O uso da madeira de plantios florestais para a produção de janelas com folhas mexicanas para habitação social rural. Estudo de caso: Marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP).

June 4, 2017 | Autor: Thaisa Leite | Categoria: Wood Engineering, Madeira, Wood Technology, Tecnologia Da Madeira, Construção em madeira
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O uso da madeira de plantios florestais para a produção de janelas com folhas mexicanas para habitação social rural. Estudo de caso: Marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP). Thaisa Marques Leite (1), Everton Randal Gavino (2) e Akemi Ino (3) (1) MSc. Arquiteta e Urbanista, Brasil. E-mail: [email protected] (2) Mestrando, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, IAU-USP, Brasil. E-mail: [email protected] (3) PhD, Professora Associada, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, IAU-USP, Brasil. E-mail: [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar o processo de produção de esquadrias de madeira de eucalipto, com folhas mexicanas, produzidas em uma marcenaria coletiva formada por mulheres-agricultoras do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP). O artigo se insere no debate do uso múltiplo da madeira de plantios florestais para a produção de componentes voltados para habitação de interesse social, de forma a utilizar recursos locais, renováveis e de baixo impacto ambiental, com possibilidades de geração de trabalho e renda. Como estratégia de pesquisa adotou-se o estudo de caso com suporte no método da pesquisa-ação participativa. Para a coleta de dados utilizou-se como fonte de evidência registros escritos (relato das atividades, relato de reuniões, dentre outros), registros em video e fotos do processo de produção e, principalmente, a partir da observação direta e participante dos pesquisadores-assessores do grupo Habis (IAU-USP). Os resultados obtidos foram: desenvolvimento de estudos de desenho de folhas mexicanas, com revisão no desenho e no processo de produção; realização de protótipo; produção de 110 folhas mexicanas em escala; e composição da apropriação de custo. A relevância desse artigo está em desenvolver estudos e criar banco de dados na produção de componentes esquadrias com o uso da madeira de eucalipto, com qualidade e custo acessível aos programas de habitação social, considerando o contexto de uma marcenaria coletiva com infraestrutura básica e marceneiras em constante fase de capacitação para os serviços técnicos e de autogestão do empreendimento. Palavras-chave: Madeira de plantios florestais, esquadrias de eucalipto, marcenaria coletiva, habitação social rural. Abstract: This paper has the main objective to analize the production process of sawed eucalyptus windows, with mexican leaves, produced in collective joinery, formed by rural-women from the Rural Settlement Pirituba II (Itapeva-SP). This paper inserts in the debate of the multiple use of the reforestation wood for the production of components for social housing, using local resources, renewed and of low environmental impact, with possibilities of generation of work and income. As research strategy it was adopted the study case with support in the method of the research-action. For the data collection, the evidence source used was written registers, registers in video and photos of the process of production and, mainly, the register from the direct and participant comment of the researcher-assessors of the Habis group (IAU-USP). The gotten results had been: development of Mexican leaf drawing, with revision in the drawing and the production process; the prototype production and the production of 110 mexican leaves in scale; and the costs composition. The relevance of this paper is in developing studies and to create data base in the production of windows components with the use of the sawed eucalytus, with quality and accessible cost to the programs of social housing, considering the context of collective joinery, with basic infrastructure and women-joiners in constant phase of qualification for the technician services and self management of the enterprise. Key-words: Reforestation wood, sawed eucalyptus windows, collective joinery, social rural housing.

