O túmulo de Gomes Martins Silvestre - Proposta de análise iconológica

July 8, 2017 | Autor: Paulo Bruno Reis | Categoria: Medieval History, História, Iconologia, Luto e morte, Liturgia catolica
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Índice

Introdução......................................................................................................................... 3 1

– O Culto da Morte na Idade Média.......................................................................... 5 1.1

2

– Os Rituais de Passamento e Lamentação ....................................................... 6

– O moimento de Gomes Martins Silvestre............................................................. 11 2.1

– Gomes Martins.............................................................................................. 14

2.2

– A História de Turpini nos Ideais de Cavalaria ............................................ 16

2.3

– O Brasão de Armas ou o Prenúncio de Salvação Eterna .............................. 19

Conclusão ....................................................................................................................... 22 Bibliografia..................................................................................................................... 25 Anexos ............................................................................................................................ 28

1

Agradecimentos:

A elaboração deste trabalho não teria sido possível sem toda a colaboração, apoio e dedicação que nos foi sendo prestada por parte dos docentes Professora Doutora Leontina

Ventura,

Professora

Doutora

Maria Alegria Marques, Professora Doutora Joana Antunes e Professor Doutor Isaías Hipólito, aos quais aqui deixamos o nosso sincero obrigado.

2

Introdução

No âmbito da licenciatura no curso da História, é-nos requerido que sejam realizadas cadeiras do curso de História de Arte, tendo sido por nós eleita a cadeira de Iconografia, pois a nossa tendência para a época Medieval necessita de olhar a todos os recursos, de forma a tentar colmatar a inexistência de documentação escrita para boa compreensão desta época a que tendem a designar de Dark Ages por esta mesma razão. Deste modo, e após a hipótese colocada pela docente Professora Doutora Joana Antunes para a apresentação de um trabalho escrito, propusemo-nos a debruçar sobre o tema Córrer Les Armes, incidindo sobre o túmulo de Gomes Martins Silvestre, de que já anteriormente tínhamos tido o prazer de ouvir falar à Professora Doutora Carla Varela Fernandes e tanto nos tinha intrigado. Felizmente, a proposta foi aceite. O estudo a que nos propomos irá incidir, quer na perspetiva medieval das mentalidades em encarar a morte, quer na forma de representação que se adapta para atuar como memória póstuma. Para este feito, é-nos necessário recuar até ao século X, altura em que se funda a ordem de Cluny, passando para o século XI com Cister, para de seguida se poder penetrar no século XIV, época em que o nosso estudado se insere, contudo, fá-lo-emos de forma superficial, tocando só nos pontos que nos parecem mais pertinentes para a execução deste trabalho. Será igualmente necessário, ou mesmo essencial, abordar a poesia trovadoresca, pois cremos que o fundamento para a iconografia patente na arca tumular que iremos abordar advém da mesma, quer pelos ideais de cavalaria que nos parecem influenciar por esta, quer devido às origens do seu possível autor, mestre Pero, podendo mesmo ter sido usados outros exemplos da autoria deste artista, contudo, optamos por não o fazer. Iremos penetrar no campo do imaginário, especulando sobre questões que nos pareceram pertinentes, ainda assim, iremos ser algo cautelosos, pois temos consciência dos “terrenos movediços” que iremos percorrer. Ressalvamos desde já tratar-se de hipóteses suscitadas. Quanto ao método utilizado iremos recorrer à Iconologia de Erwin Panofsky1 e quanto a bibliografia tentaremos recorrer a obras ou artigos específicos para a 1

PANOFSKY, Erwin, Estudos de iconologia: temas humanísticos na arte do Renascimento, Estampa,

Lisboa, 1995.

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abordagem específica dos temas, recorrendo igualmente a publicações online, que citaremos no seu devido lugar.

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1 – O Culto da Morte na Idade Média A preocupação com que os vivos encaram a morte foi sempre uma constante ao longo das diferentes épocas da História. Porém, e para o contexto em que este estudo se insere, o século XIV, tentaremos, dentro do possível, não nos alargar em demasia para além da centúria de Trezentos, ainda que seja pertinente apresentar algumas reflexões acerca dos marcos que consideramos de referência para o bom entendimento da evolução dos comportamentos e mentalidades sobre esta temática. Assim, e recorrendo a José Mattoso2, poder-se-á afirmar que o monaquismo cluniacense no Ocidente Peninsular e a introdução da Regra de São Bento foram responsáveis pela substituição da liturgia hispânica pela liturgia romana, ao implementarem um sistema de prática dos ofícios divinos e da celebração eucarística pelos defuntos, quer durante o funeral destes, quer no decurso dos anos após a morte — práticas, aliás, já anteriormente conhecidas, ainda que não regulamentadas. Assiste-se, deste modo, ao fomento de uma ideia em que a alma dos defuntos estaria algures num espaço metafísico, podendo ainda ser alterada o seu estado de salvação, ou de condenação, no dia do Juízo Final, o que trazia aos vivos alguma esperança quanto à sua salvação eterna, em contraste com o pessimismo mundano do ano mil. De entre as inúmeras inovações destacadas por Mattoso, saliente-se a inscrição dos nomes dos benfeitores nos seus sarcófagos, para que fossem lidos perpetuamente, levando a que, cada vez mais, os monges negros fossem preferidos como fiéis depositários dos corpos daqueles que haviam sido seus benfeitores ao longo da vida. Ainda seguindo José Mattoso3, e fazendo distinção entre a ordem de Cluny e as ideias do cisterciense Bernardo de Claraval, que autor releva como tendo sido um dos maiores difusores da crença no Purgatório, remetemo-nos para a questão do ritual a que o moribundo estaria sujeito, tema que, todavia, desenvolveremos em momento oportuno. Assim, e ainda que referindo-se aos rituais dos monges em comunidade, mas ressalvando que não deveriam divergir em muito das práticas do mundo leigo, se para

2

MATTOSO, José (Dir.), O Reino dos Mortos Na Idade Média Peninsular, Lisboa, Edições João Sá da

Costa, 1996, pp. 75- 84. 3

MATTOSO, José, op. cit. pp. 87-107.

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os cluniacenses o doente, em caso de poder andar, deveria solicitar a Santa Unção no capítulo, onde faria o ato penitencial e pediria perdão de modo a receber a absolvição, já para os cistercienses dever-se-ia tocar o sino para reunir a comunidade, que se dirigia à enfermaria. Finado o doente, e após as devidas orações, ambas as Ordens praticavam uma procissão solene que conduzia o defunto à igreja, defendendo a ordem de Cluny que a mesma se fizesse segundo o tocar de todos os sinos e que o enterro fosse acompanhado por velas. No que tocava ao corpo, ambas concordavam que este devia ser sepultado com os pés voltados a Oriente. Distinguiam-se, também, as duas ordens religiosas no tocante às ofertas que se deveriam fazer pelo defunto. No caso de Cluny, consistia em dar aos pobres o alimento que o falecido comeria durante trinta dias, bem como a denominada prebenda do monge, ou seja, o sustento, correspondente a trinta dias, a ser dado em esmola a um pobre, pelo aniversário do defunto. Para os cistercienses esta prática era substituída pelo hábito quotidiano de, em cada refeição, se encherem três escudelas de comida, depois de servir o abade e o prior, para as dar aos pobres, como sufrágio pelos defuntos da comunidade. No entanto, o aparecimento das ordens Mendicantes no século XIII, com o seu despojo dos bens materiais, levará a que estes passem a ser os preferidos para zelar pelos defuntos, já que se aproximavam mais dos ideais de penitência que poderiam levar à salvação eterna, o que se irá repercutir nas mentalidades da centúria de Quatrocentos e que abordaremos em seguida.

