Industrial, ocorrida
mudou com a Revolução Industrial, passando de uma sociedade
na segunda metade do século XVIII na Inglaterra. Com a
marcada por um estilo de vida constituído de diferentes regras
consolidação do sistema fabril, da urbanização, do grande
de comportamento para uma maior autonomia e liberdade de
desenvolvimento tecnológico e com a substituição da força
escolha de como cada sujeito quer viver. Assim, aos poucos,
de trabalho humana por máquinas para agilizar a produção
a produção de mercadorias em série e a busca por novas
e diminuir o custo das mercadorias, o indivíduo neste
formas de aquecer a demanda naturalmente fizeram com que
período observou a intensificação da demanda de consumo
o capitalismo se expandisse, e nem a renda e a posição social
Como o consumo chegou onde estamos
14
pareciam ser uma barreira sólida para o consumo, já que
já que de acordo com o autor, até 1880 os produtos ainda
neste momento não há mais uma pirâmide social em que os
eram anônimos e as marcas nacionais pouco numerosas.
consumidores em sua base se inspiravam no topo da cadeia,
Assim, para rentabilizar seus produtos e aumentar o fluxo de
mas sim uma multiplicidade de grupos sociais, em que a
produção, essas novas indústrias como a Procter&Gamble,
inspiração está por todos os lados (BARBOSA, 2004)
a Kodak e a Coca-Cola começaram a fazer cada vez mais
Mas
como
podemos
compreender
melhor
a
evolução deste consumo? Lipovetsky (2007) propõe um
publicidade em torno de suas marcas, investindo mais de um milhão de dólares nesta finalidade.
aprofundamento deste assunto ao analisar a transformação
Esse aparecimento e crescimento das marcas através
da sociedade de consumo através de quatro fases, que
da publicidade transformou a relação do consumidor com
investigaremos neste momento em mais profundidade. A
os varejistas da época, pois os sujeitos passaram a se tornar
primeira delas, que começa no final dos anos 1880 e vai até o
cada vez mais independentes dos comerciantes e a julgar
início da Segunda Guerra Mundial, é marcada pelo momento
os produtos por suas marcas e não apenas nas palavras
em que pequenos mercados locais deram lugar a grandes
dos vendedores (LIPOVETSKY, 2007). Nesta época, de
mercados nacionais, possíveis dentre outras inovações, pelas
acordo com as palavras complementares de Semprini, “elas
estradas de ferro, o telefone e o telégrafo, que colaboraram
[as marcas] só tem que cumprir funções relativamente
para o aumento da produção, da distribuição e do comércio de
simples. Elas nomeiam, elas identificam, elas diferenciam”
diferentes bens de consumo, que foram se espalhando pelas
(SEMPRINI, 2006, p.27).
cidades e pelas diferentes camadas sociais. Essa produção
Essa incipiência do surgimento das marcas mudou
era tão expressiva que Lipovetsky (2007) traz diferentes
após o término da Segunda Guerra Mundial, quando elevou-
números para comprová-la, como o fato de que, diariamente,
se a produção industrial e deu-se início à segunda fase do
uma única máquina nos Estados Unidos, ao final de 1880, era
consumo, marcada em 1950 por um grande crescimento
capaz de produzir 120 mil cigarros, 2 milhões de caixas de
econômico e pela produtividade do trabalho. Lipovetsky
fósforo mais de 220 mil sabonetes.
(2007) denomina esta fase como a de consumo de massa ou da
Mesmo assim, não bastou uma profusão de produtos
abundância, já que nesta época o consumo aumentava cerca
circulando pelo mercado para serem construídas as bases
de 10,3% ao ano em volume (BENJAMIN, 2012) e atingia
do consumo massificado. Lipovetsky (2007) explica que o
todas as classes sociais. Ainda segundo Lipovetsky (2007),
capitalismo de consumo também faz parte de uma construção social e cultural, através não só da busca pela margem de lucro nos produtos comercializados como também pelo estabelecimento de estratégias de propaganda e marketing,
Há algo mais na sociedade de consumo além da rápida elevação do nível de vida médio: a ambiência de estimulação dos desejos, a euforia publicitária, a imagem luxuriante das férias, a sexualização
Como o consumo chegou onde estamos
15
dos signos e dos corpos. Eis um tipo de sociedade que substitui a coerção pela sedução, o dever pelo hedonismo, a poupança pelo dispêndio, a solenidade pelo humor, o recalque pela liberação, as promessas do futuro pelo presente. [...] toda a cotidianidade impregnada de imaginário de felicidade consumidora, de sonhos de praia, de ludismo erótico, de modas ostensivamente jovens (LIPOVETSKY, 2007, p.35).
compra de uma peça de roupa ou do endividamento através da compra à crédito de algum bem de consumo.
Assim, com essa crescente oferta de produtos, a
indústria começou a precisar educar as pessoas para incentiválas ao consumo, passando a associar seus produtos com diferentes imagens de sonho e de desejos (BARBOSA, 2004). Com seu uso cada vez mais saturado, o consumo pouco a pouco passou a ser central na sociedade. Polon (2012) explica
É nesta época, ainda, que as primeiras discussões
esse fato ao afirmar que a alta demanda produtiva modificou
sobre reduzir o ciclo de vida dos produtos comercializados
o modo como o consumo interage com o modo de vida das
surgem para tirá-los de moda rapidamente e substituí-
pessoas (LEBOW apud POLON, 2011). Em suas palavras,
los por outros para manter a produção à tona. Não é a toa que Benjamin (2012) aponta que neste período a produção fordista2 se acirrou e os modos de produção padronizados e repetitivos se ampliaram para manter o fluxo de fabricação constante, criando em grande escala o que Lipovetsky (2007) chama de “[...] a vontade crônica dos bens mercantis, o vírus da compra, a paixão pelo novo, um modo de vida centrado nos valores materialistas” (LIPOVETSKY, 2007, p.36), e o
2 O fordismo é um modelo de organização do trabalho humano organizado por Henry Ford que fez saltar o lucro do mercado norteamericano de 2 para 250 milhões de dólares através da produção em massa, da criação de uma linha de montagens e da automatização das fábricas (SANTOS, 2009).
A economia altamente produtiva necessita que façamos do consumo o nosso modo de vida; que convertamos a compra e uso de produtos em rituais; que busquemos nossa satisfação espiritual, a satisfação de nosso ego no consumo. Nós precisamos que as coisas sejam consumidas, queimadas, atualizadas e descartadas a uma taxa sempre cada vez maior (LEBOW apud POLON, 2011 p.4)
consumo atrelado aos desejos ajudou a construir a visão de
Neste sentido, o autor explica como o consumo
que os objetos eram capazes de impressionar e serem fontes
virou um ritual em busca da satisfação do nosso ego, pois
de prestígio. Veblen acrescenta à discussão a sua visão sobre
com a diversidade crescente de mercadorias, os indivíduos
como o consumo é visto como “uma atividade carregada de
passam a ser inseridos na sociedade com base no que
significado, voltando-se para a afirmação da vinculação a
consomem e o capitalismo acaba impulsionando o consumo
um grupo e, ao mesmo tempo, ao desejo de ascensão social”
como meio de diferenciação social, que nos mostra como
(VEBLEN apud GUERRA, 2011, p.24). Para ele, “algumas
o desenvolvimento das esferas urbanas e industriais criam
pessoas vão se submeter a um nível considerável de privação em termos de conforto ou necessidades básicas da vida para
uma camada social cada vez mais numerosa e sedenta 3 pelo consumo, que passa a se massificar e a se generalizar Original: "People will undergo a
conseguir consumir em exagero”3 (VEBLEN apud GUERRA,
(SOMBART apud GUERRA, 2011).
2011, p.32), como a privação de algumas refeições para a
very considerable degree of privation in the comforts or the necessaries of life in order to afford […] wasteful consumption"
Como o consumo chegou onde estamos
16
A fase que se segue é uma continuação deste consumo
vivida como a expressão de uma identidade e como, exibida
marcado pelo desejo: o hiperconsumo, que se inicia em
essa marca em público, os indivíduos reconhecem nela uma
1975 e segue até o final do século XIX. Marcada pela “[...]
parte de sua personalidade, marcando o hiperconsumo como
mercantilização moderna das necessidades e orquestrada
uma fase em busca da individualidade e do consumo pela
por uma lógica desinstitucionalizada, subjetiva, emocional”
imagem da marca.
(LIPOVETSKY, 2007, p.41), esta fase engloba o consumo
Esta busca pela individualidade de maneira exacerbada
com vistas à satisfação emocional, corporal, sensorial e
e o aumento exponencial do consumo de diferentes bens se
estética, com os bens de consumo tendo um papel fundamental
relacionam com o que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman
na liberdade, na vivência de experiências e na qualidade de
chama de sociedade líquida, aquela em que
vida individual. Neste período, as marcas deixam de fazer publicidade atrelada somente às funcionalidades dos seus produtos e passam a considerar as experiências afetivas e sensoriais de cada indivíduo. De acordo com o autor, a sociedade deixa, neste momento, de comprar produtos padronizados e o consumo passa a se diferenciar de acordo
[...] as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação dos hábitos e rotinas, das formas de agir. A vida líquida, assim como a sociedade, não podem manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo (BAUMAN, 2005, p.7).
com idade, gostos e identidades culturais singulares para valorizar a diferença, a experiência e o individualismo.
O cerne da discussão do sociólogo é que a sociedade de
Converge neste sentido a afirmação de Barbosa
consumo passa a vender a satisfação de desejos que nunca
(2004) de que nesta época a publicidade deixa de falar apenas
serão totalmente supridos, pois o constante surgimento de
dos benefícios funcionais do produto e surgem anúncios
novos bens de consumo renovam os desejos do consumidor,
que, para Barbosa, falam sobre sonhos, aventuras, amizades
como se o mercado de consumo fosse “[...] a versão do século
e romances, já que é a imagem criativa das marcas que
XX (reconhecidamente mutante) do sonho do Rei Midas
faz a diferença na compra, fazendo com que elas precisem
tornado realidade. O que o mercado toca, não importa o
convencer seus públicos de que “[...] seus produtos são
que seja, transforma-se em mercadoria” (BAUMAN, 2005,
aqueles que melhor material lhes dão para os seus daydreams”
p.117). Esta pluralidade de bens de consumo, para Bauman
(BARBOSA, 2004, p.55). Lipovetsky (2007), traz como
(2005), pode tornar permanente a insatisfação e provoca
exemplo para ilustrar este momento um adolescente que
novas necessidades, desejos e vontades constantemente,
pauta suas escolhas na vontade de diferenciar-se de seus pais,
característica típica do hiperconsumismo proposto por
afirmando gostos e preferências que definem o seu estilo.
Lipovetsky e que se estende ao capitalismo e ao consumo
Este exemplo nos mostra como a compra de uma marca é
estético, que será contextualizado no tópico seguinte deste
Como o consumo chegou onde estamos
17
projeto. Segundo Bauman, “sem a repetida frustração dos
capitalismo. Haja visto os diferentes pontos de contato com o
desejos, a demanda pelo consumo se esvaziaria rapidamente,
consumo de arte propostas pelo autor, trataremos a partir de
e a economia voltada para o consumidor perderia o gás”
então deste tópico em maiores detalhes.
(BAUMAN, 2005, p.107).
Segundo Lipovetsky (2015), “o capitalismo artista
Estas características, segundo o autor, dariam origem
é esse sistema que produz em grande escala bens e serviços
à “síndrome consumista”, apontada por Bauman como
com fins comerciais, mas impregnados de um componente
“[...] uma questão de velocidade, excesso e desperdício”
estético-emocional que utiliza a criatividade artística tendo em
(BAUMAN, 2005, p.110), em que a sociedade de consumo é
vista a estimulação do consumo mercantil e do divertimento
marcada pelo excesso de desejos que nunca serão totalmente
de massa” (LIPOVETSKY, 2015, p.68). Assim, através da
saciados. Isto porque “o mercado não sobreviveria caso os
sua inserção como estratégia de marketing e comunicação das
consumidores se apegassem às coisas” (BAUMAN, 2005,
empresas, focalizadas nos gostos estéticos e afetivos dos seus
p.48). Esta discussão do autor nos remonta às discussões
consumidores como forma de intensificar a geração de sonhos,
presentes ao final da segunda fase do consumo proposta por
prazeres e emoções que surgiram no hiperconsumismo, este
Lipovetsky em questão à obsolescência programada dos bens
capitalismo artista permite “a integração e a generalização da
de consumo que eram produzidos com o objetivo de gerar
ordem do estilo, da sedução e da emoção nos bens destinados
novos desejos e de, consequentemente, fomentar a produção
ao consumo mercantil” (LIPOVESTKY, 2015, p.47), através
das indústrias e do consumo.
da criação de beleza, emoção e entretenimento para conquistar seus consumidores. Exemplos desta intersecção são o que
2.3
O consumo estético de hoje
Lamour (2014) chama de museu fora dos muros, em que a arte e a estética se espalham e se encontram pela cidade, em metrôs,
É com base neste hiperconsumo marcado pelo desejo
cartazes de rua, ônibus, praças e restaurantes em monumentos
e pelo consumo líquido que se estabelece, na segunda metade
históricos. Neste sentido, o capitalismo artista cria valor
do século XIX, a quarta fase do consumo (LIPOVETSKY,
econômico por meio do valor estético, ligando esta esfera
2015),
capitalismo
material à sensibilidade e ao imaginário, mas sem deixar de
hiperconsumista: o capitalismo artista, marcado por um
funcionar como um sistema regrado pelas lógicas financeiras e
boom estético sustentado pelo capitalismo do hiperconsumo
do marketing. Isso se observa, segundo Lipovetsky (2015), em
e caracterizado pela inflação da estetização dos mercados de
todas as indústrias culturais, como a moda, o luxo e a arte, da
consumo e das indústrias, em que dominam os imperativos
qual nos aprofundaremos neste instante.
posterior
e
complementar
ao
do estilo, da beleza e do espetáculo e em que a arte se torna
Atestada pela magnitude dos investimentos dos
um instrumento de legitimação das marcas e das empresas no
colecionadores e pelo aumento crescente dos preços das
Como o consumo chegou onde estamos
18
obras de arte (BENJAMIN, 2012), do aumento da produção
crescimento exponencial dos museus nas últimas décadas.
e da reprodutibilidade das obras de arte, cada vez mais ela
Antes de 1920, haviam 1200 museus nos Estados Unidos.
aparece como uma mercadoria. Conforme as palavras de
Já no início de 1980 haviam mais de 8 mil, impulsionados
Benjamin, “a arte sempre foi, por princípio, reprodutível.
pela expansão das grandes cidades e também da vontade de
[...] Tal imitação foi praticada igualmente por discípulos,
pequenas cidades em quererem ter seus próprios museus como
para exercício da arte; por mestres, para difusão das obras;
sinal de afirmação de identidade e como centro de atração
e finalmente, por terceiros, ávidos de lucros” (BENJAMIN,
turística e comercial. Nesta época, as bienais, as feiras, os
2012, p.13). Isto significa que até a reprodução técnica é
salões e as galerias de arte também praticamente dobraram
antiga, datada do surgimento da xilogravura, da estampa em
de tamanho, abrigando centenas de exposições e artistas
cobre e da litografia, ainda na Idade Média. (BOLL, 2011). O
incipientes que buscam seu espaço neste mercado bilionário
que vemos hoje em dia, no entanto, não é apenas uma questão
e cada vez mais globalizado, marcando o que o autor chama
da reprodutibilidade das obras de arte e sim do seu valor
de hyperart, um mercado superabundante e proliferante, em
econômico, já que as obras são julgadas muito mais pelos
que “[...] se apagam as distinções entre arte, negócio e luxo”
seus resultados comerciais do que pelas suas características
(LIPOVETSKY, 2015, p.58).
puramente estéticas. Como discorre Lipovetsky,
A idade romântica da arte cedeu o passo a um mundo no qual o preço das obras é mais importante e mediatizado do que o valor estético: hoje é o preço mercantil e o mercado internacional que consagram o artista e a obra de arte. É o tempo da ‘art business’, que vê triunfar as operações
de especulação, de marketing e de comunicação (LIPOVETSKY, 2015, p.46)
Essa superabundância de obras de arte circulando
pelo mercado de modo crescente nos remete às discussões de Benjamin sobre como essa reprodução acirrada da obra de arte fez com que ela perdesse o seu caráter único, sua quintessência, sua aura. Isto porque a reprodução permite colocar uma cópia da obra original em lugares que ela não estaria (BENJAMIN, 2012). Conforme explica o autor, “a catedral abandona seu lugar para encontrar sua recepção no estúdio de um amante das artes; o coral que foi executado
Assim, a dinâmica estética passou cada vez mais a
em uma sala ou a céu aberto se deixa ouvir em um quarto”
incorporar os mecanismos financeiros e mercantis, regidos
(BENJAMIN, 2012, p.21). Mesmo assim, “a obra de arte
pelas leis das empresas e da economia de mercado. Hoje
reproduzida torna-se cada vez mais a reprodução de uma obra
em dia, de acordo com Kotler (2008), até os museus devem
de arte voltada para a reprodutibilidade” (BENJAMIN, 2012,
ser administrados como verdadeiras empresas, buscando
p.35), isto é, conforme o autor explica através da fotografia, de
aumentar suas fontes de rentabilidade e aumentar seus
uma simples chapa fotográfica é possível produzir diferentes
números de visitantes. Lipovetsky também aponta para o
cópias sem que ela perca a sua autenticidade. Com isso,
Como o consumo chegou onde estamos
19
crescem as oportunidades de exposição das obras e de sua
e econômicos, mantendo entre si uma harmonia.
venda, característica que de acordo com Lipovetsky (2015) é
o que importa a partir deste momento, tornando-se uma arte
aumentaram? Além da sua reprodutibilidade, que apesar de
voltada à busca pelo lucro e pelo sucesso, passando “[...] a se
ter causado questionamentos em autores como Benjamin
tornar um mundo econômico como os outros, adaptando-se
(2012) sobre a autenticidade e a “aura” das obras diante a sua
às demandas do público e oferecendo produtos ‘sem risco’ de
multiplicação, inevitavelmente possibilitou o seu alcance a
obsolescência rápida (LIPOVETSKY, 2015, p.21).
um público maior, atualmente se estabelece um crescimento
Neste sentido, foi a vez não mais dos locais de arte
no número de colecionadores e especuladores dos fundos de
se expandirem, mas sim dos preços das obras que eram
investimento que estão atraídos pela velocidade da expansão
comercializadas, evidenciando uma lógica inflacionista
econômica positiva destas obras, que circulam cada vez mais
do capitalismo artista e marcando a arte como dominada
rápido pelo mercado. Uma obra que antes demorava vinte
também pelas lógicas do superlativo e da hiperaceleração.
ou trinta anos para reaparecer em uma galeria ou leilão, hoje
Os lances milionários em leilões de arte e em galerias foram
leva menos de dez anos (BOLL, 2011). Ainda, um outro fator
multiplicados seis vezes entre 2005 e 2008, alcançando picos
para o disparo do mercado de arte é o crescimento do número
inigualados em que
de artistas, dinâmica que ocorre desde o século XIX com [...] os recordes de vendas são o tempo todo superados por novos recordes mais estrondosos ainda, em que os lances nos leilões soam cada vez mais altos. Preços tão assombrosos que permitiriam a um Damien Hirst ser classificado entre as cinquentas maiores fortunas da Inglaterra (LIPOVETSKY, 2015, p.59).