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1. INTRODUÇÃO Segundo as autoras Laverde e Ino (2006), até alguns anos, no Brasil, a madeira de plantios florestais era voltada exclusivamente para a produção de celulose, carvão vegetal, moirões e postes. Porem, com o crescente desenvolvimento e o aumento da demanda de mercado por produtos madeiráveis, as empresas do setor florestal ampliaram as possibilidades de sua utilização e diversificar a produção na forma de multiprodutos. Essa diversificação do uso da madeira na produção de habitação traz uma escolha consciente em relação às questões ambientais, pois é um material que apresenta baixo consumo energético no seu processamento em relação a materiais minerais (extração mecanizada de jazidas, transformação da matéria-prima por meios siderúrgicos e/ou metalúrgicos até a obtenção do produto final); apresenta baixo impacto ambiental e várias possibilidades de reuso e reciclagem. Com isso, percebe-se a grande potencialidade no uso de madeira de florestas plantadas para produção de componentes para habitação social, com oportunidades para geração de trabalho e renda em locais com potencial florestal. A possibilidade de se investir em plantios florestais voltados para a produção de componentes para habitação social, com custos e qualidade compatíveis, pode recolocar o segmento industrial de esquadrias de madeira em uma perspectiva de mudança de seu caráter predador para um patamar de sustentabilidade a ser viabilizada por tecnologias já disponíveis no país. (DELLA NOCE et al, 1998). Diante desse contexto, de possibilidades do uso da madeira de plantios florestais para produção de componentes para habitação social, o antigo grupo GHab, atual Habis (grupo de pesquisa em habitação e sustentabilidade – IAU-USP, São Carlos-SP), desenvolveu projeto de pesquisa “Otimização do Processo de Fabricação de Esquadrias de Madeira no Centro Produtor da Região Sul”, em 1998, tendo financiamento do programa FINEP/Habitare e parceria com empresa privada da região. O intuito da pesquisa era trazer inovações tecnológicas na produção de esquadrias com o uso da madeira de plantios florestais, avaliando o processo produtivo e desenho de forma a proporcionar custo e desempenho satisfatório para programas de habitação social (INO, SHIMBO, SOUZA, 2003). Outra experiência de desenvolvimento de componentes de madeira – esquadrias – foi quando o grupo iniciou a sua atuação na região sudeste paulista com o projeto “Habitação social em madeira de reflorestamento como alternativa econômica para usos múltiplos da floresta”, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP. Em 2003, com recursos do Programa FINEP/Habitare, o projeto obteve continuidade com o trabalho “Projeto INOVARURAL - Habitação rural com inovações no processo, gestão e produto: participação, geração de renda e sistemas construtivos com recursos locais e renováveis”. Nesse trabalho de pesquisa e extensão, deu-se o inicio do projeto de construção de 49 moradias rurais, no Assentamento Rural Pirituba II, localizado no município de Itapeva-SP. A região escolhida deve-se ao fato de apresentar um grande potencial florestal, pois apresenta maiores áreas de plantios de eucalipto no Estado de São Paulo e, também, por apresentar baixos índices de desenvolvimento socioeconômico. Como forma de aproveitar o potencial florestal da região e, também, de gerar trabalho e renda para moradores do assentamento, surgiu a marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II. No período de 2004 a 2006, a marcenaria produziu componentes de esquadrias e sistema de cobertura, para o projeto das 49 moradias rurais, com uso da madeira de pinus e eucalipto. Em relação às esquadrias produzidas durante esse período foi possível verificar que o produto final apresentou qualidade e custo competitivo em relação ao mercado de esquadrias e conforme Laverde (2007) apresentou, também, ganhos sociais embutidos durante todo o processo produtivo, com geração de trabalho e renda para as famílias envolvidas, no caso as marceneiras e os jovens do assentamento. Já no período de 2006 a 2009, o grupo Habis assumiu a assessoria da construção de 77 moradias no Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP/Brasil), o que proporcionou a continuidade dos VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis - Vitória – ES - BRASIL - 7 a 9 de setembro de 2011