1.1 – Os Rituais de Passamento e Lamentação Perante a testamentária abordada por Hermínia Vasconcelos Vilar 4, torna-se notória a continuidade que o tema post mortem continuava a ter na vida dos vivos e que pode ser confirmada pela preocupação em deixar os seus últimos desejos por escrito, quer referindo o momento após a sua morte, quer dispondo para os anos futuros.

4

VILAR, Hermínia Vasconcelos, “Rituais da Morte em Testamentos dos Séculos XIV e XV (Coimbra e

Santarém), in, O Reino dos Mortos Na Idade Média Peninsular, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1996, pp. 165-176.

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Se quanto à preparação do corpo para as exéquias finais não ficaram muitos dados que possam permitir reconstituir esse momento, já o mesmo se não pode dizer quanto ao cortejo fúnebre em direção à sepultura, ainda que o estatuto social do defunto em muito definisse todo esse ritual. Deste modo, podem-se encontrar referências a todo um grupo que devia acompanhar o cortejo, em grande parte composto pelas relações de amizade do falecido, que, regra geral, se queria fazer acompanhar por frades das ordens Mendicantes, que deviam orar pela sua alma, bem como fazerem tocar os sinos, anunciando a partida do cortejo e convidando à participação. Eram igualmente distribuídos ofertas em géneros, quer às igrejas, quer aos pobres, podendo chegar mesmo a alcançar o período de um ano, indo sendo feita semanalmente junto do túmulo ou transferindo-se para a igreja, o que era designado obradar do morto5. Saliente-se, porém, que estas práticas nos remetem para nobres, mercadores e funcionários, ou seja, indivíduos com posses para as mesmas, embora a autora que estamos seguindo releve um culto mais individual e introvertido, entre membros da nobreza, fruto de novas vivências religiosas que iam surgindo e que levavam a que cada vez mais estes optassem por se fazer sepultar em mosteiros ou capelas particulares que fundavam, enquanto os restantes grupos se faziam encaminhar para as igrejas paroquiais, escolhendo diferentes espaços dentro destas. Ainda assim, seria comum que os mais abastados mercadores e funcionários optassem por erigir moimentos para sua inumação, fazendo-se retratar nesses, quer através de representações da sua imagem, quer de recortes que dignificassem as suas categorias sociais enquanto vivos. No entanto, segundo Francesca Español6, terá sido entre os séculos XIII e XIV que, no espaço peninsular, surgiram uma vasta série de túmulos ornamentados com temas iconográficos que revelavam o lado profano do culto da morte, estando por norma associados a cavaleiros, indivíduos ligados à função militar, ou, sobretudo, a sarcófagos de monarcas e seus familiares. Referindo-se ao reino vizinho, mais precisamente ao espaço castellano-leonés, indica-nos que o ritual era conhecido por “quebrantamiento de escudos y arraste de banderas”, enquanto no caso dos territórios da Corona de

5

VILAR, Hermínia Vasconcelos, op. cit., p. 169.

6

ESPAÑOL, Francesca, El “Correr las Armes”. Un Aparte Caballeresco en las Exequias Medievales

Hispanas, in Anuario de Estudios Medievales (AEM), 37/1, enero-junio de 2007, pp. 867-905.

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Aragón apresentava o nome de “córrer les armes o solemnitat de descoament de cavaills”. Muito embora recorrendo a um documento de 1411, correspondente sínodo de Burgos e presidido pelo bispo Juan Cabeza de Vaca, a autora cite um parágrafo alusivo ao cortejo fúnebre em que são desferidas críticas ao mesmo, alegando-se “el malo e aborrescido uso que quando alguno muere los homes e las mugeres van por los bairros e por las plaças aullando e dando bozes espantables en las yglesias e otros lugares, tañendo bozinas e faziendo aullar los perros, e rascando las caras e mesando las crines e los cabellos de las cabeças, e quebrando escudos, e faziendo otras cosas que no convienen; e esto fazían los gentiles no creyendo la dicha rusurrecçión”...7, não deixa, todavia, de fazer alusão ao registo feito em Cortes (Valladolid – 1258; Burgos – 1379), onde também se denunciavam estes rituais profanos, que, em muito, diferiam das exéquias fúnebres praticadas pelas ordens monásticas anteriormente referidas. Não pretendendo ser demasiado descritivo quanto a todo o cortejo fúnebre, não podemos, no entanto, deixar de aludir à importância dos escudos e pendões — a que a autora, por várias vezes, faz referência — os quais acompanhavam o desfile, sendo posteriormente colocados na igreja eleita para fiel depositária do corpo do defunto, muitos deles tendo sobrevivido até ao século XIX. Em face dos exemplos que apresenta alusivos ao tema, é de relevar que o escudo é sempre representado invertido, posição que se denomina de “a la funerala”, “en señal de duelo”8 . Igual realce deve ser dado à presença das figuras femininas na iconografia tumular, que a autora sugere fazerem parte da tradição civilizacional egípcia, a que denomina de plañideras e que passam a fazer parte da tumulária medieval. Pertinente é, também, a exposição que a autora faz acerca do modo como se encontrava institucionalizado o ritual propriamente dito. Em particular, para o caso do reino de Castela, mais propriamente para Toledo, apresenta dados que remontam aos finais do século XIII-inícios do século XIV, remetendo para Sancho IV († 1295) e para D. Henrique (†1304), irmão de Fernando IV, el Emplazado, acerca do qual se assinala que “non vinieram al enterramiento si non muy pocos [vasallos] nin cortaron las colas

7

ESPAÑOL, Francesca, op. cit., pp. 868-869.

8

Consultar em anexos as imagens que Francesca Español apresenta no seu trabalho, sendo que a fonte

que utilizamos para as mesmas foi usada online por se encontrarem a cores. Ilustrações 1 a 4. http://blogdeheraldica.blogspot.pt/2011/04/sabado-imagenes_16.html, Consultado a 14/05/2015.

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á los caballos como es costumbre de los fijosdalgo de Castilla cada que pierden señor”9. Uma das fontes também considerada para o estudo deste mesmo ritual em Castela foram as contas dos Concelhos, onde se encontram registados os gastos extraordinários para exéquias do supracitado Sancho IV, bem como para cerimónias futuras, que, mesmo não estando presente o corpo, eram feitas em outras cidades do reino, recorrendo a um ataúd vacio rodeado de las insignias representativas ou a outros meios. Quanto ao reino de Aragão, quer-nos parecer que a tradição estaria mais enraizada, pois em referência ao Libre de Evast e Blanquerna (1275), de Ramón Llul, dedicado a um cavaleiro, cita-se: “Muri un cavaller en aquella çuitat, e com lo portaven soterrar a l´egleya, amava sa mulher e sos parents ab lo cors, e eren vestits de negre, e ploraven molt fortment, e fahien gran dol, tirants lurs cabells e squinçants lurs cares e lurs vestiments. En un gran cavayll guarnit cavalcava un scuder armat qui cridava, e plorava la mort de son senyor, e les armes a envers portava”10. Poder-se-ia, a propósito, referir, ainda, entre outras, a Crónica de Ramón Muntaner, dedicada a Jaime el Conquistador, datada de 1276. Não pretendendo alargarmo-nos em demasia, seja-nos permitido chamar a atenção para uma última referência, feita por Francesca Español, quando nomeia Alfonso Martinez de Oliveira (1302) e cita o seu testamento: “Item mando que lieven mis caballos cobiertos de luto con sus escudos colgando de las sillas, pintadas en ellas las mis armas, et lievenlos de mi casa fasta la iglesia delante del mío cuerpo, ansi como es costumbre en los enterramentos de los caballeros et de los altos omes en Portugal”11. Apesar de residente em Palência, este português comprova, por via desta sua manda, que, no nosso reino de Portugal, no século XIII, também se praticava o mesmo tipo de exéquias fúnebres que até aqui temos vindo a tratar. Se passarmos da letra do testamento para a representação tumular, Mário Jorge Barroca aponta como a mais antiga cena de Passamento e Lamentação, a que está representada no túmulo de D. Urraca († 1220) 12, esposa de D. Afonso II, seguindo-se depois o Cenotáfio de D. Egas Moniz de Riba Douro13, localizado no Mosteiro de Paço de Sousa. 9