Assim, para o autor, galerias de arte, casas leiloeiras e feiras se tornam cada vez mais empresariais, tendo que multiplicar suas vendas, promover políticas de promoção e diversificação dos serviços financeiros e buscar organizadores de exposições,
Mas por que as vendas do mercado de arte
a promoção social dos artistas. De acordo com Lipovetsky sobre esta evolução do artista no mercado, A primeira era da igualdade tornou possível a entronização dos artistas na esfera da elite social, na sociedade dos salões, no Tout-Paris: engalanados de novos prestígios, reconhecidos como figuras de grandeza moral e intelectual, e até como magos, guias inspirados, os artistas frequentam então os salões mundanos em que são admitidos em pé de igualdade, ascendem à altura de heróis literários e se tornam célebres, a ponto de serem erguidas estátuas a eles, como aos políticos (LIPOVETSKY, 2015, p.122).
peritos e conselheiros de colecionadores para ajudar a manter a multiplicação das vendas crescente. Deste modo, como acrescenta Boll (2011), os intermediários do mercado tem um
Essa ascensão social do artista, nesse sentido, foi possível com
papel fundamental em criar a ponte entre os sistemas artísticos
a queda da soberania da Igreja nas artes em séculos passados,
Como o consumo chegou onde estamos
20
pois os artistas passaram a se desvincular da produção
antes já foram estabelecidas e conhecidas como artes rituais,
sagrada e a investir em produções próprias, como a pintura de
artes populares e tradicionais, artes religiosas e de elites, hoje,
paisagens e de natureza morta. Na era moderna, esta nova arte
de acordo com o autor, busca-se a comercialização de uma obra
serve de contrapeso à alienação da vida cotidiana e da secura
que proporcione satisfação fácil e imediata a consumidores
dos saberes científicos.
motivados pela busca do prazer ou da diversão. Assim, como
Mesmo assim, “como o resto, o ‘amor’ à arte não
reflete Lipovetsky (2015), o capitalismo transestético difunde
escapa das malhas da sociedade da velocidade e do efêmero”
a arte na vida comum e faz do preço das obras e do ganho dos
(LIPOVETSKY, 2015, p.61). Os artistas querem se realizar,
artistas o próprio marco de sucesso.
exprimir e criar sem os moldes das atividades profissionais
tradicionais, num impulso narcísico de visibilidade, de
Benjamin (2012) de que este caráter comercial das obras fariam
reconhecimento e de celebridade, reforçado segundo
com que elas perdessem a sua autenticidade, Lipovetsky traz
Lipovetsky pelas mídias e pelo surto de individualização
a reflexão de que as tensões existentes entre o marketing e
iniciado no hiperconsumismo. De acordo com o autor, o
a arte não são insuperáveis, pois a arte continua tendo um
desejo de ser um artista não está mais tão ligado a um sonho
grande valor estético e cultural para a sociedade. Conforme
romântico de viver inteiramente para a sua arte mesmo que
ele reflete,
em condições contrárias à riqueza capitalista, “[...] e sim ao projeto de carreira orientado pela ideia da fortuna rápida e do êxito social: ser cantora, como Madonna, ou jogador de futebol, como Zidane, e rico como eles” (LIPOVETSKY, 2015, p.117). Mas esta busca parece cada vez mais acelerada, como já nos indicaria Bauman (2005), haja visto que tudo é para agora. Não basta esperar para alcançar o estrelato. Este intervalo, entre o início da carreira e a fama, devem ser cada vez mais curtos para que se alcance uma respeitabilidade quase imediata (LIPOVETSKY, 2015).
No entanto, em contradição ao pensamento de
O que justifica não considerar as obras comerciais como arte propriamente dita? Sua falta de qualidade e de criatividade? Mas nem a originalidade nem mesmo o valor estético são condições sine qua non de uma obra de arte. Um romance ‘ruim’
não deixa de ser um romance; e uma cançoneta popular, uma obra musical. O próprio rap, tão depreciado devido a seus ritmos barulhentos e suas letras grosseiras, pode ser considerado uma obra legítima de arte. (LIPOVETSKY, 2015, p.75).
Neste sentido, não é mais tanto a experiência elitista
Ainda, conforme nos trouxe Boll (2011), as obras de arte
da veneração e do recolhimento estético da produção e
quase sempre tiveram um caráter comercial. Os pintores
comercialização da obra de arte que interessa e sim o lucro,
do século XVII em Roma, por exemplo, como nos traz
o estímulo ao consumo através de prazeres passageiros,
Lipovetsky (2015), já possuíam um pensamento econômico
imediatos e incessantemente renovados. Ao passo que as artes
para suas obras, produzindo pequenos quadros que poderiam
Como o consumo chegou onde estamos
21
ser colocados nos alforjes dos cavalos dos viajantes que
mercados de arte físico e online, principalmente os leilões
passavam pela cidade e desejavam comprar uma obra e
pela internet
não tinham como carregá-la. Ainda, conforme traz o autor, grandes pintores desta época, como Caravagio e Poussin,
2.4
Síntese do capítulo
Ao longo desta etapa do projeto conhecemos com
sempre aceitaram encomendas e se preocuparam com o preço de venda de suas obras. As reflexões de Bauman acerca da sociedade líquida
Barbosa (2004) as origens da sociedade de consumo como
acrescentam à esta discussão sobre o caráter comercial das
atreladas à ocorrência da Revolução Industrial na Inglaterra.
obras de arte na medida em que, se os indivíduos se apegassem
Nos aprofundamos nesta evolução a partir da proposta de
aos bens materiais que consomem, a produção iria parar e o
divisão do consumo em quatro períodos por Lipovetsky
mercado cessaria. Assim, não é a toa que as obras de arte
(2007). A primeira delas marcou a passagem dos mercados
circulam cada vez mais rápido por entre as galerias e as casas
locais para grandes mercados nacionais e a difusão de bens de
leiloeiras, como vimos anteriormente. A compra de uma obra
consumo de maneira massante. A segunda fase foi marcada
não cessa o desejo de um colecionador ávido pelo consumo
por um crescimento do modelo de produção fordista fabril e do
porque novas obras são inseridas no mercado a cada instante,
desenvolvimento das propagandas para a criação e evolução
reacendendo a frustração pelo desejo e pela demanda citadas
das marcas. A terceira fase amplia este consumo massificado
pelo autor.
ao torná-lo inerente aos desejos, às experiências e à busca
Deste modo, “[...] em um piscar de olhos, os
pela individualidade através dos bens materiais e dos serviços
ativos se transformam em passivos, e as capacidades, em
que as marcas oferecem, se desdobrando no que Lipovetsky
incapacidades” (BAUMAN, 2005, p.7), ou seja obras de arte,
(2015) denomina capitalismo estético, a quarta fase do
serviços e até habilidades pessoais envelhecem rapidamente
consumo. É nesta época que os setores industriais passam a
e se tornam obsoletas na medida em que novas surgem no
ser dominados por um boom estético e pela artealização de
mercado, apenas esperando um novo consumidor saciar seu
bens cotidianos, em que o mercado de arte se expande cada
desejo que logo será retomado em um ciclo infindável.
vez mais com o crescimento dos colecionadores, do desejo
Assim, conhecendo a evolução da sociedade do
de ser artista e da produção de obras de arte, marcando um
consumo e tendo formadas as bases do consumo estético
consumo cada vez mais líquido e efêmero, com a constante
e as diferentes problemáticas da expansão da arte ligada
geração de desejos insaciáveis e colocando em xeque as
às esferas econômicas, bem como o consumo cada vez
questões levantadas por Benjamin (2012) sobre a perda da
mais guiado pela sociedade líquida proposta por Bauman
aura das obras de arte com a sua reprodutibilidade técnica.
(2005), que passaremos a compreender como funcionam os
3.1 3.2 3.3 3.3 3.5
Introdução ao capítulo Organizando o mercado As casas leiloeiras O leilão em pixels Síntese do capítulo
Vamos comprar arte!
23
3.1
Introdução ao capítulo
obras de arte que custam mais de €1 milhão. Na internet este setor também é representativo e alcançou €3 bilhões em
Neste segundo momento da pesquisa compreenderemos
vendas, com uma expectativa de que até 2020 ele chegue a
como funcionam os mercados de arte físico e online,
€10 bilhões, validando o que Lipovetsky (2015) afirma de
principalmente os leilões pela internet. Para facilitar a
que “o mercado da arte contemporânea é dominado pelas
compreensão dos temas discutido, o capítulo se dividirá em
lógicas do superlativo e da hiperaceleração” (LIPOVETSKY,
dois momentos de reflexão: a compreensão da dinâmica do
2015, p.60), já que com o aumento da demanda, do número
mercado de arte físico e online, e o mercado de leilões de arte
de colecionadores e da multiplicação dos especuladores e dos
digital. Os principais autores utilizados para se aprofundar
fundos de investimento atraídos pelo retorno financeiro das
neste estudo são Thompson (2010 e 2012), Benhamou-Huet
obras de arte, este mercado cresce aceleradamente.
(2008) e Lamour (2014), além de diferentes teses e artigos
sobre o assunto.
todo este valor em obras de arte comercializadas por todo o
Mas como a arte e a economia se aproximaram gerando
mundo? Existem diferentes formas de se vender uma peça 3.2
Organizando o mercado
de arte, mas de acordo com diferentes estudos, este mercado se organiza fundamentalmente em dois níveis distintos:
Antes de nos aprofundarmos nas particularidades do
o primário e o secundário, que possuem características e
mercado da arte, é válido o dimensionarmos com base em
objetivos distintos, conforme entenderemos a seguir.
seu tamanho financeiro. Como dito anteriormente, mesmo
que com pequenas oscilações, o mercado de arte vem
primário é aquele que abriga obras que nunca apareceram
crescendo desde 1960, com a globalização e o reaquecimento
antes no mercado, isto é, nunca foram compradas ou
da economia após o final da Segunda Guerra Mundial,
vendidas (ROBERTSON, 2005). Este mercado abriga boa
que impulsionaram a venda de obras (RESCH, 2005).
parte dos artistas e o excesso de oferta em detrimento da
Financeiramente, de acordo com um estudo da TEFAF
baixa procura o torna bem competitivo para os artistas,
(2014), este setor é bilionário e somou 51 bilhões de euros
além de manter os preços das obras baixos (THROSBY,
em 2014, um crescimento de 7% com relação a 2013 e de
1994). É válido notar que neste mercado são os próprios
150% com relação à última década. E de onde todo este valor
artistas os responsáveis por buscar galerias e exposições
provém? Segundo o mesmo estudo, os países que lideram as
para promoverem seus trabalhos e, por ser altamente
vendas de obras de arte são os Estados Unidos, a China e o
competitivo, envolve um alto risco na negociação de suas
Reino Unido, que juntos em 2014 somam cerca de metade
obras, visto que há pouca informação sobre os artistas
do volume de vendas em valor da parcela do mercado de
e suas peças, o que faz com que muitos negociantes e
Em primeiro lugar, para Robertson (2005), o setor
Vamos comprar arte!
4 Original: “When a work is sold there is a chance that it will eventually reappear on the market” (RESCH, 2011, p.41)
24
galerias tenham que operar com margens de lucro baixas
participam das vendas. É o comerciante quem oferece as obras
ou negativas (RESCH, 2005)
à revenda para colecionadores, galerias e casas de leilão, e é
Na contramão deste mercado está o nível secundário,
o curador quem exibe as obras que alcançaram os maiores
aquele em que as obras já circularam no mercado, estão
preços em um leilão. Uma outra diferença fundamental para
se tornando conhecidas e seus preços estão aumentando
o mercado primário é que agora há mais informações sobre os
(ROBERTSON, 2005). Este reaparecimento das obras acontece
artistas e suas obras à disposição dos interessados, o que torna
porque “quando uma obra é vendida, há grandes chances
este mercado muito mais previsível e com muito menos risco
dela eventualmente reaparecer no mercado”7 (RESCH, 2011,
envolvido em suas negociações (RESCH, 2005).
p.4), já que muitos colecionadores mantém o giro das obras
É com este cenário em mente e compreendendo
como forma de investimento financeiro. Thompson (2012)
a divisão do mercado da arte entre os níveis primário e
acrescenta à explicação do aumento dos preços das obras o
secundário, que nos atentamos a identificar e entender os
fato de que “quando um artista está em alta, não se aplica o
principais participantes deste setor. Em seus estudos, Resch
conceito econômico de oferta e procura. Se o artista consegue
(2005) identificou que ele se divide entre dois polos: o dos
criar peças suficientes para expor simultaneamente em várias
artistas e o dos colecionadores, com diferentes intermediários
galerias e feiras de arte, o zum-zum maior em torno dele eleva
permeando-os, como os negociantes, os críticos de arte e as
os preços” (THOMPSON, 2012, p.59). Isto significa que a
galerias, participantes que conheceremos a seguir.
realização de exposições em galerias e feiras, e as menções
O primeiro deles é o colecionador, que age tanto
em diferentes veículos especializados fazem com que os
como comprador quanto como vendedor de obras de arte
artistas fiquem mais valorizados e despertem o interesse dos
(CHONG, 2005), ao revendê-las no mercado secundário em
colecionadores.
galerias ou leilões. Ele pode ser tanto um indivíduo físico,
Fazem parte deste nível artistas estabelecidos que
que em sua maioria não possui grande conhecimento sobre
conseguiram passar do mercado primário para o secundário
arte, mas visitam museus e galerias com frequência, além de
através da representação por alguma galeria ou da compra de
contratarem negociantes e conselheiros para lhes ajudarem
uma obra por um museu público, negociantes e colecionadores
em suas compras (LIPOVETSKY, 2015), quanto instituições
públicos e privados (THOMPSON, 2010). Como complementa
privadas. Suas motivações para a compra de obras de arte
Throsby (1994), poucos são os artistas que fazem parte do
podem ser, conforme aponta Resch (2005) e Boll (2011),
mercado secundário e o número de compradores em geral é
a inspiração que a arte trás, o vício em colecionar objetos,
ainda menor, em virtude da alta dos preços de galerias, que
o investimento financeiro e a manifestação do status social
controlam sua volatilidade (THROSBY, 1994). Ainda, ao
através da criação de museus e galerias próprias para mostrar
contrário do mercado primário, os artistas neste setor não
suas aquisições ao público (RESCH, 2005).
Vamos comprar arte!
