O Universo ao Lado - J. W. Sire.pdf.pdf

May 22, 2017 | Autor: Antenor Ferreira | Categoria: Cosmovisão Cristã, Cosmovisão Reformada
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N.Cham. B823.3 S6l9u4. ed./2009 Autor: Sire, James W. Título: O universo ao lado : um catálo

582944 Pv 1 fPIV/l I I P M . F Ç T

Sumário

PREFÁCIO À 4 EDIÇÃO

5

a

1. TO D A A DIFERENÇA DO MUNDO: introdução

11

2. U M UNIVERSO PERMEADO DA GRANDEZA DE O I I S:

3. A

teísmo cristão

PRECISÃO DO UNIVERSO:

4. O SILÊNCIO 5. MARCO 6. ALÉM

deísmo

DO ESPAÇO FINITO:

ZERO:

naturalismo

niilismo

DO NIILISMO:

23 55 73 109

existencialismo

141

7. JORNADA RUMO AO ORIENTE:

Monismo panteísta oriental 8. U M UNIVERSO

SEPARADO:

9. O HORIZONTE

DESVANECIDO:

10.

A VIDA EXAMINADA:

179

a Nova Era pós-modernismo

conclusão

207 263 301

NOTAS

315

ÍNDEX

373

Prefácio

à

4

a

edição

M

desde a publicação da primeira edição deste livro, em 1976. Nesse ínterim, inúmeros acontecimentos ocorreram, seja no desenvolvimento das cosmovisões no Ocidente, seja na maneira como eu e muitos outros passamos a compreender a noção de cosmovisão. UITO S ANOS SE PASSARAM

Em 1976, a cosmovisão da Nova Era estava apenas se formando e nem nome tinha ainda. Eu a chamei de "a nova consciência". Ao mesmo tempo, o termo pós-moderno estava restrito apenas aos círculos académicos e ainda necessitava de ser reconhecido como uma mudança intelectual significante. Agora, no século X X I , a Nova Era já completou mais de trinta anos, sendo adolescente apenas no caráter, não em anos. Enquanto isso, o pós-modernismo tem penetrado em cada área da vida intelectual, o suficiente para despertar, pelo menos, uma modesta reação. O pluralismo e o relativismo que o acompanham têm emudecido a distinta voz de todos os pontos de vista. Embora a terceira edição desta obra tenha

O u n ive r s o ao lad o

observado isso, há mais hoje sobre as histórias tanto da Nova Era quanto do pós-modernismo. Portanto, eu atualizei o capítulo sobre a Nova Era e revisei, de maneira substancial, o capítulo sobre o pós-modernismo. Igualmente, atualizei as notas de rodapé ao longo do livro, mencionando publicações recentes que podem ser frutíferas para os que, porventura, estejam realizando uma pesquisa sobre cosmovisões ou assuntos de caráter específico. Hoje em dia, há uma importante cosmovisão afetando 0 Ocidente que não foi abordada em nenhumas das edições anteriores, incluindo-se esta. Desde 11 de setembro de 2001, o Islã tornou-se o principal fator da vida não apenas no Oriente Médio, África e Ásia, mas também na Europa e América do Norte. A cosmovisão islâmica (ou talvez, cosmovisões), exerce sua influência sobre as vidas das pessoas em todo o mundo. Além disso, o termo cosmovisão aparece comumente nos jornais, quando jornalistas tentam compuvnder e explicar o que está incentivando os chocantes eventos dos últimos anos. Infelizmente, não estou preparado no presente para abordar a cosmovisão islâmica da maneira que ela merece. Como tenho dito aos meus amigos coreanos que têm me questionado porque não discuti as cosmovisões dl onfúcio e a xamanista, isso deve ser feito por aqueles • 111eus ap en as est u d a n d o o m u n d o ao n osso r ed or . Es s a é i r efer ên cia d o d eísm o ao e m p i r i s m o . A p r e n d e m o s a p a r t ir di d .id os e p r o sseg u im o s d o esp ecífico p a r a o g er a l, n a d a u n s é r ev elad o à p a r t e d o q u e e xp e r im e n t a m o s . A s s i m Pop e I l • 111 in u a : Ele que através d a vasta imensidão pode penetrar, Ver m u nd o sobre m u nd os com p ond o u m u niverso, ( Mxservar com o sistemas d entro de sistemas interagem , Q u e outros planetas orbitam outros sóis, Qu ão diferentes seres habitam as estrelas, Pode d izer por que os céus nos fizeram com o somos. Mas dessa estru tu ra de sustentações e liam es, fortes conexões, belas d epend ências, Apenas u m p ou co d o tod o tem a sua alm a perscrutad ora Vislu m brad o? O u p od e u m a p arte conter o tod o? " 1

A q u i Pop e p r e s u m e u m co n h e cim e n t o d e D e u s e d a n a i II reza q u e n ã o é ca p az d e ser o b t id o p o r m e io d a exp er iên cia . I le a té m e s m o a d m it e isso, q u a n d o d esa fia a n ó s , leit or es, M le a lm e n t e tem os "in v e s t ig a d o " o u n iv e r s o e v is t o o seu m e c a n i s m o . P o r ém , se n ã o o t em o s v is t o , e n t ã o , p r e s u m iv e lm en t e, t a m p o u co ele o v i u . C o m o , e n t ã o , Pop e o r eco n h ece I o r n o u m im e n s o e b e m -o r d e n a d o r elógio? N ã o é p ossív el t r ilh a r d o is ca m in h o s . O u (1) t o d o o < o n h e cim e n t o é p r o v e n ie n t e d a exp er iên cia e n ó s , sen d o

65

O u n i v e r s o ao la d o

finitos,

n ã o p o d e m o s co n h ecer o s is t e m a co m o u m t o d o ,

o u (2) o co n h e cim e n t o é p r o v e n ie n t e d e o u t r a fo n t e - p o r e xe m p lo , d e id eia s in a t a s co n ceb id a s e m n osso in t e r io r o u a p a r t ir d e u m a r ev elação d o ext et io t . N o e n t a n t o , P o p e, co m o a m a i o r i a d os d eísta s, d esco n sid er a a r ev ela çã o. E , p elo m e n o s n esse "e n s a io ", ele ja m a is a fi r m a o u su gere a p o s s ib ilid a d e d e id eia s in a t a s. A s s i m v e m o s q u e h á u m a t en sã o n a e p is t e m o lo g ia d e P o p e. P r e cis a m e n t e, fo r a m tais ten sões q u e p a t e n t e a r a m a in s t a b ilid a d e d o d e ís m o co m o co sm o v isã o . 5. A ét ica é rest rit a à rev elação geral; pelo fat o de o univ erso ser normal, ele rev ela o que é cert o. U m a o u t r a im p lica çã o d e se v e r a D e u s ap en as e m u m m u n d o n a t u t a l, n o r m a l e n ã o d e ca íd o , é q u e D e u s , sen d o o C r i a d o r o n ip o t e n t e , t o r n a -se r esp on sáv el p o r tod as as coisas co m o elas são. Es t e m u n d o , e n t ã o , d ev e r eflet ir o u o q u e D e u s d eseja o u co m o ele é. Isso lev a e t ica m e n t e à p osiçã o exp r essa p o r P o p e: Tod a a n atu r eza não passa de arte d esconhecid a a t i; Tod o acaso, d ireção que tu não podes ver; Tod a d iscórd ia, h arm on ia não com p reend id a; Tod o m al p arcial, bem u niversal; E , apesar d o orgu lho e dos erros d a razão, U m a verdade é clara: SEJA O Q U E F O R , É C E R T O .

11

Es s a p o siçã o , n a r ea lid a d e, t e r m i n a p o r d e s t r u ir a ét ica . Se t u d o o q u e for , é cer t o , e n t ã o n ã o existe m a l . N ã o h á d ist in çã o en t t e o b e m e o m a l . C o m o C h a r l e s Ba u d e la ir e a fi r m o u : "Se D e u s exist e, ele d ev e ser o d ia b o ". O u , p io r

• 66 •

A precisão

do

univ erso

l i n d a , n ã o d ev e h a v e r bem a l g u m . Pois s e m a ca p a cid a d e d e d is t in g u ir en t r e o b e m e o m a l , n ã o p od e h a v er n e m u m n e m OUtro, n e m b e m n e m m a l . A ét ica d esap ar ece. A p esa r d isso , co m o v i m o s , n ó s , seres h u m a n o s , co n t i n u a m o s a fazer d ist in çõ es ét ica s. E m a lg u m m o m e n t o , ca d a u m i l e n ós d is t in g u e o b e m do m a l , o cer t o do e r r a d o . A ét ica deísta n ã o se e n ca ixa e m n ossas d im e n s õ es h u m a n a s r ea is. Nesse p o n t o , o d e ís m o p a ssa a set u m a co sm o v isã o i m p r a t i i ável, p ois n in g u é m con seg u e v iv e r p o r ela . É a b solu ta m en te n ecessário en fatiza r q u e n e m tod os os d eisus

r econ h ecer a m (ou r econ h ecem agora) q u e su as h ip óteses

I .1n eg a m as con clu sões d e Pop e. N a v er d ad e, a lg u n s p ercebei.iin

qu e os en sin a m en to s éticos d e Jesu s e r a m , n a r ealid ad e,

li i s n atu r ais exp ressas e m p alav r as. E , co m certeza, o ser m ã o do m on te n ã o co n t é m n e n h u m a afir m ação sem elh a n te à p r o p o lição "Seja o qu e for, é cer to"! U m estu d o m a is p r o fu n d o p or p arte d os d eístas ter ia lev a d o, cr eio e u , à con clu sã o d e qu e s i m pli sm en te eles er a m in con sisten tes, e n ã o r eco n h ecia m isso. O p r ó p r io A l e x a n d e r P o p e é in co n s is t e n t e , p o is e m b o r a defenda a n o çã o d e q u e seja o q u e fo r é cer t o , t a m b é m t e preende a h u m a n i d a d e p o r ca u sa d o o r g u lh o (o q u a l, seja o que for, é ce r t o ). E m orgu lh o, em elu cu brações de orgu lh o nosso erro se en raíza; Iod os aband onam seus afazeres e se apressam p ara os céu s. O orgu lh o ain d a alm eja os lu gares aben çoad os; H om en s d esejam ser an jos, anjos d esejam ser d eu ses... E qu em não d eseja in verter as leis Q u e nos m an têm em p ecad o con tra a Cau sa Et e r n a .

12

O u n i v e r s o ao la d o

P o is u m a p essoa co n s id e r a r a s i m e s m o s u p e r io r ao q u e d e v e r ia , er a o r g u lh o . T a l s e n t im e n t o er a e r r a d o , a té m e s m o um

pecado. N ã o o b st a n t e, o b ser v e: u m p eca d o n ã o co n t r a

u m D e u s p essoa l, m a s co n t r a a "C a u s a E t e r n a ", co n t t a u m a a b st r a çã o filosófica. A t é m e s m o o t e r m o

pecado a ssu m e u m

n o v o co lo r id o e m t a l co n t e xt o . A i n d a m a is i m p o r t a n t e , n o e n t a n t o , é q u e t o d a a n o çã o d e p eca d o d esa p a r ece se a lg u ém s u s t e n t a , sobr e o u t r o s fu n d a m e n t o s , q u e seja o q u e fo r é cer t o . P o r m a is in ter essa d os q u e os a n t ig os d eístas estiv essem e m p t eser v a r o co n t e ú d o é t ico d o cr is t ia n is m o , eles fo r a m in ca p a z es d e e n co n t r a r u m a base a d eq u a d a p a r a ele. D e v i d o a ten sões e in co n sist ên cia s co m o essa é q u e o d eísm o g o z o u d e u m a v i d a t e la t iv a m e n t e cu r t a co m o co sm o v isã o r elev a n t e, e m b o r a a in d a e xis t a m m u it o s h o je q u e são essen cia lm en t e d eísta s, q u er r e i v i n d i q u e m isso q u er n ã o . 6. A hist ória é linear, pois o curso do cosmo foi det erminado na criação. O s p r ó p r io s d eístas p a r ecem estar p o u co

in ter essa d os

e m h ist ó r ia , p o r q u e , co m o Br é h ie r i n d i co u , eles b u s ca v a m p elo co n h e cim e n t o d e D e u s , p r i m a r i a m e n t e , n a n a t u r e z a . O cu r so d a h ist ó r ia d os ju d e u s co m o r eg istr a d o n a Bíb lia é m a is ú til n ã o co m o u m r eg istr o d as in t er v en çõ es d e D e u s n a h ist ó r ia , m a s co m o ilu str a ções d a lei d i v i n a d a q u a l p r in cíp ios ét ico s p o d e m ser ext r a íd os. Jo h n T o l a n d ( 1 6 7 0 - 1 7 2 2 ) , p o r e xe m p lo , a r g u m e n t o u q u e o cr is t ia n is m o er a t ã o a n t i go q u a n t o a cr ia çã o ; o ev a n g elh o er a u m a "r e p u b lica çã o " d a r eligião d a n a t u r e z a . C o m u m a v isão co m o essa, os atos

68

A precisão

do

univ erso

esp ecíficos d a h ist ó r ia n ã o são m u i t o im p o r t a n t e s . A ên fa se resid e n as regras g er a is. C o m o d isse P o p e: " A P r i m e i r a C a u s a o n ip o t e n t e / N ã o age p o r leis p a r cia is , m a s g e r a is ".

13

Deu s

não está n e m u m p o u co in ter essa d o e m h o m e n s e m u l h e res, co m o in d iv íd u o s, t a m p o u co e m tod as as p essoas. A lé m d isso, o u n iv e r s o é fe ch a d o , d e m o d o a l g u m a b er t o ao seu r eo r d en a m en t o .

Um co m p o n en t e i n st ável O d e ís m o n ã o p r o v o u ser u m a co sm o v isã o estáv el. H i s t o r ica m e n t e , ele exer ceu b r ev e d o m ín io sob r e o m u n d o in t elect u a l d a Fr a n ça e In g la t e r r a , d o fim d o sécu lo X V I I a té .1 p r im e ir a m et a d e d o sécu lo X V I I I . P r eced id o p elo t e ís m o , foi seg u id o p elo n a t u r a lis m o . O q u e t o r n o u o d e ís m o u m a co sm o v isã o tã o efém er a? E u | .i a b o r d ei as razões p r in cip a is : as in co n sist ên cia s d e n t r o d a p r óp r ia co sm o v isã o e a im p r a t ica b ilid a d e d e a lg u n s d e seu s p r in cíp io s. Ta is in co n g r u ê n cia s in t e r n a s , q u e log o se t o r n a r a m ób v ia s, i n c l u e m as seg u in tes: 1. N a ét ica , a su p o siçã o d e u m u n iv e r s o n o r m a l e n ã o d eca íd o , co m o n as sem elh a n ça s d e A l e x a n d e r P o p e, p o r e xe m p lo , t e n d ia a i m p l i ca r q u e seja o q u e fo r é cer t o . Se isso fo r v e r d a d e , e n t ã o , n e n h u m esp a ço é d eixa d o p a r a u m co n t e ú d o n ít id o d a ét ica . N ã o o b st a n t e, os d eístas se m o s t r a v a m m u i t o in ter essa d os p ela ét ica , co n s t it u in d o essa a ú n ica d iv isão d o e n s in a m e n t o cr is tã o q u e lh es er a m a is a ceitá v el.

69

O u n i v e r s o ao l a d o

2. N a e p is t e m o lo g ia , a t e n t a t iv a d e a r g u m e n t a r d o p a r t icu la r p a t a o u n iv e r s a l r e d u n d o u e m fr a ca sso, p o is ser ia p r eciso u m a m e n t e i n fi n i t a p a t a r eter os d eta lh es n ecessá r ios a u m a g en et a liz a çã o p r ecisa . N e n h u m a m e n t e é i n fi n i t a . P o r t a n t o , co m o o co n h e cim e n t o u n i v er sa l é im p o ssív el, e os p en sa d or es e r a m d eixa d o s c o m u m r ela t iv o co n h e cim e n t o , eles a ch a r a m isso d e d ifícil a ce it a çã o .

14

3. E m r ela çã o à n a t u r e z a h u m a n a , u m a p essoa n ã o p o d e m a n t e r sig n ificâ n cia e p er so n a lid a d e d ia n t e d e u m u n iv e r s o fech a d o ao r e o r d e n a m e n t o . A sig n ificâ n cia h u m a n a e o d e t e r m in is m o m e câ n ico são p a r ceir o s i n co m p a t ív eis. H o je e m d i a , p o d e r ía m o s e n co n t r a r a i n d a m a is a sp ectos q u estion á v eis d o d e ís m o . O s cien t ist a s t ê m a b a n d o n a d o t o t a lm e n t e a n o çã o d o u n iv e r s o co m o u m gigan tesco r elóg io . O s elét r on s (p a r a n ã o m e n cio n a r p a r t ícu la s s u b a t ô m ica s a in d a m a is d esco n cer t a n t es) n ã o se co m p o r t a m co m o m i n ú scu lo s elem en t o s d e u m a m á q u in a . Se o u n iv e r s o é u m m e ca n is m o , ele é m u i t o m a is co m p le xo d o q u e i m a g i n a d o n a é p o ca , e D e u s d ev e ser m u i t o d ifer en t e d e u m m e r o "a r q u it e t o " o u "r e lo jo e ir o ". A lé m d isso , a p er so n a lid a d e h u m a n a é u m "fa t o " d o u n iv e r s o . Se fo i D e u s q u e a cr i o u , n ã o ser ia ele p essoal? D esse m o d o , h is t o r ica m e n t e o d e ís m o fo i u m a co s m o v isão t t a n sit ó r ia e, n ã o o b st a n t e, n ã o está m o r t a t a n t o sob as fo r m a s p o p u la r es q u a n t o sob as m a is so fist ica d a s. N o n ív el p o p u la r , in ú m er a s p essoas h o je a cr e d it a m n a exist ên cia d e D e u s , m a s q u a n d o p er g u n t a d a s co m o ele é, elas se l i m i t a m

70

A precisão

do

univ erso

a exp r essões co m o En e r g i a , Fo r ça , P r i m e i r a C a u s a , a lg u m a co isa ca p a z d e m a n t e r o u n iv e r s o e m fu n ci o n a m e n t o e, e m g et a l, co n cl u e m d a n d o-lhe u m a a u r a d e d iv in d a d e . C o m o diz Etienne G i l s o n : "P o r qu ase d ois sécu los [...] o fa n t a s m a do D e u s cr istã o t e m sid o a t e n d id o p elo fa n t a s m a d a r eligião cr istã : u m v a g o s e n t im e n t o d e r elig io sid a d e, u m t ip o d e co n fiante fa m ilia r id a d e c o m a lg u m ca m a r a d a b o m e s u p r e m o a q u e m o u t r o s ca m a r a d a s p o d e m esp er a n ço sa m en t e r ecor r er q u a n d o estã o e m a p u r o s ".

15

So b u m a fo r m a m a is so fist ica d a , o d eísm o sob r ev iv e e m a lg u n s cien t ist a s e u n s p o u co s h u m a n is t a s n os cen t r o s a ca d ém ico s ao t ed o t d o m u n d o . C ie n t is t a s , co m o A l b e t t E i n s t e i n , q u e "v e e m " u m a fo r ça s u p e r io r e m a çã o n o u n iv e r s o o u p o r trás d ele e d eseja m m a n t e r a tazão e m u m m u n d o cr ia d o , p o d e m ser co n sid er a d o s d eístas d e co t a çã o , e m b o r a , d ecer t o, m u it o s n ã o d eseja r ia m a fir m a r algo q u e soasse tã o s e m e lh a n te a u m a filosofia d e v i d a .

16

O a str ofísico St e p h e n H a w k i n g ig u a lm e n t e d á a b e t t u t a p a r a se d efen d er u m D e u s d eísta . E l e escr ev eu q u e as leis fu n d a m e n t a is d o u n iv e r s o "p o d e m ter sid o o r ig in a lm e n t e d et er m in a d a s p o r D e u s , m a s ao q u e p a r ece, d esd e e n t ã o , ele d e ix o u o u n iv e r s o d esen v olv er -se d e a co r d o c o m elas e a g or a n ã o m a is in t er v ém n e l e ".

17

Su a rejeição a u m D e u s

teísta é m u i t o cla r a . C e r t a feit a , a a t r iz e líd er d a N o v a E r a , Sh ir le y M a c L a i n e , p e r g u n t o u a H a w k i n g se h a v ia u m D e u s q u e "q u e cr i o u o u n iv e r s o e g u ia a s u a cr ia çã o ". "N ã o ", ele r esp o n d eu s im p le s m e n t e e m su a v o z co m p u t a d o r i z a d a .

18

A fi n a l d e co n t a s, se o u n iv e r s o é "a u t o co n t id o , sem f r o n teir as o u lim it e s ", co m o H a w k i n g su sp eit a ser v e r d a d e ir o ,

• 71

O u n i v e r s o ao l a d o

e n t ã o n ã o h á n ecessid a d e d e u m C r i a d o r ; D e u s t o r n a -se s u p é r flu o .

19

A s s i m sen d o , H a w k i n g u t iliz a "o t e r m o D e u s

co m o a in co r p o r a çã o d as leis d a fís ica ".

20

H a w k i n g n ã o está s o z in h o n essa p r o b le m á t ica d e o q u e fazer co m D e u s . E m u m a co n v e t s a c o m Ro b e r t W r i g h t , o físico E d w a r d F r i e d k i n p o d e r ia fa la r p o r m u i t o s cien t ist a s: Para m i m é d ifícil acred itar que tu d o o qu e existe foi apenas u m acid en te. [...] [C o n t u d o ], não ten h o n en h u m a crença religiosa. E u não acred ito que há u m D eu s. N ão acred ito n o cristian ism o, ju d aísm o ou qu alqu er coisa sem elh an te, certo? N ão sou u m ateu . [...] N ã o sou u m agn óstico. [...] Estou apenas em u m estad o sim p les. E u não sei o qu e há ou pod e haver. [...] M a s, p or ou tro lad o, o qu e posso d izer é qu e m e parece qu e este u n iverso p articu lar qu e tem os é u m a con sequ ên cia de algo qu e eu ch am aria de in teligen te. ' 2

F r i e d k i n e H a w k i n g são d eístas o u n a t u r a list a s? O u s im p le s m e n t e são a g n ó st ico s n o t o ca n t e a D e u s ? D e q u a l q u er m o d o , visões co m o as d eles en tr e os cien t ist a s n ã o são i n co m u n s . O n a t u r a lis m o p u r o n ã o é a ssim tã o a m b iv a le n t e . Es s a p o siçã o é q u e v er em o s a segu ir .