ESPAÑOL, Francesca, op. cit., pp. 873-874.

10

Idem Ibidem, p. 876 ss.

11

Idem Ibidem, p. 873; pp. 882-883; p. 870.

12

BARROCA, Mário Jorge, “Cenas de passamento e de lamentação na escultura funerária medieval

portuguesa (Séc. XIII a XV)", in Revista da Faculdade de Letras - História, 2. Série, vol. XIV ("In

9

É altura de, partindo da análise do contexto histórico que acabámos de fazer, passarmos ao estudo de caso que nele se insere — o túmulo de Gomes Martins, erroneamente tido como povoador de Monsaraz, cujo túmulo se encontra atualmente na igreja matriz de Santa Maria da Lagoa (c. Reguengos de Monsaraz).

Memoriam Henrique David"), Porto, FLUP, 1997, pp. 655-684. Veja-se Ilustração 5, retirada do site: http://www.panoramio.com/photo/85412677, consultado a 14/05/2015. 13

Consultar Ilustração 6, retirada do site:

http://www.rotadoromanico.com/vPT/Monumentos/Monumentos/Paginas/MosteirodoSalvadordePacodeS ousa.aspx?galeria=Fotografias®iao=Penafiel&monumento=Mosteiro%20do%20Salvador%20de%20P a%C3%A7o%20de%20Sousa&categoria=&TabNumber=0&valor=/vPT/Monumentos/Monumentos/Pagi nas/MosteirodoSalvadordePacodeSousa.aspx&guid={39EF165C-69F8-43CC-B34F-C285D8D5357A}, consultado a 14/05/2015.

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2 – O moimento de Gomes Martins Silvestre14 O moimento de Gomes Martins será, segundo Mário Jorge Barroca, “O derradeiro monumento portador de uma Cena de Lamentação” conhecido em Portugal15. O autor refere, porém, além dos já citados (da rainha D. Urraca e de D. Egas Moniz de Riba Douro) um terceiro, de D. Guilherme de Cardona (filho de D. Raimundo de Cardona), muito embora sobre o mesmo só exista documentação escrita16. O túmulo de Gomes Martins seria, assim, o quarto mais antigo de Portugal a apresentar o tema de Passamento e Lamentação. Refira-se, a propósito, que, sendo Guilherme de Cardona vedor da Rainha D. Isabel de Aragão e aquele a quem D. Dinis doa a vila de Mourão, após ter “persuadido” Martim Silvestre, pai de Gomes Martins, a restituí-la, tendo sido por isso reembolsado das 11.000 libras que havia pago pela dita vila, é de crer que tenha havido qualquer tipo de relações sociais entre estas personagens: Martim Silvestre, Gomes Martins e D. Guilherme de Cardona conforme já foi abordado17. Partindo deste pressuposto, e sabendo-se que o túmulo da Rainha Santa Isabel foi executado por mestre Pero, para o qual Carla Varela Fernandes defende, sem grandes dúvidas, uma ligação com o reino de Aragão18, aliás, na senda de Pedro Dias19, que, além dos túmulos já conhecidos, alude à presença do artista em Évora nos anos 30/40 do século XIV, e lhe atribui a autoria do túmulo do bispo D. Pedro IV, não seria de estranhar a autoria do mestre, ou de alguém da sua escola, no túmulo de Gomes Martins. Neste pressuposto, passemos à descrição do referido túmulo. 14

As imagens utilizadas para este capítulo relativas a Gomes Martins Silvestre foram-nos gentilmente

cedidas pela Professora Doutora Joana Antunes a quem queremos desde já deixar o nosso muito obrigado. 15

BARROCA, Mário Jorge, op. cit., p. 675.

16

ESPERANÇA, Frei Manuel da – História Seráfica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na

Província de Portugal, Lisboa, António Craesbeeck de Mello, 1666, parte II, pp. 50-51. 17

DAVID, Henrique, BARROS, Amândio Jorge Morais, ANTUNES, João, “A família Cardona e as

relações entre Portugal e Aragão durante o reinado de D. Dinis” in Revista da Faculdade de Letras, História Nº 4, 1987, pp. 69-88. 18

FERNANDES, Carla Varela, “Mestre Pero y su conexión com el Arte de la Corona de Aragón. (La

Renovación en el Siglo XIV) in Boletín del Museo e Instituto «Camón Aznar», Separata, LXXXI, 2000 19

DIAS, Pedro, História da Arte em Portugal O gótico, Vol. 4, Publicações Alfa, 1986, pp. 116-124.

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O sarcófago é composto por uma arca tumular em pedra mármore branca, com tampa onde figura a estátua jacente de Gomes Martins, com baldaquino, tendo no seu centro a cabeça deitada sobre duas almofadas. O restante corpo apresenta vestes longas com um misto de rigidez e movimento, permitindo imaginar-se a imagem na posição vertical. Na sua mão esquerda segura uma espada (que parece ligeiramente desembainhada) poisada sobre o tronco, encontrando-se o punho sobre a zona do coração. O braço direito, igualmente poisado sobre o corpo, apresenta a mão aberta, aparentemente pronta a desembainhar a referida espada. Os seus pés assentam sobre um lebréu ou mastim adulto, em posição de alerta, que aparenta guardar o corpo, e que, apesar de já não ter cabeça, a ajuizar pela ligeira inclinação, ainda observável, indicia que estivesse a olhar para o jacente. Quanto à cabeça do falecido, apresenta testa grande com cabelos compridos, ainda que com as orelhas destapadas. Igualmente comprida é a barba, ligeiramente ondulada. O nariz, de narinas largas e com a cana algo achatada, não se assemelha muito a um nariz europeu. Os olhos encontram-se fechados, transmitindo serenidade, como que se dormisse. Aparenta já alguma idade, não sendo seguro, porém, se o representa quando faleceu se quando encomendou o seu leito fúnebre. E, mesmo neste caso, se se fez representar de acordo com a sua idade ou com a que esperaria realmente morrer (já velho). Relativamente à tampa, acrescente-se que contém incompleta a seguinte inscrição: AQ(u)I IAZ GOMEZ MARTII(n)Z VAS(s)ALO DELREI FILHO DE MARTIN SILVESTRE O QUAL GOMEZ MARTI(n)Z20

Quanto à arca tumular propriamente dita, só apresenta duas faces adornadas, a dos pés e a do lado direito do corpo. O facto de as restantes partes não serem adornadas poderá indicar ou que a arca ficaria encostada a algo desses lados ou, simplesmente, não teria sido concluída. Indício desta suposição é o facto de a própria inscrição da tampa também não se encontrar finalizada. A mesma dúvida se pode levantar se observarmos todo o rebordo da arca, pois, junto à cabeceira, o friso é contínuo e bastante definido, o

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BARROCA, Mário Jorge. - Epigrafia medieval portuguesa: 862-1422. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 2000. Vol. II, Tomo 2. (Textos universitários de ciências sociais e humanas), 1995, p. 1977.

