O uso como invenção

October 3, 2017 | Autor: Christian Kasper | Categoria: Design, Material Culture
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O uso como invenção The use as invention KASPER Christian Pierre Doutor em ciências sociais, professor do departamento de design da Universidade Federal do Paraná Palavras-chave: Teoria do design, Moradores de rua, Invenção. O uso de um artefato, implicando sua mobilização por uma prática que sempre o excede, comporta uma dimensão criadora. A partir desse pressuposto, investigamos o uso de caixotes de feira descartados por um grupo de moradores de rua da cidade de São Paulo. Utilizando procedimentos metodológicos da pesquisa etnográfica, observamos as práticas materiais envolvendo os caixotes. Key-words: Design theory, Homeless people, Invention. The use of an artifact, implying its mobilization by a practice which always exceeds it, involves a creative dimension. Starting from this premise, we investigated the use of descarded wooden crates by a group of homeless people in the city of São Paulo. Using ethnographical research methods, we observed the material practices involving the crates.

- Introdução A pesquisa apresentada é parte de um trabalho sobre o uso dos materiais e dos espaços por moradores de rua da cidade de São Paulo, trabalho que resultou numa tese de doutorado financiada pelo CNPq e defendida na UNICAMP em junho de 2006. A relevância de tal estudo para o design diz respeito ao papel do usuário enquanto participante do processo de criação do produto, papel pouco reconhecido devido ao hábito de situar o uso do lado passivo de uma relação produção/consumo. A situação do morador de rua, excluído, em ampla medida, das formas legítimas de consumo, faz com que ele precisa desviar os objetos e os locais de seu destino primeiro: fazendo de um banco uma barraca, dormindo em calçada ou cozinhando no ‘fogão de lata’, ele transgride funções impostas por outros segmentos da sociedade. Enfocando o que está sendo produzido nesse processo, percebemos a dimensão inventiva de tais operações. Objetos comuns entram em novas combinações, inseram-se em novos contextos práticos e transbordam as limitações de sua função. Diferentemente de outros métodos de investigação, a observação etnográfica é não diretiva. As práticas estudadas não são previamente enquadradas por um dispositivo experimental montado pelo pesquisador: trata-se da observação focada de uma atividade espontânea. Por isso, parece-nos o método mais adequado para o estudo do uso na sua dimensão criativa. - O contexto da pesquisa O estudo etnográfico foi realizado entre fevereiro de 2004 e agosto de 2005 no parque Dom Pedro II, no centro da cidade de São Paulo. Mais precisamente, numa “ilha urbana”, ou seja, uma parte do parque recortada por uma alça de acesso ao viaduto 25 de março. O nome de ilha – usado até por certos moradores do local – se justifica pelo fato do lugar ser cercado por vias de trânsito, isolado – relativamente – de seus entornos. Com cerca de 1400 m2, a ilha era habitada, na época de nossa pesquisa, por uma dúzia de moradores de rua, cuja principal atividade relacionava-se com caixotes. Não é exagero dizer que essas pessoas viviam, literalmente, num (e de um) fluxo de caixotes. Fluxo, porque entravam e saíam diariamente daquele lugar cerca de quinhentos caixotes de madeira, usados na cidade para o transporte de frutas, legumes e verduras. Entravam pela atividade de coleta, em boa parte noturna, praticada pelos moradores da ilha, com a ajuda de carroças, que os recolhiam, em sua maioria, junto aos restaurantes do Centro e da Liberdade. Eram trazidos também por moradores de rua que não viviam na ilha. Saíam com o caminhão comprador, que passava no local todos os dias, às oito horas da noite; saíam também pelo rapa, que, às vezes, confiscava