• 72 •

Capítulo

quatro

O SILÊNCIO DO ESPAÇO FINITO

Nat uralismo Sem aviso, Davi foi visitado por uma visão perfeita da morte: um largo buraco no chão, não maior que seu corpo, no qual era colocado, enquanto os rostos brancos se afastavam. Você tenta alcançá-los, mas os seus braços estão atados. Pás jogam terra em seu rosto. Lá você estará para sempre, em uma posição voltada para cima, cego e silencioso, e com o passar do tempo ninguém mais se lembrará de você, e você jamais será visitado. Como estratos do deslocamento de rochas, seus dedos se alongam, e seus dentes são distendidos para o lado em uma grande careta subterrânea indistinguível da própria terra. E a terra se revolverá, o sol expirará, as trevas reinam imutáveis onde antes havia estrelas. John Updike, Pigeon Feat hers [Penas de pombo]

O

entre dois grandes continentes teísmo e naturalismo. Para se mover do primeiro ao DEÍSMO É U M I S T M O

O universo ao lado

segundo, o deísmo é a rota natural. É provável que, sem o deísmo, o naturalismo não surgiria tão prontamente. O deísmo desvaneceu precocemente, tornando-se a sua versão do século X V I I I quase uma curiosidade intelectual. As suas versões do século X X estão restritas a uns poucos cientistas e intelectuais e aqueles que, embora afirmem que acreditam em Deus, possuem apenas uma vaga noção do que isso possa ser. Por outro lado, o naturalismo era e é um negócio sério. Em termos intelectuais, a rota é esta: no teísmo, Deus é o Criador pessoal e infinito, sustentador do cosmo. No deísmo, Deus é reduzido; ele começa a perder a sua personalidade, embora permaneça como Criador e (por implicação) sustentador do cosmo. No naturalismo, Deus é ainda mais reduzido, perdendo a sua própria existência. Os personagens envolvidos nessa mudança do teísmo para o naturalismo formam uma legião, em especial, no período entre 1600 e 1750. René Descartes (1596-1650), teísta por consciente confissão, estabelece o cenário ao conceber o universo como um gigantesco mecanismo de "matéria" que as pessoas compreenderam como "mente". Ele, portanto, divide a realidade em dois tipos de ser; desde então, o mundo ocidental tem enfrentado dificuldades para ver a si mesmo como um todo integrado. O naturalismo, seguindo uma rota para a unificação, fez da mente uma subcategoria da matéria mecanicista. John Locke (1632-1714), um teísta para a maioria das pessoas, acreditava em um Deus pessoal que se revelou a nós; Locke pensou, entretanto, que a nossa razão concedida por Deus é o juiz do que pode ser considerado como

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verdadeiro a partir da "revelação" bíblica. Dessa concepção, os naturalistas removeram o "concedido por Deus" e fizeram da "razão" o único critério para a verdade. Uma das figuras mais importantes nessa mudança foi Julien Offray de La Mettrie (1709-1751). Em sua própria época, La Mettrie foi, em geral, considerado um ateu, mas ele mesmo afirma: "Não que eu coloque em dúvida a existência de um ser supremo; pelo contrário, parece-me que o mais elevado grau de probabilidade está a favor dessa crença". Não obstante, ele prossegue: "É uma verdade teórica com pouco valor prático". A razão para ele concluir que a existência de Deus possui um valor prático tão diminuto é que o Deus que existe é apenas o criador do universo. Ele não está interessado de modo pessoal nele, tampouco em ser adorado por quem quer que esteja nesse universo. Assim sendo, a existência de Deus pode ser efetivamente considerada como de nenhuma importância. 1

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É precisamente esse sentimento, essa conclusão que marca a transição para o naturalismo. La Mettrie foi um deísta teórico, porém, um naturalista prático. Foi deveras fácil para as gerações subsequentes tornar as suas teorias consistentes com a prática de La Mettrie, de modo que o naturalismo foi tanto crido quanto influenciado. O comportamento realmente fomenta o desenvolvimento intelectual. De fato, se levarmos a sério a última frase da definição sobre cosmovisão, no primeiro capítulo ("sobre o qual vivemos, movemos e possuímos nosso ser"), nós poderíamos acusar La Mettrie de sustentar uma cosmovisão plenamente naturalista. 3

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Nat uralismo básico Isso nos leva, então, à primeira proposição definidora de naturalismo. 1. A matéria existe eternamente e é tudo o que há. Deus não existe.

Como no teísmo e no deísmo, a proposição primária diz respeito à natureza da existência básica. Nos dois anteriores, a natureza de Deus é o fator chave. No naturalismo, a natureza do cosmo é que é primária, pois, agora, com um Criador eterno fora de cena, o próprio cosmo se torna eterno - sempre lá, porém, não necessariamente em sua forma atual; na verdade, certamente não em sua presente forma. Carl Sagan, astrofísico e popularizador da ciência, afirmou isso o mais alto possível: "O cosmo é tudo o que é, foi ou será". 4

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Nada vem do nada. Existe alguma coisa. Portanto, alguma coisa sempre existiu. Porém, essa alguma coisa, dizem os naturalistas, não é um Criador transcendente, mas matéria do próprio cosmo. Em alguma forma, toda a matéria do universo sempre existiu. A palavra matéria deve ser entendida de forma generalizada, pois desde o século X V I I I , a ciência tem refinado a sua compreensão. No século X V I I , os cientistas ainda estavam por descobrir a complexidade da matéria e sua estreita relação com a energia. Eles concebiam a realidade como constituída de "unidades" irredutíveis, existentes em um relacionamento mecânico e espacial umas com as outras, relacionamento esse que estava sendo investigado e revelado pela Química e I ísica, sendo expresso através de "leis" inexoráveis. Mais • 76 •

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tarde, descobriram que a natureza não era tão certinha ou, pelo menos, tão simples. Parece não haver essas "unidades" irredutíveis como tal, e as leis físicas apenas contêm expressões matemáticas. Físicos, como Stephen Hawking, podem buscar por nada menos que uma "completa descrição do universo" e mesmo nutrir esperanças de encontrá-la. Porém, a certeza sobre o que a natureza é ou a probabilidade de descobrir o que possa ser, praticamente desapareceu.

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Ainda assim, a proposição expressa acima une os naturalistas. O cosmo não é composto por duas coisas — matéria e mente, ou matéria e espírito. Como afirmou La Mettrie: "Em todo o universo nada mais há que uma única substância com várias modificações". O cosmo é, em última instância, uma única coisa sem qualquer relação com um ser transcendental; não existe "deus", tampouco "criador". 7

2. O cosmo existe como uma uniformidade de causa e efeito em um sistema fechado.

Essa proposição é similar à segunda proposição no deísmo. A diferença reside em que o universo pode ou não ser concebido como uma máquina ou relógio. Os cientistas modernos têm descoberto que as relações entre os vários elementos da realidade são muito mais complexas, se não mais misteriosas, que a imagem do relógio poderia expressar. Não obstante, o universo é um sistema fechado. Ele não está aberto ao reordenamento a partir do exterior — seja por um ser transcendental (pois não existe nenhum) ou, como discutiremos com mais profundidade posteriormente, por seres humanos autotranscendentes ou autónomos (pois eles

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são uma parte da uniformidade). Emile Bréhier, ao descrever essa visão, disse: "A ordem na natureza nada mais é que um arranjo rigorosamente necessário de suas partes, alicerçado na essência das coisas; por exemplo, a bela regularidade das estações não é o efeito de um plano divino, mas o resultado da gravitação". O Manifesto Humanista II (1973), que expressa as visões dos que se autodenominam "humanistas seculares", coloca isso desta forma: "Não descobrimos nenhuma evidência suficiente para crer na existência do sobrenatural". Sem Deus ou o sobrenatural, claro, nada pode acontecer, exceto dentro do reino das próprias coisas. Escrevendo na The Columbia History of the World, [A história do mundo de Columbia], Rhodes W. Fairbridge afirmou claramente: "Nós rejeitamos o miraculoso".' Tal afirmação, proveniente de um professor de geologia da Universidade de Columbia, já era esperada. 8

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O que surpreende é encontrar um professor de seminário, David Jobling, afirmando quase a mesma coisa: "Nós [isto é, as pessoas modernas] vemos o universo como uma continuidade de espaço, tempo e matéria, mantidos juntos, como o eram, do interior. [...] Deus não está "fora" do tempo e do espaço, nem permanece fora da matéria, comunicando-se com a parte "espiritual" do homem. [...] Precisamos encontrar alguma forma de enfrentar o fato de que Jesus Cristo é produto do mesmo processo revolucionário como o resto de nós". 11

Jobling está tentando compreender o cristianismo dentro da cosmovisão naturalista. Certamente, após Deus ter sido colocado rigorosamente dentro do sistema - o sistema

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uniforme e fechado de causa e efeito - a ele foi negada a soberania e muito mais do que os cristãos tradicionalmente têm crido ser verdadeiro a seu respeito. A questão aqui, entretanto, é que o naturalismo é uma cosmovisão insinuante, encontrada nos lugares mais improváveis. Quais são as características centrais desse sistema fechado? Deve primeiro parecer que os naturalistas, ao afirmar a "continuidade de espaço, tempo e matéria, conservando-se unidos, como o eram [...] do interior," seriam deterministas, declarando que o sistema fechado mantém-se unido por uma conexão inexorável e indestrutível de causa e efeito. A maioria dos naturalistas é, de fato, determinista, embora muitos argumentem que isso não retira o nosso senso de livre-arbítrio ou a responsabilidade pelas nossas ações. Será essa liberdade realmente consistente com a concepção de um sistema fechado? Para responder a essa pergunta, precisamos primeiro olhar mais detalhadamente a concepção naturalista quanto aos seres humanos. 3. Os seres humanos são "máquinas" complexas; a personalidade é uma inter-relação de propriedades químicas e físicas ainda não totalmente compreendidas.

Descartes, embora tenha reconhecido que os seres humanos são em parte máquinas, também reconheceu que eles são em parte mente; e mente era uma substância diferente. No entanto, a grande maioria dos naturalistas concebe a mente como uma função da máquina. La Mettrie foi um dos primeiros a colocar asperamente: "Vamos concluir ousadamente, então, que o homem é uma máquina, e que em

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todo o universo há nada menos que uma única substância com várias modificações". Expressando-se de forma ainda mais enfática, Pierre Jean Georges Cabanis (1757-1808) escreveu que "o cérebro secreta o pensamento assim como o fígado secreta a bílis". William Barret, em uma fascinante história intelectual sobre a perda gradual da noção da alma ou do eu no pensamento do Ocidente, a partir de Descartes até o presente, escreve: 12

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Dessa forma chegamos a La Mettrie [...] aquelas curiosas ilustrações do corpo humano como um sistema de engrenagens, rodas dentadas e catracas. O homem, o microcosmo, é apenas uma outra máquina dentro da máquina universal que é o cosmo. Rimos ante tais ilustrações, julgando-as pitorescas e grosseiras, porém, em segredo, ainda podemos alimentar a noção de que eles, afinal de contas, estão na direção certa, embora um pouco prematura. Com o advento do computador, no entanto, essa tentação concernente ao mecanismo torna-se mais irresistível ainda, pois aqui nós não mais temos uma máquina de rodas e polias, mas um aparelho que parece capaz de reproduzir os processos da mente humana. As máquinas podem pensar?, tornou-se agora uma questão crucial para o nosso tempo. 14

De qualquer modo, o ponto é que nós, como seres humanos, simplesmente somos uma parte do cosmo, onde há uma única substância: matéria. Somos feitos a partir dela e tão somente dela. As leis que se aplicam à matéria também se aplicam a nós. De forma alguma, transcendemos o universo. É óbvio que somos máquinas muito complexas, e nosso mecanismo ainda está longe de ser totalmente compreendido.

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Assim as pessoas continuam a nos surpreender e a frustrar as nossas expectativas. Contudo, qualquer mistério que rodeie a nossa compreensão é resultado não de um genuíno mistério, mas de complexidade mecânica. Pode-se concluir que a humanidade não é distinta de outros objetos no universo, constituindo apenas um tipo de objeto entre muitos outros. Porém, os naturalistas insistem que não é assim. Julian Huxley, por exemplo, afirma que somos únicos entre os animais porque apenas nós somos capazes de pensar conceitualmente, de articular a fala, de deter uma tradição cumulativa (cultura) e possuir um método singular de evolução. A esses argumentos a maioria dos naturalistas acrescentaria a nossa capacidade moral, um assunto que tratatemos em separado. Todas essas características são abertas e, em geral, óbvias. Nenhuma delas implica em algum poder transcendental ou exige qualquer base extramaterial, afirmam os naturalistas. 15

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Ernest Nagel indica a necessidade de não enfatizar a "continuidade" humana com elementos não humanos de nossa composição: "Sem negar que mesmo as mais distintas características humanas são dependentes de elementos não humanos, um naturalismo maduro esforça-se por avaliar a natureza do homem à luz de suas ações e conquistas, suas aspirações e capacidades, suas limitações e falhas trágicas, bem como de seus esplêndidos trabalhos de ingenuidade e imaginação". Ao enfatizar nossa humanidade (nossa distinção do restante do cosmo), um naturalista encontra uma base de valor, pois isso sustenta que a inteligência, a sofisticação cultural, o senso de certo e errado não são apenas características 17

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humanas, mas o que nos torna valiosos. Esse tópico será mais desenvolvido adiante, na proposição 6. Finalmente, embora alguns naturalistas sejam ferrenhos deterministas com respeito a todos os eventos no universo, incluindo-se a ação humana, negando, portanto, qualquer senso de livre-arbítrio, muitos naturalistas sustentam que somos livres para moldar o nosso próprio destino, pelo menos parcialmente. Alguns, por exemplo, defendem que embora o conceito de um universo fechado implique em determinismo, ele ainda é compatível com a liberdade humana ou, pelo menos, com um sentido de liberdade. Podemos fazer muitas coisas que desejamos; nem sempre somos obrigados a agir contra os nossos desejos. Eu poderia, por exemplo, parar de preparar uma nova edição deste livro se assim desejasse, porém, não é isso o que eu quero. 18

Esse fato, muitos naturalistas defendem, deixa aberta a possibilidade para ações humanas significativas, além de fornecer uma base para a moralidade. Pois a não ser que sejamos livres para agir como agimos, não podemos ser responsabilizados pelo que fazemos. A coerência dessa visão tem sido contestada, entretanto, constituindo uma pequena mancha no sistema de pensamento naturalista, como veremos no capítulo seguinte. 4. A morte é a extinção da personalidade e da individualidade. Talvez essa seja a proposição naturalista mais "difícil" de as pessoas aceitarem, muito embora seja uma exigência absoluta em função da concepção naturalista do universo. Homens e mulheres são constituídos de matéria e nada mais. Quando

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a matéria constituinte de um indivíduo é desorganizada na morte, então, aquela pessoa desaparece. O Manifesto Humanista II declara: "Até onde conhecemos, a personalidade total é uma função da transação do organismo biológico em um contexto social e cultural. Igualmente, não há nenhuma evidência crível de que a vida sobreviva à morte do corpo". Bertrand Russel escreve: "Nenhum fogo, heroísmo ou intensidade de pensamento e sentimento podem preservar uma vida individual alémtúmulo". A. J . Ayer também afirma: "Tomo isso [...] como fato de que a existência de uma pessoa termina na morte". Em um sentido mais geral, a humanidade é igualmente vista como transitória. Nagel confessa: "O destino humano [é] um episódio entre dois esquecimentos". 19

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Tais afirmações são claras e desprovidas de qualquer ambiguidade. O conceito pode desencadear problemas psicológicos imensos, porém, sua precisão é inquestionável. A única "imortalidade", como apresentada pelo Manifesto Humanista II, é "a continuidade de nossa descendência e a influência que nossas vidas exercem nas demais pessoas em nossa cultura". Em sua breve obra, Pigeon Featbers [Penas de pombo], John Updike confere a essa noção uma dimensão lindamente humana quando retrata o jovem garoto David, refletindo sobre a descrição de céu, feita pelo pastor, sendo "semelhante à bondade de Abraham Lincoln sobrevivendo à sua própria morte". Como o professor de seminário, David Jobling, mencionado anteriormente, o pastor de David não é mais um teísta, mas está simplesmente tentando dar um conselho "espiritual", dentro da estrutura naturalista. 23

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5. A história é uma corrente linear de eventos ligada por causa e efeito, porém, sem uma proposta abrangente.

Primeiramente, a palavra história, como utilizada nessa proposição, inclui tanto a história natural quanto a humana, pois os naturalistas veem a ambas como uma continuidade. A origem da família humana está na natureza. Surgimos dela e, mais provavelmente, retornaremos a ela (não apenas individualmente, mas como espécie). A história natural principia com a origem do universo. Algo ocorreu muito tempo atrás - um Big Bang ou um surgimento súbito - que desencadeou a formação do universo que agora habitamos e do qual temos consciência. Porém, poucos se mostram dispostos a afirmar, exatamente, como isso aconteceu. Lodewijk Woltjer, astrónomo da Universidade de Columbia, fala em nome de muitos: "A origem do que existe - o homem, a terra, o universo - está encerrada em um mistério que estamos tão distantes de elucidar quanto o narrador do livro de Génesis". Inúmeras teorias têm sido desenvolvidas para explicar o processo, mas nenhuma delas, na realidade, com sucesso. Ainda, persiste entre os naturalistas a premissa de que o processo se autodesencadeou; não sendo colocado em ação por uma Primeira Causa, Deus ou algo diferente. 25

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Como os seres humanos surgiram é, em geral, considerado mais certo que a origem do universo. A teoria da evolução, desconsiderada pelos naturalistas por longo tempo, conseguiu sobressair-se pelo "mecanismo" que recebeu de Darwin. E raro um texto de escola pública não proclamar a teoria como um fato. Devemos ser cuidadosos, entretanto,

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e não assumirmos que todas as formas de teoria evolucionária são estritamente naturalistas. Muitos teístas também são evolucionistas. Na verdade, a evolução tornou-se um assunto muito mais polémico entre cristãos e naturalistas que na época em que o livro foi lançado. O teísta vê o Deus infinito e pessoal como responsável por todos os processos naturais. Se a ordem biológica evoluiu, isso só ocorreu em conformidade com o desígnio de Deus; isso é teleológico, onde tudo concorre para um fim pessoalmente almejado por Deus. Por sua vez, o naturalista vê o processo funcionando por si mesmo. George Gaylord Simpson apresenta isso com tamanha felicidade que merece essa longa menção: 27

A evolução orgânica é um processo totalmente materialista em sua origem e operação [...] A vida é materialista na natureza, mas possui propriedades únicas que são inerentes à sua organização, não em sua matéria ou mecânica. O homem surgiu como o resultado da operação da evolução orgânica, sendo seu ser e atividades igualmente materialistas, mas a espécie humana possui propriedades únicas entre todas as formas de vida, que se somam às propriedades únicas à vida entre todas as formas de matéria e de ação. A sua natureza intelectual, social e espiritual é excepcional em comparação aos animais, porém, elas surgiram por meio da evolução orgânica. 28

Essa passagem é importante devido à sua clara afirmação tanto da continuidade humana com o restante do cosmo quanto a sua especial singularidade. Entretanto, para não concluirmos que tal singularidade, essa nossa posição como

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a mais elevada criatura da natureza, foi planejada por algum princípio operativo teleológico presente no universo, Simpson acrescenta: "Por certo, o homem não era o objetivo da evolução, que, por seu turno, evidentemente não possuía objetivo algum". De muitas maneiras, a teoria da evolução suscita tantas questões quantas soluciona, pois embora ofereça uma explicação sobre o que aconteceu no transcorrer desses extensos períodos de tempo, ela não esclarece a causa. A noção de um Planejador, dotado de propósito, não é permitida pelos naturalistas. Pelo conttário, como afirma Jacques Monod, a "humanidade surgiu como um número em uma roleta de Monte Carlo", um lance de puro acaso. " Richard Dawkins, um dos mais destacados defensores do recente evolucionismo neo-darwinista, confirma essa ideia: "A seleção natural é o relojoeiro cego, pois nada vê à frente, não planeja as consequências, não possui nenhum propósito em vista". Qualquer intencionalidade é descartada como possibilidade desde o princípio. 29

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De todo modo, os naturalistas insistem que com o alvorecer da humanidade, de súbito, a evolução assumiu uma nova dimensão, pois os seres humanos são dotados de consciência - provavelmente os únicos seres autoconscientes em todo o universo. Além disso, como humanos, somos conscientemente livres para refletir, decidir e agir. Portanto, enquanto a evolução, considerada estritamente no âmbito biológico, continua sendo inconsciente e acidental, as ações humanas não. Elas não são apenas parte do ambiente "natural". Elas constituem a história humana. 32

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Em outras palavras, quando o homem surgiu, a história com significado, a história humana — os eventos realizados por homens e mulheres autoconscientes e autodeterminados - também surgiu. Mas, como a evolução, que não possui um objetivo inerente, a história não possui um alvo inerente. A história é o que fazemos acontecer. Os eventos humanos apenas possuem o significado que as pessoas lhes dão, quando elas os escolhem ou quando os rememoram. A história prossegue em uma linha linear, como no teísmo (não ciclicamente como no panteísmo oriental), mas ela não possui um alvo predeterminado. Em vez de culminar na segunda vinda do Deus-homem, simplesmente a história durará tanto quanto a consciência dos seres humanos perdurar. Quando partirmos, a história humana desaparecerá, e a história natural seguirá sozinha seu curso. 6. A ética está relacionada apenas os seres humanos. Considerações éticas não desempenhavam um papel central no advento do naturalismo, que, em vez disso, surgiu como uma extensão lógica de certas noções metafísicas sobre a natureza do mundo externo. A maioria dos primeiros naturalistas continuou a defender visões éticas em similaridade àquelas presentes na cultura que os cercava, visões que, via de regra, pouco se diferenciavam do cristianismo popular. Havia respeito pela dignidade individual, uma afirmação de amor, um compromisso pela verdade e honestidade básica. Jesus Cristo era visto como um professor de elevados valores éticos.