25
Quem ajuda estes colecionadores em suas compras
seu crescimento (RESCH, 2005).
são os negociantes, que agem como empreendedores e são
Assim, os críticos de arte ajudam no desenvolvimento
profissionais que ajudam colecionadores, museus e galerias
das galerias, que de acordo com Thompson (2012), são
em suas aquisições, frequentemente participando de leilões.
verdadeiras fortalezas que selecionam quem vai aparecer e
Este intermediário também pode trabalhar junto aos artistas
quem não vai no mercado. O trabalho delas é organizar seus
e ajudá-los a vender suas obras para os colecionadores,
artistas e promovê-los através de colecionadores, críticos de
geralmente recebendo uma comissão de 50% do valor da
arte e curadores de museus. Para isso, em geral as galerias
obra (CHONG, 2005), mas mesmo assim, como acrescenta
organizam exposições regulares e abertas ao público com
Resch (2005), estes agentes em geral trabalham apenas para
entre 5 e 25 artistas que elas representam, em que todas as
o mercado secundário, tendo pouco contato com artistas que
obras podem ser adquiridas e até mesmo alugadas por um
nunca venderam obras de arte anteriormente, valendo-se notar
certo período (RESCH, 2005). Para obter lucro com as
que eles representam cerca de 53% do volume de vendas
vendas, as galerias se apoiam principalmente no mercado
de obras de arte (TEFAF, 2014). O trabalho do negociante
primário, dividindo o valor da venda, em geral, igualmente
para um colecionador que procura obras de um determinado
entre o artista e a galeria. Mesmo assim, por tratar-se de
artista consiste em descobrir em sua rede de contatos quem
um mercado formado fundamentalmente por artistas novos,
possui peças deste artista, persuadindo estes indivíduos à
muitas galerias acabam tendo que buscar alternativas para não
venda das obras que possuem (RESCH, 2005). Assim, se um
saírem no prejuízo, já que os custos de promoção são caros
colecionado procura uma obra de Picasso, o agente procura
e os descontos, para incentivar a venda das peças, são altos
todos os colecionadores e galerias que possuem obras do
(RESCH, 2005). Uma outra forma das galerias obter lucro é
artista para adquirí-las para seu colecionador.
participar do mercado secundário através da representação de
Este interesse dos colecionadores por um artista
colecionadores, em que a galeria compra obras de arte em seu
específico pode ser oriundo das menções dos críticos de
nome, e também através da compra de obras de baixo valor
arte, que são o elo de comunicação entre o artista e seu
que ela possa revender. Em alguns casos, a galeria também
público (CHONG, 2005). Em geral são artistas, curadores
participa de leilões para proteger o preço das obras do artista
e historiadores de arte que escrevem em blogs pessoais,
que ela representa, como forma de manter seus artistas
jornais ou revistas especializadas no mercado artístico,
valorizados no mercado (RESCH, 2005).
e que frequentemente escrevem artigos em catálogos de galerias e casas leiloeiras. Neste sentido, os críticos de arte tem uma proximidade muito grande com negociantes, artistas e feiras de arte, ajudando estes intermediários em
Vamos comprar arte!
26
3.3
As casas leiloeiras
sucedidas. O leiloeiro, que nunca é identificado pelo nome, faz parte da psicologia do leilão, isto é, dos efeitos e das
5 “To identify, evaluate and appraise works of art through its international staff of specialists, to stimulate purchasers’ interest through professional marketing techniques, and to match sellers and buyers through the auction process” (SOTHEBY’S apud RESCH, 2005, p.49). 6 Casa leiloeira fundada em 1744 em Londres. Com alcance mundial, ela é líder de vendas junto com a Christie`s e possui escritórios por todo o mundo, inclusive em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Campo Grande e Mato Grosso do Sul, atuando em diferentes áreas, como a artística, a vinícola e a de agronegócio (SOTHEBY'S, 2015, disponível em www.sotheby's.com). 7 Casa leiloeira fundada em 1766 que produz mais de 450 eventos por ano em mais de 80 categorias, como arte, jóias e vinho. Ela possui cerca de 50 escritórios ao redor do mundo, mas nenhum no Brasil (CHRISTIE'S, 2015, disponível em www.christies. com). 8 Casa leiloeira fundada em 1793, que produz mais de 400 eventos por ano em 60 categorias distintas e que possui escritórios em todo o mundo (BONHAMS, 2015, disponível em www.bonhams.com)
Neste ponto podemos passar a analisar as casas
características que a dinâmica do leilão provoca no indivíduo,
leiloeiras, que são foco deste estudo. O principal objetivo
e tem um papel fundamental nele, pois “por cerca de duas
delas, de acordo com a Sotheby’s, “é identificar, analisar e
ou três horas, ele deve ser persuasivo, evitando repetir os
validar obras de arte com o suporte de especialistas, estimular
mesmos gestos ou frases [...]. Ele criará variações em seus
o interesse pela compra através de técnicas profissionais de
movimentos e em seu tom de voz, produzindo mais excitação
marketing e unir compradores e vendedores através do leilão”8
em relação a um determinado item que, talvez, nem mereceria
(RESCH, 2005, p.49). Benjamin-Houet (2008) complementa
tanta atenção” (THOMPSON, 2010, p.6). É interessante notar
que as técnicas de marketing utilizadas pelas casas leiloeiras,
que, segundo Thompson (2010), este entretenimento do leilão
além de estimular o interesse dos colecionadores, também são
consiste em atingir 90% dos indivíduos que não tem intenção
responsáveis por fazerem os preços das obras aumentarem. 9
alguma de adquirir alguma obra, enquanto os outros dez por
De acordo com Robertson (2011), as casas leiloeiras
cento se concentram em seus lances.
podem ser divididas em quatro níveis distintos. São eles as
Compreendido o papel do leiloeiro, podemos
casas alpha, que representam as líderes de mercado Sotheby’s
entender como que o evento em si acontece. Em casas como
e Christie’s10, as betas, seguidoras de mercado com alcance
a Christie’s e a Sotheby’s, encontram-se desde representantes
internacional, como a Bonhams11, as gammas, que possuem
de museus até agentes a serviços de colecionadores e
alcance nacional e as deltas, que são as casas leiloeiras
milionários, que representam quase dois terços das obras de
regionais. É válido notar que estas casas leiloeiras constituem
arte contemporânea vendidas neste ambiente (THOMPSON,
um importante intermediário do mercado da arte, já que como
2010). Estes colecionadores são motivados, em parte, pelo
dito anteriormente elas representaram 47% do volume das
grupo ao qual desejam integrar, como indivíduos que querem
vendas deste mercado em 2014 (TEFAF, 2014).
se tornar parte de um grupo de grandes colecionadores ou
Mas como acontecem esses leilões? De acordo com
membro da diretoria de algum museu renomado.
Thompson (2010), eles são um verdadeiro show, em que o
O evento em si tem início com a entrada do leiloeiro e
maior desafio das casas leiloeiras é manter a animação dos
a apresentação do primeiro lote ao público, onde ele descreve
compradores. Para isso, elas se valem de catálogos, eventos
a obra e a mostra aos presentes. Ele escolhe um preço para
exclusivos de visualizações prévias das obras e outras técnicas
a sua abertura e concentra-se em obter ofertas que possam
de marketing e comunicação (THOMPSON, 2010, p.3). O
atingí-lo, tanto de modo presencial com os indivíduos que
advento leilão em si também deve manter uma energia alta
estão ali presentes quanto por telefonemas ou lances vindos
durante todo o seu processo para que as compras sejam bem
da internet. Neste processo, o comprador tem pouco tempo
Vamos comprar arte!
27
para avaliar a obra e efetuar seu lance antes de algum outro
ganhar’ o leilão”12 (ZIMMERMANN, 2011, p.7).
indivíduo (ZIMMERMANN, 2011). Este comportamento,
Esta sensação pode ser influente no aumento dos lances
conforme aponta Zimmermann (2011) e Thompson (2010)
e ser afetada por outros efeitos, como a pressão do tempo.
em seus estudos, aumenta a competitividade do leilão e torna
Isto porque, nos leilões, os participantes usualmente tem
quase insignificante o valor estético da obra, valendo-se muito
pouco tempo para avaliar a peça e tomar uma decisão sobre
mais da rivalidade e da competição, pois o leiloeiro é treinado
se dará um novo lance, já que “os apostadores são altamente
para colocar um indivíduo contra o outro e encorajá-los a
estimulados e impossibilitados de pensar claramente, e como
não desistirem (THOMPSON, 2010). Conforme acrescenta
as decisões precisam ser tomadas rapidamente, os apostadores
Zimmermann, aproximadamente 93% dos colecionadores já
continuam apostando”13 (KU apud ZIMMERMANN, 2011,
aumentaram seus lances somente para aumentar suas chances
p.7). Para efeitos de dimensão deste comportamento, de acordo
de ganhar (ZIMMERMANN, 2011).
com o autor, o tempo estimado do leilão de um item é de 5
O leilão de arte traz contigo diferentes particularidades
minutos, o que aumenta a pressão para seu fim. Durante estes
no que concerne à sua psicologia. Em primeiro lugar, é válido
lances, em geral os apostadores acabam achando que estão
notar que 98% dos leilões alcançam preços cerca de 15%
chamando muito mais atenção do público do que realmente
maiores do que em sites de varejo, talvez simplesmente pelo
estão. Isto porque os espectadores acabam influenciando o
processo de compra ser mais envolvente (ZIMMERMANN,
comportamento humano através da sua presença no evento.
2011). Estas e diferentes atitudes que acontecem ao longo
(ZIMMERMANN, 2011).
do leilão parecem ter diferentes motivos e são divididas para
Podendo ser tanto indivíduos que não estão
Zimmermann (2011) entre os efeitos relacionados ao leilão
participando do leilão quanto apostadores, chamar a atenção
em si e aqueles ligados diretamente aos seus resultados.
dos presentes, em combinação com a pressão do tempo e
Dentro dos efeitos relacionados ao leilão estão a percepção de
o desejo por ganhar o item em questão, faz com que um
propriedade, a pressão do tempo, o efeito de estar chamando
outro sentimento se desperte: o da rivalidade, que conforme
atenção dos presentes no evento e o sentimento de rivalidade.
levanta Garcia (2013), está relacionado à busca pela
A primeira delas, a percepção de propriedade, está
proteção da superioridade individual frente à comparação
relacionada à sensação de que ser o indivíduo com o maior lance
social que acontece durante o leilão. Esta competitividade
em um leilão o torna vencedor do item em questão, mesmo
é influenciada pelo fato de que, como aponta Wolf (2006),
sem tê-lo ganho, já que ele pode ser afetado por “[...] ‘crenças
os participantes do leilão frequentemente o discutem em
probabilísticas’ sobre os resultados do leilão. Nos leilões, isso
termos de ganhadores e perdedores. Assim, entrando numa
se refere ao fenômeno de que o indivíduo com o maior lance
espécie de “febre do leilão”, os apostadores são tomados por
pode perceber um ‘aumento na expectativa [subjetiva] de
um sentimento de irracionalidade que os leva a aumentarem
Vamos comprar arte!
28
Mas todas essas implicações aparecem no leilão
seus lances (WOLF, 2006). Todos estes efeitos acabam repecurtindo em sensações
online também? Após a compreensão da configuração do
relacionadas aos resultados do leilão. Conforme aponta
mercado de arte, dos principais intermediários e agentes deste
Thompson (2010) em seus estudos, “arrependimentos, mágoas
setor e das particularidades e características dos leilões, tanto
e desgostos são sentimentos que os leiloeiros entendem e
no modo como eles acontecem quanto em suas implicações
exploram” (THOMPSON, 2010, p.10), já que os apostadores
psicológicas, passamos agora a compreender as características
podem se arrepender por perder uma obra de arte que eles
particulares do leilão online, oriundo do surgimento e da
pensaram que poderiam possuir. Por outro lado, a vitória
expansão da internet em todo o mundo.
também pode trazer decepções. De fato, como aponta o autor,
9 Original: “[...] ‘probabilistic beliefs’ about the outcome of a situation. In auctions, this refers to the phenomenon that the current high bidder in an auction may perceive an ‘increase in the expected [subjective] probability of winning’ the auction” (ZIMMERMANN, 2011, p.7). 10 Original: “Bidders are highly aroused and unable to think clearly, and since decisions need to be made quickly, bidders keep bidding” (KU apud ZIMMERMANN, 2011, p.7).
a cada oito compradores bem sucedidos, ao menos um deles
3.4
se surpreende com o valor que terá que desembolsar pelo
item que ganho (THOMPSON, 2010). Como complementa
Apesar de parecer o primeiro modelo de leilão à distância,
o autor,
o modelo online foi precedido pelos leilões que aconteciam
Esta sensação é bem familiar às pessoas que adquiriram sua primeira casa e, na manhã seguinte, acordaram em pânico: “Com quanto me comprometi?”. A casa de leilões reassegura a realização da compra, mesmo se não solicitada. Para tanto, o comprador pode receber uma ligação de um especialista da casa de leilões, no dia seguinte, felicitando-lhe pela aquisição. O especialista reafirma a sua sábia aquisição, além de ressaltar que a obra adquirida estará à altura de suas expectativas (THOMPSON, 2010, p.15)
No entanto, este tipo de arrependimento parece pouco comum
O leilão em pixels
através do correio em 1870 nos Estados Unidos, em que os apostadores enviavam suas apostas através de cartas. Hoje, muitos destes leilões deixam de acontecer por este sistema analógico e passam a integrar o sistema digital, a partir do surgimento da internet, que representou uma inovação tão disruptiva na sociedade que, para Castells (2003), ela é considerada fundamental. Em suas palavras, A internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o que
das marcas na hora da compra, podendo dizer que compraram
a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana (CASTELLS, 2003, p.7).
um quadro de Picasso na Christie’s ou um Francis Bacon na
Neste sentido, é natural que, com atividades econômicas,
Sotheby’s, por exemplo (THOMPSON, 2010).
sociais e políticas agora sendo estruturadas na internet, os
e as casas leiloeiras os consideram de pouca importância (THOMPSON, 2010). Comprar em casas leiloeiras prestigiadas também minimiza estes efeitos, como explica o autor, já que os apostadores levam em consideração a reputação e a tradição
Vamos comprar arte!
29
leilões online pareçam ser um sucesso em vendas, com casas
Participar de um leilão online parece relativamente
internacionais exclusivamente online tendo mais de 100% de
mais simples do que um leilão tradicional. Isso porque, em
lucro anual e com este mercado somando 1 bilhão de dólares
primeiro lugar, há a eliminação das barreiras geográficas dos
em 2013 (HISCOX, 2015).
leilões tradicionais, permitindo que pessoas de diferentes
Mas quais as diferenças da dinâmica do leilão tradicional
partes do mundo possam participar de qualquer leilão, o que
para o online? Para observá-las, exploramos a dinâmica de
gera uma sensação de conveniência (ARIELY e SIMONSON,
funcionamento das casas leiloeiras exclusivamente online
2010). Vaz (2011) complementa sobre este ponto que “o
Paddle8 e The Auction Room, citadas ao longo dos estudos
conceito geográfico não tem mais o mesmo significado que
da Hiscox (2014 e 2015). A primeira delas, a Paddle8, de
nossos pais e avós costumavam conhecer [...]. Na economia
acordo com o report da Hiscox (2015), foi fundada em 2011
digital, as distâncias [se] limitaram a um clique” (VAZ, 2011,
e possui escritórios nos Estados Unidos e em Londres. Ela
p.80). Assim, a internet permitiu que muitos indivíduos
se foca no mercado mediano, que possui como ticket médio
participem de eventos que eles provavelmente perderiam
$1.000 e $100.000 a cada compra e lucrou mais de $50
se não fosse online, seja por problemas de mobilidade, seja
milhões, enquanto o volume de apostadores quadruplicou com
por conta dos altos custos que podem estar envolvidos com
relação ao ano anterior. A casa realiza leilões de arte, peças
viagens, hospedagens e entradas nos leilões (SYNOVATE,
de design, relógios e joias em leilões temáticos semanais e
2009). Este distanciamento também produz um sentimento
leilões beneficentes em parceria com diferentes instituições,
de conforto ao parecer ser bem menos intimidante do que
com todas as peças sendo validadas por experts e instituições
frequentar uma casa de leilão física, pois como aponta uma
parceiras. A Paddle8 ainda se foca em solucionar os problemas
pesquisa da Hiscox (2014), o mundo da arte frequentemente é
dos leilões online que preocupam os consumidores (conforme
percebido como exclusivo e inacessível a novos compradores,
conhecemos acima) desenvolvendo uma plataforma intuitiva
e 40% dos indivíduos sentem que comprar pela internet é
e fácil de usar (HISCOX, 2015). Seguindo o mesmo princípio
mais confortável.
de funcionamento da Paddle8 encontra-se a The Auction
Assim, o consumidor é convidado a entrar
Room, fundado em 2013 em Londres. A principal vantagem
com seu login, que em geral pode ser tanto através do
competitiva desta casa é a oferta de tecnologia através de
preenchimento de um cadastro quanto através de sua
excelentes fotografias e apresentações das obras a serem
conta no Facebook. A partir de então, ele é livre para
leiloadas, mais uma vez focando em resolver os problemas
explorar os diferentes leilões que estão acontecendo,
levantados pelo estudo da Hiscox (2014). Assim como a
uma dinâmica repetida em todos as casas leiloeiras que
Paddle8, ela também se foca no mercado mediano e autentica
citaremos adiante neste capítulo.
as suas obras com especialistas no setor (HISCOX, 2014).
Vamos comprar arte!
30
FIGURA 02 – LEILÃO PADDLE 8
deslocar fisicamente até uma loja e encontrar o produto para ter acesso a ele, a seu preço e sua descrição. Na internet, esta barreira geográfica praticamente inexiste, pois o consumidor está a poucos cliques de distância de uma infinidade de produtos, além de fotos, vídeos e, possivelmente, comentários de outras pessoas que já compraram aquele produto e deram sua opinião sobre o mesmo (VAZ, 2011). De fato, conforme o estudo da Hiscox, a principal vantagem dos leilões online para os seus participantes é a possibilidade de encontrar obras de arte e artistas que não seriam facilmente encontrados em espaços físicos como as galerias, os museus e as casas de leilão (HISCOX, 2014).