tudo que não estava nas carroças; saíam, finalmente, em fumaça (os quebrados), pois serviam também de lenha. Esse fluxo constituía, assim, a principal atividade econômica da ilha. Dependendo do modelo, um caixote era revendido entre 40 centavos e 1 Real. Todos os catadores possuíam martelo e pregos e consertavam os caixotes danificados. Durante os dez primeiros meses de minha pesquisa, um dos moradores, conhecido como Seu Zé, concentrava o comércio dos caixotes. A maior parte dos outros moradores da ilha vendia para ele, assim como pessoas de fora, que conheciam a ilha como um lugar onde vender os caixotes. Apesar de sua importância econômica para quem o pratica, esse comércio é apenas o pano de fundo da atividade por nos estudada, atividade que envolve o caixote como elemento construtivo. Para entender seu papel na cultura material do grupo observado, é necessário considerar as condições de permanência dessas pessoas num local público bastante exposto. Devido à sua posição central – a praça da Sé, marco zero da cidade, está situada a menos de 400 metros – a ilha era submetida a uma vigilância sem trégua por parte do poder público, sendo o alvo quase cotidiano da operação conhecida como rapa, que, na época, confiscava periodicamente todos os pertences dos moradores de rua, exceto as carroças e seu conteúdo. As formas de ocupação do espaço tiveram, assim, de adequar-se aos limites impostos à permanência, adotando como tática básica a desmontabilidade. Diferentemente de tantos outros lugares ocupados por moradores de rua, não há sofás na ilha. Boa parte dos móveis era feita de caixotes, usados como peças de um jogo de armar. Vejamos, como exemplo disso, um berço: certo dia, Bento, um dos moradores do local, me mostrou sua filha de dois meses. Ela estava dormindo num berço feito com caixotes: dois deles, do modelo baixo (embalagem para tomate), formavam um estrado, outros mais altos (embalagem para banana), em volta, fechavam as laterais. Um pano cobria o conjunto. Quando me encontrei novamente com o pai, cerca de uma hora depois, ele carregava a menina no colo, e o berço tinha desaparecido: desintegrado. De maneira semelhante, a maioria dos abrigos era montada à noite e desmontada pela manhã. - Os usos dos caixotes Para entender melhor as diversas construções realizadas a base de caixotes, vejamos algumas características dos modelos mais comuns de caixotes de feira em uso na cidade de São Paulo. A quase totalidade dos que passavam pela ilha era daqueles modelos usados no transporte de frutas e legumes, sobretudo os tipos seguintes: tomate, laranja, verduras e bananas, a denominação exprimindo seu uso mais corrente. Vale notar que os caixotes são objetos padronizados, com medidas constantes. Por isso, as construções que compõem são ligadas aos tipos, e não aos objetos individuais, e são, portanto, indefinidamente reprodutíveis. A forma padronizada dos caixotes, suas faces paralelas, possibilita com que eles possam ser juntados por simples empilhamento, formando estruturas de fácil montagem e desmontagem. Enfim, uma propriedade comum a todos os caixotes é o excelente poder calorífico da madeira que os compõe. No local pesquisado, a forma quase universal de cozinhar era o fogão de lata, alimentado com sobras de caixotes, isto é, as partes quebradas, retiradas no conserto. Cada tipo de caixote de feira possui determinadas características, aproveitadas para um uso específico: LARANJA: é o mais resistente, sendo feito com uma madeira mais espessa. É também o tipo mais reaproveitado no comércio de frutas, portanto aquele que tem o maior valor de revenda (R$1). Sua rigidez faz com que seja usado, na ilha, como assento ou como base dos abrigos. Além do modelo ilustrado, existe um modelo baixo, com o mesmo formato e metade da altura; TOMATE: suas superfícies plenas fazem com que seja usado como base para diversas operações, tais como lavar roupas ou preparar alimentos; BANANA: outro modelo bastante rígido, usado, sobretudo, como coluna para sustentar o teto dos abrigos e, às vezes, como base; VERDURA: este tipo de caixote, grande e geralmente mal acabado, tem pouco uso, além da revenda.