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Embora seja cada vez mais raro em nossos dias, ainda é verdadeiro em alguma medida. Com algumas mudanças recentes como, por exemplo, uma atitude permissiva com respeito ao sexo pré-conjugal e extraconjugal, uma reação positiva quanto à eutanásia, o aborto e o direito individual ao suicídio, as normas éticas do Manifesto Humanista II (1973) são similares às da moralidade tradicional. Com frequência, teístas e naturalistas podem conviver lado a lado em comunal harmonia em relação à ética. As discordâncias entre os dois grupos sempre existiram e, creio eu, se acirrarão à medida que o humanista se afaste cada vez mais da memória de sua ética cristã. Porém, quaisquer que sejam os desacordos (ou concordâncias) sobre as normas éticas, a base para tais normas é radicalmente distinta. 33

Para o teísta, Deus é o alicerce de todos os valores, enquanto que para os naturalistas os valores são construídos pelos seres humanos. A noção naturalista logicamente segue as pressuposições anteriores. Se não havia consciência antes da existência dos seres humanos, então não havia prévia noção de certo e errado. E , se não havia capacidade de agir de modo diferente, qualquer senso de certo e errado não teria valor prático. Assim, para que a ética seja possível, deve existir tanto a consciência quanto a autodeterminação. Em suma, deve haver personalidade. Os naturalistas dizem que a consciência e a autodeterminação surgiram com o aparecimento dos seres humanos, tal como a ética. Nenhum sistema ético pode ser derivado apenas da natureza das "coisas" externas à consciência humana. Em outras palavras, nenhuma lei natural está inscrita no cosmos.

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Mesmo La Mettrie, que escreveu com uma nesga de ironia: "A natureza nos criou a todos [homem e animais] unicamente para sermos felizes", traindo as suas raízes deístas, foi um convicto naturalista quanto à ética: "Você vê que a lei natural é nada mais que um sentimento íntimo, pertencente à imaginação, tal como todos os outros sentimentos, incluindo-se o pensamento". La Mettrie concebia a imaginação de um modo totalmente mecânico, de maneira que, para ele, a ética tornou-se apenas em pessoas seguindo um padrão nelas incorporado como criaturas. Certamente, não há nada, seja lá o que for, transcendente sobre a moralidade. 34

O Manifesto Humanista II afirma o local da ética naturalista em termos muito claros: "Nós afirmamos que os valores morais possuem na experiência humana a sua fonte. A ética é autónoma e situacional, não necessitando de qualquer sanção teleológica ou ideológica. A ética provém da necessidade e interesse humanos. Negar isso é distorcer toda a base da vida. A vida humana possui significado porque criamos e desenvolvemos nosso futuro". A maioria dos naturalistas conscientes concordaria com essa afirmação. Porém, exataBiente como o valor é criado fora da situação humana está i.io distante de nosso alcance quanto o caminho a trilhar para compreendermos a origem do universo. 35

A mais importante questão é: como o dever deriva do ser!

A ética tradicional, ou seja, a ética do teísmo cristão, afiri i i .i .1 origem transcendente da ética e a posiciona na medida Jo bem no Deus infinito e pessoal. Bom é o que Deus é, C essa verdade tem sido revelada por inúmeras e distintas

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maneiras, mais plenamente na vida, no ensino e na morte de Jesus Cristo. Os naturalistas, entretanto, não possuem esse apelo, tampouco desejam fazê-lo. A ética constitui um domínio estritamente humano. Assim a questão: como alguém vai do fato da autoconsciência e autodeterminação na esfera do ser e poder para a esfera do que deve ser ou deve ser feito? Uma observação feita pelos naturalistas é que todas as pessoas possuem uma noção de valores morais. Isso deriva, conforme diz G . G . Simpson, da intuição ("o sentimento de justiça sem uma investigação objetiva das razões para esse sentimento e sem a possibilidade de testar a vetacidade ou falsidade das premissas envolvidas" ), da autoridade e da convenção. Ninguém cresce sem absorver os valores do meio ambiente em que vive e, embora a pessoa possa rejeitar tais valores e pagar as consequências do ostracismo ou martírio, raramente alguém é bem-sucedido em criar valores totalmente divorciados de sua cultura. 36

E certo que os valotes diferem entre as diversas culturas, e nenhum deles parece ser absolutamente universal. Desse modo, Simpson argumenta em favor de uma ética baseada em uma investigação objetiva e a encontra em um ajuste harmonioso das pessoas, umas com as outras e com seus respectivos meios ambientes. Tudo o que promove essa harmonia é bom; o contrário é ruim. John Platt, em um artigo que procura construir uma ética para o behaviorismo de B. E Skinner, escreve: 37

Felicidade é ter reforços curtos congruentes com aqueles médios e longos, e sabedoria é conhecer como alcançar

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isso. Além disso, o comportamento ético surge quando os reforços pessoais curtos são congruentes com os reforços longos do grupo. Isso torna fácil 'ser bom' ou, mais precisamente, "comportar-se bem". 38

O resultado disso é uma definição de boa ação como aquela que recebe a aprovação do grupo e promove a sobrevivência. Tanto Simpson como Platt optam pela continuidade da vida humana como o valor acima de todos os outros. A sobrevivência, portanto, é básica, porém, é a sobrevivência humana que é afirmada como primária. Ambos, Simpson e Platt, são cientistas conscientes da responsabilidade que possuem de serem plenamente humanos e, portanto, de integrarem o conhecimento científico que possuem e seus respectivos valores morais. Do lado das humanidades, temos Walter Lippmann. Na obra, A Preface to Morais [Um prefácio para moral](\929), Lippmann assume a posição naturalista com respeito à origem e a ausência de propósito do universo. Ele objetiva construir uma ética com base no que assume ser o ponto de concordância central de "todos os grandes mestres religiosos". Para Lippmann, o bem sc revela como algo até agora reconhecido apenas pela elite, uma "aristocracia voluntária do espírito". Ele argumenta que essa ética elitista está agora se tornando mandatória para iodas as pessoas, caso elas queiram sobreviver à crise de valores dos nossos tempos. 39

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O bem em si mesmo consiste no desinteresse - uma forma de atenuar as "desordens e frustrações" do mundo moderno, agora que os "ácidos da modernidade" têm corroído a base tradicional para o comportamento ético. Torna-se

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difícil sintetizar o conteúdo que Lippmann deposita na palavra desinteresse. A terça parte final de seu livro é dedicada a isso. No entanto, é útil observar que a sua ética fundamentase no compromisso pessoal de cada indivíduo de ser moral, e que isso está totalmente divorciado do mundo dos fatos — da natureza das coisas, em geral: Uma religião que se fundamenta em conclusões particulares nas áreas de astronomia, biologia e história, pode ser fatalmente atingida pela descoberta de novas verdades. Porém, a religião do espírito não depende de credos e das cosmologias; não se reveste de interesse em nenhuma verdade em particular. Não se preocupa com a organização da matéria, mas com a qualidade do desejo humano. 41

A linguagem utilizada por Lippmann deve ser cuidadosamente compreendida. Por religião, ele quer dizer moralidade ou impulso moral. Por espírito, Lippmann quer significar a faculdade moral presente nos seres humanos, que exalta as pessoas acima dos animais e sobre outros, cuja "religião" é meramente "popular". A linguagem do teísmo está sendo empregada, porém, o seu conteúdo é puramente naturalista. De todo modo, o que resta da ética é a afirmação de uma elevada visão do certo, face a um universo que apenas existe e não possui qualquer valor em si mesmo. Portanto, a ética é pessoal e escolhida. Que eu saiba, Lippmann não está associado com os existencialistas, mas, como vetemos mais adiante, no capítulo 6, sua versão da ética naturalista é, em última análise, a deles. Os naturalistas buscaram construir sistemas éticos em uma ampla variedade de formas. Mesmo teístas cristãos

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elevem admitir que muitas das reflexões éticas naturalistas são válidas. Na realidade, os teístas não deveriam se mostrar surpresos pelo fato de podermos aprender verdades morais através da observação da natureza e do comportamento humano, pois se homens e mulheres foram feitos à imagem de Deus, e se tal imagem não foi totalmente destruída pela queda, então eles ainda deveriam refletir - ainda que vagamente - algo da bondade de Deus.

Nat uralismo na prát ica: humanismo secular Duas formas de naturalismo merecem uma atenção especial. A primeira é o humanismo secular, um termo que passou a ser usado e abusado tanto por adeptos quanto por críticos. Por essa razão, algum esclarecimento quanto aos termos se faz aqui necessário. Primeiro, o humanismo secular, em geral, é uma forma de humanismo, porém, não é a única. O humanismo em si é a postura global de que os seres humanos possuem um valor especial; seus anseios, pensamentos e aspirações são signilicantes. Igualmente, existe uma ênfase no valor da pessoa como indivíduo. Desde o movimento renascentista, pensadores de várias convicções têm sido chamados, bem como se autodenominado, humanistas, havendo entre eles muitos cristãos. João Calvino (1509-1564), Desidério Erasmo (1456-1536), Edmund Spenser (1552?-1599), William Shakespeare (1564-1616) e John Milton (1608-1674), os quais, sem exceção, escreveram em uma cosmovisão teísta cristã, eram

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humanistas, sendo, hoje em dia, algumas vezes, chamados de humanistas cristãos. A razão para essa designação é pelo fato de eles enfatizarem a dignidade humana, não contra Deus, mas como derivada da imagem de Deus em cada pessoa. Hoje, há muitos pensadores cristãos que desejam sobremaneira preservar a palavra humanismo de ser associada às formas puramente seculares, que eles assinaram um manifesto humanista cristão (1982), declarando que os cristãos sempre afirmaram o valor dos seres humanos. 42

Os princípios do humanismo secular estão bem expressos no Manifesto Humanista II. O humanismo secular é uma forma do humanismo que é totalmente estruturada dentro da cosmovisão naturalista. É justo afirmar, creio eu, que a maioria que se sente confortável dentro do rótulo "humanista secular" encontrará suas visões retratadas nas seis proposições anteriores. Em outras palavras, os humanistas seculares são simplesmente naturalistas, embora nem todos os naturalistas sejam humanistas seculares. 43

Nat uralismo na prát i ca: marxismo A partir da última parte do século XIX, umas das formas de naturalismo com maior relevância histórica tem sido o matxismo. No entanto, a prosperidade do marxismo tem decrescido ao longo dos anos; o colapso do comunismo no leste europeu, bem como na antiga União Soviética, resultou apenas em alguns poucos países "oficialmente" marxistas. Não obstante, durante grande parte do século X X , uma enorme área do globo foi dominada pelas ideias semeadas 44

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pelo filósofo Karl Marx (1818-1883). Nos tempos atuais, embora como ideologia, o comunismo aparente estar enfraquecido, inúmeras ideias de Marx se mantêm influentes entre cientistas sociais e outros intelectuais no Ocidente. Mesmo na Europa Oriental, os antigos comunistas, ainda que comedidos e professando um compromisso com a democracia, parecem estar realizando um retorno ao cenário político. É difícil expressar com brevidade uma definição sobre o marxismo, devido à existência de diferentes tipos de "marxistas". Enormes distinções podem ser encontradas entre as teorias marxistas de diversos tipos, variando desde pensadores humanistas e, de alguma forma, devotados à democracia, até "stalinistas" do tipo linha-dura, que associam o marxismo com o totalitarismo. Há outra grande diferença entre as teorias marxistas de todos os tipos e a realidade da prática marxista na antiga União Soviética, bem como em outros lugares. Em teoria, supõe-se que o marxismo beneficie a classe trabalhadora, capacitando-a a obter o controle económico sobre a sua própria vida. Na realidade, porém, a rigidez burocrática da vida sob o comunismo levou a uma estagnação económica, bem como à perda da liberdade pessoal. 45

Apesar de o marxismo reivindicar ser uma teoria científica (tal como no nome "socialismo científico"), em geral, essa reivindicação não tem sido aceita. De inúmeras maneiras, é mais útil pensar no marxismo como um tipo de humanismo, ainda que a maioria dos humanistas não seja, claro, marxista. Embora o humanismo marxista possua lemas caracteristicamente seus, o marxismo e o humanismo

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secular, como formas de naturalismo, compartilham muitas suposições. Evidentemente, todas as formas de marxismo têm suas origens concentradas nos escritos de Karl Marx. A questão quanto aos "verdadeiros herdeiros" de Marx é acuradamente disputada, porém, os marxistas mais humanistas podem, decerto, referir-se a alguns temas importantes nos escritos de Marx. Em um de seus primeiros ensaios, ele claramente afirma que "o homem é o ser supremo para o homem". Foi a partir desse tema humanista que Marx deduziu seu imperativo revolucionário para a "destruição de todas aquelas condições sob as quais o homem é um ser humilhado, escravizado, abandonado e desprezível". 46

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Karl Marx chegou ao seu humanismo por meio de um encontro com dois importantes filósofos do século X I X : Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1830) e Ludwig Feuerbach (1804-1872). Afilosofiade Hegel era uma forma de idealismo que ensinava a noção de que Deus ou "espírito absoluto", não é um ser distinto do mundo, mas uma realidade que se encontra em progressiva compreensão de si mesmo no mundo concreto. Para Hegel, tal processo é dialético em sua natureza, isto é, ele progride através de conflitos nos quais cada compreensão do espírito evoca seu próprio "antagonista" ou "negação". Desse conflito, emerge uma compreensão ainda mais elevada do espírito, que, por seu turno, evoca sua negação e assim por diante. Em essência, essafilosofiaé umafilosofiaaltamente especulativa da história. Para o filósofo, o mais elevado veículo de expressão do espírito era a sociedade humana, em particular, as modernas

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sociedades quefloresciamnos estados capitalistas da Europa Ocidental, no século X I X . Já Feuerbach era um materialista que ficou famoso por afirmar que os seres humanos "são o que comem", e que a religião é uma invenção humana. Conforme sua visão, Deus é uma projeção da potencialidade do homem, uma expressão de nossos ideais inalcançáveis. A religião age de maneira perniciosa, pois ao inventarmos Deus, nos devotamos a agradar essa nossa construção imaginária, ao invés de trabalharmos para superar as deficiências que resultaram em sua invenção, em primeiro lugar. Feuerbach estendeu a sua crítica da religião ao idealismo filosófico de Hegel, enxergando no conceito de "espírito" concebido por Hegel outra projeção humana, ou seja, uma versão levemente secularizada do Deus cristão. Marx aceitou cabalmente a crítica de Feuerbach à religião, resultando na presença do ateísmo na grande maioria das diversas formas de marxismo, até os dias atuais. Entretanto, ele foi impactado pelo fato de que se as críticas de Feuerbach a Hegel estivessem corretas, então a filosofia de Hegel ainda poderia conter a verdade. Se o conceito de espírito de Hegel é apenas uma projeção equivocada da nossa realidade humana, então o processo dialético descrito por ele pode ser real, tal como um filme que, ao ser projetado, pode fornecer um retrato da realidade que foi filmada. É necessário apenas "virar Hegel ao contrário", convertendo a conversa idealista de Hegel sobre espírito em conversa materialista de seres humanos reais. Ao compreendermos que em Hegel estamos vendo uma projeção, ou "filme", podemos interpretar essa visão de

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um modo que a torne verdadeira. A história tem progredido mediante o conflito no qual as partes envolvidas criam os seus próprios antagonistas, e essa série de conflitos históricos vai "para algum lugar". O alvo da história é uma sociedade humana perfeita ou ideal, porém, é equivocado e confuso chamar tal sociedade de "espírito". Marx se autodenomina materialista e, de certo modo, ele certamente o é. Apesat disso, Marx raramente fala sobre matéria, e o seu materialismo é histórico e dialético. Primariamente, é uma doutrina sobre a história humana, vendo tal história como uma série de lutas dialéticas, onde fatores económicos constituem os determinantes primários. Uma vez que os seres humanos são materiais, suas vidas devem ser compreendidas em termos da necessidade de trabalhar para satisfazer as suas necessidades materiais. Marx acreditava que a história humana tenha principiado com comunidades humanas relativamente diminutas, organizadas em tribos familiares. A propriedade privada é desconhecida; um tipo de comunismo primitivo ou natural assegura a identificação dos indivíduos com a comunidade como um todo, embora tais comunidades sejam pobres e incapazes de fornecer condições para que seus integrantes prosperem. A medida que as sociedades se desenvolvem tecnologicamente, gradualmente ocorre uma divisão de trabalho. Algumas pessoas na sociedade controlam as ferramentas ou recursos dos quais a sociedade depende; isso lhes propicia poder para explorar os demais. Portanto, as classes sociais surgem, como resultado da divisão de trabalho e do consequente controle sobre os meios de produção.

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Para Marx, as classes sociais são os antagonistas dialéticos gb liistória ao invés das realidades espirituais de Hegel. Para lie, a história consiste na luta de classes. A partir do legado (Us sociedades primitivas, o domínio das sociedades sempre i' IH estado nas mãos dos que controlam os meios de produção. O processo pelo qual são criados os bens materiais Que a sociedade demanda é a chave para compreendê-la. Tal pro< esso é chamado por Marx como a "base" da sociedade. Um sistema particular de produção de bens materiais, tal Como uma agricultura feudal ou o capitalismo industrial, produzirá uma estrutura de classe particular. Por seu turno, iquela estrutura de classe depende do que Marx chamou de u|)crestrutura" da sociedade: arte, religião, filosofia, moralidade e, o mais importante, as instituições políticas. As mudanças sociais acontecem quando um sistema de I'indução "dialeticamente" promove o surgimento de um Bovo sistema. A nova base económica "nasce" dentro do VI IH te da superestrutura. As classes sociais dominantes da H n iga ordem tentam manter o poder por mais tempo possíyeli valendo-se do estado para manter a sua posição. Pouco ,i pouco, entretanto, o novo sistema económico e a classe I nu igente tornam-se cada vez mais poderosos. Como resuli .iclo, temos uma revolução na qual a antiga superestrutura I iubstituída em favor de uma nova ordem política e social Que melhor reflete a ordem económica subjacente. A história do capitalismo claramente ilustra essas verdades, •< l acordo com Marx. As sociedades feudais da Idade Média ili 1.1111 lugar à moderna sociedade industrial, que constitui o posto dialético. Por longo período, a aristocracia feudal

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tentou preservar o seu poder, porém, na Revolução Francesa, Marx viu o triunfo da nova classe média, que controlou os meios de produção da sociedade capitalista. Não obstante, algumas forças dialéticas que levaram ao capitalismo também concorrerão para a sua destruição, pois o capitalismo demanda um grande contingente de trabalhadores sem propriedades, o proletariado, para explorar. Conforme a compreensão de Marx, as dinâmicas económicas do capitalismo, necessariamente, conduzirão a uma sociedade na qual o proletariado será cada vez mais numeroso e, por conseguinte, mais e mais explorado. As sociedades capitalistas tornam-se crescentemente mais produtivas, porém, a distribuição da riqueza é cada vez menos abrangente. Com o passar do tempo, essa concentração de riqueza leva a uma sociedade na qual se produz mais do que o poder de compra da população; a superprodução resulta no desemprego e em mais sofrimento. Porfim,o proletariado se vê forçado a promover uma revolta. Para Marx, a revolta do proletariado será diferente de qualquer outra revolução anterior. No passado, uma classe social oprimida subjugava a classe opressora, tornando-se ela o opressor. O proletariado, enttetanto, será a maioria, não a minoria. Essa classe social não tem o interesse de manter a antiga ordem de coisas, de modo que um de seus alvos é abolir todo e qualquer sistema que inclua a opressão de classes. A abundância material criada pela tecnologia moderna torna esse objetivo uma possibilidade real e concreta, pela primeira vez na história da humanidade, uma vez que, sem tal abundância, a luta, a competição e a opressão inevitavelmente reapareceriam sob novas formas.

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A nova sociedade sem divisão de classes que emergirá tornará possível o que os marxistas denominam de "o novo indivíduo socialista". Supostamente, as pessoas serão menos individualistas e competitivas, mais aptas a encontrar satisfação no trabalho para favorecer a outros. A "alienação" de todas as sociedades anteriores será superada, e uma nova e superior forma de vida humana nascerá. Essa visão é, de muitas maneiras, paralela à visão cristã da vinda do reino de Deus e, portanto, torna-se fácil perceber por que alguns têm caracterizado o marxismo como uma heresia cristã. Pode-se facilmente ver por que essa visão de Marx atraiu tantos por tanto tempo. Ele possuía uma profunda compreensão da necessidade humana por uma genuína comunidade e por satisfação no trabalho. Igualmente, era sensível não apenas aos problemas da pobreza, mas à perda de dignidade que ocorre quando seres humanos são vistos meramente como engrenagens de uma enorme máquina industtial. Ele almejava uma sociedade na qual as pessoas podiam criativamente expressar a si mesmas por meio do trabalho e ver nele uma oportunidade de ajudar os outros, bem como a si mesmas. De maneira alguma é possível afirmar que, em determinado momento, condições transformadoras não reacenderão o interesse por Marx. Alguns teóricos, por exemplo, preocupam-se pelo fato de haver, nos Estados Unidos, um crescente vazio entre a elite económica e a grande massa de pessoas que se encontram economicamente estagnadas, e que essa crescente desigualdade possa tornar as teorias marxistas relevantes novamente.