Estas casas online também dispõem de imagens
em alta resolução e zoom expandido, que permitem aos indivíduos observarem os mínimos detalhes de cada item. Isto acontece porque eles em geral se preocupam com as Fonte: Paddle814
diferenças que podem aparecer entre o objeto exposto na internet e aquele que receberem em suas casas, o que gera
11 Disponível em https://paddle8.com/ work/yoshitomo-nara/77202-dreaming-in-the-fountain/. Acesso em 19/08/2015.
Na página de um item leiloado normalmente constam todas as
dúvidas quanto a sua autenticidade, já que os apostadores
informações acerca do artista e da obra, como as dimensões,
tem receio de comprar uma peça que seja falsa, seja por
a descrição, o material usado, o histórico do artista e outras
receio da procedência da mesma ou por falta de confiança
obras do mesmo. Mesmo com pequenas variações entre os
em uma casa de leilão (HISCOX, 2015). No entanto, como
sites, a dinâmica de disposição de informações dos itens
aponta o estudo da Hiscox (2014), as casas leiloeiras hoje
leiloados é basicamente a mesma. Deste modo, os sites
em dia possuem recursos para minimizar estes danos, como
permitem aos indivíduos encontrarem muito mais facilmente
a publicação de imagens em alta resolução com zoom extra
dados sobre artistas e obras antes de participarem do evento,
e imagens em 3D para melhor verificação dos detalhes
a possibilidade de poderem encontrar novos artistas de todo o
da obra, além de projeções em alta realidade para que os
mundo e a diversidade de obras, artistas e leilões disponíveis
indivíduos possam projetar as obras na parede de sua casa e
na internet (HISCOX, 2014). Assim, quando interessados por
verificá-la (HISCOX, 2015).
uma obra no consumo tradicional, os indivíduos precisam se
Essas novas tecnologias transformaram o modo
Vamos comprar arte!
31
como os indivíduos interagem com os produtos na internet
também é dissolvida com os leilões pela internet, que tem
e reforçam a saturação de imagens e símbolos refletidas por
uma duração atípica aos leilões tradicionais. Ao passo que
Barbosa (2004) como um meio de incentivo ao consumo
estes duram apenas um dia, os leilões online podem durar
frente à profusão de bens à disposição dos indivíduos.
uma semana inteira e estão disponíveis 24 horas por dia
Isto porque, ao passo que no consumo tradicional temos a
(BECHERER, 2004), permitindo lances assíncronos e dando
presença física dos mesmos, ou seja, em que é possível
aos apostadores um tempo maior para refletir sobre seus
tocar, manusear e experimentar o objeto, na internet estas
atos (ARIELY e SIMONSON, 2010). Mesmo assim, como
diversas manifestações visuais, verbais e sonoras que as
acrescenta Ockenfels (2002), muitos lances de última hora
novas tecnologias permitiram desenvolver fazem com que
acontecem nestes eventos e cerca de 86% dos participantes
os indivíduos tenham que ficar abertos à imaginação e criem
deste tipo de leilão já foram vítimas de problemas de conexão,
fantasias diversas a respeito dos objetos (BAIRON e KOO,
o que os levou à perda do item.
2012), como no caso da experimentação de um óculos através
Neste sentido, ao longo do leilão online o apostador
de realidade aumentada, em que é possível através do recurso
pode enfrentar os mesmos sentimentos de um leilão
da câmera de dispositivos móveis como celulares, tablets e
tradicional, como a possessividade por um item, a ansiedade
computadores, projetar a imagem de um óculos no rosto do
da competição frente a presença de outros indivíduos e a
indivíduo interessado em comprar um novo. Estas discussões
excitação em aumentar seus lances para vencer (ARIELY e
remetem ao hiperconsumo proposto por Lipovetsky
SIMONSON, 2003). No entanto, os leilões online guardam
(2007), em que as marcas passam a considerar experiências
uma maior liberdade do indivíduo em escolher se este deseja
afetivas e sensoriais dos consumidores em seus esforços de
ou não entrar em um determinado leilão, podendo explorar
comunicação, como uma maneira de estimulá-los às compras.
diferentes itens e realizar diversas pesquisas antes tomar a
Mas, retornando à dinâmica dos leilões online, como
decisão de realizar um lance, algo que não acontece nos leilões
as casas garantem que o indivíduo receberá seu dinheiro de
tradicionais, em que os consumidores são levados a tomar
volta caso a obra não seja o que ele esperava? Este é um
decisões rápidas e possuem informações advindas somente
dos receios dos apostadores em leilões online de acordo
dos catálogos do evento (ARIELY e SIMONON, 2003).
com o estudo da Hiscox (2015). Para o instituto, as casas
leiloeiras devem fornecer um período de garantia de 30
para a compra de obras de arte por leilão contribui para o
dias para devolução, o que para 70% das pessoas indica
fluxo constante e exponencial de informações que circulam
um importante fator decisivo na participação de um leilão
por todo o mundo em instantes (BAIRON e KOO, 2012),
online (HISCOX, 2015).
uma característica inerente da sociedade líquida proposta
Além da barreira do espaço, a barreira do tempo
Toda essa profusão de atividades realizadas na internet
por Bauman (2005), em que as informações trafegam rápido
Vamos comprar arte!
32
pela sociedade e se dissipam na mesma velocidade com
TABELA 01 – Semelhanças e diferenças entre os leilões
que vieram. Lemos (2002) exemplifica essa crescente de
offline e online
informações explicando como ela afeta o modo de interação dos indivíduos com a internet: Não navegamos a rede como assistimos TV, ouvimos rádio ou lemos jornais e revistas. Ligar a TV é ver televisão, ligar o rádio é ouvir emissões, mas e a internet? Não sabemos o que o internauta está fazendo: ele pode estar em um chat com alguém do Sri Lanka, navegando um site americano, lendo um jornal russo, ouvindo uma rádio francesa e tudo ao mesmo tempo. Nas mídias de massa existe um foco sensorial privilegiado [...] sendo o fluxo da informação unidirecional. No ciberespeaço não. Este possibilita a simultaneidade sensorial e o fluxo bidirecional da informação [...] além da interatividade. Talvez McLuhan estivesse certo: entramos na era da retribalização do mundo (LEMOS, 2002, p.123)
Deste modo, conseguimos entender como a visão de Lemos se aplica ao consumo de arte por leilões online, diante das
OFFLINE
ONLINE
Localização
Espaços físicos das casas leiloeiras
Websites na internet
Duração
Um dia
De um dia a uma semana
Disponibilidade de informação
Pressão do tempo
Autenticidade da obra
Disponíveis no site da casa Catálogos e eventos pré leilão leiloeira ou através de sites de busca como o Google Alta somente no final do Alta período do leilão Participantes podem usar Participantes podem verificar recursos online como fotos as obras pessoalmente durante em alta resolução e em o leilão ou em eventos pré 3D, além de projeções em leilão realidade aumentada
Possessividade com o item leiloado
Presente
Sentimento de arrependimento
Presente
Sentimento de estar chamando atenção do público em demasia
Presente
diferentes dinâmicas que se consolidam em torno desta atividade para torná-la uma facilidade aos colecionadores
No quadro acima traçamos as principais diferenças entre os
interessados.
leilões tradicionais e os exclusivamente online, com base na visão dos autores Ariely e Simonson (2003), Thompson (2010) e Zimmermann (2011), além dos estudos da Hiscox (2014;2015). Nele, organizamos os principais pontos compreendidos ao longo deste capítulo de uma maneira que nos permite visualmente perceber as particularidades de cada modalidade de leilão. Deste modo, entendemos que, ao passo que em ambas
Não presente por conta do usual anonimato possível pelas casas leiloeiras exclusivamente online
Vamos comprar arte!
33
as modalidades os indivíduos enfrentam a posessividade com
estudos recorrentes da Hiscox (2014 e 2015) apontaram como
o item leiloado e um possível sentimento de arrependimento
interferências na compra de obras de arte nas plataformas
da vitória ou da perda do mesmo, os leilões online romperam
digitais, como a falta de informação, o receio em receber
as barreiras de espaço e tempo dos leilões tradicionais e
obars diferentes do esperado, a preocupação com o transporte
possuem dinâmicas diferentes com relação à disponibilidade
e com a devolução das obras. Deste modo, temos as bases
de informações sobre artistas e obras leiloadas, à pressão do
para compreender em maior profundidade os impactos do
tempo ao longo do leilão, aos mecanismos de verificação da
surgimento da internet nos leilões de arte online através de
autenticidade de uma obra e ao sentimento dos indivíduos de
uma pesquisa qualitativa com c olecionadores deste setor.
estarem chamando atenção do público em demasia. É neste sentido que temos consolidadas as bases para a realização da terceira etapa deste projeto, onde verificaremos os diferentes pontos levantados ao longo desta discussão através de uma pesquisa qualitativa com diversos colecionadores de obras que consomem em leilões exclusivamente online. 3.5
Síntese do capítulo
Ao longo deste capítulo compreendemos a divisão do
mercado da arte entre o primário e o secundário. Entendemos as características dos principais agentes e intermediários deste setor, como os críticos, os colecionadores, as galerias de arte e as casas de leilão, nas quais nos aprofundamos em discutir as suas características e a dinâmica de funcionamento dos seus eventos, além de conhecer as principais implicações do leilão na psicologia do consumidor. A partir de então passamos a compreender os leilões online e suas principais diferenças frente o leilão físico, principalmente nos termos de sua dinâmica. Por fim, conhecemos as principais casas de leilão exclusivamente online internacionais e nacionais, validando a preocupação destas em solucionar os problemas que os
4.1 4.2 4.3 4.3.1 4.3.2 4.4.
Introdução ao capítulo Metodologia de pesquisa Análise dos resultados O consumo de arte A compra de arte pela internet Síntese do capítulo
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
4.1
Introdução ao capítulo
35
Esta entrevista será do tipo focalizada, que, nas
palavras de Manolita Lima (2008), se propõe a explorar um Em seu livro Metodologia do trabalho científico (2010),
tema bem definido e delimitado. Conforme ela complementa,
Severino explica que a ciência se constitui da aplicação de
O contato se expressa livremente sobre o assunto investigado, embora, quando eventualmente divaga ou se desvia dos aspectos trata- dos, o entrevistador possa interferir sobre o curso da comunicação na tentativa de res- gatar o objeto da discussão. Na prática, observa-se a existência de um roteiro oculto, previamente construído, em que o pesquisador tem o cuidado de enumerar os tópicos relevantes sobre o tema/problema tratados e, em função dos objetivos da pesquisa e do domínio sobre o assunto revelado pelo contato, o pesquisador vai formulando ao longo da entrevista as questões que julgar relevantes e pertinentes (LIMA, 2008, p.119)
diferentes técnicas e métodos de investigação, tanto sobre a natureza quanto sobre os próprios indivíduos. Neste capítulo, compreender a influência do surgimento da internet no processo de compra de obras de arte por leilão para os consumidores através de 5 entrevistas em profundidade e uma pesquisa quantitativa com 30 consumidores de arte por leilão online 4.2
Metodologia de pesquisa
Com o objetivo de compreender a influência do
surgimento da internet no processo de compra de obras de arte por leilão para os consumidores, esta pesquisa será
Neste sentido, trabalharemos com um roteiro pré-definido
dividida em duas etapas. A primeira delas é a realização de 5
que orientará as discussões com os entrevistados, explorando
entrevistas em profundidade, com indivíduos que compram
a fundo a compra de obras de arte por leilões online. Estas
ou já compraram obras de arte por leilão online, selecionados
entrevistas foram realizadas entre os dias 18 de Setembro
aleatoriamente através da rede social Facebook em grupos
e 24 de Setembro, através do meio online em conversas
especializados em compartilhar conhecimentos e obras de
pelo Facebook, por conta do distanciamento físico dos
arte. A técnica em questão vale-se de uma interação entre
respondentes que mais consomem arte em leilões online.
pesquisadores e pesquisado, visando “[...] apreender o que os
sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam”
visão aprofundada do impacto da internet no consumo, no
(SEVERINO, 2007, p.124) e, conforme Lima (2008)
consumo de arte e nos leilões online, além de conhecermos as
complementa, podem averiguar fatos, identificar a opinião de
principais vantagens e desvantagens deste modelo de compra
diferentes pessoas sobre um assunto, identificar e interpretar
e as mudanças deste para o leilão presencial. A segunda parte
a ação de pessoas em diferentes aspectos.
desta pesquisa compõe-se da realização de uma pesquisa
A partir deste estudo, conseguimos obter uma
quantitativa, orientada pelo raciocínio hipotético-dedutivo,
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
36
priorizando informações que podem ser quantificadas,
da internet na compra de obras de arte por leilões online. A
coletadas e processadas com recursos estatísticos (LIMA,
análise foi feita a partir da realização de um quadro-resumo
2008). Realizaremos este questionário com 30 indivíduos
com os principais pontos levantados pelos respondentes em
que, novamente, compram ou já compraram obras de arte
cada questão e a partir da quantificação das respostas da
por leilão online, selecionados aleatoriamente através da rede
pesquisa quantitativa, a fim de se organizar um panorama
social Facebook em grupos especializados em compartilhar
geral das opiniões concedidas em cada ponto e de se perceber
conhecimentos e obras de arte.
os pontos de paridade e diferença entre elas.
Neste sentido, para a realização desta pesquisa foi
construído um questionário com um conjunto de questões
4.3.1 O consumo de arte
sistematicamente articuladas, “[...] que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com
Como vimos com Benjamin-Houet (2008), existem
vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos
vários intermediários que colaboram para o funcionamento
em estudo” (SEVERINO, 2007, p.125). O envio deste
do comércio de obras de arte. Neste projeto, nos atentamos
questionário aos respondentes aconteceu entre os dias 26 de
aos colecionadores, que adquirem obras de arte motivados
Setembro a 29 de Setembro pelo Facebook e usou a plataforma
principalmente pelo hábito familiar (37% dos respondentes),
digital Qualtrics para a sua realização e para a compilação dos
por sempre terem se interessado por arte (20%) e por verem
dados.
ela como uma importante fonte de investimento (20%).
Deste modo, realizado o planejamento e a realização
Conforme aponta o entrevistado 02, “eu sempre colecionei
das duas etapas desta pesquisa, isto é, as 5 entrevistas em
coisas, selos, moeda, soldadinho de chumbo.. E fui criado
profundidade e a validação das respostas com um questionário
em meio a um ambiente de arte...[...] Então juntando o lado
quantitativo realizado com 30 respondentes, temos as
colecionista com esse lado de interesse [...] o bichinho da arte
bases para analisar as respostas e observar os impactos do
me pegou”. Alguns entrevistados mencionaram também a
surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão.
vontade de possuir objetos que admiram esteticamente em suas casas, apenas para fins de contemplação, desejo que reflete as
4.3
Análise dos resultados
discussões de Benjamin (2012) sobre como a reprodução da obra de arte e a sua inserção em lugares onde ela não estaria
Com o objetivo de facilitar a análise das pesquisas
fazem com que as obras percam a sua quintessência, isto é, a
realizadas, dividiremos as respostas em três grupos distintos:
sua aura singular, tornando-se cada vez mais voltadas para a
o consumo de arte, a compra de arte pela internet e o leilão
reprodutibilidade e o comércio.
de arte online, a fim de verificar os impactos do surgimento
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
37
Essa liberdade de escolha ligada à individualidade e às experiências sensoriais e afetivas dos sujeitos nos remetem às discussões de Barbosa (2011) sobre o consumo contemporâneo, destacando este novo padrão não apenas de comportamento de consumo como também, como apontava Lipovetsky (2007), da comunicação por parte das marcas, que passaram a considerar estas experiências em seus esforços. GRÁFICO 01 – MOTIVAÇÕES PARA A COMPRA DE ARTE Como você classifica as motivações de compra abaixo? (números absolutos) Identidade e status
16
11
3
Aspectos sociais
18
9
3
Benefícios emocionais
4
5 Pouco importante
Essas motivações também podem ser observadas sob um ponto de vista mais amplo, analisando os fatores do gráfico 01, que foram levantados em um estudo da Hiscox (2014) sobre o mercado de arte. Nele, estudamos alguns aspectos da segunda fase do consumo, que como vimos, carregam a visão de que o consumo é analisado como uma atividade carregada de significado. Estas motivações, no consumo de arte, de acordo com os respondentes, são principalmente os benefícios
21 Importante
Muito importante
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
38
emocionais ou a paixão pela arte envolvidos na compra deste
O problema dessa expansão da reprodução das obras
mercado, que são considerados em geral muito importantes
de arte, de acordo com 3 dos 5 entrevistados em profundidade,
para a compra de arte. Por outro lado, os aspectos sociais ou
é a questão da qualidade das obras de arte no que concerne à
o desejo de fazer parte de um grupo social são considerados
sua autenticidade. Conforme nos compartilha o entrevistado
pouco relevantes, bem como a identidade e status envolvidos
04 sobre esta questão, essa discussão não é nova porque, no
na compra de obras de arte.
início do século XX, as obras de arte expostas em museus
Essa discussão sobre o que impulsiona a compra de
nos EUA já eram réplicas de alguma obra de arte famosa
arte resgata as discussões de Lipovetsky (2015) sobre o boom
por questões de segurança, levantado na época diferentes
estético que permeia o consumo e a sociedade, já que a estética
questões a respeito do conhecimento técnico do público e
e a arte passaram a penetrar na indústria comercial e o seu
dos colecionadores a respeito da veracidade do que veem
comércio aumentou. Esse crescimento, como lembramos com
e consomem. Hoje, este cenário não parece ser diferente e,
Benjamin (2012), foi possível com a reprodução das obras
como o entrevistado 03 comenta, “[...] me parece que falta
de arte, que como percebido pelo autor e pelos respondentes
alguma regulação nesse mercado, [pois] há muita coisa
da pesquisa, não só sempre existiu como também, de acordo
falsificada e é preciso algum treinamento, alguma expertise
com o entrevistado 01, “sem a divulgação das imagens, seria
para não comprar gato por lebre. Tarsila do Amaral, por
impossível qualquer tipo de comércio, online ou via catálogo
exemplo, tenho visto falsificações grosseiras de gravuras a
físico”, ou seja, o mercado de arte não teria o mesmo alcance
preços inacreditáveis”.
