O tubarão de 12 mil pixels - A influência do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão

June 4, 2017 | Autor: Bell Lopes | Categoria: Digital Media, Consumer Behavior, Auctions, Art Market
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O tubarão de 12 mil pixels A influência do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão

Isabel Vieira Lopes

Escola Superior de Propaganda e Marketing Publicidade e Propanganda 2015/2

LOPES, Isabel Vieira. O tubarão de 12 mil pixels: a influência do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão. São Paulo: Escola Superior de Propaganda e Marketing, 2015, 79 páginas

RESUMO Este trabalho tem por objeto de estudo as casas leiloeiras que comercializam obras de arte pela internet. A questão que norteará a discussão é: qual é a a influência do surgimento da internet no processo de compra de obras de arte por leilão para os consumidores? Com o objetivo de responder essa problemática, esse estudo se utilizará de uma pesquisa bibliográfica com um referencial teórico formado por Lipovetsky (2007 e 2015), Barbosa (2004) e Benjamin (2012) para entender a evolução da sociedade de consumo e o consumo estético na contemporaneidade, e Thompson (2010 e 2012), BenhamouHuet (2008) e Lamour (2014) para compreender como funcionam os mercados de arte físico e online, principalmente os leilões pela internet. Ainda, foi realizada uma pesquisa quantitativa e entrevistas com cinco consumidores e um questionário quantitativo com trinta indivíduos que compram arte em leilões online o consumo de arte, buscando extrair informações sobre os pontos levantados durante o projeto para possibilitar uma conclusão consistente sobre o assunto deste estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Consumo; mercado de arte; plataformas digitais; sociedade contemporânea.

Lista://de figuras/ Figura 01 – Evolução de preço do merccado global de Fine Art Figura 02 – Leilão Paddle8

7 30

Lista://de tabelas/ Tabela 01 – Diferenças entre os leilões online e offline

32

Tabela 02 – Aspectos da compra de obras de arte online

41

Lista://de gráficos/ Gráfico 01 – Motivações para a compra de arte

37

Gráfico 02 - Preferência por experiência de compra

40

Gráfico 03 - Vantagens da compra de obra de arte pela internet

42

Gráfico 04 - Desvantagens da compra de obra de arte pela internet

43

Gráfico 05 - Impactos do surgimento da internet na compra

46

12-21

6-11 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7

O PROJETO

2

Contextualização Objeto de estudo Problema Objetivos Objetivos específicos Metodologia Referencial teórico

2.1 2.2

48-51 5



FIM DE LEILÃO: AS CONSIDERAÇÕES FINAIS

2.3 2.5

34-47

22-33

COMO O CONSUMO CHEGOU ONDE ESTAMOS Introdução ao capítulo Senta que lá vem história: a evolução do consumo O consumo estético de hoje Síntese do capítulo

3

VAMOS COMPRAR ARTE!

4

3.1 3.2 3.3 3.3 3.5

Introdução ao capítulo Organizando o mercado As casas leiloeiras O leilão em pixels Síntese do capítulo

4.1 4.2 4.3 4.3.1 4.3.2 4.4.

OKEI, A INTERNET CHEGOU, MAS O QUE MUDOU?

Introdução ao capítulo Metodologia de pesquisa Análise dos resultados O consumo de arte A compra de arte pela internet Síntese do capítulo



74-79

52-73 6 ANEXOS 6.1 Questionário guia de entrevista em profundidade 6.2 Questionário quantitativo 6.3 Questionário dos respondentes 6.3.1 Entrevistado 01 – Fábio 6.3.2 Entrevistado 02 – João 6.3.3 Entrevistado 03 – Bruno 6.3.4 Entrevistado 04 – Adriano 6.3.5 Entrevistado 05 – Maurício 6.4 Resultado dos questionários quantitativos

7

BIBLIOGRAFIA



7.1 Livros 7.2 Artigos

Ao orientador e colega Caio Marchi, pelo rigor e companheirismo A todos os professores, que me ensinaram a raciocinar e refletir o universo, e que me inspiram a seguir a belíssima carreira acadêmica Aos colegas e amigos, por darem leveza à vida

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7

Contextualização Objeto de estudo Problema Objetivos Objetivos específicos Metodologia Referencial teórico

Introdução

7

1.

INTRODUÇÃO

Neste sentido, foi com o início dos questionamentos sobre a Igreja que os artistas gradualmente foram se separando

1.1

Contextualização

dela e um incipiente mercado começava a se formar a partir do século XV, quando surgiram os primeiros leilões sob o

É válido para o início deste projeto explicar a relevância

controle do Estado, principalmente na França e depois na

do estudo do mercado de arte. Isto porque, conforme aponta

Holanda, e quando as obras de arte eram adquiridas também

Severino, “inicia-se o projeto com uma apresentação onde

por meio de agentes e negociantes. Estes leilões cresceram

se exporá sinteticamente [...] qual foi a gênese do problema”

rapidamente ao redor da Europa, principalmente após o

(SEVERINO, 2007.p.130). Deste modo, em um primeiro

surgimento das duas maiores casas leiloeiras da época e até os

momento falaremos sobre o mercado da arte e, em seguida,

dias de hoje: Sotheby’s em 1744 e Christie’s em 1766, ambas

falaremos sobre as vendas online deste setor.

em Londres (BOLL, 2011).

Explicar a importância do estudo do mercado da arte significa entender a sua história. Isto porque sempre houve

FIGURA 01 – Evolução de preço do mercado global de

um mercado para a arte, desde a venda de imagens de deuses

Fine art (1761-2004)

para a Grécia Antiga até os dias de hoje (BOLL, 2011). Nesta época mais antiga, a arte não era uma propriedade privada e sim uma ferramenta dos deuses, que se manifestavam sob a forma de templos, esculturas e altares. Mesmo com esta importância religiosa, no entanto, já haviam alguns poucos colecionadores políticos, como reis egípcios. Este cenário, de acordo com o autor, começou a mudar apenas após a ascensão de Roma ao poder, quando na era imperial era importante que todo indivíduo educado e rico tivesse uma coleção de arte em casa. Essa produção somente acelerou com a queda do 1 Original: “[...] the production of art was so heavily influenced by the Church that it would be difficult to say that there was an art market” (BOLL, 2011, p.14)

império romano e a ascensão da Igreja no poder, mas ainda sim nesta época a “[...] produção artística era tão influenciada por ela que era difícil dizer que havia um mercado mercado de arte”1 (BOLL, 2011, p.14).

Fonte: BERNHARD apud RESCH, 2011

Introdução

8

O restante da evolução do mercado da arte pode ser

as vendas online de arte em 2013 chegaram a somar €2.5

melhor observado com o gráfico da figura 01, proposto pelo

bilhões, com uma estimativa de que até 2020 este mercado

pesquisador Bernhard e focado no estudo de Fine Art, isto

possa somar até €10 bilhões (TEFAF, 2014).

é, toda a arte feita unicamente pelo seu valor estético e sem

Neste sentido, notando o potencial crescimento

utilidade prática. O gráfico é dividido em quatro períodos,

da venda de arte online, é válido evidenciarmos algumas

dos quais o primeiro se estabelece entre 1761 e 1840, onde

vantagens da sua venda, que de acordo com uma pesquisa

o movimento de expansão do mercado é lateral por conta da

do instituto Hiscox (2004), são a possibilidade encontrar

forte influência do Estado e da Igreja (RESCH, 2011), que

novas obras com mais facilidade, a diversidade de material

manteve o volume de obras estável.

encontrado online e o ambiente menos intimidador para

De acordo com o autor, este cenário passa a mudar

compra, já que podendo encontrar o que precisam com

de 1840 até a Primeira Guerra Mundial, quando houve um

facilidade e sem se sentirem intimidados com o ambiente das

aumento do valor de arte através da ascensão da classe média,

galerias, 65% dos compradores de arte acabam se declarando

que começou a se interessar pela coleção artística. Neste

extremamente satisfeitos com suas compras e 45% dos que

momento começavam a surgir no mercado um maior número

ainda não fizeram uma compra online disseram que no futuro

de colecionadores e negociantes, interessados na compra e

o fariam (HISCOX, 2014).

venda de obras de arte.



Assim, considerando todos os dados anteriormente

Essa ascensão, no entanto, sofreu uma queda entre

citados e analisados, é possível reconhecer a crescente

1840 e a Segunda Guerra Mundial, devido aos resultados da

importância do mercado da arte na economia global,

Primeira Guerra Mundial, à inflação e às crises econômicas

destacando uma grande oportunidade para o mercado online,

que surgiram dela e abalaram a economia. Este período de

cujas vendas e reputação estão aumentando cada vez mais.

queda do mercado se encerra em 1950 e a partir de então o

É inegável que, na busca pelo melhor modelo de negócio, e

mercado volta gradualmente a crescer, com a globalização e

considerando o grande alcance e influência que o digital tem

com o reaquecimento da economia, ascensão que permanece

na vida das pessoas, as galerias vão continuar explorando as

constante até os dias de hoje.

plataformas digitais, tornando o mercado online um pertinente

Estas vendas vieram majoritariamente dos leilões de arte, que em 2013 já representavam 47% do mercado, impulsionados por uma alta dos preços e pelo desenvolvimento do mercado chinês (TEFAF, 2014). Nesse mesmo ano,

tema de análise e estudo.

Introdução

9

1.2

Objeto de estudo

conhecimento sobre esta esfera percebida pelo público leigo como de alta complexidade. Afim de compreender

Conforme

sugere

Severino,

procura-se

neste

como a esfera digital influencia um mercado originalmente

momento “[...] delimitar, circunscrever o tema-problema”

tão tradicional, nos questionamos qual é a influência do

(SEVERINO, 2007, p.130). O objeto de estudo deste

surgimento da internet no processo de compra de obras de

projeto é o leilão de arte online, a principal forma de venda

arte por leilão para os consumidores?

de arte (em questão de rentabilidade e reputação) até hoje. Unindo um potencial grupo de compradores em um mesmo

1.3

Objetivo geral

tempo e espaço, os leilões são eventos responsáveis pelos repetidos recordes de preço alcançados neste mercado. As

A delimitação dos objetivos de pesquisa é importante

principais casas leiloeiras, de acordo com Boll (2011), são

para demonstrar quais são “[...] os resultados que precisam

a Christie’s e a Sotheby’s, líderes de mercado responsáveis

ser alcançados para que se construa toda a demonstração”

por dois terços das obras vendidas em todo o mundo. Ambas

(SEVERINO, 2007, p.130), entendendo por demonstração

possuem plataformas de vendas de leilão online, e junto a

o problema anteriormente definido. O principal objetivo de

outras casas exclusivamente online, como a Paddle8 e a

pesquisa, nesse sentido, é analisar qual é a a influência do

The Auction Room, suas vendas estão projetadas a chegar

surgimento da internet no processo de compra de obras de

em €10 bilhões até 2020.

arte por leilão para os consumidores.

1.2

Problema

1.4

Objetivos específicos

Conforme sugere Severino, este tópico é fundamental



Após a definição do objetivo principal da pesquisa,

para expor de maneira técnica e objetiva como o tema

torna-se importante definir os “[...] objetivos intrínsecos da

está problematizado, de modo a obter “[...] uma ideia

pesquisa, pertinentes ao tema e vinculados ao desenvolvimento

muito clara do problema a ser resolvido” (SEVERINO,

do raciocínio” (SEVERINO, 2007, p.131). São eles:

2007, p.131). Apesar do mercado da arte à primeira vista parecer rigorosamente tradicional, podemos perceber que ele vem se abrindo gradualmente para o meio online, não só em termos de vendas como também de propagação do

1. Entender a evolução da sociedade de consumo e o consumo estético na contemporaneidade 2. Compreender como funcionam os mercados de arte

Introdução

10

físico e online, principalmente os leilões pela internet

analíticos. Neste sentido, para este estudo, a seleção de autores

3. Compreender a influência do surgimento da internet no

foi feita com base nos diferentes temas a serem estudados.

processo de compra de obras de arte por leilão para os

Dentre outros autores, foram utilizados para a primeira etapa

consumidores através de entrevistas em profundidade

deste trabalho os autores Zygmunt Bauman, Lívia Barbosa e

e uma pesquisa quantitativa com consumidores de

Gilles Lipovetsky, que analisam a sociedade contemporânea.

arte por leilão online

Já na segunda parte deste projeto, onde analisamos como funcionam os mercados de arte físico e online, com foco nos

1.5

Metodologia

leilões de arte, utilizamos como autores os pesquisadores Don Thompson, Xavier Greffe e Catherine Lamour, além de

Nesta etapa, conforme sugere Severino, “[...] devem ser

diferentes teses e artigos sobre o assunto.

anunciadas as fontes (empíricas, documentais, bibliográficas)



com que o pesquisador conta para a realização da pesquisa

entrevistas em profundidade com compradores de obras de

e os procedimentos metodológicos e técnicos que usará”

arte por leilão online no Brasil e uma pesquisa quantitativa

(SEVERINO, 2007, p.131). A metodologia deste trabalho

com o mesmo público, onde levantaremos e analisaremos

parte de uma pesquisa sobre a sociedade de consumo e da

com 30 respondentes os aspectos positivos e negativos desta

dinâmica do mercado da arte através de pesquisa bibliográfica,

plataforma, a intenção de compra pela internet, as diferenças

quantitativa e qualitativa, visando “[...] apreender o que os

que existem entre o leilão presencial e online e outros pontos

sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam”

que foram compreendidos e analisados ao longo deste

(SEVERINO, 2007, p.124), através de um roteiro pré-definido

projeto, a fim de validar o impacto do surgimento da internet

com questões que orientem as discussões e visem levantar

na compra de obras de arte por leilão online.

informações que podem ser quantificadas e processadas com recursos estatísticos (LIMA, 2008).

Para Severino (2007), a pesquisa bibliográfica é “[...]

aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc” (SEVERINO, 2007, p.122). Esta é uma metodologia importante para a sustentação teórica do trabalho, pois permite o contato com diferentes estudos

Na terceira etapa deste estudo serão realizadas cinco

Introdução

11

1.7

Referencial teórico

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (orgs). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006 BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. São Paulo: Zahar, 2005 LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. LAMOUR, Catherine. Grandes e pequenos segredos do mundo da arte. São Paulo: Tinta negra, 2014 THOMPSON, Don. O tubarão de 12 milhões de dólares. São Paulo: Bel Comunicação, 2012 GREFFE, Xavier. Arte e mercado. São Paulo: Iluminuras, 2013 BOLL, Dirk. Art for sale. New York: Hatje Cantz, 2011 LEHDONVIRTA, Vili. Virtual consumption. Finland, 2009 LOMBARDI, Monica. Social media and contemporary art market. Italia, 2009 THOMPSON, RJ. The changing art market in the digital age. Warren, 2014



2.1 2.2 2.3 2.5

Introdução ao capítulo Senta que lá vem história: a evolução do consumo O consumo estético de hoje Síntese do capítulo

Como o consumo chegou onde estamos

1.1

13

Introdução ao capítulo

e a substituição das produções artesanais pela produção em série de carros, sabonetes e vários outros bens de consumo.

O presente capítulo tem por objetivo entender a evolução

De acordo com Campbell (2011), essa revolução também

da sociedade de consumo e o consumo estético na

foi responsável por trazer novos significados e novas formas

contemporaneidade. Para tanto, com base em uma pesquisa

para a produção de bens, como a produção em massa e o

bibliográfica que contemplará diferentes autores, este

valor simbólico dos bens de consumo. Esta nova forma de

capítulo será dividido em dois momentos de reflexão, com

consumir, para Barbosa (2004), substituiu gradualmente um

o objetivo de facilitar a compreensão dos temas discutidos

consumo meramente familiar para se tornar um consumo mais

ao longo deste projeto. São eles: a sociedade de consumo

individual, já que até então as famílias eram responsáveis

e o consumo estético. Os principais autores utilizados para

pela produção do que consumiam e todo o estilo de vida

se aprofundar no estudo da sociedade contemporânea são

desses diferentes grupos eram regulados pelas leis suntuárias,

Bauman (2005), Lipovetsky (2007 e 2015), Barbosa (2004),

que separavam por segmentos sociais o que cada um deveria

e Benjamin (2012).

consumir. Para a autora,

2.2

Senta que lá vem história: as transformações do consumo



Para

compreendermos

os

impactos

de

uma

transformação nas dinâmicas de consumo, parece importante em primeiro lugar conhecermos as diferentes fases que esta sociedade de consumo passou ao longo de sua história para

Essa relação de dependência entre status e estilo de vida e de independência em relação à renda é inteiramente rompida na sociedade contemporânea individualista e de mercado. Nesta, a noção de liberdade de escolha e autonomia na decisão de como queremos viver e, mais ainda, a ausência de instituições e de códigos sociais e morais com suficiente poder para escolherem por e para nós são fundamentais (BARBOSA, 2011, p.21).

entendermos a sua evolução ao longo do tempo. De acordo com Barbosa (2004), esta sociedade de consumo surgiu a

Deste modo, Barbosa nos mostra como a sociedade

partir do revisionismo sobre a Revolução Industrial, ocorrida

mudou com a Revolução Industrial, passando de uma sociedade

na segunda metade do século XVIII na Inglaterra. Com a

marcada por um estilo de vida constituído de diferentes regras

consolidação do sistema fabril, da urbanização, do grande

de comportamento para uma maior autonomia e liberdade de

desenvolvimento tecnológico e com a substituição da força

escolha de como cada sujeito quer viver. Assim, aos poucos,

de trabalho humana por máquinas para agilizar a produção

a produção de mercadorias em série e a busca por novas

e diminuir o custo das mercadorias, o indivíduo neste

formas de aquecer a demanda naturalmente fizeram com que

período observou a intensificação da demanda de consumo

o capitalismo se expandisse, e nem a renda e a posição social

Como o consumo chegou onde estamos

14

pareciam ser uma barreira sólida para o consumo, já que

já que de acordo com o autor, até 1880 os produtos ainda

neste momento não há mais uma pirâmide social em que os

eram anônimos e as marcas nacionais pouco numerosas.

consumidores em sua base se inspiravam no topo da cadeia,

Assim, para rentabilizar seus produtos e aumentar o fluxo de

mas sim uma multiplicidade de grupos sociais, em que a

produção, essas novas indústrias como a Procter&Gamble,

inspiração está por todos os lados (BARBOSA, 2004)

a Kodak e a Coca-Cola começaram a fazer cada vez mais

Mas

como

podemos

compreender

melhor

a

evolução deste consumo? Lipovetsky (2007) propõe um

publicidade em torno de suas marcas, investindo mais de um milhão de dólares nesta finalidade.

aprofundamento deste assunto ao analisar a transformação

Esse aparecimento e crescimento das marcas através

da sociedade de consumo através de quatro fases, que

da publicidade transformou a relação do consumidor com

investigaremos neste momento em mais profundidade. A

os varejistas da época, pois os sujeitos passaram a se tornar

primeira delas, que começa no final dos anos 1880 e vai até o

cada vez mais independentes dos comerciantes e a julgar

início da Segunda Guerra Mundial, é marcada pelo momento

os produtos por suas marcas e não apenas nas palavras

em que pequenos mercados locais deram lugar a grandes

dos vendedores (LIPOVETSKY, 2007). Nesta época, de

mercados nacionais, possíveis dentre outras inovações, pelas

acordo com as palavras complementares de Semprini, “elas

estradas de ferro, o telefone e o telégrafo, que colaboraram

[as marcas] só tem que cumprir funções relativamente

para o aumento da produção, da distribuição e do comércio de

simples. Elas nomeiam, elas identificam, elas diferenciam”

diferentes bens de consumo, que foram se espalhando pelas

(SEMPRINI, 2006, p.27).

cidades e pelas diferentes camadas sociais. Essa produção

Essa incipiência do surgimento das marcas mudou

era tão expressiva que Lipovetsky (2007) traz diferentes

após o término da Segunda Guerra Mundial, quando elevou-

números para comprová-la, como o fato de que, diariamente,

se a produção industrial e deu-se início à segunda fase do

uma única máquina nos Estados Unidos, ao final de 1880, era

consumo, marcada em 1950 por um grande crescimento

capaz de produzir 120 mil cigarros, 2 milhões de caixas de

econômico e pela produtividade do trabalho. Lipovetsky

fósforo mais de 220 mil sabonetes.