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Por outro lado, existem também questões difíceis que Marx não respondeu de maneira convincente. Claro que um conjunto de questões cruciais lida com a realidade da vida sob o comunismo. Como pode uma teoria que parece tão comprometida com a liberação humanista produzir a desumanização e opressão vista no stalinismo? Certamente, parte da resposta repousa nas mudanças que Vladimir Lênin introduziu ao marxismo. Karl Marx previu que o socialismo se desenvolveria nas sociedades mais avançadas economicamente, como Inglaterra e Estados Unidos; e ele depositava pouca fé na possibilidade de o socialismo se estabelecer em um país pouco desenvolvido como a Rússia. Lênin acreditava que se a sociedade fosse rigidamente controlada por um partido comunista monolítico, isso compensaria o atraso económico. Assim, muitos marxistas ocidentais se renderam ao argumento do "socialismo democrático" de que o estilo comunista-leninista era uma forma herética do marxismo e que as próprias ideias de Marx jamais foram consideradas. Não obstante, mesmo se alguém ignorar a realidade da vida sob o controle comunista e os horrores do Gulag, há muitos aspectos nos quais as ideias marxistas parecem vulneráveis. Uma preocupação crucial é sua crença de que a história humana está se movendo rumo a uma sociedade ideal. Ao abandonar qualquer crença religiosa na providência, bem como na crença de Hegel no espírito absoluto como subjacente à história, Marx despiu-se de qualquer base real para alimentar tal expectativa, fundamentando a sua própria esperança no estudo empírico da história, em particular, em sua análise das forças económicas. Entrementes, muitas das

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predições de Marx, como a sua afirmação de que os trabalhadores em países capitalistas avançados tornar-se-iam cada vez mais empobrecidos está longe de se concretizar. Pode algum cientista social, marxista ou não, prever com exatidão o futuro? Um segundo problema para Marx diz respeito à nossa motivação ao trabalho, visando a futura sociedade, em especial, quando reconhecemos que essa sociedade é absolutamente inevitável. Por que deveria trabalhar em prol de uma sociedade melhor e tentar exterminar a exploração social? Marx rejeita qualquer valor moral como base para tal motivação. Como naturalista, ele entende a moralidade apenas como um produto da cultura humana. Não há valores transcendentais que possam ser usados como base para avaliar a cultura de maneira crítica. Ainda assim, Marx vê a si mesmo imbuído de indignação moral ao ver os excessos do capitalismo. Que base Matx utiliza para condenar o capitalismo se tais noções morais como "justiça" e "igualdade" são apenas invenções ideológicas? Dois problemas finais graves para Marx repousam em sua visão da natureza humana, bem como em sua análise do problema fundamental do homem. Para ele, os seres humanos são fundamentalmente auto-criativos; criamos a nós mesmos por meio de nosso trabalho. Quando nossa labuta ou atividade de vida é alienada, nós nos tornamos alienados, porém, quando nosso trabalho torna-se verdadeiramente humano, igualmente seremos humanos. A ganância, a competição e a inveja emergirão em função das divisões sociais e da pobreza; uma sociedade ideal exterminará esses males.

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A questão é se a visão de Marx quanto à natureza humana e sua análise do problema do homem vão fundo o suficiente. Realmente é plausível pensar que o egoísmo e a ganância são apenas produtos da escassez e da divisão de classes? É realmente possível tornar os seres humanos em seres fundamentalmente bons se tivermos o meio ambiente adequado para eles? Se olharmos tanto para as sociedades capitalistas quanto para as assumidamente socialistas, veremos que a história parece nos ensinar que os seres humanos são muito criativos em descobrir maneiras de manipular qualquer sistema em seu próprio e egoísta benefício. É possível que o problema com a natureza humana esteja mais profundamente arraigado do que supôs Marx. E isso pode expor outro problema com respeito à sua visão dos seres humanos: somos seres puramente materiais? Certamente, Marx estava correto em enfatizar o trabalho e os fatores económicos como elementos crucialmente importantes no processo de modelagem da sociedade humana, mas a vida humana vai além da economia. Por certo, muitos jovens nos países mais avançados economicamente lutam para encontrar propósito e significado para suas vidas. O marxismo, como todas as formas de naturalismo, enfrenta um período difícil na tentativa de prover tal significado e propósito para os seres humanos.

A persist ência do nat uralismo Ao contrário do deísmo, o naturalismo tem apresentado um grande poder de permanência. Concebido no século X V I I I ,

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ele se desenvolveu no século X I X , chegando à maturidade no século X X . Embora os sinais da idade estejam agora surgindo e os corneteiros pós-modernos sinalizem a morte da razão do iluminismo, o naturalismo ainda está muito vivo, pois domina as universidades, as faculdades e escolas secundárias. Isso fornece o quadro para a maioria dos estudos científicos; isso expõe o pano de fundo no qual a humanidade prossegue em sua luta para obter o valor humano, enquanto escritores, poetas, pintores e artistas, em geral, estremecem diante de suas implicações. Ele é visto como o grande vilão da vanguarda pós-moderna. Todavia, até o momento, nenhuma cosmovisão rival tem sido capaz de fazer-lhe frente, em que pese ser justo afirmar que o século X X forneceu algumas opções poderosas e o teísmo esteja experimentando um tipo de renascimento em todos os níveis da sociedade. 48

Mas, então, o que torna o naturalismo tão persistente? Existem dois motivos básicos. Primeiro, ele dá a impressão de ser honesto e objetivo. A pessoa é solicitada a aceitar apenas o que parece estar fundamentado em fatos e nos resultados seguros da investigação científica ou da erudição. Segundo, para um grande contingente de pessoas, o naturalismo parece coerente. Para elas, as implicações das premissas naturalistas são extensamente trabalhadas e consideradas aceitáveis. O naturalismo assume a inexistência de qualquer deus, espírito ou vida além-túmulo, vendo os seres humanos como formadores de valor. Muito embora tal noção não permita que sejamos considerados como o centro do universo por virtude de propósito, ela permite que nos coloquemos no centro, fazendo de nós e para nós algo de valor. Como

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afirma Simpson: "O homem é o animal mais elevado. O fato de ele ser o único capaz de fazer tal julgamento é, por si só, parte da evidência de que essa decisão é correta". Depende de nós, então, desenvolver as implicações da posição especial que ocupamos na natureza, controlando e alterando, o quanto possível, a nossa própria evolução. Tudo isso é deveras atraente. Se o naturalismo fosse realmente conforme é descrito, talvez devesse ser chamado não apenas de atraente ou persistente, mas de verdadeiro. Poderíamos, então, prosseguir em busca de suas virtudes e transformar o argumento deste livro em um tratado de nossos tempos. Contudo, muito antes do término do século XX, rachaduras começaram a surgir na estrutura. Os críticos teístas sempre encontraram falhas nela, jamais abandonando as suas convicções de que um Deus infinito e pessoal está por detrás do universo. Suas críticas podem ser ignoradas por serem consideradas pouco esclarecedoras ou meramente conservadoras, como se estivessem com receio de se lançarem nas inexploradas águas da nova verdade, porém, havia muito mais em ação além disso. Como veremos em detalhes no próximo capítulo, bem como no capítulo nove sobre o pós-modernismo, surgiram rumores de descontentamento dentro do campo dos próprios naturalistas. Os fatos nos quais o naturalismo foi fundamentado - a natureza do universo exterior, sua continuidade fechada de causa e efeito - não estavam em questão. O problema era a coerência. Teria o naturalismo nos fornecido uma razão adequada para nos consideramos dotados de valor? Únicos, talvez, porém, 4y

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os gorilas também são singulares, tal como cada categoria da natureza. O valor foi a primeira questão incómoda. Poderia um ser surgido ao acaso ter dignidade? Segundo, poderia um ser cujas origens eram tão "questionáveis" confiar em sua própria capacidade de conhecimento? i iazendo a questão para o âmbito pessoal: se a minha mente é adjacente ao meu cérebro, se "eu" sou apenas uma máquina pensante, como posso confiar em meu pensamento? Se a Consciência é um fenómeno consequente da matéria, talvez o surgimento da liberdade humana que apresenta a base para a moralidade seja um fenómeno resultante do acaso ou de uma lei inexorável. Talvez o acaso ou a natureza das coisas tenha apenas incutido em mim o "sentimento" de que sou livre, mas na verdade eu não sou. Essas e outras questões similares não surgiram fora da cosmovisão naturalista, mas são inerentes a ela. Os receios que tais questões alimentaram em algumas mentes levaram direi a mente ao niilismo, que tentarei chamar de cosmovisão, mas que na realidade é uma negação de todas as cosmovisões.

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Capítulo

cinco

MARCO ZERO

N i i l i sm o Se me despojasse desse casaco esfarrapado E seguisse livre ao poderoso céu ; Se n ada encontrasse lá Excet o u m vasto azul, Silen cioso e ign oran te, E en t ão? St ephen Crane, The Black Riders and O t hers Lines [O s cav aleiros negros e out ras linhas]

O

NIILISMO É MAIS U M SEN TIM EN TO que p r op r iam e n t e u m a

filosofia.

Sen do m ais pr eciso, o n i i l i sm o, de for m a

algu m a, é u m a filosofia, m as u m a n e gação dela, da possibilidade de con h ecim en t o e de t u do aqu ilo que possui valor .

A o avan çar par a a absolu t a n e gaç ão de t u d o, o n iilism o nega at é m esm o a r ealidade de su a p r ó p r i a exist ên cia. E m out r as

O u n i v e r so ao l ad o

palavr as, o n i i l i sm o é a n e ga ç ã o de t odas as coisas - con h ecim e n t o, ét ica, beleza, r ealidade. N o n i i l i sm o n e n h u m a afir m ação possu i validade; n ad a t em sign ificado. An t e s, t u do é gr at u it o, d isp e n sáve l, isto é, apen as exist e. Aqu eles que p er m an ecem

in sen síveis pelos sen t im en -

tos de desespero, an siedade e t é d io , associados ao n i i l i sm o , t alvez ach em difícil im agin ar qu e ele poder ia ser u m a "cosm o v i sã o " con sider ada c o m seriedade. M a s ele o é e m u i t o b em por t odo aquele que deseja com pr een d er os sécu los X X e X X I , a fim de exper im en t ar , ain d a que in d ir et am en t e, algo do n i i l i sm o com o u m a post u r a an t e a exist ên cia h u m a n a . A s galerias de arte m od e r n a est ão repletas de seus p r od u tos - com o se fosse possível falar de algo (objet os de ar t e) pr oven ien t es do n ada (ar t ist as qu e, se exist em , n egam o v alor su pr em o de su a p r ó p r i a exist ên cia). C o m o ver em os m ais adian t e, n e n h u m a arte é, n o fim das con t as, n iilist a, p o r é m algum as

p r ocu r am

in cor p or ar m u it as das car act er íst icas

n iilist as. O u r i n o l de por celan a c o m u m de M ar e e i D u c h a m p , en con t r ad o e m qu alqu er loja do gé n e r o , assin ado co m u m n om e fictício e r ot u lado com o "A Fo n t e ", con st it u i u m b o m pon t o de p ar t id a. A s p e ças de Sam u e l Beck et t , e m especial, Fim de jogo e Esperando Godot, são exem plos expon en ciais n a arte d r am át i c a . P o r é m , a arte n iilist a de Beck et t t alvez t en h a al c an ç ad o o seu auge e m Breath (Su sp ir o), u m a p e ç a de t r i n t a e cin co segun dos que dispen sa atores h u m an os. O ce n ár io é c o n st i t u í d o de u m a p i l h a de en t u lh o n o palco, i l u m i n a d a por u m a lu z que c o m e ç a a d i m i n u i r de in t en sidade, par a depois au m en t ar (m as jam ais plen am en t e) e, e n t ã o , regred ir at é a t ot al e scu r i d ão . N ã o h á palavr as, apen as u m ch or o

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Marco

z ero

"gr avado" n a aber t u r a d a p e ça, u m a in sp ir ação e e xp ir ação , e o m esm o lam en t o i n i ci al , en cer r an do a ap r e se n t ação. P ar a Beck et t , a v i d a é com o t al "su spir o". Dou glas Ad a m s, e m seus r om an ces c ó sm i c o s de

ficção

cien t ífica, r et r at a a sit u ação dos que b u scam n a ciên cia d a c o m p u t a ç ã o u m a respost a ao sign ificado do h o m e m . E m suas obr as, O guia do mochileiro do fim do universo,

das galáxias,

O restaurante

Vida, O universo e tudo o m ais, alé m de,

Até m ais, e Obrigado pelos peixes, Ad a m s n os con t a a h ist ór ia do u n iver so a p ar t ir do p on t o de vist a de qu at r o viajan t es do t em po que pegam car on a, in d o par a t r ás e par a fr en t e, pelo t em po e e sp aço in t er galáct ico, d a cr iação n o Big Bang à d e st r u ição do u n iver so. 1 N o decu r so d a h ist ór ia, u m a r aça de seres p an d im en sion ais e h iper in t eligen t es (n a ver dade, cam u n d on gos) desen volve u m com p u t ad or gigan t esco ("do t am an h o de u m a pequ en a cid ad e"), par a r espon der "A quest ão fu n d am e n t al d a vid a, do u n iver so e t u do o m ais". Esse com pu t ad or , a q u e m d e n o m i n a m de P en sam en t o P r ofu n d o, leva sete m i l h õ e s e m e io de an os n os cál cu l o s. 2 "P or sete m ilh ões e m eio de an os, Pen sador P r ofu n d o com p u t ou e calcu lou e, por fim, an u n ciou que a resposta de fato era 4 2 - assim ou t r o com pu t ad or ain da m aior teve que ser con st r u íd o par a descobr ir qu al era a per gu n t a afin al. E esse com pu t ad or , que foi ch am ad o de Te r r a, er a t ão gr an de que fr equ en t em en t e er a con fu n d id o c o m u m plan et a — especialm en t e pelos est r an h os seres par ecidos com macacos que p e r am b u lavam por su a su p er fície, t ot alm en t e ign or an t es do fato de que sim plesm en t e faziam par t e de u m gigan t esco p r ogr am a de com pu t ad or .

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O u n i v e r so ao l ad o

O que é m u i t o est r an h o, pois sem o con h e cim e n t o desse fato b ási co e r azoavelm en t e ó b v i o , n ad a do que acon t ecia n a Te r r a pod er ia fazer o m e n o r sen t ido. In felizm en t e, p o r é m , pou co an tes do m o m e n t o cr ít ico da c o n c l u são do pr ogr am a e leit u r a do r esu lt ado, a Te r r a foi in esper adam en t e d em olid a pelos Vogon s par a dar lu gar — er a o qu e alegavam - a u m a v i a expressa estelar, e assim qu alqu er e sp e r an ça de descobert a de u m sen t ido par a a v i d a se per deu par a sem pr e. O u era o que p ar e cia."3 A o final d a segu n da ob r a, os viajan t es do t em po descob r i r a m que a "q u e st ão e m si " ( A q u e st ão fu n d am en t al da vid a, do u n iver so e t u do o m ais) é "Q u a l o r esult ado de seis vezes n ove ". 4 Assi m , eles descobr em que t an t o a per gu n t a qu an t o a respost a são fú t eis. N ã o apen as 4 2 é u m a respost a sem sen t ido par a a q u e st ão do p on t o de vist a h u m a n o (d a per spect iva de p r o p ó si t o e sign ificad o), com o t a m b é m é m a t e m á t i c a das pior es. A m ais r acion al das d isciplin as u n iver sit ár ias foi r ed u zid a ao absu r do. Já n o final do t er ceir o v o l u m e , e n con t r am os u m a e xp l i c a ç ã o d a r azão p or qu e, p e r gu n t a e r espost a p ar ecem n ã o se en caixar u m a à ou t r a. P r ak , o per son agem que se su p u n h a con h ecer o sen t id o final, afir m a: " E u lam e n t o d izer - falou p or fim - que a p e r gu n t a e a r espost a sã o m u t u a m e n t e exclu sivas. P or l ó gi ca, o co n h e ci m e n t o de u m a im p e d e o co n h e ci m e n t o d a o u t r a. É i m p o ssí v e l qu e am bas p ossam ser con h ecid as n o m e sm o u n i v e r so ". 5 ( A q u i os est u dan t es de física p od e m det ect ar u m jogo c o m o p r i n c í p i o d a i n cer t eza de H e ise n b e r g, e m qu e a p o si ç ã o e o m o m e n t o de u m e lé t r on p od e m ser am b os con h ecid os, p o r é m n ã o c o m p r e cisão ao m e sm o t e m p o ).

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Marco

z ero

P or t an t o, pod em os saber as respostas, com o 4 2 , que n ad a sign ificam sem as q u e st õ e s. O u podem os ter as q u e st õ e s (que d ã o d ir e ção à n ossa b u sca), p o r é m n ã o podem os ter am bos. O u seja, n ã o podem os satisfazer n osso an seio pelo sign ificado

final.

Le r Sa m u e l Be ck e t t , Fr a n z Ka fk a ,

Eu ge n e

I on esco,

Joseph H e lle r , Ku r t Vo n n e gu t Jr . e, m ais r ecen t em en t e, Dou glas Ad a m s, é c o m e ç a r a sen t ir - se a l g u é m já n ã o se se n t iu assim e m n ossa d e p r im e n t e er a - a a n gú st i a do vazio h u m a n o , de u m a v i d a qu e é d espr ovid a de valor , de p r o p ó sit o, de sign ificad o. 6 M a s, com o a l gu é m sai do n at u r alism o par a o n iilism o? N ã o era o n at u r alism o a leit u r a i l u m i n a d a dos r esult ados gar an t idos

d a ciên cia e in ve st igação in t elect u al aberta?

C o m o c o sm o v i sã o , n ã o con fer ia aos seres h u m an o s a sua sin gu lar idade en t r e t odas as coisas n o cosmos? N ã o m ost r ava a d ign id ad e e o valor h u m an o? C o m o o áp i ce d a cr iação, os ú n icos seres au t ocon scien t es e au t odet er m in ados n o u n iver so, h om en s e m u lh er es d o m i n a m sobre t u d o, sã o livr es par a valor izar o que desejam , livr es at é m esm o par a con t r olar o fu t u r o de su a p r ó p r i a e volu ção. O que m ais a l gu é m poder ia alm ejar ? A m ai o r i a dos n at u r alist as se satisfaz e m finalizar a su a i n vest igação aqu i, pois, n a ver dade, n ã o qu er em ir al é m . P ar a eles, n ã o h á r ot a par a o n iilism o. N o en t an t o, par a u m gr an de n ú m e r o de pessoas, os result ados d a r azão n ão são t ão gar an t idos, o u n iver so fech ado est á se r est r in gin d o, a n o ç ã o de m or t e com o e xt in ção é psicologicam en t e per t u r bad or a, n ossa p o si ç ã o com o o ser m ais

113-

O u n i v e r so ao l ad o

elevado da cr iação é vist a ou com o u m a alien ação do u n i ver so ou com o u m a u n i ão c o m ele de m od o que n ão t em os m aior valor que u m seixo n a pr aia. N a ver dade, os seixos "v i v e m " m ais! Q u e pon t es levam de u m n at u r alism o que afir m a o valor da v i d a h u m a n a par a u m n at u r alism o que n ão o faz? C o m o exat am en t e su r giu o n iilism o? O n iilism o n ão su r giu por qu e os t eíst as e deíst as descon sider ar am o n at u r alism o, pois o n iilism o é filho n at u r al desse.

A p r i m ei r a p o n t e: n ecessi d ad e e acaso A p r i m e i r a e m ais b ásica r azão par a o n iilism o pode ser en con t r ad a n as i m p l i caçõ e s dir et as e lógicas das p r o p o si ç õ e s p r i m ár i as do n at u r alism o. Per ceba o que acon t ece ao con ceito da n at u r eza h u m a n a qu an d o a l gu é m con sider a ser iam en t e as n o ç õ e s de que (1) a m at é r ia exist e et er n am en t e e é t u d o o que h á, e que (2) o cosm o oper a c o m u m a

u n ifor m id ad e

de cau sa e efeito e m u m sist em a fech ado. Isso sign ifica que o ser h u m a n o é par t e de u m sist em a. M u i t o em b or a possam n ão com pr een d er as i m p l i caçõ e s par a a liber dade h u m an a , os n at ur alist as con cor d am , com o vim os n a p r o p o si ç ã o 3 do cap í t u l o qu at r o: Os seres humanos

são máquinas

cuja personalidade

é uma inter-relação

cas e físicas ainda

não totalmente

complexas

de propriedades

compreendidas.

quími-

Niet zsch e,

en t r et an t o, d á o b r aço a t or cer e r econ h ece a per da d a dign idade h u m an a: Se alguém fosse onisciente, seria capaz de calcular cada ação in dividual [humana] antecipadamente, cada passo no progresso do conhecimento, cada erro, cada ato de malícia.