trabalhos da marcenaria coletiva de Itapeva-SP. Para suprir essa demanda por 77 moradias, foram produzidas 462 janelas de madeira de eucalipto, com folhas de vidro, mexicanas e venezianas. Para a produção foi necessário aperfeiçoar algumas etapas do processo produtivo de folhas e batente, no sentido de solucionar gargalos apresentados na etapa anterior. Ao mesmo tempo, investir na capacitação do grupo da marcenaria, tanto para os serviços técnicos (produção) quanto para as atividades de gestão da própria marcenaria. 2. OBJETIVO Este artigo tem como objetivo analisar o processo de produção de 55 janelas mexicanas em madeira de plantios florestais na marcenaria coletiva, localizada no Assentamento Rural Pirituba II (ItapevaSP/Brasil), de forma a caracterizar e analisar o processo de produção: revisão de desenho, o processo produtivo e a apropriação de custo. Tal produção destinou-se a atender a demanda gerada pela construção de 77 moradias rurais no Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP/Brasil), com a assessoria dos pesquisadores do grupo de pesquisa Habis (IAU-USP/UFSCar) e a InCoop (UFSCar). 3. METODOLOGIA E ESTRATEGIA GERAL DE PESQUISA Como estratégia de pesquisa, adotou-se o estudo de caso com o suporte no método da pesquisa-ação participativa, que segundo Thiollent (2002) é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Dessa forma, os pesquisadores-autores também são agentes envolvidos na ação, pois além das atividades de pesquisa, como coleta de dados e sistematização, são assessores nas questões técnicas relativas à produção e gestão na marcenaria. Para a coleta de dados, utilizou-se como fonte de evidências relatos escritos, fotográficos e em vídeos, documentação existente formal e informal (relatórios, planilhas orçamentárias, cronograma de execução de produtos, projetos) e a observação participante (vivência dos pesquisadores-autores como assessores técnicos na marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II). A pesquisa apresentada, produção de janelas com folhas mexicanas, teve como base os estudos relativos ao desenvolvimento de esquadrias com o uso de madeira de plantios florestais, voltados para programas de habitação social (DELLA NOCE, 1998; INO, SHIMBO, SOUZA, 2003; LAVERDE, 2007; LEITE, 2009; GAVINO, 2010), de forma sempre a aperfeiçoar o processo produtivo, gerar um banco de dados e suscitar a continuação do debate sobre o uso da madeira de reflorestamento para a produção de componentes voltados para habitação, gerando possibilidades de trabalho e renda para famílias que apresentam baixos recursos financeiros. 3.1. A marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP) No momento da produção de esquadrias para a demanda das 77 moradias no Sepé, a marcenaria coletiva era formada por 04 mulheres-agricultoras, de baixa renda, com idade, em torno de 50 anos, cujo histórico inicial era de não apresentar qualificação técnica para os serviços de marcenaria. O aprendizado dessas mulheres-marceneiras tem ocorrido na prática do dia-a-dia, com o apoio inicial de um instrutor e, posteriormente, com o apoio dos pesquisadores-autores do grupo Habis. Além disso, naquele momento da produção das folhas mexicanas, a marcenaria contou com o apoio dos jovens do próprio assentamento rural, que segundo Gavino (2010) veem na marcenaria uma alternativa ao trabalho do campo e uma possibilidade de alcançar oportunidades de ensino e aprendizagem, além de fixá-los no assentamento.

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Em relação a infraestrutura da marcenaria, conta com o espaço de um barracão e contem maquinários e ferramentas, tais como: serra esquadrejadeira de mesa, plaina desengrossadeira, plaina desempenadeira, tupia, lixadeira de mesa, furadeira de eixo horizontal, respigadeira e destopadeira de eixo horizontal. Na figura 1, tem-se uma vista externa do barracão da marcenaria e vistas internas da marcenaria, com seus equipamentos, marceneiras e jovens aprendizes.

FIGURA 1 – Imagens externas e internas da marcenaria, visualizando maquinários disponíveis, marceneiras e jovens aprendizes. Fonte: acervo Habis (2007).

4. O PROCESSO PRODUTIVO DAS FOLHAS MEXICANAS O processo de produção das folhas mexicanas, que será abordado nesse artigo, fez parte da encomenda de 462 janelas de madeira de eucalipto para o assentamento Sepé Tiaraju. Em etapa anterior, houve reuniões com as famílias do assentamento, juntamente com os pesquisadores do grupo Habis e, também, as marceneiras da marcenaria coletiva de Itapeva, para definir quais as tipologias de janelas a serem produzidas, que entre elas estavam, também, janelas com folhas de vidro e folhas venezianas. Nessas reuniões também foram definidas a escolha da tipologia por ambiente da casa, determinando assim o quantitativo de tipologias por família e, consequentemente, o quantitativo final de cada tipologia. Assim, definiu-se que seriam produzidas 110 folhas mexicanas pela marcenaria de Itapeva. As etapas seguintes se voltaram para a busca da matéria-prima e definir o processo produtivo das folhas na marcenaria, que consistiu em: a) revisão do desenho da folha mexicana; b) realização de protótipo; c) produção em escala e apropriação de custo. 4.1. Revisão do desenho da folha mexicana É importante abordar que antes da produção das janelas para o Sepé, a marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II, já havia realizado uma de suas primeiras experiências em produzir esquadrias, cuja demanda foi para o próprio assentamento. Além disso, outras encomendas particulares surgiram e uma delas consistia produzir folhas mexicanas para uma residência unifamiliar, na cidade de São Carlos-SP. A característica do desenho da folha mexicana adotada para essa encomenda foi a composição de réguas, travessas inferior e superior, com a possibilidade de uma travessa no sentido transversal às réguas ou no sentido diagonal, como um contraventamento. O encaixe entre as réguas, adotadas pela marceneiras, era por meio rebaixo. Nessa encomenda particular, posterior à produção do Sepé, a madeira utilizada foi eucalipto urophylla. Após a entrega das folhas prontas, percebeu-se que surgiram alguns defeitos como o deslocamento das réguas, criando frestas e, consequentemente, um encurvamento de todo o conjunto da folha, conforme pode ser visto na figura 2.