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mesmo não acontecendo aos pés do lado esquerdo, ou seja, toda a iconografia que é apresentada não se encontra circunscrita pela mesma espessura do friso. Reportando-nos agora à iconografia presente na face dos pés, encontra-se figurada uma cena de caça de altanaria, apresentando um indivíduo a cavalo, com um falcão no seu braço esquerdo, estando um segundo em voo. Igualmente se podem observar dois cães, orientados para uma árvore, estando mesmo um deles com as patas sobre ela, como que a tentarem enxotar os três pássaros que nela poisam, a fim de se tornarem presas dos falcões. Por último, mas não menos interessante, temos representada, na face lateral, a cena de Lamentação propriamente dita, composta por um conjunto de oito religiosos, que somos levados a crer tratarem-se de duas Carmelitas (3 e 8), dois Franciscanos (6 e 7), dois Dominicanos (2 e 4) e possivelmente dois membros da Ordem de Avis (1 e 5), parecendo dialogar entre eles, apontando para algo ou benzendo-se21. Ao centro, observa-se uma figura mais pequena, hasteando a cruz processional no topo de uma vara, podendo, porventura, representar alguém já mais velho e como que debruçado, apoiando-se sobre aquela, e acompanhado pelo que parecem dois acólitos, ou mesmo crianças, segurando círios. Seguidos daqueles, surge um grupo de seis homens, vestidos como se fossem nobres, e entre eles arranham a cara, puxam barbas e cabelos e batem no peito. Destes, quatro apresentam barba e os dois restantes não. O que se encontra em primeiro plano ostenta o que parece ser um brasão de armas, ligeiramente inclinado para a sua esquerda, onde estão representadas três chaves dispostas em roquete. A arca tumular é suportada por três leões, dos quais os que se encontram nas extremidades se olham mutuamente, como que se estivessem afrontados. Já quanto ao que se situa no meio destes apresenta-se parcialmente partido na zona da face, o que prejudica a sua interpretação pelo seu olhar. Cremos ter ficado dito o essencial relativo à arca tumular de Gomes Martins, porém, reconheçamos que possam ter sido cometidas falhas ou mesmo exageros quanto à análise e às interpretações avançadas, não deixando de confessar que não fugimos, com isso, ao propósito com que nos propusemos realizar este trabalho. 21

SANTOS, Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva – “As Ordens Religiosas na Diocese de Évora 1165 -

1540”. Medievalista [Em linha]. Nº7, (dezembro de 2009). [Consultado 18.05.2015]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/.

ISSN

1646-740X.

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2.1 – Gomes Martins Quanto ao homem Gomes Martins, revela-se como uma enorme incógnita, visto a documentação conhecida não ajudar em muito na reconstituição da sua vida. Assim sendo, tentemos, dentro do possível, reconstruir o puzzle com as “peças” que a História nos vai permitindo conhecer. Consultando Mário Barroca22, ficamos a saber que Gomes Martins é filho de Martim Silvestre e que jaz na Igreja Paroquial de St.ª Maria do Castelo, Monsaraz, distrito de Évora. Na sua lápide regista-se que havia sido um homem bom, que terá falecido a 6 de abril de 1341, e que a capela teria sido mandada fazer por seu filho para o sepultar. Sabemos, também, que Martim Silvestre seria um homem de posses, pois havia comprado a vila de Mourão, conforme já foi mencionado23. Esmiucemos aqui, no entanto, este documento. D. Dinis (ou quem nota ou redige o documento) identifica Martim Silvestre como sendo a pessoa a quem Abril Vicente, porteiro, “…vemdera a Martim Silvestre mercador vizinho dessa villa ho lugar de Mourom que era de D. Raymon…”, ordenando que “…esse Martim Silvestre que mo leixe por tanto quanto por elle deu e se o fazer nom quiser emprazadeo que do dia que lhe esta minha carta mostrades a dous nove dias venha perante a minha corte responder…”. Igualmente podemos constatar que a capela que Gomes Martins terá mandado fazer para seu pai se situaria no interior da igreja já existente, pelo menos, em 1317 “…como quatorze dias amdados do mes de Março era de mill e trezentos (fll. 2v.) e cimquoemta e cimquo annos so o alpender da igreja de Samta Maria de Mourom…”. Sabemos também que a vila de Mourão andou em “…almoeda apregoada de cada dia daqui e em Monsaraz e em Évora passa per três nove dias e per muyto mays…”, tendo Martim Silvestre “…mercador vyzinho de Momssaraz…” oferecido “… omze milll livras…” pela dita vila, tendo-lhe sido rematada por esse valor, com todos os direitos e pertenças, espirituais e temporais, termos novos e antigos. 22

BARROCA, Mário Jorge. - Epigrafia medieval portuguesa: 862-1422. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 2000. Vol. II, Tomo 2. (Textos universitários de ciências sociais e humanas), 1995, pp. 16341636; 1977-1981. 23

DAVID, Henrique, BARROS, Amândio Jorge Morais, ANTUNES, João, op. cit., pp. 80-85.

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Martim Silvestre acederia ao “pedido” régio, de restituição da vila de Mourão, dizendo tê-lo feito “E recebemdoo por senhor que lhis quitava menagem se a aviam feita em razom de senhorio a ell ou a outrem por elle e que esto fazia por homze mil livras que recebera d’El Rey das quaes se dava por bem por bem pagado. ” Note-se que, entre as assinaturas das testemunhas do acto de venda, feita a “…quimze dias amdados de Mayo era de mil! E trezemtos e cimquoemta e cimquo annos.”, não se regista a do seu filho Gomes Martins. Pode-se assim constatar que Martim Silvestre não é referido como “homem bom” do Concelho, mas sim como vizinho. Ainda assim, a forma como Martim Silvestre responde ao monarca poderia insinuar o interesse em atingir um estatuto diferente do que tinha com todo o seu dinheiro. Já quanto a Gomes Martins, José Pires Gonçalves24, identifica-o como o “…cavaleiro Gomes Martins, comprador nesta vila da Rainha D. Beatriz, a filha de Afonso X o Sábio e mulher de D. Afonso III.” O referido autor não apresenta a fonte em que fundamenta tal afirmação, o que não nos permitiu verificá-la. Certo é que a vila foi doada em 1284 pela rainha D. Beatriz a D. Raimundo de Cardona, em troca de valiosos serviços prestados25. Perdê-la-á por dívidas, tendo andado em haste pública, vindo a ser comprada por Martim Silvestre. A este a comprava o rei D. Dinis, como já foi referido, restituindo a D. Guilherme de Cardona, filho do citado D. Raimundo. No respeitante a Gomes Martins Silvestre ser tido como possível Templário26, deixa-nos algumas dúvidas, pois a Ordem havia sido extinta em 1312, com a morte do seu último Grão-Mestre Jacques de Molay em 1314, e mais uma vez afirmamos não se saber a idade da personagem, muito embora aqueles tivessem efectivamente presença em Monsaraz e a Cruz suportada no bastão processional possa induzir a isso. No entanto, não deixamos de recordar que um dos juramentos dos Templários é a abjuração de bens materiais, o que de maneira nenhuma nos parece ter acontecido. Quanto à forma com que o seu jacente o representa, certamente encomendado por si, realmente pode induzir a que tenha tido aspirações a nobre, fazendo-se trajar como tal, com espada em mãos, revelando gostos pela falcoaria, mas as posses de seu 24

