O TURISMO INTERCONECTADO E TELEGUIADO DO SÉCULO XXI E DUAS IMPRESSÕES DE VIAGEM

May 27, 2017 | Autor: Katya Braghini | Categoria: Turismo, Aplicativos Para Dispositivos Móveis
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O TURISMO INTERCONECTADO E TELEGUIADO DO SÉCULO XXI E DUAS IMPRESSÕES DE VIAGEM Por Katya Braghini Espectro Mídia, 14 de novembro, 2016 Certa vez li a pensadora argentina Beatriz Sarlo afirmando que as ideias de flânerie e flâneur passaram a ser usadas como sinônimos de praticamente qualquer movimento que tenha lugar em espaços públicos, o que está incorreto. A crítica da autora recai sobre a profusão dos estudos culturais e da “moda Walter Benjamin” presente na Academia que resultou numa “erosão teórica” dos temas benjaminianos, de modo que, a flâneurie passou a ser usada em cidades onde seria impossível a existência de um flâneur. Diz-se flâneur como aquele sujeito dotado de uma refinada sagacidade de ver o que está diante dele e olhar, fixar-se nos detalhes que contam sobre diferentes tempos e ações históricas, registrados nas pessoas, objetos, edificações, paisagens. Beatriz Sarlo vê o termo flâneur moribundo pelo seu mau uso. Mas, talvez ela esteja nos mostrando o enfraquecimento da ideia

diante do desaparecimento do

sentimento ligado a ela. Na multidão haveria uma solidão conveniente para a fruição do olhar, um prazer resultante das sensações provenientes de uma contemplação educada, nutrida pelo exame minucioso das diversas camadas temporais presentes na materialidade.

Aos

poucos,

a

ação

de

passear

pela

cidade,

nem

tanto

despretensiosamente, mas com um olhar de indagação, foi morrendo. O ritmo acelerado das sociedades tecnocratas, em paralelo à própria marginalização do ócio, diretamente entendido como “falta de compromisso”, procura matar a ideia do vagar agradável que sugere reflexão. A possibilidade de percepção do processo de vida e morte do passado e de visualização de projeções do futuro na realidade urbana do presente, não combina com a aceleração do modo de vida dos observadores. Se parece difícil experienciar a cidade, ao mesmo tempo de forma minuciosa e lúdica, mesmo que sejamos um de seus habitantes, parece mais complicado ainda ser um observador perspicaz sendo turista. O turista, sujeito que se desloca de seu local de residência com fins de lazer e obtenção de conhecimento, tem seu surgimento histórico bastante aproximado à vivência da cidade, urbanizada e industrial de onde surge o

flâneur. Primeiro, porque a prática do turismo é ela mesma fruto do desenvolvimento industrial e da secularização da educação que vê o conhecimento relacionado às coisas do mundo. O turismo é tanto ação relacionada às novas divisões do tempo, do trabalho, do lazer, quanto, item distintivo de uma educação que vê interesse por outras culturas. Ação que a curiosidade; é razão prática dada pela convivência com outros povos, indo além dos conhecimentos literários; item especial do curriculum vitae. Em tese, o turista é membro presente e atuante na organização da sensibilidade sobre a cidade, podendo ser ele mesmo um solitário pensador na multidão, e também ser o objeto espelhado na mirada de outro observador. Como indivíduo exótico, ele se ocuparia desse mesmo trabalho, o de ver e sentir aquilo que não faz parte dele mesmo, de modo a aprender algo. Desse contato também resulta, o estranhamento, o choque, o medo. Não cabe aqui cair nas diferenciações feitas entre ser um “viajante” e ser um “turista”, como se o viajante fosse um sujeito diferenciado, mais inteligente, mais apreciador do mundo, cabendo ao turista à depreciação de ser um comodista, fugaz. A ideia mesma do texto, parte do princípio que o turista é também um viajante e que tratamos de narrar uma história da atividade turística em si. No momento atual, a ideia de turismo associada a uma busca por conhecimento parece existir, em tese, como uma proposição a ser discutida. Talvez, o que tenha mudado é a noção de conhecimento que se ganha por meio do turismo. Hoje, o turismo está envolto e guiado por interesses diversos que o deslocou da fruição e da apreciação da materialidade local. Turismo hoje tem muito a ver com a exibição virtual do espaço visitado em tempo real. Isso significa o cumprimento de etapas de viagem para exibi-las às pessoas que lá não estão presentes. Foi o que experimentei neste último verão europeu. Fazer turismo nos dias atuais, também significa fazer marcação da sua presença em locais turísticos previamente estipulados por listas-guias, apontados como “obrigações de viagem”. Melhor dizendo, marcar presença em locais que, certamente possuem um valor cultural, regional ou universal, mas que também ganharam a posição de locais imprescindíveis para que pessoas assinalem sua posição por um “click” que é feito em ferramentas virtuais. Vistos assim, os locais turísticos parecem gerar um capital simbólico nas interrelações compartilhadas na internet, principalmente, pelas redes sociais. A questão é muito mais estar no lugar, um ponto limitado por coordenadas geográficas, para registrar aquele momento com a sua presença, do que apreender saberes do local ou, mais alegremente, para apreciá-lo.