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FIGURA 2 - Defeitos apresentados nas folhas mexicanas com encaixes de meio rebaixo, cujas folhas foram produzidas na marcenaria Madeirarte. Fonte: acervo Habis (2008).

Diante dos problemas apresentados nessa encomenda de folhas mexicanas, era necessário identificar os problemas encontrados nas folhas prontas e as possíveis causas do surgimento de algumas patologias. Além de observar que as réguas sofreram deslocamentos, foi possível detectar, também, uso de pregos com dimensões maiores do que a espessura da folha, mau acabamento no momento de passar cola epóxi, misturado com pó de serra, na cabeça dos pregos e em alguns nós encontrados nas réguas. Portanto, o desenho e o processo de produção das folhas mexicanas, o qual as marceneiras estavam acostumadas a executar, foram revistos. No desenho foi proposto às marceneiras que as réguas apresentassem encaixe macho-fêmea, o que permitiria uma área de maior contato entre as peças. Para a fixação das travessas nas réguas, seriam feitos rebaixos para colocação de parafusos ou cavilhas e para o fechamento desses rebaixos, protegendo o furo, utilizar-se-iam tarugos. (ver figura 3)

FIGURA 3 - Croquis com corte e perspectiva da nova proposta do desenho da folha mexicana para a encomenda do Sepé. Fonte: LEITE (2009).

Assim, seguindo o projeto das moradias do Sepé, as janelas com folhas mexicanas seriam compostas por um batente de 1.18x1.15m, pois o vão livre era de 1.20x1.20m e duas folhas compostas por réguas, travessas superior, inferior e diagonal.

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B

118

12

55.8

3

6

3

2.5

56.8

RÉGUAS 7.1

TRAVESSA SUPERIOR

1.8

RÉGUA BATEDOR

115

TRAVESSA DIAGONAL

TRAVESSA INFERIOR

B

A

VISTA INTERNA

CORTE BB

118 56.8

55.8

12

6.7 1

2

2

2

2

2

2

3

4

2

2

2

2

2

2

5

7.1

CORTE AA

FIGURA 4 – Desenho técnico da janela com folha mexicana (batente e folhas), com 1.18x1.15m. Fonte: LEITE (2009).

4.2. Realização do protótipo Como forma de testar o novo desenho da folha mexicana, era necessária a realização de um protótipo. Com o recebimento do lote de madeira de eucalipto grandis, proveniente da região de Telêmaco BorbaPR, foi realizado no mês de julho de 2008, o protótipo da folha mexicana, com a presença de 03 marceneiras, 01 jovem aprendiz e 02 pesquisadores-assessores do grupo Habis/INCOOP (IAU-USP e UFSCar). Para a realização do protótipo foi feita uma capacitação com as marceneiras com explicações do novo desenho e foi retirada, inicialmente, uma proposta de romaneio das peças para a produção, em escala, de 110 folhas mexicanas. O lote de madeira adquirido estava dividido em peças de 1ª, 2ª e 3ª qualidade, mas o número de peças de primeira qualidade era insuficiente para a produção de todas as peças componentes das 110 folhas mexicanas. Portanto, propuseram-se duas alternativas, cuja primeira seria voltada para produção de 30 janelas, ou seja, 60 folhas com peças brutas de 1ª qualidade. E para segunda alternativa, seriam utilizadas peças brutas de 1ª e 2ª qualidade para a produção de 25 janelas, ou seja, 50 folhas. Nesse caso, as peças brutas de 1ª qualidade seriam empregadas na produção de componentes que recebem os maiores esforços como as travessas inferior, superior e a diagonal de contraventamento. E as de 2ª qualidade, seriam empregadas para a produção das réguas. Com a modificação do desenho da folha mexicana foi necessário rever o processo produtivo. Portanto, para a realização desse protótipo, as etapas de produção das folhas foram: processamento primário (1º destopo, desempeno, desengrosso, 2º destopo); processamento secundário (produção de réguas, travessas inferior e superior e travessas de contraventamento); montagem da folha mexicana (pré-montagem, furação, colocação de parafusos ou cavilhas, colocação de tarugos e lixamento); acabamento final da folha; e armazenagem. Nas figuras 5, 6, e 7 é possível observar a sequencia de produção do protótipo da folha mexicana.