114

Marco

z ero

Sem dúvida, o h omem atuante é surpreendido em sua ilusão de vontade; se a roda do mun do tivesse que parar, ainda que por u m momen to, e uma mente onisciente e calculista estivesse lá para aproveitar-se dessa in terrupção, ela seria capaz de relatar o futuro lon gín quo de cada ser e descrever cada giro que a roda dará. O delírio do h omem sobre si mesmo, sua suposição de que o livre-arbítrio existe, t am bém faz parte do mecanismo de cálculo. 7 A i n d a assim , m u it os n at u r alist as t e n t am sust en t ar

a

liber dade h u m a n a e m u m sist em a fech ado. O ar gu m en t o deles segue essa lin h a. To d o even t o n o u n iver so é pr ovocado por

um

estado an t er ior de

at ividades, in clu in d o- se a

fo r m a ç ã o gen ét ica, a c o n d i ç ã o am b ie n t al de cada pessoa e at é m esm o os seus an seios e von t ades pessoais. P o r é m , cada pessoa é livr e par a expressar t ais desejos e von t ades. Se e u t en h o von t ade de com er u m san d u í c h e e h á u m a lan ch on et e logo al i , n a esqu in a, posso escolh er c o m ê - l o . Se o m e u desejo é r ou b ar o san d u í c h e qu an d o o d on o n ã o est iver olh an d o, posso fazê- lo. N a d a r est r in ge m i n h a escolh a. So u eu q u e m d e t e r m in a as m in h as p r óp r ias ações. P or t an t o, os seres h u m an o s que são ob viam en t e au t o- con scien t es e, ao que par ece, au t od et er m in ad os,

p od em

agir de m od o sign ificat ivo e ser con sider ados r esp on sáveis p or seus atos. Pelo r ou bo do san d u í ch e posso ser preso e obr igado a c u m p r i r a p en a r espect iva. M a s, as coisas são sim ples assim? M u i t o s pen sam que n ã o . A q u e st ão da liber dade h u m a n a é m ais pr ofu n d a que a visão dos n at u r alist as. P or cer t o, posso fazer t u d o aqu ilo qu e desejo, m as o que eu qu er o é r esult ado de sit u açõe s

115

O u n i v e r so ao l ad o

passadas, sobre as qu ais, n o fim das con t as, n ã o exer ço con t r ole algu m . E u n ã o escolh i livr em en t e a m i n h a fo r m a ç ão ge n é t ica p ar t icu lar o u m e u am bien t e fam iliar or igin al. A o t em po que in d agu ei se er a livr e par a agir con for m e desejasse, já estava t ão m old ad o pela n at u r eza e pela m i n h a e d u c a ç ã o que o p r ó p r i o fato de a q u e st ão ter su r gido e m m i n h a m e n te foi d et er m in ad o. Ist o é, o m e u eu foi d et er m in ad o por for ças ext er n as. Posso, de fat o, fazer tais qu est ion am en t os, eu posso agir de acor do c o m m in h as von t ades e desejos e posso par ecer a m i m m esm o livr e, p o r é m isso é só ap ar ê n cia. Niet zsch e est á cer t o: " O d elír io do h o m e m sobre si m esm o, su a su p o si ç ão de que o livr e- ar bít r io exist e, t a m b é m faz parte do m ecan ism o de cálcu lo". O

pr oblem a é que se o u n iver so for ver dadeir am en t e

fech ado, en t ão a sua at ividade pode apen as ser gover n ada por den t r o. Q u alqu er for ça que atue par a m odificar o cosm o, seja e m que n ível for (m icr oscóp ico, h u m an o o u m acr o scó p i co ), faz parte do p r óp r io cosm o. P or t an t o, par ecer ia h aver u m a única explicação par a as m u d a n ç a s: o estado de coisas at u al deve gover n ar o estado fu t u r o. E m out ras palavr as, o presen te deve causar o fu t u r o que, por seu t u r n o, deve pr ovocar o p r óxi m o fu t u r o, e assim por dian t e. A o b je ç ã o de que e m u m u n iver so ein st en ian o de t em po- r elat ividade é im p ossí ve l defin ir a sim u lt an eid ad e, e que ligações causais são im p ossíve is de pr ovar n ã o é o pon t o aqu i. N ã o estamos falan do sobre com o os even t os est ão ligados u n s aos ou t r os, apen as obser van do que eles est ão con ect ados. Even t os ocor r e m e m c o n se q u ê n c i a de ou t r os even t os ocot r idos an t es. To d a e qu alqu er at ividade n o u n ivet so est á

• 116-

Marco

z ero

con ect ada dessa for m a. Talvez n ã o n os seja p ossível con h ecer qu ais são essas co n e xõ e s, m as a pr em issa de u m u n iver so fech ado n os for ça a con clu ir que elas t ê m de exist ir . A l é m do m ais, h á e vid ê n cias de que tais co n e xõ e s r ealm en t e exist em , pois p a d r õ e s de even t os são p er cep t íveis, sen do que algu n s even t os p od em ser pr evist os do pon t o de vist a de t em po terrestre quase que c o m absolu t a p r ecisão. Por exem p lo, é possível pr ever c o m e xat id ão qu an d o e on de o p r ó x i m o eclipse ocor r er á. P ar a cada eclipse a ocor r er n os p r ó x i m o s qu in ze sécu los é possível pr ever e rast rear a som br a exat a, n o t em po e e sp aço , sobre a su p er fície d a t er r a. A m ai o r i a dos even t os n ão pode ser pr evist a, m as pressu p õ e - se que

a im p r evisib ilid ad e existe apen as

por qu e

todas as var iáveis e suas in t er - r elações n ã o são con h ecidas. De t e r m in ad os even t os são m ais pr evisíveis que ou t r os, por ém n e n h u m é incerto. C a d a even t o deve v i r a ser. E m u m u n iver so fech ado, a possibilidade de algu m as coisas n ecessit ar em n ã o ser, de m od o que out r as sejam p ossíveis, n ão é possível. Pois a ú n i c a m an e ir a de ocor r er u m a m u d a n ça é por m eio de u m a for ça e m m o v im e n t o par a causar t al m u d a n ç a , e a ú n i ca m an e ir a de essa for ça su r gir é se ela for m o v i d a por ou t r a for ça, ad infinitum.

N ã o h á r u pt u r as n essa

cadeia, d a et er n idade passada à et er n idade fu t u r a, par a t odo o sem pr e, a m é m . P ar a u m a pessoa c o m u m , o d e t e r m in ism o n ã o parece ser p r ob lem a. E m ger al, per cebem o- n os com o agen tes livr es, p o r é m a n ossa p e r c e p ç ão é u m a ilu são. Apen as n ã o sabemos qu al a "cau sa" que n os le vou a decidir . Al go o fez, clar o, mas sen t im os que foi n ossa liber dade de escolh a. Essa p e r ce p ção

• 117 •

O u n i v e r so ao l ad o

de liber dade - se a l gu é m n ã o pen sa m u i t o em suas im p licações - é su ficien t e, pelo m en os de acor do c o m algu n s. 8 E m out r as palavr as, e m u m u n iver so fech ado, a lib er d ade deve ser u m a determinável

desconhecida, e par a os qu e

r eflet em sobre suas i m p l i caçõ e s, n ã o bast a apen as p e r m it ir a a u t o d e t e r m i n a ç ã o o u a r espon sabilidade m or al . Se r ou bei u m ban co, e m ú l t i m a an álise, isso ocor r eu d evid o à ação de for ças in exor áveis (em b or a im p e r ce p t í ve is), in flu en cian d o as m in h as d ecisões de t al m od o que eu n ã o poder ia con sider ar tais d ecisões com o m i n h as. Se essas d ecisões n ã o são m i n h as, n ão posso ser con sider ado r esp on sável p or elas. E esse ser ia o caso c o m respeito a cada ação pessoal. Assi m , u m ser h u m a n o é u m m er o elem en t o da m aq u i n ar ia, u m b r in qu ed o — m u i t o com p licad o e com p lexo, m as u m b r in qu ed o de for ças có sm i cas im pessoais. A au t ocon sciên cia da pessoa é apen as u m e p i fe n ô m e n o , apen as par t e d a m aq u in ar ia olh an d o par a si m esm a. P o r é m , con sciê n cia é apen as par t e do m e can ism o; n ão exist e o "e u " for a dela. N ã o h á "ego" que possa se colocar con t r a o sist em a e m a n i p u l á - l o con for m a su a von t ad e A su a "von t ad e" é a von t ade do cosm o. Nesse qu ad r o, a p r o p ó si t o , t emos u m a excelen t e d e scr ição dos seres h u m an os con for m e a visão do p si có l o go com p or t am e n t al B. E Sk in n er . P ar a p r om over m u d a n ç a s n as pessoas, d iz ele, m u d e o am b ien t e delas, as co n t i n gê n ci as sob as qu ais elas agem , as for ças at uan t es sobre elas. A pessoa deve r espon der n a m e sm a m oeda, pois, n a visão de Sk in n er , cada pessoa é apen as reagen te: " U m a pessoa n ã o age n o m u n d o , m as o m u n d o é qu e age sobr e ela". 9

118 •

Marco

z ero

O s n iilist as seguem esse ar gu m en t o, que agor a pode ser expresso br evem en t e: O s seres h u m an os são m á q u i n a s con scien t es sem a capacidade de afetar os seus p r ó p r i o s dest in os o u r ealizar algo sign ificat ivo; p or t an t o, os seres h u m an os co m o seres de valor e st ão m or t os. A vid a deles é o "fô l e go" da p e ça de Beck et t , n ão a v i d a que De u s "sop r ou " n o p r im e iro h o m e m , n o ja r d i m do Ed e n (Gé n e sis 2 . 7 ) . Talve z o cu r so de m e u ar gu m en t o t en h a sido m u it o r ápid o. Se r á que esqueci algu m a coisa? Al gu n s n at u r alist as cer t am en t e d i r i am que si m . Eles d i r i am que m e equ ivoqu ei qu an d o disse que a ú n ica e xp licação par a a m u d a n ç a é a con t in u id ad e de cau sa e efeit o. Por exem plo, Jacqu es M o n o d at r ib u i todas as m u d a n ç a s b ásicas - cer t am en t e, o su r gim en to de algo gen u in am en t e n ovo, ao acaso. E os n at u r alist as ad m i t e m que n ovas coisas v ê m a exist ir at r avés de in con t áveis t r ilh ões: cada et apa n a escala e volu cion ár ia do h i d r o gé n i o , car b on o, oxigé n io , n i t r o gé n i o e assim por dian t e e m associação livr e at é a fo r m a ç ão de a m i n o á c i d o s com plexos e ou t t os blocos b ásicos for m ador es de vid a. A cada ciclo, e isso foge ao n osso cálcu lo - o acaso in t r o d u zi u a n ovidade. En t ã o , a n ecessidade, ou o que M o n o d ch am a de "a m aq u in ar ia da in var iân cia", en t r ou e m ação e d u p licou o p a d r ã o de acaso p r od u zid o. P au lat in am en t e, ao lon go de m u it as eras e por m eio d a c o o p e r aç ão en t r e o acaso e a n ecessidade, a vid a celular , a vid a m u lt icelu lar , o r ein o veget al e an i m al e os seres h u m an os su r gi r am . 1 0 Logo, o acaso é ofer ecido com o o gat ilh o que levou ao su r gim en t o da h u m an id ad e . M a s, o que é o acaso? O u o acaso é a in exor ável p r op en são de a r ealidad e acon t ecer co m o acon t ece, ap ar en t an d o

119-

O u n i v e r so ao l ad o

ser ao acaso por qu e n ã o con h ecem os a r azão pelo qu e acon t ece (d an d o o n o m e de acaso à n ossa i gn o r â n c i a das for ças do d e t e r m i n i sm o ), o u ele é ab solu t am en t e i r r a c i o n a l . " N o p r i m e i r o caso, o acaso apen as é o d e t e r m i n i sm o descon h e cid o e n ã o lib er d ad e de m a n e i r a algu m a. N a segu n d a alt er n at iva, o acaso n ã o é u m a e xp l i c a ç ã o , m as a a u sê n c i a d e l a . 1 2 U m even t o ocor r e. N e n h u m a cau sa pod e ser det er m i n a d a . Est e é u m even t o ao acaso. N ã o apen as t al even t o p od e r ia n ã o t er acon t ecid o, co m o su a o c o r r ê n c i a p od er ia jam ai s ser esper ada. A ssi m , e m b o r a o acaso p r o d u za a apar ê n cia de lib er d ad e, n a r ealidade, ele i n t r o d u z o absu r d o. O acaso é sem cau sa, sem p r o p ó si t o e sem d i r e ç ã o . 1 3 É u m in esper ado gr at u it o — gr at u id ad e e n car n ad a e m t em p o e e sp a ç o . Tod avia, com o afir m a M o n o d , o acaso i n t r o d u z i u u m e m p u r r ã o n o t em po e n o e sp aço e m u m a n ova d ir e ção. U m even t o ao acaso n ã o possu i u m a causa, m as é, e m si m esm o, u m a causa, sen do agor a u m a par t e in t egr al do u n iver so fech ado. O acaso abre o u n iver so n ã o par a a r azão, o sen t ido e o p r o p ó si t o , m as ao absu r do. Re p e n t in am e n t e , n ã o sabemos on de est amos, n ã o som os m ais u m a flor n o t ecido sem cost u r a do u n iver so, m as u m a ver r u ga ocasion al n a pele lisa do im pessoal. O

acaso, e n t ão , n ã o for n ece ao n at u r alist a o que é

n ecessár io par a u m a pessoa ser t an t o au t ocon scien t e qu an t o livr e, p o r é m apen as p er m it e que a l gu é m seja au t ocon scien t e e su jeit o ao cap r ich o. A ç ã o capr ich osa n ã o é u m a exp r essão livr e de u m a pessoa c o m car át et . Sim p lesm en t e é gr at u it a, sem u m a causa. P or d efin ição, a ação capr ich osa n ã o é u m a

120 •

Marco

z ero

resposta à a u t o d e t e r m i n a ç ão e, por t an t o, isso ain d a n os deixa sem u m a base par a a m or alid ad e . 1 4 T a l ação sim plesm en t e é. E m su m a: a p r im e ir a r azão par a o n at u r alism o t or n ar -se n iilism o é que o n at u r alism o n ã o for n ece u m a base sobre a qu al a pessoa pode agir de m od o sign ificat ivo. A o con t r ár io, ele n ega a possibilidade de u m ser au t odet er m in an t e que pode escolh er sobre a base de u m car át er au t ocon scien t e in at o. Som os m á q u i n a s - det er m in adas o u capr ich osas. N ã o somos pessoas dotadas de au t ocon sciê n cia e au t o d e t e r m i n ação .

A seg u n d a p o n t e: a g r an d e n u vem d o d esco n h eci d o A p r e ssu p o si çã o m et afísica de que o cosm o é u m sist em a fech ado possu i i m p l i caçõ e s n ã o apen as m et afísicas,

m as

t a m b é m e p i st e m o l ó gi cas. E m r esu m o, o ar gu m en t o é esse: se qu alqu er pessoa é o r esult ado de for ças im pessoais, seja su r gin do acid en t alm en t e o u por u m a lei in exor ável, essa pessoa n ã o possu i m eios de saber se o que ela con h ece é ver dadeir o o u ilu sór io. Vejam os com o isso ocor r e. O n at u r al i sm o su st en t a qu e a p e r c e p ç ã o e o co n h e ci m en t o são o u i d ê n t i co s ao cé r e b r o o u su b p r od u t os dele, su r gin d o a p ar t ir do fu n ci o n am e n t o d a m a t é r i a . Se m esse fu n ci o n am e n t o n ã o h ave r ia p en sam en t o. C o n t u d o , a m a t ér ia fu n c i o n a p or su a p r ó p r i a n at u r eza. N ã o h á r azão par a se pen sar qu e a m a t é r i a possu i qu alqu er in t er esse e m levar u m ser con scien t e à ver d ad eir a p e r c e p ç ã o o u a c o n c l u sõ e s lógicas (ist o é, cor r et as) baseadas n a o b se r v a ç ã o acu r ada e e m p r e ssu p o si ç õ e s ve r d ad e ir as. 1 5 O s ú n i c o s seres em t odo

• 121

O u n i v e r so ao l ad o

o u n iver so qu e se preocupam

c o m t ais assu n t os são os h u -

m an o s. M as as pessoas e st ão r est r it as aos seus cor pos. A su a c o n sc i ê n c i a su r ge de u m a c o m p l e xa in t e r - r e lação de m a t é r i a alt am en t e "or d en ad a". M a s, p or qu e essa m at é r i a, seja ela q u al for, t er ia c o n sc i ê n c i a de estar, de al gu m a for m a, r elacion ad a c o m o qu e r ealm en t e é o caso? Exi st e u m teste par a se d ist in gu ir a ilu são d a r ealidade. O s n at u r alist as ap o n t am par a os m é t o d o s da i n v e st i gação cien t ífica, dos testes p r a gm á t i c o s, e assim por d ian t e. P o r é m , t odos eles u t i l i z a m o cé r e b r o qu e e st ão t est an do. C a d a teste pode m u i t o b em ser u m exer cício in ú t il de p r olon gar a con sist ê n cia de u m a i l u são . P ar a o n at u r alism o n ad a exist e for a do p r ó p r i o sist em a. N ã o h á De u s - en gan oso o u n ã o , per feit o ou

im per feit o,

pessoal ou im pessoal. Som en t e exist e o cosm o, e os seres h u m an os são os ú n i co s seres con scien t es. Eles são os retard at ár ios. Eles "su r gir am ", mas h á qu an t o t em po? O s seres h u m an os p od e m con fiar e m suas m en t es, e m su a r azão? O p r ó p r i o Ch ar les D a r w i n afir m ou : "Sem p r e sur ge a t errível d ú v i d a se as con vicçõe s da m en t e h u m an a, que se desen volver am da m en t e de an im ais in fer ior es, possu em algu m valor ou são con fiáveis afin al. A l gu é m con fiar ia n a co n v icção da m en t e de u m m acaco, se é que h á qu alqu er co n v i cção e m t al m e n t e ? 1 6 E m ou t r as palavr as, se o m e u cér eb r o n ad a m ais é que o cér ebr o e v o l u í d o de u m m acaco, n ão posso n e m m e sm o ter a cer t eza de que a m i n h a p r ó p r i a t eor ia qu an t o à m i n h a or igem é con fiável. A q u i est á u m caso cu r ioso: Se o n at u r alism o de D a r w i n for ver dadeir o, n ão h á n e m m esm o com o estabelecer sua

122

Marco

z ero

cr ed ibilid ad e, qu an t o m ais p r ová- la. A con fian ça n a lógica é descar t ada. Assi m a p r ó p r i a t eor ia de D a r w i n sobre a or igem do h o m e m deve ser aceit a p or u m ato de fé. A l gu é m deve su st en t ar que u m cér eb r o, u m disposit ivo que su r giu at r avés d a seleção n at u r al e pat r ocin ad o por m u t a ç õ e s ao acaso, pode r ealm en t e saber a ver acidade de u m a p r o p o si ç ã o o u u m con ju n t o delas. C . S. Le w i s apr esen t a esse caso d a seguin t e for m a: Se tudo o que existe é Natureza, o grande evento entrelaçador sem pr opósit o, se nossas con vicções mais profundas são apenas subprodutos de u m processo irracion al, en t ão, claramente n ão existe o men or fundamento para supor que nosso senso de apt idão e nossa consequente fé n a un iformidade nos revelam algo sobre a realidade extern a a n ós mesmos. Nossas con vicções são simplesmente um fato sobre nós — como a cor de nossos cabelos. Se o n aturalismo é verdadeiro, n ão temos razão para confiar em nossas con vicções de que a Natureza é u n ifor m e. 1 7 O qu e n ecessit amos par a t al cer t eza é a exist ên cia de algu m "Esp í r i t o Ra c i o n a l " ext er n o, t an t o a n ó s qu an t o à n at u r eza, do qu al n ossa r acion alidad e poder ia der ivar . O teí sm o p r e ssu p õ e t al fu n d am en t o; o n at u r alism o n ão . N ã o só est amos en caixot ados pelo passado - n ossa or igem e m m at é r ia in con scien t e e i n an i m ad a - com o t a m b é m est amos en caixot ados pela n ossa at u al sit u ação com o pen sador es. Di gam o s que acabei de com plet ar u m ar gu m en t o do t ipo: "To d os os h om en s são m or t ais. Ar ist ót eles O n assis é h o m e m ; Ar ist ót eles O n assis é m o r t a l ". Essa é u m a co n cl u são d em on st r ad a, con cor da?

123 •

O u n i v e r so ao l ad o

Bem, como sabem os que a conclusão está certa? Sim p les. E u obedeci às leis d a lógica. Que leis? Como sabem os que elas são verdadeiras? Elas são au t oeviden t es. Afi n a l , qu alqu er pen sam e n t o o u c o m u n i c a ç ã o ser ia possível sem elas? Não. En t ã o , elas n ã o são ver dadeir as? Não

necessariam ente.

Q u alqu er ar gu m en t o c o n st r u í d o por n ó s i m p l i c a e m tais leis - aquelas clássicas de iden t idade, n ã o co n t r ad i ção e o m eio exclu d en t e. P o r é m , esse fato n ã o gar an t e a "ver acid ad e" dessas leis n o sen t ido de que n ad a do que pen sam os ou dizem os que obedecem- lh es n ecessar iam en t e se r elacion a ao que é assim n o u n iver so objet ivo e ext er n o. A l é m do m ais, qu alqu er ar gu m en t o par a ver ificar a validad e de u m ar gu m en t o é, e m si m esm o, u m ar gu m en t o que pode ser equ ivocado. Q u an d o c o m e ç a m o s a pen sar assim , n ã o estam os lon ge de u m regresso in fin it o; n osso ar gu m en t o t en t a alcan çar su a p r ó p r i a cau d a n os sem pr e r et r oat ivos cor r edor es d a m en t e. O u par a m u d ar a im agem , desor ien t am o- n os e m u m m ar de in fin id ad es. M a s n ã o est amos n os desvian do ao ar gu m en t ar con t r a a possibilidade de con h ecim en t o? Parecem os capazes de test ar n osso con h ecim en t o de u m a fo r m a qu e, e m ger al, n os satisfaz. Algu m as coisas que pen sam os con h ecer p od e m se revelar falsas o u , pelo m en os, m u i t o im p r ováve is com o, por exem p lo, que m i c r ó b i o s são gerados espon t an eam en t e do lodo t ot alm en t e i n o r gân i co . E t odos n ó s sabem os com o ferver águ a, aliviar n ossas coceir as, r econ h ecer n ossos am igos e dist in gu i- los den t r e a m u l t i d ã o . P r at icam en t e, n i n gu é m é u m n iilist a e p i st e m o l ó gi c o plen am en t e con vict o. N ã o obst an t e, o n at u r alism o n ã o per m it e

124

Marco

z ero

a u m a pessoa ter u m a só l i d a r azão par a con fiar n a r azão h u m a n a . Assi m , por t an t o, acabam os e m u m i r ó n i co par adoxo. O n at u r alism o, n ascido d u r an t e o I l u m i n i sm o , foi l an ç ad o sobr e u m a só l i d a ace it ação d a capacidade h u m a n a de con h ecer . Agor a, os n at u r alist as descobr em que n ã o pod e m deposit ar su a co n fi an ça e m seu con h e cim e n t o. To d a a q u e st ã o en volven d o esse ar gu m en t o pode ser assim su m ar izad a: o n at u r alism o n os coloca com o

seres

h u m an o s e m u m a caixa. P o r é m , par a t er m os qu alqu er con fiança de que n osso con h ecim en t o sobre est ar mos den t r o de u m a caixa é ver dadeir o, pr ecisam os n os posicion ar for a da caixa o u receber essa i n fo r m a ç ã o de qu alqu er ou t r o ser for a d a caixa (os t e ó l o go s c h a m a m a isso de "r e ve lação"). O co r r e que n ã o h á n ada n e m n i n gu é m for a d a caixa par a n os for n ecer r evelação, e n ó s n ã o pod em os t r an scen der a caixa. P or con segu in t e, n i i l i sm o e p i st e m o l ó gi c o . O n at u r alist a que falh a e m per ceber isso é com o o h om e m n o poem a de St eph en Cr a n e : V i u m h omem perseguindo o h orizon te; Voltas e mais voltas e n un ca se en con travam. Isso me perturbava; Abordei o h omem. "Isso é fútil", disse, "Você jamais con segu ir á." "Você está enganado", ele gritou, E con t in uou corren do. 1 8 N a est r u t u r a n at u r alist a, as pessoas per seguem u m con h ecim en t o que sem pr e r ecu a dian t e delas. Jam ais podem os conhecer.