GONÇALVES, José Pires, “Monsaraz da Reconquista”, in, Anais, Academia Portuguesa de História,

Volume 25, MCMLXXIX, pp. 32-33. 25

Chancelaria de D. Afonso III, ed. VENTURA, Leontina, OLIVEIRA, António Resende de, Coimbra:

Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011, Livro I. vol. 2, doc. 744. 26

GONÇALVES, José Pires, op. cit., p.33.

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pai também lhe poderiam proporcionar tais relacionamentos e gostos, não tendo obrigatoriamente que o ser. Já quanto ao brasão que é representado na sua arca fúnebre guardaremos para ser comentado mais adiante neste estudo. Quanto à outra referência conhecida e apresentada também por Mário Barroca, relativa ao documento de 24 de fevereiro de 1332, do reinado de Afonso IV, ainda relativa ao pai do nosso estudado, menciona-se “...joham Lourenço de Monsaraz e Gomes Martinz cavaleiros seus vassalos…”, o que deixa sempre a dúvida se desde a compra de Mourão até à data da morte de Martim Silvestre se não terá dado o processo de nobilitação. Igualmente os conflitos que envolveram Afonso IV com Afonso XI de Leão e Castela entre 1336 e 1340 poderiam ter levado à participação militar de Gomes Martins e à sua ascensão, ou até a sua participação na Batalha do Salado (1340), o que lhe poderia ter-lhe valido o título de Cruzado…Enfim, são tantas as hipóteses que poderiam ser apresentadas que só mesmo futuros documentos o poderão, ou não, comprovar. Este estudo, porém, não nos permite apresentar novos desenvolvimentos para se possa, com certezas, aferir a sua ascensão a cavaleiro e quando, se é que realmente chegou a acontecer.

2.2 – A História de Turpini nos Ideais de Cavalaria Antes de nos precipitarmos diretamente para o Codex Calixtinus, ou mais propriamente para a História de Turpini, achamos conveniente observar as cantigas de “pranto fúnebre”, embora poucas sejam conhecidas, conforme o afirma José Mattoso27. Apresentavam como temáticas o lamento, a oração a Deus e o elogio do defunto, sendo os seus autores Pero da Ponte e Johan de León. Já quanto à sua raridade, pensa-se deverse quer à proibição prescrita em cortes, quer aos diferentes concílios que proibiam estas práticas consideradas pagãs. Se as mais antigas, da autoria de Pero da Ponte, datadas de 1235-1252, abrangiam nobres e monarcas, exaltando os seus feitos e qualidades, sendo direcionadas à comunidade e culpabilizando a Deus por os ter privado dos que partiam da vida tão cedo, como se Este precisasse dos seus serviços junto de Si, provocando a instabilidade no mundo dos vivos, já a de autoria de Johan de León, assume um carácter mais 27

MATTOSO, José, “O Pranto Fúnebre na Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesan” in, O Reino dos

Mortos Na Idade Média Peninsular, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1996, pp. 201-214.

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individual, manifestando o trovador a falta que o defunto D. Dinis lhe fará a si, ou à sua arte, e já não propriamente ao reino ou ao grupo em que estaria inserido28. Assim, o lirismo de Pero da Ponte, recorrendo a um género hiperbólico e adquirindo uma função catártica e exorcisatória, pretenderia como que substituir o paganismo das carpideiras por cânticos, pois, como já foi referido, destinava-se a grupos privilegiados e “civilizados”, procurando representar a emoção dos familiares que sofriam a perda, bem como acompanhar toda a linguagem corporal que temos vindo a abordar ao longo deste estudo. Já quanto à recitada para o monarca Fernando III, para além de exaltar os seus feitos, aproveita para agradecer também a bem-aventurada descendência que deixa, enaltecendo Afonso X, o mesmo que viria a ser autor das Cantigas de Santa Maria, ou mesmo das Siete Partidas, e que também criticaria os excessos cometidos nestes rituais fúnebres. No entanto, e como se vem abordando, apesar de toda a proibição existente, é de destacar que também a Igreja tinha a sua maneira de enaltecer os seus defuntos de forma eloquente. Basta referirmos o culto dos Mártires, porém, sabemos que muitos “frutos” lhe traziam tais cultos, apesar de todo o carácter didático de vida penitente dos irmãos. Um estilo pouco diferente do que temos vinda a abordar seria o inserido no Codex Calixtinus, tratando-se de um códex iluminado e datado entre 1130-1160, onde se pretendia contar a vida de Carlos Magno, o rei que defendera a Igreja das invasões muçulmanas do século VIII e que viria a ser coroado Imperador no dia 25 de dezembro de 800. Quer-nos parecer que esta mesma obra tenha influenciando para sempre os ideais de cavalaria medieval através da famosa Canção de Gesta que surgiria dedicada a Rolando e a seus pares que com ele pereceram na batalha de Roncesvalles no ano de 778, a qual consideramos de máxima importância para o trabalho a que nos propusemos como passaremos a explicar. Segundo a Canção de Rolando29, e limitando-nos às passagens que nos parecem pertinentes para este estudo, Rolando após ter sido alvo de uma cilada em que todos os que o acompanhavam iam perecendo às mãos dos mouros, “leva aos lábios o olifonte e toca em cheio, com força […] Carlos ouve, ouvem-no todos os corpos das suas tropas. […] O imperador manda tocar as tropas. […] Todos os barões do exército montam os 28

Ainda nos é citado um terceiro exemplo, o do Cancioneiro Garcia de Resende, porém, sendo relativas

ao século XV, já não será por nós abordada. 29

A Canção de Rolando (Gesta do Século XII), Versão e Ilustrada de, FONSECA, Arthur Lambert da,

Porto, Livraria Civilização, 195?