1. Os modelos correntes de caixotes de feira

A tabela seguinte mostra as medidas dos modelos ilustrados (Altura, Largura, Profundidade, em centímetros): modelo tomate banana verdura laranja

A 36 32 36 30

L 23 36 42 29

P 53 53 60 60

Examinemos agora alguns objetos de uso cotidiano construídos na base de combinações de caixotes. O mais simples envolve o modo de usar que mais se aproxima da função original do caixote; consiste, simplesmente, em colocar dentro coisas que se queira guardar ou transportar. Devido à necessidade, para a população estudada, de guardar todos os dias seus pertences dentro das carroças – a fim de escapar do confisco pelo rapa – o caixote apresenta-se como uma maneira simples e eficiente de armazenar roupas e utensílios domésticos. Devido ao seu formato conveniente e à presença de alças, o caixote para transporte de laranjas é o mais utilizado para isso. Em termos de arquétipo mobiliário, trata-se da forma baú, com suas limitações próprias: o que está no fundo é de difícil acesso. Tal limitação é superada por outro móvel–arquétipo, a estante. Na ilha, essa forma apareceu apenas em épocas de trégua relativa. Consistia num empilhamento de caixotes de tomate, com suas aberturas voltadas para um mesmo lado, formando compartimentos de um tamanho conveniente para guardar roupas e, sobretudo, utensílios, que se apresentam, assim, na mão. Uma situação interessante: lembrando que o comércio de caixotes recuperados era a principal atividade econômica do lugar, os caixotes tinham que se acumular de alguma forma até a passagem do caminhão do comprador. A maior parte dos caixotes era empilhada e amarrada nas carroças. No entanto, formava-se também pilhas repousando no chão, e o uso feito desses arranjos parecia, às vezes, o mero aproveitamento de uma estrutura montada apenas para guardar os caixotes; era, as vezes, o caso das estantes já citadas, feitas com caixotes de tomates, e dos varais descritos a seguir.

Bancos: das quatro posições estáveis do caixote, três podem servir para sentar: com o lado estreito, largo ou a abertura, respectivamente, repousando no solo, proporcionando uma superfície cuja altura com relação ao chão varia de 23 a 60 centímetros, dependendo do modelo. Tais dimensões oferecem diversas possibilidades de sentar-se, por vezes combinadas com o uso de uma parede ou de uma árvore como encosto. Mesas: de modo geral, as funções que se atribuem às mesas, fornecer uma superfície sobrelevada, claramente distinta de seu entorno, são preenchidas, na rua, por diversos objetos que não mesas. As dimensões mencionadas com relação ao sentar valem para este uso do caixote; usado assim por elementos isolados, os caixotes formam pequenas mesas, que podem ser distribuídas no espaço ligado a uma determinada atividade, por exemplo cozinhar, oferecendo uma maior flexibilidade do que a superfície única de uma mesa “de verdade”. Além desta forma mais primitiva, observei combinações de caixotes que permitem uma maior altura da superfície útil. Cavaletes, apoios de todos os tipos: seja para serrar uma tábua, para manter uma carroça numa determinada posição, o caixote oferece a estabilidade necessária a tal emprego. Cercas: um dos moradores do local, Seu Zé, recolhia cachorros abandonados, e vivia junto com uma dúzia desse animais. Quando uma das cachorras deu cria, ele construiu um pequeno cercado com caixotes de tomate para que os filhotes não fugissem. Uma montagem semelhante era usada para conter o “papel branco” – um dos materiais melhor pago pelos recicladores – na hora de separar os constituintes do lixo, outra atividade econômica importante da ilha. Varais: além do clássico fio estendido entre árvores ou postes, observei varais feitos com os caixotes modelo verdura – uma de suas poucas aplicações – aproveitando-se de sua característica ‘esquelética’, que minimiza o contato com as roupas. Praticamente, tratava-se de uma pilha de caixotes, com altura de 5-6 caixotes, sobre a qual as roupas eram estendidas. Tal instalação servia também para arejar os cobertores. As construções mais notáveis empregando caixotes eram, na ilha, os abrigos, chamados pelos moradores de maloca, que serviam, sobretudo, para dormir com relativa segurança. Vejamos um modo de construção de abrigo bastante praticado no local: - primeiro, forma-se uma camada de caixote, com a abertura voltada para o chão, que permite afastar a cama do solo, precaução indispensável em época de chuva; - sobre essa camada, coloca-se um painel, geralmente de compensado, às vezes, uma porta, sobre o qual coloca-se um colchão; - nas extremidades, formam-se colunas com caixotes empilhados – geralmente de banana, às vezes de tomates – e apóia-se, sobre essas colunas, um outro painel, ou, mais comumente, 2-3 caibros, sarrafos ou tábuas, ou até barras feitas com cabos de vassouras emendados; - cobre-se essa estrutura com uma lona plástica. Coloca-se também algum peso por cima, para que o vento não leve a lona.