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O u n i v e r so ao l ad o

U m a das pior es c o n se q u ê n c i as de se levar a sér io o n iilism o e p i st e m o l ó gi c o é que isso t e m levado algu n s a qu est ion ar a p r ó p r i a fact icidade do u n i v e r so . 1 9 P ar a algu n s, n ada é r eal, n e m eles m esm os. A s pessoas que ch egam n esse estado est ão e m gran des apu r os, pois elas n ã o p od e m m ais fu n cion ar com o seres h u m an os. O u , com o dizem os c o m fr equ ên cia, elas su r t am . N o r m a l m e n t e , n ã o r econ h ecem os essa si t u a ç ã o co m o n i i l i sm o m e t afí si c o o u e p i st e m o l ó gi c o . A o c o n t r á r i o , n ó s a ch am am o s de esqu izofr en ia, a l u c i n a ç ã o , fan t asia, d evan eio o u vive r e m u m m u n d o ir r eal. E t r at am os a pessoa c o m o u m "caso", e o p r o b l e m a co m o u m a "d o e n ç a ". N ã o t en h o n e n h u m a o b je ç ã o , e m p ar t icu lar , c o m t al p r oce d im e n t o , pois r ealm en t e acr ed it o n a r ealidade de u m m u n d o ext er ior , que c o m p ar t i l h o c o m ou t r os e m m i n h a e st r u t u r a de t em p o e e sp a ç o . O s qu e n ã o con segu em r econ h ecer esse fato e st ão in cap acit ad os. P o r é m , en qu an t o p r i m ar i am e n t e pen sam os n essa si t u a ç ã o e m t er m os p si c o l ó gi c o s e en qu an t o e n viam os t ais pessoas a i n st i t u i çõ e s on d e algu n s as m a n t e r ã o vivas e ou t r os as a ju d a r ã o a r et or n ar de suas viagen s in t er ior es e volt ar à r ealidade, d e v e r í a m o s com p r een d er qu e algu n s desses casos ext r em os p od e m ser exem plos per feit os do qu e acon t ece q u an d o u m a pessoa n ã o m ais con h ece n o sen t id o c o m u m de co n h e ci m e n t o . É o est ado "ad equ ad o", o r esu lt ado l ó gi c o , d o n i i l i sm o e p i st e m o l ó gi c o . Se e u n ã o posso con h ecer , e n t ã o , qu alqu er p e r c e p ç ã o , son h o, i m a gem o u fan t asia t or n a- se igu alm en t e r eal o u ir r eal. A v i d a n o m u n d o c o m u m é baseada e m n ossa capacidade de fazer d i st i n ç õ e s. P er gu n t e ao h o m e m que acab ou de en golir u m

126

Marco

z ero

l í q u i d o i n co l o r qu e ele p e n sou ser á gu a , m as qu e n a ver d ade er a m e t an o l . A m ai o r i a de n ó s jam ais t e st e m u n h ou os "casos" ext r em os. Ele s são r apid am en t e in t er n ad os. P o r é m , exist em , e eu t en h o con h ecid o algu m as pessoas cu jas h ist ór ias são de ar r epiar . A m aior ia dos n iilist as e p i st e m o l ó gi c o s con vict os, en t r et an t o, r ecai n a classe descr it a por Rob e r t Far r ar Ca p o n , que sim plesm en t e n ão t em t em po a perder c o m tais t olices: O cético n un ca é real. Lá ele permanece, coquetel em uma das m ãos, br aço esquerdo languidamente apoiado sobre a quin a da lareira, dizendo a você que n ão tem certeza de coisa alguma, n em mesmo de sua pr ópr ia existên cia. E u lhe revelarei o meu m ét od o secreto de acabar com o ceticismo universal em quatro palavras. Sussurre para ele: 'Sua braguilh a está aberta'. Se ele ach a o con h ecimen to t ão i m possível assim, por que ele sempre olh a?2 0 C o m o obser vado acim a, h á e vid ê n cias de sobr a de que o con h ecim en t o é p ossível. O que pr ecisam os é de u m m od o de explicar por qu e o p o ssu í m o s. Isso o n at u r alism o n ã o faz. Assi m , aquele que per m an ece u m n at u r alist a con sist en t e deve ser u m n iilist a.

A t er cei r a p o n t e: ser e d ever M u i t o s n at u r alist as - a m aior ia, pelo que m e con st a - são pessoas ext r em am en t e m or ais. Eles n ã o são lad r ões, n ã o t en d e m a ser lib er t in os. M u i t o s são fiéis e m seus casam en t os. Algu n s ficam escan dalizados c o m a im or alid ad e p ú b l i ca e pessoal de n ossos dias. O p r ob lem a n ão é qu e os valor es

127

O u n i v e r so ao l ad o

m or ais n ã o são r econ h ecidos, m as o fato de n ã o p o ssu í r e m fu n d am en t o algu m . Re su m i n d o a p o si ç ã o adot ada por Niet zsch e e M a x W eber , A l l a n Bl o o m obser va: "A r azão n ã o pode estabelecer valor es, e su a cr e n ça de que pode é a m ais e st ú p i d a e per n iciosa de todas as i l u sõ e s". 2 1 Re le m b r an d o que par a u m n at u r alist a o m u n d o apen as exist e, ele n ã o con cede u m sen t ido de ju st i ç a à h u m an id ad e, mas som en t e é. En t r e t an t o, a ét ica ver sa sobr e o que deve ser, seja si m seja n ã o . 2 2 O n d e , e n t ão , pode-se ir e m bu sca de u m a base par a a m or alidade? O n d e a justiça é en con t r ad a. C o m o obser vam os,

todas as pessoas possu em

valor es

m or ais. N ã o h á t r ibos sem t abu s, mas esses são m er am en t e fatos de n at u r eza social, e os valor es esp ecíficos v ar i am gr an dem en t e. D e fat o, m u it os desses valor es con fiit am en t r e si. P or t an t o, som os fo r çad o s a per gu n t ar : Q u e valor es são os ver dadeir os, os m ais elevados? An t r o p ó l o go s cu lt u r ais, r econ h ecen do que t al sit u ação pr evalece, r espon dem clar am en t e: valor es m or ais são r elat ivos à cu l t u r a d a pessoa. O que a t r ib o, n a ç ã o o u u n id ad e social afir m ar é valioso. P o r é m , h á u m a sér ia falh a aqu i. Essa é ou t r a m an e ir a de afir m ar que ser (o fato de u m valor específico) equ ivale a dever (o qu e dever ia ser assim ). A l é m do m ais, isso n ã o con sid er a a si t u ação dos rebeldes cu lt u r ais, cu jos valor es m or ais n ã o são os m esm os dos seus vizin h os. O ser do rebelde cu lt u r al n ã o é con sider ado dever. P or qu ê? A resposta do r elat ivism o cu lt u r al é que os valor es m or ais do rebelde n ã o p od e m ser per m it id os se eles p e r t u r b am a co e são social, colocan do e m r isco a sob r e vivê n cia cu lt u r al. Assi m , descobr im os que ser n ã o é dever, afin al de con t as.

• 128 •

Marco

z ero

O r elat ivist a cu lt u r al r at ificou u m valor - a pr eser vação de u m a cu lt u r a em seu estado at u al - com o m ais valioso que sua d est r u ição o u t r an sfor m ação por u m o u m ais rebeldes den t r o dela. U m a vez m ais, somos obrigados a per gun t ar por quê. Di sso a d v é m que o r elat ivism o cu lt u r al n ã o é r elat ivo par a sem pr e, m as r epou sa sobr e u m valor p r i m á r i o co n firmado

pelos p r ó p r i o s r elat ivist as cu lt u r ais: qu e a cu l t u r a

deve ser pr eser vada. P or t an t o, o r elat ivism o cu lt u r al n ã o con fia apen as n o ser, m as n o qu e seus adept os p en sam dever ser o caso. O p r ob le m a aqu i é que algu n s a n t r o p ó l o go s n ã o são r elat ivist as cu lt u r ais. Al gu n s p en sam qu e cer t os valor es são t ão im por t an t es que as cu lt u r as qu e n ã o os r econ h ecem deveriam

r e c o n h e c ê - l o s. 2 3 Dessa for m a, os r elat ivist as cu l t u -

r ais d e ve m , se qu iser em con ven cer a seus colegas, m ost r ar por qu e seus valor es são os ver d ad eir os. 2 4 N o v am e n t e , apr oxi m am o - n o s do in fin it o cor r ed or on de per segu im os n ossos ar gu m en t os. Co n t u d o , olh em os de n ovo. De ve m os n os assegurar de ver o que est á in fer id o pelo fato de os valor es r ealm en t e n ã o var iar em m u i t o . En t r e t r ibos vizin h as, os valor es são con flitantes.

U m a t r ib o pode p r om over "guer r as

r eligiosas"

par a d issem in ar os seus valor es. Tais guerras existem . Elas deveriam

exist ir ? Talvez, mas som en t e se h ou ver , de fato, u m

p a d r ã o n ã o r elat ivo por m eio do qu al se pode m e d ir os valores e m con flit o. Tod avia, u m n at u r alist a n ã o d i sp õ e de m eios par a d et er m in ar que valor es den t r e aqueles n a exist ên cia são os b ásicos, os que d ã o sign ificado às var iações t r ibais específicas. U m n at u r alist a pode apen as in d icar o fato de valor , jam ais u m p a d r ã o absolut o.

129

O u n i v e r so ao l ad o

Essa si t u ação n ã o ser á t ão cr ít ica en qu an t o

h ou ver

e sp aç o su ficien t e separ an do as pessoas de valor es r ad icalm en t e difer en t es. P o r é m , n a com u n id ad e global do presen te sé cu lo n ã o podem os m ais con t ar c o m isso. Som os fo r çad o s a lid ar c o m valor es e m con flit o, e os n at u r alist as n ã o t ê m qu alqu er p a d r ã o , n e n h u m a for m a de saber qu an d o a paz é m ais im p or t an t e que pr eser var ou t r o valot . De ve m os abr ir m ã o de n ossa pr opr iedade par a evit ar a v io l ê n ci a con t r a o lad r ão. N o en t an t o, o que devem os dizer a racistas br an cos que possu em pr opr iedades alugadas n a cidade? Q u e valores d evem gover n ar as suas açõe s qu an d o u m a pessoa d a r aça n egr a t en t a alugar u m a de suas pr opr iedades? Q u e m deve dizer? C o m o devem os decidir ? O ar gu m en t o pode n ovam en t e ser r esu m id o com o an t et iot m en t e: O n at u r alism o n os coloca com o seres h u m an os e m u m a caixa et icam en t e r elat iva. P ar a con h ecer m os que valor es d en t r o daqu ela caixa são valor es reais, n ecessit amos de u m a m e d id a a n ó s im p ost a de for a d a caixa; pr ecisam os de u m p r u m o m o r al por m eio do q u al seja possível avaliar os valor es m or ais con flit an t es que obser vam os e m n ó s e n as dem ais pessoas. Co n t u d o , n ã o h á n ad a for a d a caixa; n ã o exist e n e n h u m p r u m o m or al o u qu alqu er p a d r ã o de valor im u t áve l e su pr em o. Logo: n i i l i sm o é t i c o 2 5 M a s, o n i i l i sm o é u m sen t im en t o, n ã o apen as u m a filosofia. E , n o n ível d a p e r ce p ção h u m a n a , Fr an z Ka fk a capt a, e m u m a breve p ar áb o l a, o sen t im en t o de v i d a e m u m u n iver so sem u m a l i n h a de r efer ên cia, sem u m p r u m o m o r al . Passei correndo a primeira sentinela. En t ão, fiquei h orrorizado, voltei novamente e disse à sentinela: "Passei por aqui

• 130

Marco

z ero

enquanto você estava olhando para o outro lado". A sentinela ignorou a min h a presen ça e nada disse. "Supon h o que realmente n ão deveria ter feito isso", disse. A sentinela ainda permaneceu calada. " O seu silêncio significa permissão para passar? . Q u an d o as pessoas t i n h a m con sciê n cia de u m D e u s cu jo car át er er a a lei m o r al , qu an d o suas con sciê n cias er am i n lor m adas por u m sen so de ju st iça, suas sen t in elas gr it ar iam alt o, qu an d o elas t r an sgr ed iam a lei. Ago r a, as sen t in elas est ão silen ciosas, n ão ser vem a n e n h u m r ei e n ã o pr ot egem n e n h u m r ein o. O m u r o é u m fato despr ovido de sign ificado. As pessoas o escalam , at r avessam - n o, qu eb r am - n o, mas n e n h u m a sen t in ela sequer r eclam a. A pessoa é d eixada n ã o com o fat o, m as c o m o sen t im en t o de c u l p a . 2 7 Em

u m a se q u ê n cia assust ador a,

Kcr gm an , Morangos

n o filme de I n gm ar

silvestres, u m velh o professor é levado

a ju lgam en t o dian t e do t r ib u n al . Q u an d o ele per gu n t a do que est á sen do acusado, o ju i z r espon de: "Vo c ê é cu lpado d.i cu lp a". "Isso é sé r io?", qu est ion a o professor. "M u i t o sér io", afir m a o ju i z . Co n t u d o , isso é t u do o que é dit o sobr e a q u e st ã o d a . Seu prim ei ro t r ab al ho d e d est aq u e so b re p ó s- m o d er n i sm o foi The Dismemberment of Orpheus: Toward a Postmodern Literature (Nova York: Oxf o rd Universit y Press, 1971).

5

- LILLA, M ark. " The Polit ics of Jacq u es Derri d a" New York Review of Books, 25 d e j u n h o d e 1998, p. 36. Lilla é p rof esso r d e p en sam en t o social na Uni ver si d ad e d e Chi cag o .

7

A arq ui t et ura m o d er n a é a ap l i cação d e razão m ecân i ca às form as d o esp aço . Isso result a na f o r m a seg u i n d o a f u n ção - caixas g i g ant es d e co ncret o , vi d r o e aço co m cant o s ret os e n en h u m a cu r va ap ar ent e. Os cent ro s d e m ui t as ci d ad es am er i can as, co m o At l an t a, Dallas, M i nneap o l i s, ap r esen t am esses co nj unt o s d e blocos al t am en t e f o rm ais e i m p esso ai s. Os arq ui t et o s p ó s- m o d er no s se r eb el ar am co nt ra o i m p esso al , t r azend o d e vo l t a m o t i vo s d e cad a era ant erio r d a arq ui t et ura d e t o d as as cult uras - j anel as circulares, co l unas clássicas, g árg ulas m o d er n i zad as - inserind o - o s em f o r m as est rut urais q u e n ão ap r esen t am n en h u m p rincíp io org ani zad o r ap ar ent e.

- LYOTARD, Jean- Fr anço i s. The Postmodern Condition:A Reporton Knowledge, t rad . Geo f f Ben n i n g t o n e Brian M assu m i (M i nneap o l i s: Universit y of M i nneso t a Press, 1984), p. 24.

8

9

Gi d d en s escreve: "O q u e é caract eríst ico d e m o d er n i d ad e não é acei t ação d o no vo por seu p ró p rio m éri t o , m as a p ressup o si ção d a ref lexão i nd i scr i m i nad a - q u e, claro , inclui a ref lexão so b re a nat ur eza d a p róp ria ref lexão " {Consequences of Modernity, p. 39). Por exem p l o , t en h o ref let id o ao l o ng o d esse livro so b re as co sm o visõ es q u e m o d el am a no ssa co m p r een são ; ag o ra est o u o l h an d o para o m eu olhar, ref let ind o so b re a m i n h a ref lexão. Um a o ut ra m anei r a d e exp ressar isso é d izer q u e d arei u m p asso at rás em m i n h a anál i se para ef et uar u m a m et a- análise.

, 0

Lidei co m essa q u est ão e m , Naming the Elephant: Worldview a Concept (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y Press, 2004).

11

Cap ít ul o 2.

12

Recen t em en t e, al g u n s f i l ó so f o s n at u r al i st as (co m o Paul M . Churchland e Patrícia Smit h Churchland ) ret roced eram , ent ret ant o ,

362

as

Notas

em d ireção a u m a no va ênf ase nos m ecan i sm o s inerent es na ord em m at erial.Veja " Nat uralist ic Ep ist emo lo g y' ,' em The Cambridge Dictionary of Philosophy, ed . Ro b ert Aud i (Cam b r i d g e: Cam b r i d g e Universit y Press, 1995), p p . 518- 19. 13

Ded i co a essa q uest ão , o cap ít ul o 3 d e Naming the (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y Pr ess,2004), p p .51 - 73.

1 4

Cerca d e t rint a ano s at rás, escrevi u m t ext o p ara u m curso d e g r ad u ação so b re a f ilosof ia d o século XVII, no q ual p ro vei , para m i n h a p ró p ria sat isf ação e a d e m eu professor, q u e Descart es e Aq u i n o d ef en d i am vi sõ es id ênt icas a resp eit o d e Deu s. O q u e não co n seg u i ver ,en t ão , é q u e o int eresse d e Descart es em co m o ele co n h eci a q u e t al Deus exist ia t eria t id o t ais co n seq u ên ci as.

15

DESCARTES, René. " M ed i t at i o n II" em Phi l o so p hi cal Wo rks, t rad . Elizab et t h S. Hal d ane e G. R.T. Ross, 2 vo l s. (Nova York: Dover, 1955), 1:152.

16

Claro q ue, p ara Kant , " criador d a realid ad e" não d eve ser en t en d i d o à m anei r a d o p en sam en t o d a Nova Era; as cat eg o ri as pelas q uai s co m p r een d em o s realid ad e - esp aço , t em p o , et c. - f azem p art e d e nossa co nt r i b ui ção co m o seres h u m an o s;el as f o r m am a est rut ura d e no sso co n h eci m en t o .

17

Est o u d o l o r o sam en t e co n sci en t e d e q u e m eu s co m en t ár i o s sobre Descart es, Hu m e e Kant são superf iciais e, t al vez, i m p er d o ávei s. Po r ém , em b o r a as crít icas sejam ab u n d an t es, p enso q u e eles assu m i r am o f o r m at o co rret o . Para a hist ória d a f ilosof ia m o d ern a, co nsid erei d e esp ecial valia a o b ra d e Co p l est o n (Fred erick Co p l est o n , A History of Philosophy, vo l s. 4- 9 [ Lo nd res: Burns an d Oat es, 1958- 1974]). Para as q uest õ es ab o r d ad as aq u i , ent ret ant o , veja Ro b ert C. So l o m o n , Continental Philosophy Since 1750: The Rise and Fali ofthe Self(Nova York: Oxf o rd Universit y Press, 1988).

18

" Po i s, an t i g am en t e, acred it ava- se na ' alm a' co m o se acred i t ava na g r am át i ca e no sujeit o g r am at i cal : dizia- se, ' eu' é a co nd i ção , ' p enso ' é o p red i cad o e o co n d i ci o n ad o - o p ensar é u m a at ivid ad e para a q ual o p en sam en t o deve f o rnecer u m sujeit o co m o cau sa. Ent ão , al g u ém t en t o u , co m ad m i r ável p er sever ança e ast úci a, d esvencilhar- se d essa red e - e q u est i o n o u se o co nt rário não seria o caso :' p enso ' , a co nd ição ,' eu' , o co nd i ci o nad o ;' eu' ,

363

Elephant

O u n i v e r so ao l ad o

nesse caso [so u] ap en as u m a sínt ese q u e é feita p el o p en sam en t o " (Fried rich N i et zsche, Beyond Good and Evil, sec. 54, em The Basic Writtings of Nietzsche, ed . Walt er Kau f m an n [Nova York: M o d en Lib rary, 1969] , p.257); veja t am b ém u m a crít ica m ai s ext en sa nas seçõ es 16- 17, p p . 213- 14. 19

RORTY, Ri char d . Por exem p l o , t ransf eriu- se d e u m p o st o d e f ilo so f ia, na Un i ver si d ad e d e Pr i ncet o n, p ara t o rnar- se u m p ro f esso r d e h u m an i d ad es na Un i ver si d ad e d e Vi r g íni a.

20

Veja cap ít ul o o it o , p p .246- 252.

21

SAID, Ed w ar d . Beginnings:

Invention

and Method

(No va York: Basic

Bo o ks, 1975), p. 286, m en ci o n ad o p o r St anl ey Gr en z, A Primer on Postmodernism 22

(Grand Rap id s, M i ch.: Eer d m an s, 1996), p. 120.

NIETZSCHE. " On Trut h an d Lie in an Ext ra- m o ral Sen se" em Portable

Nietzsche,

The

t r ad . Walt er Kau f m an n (Nova York: Vi ki n g ,

1954), p p . 46- 47. 2 3

2 4

Id em . RORTY, Ri char d . Contingency,

Irony

and Solidarity

(Cam b r i d g e:

Cam b r i d g e Uni versi t y Press, 1989), p p . 6- 7. Co m p ar e a af i rm ação d e Ro rt y co m est a, d e M i chel Fo ucaul t :" A ver d ad e d eve sér co m p r een d i d a co m o u m si st em a d e p r o ced i m en t o s o r d en ad o s para a p r o d u ção , reg ul ação , d i st ri b ui ção , ci rcul ação e o p er ação d e af i r m açõ es" ("Trut h an d Po w er " [de Power/ Knowledge],err\ Foucault

The

Reader, ed . Paul Rab i n o w [Nova York: Pan t h eo n , 1984] ,

p .74). 25

QUINE, Wi l l ard Van Or m an " Tw o Do g m as of Em p i r i ci sm " em From a Logical

Point ofView,

2a. ed . (Cam b r i d g e, M ass.: Har var d

Un i ver si t y Press, 1980), p. 44. Qu i n e acr escen t a: " Ep i st em o l o g i cam en t e, esses são m i t o s co m o m esm o f u n d am en t o d e o b j et o s f ísi co s e d eu ses, n em m el h o r o u pior, excet o p o r d i f er en ças no g r au em q u e eles no s p er m i t em lidar co m n o sso sen so d e exp er i ên ci a" (i d em , p. 45). Est o u em d éb i t o co m St ep h en Evans p o r essa o b ser vação . 2 6

Discut o rel at i vi sm o relig ioso em m aio res d et al hes no s cap ít u los 5-6 d e Chris Chrisman

Goes to College (Do w n er s Gr o ve, III.:

Int erVarsit y Press, 1993), p p .45- 68. 2 7

LiLLA."Polit ics of Jacq u es Der r i d a" p .38.