Estive na Espanha por duas semanas visitando o país com minha família. Dentre as cidades visitadas estavam a conhecida e quase obrigatória Barcelona, e outra, uma tanto desconhecida de nós brasileiros, chamada Talavera de la Reina. Essas duas cidades me deram oportunidade de experienciar duas formas de fazer turismo. Uma voltada à cidade cosmopolita, reconhecidamente turística, coberta de expectativas e de ações pré-guiadas por uma série de dispositivos disponíveis na web (guia, mapas, aplicativos, Google maps etc.). Outra, pensando naquele conhecimento tranquilo e de passagem. No primeiro caso, a experiência de viagem se deu com a utilização de tecnologias inventadas para “facilitar a vida do turista” sendo ela uma viagem prémoldada. Já em relação à cidade provinciana, não houve muito expectativa. Ela não gerou, exatamente, um interesse turístico e só foi conhecida casualmente. A ideia era pernoitar. Interesse turístico pré-moldado diz respeito à viagem programada por meio do levantamento de pontos de interesse locais apontados por diferentes guias turísticos. Somam-se à categoria as possibilidades de acesso aos locais, controlados por dispositivos eletrônicos de livre acesso pelo computador ou por meio de smartphones. Existem centenas de aplicativos de turismo para celulares. Há dispositivos para controle e acompanhamento de vôos (Flyradar, Skyscanner); para acesso ao idioma local (Nemo Inglês, Google Tradutor); de roteiros (Tripadvisor, TouristEye, National Geographic Traveler Magazine, City walks, TripGenius); transporte (MetrO, Urbe); planejamento (We map zero, The world clock); para fotos (Panoramica, Pic Collage); bagagem e kit de sobrevivência (Viagem compass, Stow); de previsão do tempo (Climatempo, Androidtempo); gastronomia (EatOut, Evernotefood); para encontrar wi-fi livre (Hotspot) etc.. Há aplicativos como o Live Trekker que permite visualizar o caminho feito pela cidade após o passeio, para depois, visualizar o trajeto percorrido. Barcelona é uma cidade de sonhos para os turistas. É uma cidade grande, bonita, tem praia, parques, patrimônios históricos, culturais, arquitetônicos, bairros pitorescos etc. Levando em conta um roteiro pré-moldado e seguindo as dicas de turismo temos possibilidades de visitação para dois dias, três, quatro, que podem ser guiadas, principalmente, pelo Google Maps. Essa ferramenta possui navegação simples sintonizada aos satélites, com roteiros descritos passo a passo, com duas conduções operacionais facultativas, uma dada por voz, outra pelo visor. Possui a condição off-line que permite o acompanhamento do percurso sem a necessidade de internet. Somado ao

Google Tradutor é possível saber o que está escrito nos cardápios, nas placas, basta apontar a câmera que o visor da tela faz a leitura da língua. Nas listas de pontos turísticos “obrigatórios” vemos as obras de Antoni Gaudí (Sagrada Família, parque Güell, La Pedrera, Casa Batló); andar pelo Passeo de La Gracia, Las Ramblas; ir ao bairro Gótico e conhecer o Museu Picasso; conhecer Montjuic, andar de teleférico, visitar a Fundação Miró, ir ao Museu Nacional; atravessar a cidade e conhecer a Plaza de España; comer tapas e beber cañas na praia de Barceloneta; conhecer Camp Nou; aproveitar da noite sempre “fantástica”, de “tirar o fôlego”. Pergunta-se: Passado o check-list, tiradas as fotos e selfies devidamente registradas no Facebook, já se pode dizer que Barcelona foi conhecida? Ou não? Tirar fotos e selfies de locais turísticos famosos é a forma mais grandiloquente da atual forma do turismo? Talvez a foto tenha se tornado mais importante do que a relação pessoal com o cenário. Locais de visitação registrados em guias turísticos, livretos e aplicativos nos contam algo e pedem a replicação às outras pessoas, somando valor simbólico ao local. São reproduzidas as mesmas histórias sobre um determinado ambiente, fato histórico, representações sobre pessoas e artes, construções, paisagens etc.. Dar importância simbólica aos locais por descrições em guias turísticos já era uma prática no século XIX. Os guias de turismo buscam o estabelecimento de uma relação, uma construção subjetiva, entre o visitante e os registros locais. À medida que o tempo passa, mudanças históricas geram modificações das imagens turísticas de uma cidade ou local; alteram a percepção dos habitantes em relação aos visitantes e da própria cidade na sua condição de turística. Em Barcelona, essa convivência se refletiu em um adesivo de carro que decretava: “O turismo mata a cidade!”, por exemplo. Foto: Cidade de Barcelona – Adesivo de moto