2. A estrutura de uma maloca

Vemos que esse tipo de abrigo é basicamente uma cama coberta, um gênero de cama de dossel. As variações a partir do tipo descrito começam, então, com o tipo de colchão: de solteiro ou de casal. No primeiro caso, apenas duas colunas, uma na cabeceira, outra no pé, sustentam o teto. Nos abrigos feitos a partir de um colchão de casal, coloca-se uma coluna em cada canto. Outras variações provêm do tipo de caixote usado na base e nas colunas. O caixote de tomate, por exemplo, pode combinar a forma estante, descrita acima, com a estrutura do abrigo, como naquele de um jovem casal, que tinha uma parede inteira feita assim, muro do lado de fora e prateleira do lado de dentro, onde guardavam roupas, objetos e mantimentos.

Esses exemplos de uso mostram que os caixotes podem não somente substituir, para seus fins práticos, a quase totalidade dos móveis usuais, como também servir para construir equipamentos específicos para a vida na rua, como o abrigo para dormir. Por sua simplicidade, sua robustez e pelas capacidades de combinação que oferece, o caixote de feira revela-se um artefato extremamente versátil. - Além da função: o uso O conceito de função sobreviveu ao declínio do funcionalismo e continua sendo a referência, no campo do design, para se pensar o uso dos artefatos. Ora, qual seria a função de um caixote de feira? Apenas a finalidade pela qual ele foi produzido, isto é, permitir o transporte de frutas, legumes e verduras. Os outros empregos, analisados aqui, seriam, nesta perspectiva, desvios da função original dos caixotes (KASPER, 2004). Percebe-se, com isso, o caráter normativo da função e sua inadequação para se pensar os usos não antecipados dos artefatos. Para além da função, o que observamos? Objetos em diversas combinações – entre si e com outros objetos – envolvidos em práticas que exploram algumas de suas propriedades. Com efeito, cada uso feito de um objeto apóia-se num conjunto de propriedades (dimensão, rigidez, peso, etc.) que permite que ele se articula com outros elementos ou com as posturas e os gestos ligados a uma determinada atividade. O conceito de affordance, criado por James Gibson como parte de sua teoria da percepção, abarca, precisamente, essas combinações invariantes de propriedades, do ponto de vista das ações possíveis que elas propiciam. A palavra affordance, cunhada por Gibson a partir do verbo to afford, que significa propiciar, oferecer, designa o que o ambiente provê ou fornece. O que percebemos das coisas, diz este autor, não são qualidades, como o defende a psicologia clássica, mas as possibilidades de ação que elas oferecem, isto é, suas affordances. As affordances não podem ser medidas como grandezas físicas, pois são relativas ao agente, o que não significa, porém, que sejam subjetivas ou arbitrárias: “as affordances de uma coisa não mudam com as necessidades do observador. O observador pode ou não perceber ou atender a affordance, dependendo de suas necessidades, mas a affordance, sendo invariante, está sempre aí para ser percebida. Uma affordance não é aplicada sobre um objeto por uma necessidade de um observador e seu ato de percebê-la.”(GIBSON, 1986: 139) De fato, as affordance não são nem subjetivas nem objetivas, nem físicas nem fenomenais, mas relacionais. Sendo um atributo da relação (ou virtual, ou atual) entre o agente e o artefato, a affordance contém uma dupla referência: “uma affordance (...) aponta para dois lados, para o meio ambiente e para o observador (...) Mas isso não implica em nada uma separação entre a consciência e a matéria, um dualismo psicofísico. Só diz que a informação para especificar as utilidades do meio ambiente está acompanhada por informação especificando o próprio observador, seu corpo, suas pernas, suas mãos, sua boca.” (GIBSON, 1986: 141) Podemos ilustrar isso com o exemplo do sentar: uma superfície permite sentar-se nela se possuir um certo tamanho, uma certa rigidez, mas também uma altura relativa à própria altura de quem pretende sentar-se nela (à altura dos joelhos acima do chão, diz Gibson). À luz do conceito de affordance, percebemos o caixote, não mais em termos de função, mas como conjunto aberto de possibilidades. Se, por um lado, certas affordances dos caixotes decorrem da finalidade pela qual ele foi fabricado, que determinou, em particular, suas dimensões com relação a um carregador humano, outras revelam-se apenas através de um modo de usar radicalmente imprevisível fora do contexto onde foi observado. É claro, no entanto, que não se reinventa a roda todos os dias: boa parte das soluções observadas não são invenções singulares, mas fazem parte da cultura material própria à população de rua de São Paulo – e até do Brasil em geral -, como, por exemplo, o ‘fogão de lata’, por nos encontrado em diversos lugares da cidade. Vale notar também que existem outras affordances dos caixotes a serem exploradas: todas as configurações descritas aqui empregam o caixote sem modificá-lo, construíndo apenas por justaposição e empilhamento. No entanto, o caixote de madeira, pela simplicidade de sua junções a base de pregos e pela forma padronizada de seus elementos, permitiria muitas transformações, caso seja desmembrado e seus componentes recombinados. Tal parece ter sido o caminho seguido por Gerrit Rietveld com sua linha de móveis Crate (caixote), lançada na década de 30 com o intuito de produzir móveis acessíveis para as populações de baixa renda (VÖGE, 1993: 88-89).