364 •

Notas

2 8

Um a b reve e út il i n t r o d u ção a esse t em a p o d e ser en co n t r ad a em Haro l d K. Bu sh Jr .," Po st st r u ct u r al i sm as Th eo r y an d Pract ice in t h e Eng l i sh Class Ro o m " ERIC Di g est (1995), d i sp o n ível em < w w w .i n d i an a.ed u / ~ er i cr ec/ i eo / d i g est s/ d 104.h t m l > .

2 9

Em u m a so ci ed ad e p ó s- m o d er n a au t o - r ef l exi va, Lyo t ard ind ica q u e "a m ai o r i a d as p esso as p er d eu a no st al g i a p ela nar r at i va p er d i d a. De n en h u m a f o r m a, isso sig nif ica q u e elas f o r am r ed u zi d as ao b ar b ar i sm o . 0 q u e as salva é o co n h eci m en t o d e q u e a l eg i t i m ação p o d e ad vi r ap en as d e sua p r ó p r i a p rát i ca ling u íst i ca e i nt er ação co m u n i cad a" (Postmodern Condition, p. 41). Lyo t ar d p ar ece não est ar ci en t e d e q u e sua hist ó ria " p ó s- m o d er n a" é, p o r si só , u m a hi st ó ri a ag i n d o co m o u m a m et an ar r at i va (al g o q u e p er d eu a cr ed i b i l i d ad e na ci ên ci a p ó s- m o d er n a, d e aco r d o co m ele) e, p o r t an t o , n ão m ai s crível q u e q u al q u er o ut ra hi st ó r i a, q u e q u al q u er o ut r a exp l i cação .

3 0

" Co n h eci m en t o é vi o l ên ci a.O at o d e co nhecer , af irm a Fo ucault , é um at o d e vi o l ênci a" (Grenz, Primeron Postmodernism, p. 133).

31

Sal m o 8.4- 5; al g u m as t r ad uçõ es d i zem : " um p o u co inf erior a Deu s"

3 2

SARTRE, Jean Paul . " Exi st en ci al i sm " em A Casebook on Existencialism, ed . Wi l l i am V. Sp sn o s (N o va Yo r k " Th o m as Y. Cr o w el l , 1966), p. 289. Para Sart re, en t r et an t o , o au t ên t i co eu j am ai s é en g l o b ad o p o r seu co n t ext o cul t ur al o u q u al q u er m et an ar r at i va; an t es, el e é r ad i cal m en t e livre.

3 3

Veja a d i scussão d e Rort y so b re Freud co m o u m " p o et a f o r t e" em Contingency, p p . 20,28,30- 34, b em co m o seus co m en t ár i o s so b re o p o d er d a p o esia (p p . 151- 52), e so b re a ver d ad e co m o "qualq u er q u e seja o result ad o d e u m a co m u n i cação não d et u r p ad a" (p. 67; t am b ém p p . 52,68).

34

Grenz.Primeron Postmodernism,p. 130.Gr en s t am b é m m en ci o na Fo u cau l t , co m o seg u e:" A t o d o s aq u el es q u e ai n d a d esej am f al ar so b r e o h o m e m , so b r e seu rei no o u sua l i b er ação , a t o d o s o s q u e ai n d a se q u est i o n am so b r e o q u e é o h o m e m em sua essên ci a,a t o d o s os q u e d esej am co n si d er á- l o co m o p o n t o d e part i d a e m suas t en t at i vas d e al can çar a ver d ad e [ „ .] a t o d as essas d i st o r ci d as e t o r ci d as f o r m as d e r ef l exão , p o d em o s ap en as

365

O u n i v e r so ao l ad o

r esp o n d er co m u m a ri sad a f i l o só f i ca - q u e si g n i f i ca, at é cer t o p o n t o , o si l ên ci o " (ext r aíd o d e The Order ofThings [ N o va Yo rk: Ran d o m Ho u se- Pan t h eo n , 1971] , p p . 342- 43, m en ci o n ad o em Gr en z, Primer on Postmodernism, p. 131). "Veja a b reve d i scussão no cap ít ul o 5. ' RORTY, Richard . The Consequences of Pragmatism (M i nneap o l i s: Universit y of M i nneso t a Press, 1982), p. xlii. Derrid a incorre no m esm o p r o b l em a. M ark Lilla escreve: " Derrid a d ep o si t a en o r m e co nf i ança na b o a vo n t ad e id eo ló g ica o u p reco ncei t o s d e seus leit ores, pois ele não p o d e lhes d izer a razão d e esco l her j ust i ça em vez d e injust iça, o u d em o cr aci a e não t i rani a, ap en as ele o f az" (Lilla," Polit ics of Jacq u es Der r i d a" p .40). '• BEINER, Ro nald ." Fo ucault ' s Hyp er- lib eralism " Crit ical Revi ew, verão d e 1995, p p . 349- 70. !

Id em , p p . 353- 54.

'• Det t m ar o b ser va q u e essa vi são " t em sid o art i cul ad a d e m o d o mais i nf l uent e" por Barb ara Herrnst ein Sm i t h em Contingencies ofValue (Cam b r i d g e: Harvard Universit y Press, 1988). Veja Kevin J. H. Det t m ar, " W h af s So Great Ab o u t Great Bo o ks" Chronicle of Higher Education, 11 d e set em b r o d e 1998, p. B6. '• LYOTARD. Postmodern

Condition, p. 79.

' O q u e seg u e é u m q u ad r o am p l o d e r ecen t e t eo r i a lit erária. Det al h es p o d em ser en co n t r ad o s em Ro g er Lu n d i n , The Culture of Interpretation (Gr an d Rap i d s, M i ch .: Eer d m an s, 1993). A p esq u i sa d e Bo n n y Kl o m p St even s e Larry L. St ew ar t , d esi g nad a p ara i nt r o d uzi r est u d an t es f o r m ad o s ao est u d o lit erário, t am b ém é út i l ; veja A Guide to Literary Criticism and Research, 3a ed . (No va York: Har co ur t Brace Co l l eg e, 1996). Ig u al m en t e, co n si d er o út eis as crít icas e co n t r acr ít i cas so b re t eo r i a iit erária p ó s- m o d er n a em i n ú m er o s ar t i g o s, d e vo l u m es r ecen t es d e The Christian Scholars Review and Christianity and Literature. Em esp eci al , veja a p esq u i sa d e r ecent es ab o r d ag en s crist ãs à lit er at ur a e t eo r i a, em Haro ld K. Bush Jr., " Th e Ou t r ag eo u s Idea of Chr i st i an Li t erary St u d y: Pr o sp ect s for t h e Fut ur e an d a M e d i t at i o n o n Ho p e" Christianyty and Literature, o u t o n o d e 2 0 0 1 , p p . 79- 103. Os seg u i n t es livro s são ext r em am en t e út eis:

• 366 •

Notas

Cl ar en ce Wal h o u t e Lel an d Ryk en , Contemporary Literary Theory.A Christian Appraisal (Gr an d Rap i d s, M i ch .: Eer d m an s, 1991 ); e W. J.T. M it chell,/ 4ga/ 7isf Theory (Ch i cag o : Uni ver si t y of Ch i cag o Press, 1985). 4 2

KRUPNICK, M ark. " Why are Eng l i sh Dep ar t m en t s St ill Fig ht ing t he Cul t ure Wars?" Chronicle ofHigher Education, 20 d e set em b r o d e 2002, p .B16.

4 3

ELLIS, Jo h n M . Against Deconstruction (Pr i n cet o n , N.J.: Pr i ncet o n Un i ver si t y Press, 1989); Cal eb Cr ai n ," l n si d e t h e M LA: or, Is Li t erat ur e En o u g h ?" Lín gu a Franca, m ar ço d e 1999, p p . 35- 43.

4 4

STAVANS, lllan."A Lit erary Crit ic's t o t he Cul t ure at Higher Educatio, 9 d e ag o st o d e 2003, p. B7.

4 5

DICKSTEIN, M orris. " Lit erary Th eo r y an d Hist orical Un d er st an d i n g " Chronicle ofHigher Education, 23 d e m ai o d e 2003, p p . B7- 10.

4 6

BARASH, David P. e N anelle Barash, " Bio lo g y as a Lens: Evo lut io n an d Lit erary Cri t i ci sm " Chronicle ofHigher Education, o u t u b r o d e 2002,p p .B7- 9.

4 7

Karen J.Wi n kl er p esq ui sa os at aq ues e co nt ra- at aq ues d a t eo ria lit erária p ó s- m o d er na em , " Scho lars M ark t he Beg i nni ng o f t h e Ag e of 'Post - t heory",' Chronicle of Higher Education, 13 d e o u t u bro d e 1993, p. A9.Vej a t am b ém Frank Lent r i cchi a," Last Will an d Test am en t o f an Ex- Li t erary Cr i t i c" Língua Franca, set em b r o / o u t u b r o d e 1996, p p . 59- 67.

4 8

Em The Death ofthe Truth (M i nneap o l i s: Bet hany Ho use, 1996), Denni s M acCal l um co l et o u u m a série d e ensaio s crít icos so b re p ó s- m o d er n i sm o nas áreas d e saúd e, lit erat ura, ed u cação , hist ória, p si co t erap i a, d ireit o , ci ênci a e religião, cad a q ual escrit o por u m esp ecialist a na área.

4 9

HIMMELFARB, Ger t r u d e. " Trad it io n an d Creat ivit y in t he Writ ing of Hi st o ry" First Things, n o vem b r o d e 1992, p. 28. O ensaio d e Hu m m el f ar b , q u e ab r an g e as d iscip linas d e hist ó ria, d ireit o , f ilosofia e cul t ur a, em g er al , m er ece ser lido em sua t o t al i d ad e (pp. 28- 36).

5 0

Id em , p. 30.

367

Large",Chronicleof

O u n i v e r so ao l ad o

HIMMELFARB, Ger t r u d e. " Wh er e Have AN Fo o t no t es Go n e?" em On Looking into Abyss (Nova York: Alf red A. Knopf , 1994). JENKINS, Kei t h. Re-thinking History (Lo nd res: Ro ut l ed g e, 1991), p. 70 (a últ im a sent ença d o livro). Para u m a ar g u m en t ação q u an t o a ret ro ced er d a hist o rio g raf ia p ó s- m o d er n a, veja Jef f rey N. West er st r o m ," Ar eyo u N o w o r H av eYo u Ever Been ... Po st m o d er n ?" Chronicle ofHigher Education, 11 d e set em b r o d e 1998, p. B4. Para u m a p esq ui sa so b re essas q uest õ es na f ilosof ia d a ci ência, veja Del Rat zsch, Science and Its Limits: The Natural Sciences in Christian Perspective (Do wn er s Gr o ve, III.: Int erVarsit y Press, 2000). LYOTARD, Postmodern

Condition, p. 29.

Em u m a d ecl aração d i r eci o nad a a irrit ar cient ist as e filósofos t rad i ci o nai s, o crít ico lit erário Terry Eag l et o n, escr eveu:" Ci ênci a e f ilosof ia d evem se d esf azer d e suas el o q uent es af i rm açõ es m et af ísicas e o l h ar em p ara si m esm as co m m aio r m o d ést i a co m o ap en as u m o ut ro co n j u n t o d e narrat ivas" (cit ad o d e" Aw ak en i n g M o d erni t y' ' Times Literary Supplement, 20 d e f evereiro d e 1987, por Alyst er M cGr at h,A Passion forTruth [ Do wn er s Gro ve,III.:Int erVarsit y Press, 1996] , p .187). O ar t i g o o ri g i nal ap ar eceu em Social Text, p r i m aver a/ ver ão d e 1996, p p . 217- 52; A r evel ação d e So kal so b r e o t r o t e foi em "A Physi ci st Exp er i m en t s w i t h Cul t ur al St u d i es" Língua Franca, m ai o / j u n h o d e 1996, p p . 6 2 - 6 4 .0 t ext o p o st eri o r d e So kal , forn ecen d o "o seu p ró p ri o relat o so b re o si g ni f i cad o p o lít ico d o d eb at e" q u e foi en vi ad o p ara o Social Text ao m esm o t em p o em q u e seu ar t i g o foi en vi ad o a Língua Franca, p o r ém rej ei t ad o p el o s ed i t o r es, foi p u b l i cad o co m o " Tr an sg r essi n g t h e Bo u n d a ries: An Af t er w o r d " Di ssent , o u t o n o d e 1996, p p . 36- 37. A hist ó ria d esse t ro t e foi am p l am en t e d i vu l g ad a nos j o r n ai s, no ver ão d e 1996. Veja, p o r exem p l o , " M yst er y Sci en ce Th eat er " Língua Franca, j u l h o / ag o st o d e 1996, p p . 54- 64; Br uce V. Lew en st ei n , " Sci ence an d So ci et y: t h e Co n t i n u i n g Val ue o f Reaso n ed d eb a te", Chronicle of Higher Education, 21 d e j u n h o d e 1996, p p . B1- 2; Liz M cM i l l an ," Th e Sci en ce War s" Chronicle of Higher Education, 28 d e j u n h o d e 1996, p p . A8- 9, 13; St even Wei n b er g , " So kal s

368

Notas

Ho ax" New York Review of Books, 8 d e ag o st o d e 1996, p p . 1 1 15;" So kal' s Ho ax: An Exch an g e" New York Review of Books, 3 d e o u t u b r o d e 1996, p p . 54- 56; " Fo o t n o t es" Chronicle of Higher Education, 22 d e n o vem b r o d e 1996, p. A8. Veja t am b ém Al l an So kal e Jo h n Br i cm o n t , Fashionable Nonsense: Postmodern Intellectuafs Abuse of Science (N o va Yo rk: Picad o r, 1998), e The Sokal Hoax: The Sham That Shocked the Academy, ed . os ed i t o res d e Língua Franca (Li n co l n : Uni ver si t y of N eb r aska Press, 2000). ' MONASTERSKY, Ri chard . " Th e Em p ero r' s N ew Sci ence: French TV St ars Rock t h e World of Theo ret i cal Physi cs" Chronicle of Higher Education, 15 d e n o vem b r o d e 2002, p p . A l 6- 18. 5

TAYLOR, M ar k C. Erring: A Postmodern a/ theology (Ch i cag o : Uni ver si t y of Ch i cag o Press, 1982). Aq u i est á u m a b r eve am o st r a d e Tayl o r :" Id ei as j am ai s são f i xas, m as em co n st an t e t r an si ção ; p o r t an t o , elas são i r r ep r een si vel m en t e t r ansi t ó r i as [...] As p al avras d a a/ t eo l o g ia caem en t r e el as; est ão sempre no m ei o [ ent re o co m eço e o fim]. O t ext o a/ t eo l ó g i co é u m t eci d o en t r et eci d o em t r am as p r o d u zi d as d e i n t er m i n ável fiar"(p. 13). Desd e en t ão , Tayl o r t em ab r an g i d o d esd e a t eo l o g i a at é a ci b er n ét i ca; vej a seu perf il em " Fr o m Kant t o Las Veg as t o Cyb er sp ace: A Phi l o so p h er o n t h e Ed g e o f Po sm o d er n i sm " Chronicle ofHigher tion, 29 d e m ai o d e 1998, p p . A16- 17.

Educa-

'• Um a co l et ânea d e ensaio s so b re o t em a por al g uns d o s t eó lo g os m en ci o n ad o s aq ui , al ém d e o ut ro s é d e Ti m o t h y R. Phillips e Den n i s L. Ok h o l m , ed s. The Nature ofConfession (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y Press, 1996).Veja t am b ém Geo r g e A. Li nd b eck, The Nature of Doctrine (Phi l ad el p hi a: West m i nst er Press, 1984); Di ó g enes Al l en, Christian Belief in a Postmodern World (Lo usville, Ky.: West m i snt er Jo h n Kno x, 1989); St anley Gr enz, Revisioning Evangélica! Theology (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y Press, 1993) e J. Richard M i d d l et o n e Brian J. Wal sh, 7rufh Is Stranger Than It Used to Be (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y Press, 1995). '•ODEN, Th o m as C, After Modernity... What? (Grand Rapids, M ich.: Zo n d er van , 1990); Carl F. H. Henry, " Trut h: Dead o n Arrival" World, 20- 27 d e m aio d e 1995, p. 25; David F. Wells, God in the Wasteland (Grand Rapids, M ich.: Eer d m ans, 1994) e Gen e Ed ward Veit h Jr., Postmodern Times (Wh eat o n , III.: Crossway, 1994). Od en ut iliza o

• 369 •

O u n i v e r so ao l ad o

t er m o pós-moderno para d escrever a sua própria ab o r d ag em , m as ele assim ag e p o rq ue co nsid era o q ue t en h o d it o sobre pós- moderno não ser" p ó s" - m o d erno , m as u l t r am o d em o .O q u e ele reco m end a para igreja d e nossos dias, acredit a ele, vai al ém d o m o d er no e, assi m , p o d e l eg i t i m am ent e ser ch am ad o d e p ó s- m o d erno . Veja al g o sen saci o n al d e Ch ar l o t t e Al l en , "Is Deco n st r u ct i o n t h e Last Best Ho p e o f Evan g el i cal Ch r i st i an s?" Língua Franca, j an ei r o d e 2000, p p . 47- 59. 1

GREER, Ro b ert . Mapping Postmodernism: A Survey of Options (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y Press, 2003).

Christian

' Veja M er o l d West p h al , " Bl i nd Sp o t s: Ch r i st i an i t y an d Post m o d er n Ph i l o so p h y" Christian Century, 14 d e j u n h o d e 2003, p p . 32- 35; Do u g l as Gr o o t h u i s, " M o d em Fal l aci es: Resp o n se t o M er o l d West p h al " e M er o l d West p h al ," M er o l d West p h al Rep l i es" Christian Century, 26 d e j u n h o d e 2003, p p . 41 - 42. 1

M cGr at h co m en t a: " O p ó s- m o d er n i sm o , p o r t an t o , n eg a, na p r át i ca, o q u e af i rm a em t eo r i a. M esm o a q u est ão casu al : 'O p ó s- m o d er n i sm o é verd ad eiro ' , i n g en u am en t e susci t a q u est õ es cri t eri o sas f u n d am en t ai s q u e o p ó s- m o d er n i sm o co n si d er a em b ar aço sam en t e d if ícei s d e lid ar" [Passion for Truth, p. 195).

'TAYLOR, Charl es. " Ro rt y in t h e Ep i st em o l o g i cal Tr ad i t i o n" em Reading Rorty, ed . Al an R. M al ach o wski (Oxf o rd : Bl ackwel l , 1990), p .258. ' NIETZSCHE."On Trut h an d Lie" p p . 9 5 - 9 6 .0 co m en t ár i o d e Bernard William s so b re Rort y p o d er i a, i g u al m en t e, servir para N iet zsche: " Al g um as vezes, ele [Rort y e, eu acr escent ar i a, Niet zsche] p arece co n h ecer so b re a co n d i ção d e seus p ró p rio s p en sam en t o s. [...] Em o ut ras vezes, ele p arece esq uecer- se, por co m p l et o , d e u m req u er i m en t o d a au t o co n sci ên ci a,e co m o as ant i g as f ilo so f ias,t ent a escap ar, can d i d am en t e t r at an d o seu p ró p rio d i scurso co m o p o si ci o nad o fora d a si t uação f ilosóf ica geral q u e ele m esm o est á d escr even d o . Ele, p o r t ant o , neg l i g enci a a q u est ão se al g u ém d ever i a aceit ar seu relat o so b re várias at i vi d ad es int elect uais, e ai nd a p rosseg uir, p rat icand o - as" ("Aut o- da- fé: Co n seq u en ces of Pr ag m at i sm " em Reading Rorty, ed . Al an R. M al ach o wski [Oxf o rd : Bl ackwel l , 1990] , p. 29). Para u m a am p l a e so f ist icad a crít ica

• 370

Notas

so b re a ep i st em o l o g i a p ó s- m o d er n a, veja Al vi n I. Go l d m an , Knowledge

in a Social

World (Oxf o r d : Oxf o rd Universit y Press,

1999),p p .3- 100. LiLLA." Polit ics o f Jacq u es Der r i d a" p. 38.

6 7

Veja p p . 67- 77 aci m a.

6 8

HAVEL, Václav. Letters to Olga: j u n h o d e 1979 a set em b r o d e 1982,

6 9

t r ad . Paul Wi l so n (Nova Yo rk: Henr y Holt , 1989), p p . 3 3 1 ,3 4 6 ,3 5 8 59; veja t am b ém Jam es W. Sire, Václav Havei: Intellectual ce of International

Conscien-

Politics (Do w n er s Gr o ve, III.: Int erVarsit y Press,

2001 ),p p . 55- 59. HASSAN ." Po st m o d erni sm t o Po st m o d er n i t y" p ar ág r af o f i nal .

7 0

HORGAN, Jo h n . " Bet w een Sci en ce an d Sp i ri t ual i t y" Chronicle

71

Higher Education,

WATSON, Pet er. The Modem

7 2

Twentieth

Mind: An Intellectual

History

of

the

Century (Nova York: Per enni al , 2001), p p . 767- 72.

M AGEE, Br yan . Confessions

7 3

of

29 d e n o vem b r o d e 2002, p. B9.

of a Philosopher

(Lo n d r es: Ph o en i x,

1977), p p . 590- 92. WILSON, E. O., Consilience:

7 4

The Unity of Knowledge

(Nova York:

Alf red A. Kno p f , 1998), em esp eci al , p p . 238- 65. Veja, por exem plo, as resp o st as d o p ó s- m o d er ni st a Ri chard Ro rt y e d o b ió lo g o Paul R. Gr o ss, "Is Ever yt h i n g Rel at i ve?" Quarterly,

i n ver n o d e

1998, p p .14- 49. 7 5

7 6

SOKAL e Br i cm o nt . Fashionable

Nonsense,

p .2 1 1 .

Finalizo est e cap ít ul o co m u m a no t a ci f r ad a. Não é m i n h a i nt enção, ag o r a n em m ai s t ar d e, co nt ri b ui r co m o q u e t en h o b r evem en t e p revist o . Out ro s (veja aq uel es m en ci o n ad o s nas no t as d e r o d ap é 59 e 60, d est e cap ít ul o ) est ão t r ab al h an d o nisso e, assi m , d ei xar em o s essa t aref a p ara eles e seus co l eg as.

Cap í t ul o 1 0 A vida exam i nad a Conclusão ' SCHAEFFER, Francis A. The God Who Is There (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y Press, 1968), p. 88.