Os guias se ajustam e fomentam novas representações sobre o turismo e são documento marcante dessa relação. E os aplicativos estão modificando a relação entre o turista e o espaço anunciando. O que há de mais conhecido e óbvio dos locais apontados, torna-se material de replicação de forma simultânea, imediata, densa. Temos em mãos um maciço de evidências que satisfazem os olhares de quem chega ali ao vivo. Atualmente, o turismo é um grande mercado global. Não se pode esquecer as múltiplas conexões entre os diversos aparelhos coligados para o seu funcionamento: companhias aéreas, viárias, centrais de turismo, agentes variados, locações, hotelaria, planejamento urbano, aluguéis temporários voltado à atividade etc.. Não se trata exatamente de uma ação romântica. Além disso, a ideia de turismo se fragmentou, aconteceu a customização dos gostos dados na relação entre consumidores e mercado turístico: turismo gastronômico, turismo ecológico, turismo enológico, turismo para compras, turismo cultural etc. No caso da Espanha, o Instituto Nacional de Estatísticas anunciou que 68,1 milhões de pessoas viajaram para lá em 2015. É um recorde histórico. O país perde em número de viajantes apenas para a França e Estados Unidos. Em 2013, a Cataluña, Canárias e Baleares concentraram 60% de todos os turistas. E Barcelona é a cidade mais visitada. O Ministério do Turismo daquele país, entre 2013-2015, trabalha com o Plano Nacional Integral de Turismo (PNIT), alicerçado em seis eixos inter-relacionados: confiança na “marca España”; orientação “ao cliente”; planos descritivos e claros de ofertas e destinos; alinhamento público-privado; estímulo ao conhecimento, ao talento, ao empreendedorismo tendo sido aplicado em três zonas de concentração: patrimônio

cultural, ambiental e enogastronômico. O plano visa o aumento do turismo e fluxo de capitais na área de serviços, estimulando empregos, melhora competitiva das empresas envolvidas, desenho de políticas para a geração de riquezas, estabelecimento de créditos para destinos “inovadores” etc. Em resumo, levando em conta o caráter semântico do plano, completamente empresarial, o turismo teleguiado on-line está nos planos de distribuição e gerenciamento de pessoas pelo país. O checklist administrado por tecnologias de localização criou uma nova forma de turismo. As marcações, por fotos ou checkpoint em mapas digitais e o números de likes (curtidas) pré-lançados por turistas precedentes são usados como dados para a organização de novas estruturas e representações sobre o turismo. Estando ele planificado desta forma, não é diferente do que é feito com qualquer outro produto, marca, magazine, logotipo.

Locais turísticos atraem mais

pessoas e consequentemente mais likes com pequenos presentes, mimos, wi-fi gratuita e até produtos grátis para que o lugar seja indicado no mapeamento. As ferramentas de localização, indicação e guias facilitam o deslocamento na cidade, controlando o tempo disponível para tanto. O que está em jogo é exatamente o tempo, e não a relação com a cidade. Por isso, o turista acaba imbuído pela necessidade de ser ágil, querendo marcar presença na maior quantidade de pontos turísticos possíveis... Toda essa tecnologia acaba nos desobrigando de pedir informações, de sermos acolhidos ou ignorados pelos habitantes, de sentir medo por uma interação mal feita, mal interpretada, de nos equivocarmos com as direções, e estando errados, ir para outro local, nos perder. Há ainda a tristeza de se ver emaranhado numa espécie de armadilha perceptiva que é a passiva espectativa diante de algum lugar icônico. Um exemplo disso em Barcelona é a famosa Casa Batló. Há sempre um grupo de pessoas aglomerada diante dessa casa. Algumas delas pagam para entrar e conhecê-la. Outras ficam na porta olhando para cima. Não sabemos se observam os detalhes, menos ainda se há algo realmente sendo apreciado. E observando a massa compacta de turistas diante dela, vêse claramente que as demais casas são ignoradas. As casas Amatler, Lleó-Morera, Batló formam o trio das casas no “quarteirão da discórdia” em Barcelona, construções representativas de arquitetos tidos como rivais, Josep Puig i Cadalfalch, Lluís Domenech i Montaner e Antoni Gaudí, respectivamente. Talvez fosse possível que intuitivamente pudéssemos ler esse conjunto arquitetônico pelas contradições, semelhanças e desenhos de suas