(2007) denomina esta fase como a de consumo de massa ou da

Mesmo assim, não bastou uma profusão de produtos

abundância, já que nesta época o consumo aumentava cerca

circulando pelo mercado para serem construídas as bases

de 10,3% ao ano em volume (BENJAMIN, 2012) e atingia

do consumo massificado. Lipovetsky (2007) explica que o

todas as classes sociais. Ainda segundo Lipovetsky (2007),

capitalismo de consumo também faz parte de uma construção social e cultural, através não só da busca pela margem de lucro nos produtos comercializados como também pelo estabelecimento de estratégias de propaganda e marketing,

Há algo mais na sociedade de consumo além da rápida elevação do nível de vida médio: a ambiência de estimulação dos desejos, a euforia publicitária, a imagem luxuriante das férias, a sexualização

Como o consumo chegou onde estamos

15

dos signos e dos corpos. Eis um tipo de sociedade que substitui a coerção pela sedução, o dever pelo hedonismo, a poupança pelo dispêndio, a solenidade pelo humor, o recalque pela liberação, as promessas do futuro pelo presente. [...] toda a cotidianidade impregnada de imaginário de felicidade consumidora, de sonhos de praia, de ludismo erótico, de modas ostensivamente jovens (LIPOVETSKY, 2007, p.35).

compra de uma peça de roupa ou do endividamento através da compra à crédito de algum bem de consumo.

Assim, com essa crescente oferta de produtos, a

indústria começou a precisar educar as pessoas para incentiválas ao consumo, passando a associar seus produtos com diferentes imagens de sonho e de desejos (BARBOSA, 2004). Com seu uso cada vez mais saturado, o consumo pouco a pouco passou a ser central na sociedade. Polon (2012) explica



É nesta época, ainda, que as primeiras discussões

esse fato ao afirmar que a alta demanda produtiva modificou

sobre reduzir o ciclo de vida dos produtos comercializados

o modo como o consumo interage com o modo de vida das

surgem para tirá-los de moda rapidamente e substituí-

pessoas (LEBOW apud POLON, 2011). Em suas palavras,

los por outros para manter a produção à tona. Não é a toa que Benjamin (2012) aponta que neste período a produção fordista2 se acirrou e os modos de produção padronizados e repetitivos se ampliaram para manter o fluxo de fabricação constante, criando em grande escala o que Lipovetsky (2007) chama de “[...] a vontade crônica dos bens mercantis, o vírus da compra, a paixão pelo novo, um modo de vida centrado nos valores materialistas” (LIPOVETSKY, 2007, p.36), e o

2 O fordismo é um modelo de organização do trabalho humano organizado por Henry Ford que fez saltar o lucro do mercado norteamericano de 2 para 250 milhões de dólares através da produção em massa, da criação de uma linha de montagens e da automatização das fábricas (SANTOS, 2009).

A economia altamente produtiva necessita que façamos do consumo o nosso modo de vida; que convertamos a compra e uso de produtos em rituais; que busquemos nossa satisfação espiritual, a satisfação de nosso ego no consumo. Nós precisamos que as coisas sejam consumidas, queimadas, atualizadas e descartadas a uma taxa sempre cada vez maior (LEBOW apud POLON, 2011 p.4)

consumo atrelado aos desejos ajudou a construir a visão de

Neste sentido, o autor explica como o consumo

que os objetos eram capazes de impressionar e serem fontes

virou um ritual em busca da satisfação do nosso ego, pois

de prestígio. Veblen acrescenta à discussão a sua visão sobre

com a diversidade crescente de mercadorias, os indivíduos

como o consumo é visto como “uma atividade carregada de

passam a ser inseridos na sociedade com base no que

significado, voltando-se para a afirmação da vinculação a

consomem e o capitalismo acaba impulsionando o consumo

um grupo e, ao mesmo tempo, ao desejo de ascensão social”

como meio de diferenciação social, que nos mostra como

(VEBLEN apud GUERRA, 2011, p.24). Para ele, “algumas

o desenvolvimento das esferas urbanas e industriais criam

pessoas vão se submeter a um nível considerável de privação em termos de conforto ou necessidades básicas da vida para

uma camada social cada vez mais numerosa e sedenta 3 pelo consumo, que passa a se massificar e a se generalizar Original: "People will undergo a

conseguir consumir em exagero”3 (VEBLEN apud GUERRA,

(SOMBART apud GUERRA, 2011).

2011, p.32), como a privação de algumas refeições para a

very considerable degree of privation in the comforts or the necessaries of life in order to afford […] wasteful consumption"

Como o consumo chegou onde estamos



16

A fase que se segue é uma continuação deste consumo

vivida como a expressão de uma identidade e como, exibida

marcado pelo desejo: o hiperconsumo, que se inicia em

essa marca em público, os indivíduos reconhecem nela uma

1975 e segue até o final do século XIX. Marcada pela “[...]

parte de sua personalidade, marcando o hiperconsumo como

mercantilização moderna das necessidades e orquestrada

uma fase em busca da individualidade e do consumo pela

por uma lógica desinstitucionalizada, subjetiva, emocional”

imagem da marca.

(LIPOVETSKY, 2007, p.41), esta fase engloba o consumo

Esta busca pela individualidade de maneira exacerbada

com vistas à satisfação emocional, corporal, sensorial e

e o aumento exponencial do consumo de diferentes bens se

estética, com os bens de consumo tendo um papel fundamental

relacionam com o que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman

na liberdade, na vivência de experiências e na qualidade de

chama de sociedade líquida, aquela em que

vida individual. Neste período, as marcas deixam de fazer publicidade atrelada somente às funcionalidades dos seus produtos e passam a considerar as experiências afetivas e sensoriais de cada indivíduo. De acordo com o autor, a sociedade deixa, neste momento, de comprar produtos padronizados e o consumo passa a se diferenciar de acordo

[...] as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação dos hábitos e rotinas, das formas de agir. A vida líquida, assim como a sociedade, não podem manter a forma ou permanecer em seu curso por muito tempo (BAUMAN, 2005, p.7).

com idade, gostos e identidades culturais singulares para valorizar a diferença, a experiência e o individualismo.

O cerne da discussão do sociólogo é que a sociedade de

Converge neste sentido a afirmação de Barbosa

consumo passa a vender a satisfação de desejos que nunca

(2004) de que nesta época a publicidade deixa de falar apenas

serão totalmente supridos, pois o constante surgimento de

dos benefícios funcionais do produto e surgem anúncios

novos bens de consumo renovam os desejos do consumidor,

que, para Barbosa, falam sobre sonhos, aventuras, amizades

como se o mercado de consumo fosse “[...] a versão do século

e romances, já que é a imagem criativa das marcas que

XX (reconhecidamente mutante) do sonho do Rei Midas

faz a diferença na compra, fazendo com que elas precisem

tornado realidade. O que o mercado toca, não importa o

convencer seus públicos de que “[...] seus produtos são

que seja, transforma-se em mercadoria” (BAUMAN, 2005,

aqueles que melhor material lhes dão para os seus daydreams”

p.117). Esta pluralidade de bens de consumo, para Bauman

(BARBOSA, 2004, p.55). Lipovetsky (2007), traz como

(2005), pode tornar permanente a insatisfação e provoca

exemplo para ilustrar este momento um adolescente que

novas necessidades, desejos e vontades constantemente,

pauta suas escolhas na vontade de diferenciar-se de seus pais,

característica típica do hiperconsumismo proposto por

afirmando gostos e preferências que definem o seu estilo.

Lipovetsky e que se estende ao capitalismo e ao consumo

Este exemplo nos mostra como a compra de uma marca é

estético, que será contextualizado no tópico seguinte deste

Como o consumo chegou onde estamos

17

projeto. Segundo Bauman, “sem a repetida frustração dos

capitalismo. Haja visto os diferentes pontos de contato com o

desejos, a demanda pelo consumo se esvaziaria rapidamente,

consumo de arte propostas pelo autor, trataremos a partir de

e a economia voltada para o consumidor perderia o gás”

então deste tópico em maiores detalhes.

(BAUMAN, 2005, p.107).

Segundo Lipovetsky (2015), “o capitalismo artista

Estas características, segundo o autor, dariam origem

é esse sistema que produz em grande escala bens e serviços

à “síndrome consumista”, apontada por Bauman como

com fins comerciais, mas impregnados de um componente

“[...] uma questão de velocidade, excesso e desperdício”

estético-emocional que utiliza a criatividade artística tendo em

(BAUMAN, 2005, p.110), em que a sociedade de consumo é

vista a estimulação do consumo mercantil e do divertimento

marcada pelo excesso de desejos que nunca serão totalmente

de massa” (LIPOVETSKY, 2015, p.68). Assim, através da

saciados. Isto porque “o mercado não sobreviveria caso os

sua inserção como estratégia de marketing e comunicação das

consumidores se apegassem às coisas” (BAUMAN, 2005,

empresas, focalizadas nos gostos estéticos e afetivos dos seus

p.48). Esta discussão do autor nos remonta às discussões

consumidores como forma de intensificar a geração de sonhos,

presentes ao final da segunda fase do consumo proposta por

prazeres e emoções que surgiram no hiperconsumismo, este

Lipovetsky em questão à obsolescência programada dos bens

capitalismo artista permite “a integração e a generalização da

de consumo que eram produzidos com o objetivo de gerar

ordem do estilo, da sedução e da emoção nos bens destinados

novos desejos e de, consequentemente, fomentar a produção

ao consumo mercantil” (LIPOVESTKY, 2015, p.47), através

das indústrias e do consumo.

da criação de beleza, emoção e entretenimento para conquistar seus consumidores. Exemplos desta intersecção são o que

2.3

O consumo estético de hoje

Lamour (2014) chama de museu fora dos muros, em que a arte e a estética se espalham e se encontram pela cidade, em metrôs,

É com base neste hiperconsumo marcado pelo desejo

cartazes de rua, ônibus, praças e restaurantes em monumentos

e pelo consumo líquido que se estabelece, na segunda metade

históricos. Neste sentido, o capitalismo artista cria valor

do século XIX, a quarta fase do consumo (LIPOVETSKY,

econômico por meio do valor estético, ligando esta esfera

2015),

capitalismo

material à sensibilidade e ao imaginário, mas sem deixar de

hiperconsumista: o capitalismo artista, marcado por um

funcionar como um sistema regrado pelas lógicas financeiras e

boom estético sustentado pelo capitalismo do hiperconsumo

do marketing. Isso se observa, segundo Lipovetsky (2015), em

e caracterizado pela inflação da estetização dos mercados de

todas as indústrias culturais, como a moda, o luxo e a arte, da

consumo e das indústrias, em que dominam os imperativos

qual nos aprofundaremos neste instante.

posterior

e

complementar

ao

do estilo, da beleza e do espetáculo e em que a arte se torna

Atestada pela magnitude dos investimentos dos

um instrumento de legitimação das marcas e das empresas no

colecionadores e pelo aumento crescente dos preços das

Como o consumo chegou onde estamos

18

obras de arte (BENJAMIN, 2012), do aumento da produção

crescimento exponencial dos museus nas últimas décadas.

e da reprodutibilidade das obras de arte, cada vez mais ela

Antes de 1920, haviam 1200 museus nos Estados Unidos.

aparece como uma mercadoria. Conforme as palavras de

Já no início de 1980 haviam mais de 8 mil, impulsionados

Benjamin, “a arte sempre foi, por princípio, reprodutível.

pela expansão das grandes cidades e também da vontade de

[...] Tal imitação foi praticada igualmente por discípulos,

pequenas cidades em quererem ter seus próprios museus como

para exercício da arte; por mestres, para difusão das obras;

sinal de afirmação de identidade e como centro de atração

e finalmente, por terceiros, ávidos de lucros” (BENJAMIN,

turística e comercial. Nesta época, as bienais, as feiras, os

2012, p.13). Isto significa que até a reprodução técnica é

salões e as galerias de arte também praticamente dobraram

antiga, datada do surgimento da xilogravura, da estampa em

de tamanho, abrigando centenas de exposições e artistas

cobre e da litografia, ainda na Idade Média. (BOLL, 2011). O

incipientes que buscam seu espaço neste mercado bilionário

que vemos hoje em dia, no entanto, não é apenas uma questão

e cada vez mais globalizado, marcando o que o autor chama

da reprodutibilidade das obras de arte e sim do seu valor

de hyperart, um mercado superabundante e proliferante, em

econômico, já que as obras são julgadas muito mais pelos

que “[...] se apagam as distinções entre arte, negócio e luxo”

seus resultados comerciais do que pelas suas características

(LIPOVETSKY, 2015, p.58).

puramente estéticas. Como discorre Lipovetsky,



A idade romântica da arte cedeu o passo a um mundo no qual o preço das obras é mais importante e mediatizado do que o valor estético: hoje é o preço mercantil e o mercado internacional que consagram o artista e a obra de arte. É o tempo da ‘art business’, que vê triunfar as operações

de especulação, de marketing e de comunicação (LIPOVETSKY, 2015, p.46)



Essa superabundância de obras de arte circulando

pelo mercado de modo crescente nos remete às discussões de Benjamin sobre como essa reprodução acirrada da obra de arte fez com que ela perdesse o seu caráter único, sua quintessência, sua aura. Isto porque a reprodução permite colocar uma cópia da obra original em lugares que ela não estaria (BENJAMIN, 2012). Conforme explica o autor, “a catedral abandona seu lugar para encontrar sua recepção no estúdio de um amante das artes; o coral que foi executado

Assim, a dinâmica estética passou cada vez mais a

em uma sala ou a céu aberto se deixa ouvir em um quarto”

incorporar os mecanismos financeiros e mercantis, regidos

(BENJAMIN, 2012, p.21). Mesmo assim, “a obra de arte

pelas leis das empresas e da economia de mercado. Hoje

reproduzida torna-se cada vez mais a reprodução de uma obra

em dia, de acordo com Kotler (2008), até os museus devem

de arte voltada para a reprodutibilidade” (BENJAMIN, 2012,

ser administrados como verdadeiras empresas, buscando

p.35), isto é, conforme o autor explica através da fotografia, de

aumentar suas fontes de rentabilidade e aumentar seus

uma simples chapa fotográfica é possível produzir diferentes

números de visitantes. Lipovetsky também aponta para o

cópias sem que ela perca a sua autenticidade. Com isso,

Como o consumo chegou onde estamos

19

crescem as oportunidades de exposição das obras e de sua

e econômicos, mantendo entre si uma harmonia.

venda, característica que de acordo com Lipovetsky (2015) é



o que importa a partir deste momento, tornando-se uma arte

aumentaram? Além da sua reprodutibilidade, que apesar de

voltada à busca pelo lucro e pelo sucesso, passando “[...] a se

ter causado questionamentos em autores como Benjamin

tornar um mundo econômico como os outros, adaptando-se

(2012) sobre a autenticidade e a “aura” das obras diante a sua

às demandas do público e oferecendo produtos ‘sem risco’ de

multiplicação, inevitavelmente possibilitou o seu alcance a

obsolescência rápida (LIPOVETSKY, 2015, p.21).

um público maior, atualmente se estabelece um crescimento



Neste sentido, foi a vez não mais dos locais de arte

no número de colecionadores e especuladores dos fundos de

se expandirem, mas sim dos preços das obras que eram

investimento que estão atraídos pela velocidade da expansão

comercializadas, evidenciando uma lógica inflacionista

econômica positiva destas obras, que circulam cada vez mais

do capitalismo artista e marcando a arte como dominada

rápido pelo mercado. Uma obra que antes demorava vinte

também pelas lógicas do superlativo e da hiperaceleração.

ou trinta anos para reaparecer em uma galeria ou leilão, hoje

Os lances milionários em leilões de arte e em galerias foram

leva menos de dez anos (BOLL, 2011). Ainda, um outro fator

multiplicados seis vezes entre 2005 e 2008, alcançando picos

para o disparo do mercado de arte é o crescimento do número

inigualados em que

de artistas, dinâmica que ocorre desde o século XIX com [...] os recordes de vendas são o tempo todo superados por novos recordes mais estrondosos ainda, em que os lances nos leilões soam cada vez mais altos. Preços tão assombrosos que permitiriam a um Damien Hirst ser classificado entre as cinquentas maiores fortunas da Inglaterra (LIPOVETSKY, 2015, p.59).

Assim, para o autor, galerias de arte, casas leiloeiras e feiras se tornam cada vez mais empresariais, tendo que multiplicar suas vendas, promover políticas de promoção e diversificação dos serviços financeiros e buscar organizadores de exposições,

Mas por que as vendas do mercado de arte

a promoção social dos artistas. De acordo com Lipovetsky sobre esta evolução do artista no mercado, A primeira era da igualdade tornou possível a entronização dos artistas na esfera da elite social, na sociedade dos salões, no Tout-Paris: engalanados de novos prestígios, reconhecidos como figuras de grandeza moral e intelectual, e até como magos, guias inspirados, os artistas frequentam então os salões mundanos em que são admitidos em pé de igualdade, ascendem à altura de heróis literários e se tornam célebres, a ponto de serem erguidas estátuas a eles, como aos políticos (LIPOVETSKY, 2015, p.122).

peritos e conselheiros de colecionadores para ajudar a manter a multiplicação das vendas crescente. Deste modo, como acrescenta Boll (2011), os intermediários do mercado tem um

Essa ascensão social do artista, nesse sentido, foi possível com

papel fundamental em criar a ponte entre os sistemas artísticos

a queda da soberania da Igreja nas artes em séculos passados,

Como o consumo chegou onde estamos

20

pois os artistas passaram a se desvincular da produção

antes já foram estabelecidas e conhecidas como artes rituais,

sagrada e a investir em produções próprias, como a pintura de

artes populares e tradicionais, artes religiosas e de elites, hoje,

paisagens e de natureza morta. Na era moderna, esta nova arte

de acordo com o autor, busca-se a comercialização de uma obra

serve de contrapeso à alienação da vida cotidiana e da secura

que proporcione satisfação fácil e imediata a consumidores

dos saberes científicos.

motivados pela busca do prazer ou da diversão. Assim, como



Mesmo assim, “como o resto, o ‘amor’ à arte não

reflete Lipovetsky (2015), o capitalismo transestético difunde

escapa das malhas da sociedade da velocidade e do efêmero”

a arte na vida comum e faz do preço das obras e do ganho dos

(LIPOVETSKY, 2015, p.61). Os artistas querem se realizar,

artistas o próprio marco de sucesso.

exprimir e criar sem os moldes das atividades profissionais



tradicionais, num impulso narcísico de visibilidade, de

Benjamin (2012) de que este caráter comercial das obras fariam

reconhecimento e de celebridade, reforçado segundo

com que elas perdessem a sua autenticidade, Lipovetsky traz

Lipovetsky pelas mídias e pelo surto de individualização

a reflexão de que as tensões existentes entre o marketing e

iniciado no hiperconsumismo. De acordo com o autor, o

a arte não são insuperáveis, pois a arte continua tendo um

desejo de ser um artista não está mais tão ligado a um sonho

grande valor estético e cultural para a sociedade. Conforme

romântico de viver inteiramente para a sua arte mesmo que

ele reflete,

em condições contrárias à riqueza capitalista, “[...] e sim ao projeto de carreira orientado pela ideia da fortuna rápida e do êxito social: ser cantora, como Madonna, ou jogador de futebol, como Zidane, e rico como eles” (LIPOVETSKY, 2015, p.117). Mas esta busca parece cada vez mais acelerada, como já nos indicaria Bauman (2005), haja visto que tudo é para agora. Não basta esperar para alcançar o estrelato. Este intervalo, entre o início da carreira e a fama, devem ser cada vez mais curtos para que se alcance uma respeitabilidade quase imediata (LIPOVETSKY, 2015).