371

O u n i v e r so ao l ad o

2

Escrevi à exau st ão so b r e as razõ es p o r q u e al g u ém d ever i a es co l her u m a co sm o vi são em d et r i m en t o d e o ut r a, em Anyone

Believe Anything

WhyShould

at AH? (Do wn er s Gro ve, III.: Int erVarsit y

Press, 1994). 3

YANDELL, Kei t h. " Relig io us Exp er i en ce an d

Rat io nal

Ap p r ai sal "

Religious Studies, j u n h o d e 1974, p. 185. 4

Cad a f o r m u l ação d e cad a co sm o vi são d eve ser co nsi d er ad a por seus p ró p rio s m érit o s, cl ar o .To d avi a, p ara cad a u m a d as co sm o vi sõ es, t en h o p o n d er ad o e d esco b er t o q u e t o d as elas co n t êm p r o b l em as d e i nco nsi st ênci a.

5

6

Veja, por exem p l o , Ro m an o s 1.28. Para u m t r at am en t o co m p l et o so b re a nat ureza d a d ú vi d a e sua co nt r i b ui ção p ara a f o r m u l ação d e u m a co sm o vi são ad eq u ad a, vej a, d e Os Gu i n n ess, God in the Dark (Wh eat o n , III.: Crossway, 1996).

7

Vej a, p o r exem p l o , d u as co l et ân eas d e en sai o s p esso ai s, p o r fi l ó so f o s q u e er am ab er t am en t e cr i st ão s: Kelly Jam es Cl ar k, ed ., Philosophers Thinkers

Who Believe:

The Spiritual

Jouneys

of 17 Leadiíu/

(Do w n er s Gr o ve, III.: Int er Var si t y Press, 1 9 9 3 );Th o m as

V. M o r r i s, ed ., God and the Philosophers: Faith and Reason

e Paul M . A n d er so n , Professors neys of Christian

The Reconciliation

ol

(N o va Yo rk: Oxf o r d Un i ver si t y Press, 1 9 9 4 ) Faculty

Who Believe:

The Spirityal

Joui

(D o w n er s Gr o ve, III.: Int er Var si t y Pr ess,

1998). 8

HOPKINS, Gerard M anley." Go d ' s Gr an d eu r " em The Poems of Gerard Manley Hopkins, 4a ed ., ed . W. H . Gar d n er e N. H. M aKenzi e (Nova York: Oxf o rd Universit y Press, 1967), p. 66.

9

0 N o vo Test am en t o é o t ext o p r i m ár i o p ara o t eísm o cr i st ão , m as t am b é m r eco m en d o Jo h n R. W .St o t t ,Basi c

Christianity,vr\

ed . (Do w n er s Gr o ve, III.: Int er Var si t y Press, 1973), e J. I. Packei , Knowing

God, rev. ed . (Do w n er s Gr o ve, III.: Int er Var si t y Pr ess,

1993).

372

Index

A Adams, Douglas, 111,113, 138, 328 Agostinho 15, 35 Albrecht, Mark, 358 Allen, Diógenes, 291, 369 Anderson, Paul M , 372 Animismo 220 Aquino, Tomás 15, 40, 269 Aristóteles 15, 58, 123 Arnold, Matthew, 11, 172, 173, 286, 337, 357 Atkinson, Alan, 345 Audi, Robert, 362 Avron, Jerry, 345 Ayer, A. J. , 83, 323

B Bacon, Francis, 58, 137, 279 Barash, David R, 286, 367 Barash, Nanelle, 286, 367 Barrett, W illiam, 323 Barth, Karl, 161, 173, 174, 176 Baskin, Wade, 319, 322 Baudelaire, Charles, 66, 157 Becker, Ernest, 338 Beckett, Samuel, 110, 111, 113, 119, 137, 138 Behe, Mich el, 324, 325 Beiner, Ronald, 283, 366 Bellah, Robert, 353

Bellow, Saul, 318 Bergman, Ingmar, 131, 137 Bernstein, Leonard, 302 Best, Steven, 361, 369 Bhattacharya, Anupama, 350 Birdsall, J. N., 318 Blake, W illiam, 221 Blattner, Barbara, 351 Blocher, Hen ri, 317 Bloesch, Donald, 327, 336 Blomberg, Craig, 337 Bloom, Allan , 128, 138, 326, 327, 332, 333 Board, C. Stephen, 9, 334 Bogart, Humphrey, 303 Bohr, Niels, 330 Borgmann, Albert, 361 Bradley, Walter L., 324 Bray, Gerald, 337 Bréhier, Emile, 64, 68, 78, 319, 322 Bricmont, John, 290, 297, 368, 371 Brierly, Jonh, 322 Broad, C. D., 228 Bromiley, Geoffrey, 317 Bronowski, J. , 58, 318 Brown, W illiam E., 316 Brunner, Em il, 161 Brushaber, George, 327 Bube, Richard H „ 10, 329, 351, 360 Buber, Martin, 165, 166, 169,335, 336 Bucke, Richard Maurice, 235, 237, 356,357

O universo ao lado

Budismo, 183, 201 Buell, Jon, 325 Bultmann, Rudolf, 173, 174, 175, 337 Burnham, Frcdrie, 361 Bush, Harold K., Jr., 364, 366

Crossan, John Dominic, 338 Cruickshank, John, 334 Cummings, E. E., 315

D

c Cabanis, Pierrejean Georges, 80, 146 Cage, John, 137 Carnus, Albert, 15, 135, 141, 143, 149, 153, 154, 155, 156, 158, 159, 164, 176, 272,334, 335 Caplan, Arth ur L., 332 Capon, Robert barrar, 127, 332 Capra, Fritjof, 208, 216, 219, 341, 342, 350, 353 Carnell, Edward John, 174, 335, 337 Carr, Audrey, 340 Carson, Donald, 337 Cassirer, Ernest, 248, 359 Castaneda, Carlos, 215, 221, 229, 232, 233, 238, 239, 349, 350, 352, 356, 358 Ch an , W ing-tsit, 338 Chase, Stuart, 359 Chesterton, G. K., 46 Chopra, Deepak, 216, 352 Churchland, Patricia Smith, 362 Churchland, Paul M., 362 Clapp, Rodney, 10 Clarke, Arth ur C , 217, 328 Clark, Kelly James, 372 Clin ton , Hillary Rodham, 345 Cohen, Andrew, 211, 346 Connor, Steven, 361 Copleston, Frederick, 59, 318, 322, 363 Cosmovisão, 16 Crane, Stephen, 1 1, 12, 13, 109, 125, 133,315

374

Darwin , Charles, 84, 122, 123, 325, 328, 331, 332 Dasgupta, Surendranath, 182, 338 Davies, Paul, 320 Dawkins, Richard, 86, 332, 333 Deddo, Gary, 10 Deísmo, 3, 55, 59,318 Dembski, W illiam, 324, 325 Dennett, Daniel, 324, 326, 332 Dennis, Gregory, 352, 367, 369 Denton, Michael, 324 Derrida 265, 271, 285, 286, 299, 361,364, 365,366,370 Descartes, René, 74, 79, 80, 267, 269, 270, 272, 292, 295, 321, 323, 363 Dettmar, Kevin J. H . , 283, 366 Dick, Philip K„ 217, 352 Dickstein, Morris, 367 Disney, W alt, 135 Duchamp, Mareei, 110

E Eagleton, Terry, 368 Eckhart, Meister, 232 Edwards, Paul, 358 Einstein, Albert, 71, 319, 330, 332, 353 Eliot .T. S., 315 Ellis, John M., 286, 366 F.ngels, Friedrich, 327 Englund, Harold, 166 Evans, C. Stephen, 9, 317, 327, 336, 364 F.wer, W illiam, 50 Existencialismo, 3, 141, 144, 160, 334

Index

F

H

Fairbridge, Rhodes W ., 78 Fénelon, François, 62, 319 Ferguson, Kitty, 208, 225, 232, 236, 237, 319, 322, 341, 348, 354, 356, 357, 359, 360 Ferguson, Marilyn, 208, 225, 232, 236, 237, 319, 322, 341, 348, 354, 356, 357, 359, 360 Fish, Stanley, 285 Flew, Antony, 332 Foucault, Mich el, 266, 279, 281, 283, 285, 293, 299, 364, 365, 366 Freud, Sigmund, 246, 275, 280, 285, 360, 365 Friedkin, Edward, 72, 323 Fuller, Buckminster, 61, 319,'341

G Garraty.John A., 322, 323 Gay, Peter, 319, 322, 323, 333, 361 Geering, Lloyd, 175, 338 Geertz, Clifford, 350 Giddens, Anthony, 361, 362 Gilson, Etienne, 71, 319 Goldman, Alvin I . , 370 Graham, W ., 331 Greer, Robert, 291, 369 Gregory, André, 218, 352 Grene, Marjore, 170, 336 Grenz, Stanley, 291, 364, 365, 369 Gribbin, John, 319 Grof, Stanislav, 214, 240, 348, 358 Groothuis, Douglas, 10, 209, 213, 291, 342, 347, 349, 352, 370 Gross, Paul R., 371 Guinness, Os, 10, 338, 372 Gurdjieff, George I . , 356

• 375

Hackett, Stuart, 339 Haldane, J. B. S., 331, 363 Harris, Melvin, 358 Harrison, Everett E, 317 Harrold, Charles Frederick, 337 Hasker, W illiam, 317 Hassan, Ihab, 265, 296, 361, 371 Havei, Václav, 296, 370 Hawking, Stephen, 71, 72, 77, 319, 321, 324 Hearn, Virgínia, 325 Hegel, Georg W ilhelm Friedrich, 96, 97, 99, 102, 271, 327 Heidegger, Martin, 143 Heinlein, Robert, 217, 352 Heinrich , Kathleen, 351 Heisenberg, Werner, 112, 329, 330 Heller, Joseph, 113, 333 Hemingway, Ernest, 138, 302, 303 Henry, Carl F. H . , 291, 369, 370 Herrick, James A., 209, 342 Hesse, Hermann, 179, 183, 193, 196, 201,237, 302, 340 Himmelfarb, Gertrude, 367 Holmes, Arthur E, 7, 316, 318, 327, 340 Hoover, James, 10 Hopkins, Gerard Manley, 23, 52, 301, 311, 318 Horgan, corista John Horgan, 296, 371 Horioka, Ch imyo, 340 Houston, Jean, 210, 211, 214, 225, 235, 322, 345, 346, 354, 357 Hume, David, 271, 320, 363 Hummel, Charles, 324 Humphreys, Christmas, 188, 197, 339, 340 Huxley, Laura Archera, 81,214, 226, 227,228, 229, 231,232, 237, 238, 243, 244,323, 328,348,355, 356, 357,358

O universo ao lado

Huxley.T. H . , 81, 214, 226, 227, 228, 229, 231, 232, 237, 238, 243, 244, 323, 328, 348, 355, 356, 357, 358

Ichazo, Oscar, 225, 354, 358, 360 Ionesco, Eugene, 113

Kirchen, K. A., 348, 360 Klimo, Jon, 214, 229, 356, 360 Krieger, Dolores, 351 Krupnick, Mark, 285, 366 Kiibler-Ross, Elisabeth, 240 Kubrick, Stanley, 217 Kurtz, Paul, 322 Kvaloy , Sigmund, 341

J

L

Jaki, Stanley, 329, 330, 331, 332 James, W illiam, 10, 209, 214, 235, 302, 315, 326, 342, 344, 346, 348, 357, 358, 360, 370, 372 Jesus, 17, 30, 32, 4 1 , 44, 48, 50, 53, 63, 67, 78,87, 90, 161, 172, 174, 175, 200, 204, 212, 257, 258, 275, 337, 338,340, 341,342,346 Jobling, David, 78, 83, 322 Johnson, David L., 325, 327, 337, 338, 339 Johnson, LukeTimoth y, 325, 327, 337, 338, 339 Johnson, Philip E., 325, 327, 337, 338, 339 Joyce, James, 302, 350 Jung, C. G., 214, 280, 348, 360

Laing, R. D., 251,353, 360 La Mettrie Julien Offray de, 75, 77, 79, 80, 89,320, 321,322,326 Lemley, Brad, 213, 348, 352 Lentricchia, Frank, 367 Leonard, George, 225, 303, 346 Leone, Mark P., 338 LeShan, Lawrence, 229, 249, 250, 353, 354, 356, 357, 358, 359, 360, 361 Lévi-Strauss, Claude, 285 Lewenstein, Bruce V., 368 Lewis, C. S., 123,216,317, 331, 338,351 Lilla, Mark, 265, 295, 361, 364, 366, 370 Lilly, Joh n, 207, 214, 223, 224, 229, 230, 231, 233, 237, 238, 239, 245, 246, 251, 349, 353, 356, 357, 358, 359, 360 Lindbeck, George A., 291, 369 I.inssen, Robert, 340, 341 Lipner, Julius, 339 Lippman, Walter, 326 Locke , John, 59, 60, 74, 271 Lockerbie, Bruce, 327 Lodge, Sir Oliver, 244 Lott, Eric, 339 Lovelock, J. E„ 216, 351 Lowrie, Walter, 335 Lucas, George, 217, 360

I

K Kafka, Franz, 113, 130, 137, 138, 161, 173, 333 Kant, Immanuel, 7, 169, 271,363, 369 Kaufmann, Walter, 333, 361, 363, 364 Keegan, Lyn n , 351 Keen, Sam, 235, 341, 354, 360 Kellner, Douglas, 361 Kierkegaard, Soren, 142, 160, 168, 170, 176, 335, 336 Kin g, Richard, 353, 360 Kinney, Jay, 352

• 376 •

Index

Ludwig, Arnold M., 96, 357 Lundin, Roger, 366 Lyon, David, 327 Lyotard, Jean-François, 266, 278, 284, 285, 288, 291, 362, 364, 365, 366, 368

M Maclntyre, Alasdair, 327, 336 MacKay, Donald, 360 MacKenzie, N . H . , 318 MacLaine, Shirley, 71, 210, 224, 226, 229, 230, 232, 236, 237, 238, 240, 244, 344, 345, 346, 352, 353, 354,356,357,358 Macquarrie, John, 336 Madonna, 355 Magee, Bryan, 297, 371 Mahesh, Maharishi, 183, 187, 188, 340, 352 Malachowski, Alan R., 370 Mangalwadi, Vishal, 342 Manifesto Humanista, 78, 83, 88, 89, 94, 323, 326, 327 Marshall, I . Howard, 315, 360 Marshall, Paul A , 315, 360 Marsh, Jeffrey, 321 Marx, Car l, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 104, 285, 327 Mascall, E. L.,317 Mascará, Juan, 193, 200, 339, 340 Maslow, Abraham, 214, 235, 348 Masters, Robert, 214, 235, 247, 248, 345, 350, 359 Maughm, Somerset, 302 McCraken , Samuel, 361 McGrath , Alister, 368, 370 McMillan , Liz, 368 Medawar, Peter, 58, 318, 328 Menninga, Clarence, 324 Mezan, Peter, 360

377

Michelmore, R, 332 Middleton, J. Richard, 291, 316, 369 Millet, Kate, 285 Milton , John, 56, 93, 318 Mitcham, Carl, 323 Mitchell, Joni, 366 Miuta, Issu, 341 Molière, Jean Baptiste, 16 Monastersky, Richard, 368 Monod, Jacques, 86, 119, 120, 326, 329 Moody, Raymond J., Jr., 240, 316, 358 Moore, Charles, 338 Moreland, J. R, 325 Morris, Thomas, 367, 372 Mouw, Richard, 315 Mumma, Howard, 159, 335 Murray, Michael ] . , 324 Myocho, mestre zen, 341

N Naugle, David, 7, 10, 316 Neill, Stephen, 337, 338 Newman, Margaret A., 351, 355 Nida, Eugene, 353 Niebuhr, Reinhold, 161, 173, 335, 337 Nielson, Kai, 296 Nietzsche, Friedrich, 15, 114, 116, 128, 138,142,173, 263, 264, 267, 271, 272, 274, 281, 294, 295, 296, 299, 328, 333, 334, 361, 363, 364, 370 Noel, Daniel C , 350 Nova Era, 71, 208, 209, 212, 213, 218, 221, 222, 234, 239, 241, 259, 271, 310, 343, 344, 345, 349, 351

O Oates, Joyce Carol, 318, 322, 350, 363 Oden, Thomas, 291,369

O universo ao lado

Okh olm, Dennis L , 369 Oliver, Joan Duncan 244, 344 Olthuis, James H . , 315 Owen, H . R, 317

P Packer, J. L, 327, 372 Paley, W illiam, 320 Paramahamsa, Sri Ramakrishna, 378 Pascal, Blaise, 35, 175 Pater, Walter, 302 Paulo, Apóstolo, 15, 39, 45, 48, 49, 258, 301, 330, 342, 346, 347, 351 Pearcey, Nancy, 317, 325, 329, 351 Peterson, Houston, 322 Peters, Ted, 342 Phillips, Timothy R., 316, 369 Phillips, W. Gary, 316, 369 Picasso, Pablo, 302 Plantinga, Alvin , 331 Platão, 15, 275 Platt, John, 90, 91, 148, 168, 326, 328, 334 Pollard, Nick, 333

Q Quine, W illard Vam Oman , 276, 364

R Radhakrishnan, Sarvapalli, 338 Ramakrishna, 339, 340 Ramm, Bernard, 327 Raschke, Carl A., 342 Ratzsch, Del, 317, 325,367 Redfield, James, 344, 346 Reisser, Paul C , 351 Reisser, Teri, 351

Renan, Ernest, 171, 337 Romain, Rolland, 339 Rorty, Richard, 275, 282, 294, 299, 363, 364, 365, 370, 371 Rosenfeld, Albert, 229, 356 Rosen, W inifred, 347 Roszak, Theodore, 214, 221, 349, 353 Russell, Bertrand, 296 Ryken, Leland, 366

s Sagan, Carl, 76, 296, 321, 326 Said, Edward, 273, 364 Sanborn, Sara, 319 Sartre, Jean Paul, 15, 141, 143, 146, 147, 151, 152, 153, 158, 176, 272, 280, 334, 365 Sasaki, Ruth Fuller, 341 Saussure, Ferdinand de, 285 Sayers, Dorothy L , 317 Schaeffer, Francis A , 171, 317, 318, 331,336, 371 Schiffman, Richard, 339, 340 Schmitt, Richard, 327 Schrõdinger, Erwin , 250, 359 Seaborg, Glen n , 328 Seznec, Jean, 316 Shakespeare, W illiam, 26, 93 Shawn, Wallace, 352 Showalter, Elaine, 285 Sidney, Sir Philip, 36, 317 Simpson, George Gaylord, 85, 86, 90,91, 106, 323, 325,326, 327 Sire, James, 316, 370 Skinner, B. E, 90, 118, 148,308, 328, 360 Smalley, W illiam A., 353 Sohl, Robert, 340 Sokal, Alan, 289, 290, 297, 351, 359,368, 371

378 •

Index

Solomon, Robert C , 363 Spangler, David, 354 Spanos, W illiam V., 334 Spenser, Edmund, 93 Spielberg, Steven, 217 Stavans, Ilan, 286, 367 Stenger, Victor J., 351, 359 Stevens, Bonny Klemp, 303, 366 Stevens, Wallace, 303, 366 Stewart, Larry L., 324, 340, 366 Stewart, W . Christopher, 324, 340, 366

Toland, John, 68 Tolkien .J. R. R., 317 Torrey, Norman L., 320 Toulmin, Stephen, 361 Trevethan, Thomas, 9 Tucker, Richard, 327 Turkle, Sherry, 323

Stott, John R. W ., 372 Strauss, D. E , 171, 285 Suzuki, D. T., 182, 203, 340, 341 Swihart, Phillip J. , 358

V

u Updike, John, 73, 83, 323

Van Till, Howard J. , 324 Veith, Gene Edward, Jr., 291, 369 Vivekananda, Swami, 182, 339 Voltaire, F. M. A. de, 60 Vonnegut, Kurt, Jr., 113, 132, 333

T Tart, Charles, 357, 360 Taylor, Charles, 291, 294, 347, 369, 370 Taylor, Eugene, 291, 294, 347, 369, 370 Taylor, Mark C , 291, 294, 347, 369, 370 Templeman, W illiam D., 337 Tennyson, Alfred Lord, 13, 315 Th axton , Charles, 317, 324, 325, 329, 351 Th ielicke, Helmut, 37, 318, 333, 359, 361 Thomas, Lewis, 9, 216, 291, 334, 351,365,369,372 Thompson, Keith, 214, 215, 219, 225, 229, 237, 253, 349, 350, 353, 354, 356, 357, 360 Thompson, W illiam Irwin , 214, 215, 219, 225, 229, 237, 253. 349, 350, 353, 354, 356, 357, 360 Todaro-Franceschi, Vidette, 351

w Walhout, Clarence, 366 Walsh, Brian, 291, 316, 369 Watson, Jean, 297,351,371 Watson, Peter, 297, 351, 371 Watts, Alan, 182, 319 Weber, Marx, 128 W eil, Andrew, 212, 213, 216, 220, 225, 235, 251, 347, 348, 349, 352, 353, 354, 358, 360 Weinberg, Steven, 351, 359, 368 W eldon, John, 351 Wellhausen, Julius, 171 Wells, David, 291, 369 W enh am.Joh n, 318 Westerstrom, Jeffrey N., 367 Westphal, Merold, 291, 370 W hitehead, Alfred Norih , 319, 320, 334 W h ir e, Mich ael, 319

379 •

O universo ao lado

W horf, Benjamim, 247, 359 Wilber, Ken, 208, 211, 212, 214, 225, 226, 229, 235, 237, 250, 254, 259, 342, 346, 355, 356, 357, 359, 360 W illiams, Bernard, 370 W ilson, E. O., 215, 297, 326, 370, 371 W ilson, James Q., 215, 297, 326, 370, 371 W inkler, Karen J. , 367 W itherington, Ben, 338 Wolfe, David L., 318 Woltjer, Lodewijk, 84 Woodward, Bob, 345 W right, J. S., 72, 320, 323, 337, 338, 360

W right, N. T. (Tom), 72, 320, 323, 337, 338, 360 W right, Robert, 72, 320, 323, 337, 338, 360

Y Yandell, Keith , 10, 306, 333, 339, 371

Z Zaehner, R. C , 235, 352, 357, 358 Zaretsky, Irving I . , 338 Zen, 183, 338, 341, 352, 357, 358 Zukav, Gary, 216, 219, .350, 353

380 •

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