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corcéis. Não há nenhum francês que não deseje salvar Rolando, a quem todos têm amor.”30. Já mortalmente ferido, Rolando procura local para morrer “Alto é o Outeiro. O conde desmaia na subida, cai sobre a erva verde […] um sarraceno estava a espreitálo, fingindo-se de morto [...] o orgulho leva-o a fazer a loucura que lhe dará a morte. Agarra a espada de Rolando [...] Quando lha tirava, o conde voltou um pouco a si. § Rolando sente que lhe tocam na espada, abre os olhos […] com a direita dá tal golpe na cabeça do mouro que, quebrando-lhe o elmo, corta-lhe as faces e abate-o de costas.” 31. Após Carlos Magno chegar a Roncesvalles e fracassada a sua tentativa de encontrar os seus doze pares “Arranca com desespero cabelos das suas barbas […] Não há cavaleiro ou barão que de dor não chore”32. Já durante o sono Carlos Magno é visitado pelo Anjo Gabriel e ao acordar pela manhã “S. Gabriel, que de mando de Deus o guarda, levantou a mão e sobre ele fez um sinal. O rei levanta-se e depõe as armas; os cavaleiros desarmam-se. Monta o cavalo e por longos caminhos […] Carlos Magno chega a Roncesvalles. Pelos mortos que encontra põe-se a chorar. […] ouvi Rolando a dizer que, se tivesse de morrer em reino estrangeiro, que o havíamos de encontrar longe de seus companheiros, com a cabeça virada para o inimigo, para assim mostrar, o valente, que acabaria vencedor. […] vê três degraus de sardónica e neles nota os três golpes. Sobre a erva reconhece o seu sobrinho. § Quem se admira que Carlos estremeça de dor? Apeia-se e vai como um louco para ele, correndo. Estende para o seu corpo os braços, aperta-o e desmaia, tal é a sua dor.”33. Perante todo o cenário desolador a que se assistia, Godofredo de Anjou tenta consolar o Imperador desviando a suas atenções para os restantes corpos que também tinham perecido em batalha, pedindo-lhe que os mandasse enterrar ao que Carlos responde “Tocai a vossa trompa para dar essa ordem […] Há no exército bispos, muitos abades, monges, cónegos e padres tonsurados; dão-lhes, do mando de Deus, a absolvição e a bênção. Acendem mirra e incensam-nos com todo o zelo; depois enterram-nos com grande honra. § O imperador não quer separar-se de Ronaldo, de Oliveiros, nem do arcebispo Turpino. Na sua presença, manda-os abrir, recolher seus 30

A Canção de Rolando, op. cit., pp. 84-88.

31

IDEM Ibidem, pp.103-104.

32

IDEM Ibidem, p. 109.

33

IDEM Ibidem, pp. 125-126.

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corações num lençol de seda e fechá-los depois dentro duma urna de mármore branco. Pegam em seguida nos corpos dos três gentis senhores e lavam-nos com aromas e vinho; em seguida deitam-nos em peles de veado. O rei chama Tedbalt e Genoin, o conde Milon e Oton, o marquês, a quem ordena: Levai-os cuidadosamente sobre três carros. Cobriram os corpos com panos de seda de Galaza, o mais honradamente que puderam”34. Apesar desta longa exposição, necessitamos ainda de chamar à atenção para a obra propriamente dita, pois a versão mais antiga de que se tem conhecimento é a existente no arquivo da Catedral de Santiago de Compostela, data dos finais do século XI, princípios do século XII, revelando-se mais antigo do que os registos fúnebres aqui tratados. Igualmente é de salientar que a Canção de Rolando se encontra no que se pensava ser a História de Turpin, e que só recentemente se reconheceu fazer parte do Codex Calixtinus. Porém, não foram feitas por nós as devidas referências ao arcebispo por não ser esse o nosso interesse para o estudo. Quanto aos comentários exigidos ao que foi exposto guardá-los-emos para as conclusões finais deste trabalho.

2.3 – O Brasão de Armas ou o Prenúncio de Salvação Eterna Na microbiografia que gizámos de Gomes Martins Silvestre (2.1) colocámos algumas questões quando à presumível nobreza deste, suspeição que tivemos desde a primeira vez que observámos as imagens da sua arca tumular. Não é que possamos dizer que fosse uma novidade para nós observar chaves num brasão, pois estas já nos eram familiares a propósito da família Cogominho, oriunda de Chaves, que tivemos ocasião de estudar em trabalho de seminário de licenciatura. O que nos surpreendeu foi o número de chaves representadas, três no total, número que imediatamente relacionámos com a Santíssima Trindade, ou mesmo com a tiara pontifícia, o que nos levou a novas pesquisas. Igualmente curioso foi o facto de o escudo não se encontrar invertido como os exemplos citados, e apresentados em anexo, mas sim na posição que Mário Barroca denomina de “suspenso au ballon ou au wallon, pelo ângulo superior esquerdo”35.

34

IDEM Ibidem, pp. 130-131. BARROCA, Mário Jorge, “Cenas de passamento e de lamentação na escultura funerária medieval portuguesa (séc. XIII a XV) ", op. cit., p. 679. 35

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Num dicionário de símbolos36 encontrámos a seguinte referência “Nos contos e lendas, muitas vezes mencionam-se três chaves: elas introduzem sucessivamente em três recintos ou três câmaras secretas, que são outras tantas aproximações do mistério. De prata, de ouro ou de diamante, elas marcam as etapas de purificação e da iniciação. (LOEF, 98). A chave é aqui o símbolo do mistério a penetrar, do enigma a resolver, da acção difícil a empreender, em suma, das etapas que conduzem à iluminação e à descoberta.”. Neste pressuposto, perguntamo-nos: haverá maior enigma a resolver ou mistério a penetrar do que a própria morte? Não nos parece. Partindo para um campo mais específico, procurámos referências a São Pedro e às referidas três chaves, tendo-nos sido aconselhada a obra de Louis Réau37 onde, em nota de rodapé, se menciona: “Sur la mosaique du tombeau de l’empereur Otton III dans les Grottes Vaticanes, saint Pierre port exceptionnellement trois clefss”, o que abriu novas expectativas de veracidade em face da proposta arrojada que perseguíamos. Por outro lado, de acordo com a Bíblia38, pode-se verificar em Mateus 16, 19 “Eu te darei as chaves dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”, o que fez com que sempre tivesse sido interpretado como referindo duas chaves. Porém, no Livro do Apocalipse 1, 18 refere, também: “Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos; tenho as chaves da morte e da região dos mortos.”. Compreende-se que perante uma Igreja dogmática, que pretende ter o poder totalitário sobre os fiéis, fosse difícil aceitar que não fosse apenas Pedro a ter o poder sobre as almas, institucionalizando-se a ideia das duas chaves, muito embora, em lugar algum esteja escrito que são somente duas chaves. Uma pesquisa online em torno da questão de Pedro e as chaves remeteu-nos para uma oração denominada Oração das Três Chaves de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos”39. No entanto, apesar dos esforços levados a cabo mesmo junto de entidades religiosas, não nos foi possível desvendar a origem desta mesma oração, não deixando 36

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain, Dicionário dos símbolos, Teorema, Lisboa, 1994, pp.

190-191; p.149. 37

RÉAU, Louis, Iconographie de L’art Chrétien, Tomo III, Paris, Presses Universitaires de France, 1959,

p. 1083. 38

Bíblia Sagrada, Tradução dos Originais mediante a versão dos Monges de Maredsous (Bélgica), Brasil,

Editorial Missões Cucujães, 6ª Edição, 2009, p. 1722; p. 2075. 39

Consultar em anexos a Oração das Três Chaves de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos.