se esta multiplicação e disseminação das obras não tivesse
Essa falsificação das obras de arte parece ter sido escalada para as casas leiloeiras que as comercializam. Elas
acontecido. Como complementa o entrevistado 03, O mercado de arte sempre foi muito inacessível. Com a reprodução de obras a um preço justo, a chance de ter algo que você gosta em casa é muito maior, é claro, com o aval do artista e tudo nos conformes. A chance de incentivar um novo artista também. Há galerias, em SP por ex., que têm se especializado nisso.
precisam não apenas comunicar a autenticidade das obras que vendem como também convencer seu público de que é uma marca confiável e respeitada no mercado, já que a partir da segunda fase do consumo o aparecimento e crescimento das marcas tranformou a relação do consumidor com os varejistas da época, fazendo os sujeitos se tornarem cada vez mais independentes dos comerciantes e a julgar os produtos
Deste
modo,
compreendemos
que
não
apenas
a
por suas marcas e não apenas nas palavras dos vendedores
reprodutibilidade aumentou o alcance da compra de obras de
(LIPOVETSKY, 2007). Não é a toa, neste sentido, que
arte, como também incentivou novos artistas a entrarem neste
os entrevistados comentaram que as casas leiloeiras estão
mercado e fomentá-lo.
adotando posturas cada vez mais parecidas com a de
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
39
uma verdadeira corporação, recebendo constantemente
pela numeração da reprodução, ou se tem dedicatória ou
comunicações via spam, e-mail e redes sociais sobre as
não, etc”. Essa discussão sobre o prestígio nos remete às
novidades dessas casas, os artistas que elas representam, suas obras e os eventos que elas realizam.
argumentações de Barbosa (2004) sobre a renda e a posição
Conforme já anunciava Benjamin-Houet (2008), as
social lentamente deixarem de ser um impeditivo ao consumo,
casas leiloeiras usam diferentes técnicas de marketing para
passando de uma pirâmide social para a multiplicidade de
estimular o interesse dos colecionadores, o que ajudou a
grupos sociais, em que obras mais baratas e artistas mais
ampliar, como vimos com Lipovetsky (2007), o alcance das
novos podem ser acessados por diferentes grupos e perfis
obras de arte, modificando em partes a relação entre o consumo
de colecionadores e consumidores. Neste sentido, conforme
de arte e o prestígio social para todos os respondentes, já que
vimos com Lipovetsky (2007) e Veblen (2004), o consumo
obras menores e mais baratas parecem ter se disseminado
atrelado ao desejo e às motivações para o consumo que foram
mais facilmente em ambientes como a internet. Conforme
elencadas anteriormente neste capítulo para a compra de
complementa um dos respondentes,
obras de arte, ajudam a construir a visão de que os objetos e
Obras de arte vendidas pela Internet são obras menores, menos conhecidas, muito menos valorizadas, etc. O fato de eu, um simples professor universitário, poder pendurar um Fiaminghi ou uma Mira Schendel na parede não faz subir um milímetro meu conceito social diante de um “verdadeiro” colecionador, isto é, uma pessoa que pode comprar uma tela por 1 milhão de dólares.
as obras eram e ainda são, em alguns casos (principalmente de artistas raros e caros), fontes de prestígio e de afirmação social em um grupo.
É válido notar, ainda, que este alcance das obras
de arte, a mudança de postura das casas leiloeiras e a expansão da reprodutibilidade das obras se acirarram com o surgimento da internet, pois conforme vimos com Bairon e Koo (2012), ela não só possibilitou um aumento no fluxo
Para eles, apesar da arte continuar sendo supérflua,
de informações neste meio para um público maior como
os leilões (principalmente os online), possibilitaram aos
também transformou o comportamento dos consumidores.
indivíduos que se sentiam desconfortáveis em adquirir
É neste sentido, portanto, que passaremos a analisar
obras por falta de conhecimento, ter acesso à diversas
os principais pontos referentes à compra de arte pela
informações sobre artistas, preços e peças de arte. Ainda, de
internet levantados na pesquisa realizada para este estudo,
acordo com um dos respondentes, os leilões de arte possuem
verificando as principais vantagens e desvantagens deste
obras que por vezes são desprezadas por colecionadores
modelo de compra e suas implicações no comportamento do
mais experientes, criando-se uma “[...] hierarquia que se
consumidor com base nas pesquisas realizadas.
criou pela raridade da obra, pelo prestígio do artista ou
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
40
4.3.2 A compra de arte pela internet
específicos em vários locais e em tempo real”. São diversas as casas leiloeiras exploradas pelos colecionadores e conhecidas
Após compreender as principais questões relacionadas
pelos mesmos. Destacam-se, dentre as comentadas por 60%
ao consumo de arte, passamos neste momento a analisar como
dos entrevistados, a Tableau, uma galeria que de acordo
como os colecionadores compram obras de arte pela internet,
com Robertson (2011) é uma casa fundada em 1975 que
um espaço que, como vimos, é cheio de possibilidades de
comercializa através de leilões online obras de artistas como
interação, compra e venda de bens de consumo (BAIRON
Portinari, Antonio Bandeira e Di Cavalcanti.
E KOO, 2012). De acordo com 60% dos entrevistados, este consumo veio de práticas do próprio meio digital, através
GRÁFICO 02 – PREFERÊNCIA POR EXPERIÊNCIA
do recebimento de e-mail marketing, e-mails com convites
DE COMPRA
para participar de um leilão online e pesquisas em sites Qual experiência de compra você prefere?
especializados no setor, como o Artprice15. Conforme nos conta o entrevistado 01 sobre o início de sua experiência nos leilões online,
Conheci as casas de leilão online como um simples desdobramento de um mercado que acompanho há muitos anos. Foi uma evolução natural e necessária nos dias de hoje. Não existiu propriamente uma grande campanha para isso, as casas de leilão tiveram que ir se adaptando a isso e as que não o fizeram, foram ficando para trás.
Indiferente Offline Online
37%
23%
40%
É interessante notar, através do gráfico 02, que 40%
dos entrevistados pela pesquisa quantitativa preferem a Mas o que motivou estes colecionadores a de fato
experiência de compra online de obras de arte, ao passo que
explorarem as casas leiloeiras online após o recebimento
37% estão indiferentes e 23% preferem às compras offline.
destes esforços de comunicação? Segundo 60% dos
Com relação à satisfação especificamente com as vendas
entrevistados, as principais motivações para essa exploração
online, 73% dos entrevistados apontam estarem satisfeitos,
estão ligadas à conveniência da compra online e à interesses
ao passo que 20% não estão nem satisfeitos nem insatisfeitos
pessoais em possuir obras de determinado período ou que
com a compra e 7% se consideram totalmente satisfeitos.
são comercializadas apenas em outros países. Conforme
Conforme complementa o entrevistado 01 com visão
acrescenta o entrevistado 03, motivou-o “certamente a
indiferente sobre o melhor meio para a aquisição de obras,
12 ArtPrice, segundo o próprio site, é a fornecedora líder mundial de informações sobre o mercado de arte, cobrindo mais de 4.500 casas leiloeiras e 570.000 artistas.
facilidade em acompanhar diversos leilões, peças e artistas
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
41
O leilão físico tem a vantagem da visualização “in loco”, a emoção da disputa presencial e também sentir a “temperatura” da sala em um determinado momento econômico ou político. O leilão online te possibilita participar de uma venda que muitas vezes seria impossível devido a distância. Assim sendo, acredito que ambas as formas são válidas e minha preferência varia muito de caso para caso.
Neste sentido, percebemos que era necessário compreender qual a satisfação dos compradores quanto aos diferentes aspectos que envovem a compra de obras de arte online, como a busca, o envio, o pagamento e a disponibilidade de informações. TABELA 02 – ASPECTOS DA COMPRA DE OBRAS DE ARTE ONLINE16 Aspecto Busca (foi fácil encontrar uma obra/artista) Envio (chegou em boas condições e no tempo estimado)
Pagamento (facilidade e segurança)
Informação (forneceram dados suficientes sobre uma obra)
Totalmente Insatisfeito insatisfeito
Nem satisfeito, nem insatisfeito
Totalmente satisfeito
1
1
2
15
11
1
0
7
18
4
1
0
7
18
3
3
4
5
13
5
Assim, sendo que esta satisfação está relacionada majoritariamente aos pontos mencionados na tabela 02 acima, percebemos que 50% dos colecionadores estão satisfeitos com a busca por uma obra ou artista, enquanto 60% estão satisfeitos com com o envio das obras que adquiriram, a facilidade e segurança do pagamento e ào fluxo de informações 13 Valores em números absolutos
Satisfeito
suficientes para suportarem uma compra online.
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
42
GRÁFICO 03 – Vantagens da compra de obras de arte pela internet Na sua opinião, quais as vantagens da compra de obras de arte pela internet? Variedade de obras e artistas Tempo maior para pensar na compra
13 9
Encurtamento de distâncias Obras mais baratas Privacidade e anonimato
21 11 15
Facilidade e conveniência na compra Acesso a informação sobre artistas e preços
Estes números são provenientes também das diferentes
vantagens do leilão online apontadas tanto pelos entrevistados em profundidade quanto pelos respondentes da pesquisa quantitativa. Os resultados da pesquisa apontam para as vantagens apontadas no gráfico 01 e nos remetem à discussão dos estudos da Hiscox (2014) e de Ariely e Simonson (2010) quanto à estas vantagens, em que são destacadas justamente a eliminação das barreiras geográficas, a sensação de conveniência relacionada à compra e ao acesso de informações e a privacidade e o anonimato envolvidos na compra como principais vantagens dos leilões online, pois conforme vimos anteriormente, 40% dos pesquisados pela Hiscox (2014) sentem mais confiança e conforto em comprar pela internet, pois acham que seu comportamento físico, como aponta Zimmermann (2011), chama mais atenção dos espectadores do leilão do que eles gostariam, fatos que foram reforçados com os resultados das pesquisas realizadas para este estudo.
22 14
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
43
GRÁFICO 04 – Desvantagens da compra de obras de arte pela internet Na sua opinião, quais as desvantagens da compra de obras de arte pela internet? Falta de mais opções de pagamento
7
Insegurança em pagar grandes quantias online
Insegurança na embalagem e transporte Possibilidade de comprar obras falsificadas Não poder ver a obra pessoalmente
Por outro lado, apesar de possuir diferentes vantagens, a compra de obras de arte por leilão online também guarda pontos de atenção, como nos mostra o gráfico 02. Percebemos que 86% dos respondentes apontam o fato de não poder ver a obra de arte pessoalmente como uma das maiores desvantagens da compra pela internet. Como reforça o entrevistado 01, A grande desvantagem, quando não se é possível, é o fato de não poder examinar as peças in loco. Atualmente, os leilões online vem suprindo essa demanda com a inclusão de diversas imagens e informações, como em uma pintura, por exemplo, sua imagem de frente e verso, selos de eventuais exposições, assim também como a maneira como está emoldurada. Obviamente, nada disso substitui um exame mais profundo, com a peça em mãos.
Essa insegurança, como apontado anteriormente nas entrevistas em profundidade, é gerada pelo alto número de falsificações no mercado de arte, fato que também é apontado
11 7 21 26
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
44
por 21 respondentes da pesquisa, colocando novamente em
a respeito dos leilões, como a pressão do tempo e o efeito
voga as discussões de Benjamin (2012) sobre as vantagens e
de estar chamando atenção dos outros participantes estejam
desvantagens da reprodutibilidade da arte.
mais aflorados através da presença física dos indivíduos em
um mesmo espaço e tempo.
4.3.3 O leilão de arte online
Por outro lado, os leilões online parecem mais frios e suscetíveis a falhas técnicas, apesar de quebrarem grandes
Observar os impactos do surgimento da internet no
barreiras de distância geográfica, que tornam possível a
processo de compra de obras de arte por leilão implica em
participação de um colecionador brasileiro em um leilão
compreender como os colecionadores conheceram as casas
na Europa, e permitirem a privacidade e o anonimato
leiloeiras, quais eles conhecem, seu primeiro envolvimento
dos compradores, que se sentem mais confortáveis por
com a compra de obras pela internet, as diferenças existentes
precisarem apenas de um apelido para entrarem no sistema
entre os leilões online e offline, o ticket médio destas compras,
de compras e não estarem submetidos a uma mesma sala com
os diferentes suportes que podem existir e servir de apoio
diferentes indivíduos que não conhecem. Conforme comenta
nesse processo e os impactos do surgimento da internet nesse
o entrevistado 03, “[...] um leilão online reflete exatamente
processo de compra.
o que está acontecendo em termos financeiros, ao passo que
Para isso, o primeiro ponto a ser analisado é a diferença
em um leilão presencial, nem sempre sala cheia representa
percebida pelos compradores entre os leilões presencial e
sucesso de vendas”. Isto implica em reconhecer a presença dos
online, com o objetivo de descobrir as particularidades de
espectadores nos leilões e de indivíduos que os frequentam
cada uma dessas dinâmicas. De acordo com as entrevistas
apenas para perceber a movimentação do mercado, conforme
em profundidade realizadas, os leilões presenciais parecem
aponta Thompson (2012). Podemos inferir também que
atrair um público com mais conhecimento e expertise
alguns efeitos que Zimmermann (2011) aponta a respeito dos
sobre o mercado e suas especificações, e que gostam e
leilões, como a pressão do tempo e a atenção chamada por
acham importante ter contato físico com com a obra, fazer
outros indivíduos, podem ser menores com a distância física
networking antes dos eventos com outros colecionadores e
dos participantes, já que os leilões digitais, de acordo com
leiloeiros, e serem vistos pelo público, como se o leilão fosse
Becherer (2004), podem durar não apenas horas, mas dias
um símbolo de afirmação social e pertencimento a um grupo.
e até semanas, possivelmente dispersando a tensão. Neste
Essas características nos remetem às discussões de Thompson
quesito, ao contrário do leilão presencial em que o tempo
(2010) sobre como os leilões são verdadeiros eventos,
para decisão de um lance é curto e a competitividade pode
com a presença e participação dos leiloeiros, além de que
tornar quase insignificante o valor estético da obra, o leilão
possivelmente os fatores que Zimmermann (2011) destaca
online pode resguardar um tempo extra para a sua admiração
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
45
estética, já que os tempos entre os lances podem ser mais
leiloeiras exclusivamente online no Brasil, os entrevistados
espaçados. Essa discussão levanta pontos sobre a questão da
citaram algumas em comum, como a Tableau e a Galeria
reprodutibilidade da obra de arte e a perda da sua aura por
Leilões, que comercializam obras de artistas como Portinari,
Benjamin (2012), já que esse tempo de contemplação da peça
DiCavalcanti e Antonio Bandeira através de um sistema
antes do lance, mesmo que através de recursos virtuais, pode
simples de lances.
compensar a perda total da aura das obras.
Uma questão que surge neste ponto é a respeito dos
Compreendendo essas diferenças, podemos entender
recursos que prestam suporte à compra. Isto porque os estudos
como os colecionadores conheceram as casas leiloeiras e
da Hiscox (2014 e 2015) apontam a existência de diferentes
quais eles conhecem. Os entrevistados nos mostraram como
tecnologias que servem para auxiliar a compra, como fotos
as casas de leilão naturalmente tiveram que se adaptar para
em alta resolução, fotos em 3D e até recursos de realidade
o mercado online e desenvolver modelos de comércio para
aumentada, tudo para que o consumidor possa validar a obra
ele. Neste sentido, alguns colecionadores, como o indivíduo
não apenas pelo seu valor estético mas também por questões
01, conheceram as casas online como desdobramento de um
como os detalhes e a condição das peças, já que não tem a
mercado que já acompanha. Em suas palavras,
oportunidade de validá-las fisicamente. De acordo com a
Conheci as casas de leilão on line como um simples desdobramento de um mercado que acompanho há muitos anos. Foi uma evolução natural e necessária nos dias de hoje. Não existiu propriamente uma grande campanha para isso, as casas de leilão tiveram que ir se adaptando a isso e as que não o fizeram, foram ficando para trás.
pesquisa quantitativa, 69% dos colecionadores consideram relevante outros recursos além dos mencionados, como a opção de falar pela internet com um expert ou um especialista em leilões. Outros 59% acham importante a casa leiloeira fornecer uma garantia de 30 dias para as obras e outros fatores que foram elencados como importantes, por ordem de relevância, são a importância de se obter mais informações sobre envio e pagamento das obras (41%), mais informações
Outras maneiras foram elencadas pelos consumidores.
sobre o artista (38%), imagens em 3D (38%) e projeção de
Alguns receberam indicações de amigos mais experientes
realidade aumentada (28%), fatores que foram elencados e
neste mercado, lhes indicando sites tanto para consulta
validados também pelos estudos da Hiscox (2014) sobre os
de preços e obras quanto de leilões online, e outros ainda
recursos importantes para suportar a compra online e justificar
receberam e-mails com convites das próprias casas leiloeiras
os altos preços que são alcançados por eles.
online para participarem de seus eventos, o que os deixou
No que concerne aos primeiros envolvimentos com
curiosos para se envolver. E quais as casas mais conhecidas
a compra online por parte dos colecionadores, os efeitos
pelos colecionadores? Apesar de existirem mais de 10 casas
de Zimmermann (2011) mais uma vez são resgatados e
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
46
reforçados pelos entrevistados, como no caso do indivíduo 02,
sem medo de fraudes ou roubos, como elenca os estudos da
que nos conta que ficou “[...] bem ansioso e com a adrenalina
Hiscox (2014 e 2015), quanto que os leilões online permitem
alta, principalmente por já ter perdido algumas tentativas
a existência de obras com uma grande variedade de preços,
de compra nos últimos segundos”. Já o entrevistado 03, por
servindo e alcançando diferentes públicos.
outro lado, destaca como foi a sua experiência e um ponto de reflexão para as casas leiloeiras. Conforme suas palavras: Foi a compra de uma serigrafia muito legal de um discípulo de Mabe. Conhecia a história e a peça era muito forte, chamativa e por isso me empolguei em comprar. A compra foi ótima, num preço bom e chegou em minha casa sem problemas. Mas nem sempre é assim, muitas casas demoram para enviar, cobram embalagem, exploram um pouco além do leilão.