No entanto, em contradição ao pensamento de

O que justifica não considerar as obras comerciais como arte propriamente dita? Sua falta de qualidade e de criatividade? Mas nem a originalidade nem mesmo o valor estético são condições sine qua non de uma obra de arte. Um romance ‘ruim’

não deixa de ser um romance; e uma cançoneta popular, uma obra musical. O próprio rap, tão depreciado devido a seus ritmos barulhentos e suas letras grosseiras, pode ser considerado uma obra legítima de arte. (LIPOVETSKY, 2015, p.75).

Neste sentido, não é mais tanto a experiência elitista

Ainda, conforme nos trouxe Boll (2011), as obras de arte

da veneração e do recolhimento estético da produção e

quase sempre tiveram um caráter comercial. Os pintores

comercialização da obra de arte que interessa e sim o lucro,

do século XVII em Roma, por exemplo, como nos traz

o estímulo ao consumo através de prazeres passageiros,

Lipovetsky (2015), já possuíam um pensamento econômico

imediatos e incessantemente renovados. Ao passo que as artes

para suas obras, produzindo pequenos quadros que poderiam



Como o consumo chegou onde estamos

21

ser colocados nos alforjes dos cavalos dos viajantes que

mercados de arte físico e online, principalmente os leilões

passavam pela cidade e desejavam comprar uma obra e

pela internet

não tinham como carregá-la. Ainda, conforme traz o autor, grandes pintores desta época, como Caravagio e Poussin,

2.4

Síntese do capítulo



Ao longo desta etapa do projeto conhecemos com

sempre aceitaram encomendas e se preocuparam com o preço de venda de suas obras. As reflexões de Bauman acerca da sociedade líquida

Barbosa (2004) as origens da sociedade de consumo como

acrescentam à esta discussão sobre o caráter comercial das

atreladas à ocorrência da Revolução Industrial na Inglaterra.

obras de arte na medida em que, se os indivíduos se apegassem

Nos aprofundamos nesta evolução a partir da proposta de

aos bens materiais que consomem, a produção iria parar e o

divisão do consumo em quatro períodos por Lipovetsky

mercado cessaria. Assim, não é a toa que as obras de arte

(2007). A primeira delas marcou a passagem dos mercados

circulam cada vez mais rápido por entre as galerias e as casas

locais para grandes mercados nacionais e a difusão de bens de

leiloeiras, como vimos anteriormente. A compra de uma obra

consumo de maneira massante. A segunda fase foi marcada

não cessa o desejo de um colecionador ávido pelo consumo

por um crescimento do modelo de produção fordista fabril e do

porque novas obras são inseridas no mercado a cada instante,

desenvolvimento das propagandas para a criação e evolução

reacendendo a frustração pelo desejo e pela demanda citadas

das marcas. A terceira fase amplia este consumo massificado

pelo autor.

ao torná-lo inerente aos desejos, às experiências e à busca



Deste modo, “[...] em um piscar de olhos, os

pela individualidade através dos bens materiais e dos serviços

ativos se transformam em passivos, e as capacidades, em

que as marcas oferecem, se desdobrando no que Lipovetsky

incapacidades” (BAUMAN, 2005, p.7), ou seja obras de arte,

(2015) denomina capitalismo estético, a quarta fase do

serviços e até habilidades pessoais envelhecem rapidamente

consumo. É nesta época que os setores industriais passam a

e se tornam obsoletas na medida em que novas surgem no

ser dominados por um boom estético e pela artealização de

mercado, apenas esperando um novo consumidor saciar seu

bens cotidianos, em que o mercado de arte se expande cada

desejo que logo será retomado em um ciclo infindável.

vez mais com o crescimento dos colecionadores, do desejo



Assim, conhecendo a evolução da sociedade do

de ser artista e da produção de obras de arte, marcando um

consumo e tendo formadas as bases do consumo estético

consumo cada vez mais líquido e efêmero, com a constante

e as diferentes problemáticas da expansão da arte ligada

geração de desejos insaciáveis e colocando em xeque as

às esferas econômicas, bem como o consumo cada vez

questões levantadas por Benjamin (2012) sobre a perda da

mais guiado pela sociedade líquida proposta por Bauman

aura das obras de arte com a sua reprodutibilidade técnica.

(2005), que passaremos a compreender como funcionam os



3.1 3.2 3.3 3.3 3.5

Introdução ao capítulo Organizando o mercado As casas leiloeiras O leilão em pixels Síntese do capítulo

Vamos comprar arte!

23

3.1

Introdução ao capítulo

obras de arte que custam mais de €1 milhão. Na internet este setor também é representativo e alcançou €3 bilhões em

Neste segundo momento da pesquisa compreenderemos

vendas, com uma expectativa de que até 2020 ele chegue a

como funcionam os mercados de arte físico e online,

€10 bilhões, validando o que Lipovetsky (2015) afirma de

principalmente os leilões pela internet. Para facilitar a

que “o mercado da arte contemporânea é dominado pelas

compreensão dos temas discutido, o capítulo se dividirá em

lógicas do superlativo e da hiperaceleração” (LIPOVETSKY,

dois momentos de reflexão: a compreensão da dinâmica do

2015, p.60), já que com o aumento da demanda, do número

mercado de arte físico e online, e o mercado de leilões de arte

de colecionadores e da multiplicação dos especuladores e dos

digital. Os principais autores utilizados para se aprofundar

fundos de investimento atraídos pelo retorno financeiro das

neste estudo são Thompson (2010 e 2012), Benhamou-Huet

obras de arte, este mercado cresce aceleradamente.

(2008) e Lamour (2014), além de diferentes teses e artigos



sobre o assunto.

todo este valor em obras de arte comercializadas por todo o

Mas como a arte e a economia se aproximaram gerando

mundo? Existem diferentes formas de se vender uma peça 3.2

Organizando o mercado

de arte, mas de acordo com diferentes estudos, este mercado se organiza fundamentalmente em dois níveis distintos:



Antes de nos aprofundarmos nas particularidades do

o primário e o secundário, que possuem características e

mercado da arte, é válido o dimensionarmos com base em

objetivos distintos, conforme entenderemos a seguir.

seu tamanho financeiro. Como dito anteriormente, mesmo



que com pequenas oscilações, o mercado de arte vem

primário é aquele que abriga obras que nunca apareceram

crescendo desde 1960, com a globalização e o reaquecimento

antes no mercado, isto é, nunca foram compradas ou

da economia após o final da Segunda Guerra Mundial,

vendidas (ROBERTSON, 2005). Este mercado abriga boa

que impulsionaram a venda de obras (RESCH, 2005).

parte dos artistas e o excesso de oferta em detrimento da

Financeiramente, de acordo com um estudo da TEFAF

baixa procura o torna bem competitivo para os artistas,

(2014), este setor é bilionário e somou 51 bilhões de euros

além de manter os preços das obras baixos (THROSBY,

em 2014, um crescimento de 7% com relação a 2013 e de

1994). É válido notar que neste mercado são os próprios

150% com relação à última década. E de onde todo este valor

artistas os responsáveis por buscar galerias e exposições

provém? Segundo o mesmo estudo, os países que lideram as

para promoverem seus trabalhos e, por ser altamente

vendas de obras de arte são os Estados Unidos, a China e o

competitivo, envolve um alto risco na negociação de suas

Reino Unido, que juntos em 2014 somam cerca de metade

obras, visto que há pouca informação sobre os artistas

do volume de vendas em valor da parcela do mercado de

e suas peças, o que faz com que muitos negociantes e

Em primeiro lugar, para Robertson (2005), o setor

Vamos comprar arte!

4 Original: “When a work is sold there is a chance that it will eventually reappear on the market” (RESCH, 2011, p.41)

24

galerias tenham que operar com margens de lucro baixas

participam das vendas. É o comerciante quem oferece as obras

ou negativas (RESCH, 2005)

à revenda para colecionadores, galerias e casas de leilão, e é



Na contramão deste mercado está o nível secundário,

o curador quem exibe as obras que alcançaram os maiores

aquele em que as obras já circularam no mercado, estão

preços em um leilão. Uma outra diferença fundamental para

se tornando conhecidas e seus preços estão aumentando

o mercado primário é que agora há mais informações sobre os

(ROBERTSON, 2005). Este reaparecimento das obras acontece

artistas e suas obras à disposição dos interessados, o que torna

porque “quando uma obra é vendida, há grandes chances

este mercado muito mais previsível e com muito menos risco

dela eventualmente reaparecer no mercado”7 (RESCH, 2011,

envolvido em suas negociações (RESCH, 2005).

p.4), já que muitos colecionadores mantém o giro das obras

É com este cenário em mente e compreendendo

como forma de investimento financeiro. Thompson (2012)

a divisão do mercado da arte entre os níveis primário e

acrescenta à explicação do aumento dos preços das obras o

secundário, que nos atentamos a identificar e entender os

fato de que “quando um artista está em alta, não se aplica o

principais participantes deste setor. Em seus estudos, Resch

conceito econômico de oferta e procura. Se o artista consegue

(2005) identificou que ele se divide entre dois polos: o dos

criar peças suficientes para expor simultaneamente em várias

artistas e o dos colecionadores, com diferentes intermediários

galerias e feiras de arte, o zum-zum maior em torno dele eleva

permeando-os, como os negociantes, os críticos de arte e as

os preços” (THOMPSON, 2012, p.59). Isto significa que a

galerias, participantes que conheceremos a seguir.

realização de exposições em galerias e feiras, e as menções

O primeiro deles é o colecionador, que age tanto

em diferentes veículos especializados fazem com que os

como comprador quanto como vendedor de obras de arte

artistas fiquem mais valorizados e despertem o interesse dos

(CHONG, 2005), ao revendê-las no mercado secundário em

colecionadores.

galerias ou leilões. Ele pode ser tanto um indivíduo físico,



Fazem parte deste nível artistas estabelecidos que

que em sua maioria não possui grande conhecimento sobre

conseguiram passar do mercado primário para o secundário

arte, mas visitam museus e galerias com frequência, além de

através da representação por alguma galeria ou da compra de

contratarem negociantes e conselheiros para lhes ajudarem

uma obra por um museu público, negociantes e colecionadores

em suas compras (LIPOVETSKY, 2015), quanto instituições

públicos e privados (THOMPSON, 2010). Como complementa

privadas. Suas motivações para a compra de obras de arte

Throsby (1994), poucos são os artistas que fazem parte do

podem ser, conforme aponta Resch (2005) e Boll (2011),

mercado secundário e o número de compradores em geral é

a inspiração que a arte trás, o vício em colecionar objetos,

ainda menor, em virtude da alta dos preços de galerias, que

o investimento financeiro e a manifestação do status social

controlam sua volatilidade (THROSBY, 1994). Ainda, ao

através da criação de museus e galerias próprias para mostrar

contrário do mercado primário, os artistas neste setor não

suas aquisições ao público (RESCH, 2005).

Vamos comprar arte!

25

Quem ajuda estes colecionadores em suas compras

seu crescimento (RESCH, 2005).

são os negociantes, que agem como empreendedores e são

Assim, os críticos de arte ajudam no desenvolvimento

profissionais que ajudam colecionadores, museus e galerias

das galerias, que de acordo com Thompson (2012), são

em suas aquisições, frequentemente participando de leilões.

verdadeiras fortalezas que selecionam quem vai aparecer e

Este intermediário também pode trabalhar junto aos artistas

quem não vai no mercado. O trabalho delas é organizar seus

e ajudá-los a vender suas obras para os colecionadores,

artistas e promovê-los através de colecionadores, críticos de

geralmente recebendo uma comissão de 50% do valor da

arte e curadores de museus. Para isso, em geral as galerias

obra (CHONG, 2005), mas mesmo assim, como acrescenta

organizam exposições regulares e abertas ao público com

Resch (2005), estes agentes em geral trabalham apenas para

entre 5 e 25 artistas que elas representam, em que todas as

o mercado secundário, tendo pouco contato com artistas que

obras podem ser adquiridas e até mesmo alugadas por um

nunca venderam obras de arte anteriormente, valendo-se notar

certo período (RESCH, 2005). Para obter lucro com as

que eles representam cerca de 53% do volume de vendas

vendas, as galerias se apoiam principalmente no mercado

de obras de arte (TEFAF, 2014). O trabalho do negociante

primário, dividindo o valor da venda, em geral, igualmente

para um colecionador que procura obras de um determinado

entre o artista e a galeria. Mesmo assim, por tratar-se de

artista consiste em descobrir em sua rede de contatos quem

um mercado formado fundamentalmente por artistas novos,

possui peças deste artista, persuadindo estes indivíduos à

muitas galerias acabam tendo que buscar alternativas para não

venda das obras que possuem (RESCH, 2005). Assim, se um

saírem no prejuízo, já que os custos de promoção são caros

colecionado procura uma obra de Picasso, o agente procura

e os descontos, para incentivar a venda das peças, são altos

todos os colecionadores e galerias que possuem obras do

(RESCH, 2005). Uma outra forma das galerias obter lucro é

artista para adquirí-las para seu colecionador.

participar do mercado secundário através da representação de

Este interesse dos colecionadores por um artista

colecionadores, em que a galeria compra obras de arte em seu

específico pode ser oriundo das menções dos críticos de

nome, e também através da compra de obras de baixo valor

arte, que são o elo de comunicação entre o artista e seu

que ela possa revender. Em alguns casos, a galeria também

público (CHONG, 2005). Em geral são artistas, curadores

participa de leilões para proteger o preço das obras do artista

e historiadores de arte que escrevem em blogs pessoais,

que ela representa, como forma de manter seus artistas

jornais ou revistas especializadas no mercado artístico,

valorizados no mercado (RESCH, 2005).

e que frequentemente escrevem artigos em catálogos de galerias e casas leiloeiras. Neste sentido, os críticos de arte tem uma proximidade muito grande com negociantes, artistas e feiras de arte, ajudando estes intermediários em

Vamos comprar arte!

26

3.3

As casas leiloeiras

sucedidas. O leiloeiro, que nunca é identificado pelo nome, faz parte da psicologia do leilão, isto é, dos efeitos e das

5 “To identify, evaluate and appraise works of art through its international staff of specialists, to stimulate purchasers’ interest through professional marketing techniques, and to match sellers and buyers through the auction process” (SOTHEBY’S apud RESCH, 2005, p.49). 6 Casa leiloeira fundada em 1744 em Londres. Com alcance mundial, ela é líder de vendas junto com a Christie`s e possui escritórios por todo o mundo, inclusive em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Campo Grande e Mato Grosso do Sul, atuando em diferentes áreas, como a artística, a vinícola e a de agronegócio (SOTHEBY'S, 2015, disponível em www.sotheby's.com). 7 Casa leiloeira fundada em 1766 que produz mais de 450 eventos por ano em mais de 80 categorias, como arte, jóias e vinho. Ela possui cerca de 50 escritórios ao redor do mundo, mas nenhum no Brasil (CHRISTIE'S, 2015, disponível em www.christies. com). 8 Casa leiloeira fundada em 1793, que produz mais de 400 eventos por ano em 60 categorias distintas e que possui escritórios em todo o mundo (BONHAMS, 2015, disponível em www.bonhams.com)

Neste ponto podemos passar a analisar as casas

características que a dinâmica do leilão provoca no indivíduo,

leiloeiras, que são foco deste estudo. O principal objetivo

e tem um papel fundamental nele, pois “por cerca de duas

delas, de acordo com a Sotheby’s, “é identificar, analisar e

ou três horas, ele deve ser persuasivo, evitando repetir os

validar obras de arte com o suporte de especialistas, estimular

mesmos gestos ou frases [...]. Ele criará variações em seus

o interesse pela compra através de técnicas profissionais de

movimentos e em seu tom de voz, produzindo mais excitação

marketing e unir compradores e vendedores através do leilão”8

em relação a um determinado item que, talvez, nem mereceria

(RESCH, 2005, p.49). Benjamin-Houet (2008) complementa

tanta atenção” (THOMPSON, 2010, p.6). É interessante notar

que as técnicas de marketing utilizadas pelas casas leiloeiras,

que, segundo Thompson (2010), este entretenimento do leilão

além de estimular o interesse dos colecionadores, também são

consiste em atingir 90% dos indivíduos que não tem intenção

responsáveis por fazerem os preços das obras aumentarem. 9

alguma de adquirir alguma obra, enquanto os outros dez por

De acordo com Robertson (2011), as casas leiloeiras

cento se concentram em seus lances.

podem ser divididas em quatro níveis distintos. São eles as

Compreendido o papel do leiloeiro, podemos

casas alpha, que representam as líderes de mercado Sotheby’s

entender como que o evento em si acontece. Em casas como

e Christie’s10, as betas, seguidoras de mercado com alcance

a Christie’s e a Sotheby’s, encontram-se desde representantes

internacional, como a Bonhams11, as gammas, que possuem

de museus até agentes a serviços de colecionadores e

alcance nacional e as deltas, que são as casas leiloeiras

milionários, que representam quase dois terços das obras de

regionais. É válido notar que estas casas leiloeiras constituem

arte contemporânea vendidas neste ambiente (THOMPSON,

um importante intermediário do mercado da arte, já que como

2010). Estes colecionadores são motivados, em parte, pelo

dito anteriormente elas representaram 47% do volume das

grupo ao qual desejam integrar, como indivíduos que querem

vendas deste mercado em 2014 (TEFAF, 2014).

se tornar parte de um grupo de grandes colecionadores ou

Mas como acontecem esses leilões? De acordo com

membro da diretoria de algum museu renomado.

Thompson (2010), eles são um verdadeiro show, em que o

O evento em si tem início com a entrada do leiloeiro e

maior desafio das casas leiloeiras é manter a animação dos

a apresentação do primeiro lote ao público, onde ele descreve

compradores. Para isso, elas se valem de catálogos, eventos

a obra e a mostra aos presentes. Ele escolhe um preço para

exclusivos de visualizações prévias das obras e outras técnicas

a sua abertura e concentra-se em obter ofertas que possam

de marketing e comunicação (THOMPSON, 2010, p.3). O

atingí-lo, tanto de modo presencial com os indivíduos que

advento leilão em si também deve manter uma energia alta

estão ali presentes quanto por telefonemas ou lances vindos

durante todo o seu processo para que as compras sejam bem

da internet. Neste processo, o comprador tem pouco tempo

Vamos comprar arte!

27

para avaliar a obra e efetuar seu lance antes de algum outro

ganhar’ o leilão”12 (ZIMMERMANN, 2011, p.7).

indivíduo (ZIMMERMANN, 2011). Este comportamento,

Esta sensação pode ser influente no aumento dos lances

conforme aponta Zimmermann (2011) e Thompson (2010)

e ser afetada por outros efeitos, como a pressão do tempo.

em seus estudos, aumenta a competitividade do leilão e torna

Isto porque, nos leilões, os participantes usualmente tem

quase insignificante o valor estético da obra, valendo-se muito

pouco tempo para avaliar a peça e tomar uma decisão sobre

mais da rivalidade e da competição, pois o leiloeiro é treinado

se dará um novo lance, já que “os apostadores são altamente

para colocar um indivíduo contra o outro e encorajá-los a

estimulados e impossibilitados de pensar claramente, e como

não desistirem (THOMPSON, 2010). Conforme acrescenta

as decisões precisam ser tomadas rapidamente, os apostadores

Zimmermann, aproximadamente 93% dos colecionadores já

continuam apostando”13 (KU apud ZIMMERMANN, 2011,

aumentaram seus lances somente para aumentar suas chances

p.7). Para efeitos de dimensão deste comportamento, de acordo

de ganhar (ZIMMERMANN, 2011).

com o autor, o tempo estimado do leilão de um item é de 5

O leilão de arte traz contigo diferentes particularidades

minutos, o que aumenta a pressão para seu fim. Durante estes

no que concerne à sua psicologia. Em primeiro lugar, é válido

lances, em geral os apostadores acabam achando que estão

notar que 98% dos leilões alcançam preços cerca de 15%

chamando muito mais atenção do público do que realmente

maiores do que em sites de varejo, talvez simplesmente pelo

estão. Isto porque os espectadores acabam influenciando o

processo de compra ser mais envolvente (ZIMMERMANN,

comportamento humano através da sua presença no evento.