20

de nos parecer bastante pertinente para este estudo o conteúdo da mesma, pois a chave de ouro reporta para a vida eterna. Parece-nos agora oportuno continuar uma ideia que ficou em suspenso logo no primeiro capítulo deste estudo relativa ao cisterciense Bernardo de Claraval e ao Purgatório, quando abordámos a questão do ritual a que o moribundo estaria sujeito. Bernardo de Claraval foi um dos primeiros a interiorizar a ideia do “fogo purgatório”, porém, como uma purificação coletiva e não somente individual. Na sua teoria “Dos três infernos”, defende que, tanto antes como depois da vinda de Cristo à terra, todos os homens teriam de descer aos infernos antes de subir aos céus. Os “seus” três infernos seriam “o da condenação eterna; o da expiação a que estão sujeitas as almas que têm de se purificar depois da sua morte; e o infernum afflictionis que é a pobreza voluntária”40. Se o primeiro inferno se devia ao pecado original, por que todos teriam de passar, já o segundo seria purificador e o terceiro indulgente. Assim, se o segundo e terceiro inferno podiam ser evitados pelos comportamentos na terra, já do primeiro ninguém conseguiria escapar, tendo de ser obrigatoriamente purificado pelo fogo para que se pudesse obter a redenção do pecado original. Relativamente ao fogo, considera-o como tendo três elementos: o fumo que causa lágrimas, a luz que ilumina e o calor que abrasa. Assim, os que não seguiam a Doutrina seria por terem fumo no espírito; a luz devia ser conseguida através das palavras e arrependimento; o ardor devia ser sentido no corpo através das penitências e privações. Muito mais poderia ser dito relativo às questões da salvação do Purgatório seguindo as ideias de Bernardo de Claraval e que certamente atormentariam o imaginário dos vivos quanto à ideia da morte, porém, parece-nos suficiente o exposto, guardando a desconstrução destas ideias para as conclusões finais.

40

MATTOSO, José, “O Culto dos Mortos em Cister no Tempo de São Bernardo” in, O Reino dos Mortos

Na Idade Média Peninsular, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1996, pp. 87-107.

21

Conclusão Como foi sendo exposto ao longo de toda esta “dissertação”, um dos problemas que mais atormentavam o homem medieval pendia na morte terrestre propriamente dita bem como no que iria acontecer depois com a sua alma, receio, aliás, que continua a imperar nos nossos dias. Relativamente à morte terrestre, o homem foi encontrando formas de perpetuar a sua memória póstuma quer através de obras escritas ou realizadas, quer através dos jazigos onde se faziam sepultar, deixando patente a memória que deles pretendiam que fosse preservada. Já quanto à vida no além, dessa ficaria encarregados os homens da Igreja, a quem confiavam a sua alma, esperando obter a redenção eterna através das missas que incumbiam aqueles de rezar, por tempos diversos e consoante as suas posses o permitiam sustentar, conforme o comprovam os testamentos que deixaram. Assistiu-se assim a um crescente desejo de perpetuar a existência humana, recorrendo aos meios de que dispunham, nomeadamente por meio do talento artístico dos grandes Mestres dos seus tempos como o foi mestre Pero, entre outros. Não pretendendo afirmar que terá sido através da mão deste artista que o tema do pranto fúnebre entrou no reino de Portugal (pois o túmulo de D. Urraca já é um século anterior), por certo, sendo oriundo, como se crê, de Aragão, terá trazido algo de novo à tumulária portuguesa (aos jacentes e à representação figurada nos túmulos) — ou não se compreenderia que Isabel de Aragão, entre outros, tivesse confiado a este Mestre a execução do sepulcro. Cremos que, como indivíduo viajado, conhecedor de outras culturas e práticas, terá tido grandes responsabilidades no “transformar” da arte portuguesa, principalmente numa época em que imperava o modo gótico, pretendendose romper com um românico já descontextualizado face à conjuntura Hispânica, com a Reconquista já concluída, pelo menos no que toca ao caso nacional. Partindo do princípio que tenha sido pela sua mão ou pela sua oficina que o moimento de Gomes Martins tenha sido erigido, pelas razões que anteriormente expusemos, uma das principais razões que nos levaram a procurar qual teria sido a sua inspiração, ou a do encomendante, foi a ausência das designadas carpideiras na sua arca tumular, o que, em comparação com as restantes obras nacionais, nos pareceu uma

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inovação. Obviamente, aceitamos que a nossa inexperiência possa ter feito descurar outras obras semelhantes. Pela mesma razão, e devido à nossa tendência especial para a História Medieval, tentámos perceber quais os principais acontecimentos que poderiam ter marcado, não só a infância, mas a personalidade e a cultura do artista, mas também entender os princípios de cavalaria medieval e, em face deste ponto de partida, o que poderia ser mais nobre do que a valentia e a destreza do conde Rolando, Carlos Magno e os seus doze pares na famosíssima batalha de Roncesvalles? O reino de origem de mestre Pero era “vizinho” do reino de Navarra, onde este acontecimento tivera lugar, o que nos leva a crer que seria do seu conhecimento toda a história envolvida, e não só dele, certamente. Partindo desta premissa, e após ler a obra, encontrámos nela todos os “ingredientes” com que depois nos íamos confrontando nas descrições, quer do Córrer Les Armes, quer da cena de Passamento e Lamentação existente no túmulo de Gomes Martins Silvestre. O que mais poderia desejar um nobre do que ser chorado por um rei como o foi Carlos Magno, ou ter um cortejo fúnebre similar ao que este teve? Parecenos ser realmente o expoente máximo de elogio na morte que um homem poderia desejar ter. Contudo, certamente que a ideia do “fogo purgatório”, já então tão divulgado na época, preocupava quer a mente daqueles que haviam dedicado a sua vida a Deus, quer àqueles que tinham levado uma vida mais folgada, apreciando os prazeres terrestres que o dinheiro poderia proporcionar, como seria possivelmente o caso de Gomes Martins Silvestre, a julgar pela cena de altanaria representada no seu tumulo e por toda a fortuna que seu pai possuiria, pois observando a inscrição que consta no túmulo deste “ AQUI IAZ MARTIN SIL / VESTRE HOMEN BOON E FEZ MUYTO BEM EN ESTA / TERRA E PASSOU SEX DI / AS DABRIL Era Mª CCCª LXXIX ANOS / Go(me)Z Ma(rt)I(n)Z SEU FILHO MANDOU FAZER / ESTA CAPELA”41, sabemos que a mesma lhe foi passada. É perante este poder do imaginário sobre os receios do homem mortal, que encontramos justificativo para a representação das três chaves no que poderia ser o brasão de Gomes Martins. Simbolismo de quem desejava alcançar vida eterna, ou de

41

BARROCA, Mário Jorge. - Epigrafia medieval portuguesa: 862-1422. Lisboa: Fundação Calouste

Gulbenkian, 2000. Vol. II, Tomo 2. (Textos universitários de ciências sociais e humanas), 1995, p. 1634.

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quem pretendia dominar os segredos que abririam as portas dos três reinos, podendo finalmente “descansar” junto de Deus. Sendo portador das chaves, e profetizando-se a Oração das Três Chaves de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, Gomes Martins poderia “fechar” a sua existência na vida terrena (ferro), teria o dom da sabedoria para ultrapassar os obstáculos no reino dos mortos (prata) e procuraria o acesso à vida eterna na Jerusalém Celeste (ouro). Chegaria a sua vez de descansar da sua vida de aventuras através do sono eterno, qual Rolando, esperando ter cumprido o seu dever na terra para com os seus. Foi seguindo estas premissas, que atribuí-mos o cariz popular às representações iconográficas patentes no túmulo de Gomes Martins, porém, ressalvamos que possa existir mais documentação que comprove o seu estatuto social ou mesmo que nos dê a conhecer as funções por si desempenhadas, o que, em qualquer dos casos, não invalida o simbolismo que atribuímos ao seu suposto escudo. Ainda assim, esperamos com este estudo ter apresentado uma perspetiva diferente de abordar a temática sobre a morte na época medieva, com especial incidência no século XIV, o qual ficou conhecido pela designada trilogia da fome, peste e guerra, sendo a presença da morte uma constante e que a todos, provavelmente, preocuparia.