Deste modo, percebemos uma das características levantadas pelo estudo da Hiscox (2015) referente às precoupações dos colecionadores no que concerne à compra online de obras de arte: a diferença entre o que se compra e o que se recebe.
Neste sentido, haja visto os pontos mencionados anteriormente com relação às diferentes características e aspectos da compra de obras de arte pela internet e por leilão, podemos compreender quais são os maiores impactos do surgimento da internet neste mercado. GRÁFICO 05 – IMPACTOS DO SURGIMENTO DA INTERNET NA COMPRA Quais são os principais impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão online? Democratização do acesso de obras através de peças mais baratas
19
Aumentou o número de obras falsificadas ou de baixa qualidade
20
Podendo divergir, muitos compradores consideram este um ponto de atenção dos leilões online, já que a obra perde a sua validade e sua veracidade com a reprodução falsificada, um fator que as casas leiloeiras precisam levar em consideração quando colocarem uma peça à venda. E quanto gastam esses colecionadores? De acordo
A compra de arte se popularizou
Artista conseguem vender mais suas obras pessoalmente
14
9
Alcance das obras aumentou com o encurtamento de distâncais
com a pesquisa quantitativa realizada, 47% dos respondentes declararam terem adquirido obras de arte com um ticket
De acordo com o gráfico 03 acima, os maiores impactos
que varia de R$1.000 a 5.000, sendo que 17% gastam entre
do surgimento da internet na compra por leilão online
R$5.000 e 10.000 e 7% mais de R$100.000. Estes dados
são o alcance das obras de arte pelo mundo através do
ajudam a comprovar não apenas que há consumidores
encurtamento das distâncias geográficas, que permitiram o
dispostos e confiantes a gastar grandes quantias pela internet
aumento do número de colecionadores participando destes
24
Okei,a internet chegou, mas o que mudou?
47
eventos, a expansão do número de obras falsificadas ou de
4.4
Síntese do capítulo
baixa qualidade que permeiam a indústria cultural e afetam as vendas e a democratização do acesso de obras através
Neste capítulo analisamos as cinco entrevistas em profundidade
de peças mais baratas, oriunda principalmente do mercado
e os trinta questionários quantitativos realizados para a
primário com artistas pouco conhecidos, que passam a poder
investigação da problemática desta pesquisa. Compreendemos
vender suas obras na internet através de venda direta aos
as principais questões relacionadas ao consumo de arte, como
colecionadores interessados.
as motivações para o consumo (que em sua maioria é oriunda
Conforme aponta o entrevistado 04, a internet “[...]
de relações familiares ou gostos pessoais) que nos remetem
abriu um número infinito de possibilidades de consumo”
às discussões de Lipovetsky, a opinião sobre a expansão da
através da facilidade e variedade de ofertas, pela comodidade
reprodutibilidade das obras de arte, que pode ter implicado em
e acesso à informações, como apontado pelo entrevistado 05,
uma ligeira queda da qualidade das obras e na falsificação de
Como lado negativo, [aponto] a facilidade da venda de obras de arte falsas no mercado. Como lado positivo, o maior impacto com certeza é a possibilidade ao acesso de todas as classes sociais no mundo fechado dos leilões e galerias, com obras de arte [sendo] oferecidas a partir de R$100,00.
outras, e que resgata as discussões de Benjamin, e as mudanças na relação da compra de obras de arte com o prestígio social, que se modificou com o surgimento da internet e com a diminuição das barreiras geográficas. Ainda, observamos as principais questões relacionadas à compra de obras de arte pela internet, como suas vantagens e desvantagens, como os colecionadores conheceram as casas leiloeiras, qual é a
Deste modo, o entrevistado resume tanto impactos positivos
mais conhecida, os sentimentos relacionados à compra e o
quanto negativos que a internet causou na compra de obras
ticket médio gasto no setor, remontando às discussões dos
de arte por leilões online. Conseguimos destacar, com a
diferentes estudos sobre este mercado. Por fim, observamos
realização desta pesquisa, portanto, que a compra de obras
os principais impactos da compra de obras de arte por leilão
de arte online parecem ser tão representativas e potenciais
online, compreendendo as principais diferenças entre os
financeiramente quanto os estudos da Hiscox (2014) e da Tefaf
leilões online e presencial, e a preferência de compra, que é a
(2014) apontam, visto não só o alto índice de preferência pela
digital. Neste sentido, fomos capazes de entender e analisar
compra online quanto os seus índices de satisfação e critérios
os principais impactos da internet na compra de arte em
apontados como relevantes para esta dinâmica.
leilões online.
Fim de leilão
49
Ao longo deste projeto buscamos responder a
capítulo, cujo objetivo era compreender como funcionam os
seguinte problemática de pesquisa: qual é a a influência do
mercados de arte físico e online, principalmente os leilões pela
surgimento da internet no processo de compra de obras de
internet. Para isso, entendemos a divisão do mercdo da arte
arte por leilão para os consumidores? Para isso, dividimos
entre o primário, formado por artistas que nunca antes haviam
este estudo em três partes. A primeira delas buscou entender
comercializado suas obras e o secundário, constituido por
a evolução da sociedade de consumo e o consumo estético
obras de revenda. Ajudam a construir este mercado diversos
na contemporaneidade, a fim de compreender as suas
intermediários, como críticos, colecionadores, galerias de arte
diferentes transformações ao longo do tempo. Para isso,
e casas de leilão, objeto deste estudo. Entendemos a dinâmica
com uma pesquisa bibliográfica percebemos o progresso
de funcionamento dos leilões e suas principais implicações na
do consumo sob as óticas de Barbosa (2004) e Lipovetsky
psicologia do consumidor, como a rivalidade, a ansiedade e a
(2007), que atribuiu à esse avanço quatro principais fases. A
pressão do tempo. Esses leilões possuem um funcionamento
primeira fase teve início após a Revolução Industrial e foi
semelhante no universo digital, mas esses últimos guardam
marcada pela passagem dos mercados locais pelos grandes
diferentes vantagens, conforme verificamos nos estudos sobre
mercados nacionais, que levou a uma massante difusão de
este mercado e na pesquisa realizada para esse projeto.
bens de consumo. Este crescimento exponencial deu início
à segunda fase através dos modelos de produção fordista
compreender as principais questões relacionadas ao
fabril e do desenvolvimento de propagandas, que na terceira
consumo de arte, à compra de arte pela internet e à
fase viriam a serem ampliadas através do atrelamento destes
compra específica por leilões online, através de uma
esforços de comunicação aos desejos, experiências e à busca
pesquisa qualitativa com 5 entrevistados e uma pesquisa
pela individualidade dos sujeitos através dos bens materiais e
quantitativa com 30 respondentes. No que tange o consumo
dos serviços que as marcas oferecem. Essa fase se desdobrou,
de arte, analisamos que a maioria dos respondentes
mais tarde, no que Lipovetsky (2015) viria a chamar de
compram obras tanto por hábito familiar e quanto por
capitalismo estético, época em que a indústria é dominada
sempre terem se interessado por arte, resgatando as
por um boom estético e pela artealização de bens cotidianos,
discussões de Barbosa (2011) sobre a individualidade e a
marcando um consumo cada vez mais líquido e efêmero,
liberdade do consumo. Outras motivações para a compra
que levantaram questões com relação às teorias de Benjamin
estão ligadas fundamentalmente à busca por identidade,
(2012) sobre a perda da aura das obras de arte com a sua
enquanto o status, os aspectos sociais ligados ao
reprodutibilidade técnica.
mercado não parecem tão motivadores. Essas motivações
Este capitalismo estético também está presente no
elucidam ainda as argumentações de Benjamin (2012)
mercado de arte, no qual nos aprofundamos no segundo
sobre a reprodutibilidade da arte, que foi percebida
Para a realização dessa pesquisa, buscamos
Fim de leilão
50
pelos consumidores e tratadas como fundamentais para
se tornado cada vez mais complexo e tenha passado de
a existência do comércio, mesmo que ela tenha trazido
uma interação entre poucos intermediários a uma complexa
questionamentos importantes sobre a veracidade e a
cadeia de agentes envolvidos nas transações comerciais. A
qualidade das obras que surgiram.
internet foi um importante agente de mudança desse setor
No que diz respeito à compra de obras de arte pela
ao facilitar o aumento do número de artistas e democratizar
internet, vimos que os consumidores já tinham envolvimento
as obras não apenas em torno do mundo como também
com o mercado online, sendo a compra de obras pela
para diferentes camadas sociais, passando de um mercado
internet um mero desdobramento do seu comportamento
historicamente ligado à nobreza para a criação de obras de
digital. Mesmo assim, é válido destacar que percebemos
arte com preços acessíveis.
que eles foram atraídos principalmente pela conveniência
Assim, ao longo de nossos estudos, exploramos e
e facilidade da compra, tendo preferência pela experiência
validamos o encurtamento de distâncias e a consequente
de compra online.
elevação no número de consumidores, o aumento no número
Segundo os entrevistados, as maiores vantagens deste
de obras de baixa qualidade ou falsificadas, a democratização
modelo de compra, além da facilidade, é o encurtamento
do acesso de obras através de peças mais baratas, o aumento
de distâncias e a privacidade e o anonimato ligados a ele,
da compra de obras de arte pela sua popularização e a
fato ligado ao estudo da Hiscox (2014) que apontava que
facilidade dos artistas em eles mesmos venderem suas peças
os coleciondores se sentem intidados com o ambiente físico
como impactos do surgimento da internet neste mercado.
dos leilões. Por um outro lado, as principais desvantagens
destacadas foram o fato de não se poder verificar as obras
pesquisa concluindo que não apenas a internet trouxe
pessoalmente, a possibilidade de comprar uma obra falsificada
transformações para o mercado de arte como também o
e a insegurança em pagar grandes quantias online.
próprio mercado buscou se adaptar às diferentes mudanças
Compreendendo essas vantagens, fomos capazes de
que aconteceram no consumo e no comportamento da
responder quais são os impactos do surgimento da internet no
sociedade contemporânea com o surgimento do mundo
processo de compra de obras de arte por leilão, problemática
virtual. O mercado de arte, que parecia recluso às camadas
de pesquisa deste estudo. Pudemos concluir que o consumo,
mais elevadas da sociedade, pouco a pouco começa a penetrar
inclusive o de arte, cresceu aceleradamente e trouxe à tona
em todas as classes sociais, através de um mercado cada vez
novas problemáticas como a validade estética e simbólica da
mais aberto. A internet, neste sentido, teve responsabilidade
reprodutibilidade das obras de arte. É inegável, no entanto,
não apenas em derrubar as barreiras geográficas que
que este caráter fez com que ela pudesse alcançar o mundo
separavam artistas e colecionadores, como também serviu
inteiro, fazendo com que naturalmente este mercado tenha
à democratização do acesso a esses artistas através do
Neste sentido, respondemos a problemática desta
Fim de leilão
51
anonimato e do conforto em realizar uma compra sem ser julgado, analisado ou observado por outros compradores.
No entanto, a partir deste estudo é possível perceber
que não são muitos os estudos a respeito das especificidades da compra de arte online no Brasil. Faltam estudos mais claros e mais vastos a respeito da sua evolução, de suas características e do perfil desses colecionadores brasileiros, estudos esses que podem se desdobrar a partir desse projeto.
Anexos
53
6.1
Questionário guia de entrevista em profundidade
Olá!
Qual a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que? Como você conheceu as casas leiloeiras online?
Este questionário tem por objetivo reunir informações para estudar os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão. As questões abaixo visam colher opiniões sobre diferentes aspectos dos leilões de arte online. Procure ser o mais preciso, sincero e detalhado possível em suas respostas, a sua colaboração é muito importante para esta pesquisa.
O que te motivou a explorá-las? Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você conhece? Em quais delas você já realizou uma compra? Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim, qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?
Obrigada pela consideração e disposição em colaborar! Qual o seu primeiro envolvimento com a compra de obras de arte por leilão online? Por favor, descreva a experiência Você acha que de modo geral a internet teve impacto no seu consumo? Por que?
Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de arte por leilões online?
Qual a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda ou
Na sua opinião, quais são as desvantagens de comprar obras
discorda? Por que?
de arte por leilões online?
Você acha que a relação do consumo de arte com o prestígio
Quais você acha que são as principais diferenças entre os
social se modificou com o surgimento da internet? Por que?
leilões online e offline?
Você acha que as casas leiloeiras mudaram de postura com o
Qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por
tempo e começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?
leilões online? Indique o valor aproximado
Como você percebe essas transformações?
Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que?
Anexos
54
6.2
Questionário quantitativo
4
Quão importantes são as motivações abaixo na compra de obras de arte por leilão online?
1
Vamos nos conhecer melhor? Idade:
Benefícios emocionais
Cidade:
Pouco importante
Importante
(paixão pela arte)
Profissão:
Aspectos sociais
(fazer parte de um grupo)
2
Quantas vezes você comprou uma obra de arte nos
útlimos 12 meses?
Identidade e status (define quem eu sou)
- Nenhuma vez - 1 vez
5
Você prefere a experiência de compra online ou offline
- 2-3 vezes
de obras de arte?
- Mais de 4 vezes
- Online - Offline
3
Qual foi seu gasto médio nessas compras?
- Indiferente
- R$500 ou menos - R$501 - 1.000
6
De maneira geral, você poderia dizer que, com relação
- R$1.001 - 5.000
às compras de obras de arte por leilão que você já fez
- R$5.001 - 10.000
na internet, você está:
- R$10.001 - 50.000
- Totalmente insatisfeito
- R$50.001 - 100.000
- Inatisfeito
- R$100.000 ou mais
- Nem satisfeito nem insatisfeito
- Satisfeito
- Totalmente satisfeito
Muito importante
Anexos
55
7
Classifique os aspectos relacionados à compra de arte online abaixo, dando uma nota de 1 a 5, sendo 1 nada satisfeito e 5 totalmente satisfeito:
Totalmente insatisfeito
Insatisfeito
Busca
(foi fácil encontrar uma obra/artista)
Informação
(forneceram dados suficientes sobre uma obra)
Pagamento
(facilidade e segurança)
Envio
(chegou em boas condições e no tempo estimado)
8
Quais você acha que são as principais vantagens da compra de obras de arte pela internet? - Acesso a informações sobre artistas e preços - Facilidade e conveniência na compra - Privacidade e anonimato na compra - Obras mais baratas - Encurtamento de distâncias - Tempo maior para pensar na compra da obra - Variedade de obras e artistas
Nem satisfeito, nem insatisfeito
Satisfeito
Totalmente satisfeito
Anexos
56
9
Quais você acha que são as principais desvantagens
da compra de obras de arte pela internet?
11
Quais você acha que são os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?
- Não poder ver a obra pessoalmente
- Possibilidade de comprar uma obra falsificada
- Insegurança na embalagem e transporte das obras
- Insegurança em pagar grandes quantias
online
- Falta de mais opções de pagamento
Quais recursos você considera mais importantes em
um leilão online para dar um suporte à compra?
- Garantia de 30 dias
aumentou com o encurtamento das distâncias
10
- O alcance das obras de arte pelo mundo
- Os artistas conseguem vender mais as suas obras pessoalmente - A compra de arte aumentou pela sua popularização - Aumentou o número de obras de arte falsificadas ou de baixa qualidade - Democratização do acesso de obras através de peças mais baratas
- Maiores informações sobre envio e pagamento - Mais informações sobre o artista - Opção de falar com um expert ou especialista - Imagens em 3D - Projeção de realidade aumentada
Obrigada pela sua colaboração! Suas respostas são muito importantes para compreender em mais profundidade os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão online.
Anexos
57
6.3
Questionários dos respondentes I- Então você acha que essa expansão foi boa?
6.3.1 Entrevistado 01 - Fábio
F- Sim, a reprodutibilidade das obras fez com que mais gente pudesse comprá-las.
I- Oi, tudo bem? Obrigada pelo seu tempo em responder esta pesquisa! Você pode se apresentar, por favor?
I- Certo. E quanto a relação do consumo de arte com o prestígio
F- Sem problemas. Meu nome é Fàbio e sou de São Paulo.
social, você acha que isso se modificou com o surgimento da
I- E por que você coleciona obras de arte?
internet?
F- É coisa de família, meus avô coleciona muito e acabei me
F- De certa maneira sim, uma vez que no passado os leilões
envolvendo.
de arte eram grandes eventos sociais. De qualquer forma, grandes casas de leilão ainda utilizam o sistema presencial e
I- Legal! E você acha que de modo geral a internet teve
possibilitam que os compradores escolham a forma que lhes
impacto no seu consumo?
é mais conveniente, lembrando que mesmo antes da internet,
F- Sim
um comprador podia e ainda pode realizar suas compras via telefone ou lances prévios, caso não deseje aparecer
I- Por que?
publicamente.