2011). Estas e diferentes atitudes que acontecem ao longo

(ZIMMERMANN, 2011).

do leilão parecem ter diferentes motivos e são divididas para

Podendo ser tanto indivíduos que não estão

Zimmermann (2011) entre os efeitos relacionados ao leilão

participando do leilão quanto apostadores, chamar a atenção

em si e aqueles ligados diretamente aos seus resultados.

dos presentes, em combinação com a pressão do tempo e

Dentro dos efeitos relacionados ao leilão estão a percepção de

o desejo por ganhar o item em questão, faz com que um

propriedade, a pressão do tempo, o efeito de estar chamando

outro sentimento se desperte: o da rivalidade, que conforme

atenção dos presentes no evento e o sentimento de rivalidade.

levanta Garcia (2013), está relacionado à busca pela

A primeira delas, a percepção de propriedade, está

proteção da superioridade individual frente à comparação

relacionada à sensação de que ser o indivíduo com o maior lance

social que acontece durante o leilão. Esta competitividade

em um leilão o torna vencedor do item em questão, mesmo

é influenciada pelo fato de que, como aponta Wolf (2006),

sem tê-lo ganho, já que ele pode ser afetado por “[...] ‘crenças

os participantes do leilão frequentemente o discutem em

probabilísticas’ sobre os resultados do leilão. Nos leilões, isso

termos de ganhadores e perdedores. Assim, entrando numa

se refere ao fenômeno de que o indivíduo com o maior lance

espécie de “febre do leilão”, os apostadores são tomados por

pode perceber um ‘aumento na expectativa [subjetiva] de

um sentimento de irracionalidade que os leva a aumentarem

Vamos comprar arte!

28

Mas todas essas implicações aparecem no leilão

seus lances (WOLF, 2006). Todos estes efeitos acabam repecurtindo em sensações

online também? Após a compreensão da configuração do

relacionadas aos resultados do leilão. Conforme aponta

mercado de arte, dos principais intermediários e agentes deste

Thompson (2010) em seus estudos, “arrependimentos, mágoas

setor e das particularidades e características dos leilões, tanto

e desgostos são sentimentos que os leiloeiros entendem e

no modo como eles acontecem quanto em suas implicações

exploram” (THOMPSON, 2010, p.10), já que os apostadores

psicológicas, passamos agora a compreender as características

podem se arrepender por perder uma obra de arte que eles

particulares do leilão online, oriundo do surgimento e da

pensaram que poderiam possuir. Por outro lado, a vitória

expansão da internet em todo o mundo.

também pode trazer decepções. De fato, como aponta o autor,

9 Original: “[...] ‘probabilistic beliefs’ about the outcome of a situation. In auctions, this refers to the phenomenon that the current high bidder in an auction may perceive an ‘increase in the expected [subjective] probability of winning’ the auction” (ZIMMERMANN, 2011, p.7). 10 Original: “Bidders are highly aroused and unable to think clearly, and since decisions need to be made quickly, bidders keep bidding” (KU apud ZIMMERMANN, 2011, p.7).

a cada oito compradores bem sucedidos, ao menos um deles

3.4

se surpreende com o valor que terá que desembolsar pelo



item que ganho (THOMPSON, 2010). Como complementa

Apesar de parecer o primeiro modelo de leilão à distância,

o autor,

o modelo online foi precedido pelos leilões que aconteciam

Esta sensação é bem familiar às pessoas que adquiriram sua primeira casa e, na manhã seguinte, acordaram em pânico: “Com quanto me comprometi?”. A casa de leilões reassegura a realização da compra, mesmo se não solicitada. Para tanto, o comprador pode receber uma ligação de um especialista da casa de leilões, no dia seguinte, felicitando-lhe pela aquisição. O especialista reafirma a sua sábia aquisição, além de ressaltar que a obra adquirida estará à altura de suas expectativas (THOMPSON, 2010, p.15)

No entanto, este tipo de arrependimento parece pouco comum

O leilão em pixels

através do correio em 1870 nos Estados Unidos, em que os apostadores enviavam suas apostas através de cartas. Hoje, muitos destes leilões deixam de acontecer por este sistema analógico e passam a integrar o sistema digital, a partir do surgimento da internet, que representou uma inovação tão disruptiva na sociedade que, para Castells (2003), ela é considerada fundamental. Em suas palavras, A internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o que

das marcas na hora da compra, podendo dizer que compraram

a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da atividade humana (CASTELLS, 2003, p.7).

um quadro de Picasso na Christie’s ou um Francis Bacon na

Neste sentido, é natural que, com atividades econômicas,

Sotheby’s, por exemplo (THOMPSON, 2010).

sociais e políticas agora sendo estruturadas na internet, os

e as casas leiloeiras os consideram de pouca importância (THOMPSON, 2010). Comprar em casas leiloeiras prestigiadas também minimiza estes efeitos, como explica o autor, já que os apostadores levam em consideração a reputação e a tradição

Vamos comprar arte!

29

leilões online pareçam ser um sucesso em vendas, com casas



Participar de um leilão online parece relativamente

internacionais exclusivamente online tendo mais de 100% de

mais simples do que um leilão tradicional. Isso porque, em

lucro anual e com este mercado somando 1 bilhão de dólares

primeiro lugar, há a eliminação das barreiras geográficas dos

em 2013 (HISCOX, 2015).

leilões tradicionais, permitindo que pessoas de diferentes

Mas quais as diferenças da dinâmica do leilão tradicional

partes do mundo possam participar de qualquer leilão, o que

para o online? Para observá-las, exploramos a dinâmica de

gera uma sensação de conveniência (ARIELY e SIMONSON,

funcionamento das casas leiloeiras exclusivamente online

2010). Vaz (2011) complementa sobre este ponto que “o

Paddle8 e The Auction Room, citadas ao longo dos estudos

conceito geográfico não tem mais o mesmo significado que

da Hiscox (2014 e 2015). A primeira delas, a Paddle8, de

nossos pais e avós costumavam conhecer [...]. Na economia

acordo com o report da Hiscox (2015), foi fundada em 2011

digital, as distâncias [se] limitaram a um clique” (VAZ, 2011,

e possui escritórios nos Estados Unidos e em Londres. Ela

p.80). Assim, a internet permitiu que muitos indivíduos

se foca no mercado mediano, que possui como ticket médio

participem de eventos que eles provavelmente perderiam

$1.000 e $100.000 a cada compra e lucrou mais de $50

se não fosse online, seja por problemas de mobilidade, seja

milhões, enquanto o volume de apostadores quadruplicou com

por conta dos altos custos que podem estar envolvidos com

relação ao ano anterior. A casa realiza leilões de arte, peças

viagens, hospedagens e entradas nos leilões (SYNOVATE,

de design, relógios e joias em leilões temáticos semanais e

2009). Este distanciamento também produz um sentimento

leilões beneficentes em parceria com diferentes instituições,

de conforto ao parecer ser bem menos intimidante do que

com todas as peças sendo validadas por experts e instituições

frequentar uma casa de leilão física, pois como aponta uma

parceiras. A Paddle8 ainda se foca em solucionar os problemas

pesquisa da Hiscox (2014), o mundo da arte frequentemente é

dos leilões online que preocupam os consumidores (conforme

percebido como exclusivo e inacessível a novos compradores,

conhecemos acima) desenvolvendo uma plataforma intuitiva

e 40% dos indivíduos sentem que comprar pela internet é

e fácil de usar (HISCOX, 2015). Seguindo o mesmo princípio

mais confortável.

de funcionamento da Paddle8 encontra-se a The Auction

Assim, o consumidor é convidado a entrar

Room, fundado em 2013 em Londres. A principal vantagem

com seu login, que em geral pode ser tanto através do

competitiva desta casa é a oferta de tecnologia através de

preenchimento de um cadastro quanto através de sua

excelentes fotografias e apresentações das obras a serem

conta no Facebook. A partir de então, ele é livre para

leiloadas, mais uma vez focando em resolver os problemas

explorar os diferentes leilões que estão acontecendo,

levantados pelo estudo da Hiscox (2014). Assim como a

uma dinâmica repetida em todos as casas leiloeiras que

Paddle8, ela também se foca no mercado mediano e autentica

citaremos adiante neste capítulo.

as suas obras com especialistas no setor (HISCOX, 2014).

Vamos comprar arte!

30

FIGURA 02 – LEILÃO PADDLE 8

deslocar fisicamente até uma loja e encontrar o produto para ter acesso a ele, a seu preço e sua descrição. Na internet, esta barreira geográfica praticamente inexiste, pois o consumidor está a poucos cliques de distância de uma infinidade de produtos, além de fotos, vídeos e, possivelmente, comentários de outras pessoas que já compraram aquele produto e deram sua opinião sobre o mesmo (VAZ, 2011). De fato, conforme o estudo da Hiscox, a principal vantagem dos leilões online para os seus participantes é a possibilidade de encontrar obras de arte e artistas que não seriam facilmente encontrados em espaços físicos como as galerias, os museus e as casas de leilão (HISCOX, 2014).

Estas casas online também dispõem de imagens

em alta resolução e zoom expandido, que permitem aos indivíduos observarem os mínimos detalhes de cada item. Isto acontece porque eles em geral se preocupam com as Fonte: Paddle814

diferenças que podem aparecer entre o objeto exposto na internet e aquele que receberem em suas casas, o que gera

11 Disponível em https://paddle8.com/ work/yoshitomo-nara/77202-dreaming-in-the-fountain/. Acesso em 19/08/2015.

Na página de um item leiloado normalmente constam todas as

dúvidas quanto a sua autenticidade, já que os apostadores

informações acerca do artista e da obra, como as dimensões,

tem receio de comprar uma peça que seja falsa, seja por

a descrição, o material usado, o histórico do artista e outras

receio da procedência da mesma ou por falta de confiança

obras do mesmo. Mesmo com pequenas variações entre os

em uma casa de leilão (HISCOX, 2015). No entanto, como

sites, a dinâmica de disposição de informações dos itens

aponta o estudo da Hiscox (2014), as casas leiloeiras hoje

leiloados é basicamente a mesma. Deste modo, os sites

em dia possuem recursos para minimizar estes danos, como

permitem aos indivíduos encontrarem muito mais facilmente

a publicação de imagens em alta resolução com zoom extra

dados sobre artistas e obras antes de participarem do evento,

e imagens em 3D para melhor verificação dos detalhes

a possibilidade de poderem encontrar novos artistas de todo o

da obra, além de projeções em alta realidade para que os

mundo e a diversidade de obras, artistas e leilões disponíveis

indivíduos possam projetar as obras na parede de sua casa e

na internet (HISCOX, 2014). Assim, quando interessados por

verificá-la (HISCOX, 2015).

uma obra no consumo tradicional, os indivíduos precisam se



Essas novas tecnologias transformaram o modo

Vamos comprar arte!

31

como os indivíduos interagem com os produtos na internet

também é dissolvida com os leilões pela internet, que tem

e reforçam a saturação de imagens e símbolos refletidas por

uma duração atípica aos leilões tradicionais. Ao passo que

Barbosa (2004) como um meio de incentivo ao consumo

estes duram apenas um dia, os leilões online podem durar

frente à profusão de bens à disposição dos indivíduos.

uma semana inteira e estão disponíveis 24 horas por dia

Isto porque, ao passo que no consumo tradicional temos a

(BECHERER, 2004), permitindo lances assíncronos e dando

presença física dos mesmos, ou seja, em que é possível

aos apostadores um tempo maior para refletir sobre seus

tocar, manusear e experimentar o objeto, na internet estas

atos (ARIELY e SIMONSON, 2010). Mesmo assim, como

diversas manifestações visuais, verbais e sonoras que as

acrescenta Ockenfels (2002), muitos lances de última hora

novas tecnologias permitiram desenvolver fazem com que

acontecem nestes eventos e cerca de 86% dos participantes

os indivíduos tenham que ficar abertos à imaginação e criem

deste tipo de leilão já foram vítimas de problemas de conexão,

fantasias diversas a respeito dos objetos (BAIRON e KOO,

o que os levou à perda do item.

2012), como no caso da experimentação de um óculos através

Neste sentido, ao longo do leilão online o apostador

de realidade aumentada, em que é possível através do recurso

pode enfrentar os mesmos sentimentos de um leilão

da câmera de dispositivos móveis como celulares, tablets e

tradicional, como a possessividade por um item, a ansiedade

computadores, projetar a imagem de um óculos no rosto do

da competição frente a presença de outros indivíduos e a

indivíduo interessado em comprar um novo. Estas discussões

excitação em aumentar seus lances para vencer (ARIELY e

remetem ao hiperconsumo proposto por Lipovetsky

SIMONSON, 2003). No entanto, os leilões online guardam

(2007), em que as marcas passam a considerar experiências

uma maior liberdade do indivíduo em escolher se este deseja

afetivas e sensoriais dos consumidores em seus esforços de

ou não entrar em um determinado leilão, podendo explorar

comunicação, como uma maneira de estimulá-los às compras.

diferentes itens e realizar diversas pesquisas antes tomar a

Mas, retornando à dinâmica dos leilões online, como

decisão de realizar um lance, algo que não acontece nos leilões

as casas garantem que o indivíduo receberá seu dinheiro de

tradicionais, em que os consumidores são levados a tomar

volta caso a obra não seja o que ele esperava? Este é um

decisões rápidas e possuem informações advindas somente

dos receios dos apostadores em leilões online de acordo

dos catálogos do evento (ARIELY e SIMONON, 2003).

com o estudo da Hiscox (2015). Para o instituto, as casas



leiloeiras devem fornecer um período de garantia de 30

para a compra de obras de arte por leilão contribui para o

dias para devolução, o que para 70% das pessoas indica

fluxo constante e exponencial de informações que circulam

um importante fator decisivo na participação de um leilão

por todo o mundo em instantes (BAIRON e KOO, 2012),

online (HISCOX, 2015).

uma característica inerente da sociedade líquida proposta

Além da barreira do espaço, a barreira do tempo

Toda essa profusão de atividades realizadas na internet

por Bauman (2005), em que as informações trafegam rápido

Vamos comprar arte!

32

pela sociedade e se dissipam na mesma velocidade com

TABELA 01 – Semelhanças e diferenças entre os leilões

que vieram. Lemos (2002) exemplifica essa crescente de

offline e online

informações explicando como ela afeta o modo de interação dos indivíduos com a internet: Não navegamos a rede como assistimos TV, ouvimos rádio ou lemos jornais e revistas. Ligar a TV é ver televisão, ligar o rádio é ouvir emissões, mas e a internet? Não sabemos o que o internauta está fazendo: ele pode estar em um chat com alguém do Sri Lanka, navegando um site americano, lendo um jornal russo, ouvindo uma rádio francesa e tudo ao mesmo tempo. Nas mídias de massa existe um foco sensorial privilegiado [...] sendo o fluxo da informação unidirecional. No ciberespeaço não. Este possibilita a simultaneidade sensorial e o fluxo bidirecional da informação [...] além da interatividade. Talvez McLuhan estivesse certo: entramos na era da retribalização do mundo (LEMOS, 2002, p.123)

Deste modo, conseguimos entender como a visão de Lemos se aplica ao consumo de arte por leilões online, diante das

OFFLINE

ONLINE

Localização

Espaços físicos das casas leiloeiras

Websites na internet

Duração

Um dia

De um dia a uma semana

Disponibilidade de informação

Pressão do tempo

Autenticidade da obra

Disponíveis no site da casa Catálogos e eventos pré leilão leiloeira ou através de sites de busca como o Google Alta somente no final do Alta período do leilão Participantes podem usar Participantes podem verificar recursos online como fotos as obras pessoalmente durante em alta resolução e em o leilão ou em eventos pré 3D, além de projeções em leilão realidade aumentada

Possessividade com o item leiloado

Presente

Sentimento de arrependimento

Presente

Sentimento de estar chamando atenção do público em demasia

Presente

diferentes dinâmicas que se consolidam em torno desta atividade para torná-la uma facilidade aos colecionadores

No quadro acima traçamos as principais diferenças entre os

interessados.

leilões tradicionais e os exclusivamente online, com base na visão dos autores Ariely e Simonson (2003), Thompson (2010) e Zimmermann (2011), além dos estudos da Hiscox (2014;2015). Nele, organizamos os principais pontos compreendidos ao longo deste capítulo de uma maneira que nos permite visualmente perceber as particularidades de cada modalidade de leilão. Deste modo, entendemos que, ao passo que em ambas

Não presente por conta do usual anonimato possível pelas casas leiloeiras exclusivamente online

Vamos comprar arte!

33

as modalidades os indivíduos enfrentam a posessividade com

estudos recorrentes da Hiscox (2014 e 2015) apontaram como

o item leiloado e um possível sentimento de arrependimento

interferências na compra de obras de arte nas plataformas

da vitória ou da perda do mesmo, os leilões online romperam

digitais, como a falta de informação, o receio em receber

as barreiras de espaço e tempo dos leilões tradicionais e

obars diferentes do esperado, a preocupação com o transporte

possuem dinâmicas diferentes com relação à disponibilidade

e com a devolução das obras. Deste modo, temos as bases

de informações sobre artistas e obras leiloadas, à pressão do

para compreender em maior profundidade os impactos do

tempo ao longo do leilão, aos mecanismos de verificação da

surgimento da internet nos leilões de arte online através de

autenticidade de uma obra e ao sentimento dos indivíduos de

uma pesquisa qualitativa com c olecionadores deste setor.

estarem chamando atenção do público em demasia. É neste sentido que temos consolidadas as bases para a realização da terceira etapa deste projeto, onde verificaremos os diferentes pontos levantados ao longo desta discussão através de uma pesquisa qualitativa com diversos colecionadores de obras que consomem em leilões exclusivamente online. 3.5

Síntese do capítulo



Ao longo deste capítulo compreendemos a divisão do

mercado da arte entre o primário e o secundário. Entendemos as características dos principais agentes e intermediários deste setor, como os críticos, os colecionadores, as galerias de arte e as casas de leilão, nas quais nos aprofundamos em discutir as suas características e a dinâmica de funcionamento dos seus eventos, além de conhecer as principais implicações do leilão na psicologia do consumidor. A partir de então passamos a compreender os leilões online e suas principais diferenças frente o leilão físico, principalmente nos termos de sua dinâmica. Por fim, conhecemos as principais casas de leilão exclusivamente online internacionais e nacionais, validando a preocupação destas em solucionar os problemas que os



4.1 4.2 4.3 4.3.1 4.3.2 4.4.