24

Bibliografia Fontes: A Canção de Rolando (Gesta do Século XII), Versão e Ilustrada de, FONSECA, Arthur Lambert da, Porto, Livraria Civilização, 195?. Bíblia Sagrada, Tradução dos Originais mediante a versão dos Monges de Maredsous (Bélgica), Brasil, Editorial Missões Cucujães, 6ª Edição, 2009. Chancelaria de D. Afonso III, ed. VENTURA, Leontina, OLIVEIRA, António Resende de, Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2011.

Estudos: BARROCA, Mário Jorge, “Cenas de passamento e de lamentação na escultura funerária medieval portuguesa (Séc. XIII a XV) ", in Revista da Faculdade de Letras - História, 2. Série, vol. XIV ("In Memoriam Henrique David"), Porto, FLUP, 1997. BARROCA, Mário Jorge. - Epigrafia medieval portuguesa: 862-1422. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000. Vol. II, Tomo 2. (Textos universitários de ciências sociais e humanas), 1995. CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain, Dicionário dos símbolos, Teorema, Lisboa, 1994. DAVID, Henrique, BARROS, Amândio Jorge Morais, ANTUNES, João,” A família Cardona e as relações entre Portugal e Aragão durante o reinado de D. Dinis” in Revista da Faculdade de Letras, História Nº 4, 1987. DIAS, Pedro, História da Arte em Portugal, O gótico, Vol. 4, Publicações Alfa, 1986. ESPAÑOL, Francesca, El “Correr Las Armes”. Un Aparte Caballeresco En Las Exequias Medievales Hispanas, in Anuario de Estudios Medievales (AEM), 37/1, enero-junio de 2007 FERNANDES, Carla Varela, “Mestre Pero y su conexión com el Arte de la Corona de Aragón. (La Renovación en el Siglo XIV) in Boletín del Museo e Instituto «Camón Aznar», Separata, LXXXI, 2000. GONÇALVES, José Pires, “Monsaraz da Reconquista”, in Anais, Academia Portuguesa de História, Volume 25, MCMLXXIX. 25

MATTOSO, José (Dir.), O Reino dos Mortos Na Idade Média Peninsular, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1996. PANOFSKY, Erwin, Estudos de iconologia: temas humanísticos na arte do Renascimento, Estampa, Lisboa, 1995. RÉAU, Louis, Iconographie de L’art Chrétien, Tomo III, Paris, Presses Universitaires de France, 1959. VILAR, Hermínia Vasconcelos, “Rituais da Morte em Testamentos dos Séculos XIV e XV (Coimbra e Santarém), in, MATTOSO, José (Dir.), O Reino dos Mortos Na Idade Média Peninsular, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1996.

Online:

Ilustração 5, Disponível em http://www.panoramio.com/photo/85412677. Consultado a 14.05.2015. Ilustração 6, Disponível em http://www.rotadoromanico.com/vPT/Monumentos/Monumentos/Paginas/Moste irodoSalvadordePacodeSousa.aspx?galeria=Fotografias®iao=Penafiel&monu mento=Mosteiro%20do%20Salvador%20de%20Pa%C3%A7o%20de%20Sousa &categoria=&TabNumber=0&valor=/vPT/Monumentos/Monumentos/Paginas/ MosteirodoSalvadordePacodeSousa.aspx&guid={39EF165C-69F8-43CC-B34FC285D8D5357A}.Consultado a 14.05.2015. Ilustrações 1 a 4: Disponível em http://blogdeheraldica.blogspot.pt/2011/04/sabadoimagenes_16.html, Consultado a 14.05.2015. Oração das Três Chaves de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos. Disponível em: http://www.catolicismoromano.com.br/content/view/1637/30/.

Consultado

a,

17.05.2015. SANTOS, Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva – “As Ordens Religiosas na Diocese de Évora 1165 - 1540”. Medievalista [Em linha]. Nº7, (dezembro de 2009). [Consultado

18.05.2015].

Disponível

em

http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/. ISSN 1646-740X. SILVA, José Custódio Vieira da – “Memória e Imagem. Reflexões sobre Escultura Tumular Portuguesa (Séculos XIII e XIV)”, in Revista de História da Arte, 1, Lisboa, Instituto de História da Arte-Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 26

2005, pp. 47-81. Disponível em http://hdl.handle.net/10362/12429. Consultado em 17.05.2015.

Coimbra, 28 Junho 2015 Paulo Bruno Reis

____________________________

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Anexos

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Ilustração 1 - Sepulcro de los Queralt en Santa Coloma (Tarragona). Relieve situado a los pies del sarcrófago, obra de Pere Aguilar.

Ilustração 2 - Sepulcro del infante Felipe († 1274) en Villalcázar de Sirga. Relieve situado a los pies del sacrófago.

29

Ilustração 3 - Sepulcro de la familia Boil. Convento de Santo Domingo de Valencia, Sala Capitular (s. XIV). Atribuido a Bartolomeu de Robio.

Ilustração 4 - Relieve procedente del sepulcro de Fernando de Antequera († 1416) en Pploblet, obra de Pere Oller.

30

Ilustração 5 - Túmulo séc. XIII de D. Urraca, mulher de D. Afonso II. Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça: Sala dos Túmulos.

Ilustração 6 - Túmulo séc. XIII de D. Egas Moniz de Riba Douro no Mosteiro de Paço de Sousa.

31

Túmulo de Gomes Martins Silvestre – fotos cedidas por: Professora Doutora Joana Antunes

32

Pormenor da estátua jacente.

Pormenor da cena de caça de altanaria.

33

Pormenor do conjunto de religiosos.

Pormenor de religioso e acólitos transportando círios.

Pormenor de cena de lamentação com homens arranhando a cara, puxando cabelo e barbas, batendo no peito e gritando.

34

Pormenor do escudo com três chaves.

Lateral do túmulo com cena de lamentação.

35

Oração das Três Chaves de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, Vosso nome era Simão, que Jesus Cristo mudou para Pedro, a fim de serdes a pedra sobre a qual o Senhor iria construir o templo da Fé. Mudando Vosso nome, o Senhor vos entregou as três chaves do segredos e dos poderes, no céu e na terra, dizendo-vos: O que desligares da terra, será desligado nos Céus. São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, a primeira chave é de ferro abre e fecha as portas da existência terena. A segunda chave é de prata, abre e fecha as portas da sabedoria. A terceira chave é de ouro abre e fecha as portas da vida eterna. Com a primeira, abris a entrada para a felicidade na terra; com a segunda, abris a entrada para o pórtico da ciência espiritual; com a terceira, abris o Paraíso.

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Fechai, glorioso Apóstolo mártir, para mim, os caminhos do mal e abri os do bem. Desligai-me na terra para que eu esteja desligado nos Céus. Com a vossa chave de ferro, abri as portas que se fecharem diante de mim. Com a vossa chave de prata, iluminai meu espírito, para que eu veja o bem e me afaste do mal. Com a vossa chave de ouro, descerrei as entradas da corte celestial, quando o Senhor for servido chamar-me. O que desligares na terra será desligado nos Céus, o que ligares na terra será ligado nos Céus. Glorioso São Pedro, vós que sabeis de todos os segredos dos Céus e da Terra, ouvi meu apelo e atendei a prece que vos dirijo. Assim Seja!

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