F- Olha, de forma geral a internet representou sim um aumento no meu consumo de arte, mais pela facilidade que ela trouxe
I- Mas você acredita que a arte ainda tem um papel importante
né. Hoje em dia é muito mais confiável e seguro fazer compras
na legitimação e na distinção de quem a compra ou isso
pela internet e em muitos casos é mais econômico também.
mudou? F- Acho que vai depender do artista e do preço da obra. A
I- Entendi! E o que você acha sobre essa expansão da
internet fez com que muitas obras baratas e de artistas novos
reprodutibilidade das obras de arte com o surgimento da
fossem facilmente acessadas por um público maior, mas as
internet? Você concorda ou discorda?
obras mais caras, de artistas famosos como Picasso, Monet e
F- Concordo, não vejo nenhum problema.
Damien Hirst continuam sendo mais reservadas a um número menor de pessoas.
I- Por que? F- Porque obviamente, sem a divulgação das imagens, seria
I- E essa reserva faria com que a arte ainda esteja ligada à
impossível qualquer tipo de comércio, online ou via catálogo
legitimação de quem compra e ao prestígio social?
físico. Sem essa reprodução o comércio das obras não existiria.
F- Sim.
Anexos
58
I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que
I- E como você conheceu as casas leiloeiras online?
as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e
F- Conheci as casas de leilão on line como um simples
começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?
desdobramento de um mercado que acompanho há muitos
F- Não sei, não conheço muito sobre essa história das casas
anos. Foi uma evolução natural e necessária nos dias de hoje.
de leilão, mas acredito que sim. Acho que todo o mercado de
Não existiu propriamente uma grande campanha para isso,
arte começou a ser mais comercial.
as casas de leilão tiveram que ir se adaptando a isso e as que não o fizeram, foram ficando para trás.
I- Como você percebe isso no seu envolvimento com a compra de obras?
I- E o que te motivou a explorá-las?
F- Eu recebo muito e-mail das casas leiloeiras divulgando
F-Certamente a facilidade em acompanhar diversos leilões,
seus eventos, me convidando pra participar de leilões e
peças e artistas específicos em vários locais e em tempo real.
elas estão sempre postando alguma coisa no Facebook.
No plano de vendas, atingir um público muito maior do que
Certamente essa comunicação faz com que a postura delas
um leilão convencional.
tenha mudado. Elas tiveram que se adaptar bastante. I- E quais casas leiloeiras que realizam leilões online você I- Por que?
conhece? Em quais delas você já realizou uma compra?
F- Porque o consumo aumentou, tem cada vez mais empresa
F- Eu uso todas as plataformas disponíveis. A maioria
brigando por um espaço pequeno, ainda mais na internet.
das casas brasileiras já utiliza sistema de venda online. Algumas possuem sua ferramenta própria, outras se valem
I- Boa. E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça
de plataformas destinadas exclusivamente a leilões online,
quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que?
como a LeilõesBr e Iarremate.
F- Ah, é definitivamente a facilidade em acompanhar um leilão em tempo real em outra cidade, inclusive em outro
I- E você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,
país. Mas outra facilidade que me agrada muito é o fato de
qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?
que alguns leilões online entram no ar muitos dias antes do
F- Sim, já comprei e vendi muito em ambas situações. O leilão
pregão propriamente dito e posso acompanhar o andamento
físico tem a vantagem da visualização “in loco”, a emoção
dos lances, visualização das peças, entre outros recursos.
da disputa presencial e também sentir a “temperatura” da
Isso serve tanto para as peças que estou disputando, como
sala em um determinado momento econômico ou político.
também para as que disponibilizei para venda.
O leilão online te possibilita participar de uma venda que
Anexos
59
muitas vezes seria impossível devido a distância. Assim sendo,
com a peça em mãos.
acredito que ambas as formas são válidas e minha preferência varia muito de caso para caso.
I- Quais você acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline?
I- Sim, com certeza. E qual foi o seu primeiro envolvimento com
F- Uma grande diferença é o fato de que um leilão online é
a compra de obras de arte por leilão online?
muito mais frio do que um presencial. Requer mais atenção
F- Acredito que as primeiras vezes que acompanhei leilões
e conhecimento de quem está comprando. Outra seria que
online tenham sido em casas de fora do país, em pregões de arte
um leilão online reflete exatamente o que está acontecendo
latino americana em NY.
em termos financeiros, ao passo que em um leilão presencial, nem sempre sala cheia representa sucesso de vendas.
I- Você se lembra da primeira experiência que teve? F- No Brasil não me recordo exatamente da primeira experiência
I- E qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por
online, uma vez que participei e acompanhei desde o princípio o
leilões online? Indique o valor aproximado
nascimento do sistema no Brasil.
F- Não existe valor médio nas minhas compras. Uma peça de R$500,00 pode me interessar tanto como uma de
I- Tudo bem! Falando dos leilões online, quais você acha que
R$100.000,00 caso conheça muito bem o que está sendo
são as vantagens de comprar obras de arte por leilões online?
levado a pregão.
F- Então, como falei, as vantagens são o encurtamento das distâncias assim como as diversas ferramentas que leilões online
I- Certo. E quais você acha que são os maiores impactos do
propiciam, como vigia de lotes, quantidade de visualizações das
surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?
obras, sobreposição de lances, entre outras.
Por que? F- O primeiro grande impacto é o aumento do alcance de
I- E as desvantagens?
público que um leilão online pode atingir. O segundo é que
F- A grande desvantagem, quando não se é possível, é o fato
compradores e vendedores terão que tomar outras precauções
de não poder examinar as peças in loco. Atualmente, os leilões
e cuidados em relação aos mesmos. O fato de um leilão estar
online vem suprindo essa demanda com a inclusão de diversas
online não garante de forma alguma a procedência de suas
imagens e informações, como em uma pintura, por exemplo,
peças e assim como é fácil comprar, também é muito fácil ser
sua imagem de frente e verso, selos de eventuais exposições,
induzido a erro. Meu conselho tanto para leilões on ou off-line
assim também como a maneira como está emoldurada.
é sempre o estudo do que se está comprando ou vendendo.
Obviamente, nada disso substitui um exame mais profundo,
Anexos
60
B- Boa! Fábio, super obrigada pela sua ajuda. Se eu tiver mais
reprodução (ainda com características de arte) ja existe ha
alguma dúvida entro em contato contigo, okei?
muitos anos com gravuras e esculturas, provavelmente os
F- Claro, sem problemas. Abs!
meios técnicos melhoraram, mas não sei se aumentou.
6.3.2 Entrevistado 02 - João
I- E você acha que essa reprodução é ruim? J- Não..faz com que mais gente tenha acesso às obras. Mas
I- Oi, tudo bem? Obrigada pelo seu tempo em responder esta
tem que tomar cuidado com as falsificações que são vendidas
pesquisa! Você pode se apresentar, por favor?
como verdadeiras, acontece muito porque em geral as pessoas
J- Oi, claro, fique à vontade. Eu sou o João, moro em Sâo
não tem muito conhecimento técnico pra julgar se as obras
Paulo, faço doutorado em história e dou aula na Escola da
são de verdade ou cópias.
Cidade. I- E quanto ao consumo da arte como perstígio social, você I- Boa! E por que você coleciona arte?
acha que isso se modificou com o surgimento da internet?
J- Olha, eu sempre colecionei coisas, selos moeda, soldadinho
J- Humm, acho que não se modificou enquanto prestigio,
de chumbo.. E fui criado em meio a um ambiente de arte...
mas pessoas que não se sentiam confortáveis em comprar por
Me interessa muito a relação cultural e de criação da arte.. De
se sentirem desinformadas agora podem pesquisar artistas e
modo até mais amplo que só artes plásticas. Então juntando o
preços mais facilmente. Isso ajudou a expansão do mercado
lado colecionista com esse lado de interesse combinou, aí por
de modo geral. Principalmente no período de bonanza
fim o bichinho da arte me pegou. Enfim, é isso!
econômica que o Brasil experimentou.
I- E você acha que de modo geral a internet teve impacto no
I- E por que você acha que não se modificou enquanto
seu consumo? Por que?
prestígio?
J- Acho sim..ela facilitou bastante o acesso a informação,
J- Porque qualquer mercado tem produtos mais baratos e
pesquisa de preços e a encontrar obras em lugares onde em
mais caros, que estão ligados ao prestígio de quem compra,
geral não as veríamos..
como o luxo.
I- Entendi! E o que você acha sobre essa expansão da
I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que
reprodutibilidade das obras de arte com o surgimento da
as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e
internet? Você concorda ou discorda?
começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?
J- Na verdade não sei, acho que aquilo que chamamos de
J- Olha, muito pouco se comparamos com os EUA. O mercado
Anexos
61
de arte no Brasil é pessoal e patriarcal. Vive com base nas
qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?
relações pessoais. Não tem nenhuma galeria ou casa de leilão
J- Sim. Prefiro o fisico, se bem que diversas vezes é interessante
em Sp cujo trabalho dependa mais de relações objetivas
não estar na sala, atendendo pelo telefone.
empresariais do que de esforços pessoais. Se alguém disser que tem estará errado
I- Mas por que o físico te interessa mais? J- Acho que a emoção é diferente..ver a obra ao vivo e de
I- Então você acha que a postura dessas casas de leilão não se
perto é bem melhor do que por uma imagem.
modificaram com o tempo aqui no Brasil? J- Não muito, como disse acho que aqui o mercado de arte
I- Entendi. E qual foi o seu primeiro envolvimento com a
é muito baseado nas relações pessoais, em quem conhece
compra de obras de arte por leilão online?
quem, uma bolha, então só quem faz parte dela fica sabendo
J- Acho que a primeira experiência foi comprando livros pelo
bem desses eventos, seja por e-mail, por telefone ou carta.
Ebay.
I- Entendi! E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça
I- Como foi a experiência?
quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que?
J- Fiquei bem ansioso e com a adrenalina alta, principalmente
J- Leilões fora do Brasil, porque é o que tem as casas leiloeiras
por ja ter perdido algumas tentativas de compra nos últimos
mais conhecidas no mundo.
segundos.
I- E como você conheceu essas casas leiloeiras online?
I- Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de
J- Pesquisando principalmente a partir do ArtPrice.
arte por leilões online? J- Não ser visto, e poder lançar em obras em outros lugares
I- E o que te motivou a explorá-las?
do mundo.
J- Eu coleciono um artista cujas obras não são possíveis de serem encontradas no Brasil.
I- E as desvantagens? J- Não poder ver a obra ao vivo.
I- Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você conhece? Em quais delas você já realizou uma compra?
I- Sim, como você tinha mencionado antes! E quais você
J- Christies, Sothebys. Por telefone em varias.
acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline?
I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,
Na sala você se sente mais confortavel em ser visto e
Anexos
62
entendido, no telefone há sempre o medo de a comunicação
frescura
não rolar bem e você não saber o quão próximo de encerrar os lances. Online há sempre o medo de uma falha técnica.
I- Você acha que de modo geral a internet teve impacto no seu consumo? Por que?
I- E qual é o valor médio de seus gastos na compra de arte por
B- Sim, pelo simples motivo de que não é preciso ir até a loja
leilões online? Indique o valor aproximado
para comprar e avaliar algo. Comodidade pura e simples.
J- Puxa. Faz um tempo que não compro online.
I- E qual a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade
I- E por fim, quais você acha que são os maiores impactos do
das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda
surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?
ou discorda? Por que?
Por que?
B- Acho ótimo. O mercado de arte sempre foi muito
J- Acho que ainda esta mais no campo da facilidade de
inacessível. Com a reprodução de obras a um preço justo, a
procurar obras e ver leilões de lugares distantes.
chance de ter algo que você gosta em casa é muito maior, é claro, com o aval do artista e tudo nos conformes. A chance
B- Sim, entendo. Bom, obrigada pelo seu tempo, estas são as
de incentivar um novo artista também. Há galerias, em SP por
perguntas que tenho. Obrigada pelo seu tempo e pela ajuda!
ex., que têm se especializado nisso. É claro que me parece
J- Beleza! Precisando é só chamar..
que falta alguma regulação nesse mercado, há muita coisa falsificada e é preciso algum treinamento, alguma expertise
6.3.3 Entrevistado 03 - Bruno
para não comprar gato por lebre. Tarsila do Amaral, por exemplo, tenho visto falsificações grosseiras de gravuras a
I- Bruno, tudo bem? Podemos começar?
preços inacreditáveis.
B- Sim!
I- Você pode se apresentar?
I- Você acha que a relação do consumo de arte com o prestígio
B- Claro. Eu tenho doutorado em ciências políticas pela
social se modificou com o surgimento da internet? Por que?
UFSCAR e moro no Paraná!
B- Acho que não. Ela ficou mais escalonada. Alguns artistas que fazem serigrafias em grandes séries são de fácil acesso e
I- E por que você coleciona obras de arte?
todos podem comprar. Os leilões têm as suas ‘carnes de vaca’
B- Coleciono porque gosto. Não aprendi com família nem
que são, em alguma medida, desprezadas por compradores ou
nada, aprendi a gostar desde o dia que sentei numa poltrona
colecionadores mais experientes. Há uma hierarquia que se
de design assinado e vi que forma e aparência é mais do que
criou pela raridade da obra, pelo prestígio do artista ou pela
Anexos
63
numeração da reprodução, ou se tem dedicatória ou não, etc.
algumas vezes valoriza coisas horrorosas e deixa de lado peças lindas que ninguém conhece ou valoriza (por exemplo,
I- E é essa hierarquia que faria com que este prestígio tenha
esses dias comprei uma obra de Jack Sal, que é um artista
se mantido e modificado ao mesmo tempo?
fantástico, por R$ 50,00, qual a razão do preço baixo? Não
B- Exato. Ao mesmo tempo em que as ‘carnes de vaca’ são
faço ideia. Ou então, comprei um guache do Charoux por
desprezadas pelos colecionadores mais ricos e experientes e
um preço muito abaixo do mercado porque o leiloeiro não
compradas por novos colecionadores ou pessoas quaisquer,
conseguiu identificar a assinatura).
as obras mais raras, de artista mais famosos e caras fizeram
com que esse prestígio ainda se mantivesse na socieade.
I- Como você conheceu as casas leiloeiras online? B- Por indicação de amigos mais experientes que deram
I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que
dicas, referências, sites de apoio, etc.
as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e
começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?
I- O que te motivou a explorá-las?
B- Acredito que sim. Que o mercado como um todo tenha
B- A princípio decorar meu apartamento. Depois fui tomando
começado a ter uma postura mais corporativa com o tempo.
gosto e daí aprendi mais sobre técnicas, correntes artísticas,
Mas isso é bom, tira um pouco da empatia que o mercado
artistas específicos.
de arte tem no Brasil e nos USA, por exemplo, e não tem
em países desenvolvidos da Europa, onde se aprende arte em
I- Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você
escola pública.
conhece? Em quais delas você já realizou uma compra? B- Já comprei em muitas, seria impossível listar todas. Mas as
I- E como você percebe essa mudança de postura mais
que melhor tratam o cliente são a Tableau, ArtPrints, Puliti e
corporativa das casas de leilão?
um escritório de arte em São Paulo de uma pessoa física que
B- Pelas coisas que eu recebo e vejo. Spam, e-mail, telefonema,
possui loja online no Mercado Livre. Mas tem o ‘indexador’
vários posts nas rede sociais falando sobre os eventos que elas
de leilões, leiloesbr.com.br que facilita bastante a vida.
fazem...
I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,
I- Entendi! E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça
qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?
quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que?
B- Nunca comprei. Já comprei em antiquários, até em
B- São duas: se eu gosto e se é ‹legal› (assinada, certificada,
restaurantes, mas nunca em leilão presencial.
etc.). Não ligo muito para a lógica do mercado de arte, que
Anexos
64
I- Qual o seu primeiro envolvimento com a compra de obras
B- Já foi de cerca de R$ 500,00, hoje está mais baixo. Mas no
de arte por leilão online? Por favor, descreva a experiência
geral, diria que em torno disso. Com alguns outliers, indo até
B- Foi a compra de uma serigrafia muito legal de
R$ 1.500,00 e as vezes chegando a pagar somente R$ 30,00.
um discípulo de Mabe. Conhecia a história e a peça era
muito forte, chamativa e por isso me empolguei em comprar.
I- Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento
A compra foi ótima, num preço bom e chegou em minha
da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que?
casa sem problemas. Mas nem sempre é assim, muitas casas
B- Popularização e falsificação. O mercado online é muito
demoram para enviar, cobram embalagem, exploram um
competitivo, então é difícil de sair-se bem numa dessas.
pouco além do leilão.
I- Legal. São estas as perguntas Bruno, obrigada pela sua
I- Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de
ajuda!
arte por leilões online?
B- De nada, disponha!
B- Tempo para pensar e comodidade :)
6.3.4 Entrevistado 04 - Adriano
I- Na sua opinião, quais são as desvantagens de comprar obras de arte por leilões online?
I- Adriano, tudo bem? Você pode se apresentar?
B- Falta de oportunidade de ver detalhes da obra, o estado
A- Sim. Sou Adriano, doutor em ciências políticas pela
físico e a forma de pagamento (sempre à vista com depósito
UNICAMP e com pós doutorado em andamento aqui na
bancário). Se tivessem outras formas de pagamento, talvez
França na mesma área.
compraria coisas mais ousadas. I- E você colecinoa arte por que? I- Quais você acha que são as principais diferenças entre os
A- Olha, não me considero um colecionador, apenas um
leilões online e offline?
comprador de quadros. Por que? Apenas porque quero ter
B- Não saberia dizer, nunca fui ao físico.
coisas belas em casa mesmo.
I- Por que?