- Conclusão As práticas estudadas evidenciaram a grande diversidade de situações envolvendo caixotes. De fato, a maioria das atividades cotidianas do grupo observado, seja lavar roupas, cozinhar, comer, dormir, trabalhar, utilizam-se de caixotes como elemento essencial. Tamanha diversidade de empregos de um mesmo objeto – ou quase: temos que levar em conta a existência dos quatro modelos, com características diferenciadas – deve envolver vários fatores, entre os quais podemos mencionar: 1) a excepcional versatilidade dos caixotes em geral, enquanto objeto-tipo; 2) as condições particulares da vida nas ruas, sobretudo o fato de ter o lixo como fonte quase exclusiva de materiais. Com efeito, ao contrário dos produtos oferecidos ao consumo, os artefatos descartados não estão acompanhados por um “modo de usar” que pretende definir sua função e limitar os usos possíveis; 3) a existência, no local pesquisado, de um fluxo permanente de caixotes, por conta da atividade de recuperação. Isto faz com que os caixotes estão sempre na mão, prontos para servir; 4) a presença de uma comunidade de pessoas compartilhando as mesmas circunstâncias de vida, condição para a socialização de determinada soluções construtivas, que acabam se tornando receitas. No campo do design, o uso real dos produtos, para além das definições prévias, apresenta-se como uma vasta terra incognita. Como nota Krippendorf: “o âmbito dos usos possíveis dos artefatos é geralmente muito maior do que antecipado por seus designers” (KRIPPENDORFF, 2006: 108); e o autor ilustra esta afirmação com o exemplo dos caixotes de plástico destinados ao transporte do leite, transformados em “estantes para livros, brinquedos para crianças, caixas para guardar ferramentas, paredes divisoras, pequenas escadas ou cestos para bicicleta” (ibid). A situação descrita nesta comunicação, em que o uso é apenas um momento da trajetória do objeto, é exemplar, na medida em que é levada ao extremo uma característica do ciclo do produto em geral: cada uso que é feito de um artefato é apenas uma fase de sua história, entre sua primeira materialização e sua destruição terminal, e resulta tanto de suas características quanto da inventividade de quem o usa. Bibliografia GIBSON, J.J. The ecological approach to visual perception. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1986. KASPER, C. P. Aspectos do desvio de função. Campinas, outubro de 2004. Disponível em: www.ifch.unicamp.br/cteme/Pierre_ATP.pdf KASPER, C. P. Habitar a rua.Tese (doutorado em ciências sociais) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2006. KRIPPENDORFF, K. The semantic turn. A new fundation for design. Boca-Raton: Taylor & Francis, 2006. VÖGE, P. The complete Rietveld furniture. Rotterdam: 001 publisher, 1993. Christian Pierre Kasper [email protected]

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