linhas estéticas. Mas, a

possibilidade de conhecer outras situações ligadas à própria Casa Batló ficam desfocadas, bloqueadas, quando o foco do turismo é jogado demasiadamente sobre Gaudí. Defronte a esta casa existe uma grande multidão todos os dias, enquanto as outras construções ficam um tanto esquecidas, no aguardo de vistas mais atentas. A matéria para a decifração já está ali diante dos olhos, mas dessa evidência, sobrou o ponto cego. Não se trata de pedir ao turista conhecimento erudito sobre o local, nem de condená-lo por desprezar o que está fora dos guias, até porque, pode-se fazer uma pesquisa antes ou depois do passeio. Eu mesmo fiz isso e usei a internet para tanto. O problema diz respeito ao bloqueio posto à apreciação, já que o tempo curto não consente maiores questionamentos. Ao que parece a fachada daquela casa é o único elemento esperado do passeio. Outro exemplo do controle que as mídias eletrônicas permitem fazer acontece no Parque Güell. A prefeitura de Barcelona cobra a visitação da área monumental, onde ficam as principais obras de Gaudí, ao preço de €7,00 para adultos, limitando a entrada ao máximo de 400 pessoas por dia. Isso a pretexto de mantê-lo preservado como Patrimônio Mundial da Humanidade e “melhorar a visitação”. Esse anúncio não apaga o fato de que todos os principais monumentos da cidade também fracionaram as possibilidades de visitação em valores diferenciados, visando maior arrecadação. Nem que o resultado geral dessa ideia foi criar uma espécie de apartheid turístico, já que nem todos conhecerão as obras de Gaudí que, em princípio, elas ficavam em um parque anteriormente chamado de “público”. E mais, sugiro que essa separação de públicos não se deu por conta da preservação da arte do gênio, mas porque se sabe a quantidade de likes gerados naquele local e que, portanto, seria possível cobrar a mais pelo desfrute do momento. A sorte de todos os viajantes é que qualquer viagem tem seus acasos. Passei por Talavera de la Reina, cidade da província de Toledo, a 140km de Madrid. Não havia um programa definido, nada de Google maps, nenhum aplicativo teve função na cidade. Passeando pelos Jardines Del Prado vemos construções, bustos, azulejos... A presença desses artefatos parece ostentar um orgulho coletivo, a marca histórica de uma cidade. Na entrada Basílica Nustra Señora Del Prado há azulejos que contam passagens dos Evangelhos. Existem dois detalhes interessantes nessa obra: os soldados que flagelam Cristo se vestem como soldados de Filipe II, rei Espanhol do século XVI; o

diabo que tenta Jesus está vestido como um jesuíta. Fiquei sabendo que Talavera produz cerâmica. Mas não é qualquer cerâmica. É um conjunto de estilos “talaveranos”. A prática tem cinco séculos. Primeiramente produzida por mouros. Foi citada por Cervantes. Com os anos as alegorias do Alcorão foram sendo adaptadas para motivos cristãos, flores, jardins, brazões etc. São tantas, tão belas, que são classificadas por séries pelos especialistas. Sim, as cerâmicas são um orgulho da cidade. Para quem passa rápido são “apenas” azulejos”. Será que os jovens de lá continuam a arte dessa bela tradição? Não sei. Depois, no mesmo jardim, há uma Plaza de Toros, apelidada de “La Caprichosa”. Entre às árvores o busto de um toureiro. Na Plaza Caprichosa, morreu Joselito Ortega "El Gallo" em 1920. Matador lendário foi morto pelo touro Bailador (Bailaor). Toreou na cidade a pedido do pai que esteve na reinauguração da plaza. O touro tinha nobre estirpe, era cego de um olho, e segundo os comentaristas "arrancou de improviso" e o toureiro, num descuido, foi atingido de morte. Joselito morreu, virou lenda, ganhou busto. Bailador tem memorial na Plaza Monumental de Barcelona, porque "deu cabo", no matador. E desse caso sabemos que na Espanha, um touro é cultuado e o toureiro morto vira lenda. Por que o gosto daquele povo em ver sangue e honra na areia? Não sei. A lição que tiro dessas duas experiências de viagem: No mundo atual, nos termos benjaminianos, buscar o sentimento da flânerie é uma nostalgia. Morreu no tempo essa sensibilidade. Aplicativos e mapas são bons administradores de tempo, e com eles surge outra forma de turismo, aquele que não quer “perder tempo”. Conhecer é sinônimo de estar presente para criar marcações que reorganizam os planos turísticos, mas que serão perdidas na timeline dos aparelhos: Periscope, Instagram, Facebook, Snapchat. E as viagens? Sem querer ou com propósito, se perder na cidade deveria fazer parte do passeio. Ao que parece, um turismo teleguiado não permite amadorismo, é profissionalizado. No meu entender, as viagens são melhores pelas perguntas que suscitam, pelas dúvidas que deixam, pelos perdidos que ganhamos, por um sabor que ficou no paladar e até hoje tento decifrar qual foi a combinação dos temperos.

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