I- E você acha que de modo geral a internet teve impacto no
B- Pela falta de interesse, distância e tempo.
seu consumo? Por quê?
A- Sim, teve um enorme impacto. Não em termos de
I- E qual é o valor médio de seus gastos na compra de arte por
quantidade, mas de “qualidade”, isto é, o tipo das coisas que
leilões online? Indique o valor aproximado
se passou a ter acesso depois dessas duas revoluções nos
Anexos
65
anos 1990: a Internet e o cartão de crédito internacional. Ela
I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que
abriu um número infinito de possibilidades de consumo. Por
as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e
exemplo: em minha área profissional, se eu quisesse um livro
começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?
publicado nos EUA teria, antes dessa revolução, de procurar
A- Não saberia dizer, prefiro não opinar.
em muitas bibliotecas, peregrinar até uma delas para lê-lo,
I- Mas você acha que de certo modo elas estão se comunicando
e às vezes era preciso viajar de cidade para tanto. Como
com as pessoas mais do que antes?
na Idade Média. Outro exemplo: como alguém, no Brasil,
A- Ah, por esse lado sim, acho que elas estão se comunicando
poderia conhecer e comprar uma máscara africana Baoulé,
cada vez mais porque tem cada vez mais gente querendo
feita na Costa do Marfim por um artesão e vendida como obra
vender arte e elas precisam se destacar pra sobreviver.
de arte em Paris? I- Como você percebe essa mudança? I- E qual é a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade
A- Principalmente no Facebook, sempre postando foto das
das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda
obras que vão leiloar, criando eventos, convidando as pessoas
ou discorda? Por que?
por e-mail...
A- A reprodutibilidade das obras de arte é bem anterior à Internet. Não se se você sabia (aprendi isso outro dia), mas
I- Enetndi! E você acha que a relação do consumo de arte com
no início do século XX as obras de arte não faziam longas
o prestígio social se modificou com o surgimento da internet?
viagens para serem expostas. Nos museus dos EUA, por
Por que?
exemplo, se expunham cópias fidelíssimas de uma tela
A- Tenho quase certeza que não. Consumo de arte continua
famosa. No ambiente da Internet acho mais adequado falar em
a ser, por um lado, completamente supérfluo para as altas
falsificações que tentam ser vendidas como originais, obras
camadas médias e para os novos ricos (a não ser como forma
de arte “não assinadas” ou assinadas “na prancha” etc. Desde
de investimento, para esses últimos). E continua a ser, por
que o consumidor esteja completamente informado que NÃO
outro lado, uma prática (talvez A prática) de maior distinção
está adquirindo um pôster “verdadeiro” do Andy Warhol, não
social entre os muito ricos e os outros. Obras de arte vendidas
vejo problema. Eu mesmo já comprei um tipo de reprodução
pela Internet são obras menores, menos conhecidas, muito
de alta qualidade, obras de arte encartadas na revista francesa
menos valorizadas, etc. O fato de eu, um simples professor
Derrière le Miroir. Veja aqui o que é: https://fr.wikipedia.org/
universitário, poder pendurar um Fiaminghi ou uma Mira
wiki/Derri%C3%A8re_le_miroir_(revue)
Schendel na parede não faz subir um milímetro meu conceito social diante de um “verdadeiro” colecionador, isto é, uma pessoa que pode comprar uma tela por 1 milhão de dólares.
Anexos
66
I- Por que? I- E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça quando
A- Porque encontro tudo o que preciso na internet.
você pensa na compra de arte pela internet? Por que? A- Falsificação. Falsificação. Falsificação. Uma busca simples
I- Entendi. E qual foi o seu primeiro envolvimento com a
no infame Mercado Livro lhe mostrará isso.
compra de obras de arte por leilão online? Pode descrever uma experiência?
I- Certamente! E como você conheceu as casas leiloeiras
A- A experiência de colecionar arte é mais ou menos como
online?
a experiência de colecionar figurinhas de um álbum de
A- Comprei uma Água-tinta e água-forte do Odetto Guersoni
figurinhas. Só que, no primeiro caso, a gente nunca preenche
numa loja virtual no Mercado Livre e passei a receber alguns
o álbum. Você começa com obras menores, desimportantes,
spams e um dia fui ver o que era aquilo.
em mau estado, em geral gravuras e logo não se contenta mais com isso, passa a obras mais elaboradas, mais raras (guaches,
I- E por que você foi explorá-las?
por exemplo, que ainda são acessíveis). Mas há um limite no
A- Minha vontade de ter em casa obras dos neoconcretistas
orçamento. É preciso saber o quanto se pode gastar. Coisas
brasileiros que, depois de uma rápida pesquisa, vi que não
de fato muito, muito boas saem bem caro para o meu padrão
eram tão inacessíveis assim. Não gosto de posters e fotografias
salarial.
também eram muito caras. I- E na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras I- Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você
de arte por leilões online?
conhece? Em quais delas você já realizou uma compra?
A- Não ter de conhecer ninguém, de travar relações, fazer
A- Listo as três últimas: Galeria Leilões (uma Mira Schendel),
parte desse petit monde. O anonimato também é um grande
O que o Vento não Levou (um Mário Silésio) e Tableau Arte
incentivo.
& Leilões (um guache do Dionisio del Santo). I- E as desvantagens? I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,
A- Não poder vê-las, avaliar o seu estado, se se trata de uma
qual experiência você prefere: a off line ou a online? Por que?
falsificação tosca, etc.
A- Não, nunca. Nuca tive a oportunidade nem vontade de ir a um.
I- Entendi. Quais você acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline? A- Minha impressão é que leilões off-line atraem um público
Anexos
67
completamente diferente, muito mais entendido no assunto.
I- Você acha que de modo geral a internet teve impacto no seu
A compra on line quebra uma série de barreira, inclusive o
consumo? Por que?
constrangimento social de entrar numa casa de leilão de arte.
M- A Internet tem sim um forte impacto no meu consumo, pela facilidade, a variedade das ofertas e principalmente na
I- E qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por
quantidade das ofertas oferecidas. Antes da Internet só nas
leilões online? Indique o valor aproximado
Galerias físicas e Exposições que tínhamos contato com
A- Aproximadamente R$ 1.000,00.
Obras de Arte.
I- Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento
I- Qual a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade
da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que?
das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda
A- Democratizar o acesso a coisas que ficariam ou escondidas
ou discorda? Por que?
nas casas dos herdeiros, ou seriam privilégio dos entendidos e
M- Não se pode ir contra a Modernidade. Sem Internet não
insiders desse mercado.
vivemos mais e ela é necessária em todos os segmentos, incluindo o de Pinturas e Obras de Arte. Só acho que a
I- Legal. Obrigada pela sua ajuda Adriano, era isso que
qualidade das Obras oferecidas caiu muito.
precisava! A- Fique à vontade!
I- Você acha que a relação do consumo de arte com o prestígio social se modificou com o surgimento da internet? Por que? M- Com certeza, com o surgimento da Internet, todas as
6.3.5 Entrevistado 05 - Maurício
classes sociais tiveram acesso a Obras de Arte e Pinturas que antigamente, só uma pequena parte da sociedade desfrutava.
I- Oi Maurício, tudo bem? Você pode se apresentar?
É claro que precisamos evoluir muito culturalmente para que
A- Sim. Sou Maurício, casado, moro em SP.
isso se torne mais presente na maioria da população de baixa renda.
I- E você coleciona arte por que? A- Minha esposa e eu sempre gostamos muito de arte, e
I- Qual a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você
também sou artista. Aí acabei entrando nesse mercado e estou
pensa na compra de arte pela internet? Por que?
nele até hoje.
M- Se for Obra de um pintor mais famoso, a primeira coisa que me vem à mente é se a Obra é verdadeira. Com o surgimento dos Leilões online, muitas obras falsificadas foram “jogadas”
Anexos
68
no Mercado. I- Entendi. E quais casas leiloeiras que realizam leilões online I- Como você conheceu as casas leiloeiras online?
você conhece? Em quais delas você já realizou uma compra?
M- Como eu já freqüentava Leilões físicos e era cadastrado
M- Conheço inúmeras casas leiloeiras Online e já fiz compras
em Galerias de São Paulo, recebi por e-mail o primeiro
em quase todas elas. Hoje só participo de Leilões Online de
convite para participar de um Leilão pela Internet de uma
Galerias da cidade de São Paulo, pelo motivo de não precisar
Galeria do Rio de Janeiro. Com o tempo e o sucesso desses
pagar o Frete dos Correios para receber as Obras arrematadas
primeiros Leilões criou-se o “Leilões BR” com sede no Rio de
(são cobrados preços abusivos de fretes, principalmente das
Janeiro, em que um grupo de Galerias cariocas fazem Leilões
Galerias do Rio de Janeiro). Aqui em São Paulo, vou buscar
periódicos Online. Com isso os Leilões presenciais foram
pessoalmente as Obras, economizando o valor dos fretes.
perdendo força, principalmente nas Galerias Paulistas, o que
Seguem algumas Galerias que já efetuei compras: Bel Galeria
forçou a maioria das Galerias, não só daqui de São Paulo,
de Arte – Tableau Arte e Leilões (uma das poucas que ainda
como também de outros Estados, a aderirem ao Leilões BR.
faz o leilão presencial junto com o Online) – Galeria Victor Ugo – AM Leilões – Fibra Galeria – Acervo DPilon – Brunetti
I- O que te motivou a explorá-las?
Artes – Casa 8Leilões – Pires Feldman Escritório de Arte –
M- Com a pouco oferta de Leilões Físicos (presenciais), tive
Sérgio Longo Escritório de Arte – Oscar Freire Leilões.
que aderir naturalmente aos Leilões Online. Hoje por motivo de custos e baixa presença de público, a maioria das Galerias
I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,
não fazem mais Leilões presenciais.
qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que? M- Sim, já comprei obras em Leilões físicos. Gosto muito
I- E você acha que as casas leiloeiras mudaram de postura
dos Leilões físicos, principalmente pelo contato com a Obra,
com o tempo e começaram a ficar mais parecidas com uma
poder vê-la e tocá-la se necessário, o ambiente gostoso das
empresa?
pessoas presentes, com serviço de bar e ouvir o leiloeiro oficial
M- Puts, não sei dizer em muitos detalhes, mas acho que sim,
apresentando as Obras e narrando algumas curiosidades sobre
como tudo né.
elas. No Leilão Online não temos esse contato gostoso.
I- Por que?
I- Qual o seu primeiro envolvimento com a compra de obras
M- Porque tem cada vez mais gente querendo vender o que
de arte por leilão online? Por favor, descreva a experiência
tem e sem se comunicar, fazer eventos e chamar as pessoas
M- Já está respondido na pergunta No. 5. Recebi o convite
pra comprar as suas obras você é engolido.
por e-mail, e como toda a novidade, gostei da experiência mas
Anexos
69
não fazia idéia do sucesso que esta forma de leilão alcançaria.
no mundo fechado dos Leilões e Galerias, com Obras de Arte oferecidas a partir de R$10,00. De uma certa forma, ajudando
I- Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de
a melhorar culturalmente o nosso sofrido povo brasileiro.
arte por leilões online? M- A variedade de Obras oferecidas e a quantidade de Galerias
I- Entendi, certamente. Maurício, obrigada pela sua atenção,
alcançadas.
estas foram as perguntas! M- Obrigada você!
I- Na sua opinião, quais são as desvantagens de comprar obras de arte por leilões online? M- A baixa qualidade das muitas obras oferecidas e a grande quantidade de Obras falsas jogadas no Mercado. I- Quais você acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline? M- Está respondido na pergunta 8. Os Leilões Online são muito frios. Já nos presenciais existe o calor humano e o contato físico com a Obra de Arte. I- Qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por leilões online? Indique o valor aproximado Difícil dizer. Depende muito do valor mínimo dos lances das pinturas apresentadas em cada Leilão e nas disputas dos compradores. Por mês uma média de R$5.000,00 M- Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que? Como lado negativo, a facilidade da venda de Obras de Arte falsas no mercado. Como lado positivo, o maior impacto com certeza é a possibilidade ao acesso de todas as classes sociais
Anexos
70
6.4
Resultados da pesquisa quantitativa
Resultados obtidos em 28/09 através da plataforma Qualtrics. 1 Idade 57 52 45 44 32 46 40 50 42 60 56 46 40 46 58 35 53 53 34 58 49 53 48 48 59 48 38 39 42 43
Vamos nos conhecer melhor? Cidade Atibaia Brasília Brasília Curitiba Curitiba Florianópolis Minas Gerais Paris Ribeirão Preto Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Santos São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo
Profissão Artista Engenheiro Artista Engenheiro Cientista Político Administrador de empresas Advogado Professor Administrador de empresas Empresário Publicitário empresario Professor Empresário Marchand Advogado Leiloeiro Restaurador Publicitário Publicitário Empresário Leiloeiro Leiloeiro Administrador de empresas Marchand Advogado Advogado Publicitário Administrador de Redes Administrador de empresas
2
Por que você compra obras de arte pela internet?
Resposta Minha família sempre comprou e acabei me envolvendo Gosto de ter obras de arte bonitas em casa Sempre colecionei outros objetos e a arte foi um desdobramento disso Sempre me interessei por arte por motivos pessoais Sou artista e também compro obras de arte Outros motivos (insira)
3
Quantas vezes você comprou uma obra de arte nos
útlimos 12 meses? Resposta Nenhuma vez 1 vez 2-3 vezes Mais de 4 vezes Total
4
0 3
% 0% 10% 43% 47% 100%
Qual foi seu gasto médio nessas compras?
Resposta R$500 ou menos R$501-1.000 R$1.001-5.000 R$5.001-10.000 R$10.001-50.000 R$51.000-100.000 R$100.000 ou mais Total
Qtd 1 5 14 5 3 0 2 30
% 3% 17% 47% 17% 10% 0% 7% 100%
Qtd 11 5 5 6 2 6
% 37% 17% 17% 20% 7% 20%
Anexos
71
5
Quão importantes são as motivações abaixo na compra de obras de arte por leilão online? ImportanPouco importante te
Question
Muito importante
Benefícios emocionais
4
5
21
Aspectos sociais
18
9
3
Identidade e status
15
11
3
(paixão pela arte)
(fazer parte de um grupo) (define quem eu sou)
6
Você prefere a experiência de compra online ou offline
de obras de arte? Resposta Online Offline Indiferente Total
7
Qtd 12 7 11 30
% 40% 23% 37% 100%
De maneira geral, você poderia dizer que, com relação às compras de obras de arte por leilão que você já fez na internet, você está:
Resposta Totalmente insatisfeito Insatisfeito Nem satisfeito, nem insatisfeito Satisfeito Totalmente satisfeito Total
Qtd 0 0 6 22 2 30
% 0% 0% 20% 73% 7% 100%
Anexos
72
8
Classifique os aspectos relacionados à compra de arte online abaixo, dando uma nota de 1 a 5, sendo 1 nada satisfeito e 5 totalmente satisfeito: Totalmente insatisfeito
Insatisfeito
Nem insatisfeito, nem satisfeito
Satisfeito
Totalmente satisfeito
Busca (foi fácil encontrar uma obra/
1
1
2
15
11
Informação (forneceram dados suficientes sobre uma obra)
3
4
5
13
5
Pagamento
1
0
7
19
3
Envio (chegou em boas condições e no tempo estimado)
1
0
7
18
4
Question artista)
(facilidade e segurança)
9
Quais você acha que são as principais vantagens da compra de obras de arte pela internet? Resposta Acesso a informações sobre artistas e preços Facilidade e conveniência na compra Privacidade e anonimato na compra Obras mais baratas Encurtamento de distâncias Tempo maior para pensar na compra da obra Variedade de obras e artistas
10
Qtd 14 22 15 11 21 9 13
% 47% 73% 50% 37% 70% 30% 43%
Quais você acha que são as principais desvantagens da compra de obras de arte pela internet?
Reposta Não poder ver a obra pessoalmente Possibilidade de comprar uma obra falsificada Insegurança na embalagem e transporte das obras Insegurança em pagar grandes quantias online Falta de mais opções de pagamento
Qtd 26 21 7 11 7
% 87% 70% 23% 37% 23%
Anexos
73
11
Quais recursos você considera mais importantes em um leilão online para dar um suporte à compra? Resposta Opção de falar com um expert ou especialista Garantia de 30 dias Maiores informações sobre envio e pagamento Mais informações sobre o artista Imagens em 3D Projeção de realidade aumentada
12
Qtd 20 17 12 11 9 8
% 69% 59% 41% 38% 31% 28%
Quais você acha que são os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?
Resposta O alcance das obras de arte pelo mundo aumentou com o encurtamento das distâncias Os artistas conseguem vender mais as suas obras pessoalmente A compra de arte aumentou pela sua popularização Aumentou o número de obras de arte falsificadas ou de baixa qualidade Democratização do acesso de obras através de peças mais baratas
Qtd
%
24
80%
9 14 20 19
30% 47% 67% 63%
7 BIBLIOGRAFIA 7.1 Livros BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (orgs). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. São Paulo: Zahar, 2005. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: Zouk, 2012. BENHAMOU-HUET, Judith. The worth of art (2). Nova Iorque: Assouline, 2008. BOLL, Dirk. Art for sale. Alemanha: Hatje Cantz, 2011. CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. GRANET, Danièle; LAMOUR, Catherine. Grandes e pequenos segredos do mundo da arte. Rio de Janeiro: Tinta Negra, 2014. LIMA, MANOLITA. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. São Paulo: Saraiva, 2008. LEMOS, André. Tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002. LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.
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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING SÃO PAULO 2015/2
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