Introdução ao capítulo Metodologia de pesquisa Análise dos resultados O consumo de arte A compra de arte pela internet Síntese do capítulo

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

4.1

Introdução ao capítulo

35



Esta entrevista será do tipo focalizada, que, nas

palavras de Manolita Lima (2008), se propõe a explorar um Em seu livro Metodologia do trabalho científico (2010),

tema bem definido e delimitado. Conforme ela complementa,

Severino explica que a ciência se constitui da aplicação de

O contato se expressa livremente sobre o assunto investigado, embora, quando eventualmente divaga ou se desvia dos aspectos trata- dos, o entrevistador possa interferir sobre o curso da comunicação na tentativa de res- gatar o objeto da discussão. Na prática, observa-se a existência de um roteiro oculto, previamente construído, em que o pesquisador tem o cuidado de enumerar os tópicos relevantes sobre o tema/problema tratados e, em função dos objetivos da pesquisa e do domínio sobre o assunto revelado pelo contato, o pesquisador vai formulando ao longo da entrevista as questões que julgar relevantes e pertinentes (LIMA, 2008, p.119)

diferentes técnicas e métodos de investigação, tanto sobre a natureza quanto sobre os próprios indivíduos. Neste capítulo, compreender a influência do surgimento da internet no processo de compra de obras de arte por leilão para os consumidores através de 5 entrevistas em profundidade e uma pesquisa quantitativa com 30 consumidores de arte por leilão online 4.2

Metodologia de pesquisa



Com o objetivo de compreender a influência do

surgimento da internet no processo de compra de obras de arte por leilão para os consumidores, esta pesquisa será

Neste sentido, trabalharemos com um roteiro pré-definido

dividida em duas etapas. A primeira delas é a realização de 5

que orientará as discussões com os entrevistados, explorando

entrevistas em profundidade, com indivíduos que compram

a fundo a compra de obras de arte por leilões online. Estas

ou já compraram obras de arte por leilão online, selecionados

entrevistas foram realizadas entre os dias 18 de Setembro

aleatoriamente através da rede social Facebook em grupos

e 24 de Setembro, através do meio online em conversas

especializados em compartilhar conhecimentos e obras de

pelo Facebook, por conta do distanciamento físico dos

arte. A técnica em questão vale-se de uma interação entre

respondentes que mais consomem arte em leilões online.

pesquisadores e pesquisado, visando “[...] apreender o que os



sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam”

visão aprofundada do impacto da internet no consumo, no

(SEVERINO, 2007, p.124) e, conforme Lima (2008)

consumo de arte e nos leilões online, além de conhecermos as

complementa, podem averiguar fatos, identificar a opinião de

principais vantagens e desvantagens deste modelo de compra

diferentes pessoas sobre um assunto, identificar e interpretar

e as mudanças deste para o leilão presencial. A segunda parte

a ação de pessoas em diferentes aspectos.

desta pesquisa compõe-se da realização de uma pesquisa

A partir deste estudo, conseguimos obter uma

quantitativa, orientada pelo raciocínio hipotético-dedutivo,

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

36

priorizando informações que podem ser quantificadas,

da internet na compra de obras de arte por leilões online. A

coletadas e processadas com recursos estatísticos (LIMA,

análise foi feita a partir da realização de um quadro-resumo

2008). Realizaremos este questionário com 30 indivíduos

com os principais pontos levantados pelos respondentes em

que, novamente, compram ou já compraram obras de arte

cada questão e a partir da quantificação das respostas da

por leilão online, selecionados aleatoriamente através da rede

pesquisa quantitativa, a fim de se organizar um panorama

social Facebook em grupos especializados em compartilhar

geral das opiniões concedidas em cada ponto e de se perceber

conhecimentos e obras de arte.

os pontos de paridade e diferença entre elas.



Neste sentido, para a realização desta pesquisa foi

construído um questionário com um conjunto de questões

4.3.1 O consumo de arte

sistematicamente articuladas, “[...] que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com

Como vimos com Benjamin-Houet (2008), existem

vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos

vários intermediários que colaboram para o funcionamento

em estudo” (SEVERINO, 2007, p.125). O envio deste

do comércio de obras de arte. Neste projeto, nos atentamos

questionário aos respondentes aconteceu entre os dias 26 de

aos colecionadores, que adquirem obras de arte motivados

Setembro a 29 de Setembro pelo Facebook e usou a plataforma

principalmente pelo hábito familiar (37% dos respondentes),

digital Qualtrics para a sua realização e para a compilação dos

por sempre terem se interessado por arte (20%) e por verem

dados.

ela como uma importante fonte de investimento (20%).



Deste modo, realizado o planejamento e a realização

Conforme aponta o entrevistado 02, “eu sempre colecionei

das duas etapas desta pesquisa, isto é, as 5 entrevistas em

coisas, selos, moeda, soldadinho de chumbo.. E fui criado

profundidade e a validação das respostas com um questionário

em meio a um ambiente de arte...[...] Então juntando o lado

quantitativo realizado com 30 respondentes, temos as

colecionista com esse lado de interesse [...] o bichinho da arte

bases para analisar as respostas e observar os impactos do

me pegou”. Alguns entrevistados mencionaram também a

surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão.

vontade de possuir objetos que admiram esteticamente em suas casas, apenas para fins de contemplação, desejo que reflete as

4.3

Análise dos resultados

discussões de Benjamin (2012) sobre como a reprodução da obra de arte e a sua inserção em lugares onde ela não estaria

Com o objetivo de facilitar a análise das pesquisas

fazem com que as obras percam a sua quintessência, isto é, a

realizadas, dividiremos as respostas em três grupos distintos:

sua aura singular, tornando-se cada vez mais voltadas para a

o consumo de arte, a compra de arte pela internet e o leilão

reprodutibilidade e o comércio.

de arte online, a fim de verificar os impactos do surgimento

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

37

Essa liberdade de escolha ligada à individualidade e às experiências sensoriais e afetivas dos sujeitos nos remetem às discussões de Barbosa (2011) sobre o consumo contemporâneo, destacando este novo padrão não apenas de comportamento de consumo como também, como apontava Lipovetsky (2007), da comunicação por parte das marcas, que passaram a considerar estas experiências em seus esforços. GRÁFICO 01 – MOTIVAÇÕES PARA A COMPRA DE ARTE Como você classifica as motivações de compra abaixo? (números absolutos) Identidade e status

16

11

3

Aspectos sociais

18

9

3

Benefícios emocionais

4

5 Pouco importante

Essas motivações também podem ser observadas sob um ponto de vista mais amplo, analisando os fatores do gráfico 01, que foram levantados em um estudo da Hiscox (2014) sobre o mercado de arte. Nele, estudamos alguns aspectos da segunda fase do consumo, que como vimos, carregam a visão de que o consumo é analisado como uma atividade carregada de significado. Estas motivações, no consumo de arte, de acordo com os respondentes, são principalmente os benefícios

21 Importante

Muito importante

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

38

emocionais ou a paixão pela arte envolvidos na compra deste

O problema dessa expansão da reprodução das obras

mercado, que são considerados em geral muito importantes

de arte, de acordo com 3 dos 5 entrevistados em profundidade,

para a compra de arte. Por outro lado, os aspectos sociais ou

é a questão da qualidade das obras de arte no que concerne à

o desejo de fazer parte de um grupo social são considerados

sua autenticidade. Conforme nos compartilha o entrevistado

pouco relevantes, bem como a identidade e status envolvidos

04 sobre esta questão, essa discussão não é nova porque, no

na compra de obras de arte.

início do século XX, as obras de arte expostas em museus



Essa discussão sobre o que impulsiona a compra de

nos EUA já eram réplicas de alguma obra de arte famosa

arte resgata as discussões de Lipovetsky (2015) sobre o boom

por questões de segurança, levantado na época diferentes

estético que permeia o consumo e a sociedade, já que a estética

questões a respeito do conhecimento técnico do público e

e a arte passaram a penetrar na indústria comercial e o seu

dos colecionadores a respeito da veracidade do que veem

comércio aumentou. Esse crescimento, como lembramos com

e consomem. Hoje, este cenário não parece ser diferente e,

Benjamin (2012), foi possível com a reprodução das obras

como o entrevistado 03 comenta, “[...] me parece que falta

de arte, que como percebido pelo autor e pelos respondentes

alguma regulação nesse mercado, [pois] há muita coisa

da pesquisa, não só sempre existiu como também, de acordo

falsificada e é preciso algum treinamento, alguma expertise

com o entrevistado 01, “sem a divulgação das imagens, seria

para não comprar gato por lebre. Tarsila do Amaral, por

impossível qualquer tipo de comércio, online ou via catálogo

exemplo, tenho visto falsificações grosseiras de gravuras a

físico”, ou seja, o mercado de arte não teria o mesmo alcance

preços inacreditáveis”.

se esta multiplicação e disseminação das obras não tivesse

Essa falsificação das obras de arte parece ter sido escalada para as casas leiloeiras que as comercializam. Elas

acontecido. Como complementa o entrevistado 03, O mercado de arte sempre foi muito inacessível. Com a reprodução de obras a um preço justo, a chance de ter algo que você gosta em casa é muito maior, é claro, com o aval do artista e tudo nos conformes. A chance de incentivar um novo artista também. Há galerias, em SP por ex., que têm se especializado nisso.

precisam não apenas comunicar a autenticidade das obras que vendem como também convencer seu público de que é uma marca confiável e respeitada no mercado, já que a partir da segunda fase do consumo o aparecimento e crescimento das marcas tranformou a relação do consumidor com os varejistas da época, fazendo os sujeitos se tornarem cada vez mais independentes dos comerciantes e a julgar os produtos

Deste

modo,

compreendemos

que

não

apenas

a

por suas marcas e não apenas nas palavras dos vendedores

reprodutibilidade aumentou o alcance da compra de obras de

(LIPOVETSKY, 2007). Não é a toa, neste sentido, que

arte, como também incentivou novos artistas a entrarem neste

os entrevistados comentaram que as casas leiloeiras estão

mercado e fomentá-lo.

adotando posturas cada vez mais parecidas com a de

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

39

uma verdadeira corporação, recebendo constantemente

pela numeração da reprodução, ou se tem dedicatória ou

comunicações via spam, e-mail e redes sociais sobre as

não, etc”. Essa discussão sobre o prestígio nos remete às

novidades dessas casas, os artistas que elas representam, suas obras e os eventos que elas realizam.

argumentações de Barbosa (2004) sobre a renda e a posição

Conforme já anunciava Benjamin-Houet (2008), as

social lentamente deixarem de ser um impeditivo ao consumo,

casas leiloeiras usam diferentes técnicas de marketing para

passando de uma pirâmide social para a multiplicidade de

estimular o interesse dos colecionadores, o que ajudou a

grupos sociais, em que obras mais baratas e artistas mais

ampliar, como vimos com Lipovetsky (2007), o alcance das

novos podem ser acessados por diferentes grupos e perfis

obras de arte, modificando em partes a relação entre o consumo

de colecionadores e consumidores. Neste sentido, conforme

de arte e o prestígio social para todos os respondentes, já que

vimos com Lipovetsky (2007) e Veblen (2004), o consumo

obras menores e mais baratas parecem ter se disseminado

atrelado ao desejo e às motivações para o consumo que foram

mais facilmente em ambientes como a internet. Conforme

elencadas anteriormente neste capítulo para a compra de

complementa um dos respondentes,

obras de arte, ajudam a construir a visão de que os objetos e

Obras de arte vendidas pela Internet são obras menores, menos conhecidas, muito menos valorizadas, etc. O fato de eu, um simples professor universitário, poder pendurar um Fiaminghi ou uma Mira Schendel na parede não faz subir um milímetro meu conceito social diante de um “verdadeiro” colecionador, isto é, uma pessoa que pode comprar uma tela por 1 milhão de dólares.

as obras eram e ainda são, em alguns casos (principalmente de artistas raros e caros), fontes de prestígio e de afirmação social em um grupo.

É válido notar, ainda, que este alcance das obras

de arte, a mudança de postura das casas leiloeiras e a expansão da reprodutibilidade das obras se acirarram com o surgimento da internet, pois conforme vimos com Bairon e Koo (2012), ela não só possibilitou um aumento no fluxo

Para eles, apesar da arte continuar sendo supérflua,

de informações neste meio para um público maior como

os leilões (principalmente os online), possibilitaram aos

também transformou o comportamento dos consumidores.

indivíduos que se sentiam desconfortáveis em adquirir

É neste sentido, portanto, que passaremos a analisar

obras por falta de conhecimento, ter acesso à diversas

os principais pontos referentes à compra de arte pela

informações sobre artistas, preços e peças de arte. Ainda, de

internet levantados na pesquisa realizada para este estudo,

acordo com um dos respondentes, os leilões de arte possuem

verificando as principais vantagens e desvantagens deste

obras que por vezes são desprezadas por colecionadores

modelo de compra e suas implicações no comportamento do

mais experientes, criando-se uma “[...] hierarquia que se

consumidor com base nas pesquisas realizadas.

criou pela raridade da obra, pelo prestígio do artista ou

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

40

4.3.2 A compra de arte pela internet

específicos em vários locais e em tempo real”. São diversas as casas leiloeiras exploradas pelos colecionadores e conhecidas

Após compreender as principais questões relacionadas

pelos mesmos. Destacam-se, dentre as comentadas por 60%

ao consumo de arte, passamos neste momento a analisar como

dos entrevistados, a Tableau, uma galeria que de acordo

como os colecionadores compram obras de arte pela internet,

com Robertson (2011) é uma casa fundada em 1975 que

um espaço que, como vimos, é cheio de possibilidades de

comercializa através de leilões online obras de artistas como

interação, compra e venda de bens de consumo (BAIRON

Portinari, Antonio Bandeira e Di Cavalcanti.



E KOO, 2012). De acordo com 60% dos entrevistados, este consumo veio de práticas do próprio meio digital, através

GRÁFICO 02 – PREFERÊNCIA POR EXPERIÊNCIA

do recebimento de e-mail marketing, e-mails com convites

DE COMPRA

para participar de um leilão online e pesquisas em sites Qual experiência de compra você prefere?

especializados no setor, como o Artprice15. Conforme nos conta o entrevistado 01 sobre o início de sua experiência nos leilões online,

Conheci as casas de leilão online como um simples desdobramento de um mercado que acompanho há muitos anos. Foi uma evolução natural e necessária nos dias de hoje. Não existiu propriamente uma grande campanha para isso, as casas de leilão tiveram que ir se adaptando a isso e as que não o fizeram, foram ficando para trás.

Indiferente Offline Online



37%

23%

40%

É interessante notar, através do gráfico 02, que 40%

dos entrevistados pela pesquisa quantitativa preferem a Mas o que motivou estes colecionadores a de fato

experiência de compra online de obras de arte, ao passo que

explorarem as casas leiloeiras online após o recebimento

37% estão indiferentes e 23% preferem às compras offline.

destes esforços de comunicação? Segundo 60% dos

Com relação à satisfação especificamente com as vendas

entrevistados, as principais motivações para essa exploração

online, 73% dos entrevistados apontam estarem satisfeitos,

estão ligadas à conveniência da compra online e à interesses

ao passo que 20% não estão nem satisfeitos nem insatisfeitos

pessoais em possuir obras de determinado período ou que

com a compra e 7% se consideram totalmente satisfeitos.

são comercializadas apenas em outros países. Conforme

Conforme complementa o entrevistado 01 com visão

acrescenta o entrevistado 03, motivou-o “certamente a

indiferente sobre o melhor meio para a aquisição de obras,



12 ArtPrice, segundo o próprio site, é a fornecedora líder mundial de informações sobre o mercado de arte, cobrindo mais de 4.500 casas leiloeiras e 570.000 artistas.

facilidade em acompanhar diversos leilões, peças e artistas

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

41

O leilão físico tem a vantagem da visualização “in loco”, a emoção da disputa presencial e também sentir a “temperatura” da sala em um determinado momento econômico ou político. O leilão online te possibilita participar de uma venda que muitas vezes seria impossível devido a distância. Assim sendo, acredito que ambas as formas são válidas e minha preferência varia muito de caso para caso.

Neste sentido, percebemos que era necessário compreender qual a satisfação dos compradores quanto aos diferentes aspectos que envovem a compra de obras de arte online, como a busca, o envio, o pagamento e a disponibilidade de informações. TABELA 02 – ASPECTOS DA COMPRA DE OBRAS DE ARTE ONLINE16 Aspecto Busca (foi fácil encontrar uma obra/artista) Envio (chegou em boas condições e no tempo estimado)

Pagamento (facilidade e segurança)

Informação (forneceram dados suficientes sobre uma obra)

Totalmente Insatisfeito insatisfeito

Nem satisfeito, nem insatisfeito

Totalmente satisfeito

1

1

2

15

11

1

0

7

18

4

1

0

7

18

3

3

4

5

13

5

Assim, sendo que esta satisfação está relacionada majoritariamente aos pontos mencionados na tabela 02 acima, percebemos que 50% dos colecionadores estão satisfeitos com a busca por uma obra ou artista, enquanto 60% estão satisfeitos com com o envio das obras que adquiriram, a facilidade e segurança do pagamento e ào fluxo de informações 13 Valores em números absolutos

Satisfeito

suficientes para suportarem uma compra online.

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

42

GRÁFICO 03 – Vantagens da compra de obras de arte pela internet Na sua opinião, quais as vantagens da compra de obras de arte pela internet? Variedade de obras e artistas Tempo maior para pensar na compra

13 9

Encurtamento de distâncias Obras mais baratas Privacidade e anonimato

21 11 15

Facilidade e conveniência na compra Acesso a informação sobre artistas e preços



Estes números são provenientes também das diferentes

vantagens do leilão online apontadas tanto pelos entrevistados em profundidade quanto pelos respondentes da pesquisa quantitativa. Os resultados da pesquisa apontam para as vantagens apontadas no gráfico 01 e nos remetem à discussão dos estudos da Hiscox (2014) e de Ariely e Simonson (2010) quanto à estas vantagens, em que são destacadas justamente a eliminação das barreiras geográficas, a sensação de conveniência relacionada à compra e ao acesso de informações e a privacidade e o anonimato envolvidos na compra como principais vantagens dos leilões online, pois conforme vimos anteriormente, 40% dos pesquisados pela Hiscox (2014) sentem mais confiança e conforto em comprar pela internet, pois acham que seu comportamento físico, como aponta Zimmermann (2011), chama mais atenção dos espectadores do leilão do que eles gostariam, fatos que foram reforçados com os resultados das pesquisas realizadas para este estudo.

22 14

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

43

GRÁFICO 04 – Desvantagens da compra de obras de arte pela internet Na sua opinião, quais as desvantagens da compra de obras de arte pela internet? Falta de mais opções de pagamento

7

Insegurança em pagar grandes quantias online

Insegurança na embalagem e transporte Possibilidade de comprar obras falsificadas Não poder ver a obra pessoalmente

Por outro lado, apesar de possuir diferentes vantagens, a compra de obras de arte por leilão online também guarda pontos de atenção, como nos mostra o gráfico 02. Percebemos que 86% dos respondentes apontam o fato de não poder ver a obra de arte pessoalmente como uma das maiores desvantagens da compra pela internet. Como reforça o entrevistado 01, A grande desvantagem, quando não se é possível, é o fato de não poder examinar as peças in loco. Atualmente, os leilões online vem suprindo essa demanda com a inclusão de diversas imagens e informações, como em uma pintura, por exemplo, sua imagem de frente e verso, selos de eventuais exposições, assim também como a maneira como está emoldurada. Obviamente, nada disso substitui um exame mais profundo, com a peça em mãos.

Essa insegurança, como apontado anteriormente nas entrevistas em profundidade, é gerada pelo alto número de falsificações no mercado de arte, fato que também é apontado

11 7 21 26

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

44

por 21 respondentes da pesquisa, colocando novamente em

a respeito dos leilões, como a pressão do tempo e o efeito

voga as discussões de Benjamin (2012) sobre as vantagens e

de estar chamando atenção dos outros participantes estejam

desvantagens da reprodutibilidade da arte.

mais aflorados através da presença física dos indivíduos em



um mesmo espaço e tempo.

4.3.3 O leilão de arte online

Por outro lado, os leilões online parecem mais frios e suscetíveis a falhas técnicas, apesar de quebrarem grandes

Observar os impactos do surgimento da internet no

barreiras de distância geográfica, que tornam possível a

processo de compra de obras de arte por leilão implica em

participação de um colecionador brasileiro em um leilão

compreender como os colecionadores conheceram as casas

na Europa, e permitirem a privacidade e o anonimato

leiloeiras, quais eles conhecem, seu primeiro envolvimento

dos compradores, que se sentem mais confortáveis por

com a compra de obras pela internet, as diferenças existentes

precisarem apenas de um apelido para entrarem no sistema

entre os leilões online e offline, o ticket médio destas compras,

de compras e não estarem submetidos a uma mesma sala com

os diferentes suportes que podem existir e servir de apoio

diferentes indivíduos que não conhecem. Conforme comenta

nesse processo e os impactos do surgimento da internet nesse

o entrevistado 03, “[...] um leilão online reflete exatamente

processo de compra.

o que está acontecendo em termos financeiros, ao passo que

Para isso, o primeiro ponto a ser analisado é a diferença

em um leilão presencial, nem sempre sala cheia representa

percebida pelos compradores entre os leilões presencial e

sucesso de vendas”. Isto implica em reconhecer a presença dos

online, com o objetivo de descobrir as particularidades de

espectadores nos leilões e de indivíduos que os frequentam

cada uma dessas dinâmicas. De acordo com as entrevistas

apenas para perceber a movimentação do mercado, conforme

em profundidade realizadas, os leilões presenciais parecem

aponta Thompson (2012). Podemos inferir também que

atrair um público com mais conhecimento e expertise

alguns efeitos que Zimmermann (2011) aponta a respeito dos

sobre o mercado e suas especificações, e que gostam e

leilões, como a pressão do tempo e a atenção chamada por

acham importante ter contato físico com com a obra, fazer

outros indivíduos, podem ser menores com a distância física

networking antes dos eventos com outros colecionadores e

dos participantes, já que os leilões digitais, de acordo com

leiloeiros, e serem vistos pelo público, como se o leilão fosse

Becherer (2004), podem durar não apenas horas, mas dias

um símbolo de afirmação social e pertencimento a um grupo.

e até semanas, possivelmente dispersando a tensão. Neste

Essas características nos remetem às discussões de Thompson

quesito, ao contrário do leilão presencial em que o tempo

(2010) sobre como os leilões são verdadeiros eventos,

para decisão de um lance é curto e a competitividade pode

com a presença e participação dos leiloeiros, além de que

tornar quase insignificante o valor estético da obra, o leilão

possivelmente os fatores que Zimmermann (2011) destaca

online pode resguardar um tempo extra para a sua admiração

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

45

estética, já que os tempos entre os lances podem ser mais

leiloeiras exclusivamente online no Brasil, os entrevistados

espaçados. Essa discussão levanta pontos sobre a questão da

citaram algumas em comum, como a Tableau e a Galeria

reprodutibilidade da obra de arte e a perda da sua aura por

Leilões, que comercializam obras de artistas como Portinari,

Benjamin (2012), já que esse tempo de contemplação da peça

DiCavalcanti e Antonio Bandeira através de um sistema

antes do lance, mesmo que através de recursos virtuais, pode

simples de lances.

compensar a perda total da aura das obras.



Uma questão que surge neste ponto é a respeito dos

Compreendendo essas diferenças, podemos entender

recursos que prestam suporte à compra. Isto porque os estudos

como os colecionadores conheceram as casas leiloeiras e

da Hiscox (2014 e 2015) apontam a existência de diferentes

quais eles conhecem. Os entrevistados nos mostraram como

tecnologias que servem para auxiliar a compra, como fotos

as casas de leilão naturalmente tiveram que se adaptar para

em alta resolução, fotos em 3D e até recursos de realidade

o mercado online e desenvolver modelos de comércio para

aumentada, tudo para que o consumidor possa validar a obra

ele. Neste sentido, alguns colecionadores, como o indivíduo

não apenas pelo seu valor estético mas também por questões

01, conheceram as casas online como desdobramento de um

como os detalhes e a condição das peças, já que não tem a

mercado que já acompanha. Em suas palavras,

oportunidade de validá-las fisicamente. De acordo com a

Conheci as casas de leilão on line como um simples desdobramento de um mercado que acompanho há muitos anos. Foi uma evolução natural e necessária nos dias de hoje. Não existiu propriamente uma grande campanha para isso, as casas de leilão tiveram que ir se adaptando a isso e as que não o fizeram, foram ficando para trás.

pesquisa quantitativa, 69% dos colecionadores consideram relevante outros recursos além dos mencionados, como a opção de falar pela internet com um expert ou um especialista em leilões. Outros 59% acham importante a casa leiloeira fornecer uma garantia de 30 dias para as obras e outros fatores que foram elencados como importantes, por ordem de relevância, são a importância de se obter mais informações sobre envio e pagamento das obras (41%), mais informações

Outras maneiras foram elencadas pelos consumidores.

sobre o artista (38%), imagens em 3D (38%) e projeção de

Alguns receberam indicações de amigos mais experientes

realidade aumentada (28%), fatores que foram elencados e

neste mercado, lhes indicando sites tanto para consulta

validados também pelos estudos da Hiscox (2014) sobre os

de preços e obras quanto de leilões online, e outros ainda

recursos importantes para suportar a compra online e justificar

receberam e-mails com convites das próprias casas leiloeiras

os altos preços que são alcançados por eles.

online para participarem de seus eventos, o que os deixou

No que concerne aos primeiros envolvimentos com

curiosos para se envolver. E quais as casas mais conhecidas

a compra online por parte dos colecionadores, os efeitos

pelos colecionadores? Apesar de existirem mais de 10 casas

de Zimmermann (2011) mais uma vez são resgatados e

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

46

reforçados pelos entrevistados, como no caso do indivíduo 02,

sem medo de fraudes ou roubos, como elenca os estudos da

que nos conta que ficou “[...] bem ansioso e com a adrenalina

Hiscox (2014 e 2015), quanto que os leilões online permitem

alta, principalmente por já ter perdido algumas tentativas

a existência de obras com uma grande variedade de preços,

de compra nos últimos segundos”. Já o entrevistado 03, por

servindo e alcançando diferentes públicos.

outro lado, destaca como foi a sua experiência e um ponto de reflexão para as casas leiloeiras. Conforme suas palavras: Foi a compra de uma serigrafia muito legal de um discípulo de Mabe. Conhecia a história e a peça era muito forte, chamativa e por isso me empolguei em comprar. A compra foi ótima, num preço bom e chegou em minha casa sem problemas. Mas nem sempre é assim, muitas casas demoram para enviar, cobram embalagem, exploram um pouco além do leilão.

Deste modo, percebemos uma das características levantadas pelo estudo da Hiscox (2015) referente às precoupações dos colecionadores no que concerne à compra online de obras de arte: a diferença entre o que se compra e o que se recebe.

Neste sentido, haja visto os pontos mencionados anteriormente com relação às diferentes características e aspectos da compra de obras de arte pela internet e por leilão, podemos compreender quais são os maiores impactos do surgimento da internet neste mercado. GRÁFICO 05 – IMPACTOS DO SURGIMENTO DA INTERNET NA COMPRA Quais são os principais impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão online? Democratização do acesso de obras através de peças mais baratas

19

Aumentou o número de obras falsificadas ou de baixa qualidade

20

Podendo divergir, muitos compradores consideram este um ponto de atenção dos leilões online, já que a obra perde a sua validade e sua veracidade com a reprodução falsificada, um fator que as casas leiloeiras precisam levar em consideração quando colocarem uma peça à venda. E quanto gastam esses colecionadores? De acordo

A compra de arte se popularizou

Artista conseguem vender mais suas obras pessoalmente

14

9

Alcance das obras aumentou com o encurtamento de distâncais

com a pesquisa quantitativa realizada, 47% dos respondentes declararam terem adquirido obras de arte com um ticket

De acordo com o gráfico 03 acima, os maiores impactos

que varia de R$1.000 a 5.000, sendo que 17% gastam entre

do surgimento da internet na compra por leilão online

R$5.000 e 10.000 e 7% mais de R$100.000. Estes dados

são o alcance das obras de arte pelo mundo através do

ajudam a comprovar não apenas que há consumidores

encurtamento das distâncias geográficas, que permitiram o

dispostos e confiantes a gastar grandes quantias pela internet

aumento do número de colecionadores participando destes

24

Okei,a internet chegou, mas o que mudou?

47

eventos, a expansão do número de obras falsificadas ou de

4.4

Síntese do capítulo

baixa qualidade que permeiam a indústria cultural e afetam as vendas e a democratização do acesso de obras através

Neste capítulo analisamos as cinco entrevistas em profundidade

de peças mais baratas, oriunda principalmente do mercado

e os trinta questionários quantitativos realizados para a

primário com artistas pouco conhecidos, que passam a poder

investigação da problemática desta pesquisa. Compreendemos

vender suas obras na internet através de venda direta aos

as principais questões relacionadas ao consumo de arte, como

colecionadores interessados.

as motivações para o consumo (que em sua maioria é oriunda



Conforme aponta o entrevistado 04, a internet “[...]

de relações familiares ou gostos pessoais) que nos remetem

abriu um número infinito de possibilidades de consumo”

às discussões de Lipovetsky, a opinião sobre a expansão da

através da facilidade e variedade de ofertas, pela comodidade

reprodutibilidade das obras de arte, que pode ter implicado em

e acesso à informações, como apontado pelo entrevistado 05,

uma ligeira queda da qualidade das obras e na falsificação de

Como lado negativo, [aponto] a facilidade da venda de obras de arte falsas no mercado. Como lado positivo, o maior impacto com certeza é a possibilidade ao acesso de todas as classes sociais no mundo fechado dos leilões e galerias, com obras de arte [sendo] oferecidas a partir de R$100,00.

outras, e que resgata as discussões de Benjamin, e as mudanças na relação da compra de obras de arte com o prestígio social, que se modificou com o surgimento da internet e com a diminuição das barreiras geográficas. Ainda, observamos as principais questões relacionadas à compra de obras de arte pela internet, como suas vantagens e desvantagens, como os colecionadores conheceram as casas leiloeiras, qual é a

Deste modo, o entrevistado resume tanto impactos positivos

mais conhecida, os sentimentos relacionados à compra e o

quanto negativos que a internet causou na compra de obras

ticket médio gasto no setor, remontando às discussões dos

de arte por leilões online. Conseguimos destacar, com a

diferentes estudos sobre este mercado. Por fim, observamos

realização desta pesquisa, portanto, que a compra de obras

os principais impactos da compra de obras de arte por leilão

de arte online parecem ser tão representativas e potenciais

online, compreendendo as principais diferenças entre os

financeiramente quanto os estudos da Hiscox (2014) e da Tefaf

leilões online e presencial, e a preferência de compra, que é a

(2014) apontam, visto não só o alto índice de preferência pela

digital. Neste sentido, fomos capazes de entender e analisar

compra online quanto os seus índices de satisfação e critérios

os principais impactos da internet na compra de arte em

apontados como relevantes para esta dinâmica.

leilões online.





Fim de leilão

49



Ao longo deste projeto buscamos responder a

capítulo, cujo objetivo era compreender como funcionam os

seguinte problemática de pesquisa: qual é a a influência do

mercados de arte físico e online, principalmente os leilões pela

surgimento da internet no processo de compra de obras de

internet. Para isso, entendemos a divisão do mercdo da arte

arte por leilão para os consumidores? Para isso, dividimos

entre o primário, formado por artistas que nunca antes haviam

este estudo em três partes. A primeira delas buscou entender

comercializado suas obras e o secundário, constituido por

a evolução da sociedade de consumo e o consumo estético

obras de revenda. Ajudam a construir este mercado diversos

na contemporaneidade, a fim de compreender as suas

intermediários, como críticos, colecionadores, galerias de arte

diferentes transformações ao longo do tempo. Para isso,

e casas de leilão, objeto deste estudo. Entendemos a dinâmica

com uma pesquisa bibliográfica percebemos o progresso

de funcionamento dos leilões e suas principais implicações na

do consumo sob as óticas de Barbosa (2004) e Lipovetsky

psicologia do consumidor, como a rivalidade, a ansiedade e a

(2007), que atribuiu à esse avanço quatro principais fases. A

pressão do tempo. Esses leilões possuem um funcionamento

primeira fase teve início após a Revolução Industrial e foi

semelhante no universo digital, mas esses últimos guardam

marcada pela passagem dos mercados locais pelos grandes

diferentes vantagens, conforme verificamos nos estudos sobre

mercados nacionais, que levou a uma massante difusão de

este mercado e na pesquisa realizada para esse projeto.

bens de consumo. Este crescimento exponencial deu início



à segunda fase através dos modelos de produção fordista

compreender as principais questões relacionadas ao

fabril e do desenvolvimento de propagandas, que na terceira

consumo de arte, à compra de arte pela internet e à

fase viriam a serem ampliadas através do atrelamento destes

compra específica por leilões online, através de uma

esforços de comunicação aos desejos, experiências e à busca

pesquisa qualitativa com 5 entrevistados e uma pesquisa

pela individualidade dos sujeitos através dos bens materiais e

quantitativa com 30 respondentes. No que tange o consumo

dos serviços que as marcas oferecem. Essa fase se desdobrou,

de arte, analisamos que a maioria dos respondentes

mais tarde, no que Lipovetsky (2015) viria a chamar de

compram obras tanto por hábito familiar e quanto por

capitalismo estético, época em que a indústria é dominada

sempre terem se interessado por arte, resgatando as

por um boom estético e pela artealização de bens cotidianos,

discussões de Barbosa (2011) sobre a individualidade e a

marcando um consumo cada vez mais líquido e efêmero,

liberdade do consumo. Outras motivações para a compra

que levantaram questões com relação às teorias de Benjamin

estão ligadas fundamentalmente à busca por identidade,

(2012) sobre a perda da aura das obras de arte com a sua

enquanto o status, os aspectos sociais ligados ao

reprodutibilidade técnica.

mercado não parecem tão motivadores. Essas motivações



Este capitalismo estético também está presente no

elucidam ainda as argumentações de Benjamin (2012)

mercado de arte, no qual nos aprofundamos no segundo

sobre a reprodutibilidade da arte, que foi percebida

Para a realização dessa pesquisa, buscamos

Fim de leilão

50

pelos consumidores e tratadas como fundamentais para

se tornado cada vez mais complexo e tenha passado de

a existência do comércio, mesmo que ela tenha trazido

uma interação entre poucos intermediários a uma complexa

questionamentos importantes sobre a veracidade e a

cadeia de agentes envolvidos nas transações comerciais. A

qualidade das obras que surgiram.

internet foi um importante agente de mudança desse setor



No que diz respeito à compra de obras de arte pela

ao facilitar o aumento do número de artistas e democratizar

internet, vimos que os consumidores já tinham envolvimento

as obras não apenas em torno do mundo como também

com o mercado online, sendo a compra de obras pela

para diferentes camadas sociais, passando de um mercado

internet um mero desdobramento do seu comportamento

historicamente ligado à nobreza para a criação de obras de

digital. Mesmo assim, é válido destacar que percebemos

arte com preços acessíveis.

que eles foram atraídos principalmente pela conveniência

Assim, ao longo de nossos estudos, exploramos e

e facilidade da compra, tendo preferência pela experiência

validamos o encurtamento de distâncias e a consequente

de compra online.

elevação no número de consumidores, o aumento no número



Segundo os entrevistados, as maiores vantagens deste

de obras de baixa qualidade ou falsificadas, a democratização

modelo de compra, além da facilidade, é o encurtamento

do acesso de obras através de peças mais baratas, o aumento

de distâncias e a privacidade e o anonimato ligados a ele,

da compra de obras de arte pela sua popularização e a

fato ligado ao estudo da Hiscox (2014) que apontava que

facilidade dos artistas em eles mesmos venderem suas peças

os coleciondores se sentem intidados com o ambiente físico

como impactos do surgimento da internet neste mercado.

dos leilões. Por um outro lado, as principais desvantagens



destacadas foram o fato de não se poder verificar as obras

pesquisa concluindo que não apenas a internet trouxe

pessoalmente, a possibilidade de comprar uma obra falsificada

transformações para o mercado de arte como também o

e a insegurança em pagar grandes quantias online.

próprio mercado buscou se adaptar às diferentes mudanças



Compreendendo essas vantagens, fomos capazes de

que aconteceram no consumo e no comportamento da

responder quais são os impactos do surgimento da internet no

sociedade contemporânea com o surgimento do mundo

processo de compra de obras de arte por leilão, problemática

virtual. O mercado de arte, que parecia recluso às camadas

de pesquisa deste estudo. Pudemos concluir que o consumo,

mais elevadas da sociedade, pouco a pouco começa a penetrar

inclusive o de arte, cresceu aceleradamente e trouxe à tona

em todas as classes sociais, através de um mercado cada vez

novas problemáticas como a validade estética e simbólica da

mais aberto. A internet, neste sentido, teve responsabilidade

reprodutibilidade das obras de arte. É inegável, no entanto,

não apenas em derrubar as barreiras geográficas que

que este caráter fez com que ela pudesse alcançar o mundo

separavam artistas e colecionadores, como também serviu

inteiro, fazendo com que naturalmente este mercado tenha

à democratização do acesso a esses artistas através do

Neste sentido, respondemos a problemática desta

Fim de leilão

51

anonimato e do conforto em realizar uma compra sem ser julgado, analisado ou observado por outros compradores.

No entanto, a partir deste estudo é possível perceber

que não são muitos os estudos a respeito das especificidades da compra de arte online no Brasil. Faltam estudos mais claros e mais vastos a respeito da sua evolução, de suas características e do perfil desses colecionadores brasileiros, estudos esses que podem se desdobrar a partir desse projeto.





Anexos

53

6.1

Questionário guia de entrevista em profundidade

Olá!

Qual a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que? Como você conheceu as casas leiloeiras online?

Este questionário tem por objetivo reunir informações para estudar os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão.   As questões abaixo visam colher opiniões sobre diferentes aspectos dos leilões de arte online. Procure ser o mais preciso, sincero e detalhado possível em suas respostas, a sua colaboração é muito importante para esta pesquisa.  

O que te motivou a explorá-las? Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você conhece? Em quais delas você já realizou uma compra? Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim, qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?

Obrigada pela consideração e disposição em colaborar!  Qual o seu primeiro envolvimento com a compra de obras de arte por leilão online? Por favor, descreva a experiência Você acha que de modo geral a internet teve impacto no seu consumo? Por que?

Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de arte por leilões online? 

Qual a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda ou

Na sua opinião, quais são as desvantagens de comprar obras

discorda? Por que?

de arte por leilões online?

Você acha que a relação do consumo de arte com o prestígio

Quais você acha que são as principais diferenças entre os

social se modificou com o surgimento da internet? Por que?

leilões online e offline?

Você acha que as casas leiloeiras mudaram de postura com o

Qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por

tempo e começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?

leilões online? Indique o valor aproximado

Como você percebe essas transformações?

Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que?

Anexos

54

6.2

Questionário quantitativo

4

Quão importantes são as motivações abaixo na compra de obras de arte por leilão online?

1

Vamos nos conhecer melhor? Idade:

Benefícios emocionais

Cidade:

Pouco importante

Importante

(paixão pela arte)

Profissão:

Aspectos sociais

(fazer parte de um grupo)

2

Quantas vezes você comprou uma obra de arte nos



útlimos 12 meses?

Identidade e status (define quem eu sou)

- Nenhuma vez - 1 vez

5

Você prefere a experiência de compra online ou offline

- 2-3 vezes



de obras de arte?

- Mais de 4 vezes

- Online - Offline

3

Qual foi seu gasto médio nessas compras?

- Indiferente

- R$500 ou menos - R$501 - 1.000

6

De maneira geral, você poderia dizer que, com relação

- R$1.001 - 5.000

às compras de obras de arte por leilão que você já fez

- R$5.001 - 10.000

na internet, você está:

- R$10.001 - 50.000



- Totalmente insatisfeito

- R$50.001 - 100.000

- Inatisfeito

- R$100.000 ou mais



- Nem satisfeito nem insatisfeito

- Satisfeito

- Totalmente satisfeito

Muito importante

Anexos

55

7

Classifique os aspectos relacionados à compra de arte online abaixo, dando uma nota de 1 a 5, sendo 1 nada satisfeito e 5 totalmente satisfeito:

Totalmente insatisfeito

Insatisfeito

Busca

(foi fácil encontrar uma obra/artista)

Informação

(forneceram dados suficientes sobre uma obra)

Pagamento

(facilidade e segurança)

Envio

(chegou em boas condições e no tempo estimado)

8

Quais você acha que são as principais vantagens da compra de obras de arte pela internet? - Acesso a informações sobre artistas e preços - Facilidade e conveniência na compra - Privacidade e anonimato na compra - Obras mais baratas - Encurtamento de distâncias - Tempo maior para pensar na compra da obra - Variedade de obras e artistas

Nem satisfeito, nem insatisfeito

Satisfeito

Totalmente satisfeito

Anexos

56

9

Quais você acha que são as principais desvantagens

da compra de obras de arte pela internet?

11

Quais você acha que são os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?

- Não poder ver a obra pessoalmente



- Possibilidade de comprar uma obra falsificada



- Insegurança na embalagem e transporte das obras



- Insegurança em pagar grandes quantias



online



- Falta de mais opções de pagamento



Quais recursos você considera mais importantes em



um leilão online para dar um suporte à compra?



- Garantia de 30 dias

aumentou com o encurtamento das distâncias

10

- O alcance das obras de arte pelo mundo



- Os artistas conseguem vender mais as suas obras pessoalmente - A compra de arte aumentou pela sua popularização - Aumentou o número de obras de arte falsificadas ou de baixa qualidade - Democratização do acesso de obras através de peças mais baratas

- Maiores informações sobre envio e pagamento - Mais informações sobre o artista - Opção de falar com um expert ou especialista - Imagens em 3D - Projeção de realidade aumentada

Obrigada pela sua colaboração! Suas respostas são muito importantes para compreender em mais profundidade os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão online.

Anexos

57

6.3

Questionários dos respondentes I- Então você acha que essa expansão foi boa?

6.3.1 Entrevistado 01 - Fábio

F- Sim, a reprodutibilidade das obras fez com que mais gente pudesse comprá-las.

I- Oi, tudo bem? Obrigada pelo seu tempo em responder esta pesquisa! Você pode se apresentar, por favor?

I- Certo. E quanto a relação do consumo de arte com o prestígio

F- Sem problemas. Meu nome é Fàbio e sou de São Paulo.

social, você acha que isso se modificou com o surgimento da

I- E por que você coleciona obras de arte?

internet?

F- É coisa de família, meus avô coleciona muito e acabei me

F- De certa maneira sim, uma vez que no passado os leilões

envolvendo.

de arte eram grandes eventos sociais. De qualquer forma, grandes casas de leilão ainda utilizam o sistema presencial e

I- Legal! E você acha que de modo geral a internet teve

possibilitam que os compradores escolham a forma que lhes

impacto no seu consumo?

é mais conveniente, lembrando que mesmo antes da internet,

F- Sim

um comprador podia e ainda pode realizar suas compras via telefone ou lances prévios, caso não deseje aparecer

I- Por que?

publicamente.

F- Olha, de forma geral a internet representou sim um aumento no meu consumo de arte, mais pela facilidade que ela trouxe

I- Mas você acredita que a arte ainda tem um papel importante

né. Hoje em dia é muito mais confiável e seguro fazer compras

na legitimação e na distinção de quem a compra ou isso

pela internet e em muitos casos é mais econômico também.

mudou? F- Acho que vai depender do artista e do preço da obra. A

I- Entendi! E o que você acha sobre essa expansão da

internet fez com que muitas obras baratas e de artistas novos

reprodutibilidade das obras de arte com o surgimento da

fossem facilmente acessadas por um público maior, mas as

internet? Você concorda ou discorda?

obras mais caras, de artistas famosos como Picasso, Monet e

F- Concordo, não vejo nenhum problema.

Damien Hirst continuam sendo mais reservadas a um número menor de pessoas.

I- Por que? F- Porque obviamente, sem a divulgação das imagens, seria

I- E essa reserva faria com que a arte ainda esteja ligada à

impossível qualquer tipo de comércio, online ou via catálogo

legitimação de quem compra e ao prestígio social?

físico. Sem essa reprodução o comércio das obras não existiria.

F- Sim.

Anexos

58

I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que

I- E como você conheceu as casas leiloeiras online?

as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e

F- Conheci as casas de leilão on line como um simples

começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?

desdobramento de um mercado que acompanho há muitos

F- Não sei, não conheço muito sobre essa história das casas

anos. Foi uma evolução natural e necessária nos dias de hoje.

de leilão, mas acredito que sim. Acho que todo o mercado de

Não existiu propriamente uma grande campanha para isso,

arte começou a ser mais comercial.

as casas de leilão tiveram que ir se adaptando a isso e as que não o fizeram, foram ficando para trás.

I- Como você percebe isso no seu envolvimento com a compra de obras?

I- E o que te motivou a explorá-las?

F- Eu recebo muito e-mail das casas leiloeiras divulgando

F-Certamente a facilidade em acompanhar diversos leilões,

seus eventos, me convidando pra participar de leilões e

peças e artistas específicos em vários locais e em tempo real.

elas estão sempre postando alguma coisa no Facebook.

No plano de vendas, atingir um público muito maior do que

Certamente essa comunicação faz com que a postura delas

um leilão convencional.

tenha mudado. Elas tiveram que se adaptar bastante. I- E quais casas leiloeiras que realizam leilões online você I- Por que?

conhece? Em quais delas você já realizou uma compra?

F- Porque o consumo aumentou, tem cada vez mais empresa

F- Eu uso todas as plataformas disponíveis. A maioria

brigando por um espaço pequeno, ainda mais na internet.

das casas brasileiras já utiliza sistema de venda online. Algumas possuem sua ferramenta própria, outras se valem

I- Boa. E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça

de plataformas destinadas exclusivamente a leilões online,

quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que?

como a LeilõesBr e Iarremate.

F- Ah, é definitivamente a facilidade em acompanhar um leilão em tempo real em outra cidade, inclusive em outro

I- E você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,

país. Mas outra facilidade que me agrada muito é o fato de

qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?

que alguns leilões online entram no ar muitos dias antes do

F- Sim, já comprei e vendi muito em ambas situações. O leilão

pregão propriamente dito e posso acompanhar o andamento

físico tem a vantagem da visualização “in loco”, a emoção

dos lances, visualização das peças, entre outros recursos.

da disputa presencial e também sentir a “temperatura” da

Isso serve tanto para as peças que estou disputando, como

sala em um determinado momento econômico ou político.

também para as que disponibilizei para venda.

O leilão online te possibilita participar de uma venda que

Anexos

59

muitas vezes seria impossível devido a distância. Assim sendo,

com a peça em mãos.

acredito que ambas as formas são válidas e minha preferência varia muito de caso para caso.

I- Quais você acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline?

I- Sim, com certeza. E qual foi o seu primeiro envolvimento com

F- Uma grande diferença é o fato de que um leilão online é

a compra de obras de arte por leilão online?

muito mais frio do que um presencial. Requer mais atenção

F- Acredito que as primeiras vezes que acompanhei leilões

e conhecimento de quem está comprando. Outra seria que

online tenham sido em casas de fora do país, em pregões de arte

um leilão online reflete exatamente o que está acontecendo

latino americana em NY.

em termos financeiros, ao passo que em um leilão presencial, nem sempre sala cheia representa sucesso de vendas.

I- Você se lembra da primeira experiência que teve? F- No Brasil não me recordo exatamente da primeira experiência

I- E qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por

online, uma vez que participei e acompanhei desde o princípio o

leilões online? Indique o valor aproximado

nascimento do sistema no Brasil.

F- Não existe valor médio nas minhas compras. Uma peça de R$500,00 pode me interessar tanto como uma de

I- Tudo bem! Falando dos leilões online, quais você acha que

R$100.000,00 caso conheça muito bem o que está sendo

são as vantagens de comprar obras de arte por leilões online? 

levado a pregão.

F- Então, como falei, as vantagens são o encurtamento das distâncias assim como as diversas ferramentas que leilões online

I- Certo. E quais você acha que são os maiores impactos do

propiciam, como vigia de lotes, quantidade de visualizações das

surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?

obras, sobreposição de lances, entre outras.

Por que? F- O primeiro grande impacto é o aumento do alcance de

I- E as desvantagens?

público que um leilão online pode atingir. O segundo é que

F- A grande desvantagem, quando não se é possível, é o fato

compradores e vendedores terão que tomar outras precauções

de não poder examinar as peças in loco. Atualmente, os leilões

e cuidados em relação aos mesmos. O fato de um leilão estar

online vem suprindo essa demanda com a inclusão de diversas

online não garante de forma alguma a procedência de suas

imagens e informações, como em uma pintura, por exemplo,

peças e assim como é fácil comprar, também é muito fácil ser

sua imagem de frente e verso, selos de eventuais exposições,

induzido a erro. Meu conselho tanto para leilões on ou off-line

assim também como a maneira como está emoldurada.

é sempre o estudo do que se está comprando ou vendendo.

Obviamente, nada disso substitui um exame mais profundo,

Anexos

60

B- Boa! Fábio, super obrigada pela sua ajuda. Se eu tiver mais

reprodução (ainda com  características de arte) ja existe ha

alguma dúvida entro em contato contigo, okei?

muitos anos com gravuras e esculturas, provavelmente os

F- Claro, sem problemas. Abs!

meios técnicos melhoraram, mas não sei se aumentou.

6.3.2 Entrevistado 02 - João

I- E você acha que essa reprodução é ruim? J- Não..faz com que mais gente tenha acesso às obras. Mas

I- Oi, tudo bem? Obrigada pelo seu tempo em responder esta

tem que tomar cuidado com as falsificações que são vendidas

pesquisa! Você pode se apresentar, por favor?

como verdadeiras, acontece muito porque em geral as pessoas

J- Oi, claro, fique à vontade. Eu sou o João, moro em Sâo

não tem muito conhecimento técnico pra julgar se as obras

Paulo, faço doutorado em história e dou aula na Escola da

são de verdade ou cópias.

Cidade. I- E quanto ao consumo da arte como perstígio social, você I- Boa! E por que você coleciona arte?

acha que isso se modificou com o surgimento da internet?

J- Olha, eu sempre colecionei coisas, selos moeda, soldadinho

J- Humm, acho que não se modificou enquanto prestigio,

de chumbo.. E fui criado em meio a um ambiente de arte...

mas pessoas que não se sentiam confortáveis em comprar por

Me interessa muito a relação cultural e de criação da arte.. De

se sentirem desinformadas agora podem pesquisar artistas e

modo até mais amplo que só artes plásticas. Então juntando o

preços mais facilmente. Isso ajudou a expansão do mercado

lado colecionista com esse lado de interesse combinou, aí por

de modo geral. Principalmente no período de bonanza

fim o bichinho da arte me pegou. Enfim, é isso!

econômica que o Brasil experimentou.

I- E você acha que de modo geral a internet teve impacto no

I- E por que você acha que não se modificou enquanto

seu consumo? Por que?

prestígio?

J- Acho sim..ela facilitou bastante o acesso a informação,

J- Porque qualquer mercado tem produtos mais baratos e

pesquisa de preços e a encontrar obras em lugares onde em

mais caros, que estão ligados ao prestígio de quem compra,

geral não as veríamos.. 

como o luxo.

I- Entendi! E o que você acha sobre essa expansão da

I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que

reprodutibilidade das obras de arte com o surgimento da

as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e

internet? Você concorda ou discorda?

começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?

J- Na verdade não sei, acho que aquilo que chamamos de

J- Olha, muito pouco se comparamos com os EUA. O mercado

Anexos

61

de arte no Brasil é pessoal e patriarcal. Vive com base nas

qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?

relações pessoais. Não tem nenhuma galeria ou casa de leilão

J- Sim. Prefiro o fisico, se bem que diversas vezes é interessante

em Sp cujo trabalho dependa mais de relações objetivas

não estar na sala, atendendo pelo telefone.

empresariais do que de esforços pessoais. Se alguém disser que tem estará errado

I- Mas por que o físico te interessa mais? J- Acho que a emoção é diferente..ver a obra ao vivo e de

I- Então você acha que a postura dessas casas de leilão não se

perto é bem melhor do que por uma imagem.

modificaram com o tempo aqui no Brasil? J- Não muito, como disse acho que aqui o mercado de arte

I- Entendi. E qual foi o seu primeiro envolvimento com a

é muito baseado nas relações pessoais, em quem conhece

compra de obras de arte por leilão online?

quem, uma bolha, então só quem faz parte dela fica sabendo

J- Acho que a primeira experiência foi comprando livros pelo

bem desses eventos, seja por e-mail, por telefone ou carta.

Ebay.

I- Entendi! E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça

I- Como foi a experiência?

quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que?

J- Fiquei bem ansioso e com a adrenalina alta, principalmente

J- Leilões fora do Brasil, porque é o que tem as casas leiloeiras

por ja ter perdido algumas tentativas de compra nos últimos

mais conhecidas no mundo.

segundos.

I- E como você conheceu essas casas leiloeiras online?

I- Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de

J- Pesquisando principalmente a partir do ArtPrice. 

arte por leilões online?  J- Não ser visto, e poder lançar em obras em outros lugares

I- E o que te motivou a explorá-las?

do mundo.

J- Eu coleciono um artista cujas obras não são possíveis de serem encontradas no Brasil. 

I- E as desvantagens? J- Não poder ver a obra ao vivo.

I- Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você conhece? Em quais delas você já realizou uma compra?

I- Sim, como você tinha mencionado antes! E quais você

J- Christies, Sothebys. Por telefone em varias.

acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline?

I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,

Na sala você se sente mais confortavel em ser visto e

Anexos

62

entendido, no telefone há sempre o medo de a comunicação

frescura

não rolar bem e você não saber o quão próximo de encerrar os lances. Online há sempre o medo de uma falha técnica.

I- Você acha que de modo geral a internet teve impacto no seu consumo? Por que?

I- E qual é o valor médio de seus gastos na compra de arte por

B- Sim, pelo simples motivo de que não é preciso ir até a loja

leilões online? Indique o valor aproximado

para comprar e avaliar algo. Comodidade pura e simples.

J- Puxa. Faz um tempo que não compro online.

  I- E qual a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade

I- E por fim, quais você acha que são os maiores impactos do

das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda

surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?

ou discorda? Por que?

Por que?

B- Acho ótimo. O mercado de arte sempre foi muito

J- Acho que ainda esta mais no campo da facilidade de

inacessível. Com a reprodução de obras a um preço justo, a

procurar obras e ver leilões de lugares distantes.

chance de ter algo que você gosta em casa é muito maior, é claro, com o aval do artista e tudo nos conformes. A chance

B- Sim, entendo. Bom, obrigada pelo seu tempo, estas são as

de incentivar um novo artista também. Há galerias, em SP por

perguntas que tenho. Obrigada pelo seu tempo e pela ajuda!

ex., que têm se especializado nisso. É claro que me parece

J- Beleza! Precisando é só chamar..

que falta alguma regulação nesse mercado, há muita coisa falsificada e é preciso algum treinamento, alguma expertise

6.3.3 Entrevistado 03 - Bruno

para não comprar gato por lebre. Tarsila do Amaral, por exemplo, tenho visto falsificações grosseiras de gravuras a

I- Bruno, tudo bem? Podemos começar?

preços inacreditáveis.

B- Sim!

 

I- Você pode se apresentar?

I- Você acha que a relação do consumo de arte com o prestígio

B- Claro. Eu tenho doutorado em ciências políticas pela

social se modificou com o surgimento da internet? Por que?

UFSCAR e moro no Paraná!

B- Acho que não. Ela ficou mais escalonada. Alguns artistas que fazem serigrafias em grandes séries são de fácil acesso e

I- E por que você coleciona obras de arte?

todos podem comprar. Os leilões têm as suas ‘carnes de vaca’

B- Coleciono porque gosto. Não aprendi com família nem

que são, em alguma medida, desprezadas por compradores ou

nada, aprendi a gostar desde o dia que sentei numa poltrona

colecionadores mais experientes. Há uma hierarquia que se

de design assinado e vi que forma e aparência é mais do que

criou pela raridade da obra, pelo prestígio do artista ou pela

Anexos

63

numeração da reprodução, ou se tem dedicatória ou não, etc. 

algumas vezes valoriza coisas horrorosas e deixa de lado peças lindas que ninguém conhece ou valoriza (por exemplo,

I- E é essa hierarquia que faria com que este prestígio tenha

esses dias comprei uma obra de Jack Sal, que é um artista

se mantido e modificado ao mesmo tempo?

fantástico, por R$ 50,00, qual a razão do preço baixo? Não

B- Exato. Ao mesmo tempo em que as ‘carnes de vaca’ são

faço ideia. Ou então, comprei um guache do Charoux por

desprezadas pelos colecionadores mais ricos e experientes e

um preço muito abaixo do mercado porque o leiloeiro não

compradas por novos colecionadores ou pessoas quaisquer,

conseguiu identificar a assinatura).

as obras mais raras, de artista mais famosos e caras fizeram

 

com que esse prestígio ainda se mantivesse na socieade.

I- Como você conheceu as casas leiloeiras online? B- Por indicação de amigos mais experientes que deram

I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que

dicas, referências, sites de apoio, etc.

as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e

 

começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?

I- O que te motivou a explorá-las?

B- Acredito que sim. Que o mercado como um todo tenha

B- A princípio decorar meu apartamento. Depois fui tomando

começado a ter uma postura mais corporativa com o tempo.

gosto e daí aprendi mais sobre técnicas, correntes artísticas,

Mas isso é bom, tira um pouco da empatia que o mercado

artistas específicos.

de arte tem no Brasil e nos USA, por exemplo, e não tem

 

em países desenvolvidos da Europa, onde se aprende arte em

I- Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você

escola pública.

conhece? Em quais delas você já realizou uma compra? B- Já comprei em muitas, seria impossível listar todas. Mas as

I- E como você percebe essa mudança de postura mais

que melhor tratam o cliente são a Tableau, ArtPrints, Puliti e

corporativa das casas de leilão?

um escritório de arte em São Paulo de uma pessoa física que

B- Pelas coisas que eu recebo e vejo. Spam, e-mail, telefonema,

possui loja online no Mercado Livre. Mas tem o ‘indexador’

vários posts nas rede sociais falando sobre os eventos que elas

de leilões, leiloesbr.com.br que facilita bastante a vida.

fazem...

  I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,

I- Entendi! E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça

qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que?

quando você pensa na compra de arte pela internet? Por que?

B- Nunca comprei. Já comprei em antiquários, até em

B- São duas: se eu gosto e se é ‹legal› (assinada, certificada,

restaurantes, mas nunca em leilão presencial.

etc.). Não ligo muito para a lógica do mercado de arte, que

 

Anexos

64

I- Qual o seu primeiro envolvimento com a compra de obras

B- Já foi de cerca de R$ 500,00, hoje está mais baixo.  Mas no

de arte por leilão online? Por favor, descreva a experiência

geral, diria que em torno disso. Com alguns outliers, indo até

B- Foi a compra de uma serigrafia muito legal de

R$ 1.500,00 e as vezes chegando a pagar somente R$ 30,00.

um  discípulo  de Mabe. Conhecia a história e a peça era

 

muito forte, chamativa e por isso me empolguei em comprar.

I- Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento

A compra foi ótima, num preço bom e chegou em minha

da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que?

casa sem problemas. Mas nem sempre é assim, muitas casas

B- Popularização e falsificação. O mercado online é muito

demoram para enviar, cobram embalagem, exploram um

competitivo, então é difícil de sair-se bem numa dessas.

pouco além do leilão.  

I- Legal. São estas as perguntas Bruno, obrigada pela sua

I- Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de

ajuda!

arte por leilões online? 

B- De nada, disponha!

B- Tempo para pensar e comodidade :)  

6.3.4 Entrevistado 04 - Adriano

I- Na sua opinião, quais são as desvantagens de comprar obras de arte por leilões online?

I- Adriano, tudo bem? Você pode se apresentar?

B- Falta de oportunidade de ver detalhes da obra, o estado

A- Sim. Sou Adriano, doutor em ciências políticas pela

físico e a forma de pagamento (sempre à vista com depósito

UNICAMP e com pós doutorado em andamento aqui na

bancário). Se tivessem outras formas de pagamento, talvez

França na mesma área.

compraria coisas mais ousadas. I- E você colecinoa arte por que? I- Quais você acha que são as principais diferenças entre os

A- Olha, não me considero um colecionador, apenas um

leilões online e offline?

comprador de quadros. Por que? Apenas porque quero ter

B- Não saberia dizer, nunca fui ao físico.

coisas belas em casa mesmo.

I- Por que?

I- E você acha que de modo geral a internet teve impacto no

B- Pela falta de interesse, distância e tempo.

seu consumo? Por quê?

 

A- Sim, teve um enorme impacto. Não em termos de

I- E qual é o valor médio de seus gastos na compra de arte por

quantidade, mas de “qualidade”, isto é, o tipo das coisas que

leilões online? Indique o valor aproximado

se passou a ter acesso depois dessas duas revoluções nos

Anexos

65

anos 1990: a Internet e o cartão de crédito internacional. Ela

I- Legal! E partindo para o lado do leilão, você acha que

abriu um número infinito de possibilidades de consumo. Por

as casas leiloeiras mudaram de postura com o tempo e

exemplo: em minha área profissional, se eu quisesse um livro

começaram a ficar mais parecidas com uma empresa?

publicado nos EUA teria, antes dessa revolução, de procurar

A- Não saberia dizer, prefiro não opinar.

em muitas bibliotecas, peregrinar até uma delas para lê-lo,

I- Mas você acha que de certo modo elas estão se comunicando

e às vezes era preciso viajar de cidade para tanto. Como

com as pessoas mais do que antes?

na Idade Média. Outro exemplo: como alguém, no Brasil,

A- Ah, por esse lado sim, acho que elas estão se comunicando

poderia conhecer e comprar uma máscara africana Baoulé,

cada vez mais porque tem cada vez mais gente querendo

feita na Costa do Marfim por um artesão e vendida como obra

vender arte e elas precisam se destacar pra sobreviver.

de arte em Paris? I- Como você percebe essa mudança? I- E qual é a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade

A- Principalmente no Facebook, sempre postando foto das

das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda

obras que vão leiloar, criando eventos, convidando as pessoas

ou discorda? Por que?

por e-mail...

A- A reprodutibilidade das obras de arte é bem anterior à Internet. Não se se você sabia (aprendi isso outro dia), mas

I- Enetndi! E você acha que a relação do consumo de arte com

no início do século XX as obras de arte não faziam longas

o prestígio social se modificou com o surgimento da internet?

viagens para serem expostas. Nos museus dos EUA, por

Por que?

exemplo, se expunham cópias fidelíssimas de uma tela

A- Tenho quase certeza que não. Consumo de arte continua

famosa. No ambiente da Internet acho mais adequado falar em

a ser, por um lado, completamente supérfluo para as altas

falsificações que tentam ser vendidas como originais, obras

camadas médias e para os novos ricos (a não ser como forma

de arte “não assinadas” ou assinadas “na prancha” etc. Desde

de investimento, para esses últimos). E continua a ser, por

que o consumidor esteja completamente informado que NÃO

outro lado, uma prática (talvez A prática) de maior distinção

está adquirindo um pôster “verdadeiro” do Andy Warhol, não

social entre os muito ricos e os outros. Obras de arte vendidas

vejo problema. Eu mesmo já comprei um tipo de reprodução

pela Internet são obras menores, menos conhecidas, muito

de alta qualidade, obras de arte encartadas na revista francesa

menos valorizadas, etc. O fato de eu, um simples professor

Derrière le Miroir. Veja aqui o que é: https://fr.wikipedia.org/

universitário, poder pendurar um Fiaminghi ou uma Mira

wiki/Derri%C3%A8re_le_miroir_(revue)

Schendel na parede não faz subir um milímetro meu conceito social diante de um “verdadeiro” colecionador, isto é, uma pessoa que pode comprar uma tela por 1 milhão de dólares.

Anexos

66

I- Por que? I- E qual é a primeira coisa que vem à sua cabeça quando

A- Porque encontro tudo o que preciso na internet.

você pensa na compra de arte pela internet? Por que? A- Falsificação. Falsificação. Falsificação. Uma busca simples

I- Entendi. E qual foi o seu primeiro envolvimento com a

no infame Mercado Livro lhe mostrará isso.

compra de obras de arte por leilão online? Pode descrever uma experiência?

I- Certamente! E como você conheceu as casas leiloeiras

A- A experiência de colecionar arte é mais ou menos como

online?

a experiência de colecionar figurinhas de um álbum de

A- Comprei uma Água-tinta e água-forte do Odetto Guersoni

figurinhas. Só que, no primeiro caso, a gente nunca preenche

numa loja virtual no Mercado Livre e passei a receber alguns

o álbum. Você começa com obras menores, desimportantes,

spams e um dia fui ver o que era aquilo.

em mau estado, em geral gravuras e logo não se contenta mais com isso, passa a obras mais elaboradas, mais raras (guaches,

I- E por que você foi explorá-las?

por exemplo, que ainda são acessíveis). Mas há um limite no

A- Minha vontade de ter em casa obras dos neoconcretistas

orçamento. É preciso saber o quanto se pode gastar. Coisas

brasileiros que, depois de uma rápida pesquisa, vi que não

de fato muito, muito boas saem bem caro para o meu padrão

eram tão inacessíveis assim. Não gosto de posters e fotografias

salarial.

também eram muito caras. I- E na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras I- Quais casas leiloeiras que realizam leilões online você

de arte por leilões online?

conhece? Em quais delas você já realizou uma compra?

A- Não ter de conhecer ninguém, de travar relações, fazer

A- Listo as três últimas: Galeria Leilões (uma Mira Schendel),

parte desse petit monde. O anonimato também é um grande

O que o Vento não Levou (um Mário Silésio) e Tableau Arte

incentivo.

& Leilões (um guache do Dionisio del Santo). I- E as desvantagens? I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,

A- Não poder vê-las, avaliar o seu estado, se se trata de uma

qual experiência você prefere: a off line ou a online? Por que?

falsificação tosca, etc.

A- Não, nunca. Nuca tive a oportunidade nem vontade de ir a um.

I- Entendi. Quais você acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline? A- Minha impressão é que leilões off-line atraem um público

Anexos

67

completamente diferente, muito mais entendido no assunto.

I- Você acha que de modo geral a internet teve impacto no seu

A compra on line quebra uma série de barreira, inclusive o

consumo? Por que?

constrangimento social de entrar numa casa de leilão de arte.

M- A Internet tem sim um forte impacto no meu consumo, pela facilidade, a variedade das ofertas e principalmente na

I- E qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por

quantidade das ofertas oferecidas. Antes da Internet só nas

leilões online? Indique o valor aproximado

Galerias físicas e Exposições que tínhamos contato com

A- Aproximadamente R$ 1.000,00.

Obras de Arte.

I- Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento

I- Qual a sua opinião sobre a expansão da reprodutibilidade

da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que?

das obras de arte com o surgimento da internet? Você concorda

A- Democratizar o acesso a coisas que ficariam ou escondidas

ou discorda? Por que?

nas casas dos herdeiros, ou seriam privilégio dos entendidos e

M- Não se pode ir contra a Modernidade. Sem Internet não

insiders desse mercado.

vivemos mais e ela é necessária em todos os segmentos, incluindo o de Pinturas e Obras de Arte. Só acho que a

I- Legal. Obrigada pela sua ajuda Adriano, era isso que

qualidade das Obras oferecidas caiu muito.

precisava! A- Fique à vontade!

I- Você acha que a relação do consumo de arte com o prestígio social se modificou com o surgimento da internet? Por que? M- Com certeza, com o surgimento da Internet, todas as

6.3.5 Entrevistado 05 - Maurício

classes sociais tiveram acesso a Obras de Arte e Pinturas que antigamente, só uma pequena parte da sociedade desfrutava.

I- Oi Maurício, tudo bem? Você pode se apresentar?

É claro que precisamos evoluir muito culturalmente para que

A- Sim. Sou Maurício, casado, moro em SP.

isso se torne mais presente na maioria da população de baixa renda.

I- E você coleciona arte por que? A- Minha esposa e eu sempre gostamos muito de arte, e

I- Qual a primeira coisa que vem à sua cabeça quando você

também sou artista. Aí acabei entrando nesse mercado e estou

pensa na compra de arte pela internet? Por que?

nele até hoje.

M- Se for Obra de um pintor mais famoso, a primeira coisa que me vem à mente é se a Obra é verdadeira. Com o surgimento dos Leilões online, muitas obras falsificadas foram “jogadas”

Anexos

68

no Mercado. I- Entendi. E quais casas leiloeiras que realizam leilões online I- Como você conheceu as casas leiloeiras online?

você conhece? Em quais delas você já realizou uma compra? 

M- Como eu já freqüentava Leilões físicos e era cadastrado

M- Conheço inúmeras casas leiloeiras Online e já fiz compras

em Galerias de São Paulo, recebi por e-mail o primeiro

em quase todas elas. Hoje só participo de Leilões Online de

convite para participar de um Leilão pela Internet de uma

Galerias da cidade de São Paulo, pelo motivo de não precisar

Galeria do Rio de Janeiro. Com o tempo e o sucesso desses

pagar o Frete dos Correios para receber as Obras arrematadas

primeiros Leilões criou-se o “Leilões BR” com sede no Rio de

(são cobrados preços abusivos de fretes, principalmente das

Janeiro, em que um grupo de Galerias cariocas fazem Leilões

Galerias do Rio de Janeiro). Aqui em São Paulo, vou buscar

periódicos Online. Com isso os Leilões presenciais foram

pessoalmente as Obras, economizando o valor dos fretes.

perdendo força, principalmente nas Galerias Paulistas, o que

Seguem algumas Galerias que já efetuei compras: Bel Galeria

forçou a maioria das Galerias, não só daqui de São Paulo,

de Arte – Tableau Arte e Leilões (uma das poucas que ainda

como também de outros Estados, a aderirem ao Leilões BR.

faz o leilão presencial junto com o Online) – Galeria Victor Ugo – AM Leilões – Fibra Galeria – Acervo DPilon – Brunetti

I- O que te motivou a explorá-las?

Artes – Casa 8Leilões – Pires Feldman Escritório de Arte –

M- Com a pouco oferta de Leilões Físicos (presenciais), tive

Sérgio Longo Escritório de Arte – Oscar Freire Leilões.

que aderir naturalmente aos Leilões Online. Hoje por motivo de custos e baixa presença de público, a maioria das Galerias

I- Você já comprou obras de arte por leilão físico? Se sim,

não fazem mais Leilões presenciais.

qual experiência você prefere: a offline ou a online? Por que? M- Sim, já comprei obras em Leilões físicos. Gosto muito

I- E você acha que as casas leiloeiras mudaram de postura

dos Leilões físicos, principalmente pelo contato com a Obra,

com o tempo e começaram a ficar mais parecidas com uma

poder vê-la e tocá-la se necessário, o ambiente gostoso das

empresa?

pessoas presentes, com serviço de bar e ouvir o leiloeiro oficial

M- Puts, não sei dizer em muitos detalhes, mas acho que sim,

apresentando as Obras e narrando algumas curiosidades sobre

como tudo né.

elas. No Leilão Online não temos esse contato gostoso.

I- Por que?

I- Qual o seu primeiro envolvimento com a compra de obras

M- Porque tem cada vez mais gente querendo vender o que

de arte por leilão online? Por favor, descreva a experiência

tem e sem se comunicar, fazer eventos e chamar as pessoas

M- Já está respondido na pergunta No. 5. Recebi o convite

pra comprar as suas obras você é engolido.

por e-mail, e como toda a novidade, gostei da experiência mas

Anexos

69

não fazia idéia do sucesso que esta forma de leilão alcançaria.

no mundo fechado dos Leilões e Galerias, com Obras de Arte oferecidas a partir de R$10,00. De uma certa forma, ajudando

I- Na sua opinião, quais são as vantagens de comprar obras de

a melhorar culturalmente o nosso sofrido povo brasileiro.

arte por leilões online?  M- A variedade de Obras oferecidas e a quantidade de Galerias

I- Entendi, certamente. Maurício, obrigada pela sua atenção,

alcançadas.

estas foram as perguntas! M- Obrigada você!

I- Na sua opinião, quais são as desvantagens de comprar obras de arte por leilões online? M- A baixa qualidade das muitas obras oferecidas e a grande quantidade de Obras falsas jogadas no Mercado. I- Quais você acha que são as principais diferenças entre os leilões online e offline? M- Está respondido na pergunta 8. Os Leilões Online são muito frios. Já nos presenciais existe o calor humano e o contato físico com a Obra de Arte. I- Qual o valor médio de seus gastos na compra de arte por leilões online? Indique o valor aproximado Difícil dizer. Depende muito do valor mínimo dos lances das pinturas apresentadas em cada Leilão e nas disputas dos compradores. Por mês uma média de R$5.000,00 M- Quais você acha que são os maiores impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão? Por que? Como lado negativo, a facilidade da venda de Obras de Arte falsas no mercado. Como lado positivo, o maior impacto com certeza é a possibilidade ao acesso de todas as classes sociais

Anexos

70

6.4

Resultados da pesquisa quantitativa

Resultados obtidos em 28/09 através da plataforma Qualtrics. 1 Idade 57 52 45 44 32 46 40 50 42 60 56 46 40 46 58 35 53 53 34 58 49 53 48 48 59 48 38 39 42 43

Vamos nos conhecer melhor? Cidade Atibaia Brasília Brasília Curitiba Curitiba Florianópolis Minas Gerais Paris Ribeirão Preto Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Santos São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo

Profissão Artista Engenheiro Artista Engenheiro Cientista Político Administrador de empresas Advogado Professor Administrador de empresas Empresário Publicitário empresario Professor Empresário Marchand Advogado Leiloeiro Restaurador Publicitário Publicitário Empresário Leiloeiro Leiloeiro Administrador de empresas Marchand Advogado Advogado Publicitário Administrador de Redes Administrador de empresas

2

Por que você compra obras de arte pela internet?

Resposta Minha família sempre comprou e acabei me envolvendo Gosto de ter obras de arte bonitas em casa Sempre colecionei outros objetos e a arte foi um desdobramento disso Sempre me interessei por arte por motivos pessoais Sou artista e também compro obras de arte Outros motivos (insira)

3

Quantas vezes você comprou uma obra de arte nos

útlimos 12 meses? Resposta Nenhuma vez 1 vez 2-3 vezes Mais de 4 vezes Total

4

0 3

% 0% 10% 43% 47% 100%

Qual foi seu gasto médio nessas compras?

Resposta R$500 ou menos R$501-1.000 R$1.001-5.000 R$5.001-10.000 R$10.001-50.000 R$51.000-100.000 R$100.000 ou mais Total

Qtd 1 5 14 5 3 0 2 30

% 3% 17% 47% 17% 10% 0% 7% 100%

Qtd 11 5 5 6 2 6

% 37% 17% 17% 20% 7% 20%

Anexos

71

5

Quão importantes são as motivações abaixo na compra de obras de arte por leilão online? ImportanPouco importante te

Question

Muito importante

Benefícios emocionais

4

5

21

Aspectos sociais

18

9

3

Identidade e status

15

11

3

(paixão pela arte)

(fazer parte de um grupo) (define quem eu sou)

6

Você prefere a experiência de compra online ou offline

de obras de arte? Resposta Online Offline Indiferente Total

7

Qtd 12 7 11 30

% 40% 23% 37% 100%

De maneira geral, você poderia dizer que, com relação às compras de obras de arte por leilão que você já fez na internet, você está:

Resposta Totalmente insatisfeito Insatisfeito Nem satisfeito, nem insatisfeito Satisfeito Totalmente satisfeito Total

Qtd 0 0 6 22 2 30

% 0% 0% 20% 73% 7% 100%

Anexos

72

8

Classifique os aspectos relacionados à compra de arte online abaixo, dando uma nota de 1 a 5, sendo 1 nada satisfeito e 5 totalmente satisfeito: Totalmente insatisfeito

Insatisfeito

Nem insatisfeito, nem satisfeito

Satisfeito

Totalmente satisfeito

Busca (foi fácil encontrar uma obra/

1

1

2

15

11

Informação (forneceram dados suficientes sobre uma obra)

3

4

5

13

5

Pagamento

1

0

7

19

3

Envio (chegou em boas condições e no tempo estimado)

1

0

7

18

4

Question artista)

(facilidade e segurança)

9

Quais você acha que são as principais vantagens da compra de obras de arte pela internet? Resposta Acesso a informações sobre artistas e preços Facilidade e conveniência na compra Privacidade e anonimato na compra Obras mais baratas Encurtamento de distâncias Tempo maior para pensar na compra da obra Variedade de obras e artistas

10

Qtd 14 22 15 11 21 9 13

% 47% 73% 50% 37% 70% 30% 43%

Quais você acha que são as principais desvantagens da compra de obras de arte pela internet?

Reposta Não poder ver a obra pessoalmente Possibilidade de comprar uma obra falsificada Insegurança na embalagem e transporte das obras Insegurança em pagar grandes quantias online Falta de mais opções de pagamento

Qtd 26 21 7 11 7

% 87% 70% 23% 37% 23%

Anexos

73

11

Quais recursos você considera mais importantes em um leilão online para dar um suporte à compra? Resposta Opção de falar com um expert ou especialista Garantia de 30 dias Maiores informações sobre envio e pagamento Mais informações sobre o artista Imagens em 3D Projeção de realidade aumentada

12

Qtd 20 17 12 11 9 8

% 69% 59% 41% 38% 31% 28%

Quais você acha que são os impactos do surgimento da internet na compra de obras de arte por leilão?

Resposta O alcance das obras de arte pelo mundo aumentou com o encurtamento das distâncias Os artistas conseguem vender mais as suas obras pessoalmente A compra de arte aumentou pela sua popularização Aumentou o número de obras de arte falsificadas ou de baixa qualidade Democratização do acesso de obras através de peças mais baratas

Qtd

%

24

80%

9 14 20 19

30% 47% 67% 63%





7 BIBLIOGRAFIA 7.1 Livros BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (orgs). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. São Paulo: Zahar, 2005. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. Porto Alegre: Zouk, 2012. BENHAMOU-HUET, Judith. The worth of art (2). Nova Iorque: Assouline, 2008. BOLL, Dirk. Art for sale. Alemanha: Hatje Cantz, 2011. CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. GRANET, Danièle; LAMOUR, Catherine. Grandes e pequenos segredos do mundo da arte. Rio de Janeiro: Tinta Negra, 2014. LIMA, MANOLITA. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. São Paulo: Saraiva, 2008. LEMOS, André. Tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002. LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009.

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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING SÃO PAULO 2015/2

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