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FIGURA 5 – Imagens referentes às etapas do processamento primário – destopo, desempeno e desengrosso. Fonte: acervo Habis (2008).

FIGURA 6 – Imagens referentes às etapas do processamento secundário – execução dos encaixes macho-fêmea na tupia e lixamento das peças. Fonte: acervo Habis (2008).

FIGURA 7 – Imagens referentes às etapas da montagem da folha mexicana – pré-montagem, furação, colocação de parafusos e de tarugos. Fonte: acervo Habis (2008).

Uma das etapas importantes no processo de produção das folhas mexicanas é a execução dos encaixes do tipo macho-fêmea. Na realização do protótipo, os pesquisadores-assessores do grupo Habis/InCoop colocaram a importância de se observar, na seção das peças, o sentido dos anéis de crescimento da madeira. As marceneiras foram capacitadas de sempre intercalar o sentido desses anéis, ora para cima, ora para baixo, pois quando a peça de madeira sofrer retrações ou inchamento, uma peça compensará a outra, diminuindo as possibilidades de se formar frestas entre os encaixes das réguas. (ver figura 8)

FIGURA 8 – Demonstração de como devem ficar posicionadas as réguas, em relação aos anéis de crescimento das peças de madeira. Fonte: acervo Habis (2008). VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis - Vitória – ES - BRASIL - 7 a 9 de setembro de 2011

Nessa etapa de preparação das peças e execução dos encaixes macho-fêmea, faz-se importante o trabalho em grupo, onde uma das marceneiras fosse responsável por fazer marcas que indiquem, no momento de execução dos encaixes, qual o sentido dos anéis de crescimento, e a outra, responsável pela execução dos encaixes macho-fêmea. Assim, com a marcação, facilitaria no momento da execução dos encaixes na tupia e no posicionamento das réguas no momento da montagem na mesa gabarito. Apesar das explicações, as marceneiras se sentiram inseguras em realizar essa observação das peças, na execução dos encaixes. Percebendo essa dificuldade, os pesquisadores-assessores partiram para prática, onde as marceneiras puderam, então, entender como observar o sentido dos anéis, decidiram os tipos de marcas indicativas para anéis de crescimento com sentido para baixo e outro para cima e realizar os encaixes, executando todos os encaixes do tipo macho e, depois, ajustando a tupia, para realizar todos os encaixes do tipo fêmea. Durante a realização do protótipo, montou-se uma mesa gabarito, como é possível observar na figura 6, de forma a facilitar o encaixe correto das réguas, fixando a largura final da folha. E, também, o posicionamento das travessas inferior e superior nas réguas das folhas, facilitando as etapas de furação e aparafusamento.

FIGURA 9 – Protótipo da folha mexicana com o uso da madeira de eucalipto grandis – 1ª e 2ª qualidade. Fonte: acervo Habis (2008).

4.3. Produção em escala e Apropriação de custo O resultado da experiência de produção do protótipo da folha mexicana foi satisfatório. O lote de madeira adquirido de eucalipto grandis, em Telêmaco Borba-PR, havia passado pelo processo de secagem em estufa e suas peças foram pré-selecionadas, o que acarretou em peças com menos incidência de defeitos como nós e rachaduras de topo. Isso proporcionou em diminuição de perdas. Além disso, a capacitação das marceneiras e dos jovens aprendizes em relação a todo processo produtivo, inclusive na fase de intercalar as réguas em virtude dos anéis de crescimento, foram pontos importantes para garantir tanto qualidade durante o processo produtivo e no produto final. Em relação à produtividade, percebeu-se que para a produção em escala, estimou-se que levariam 10 dias para a produção de 110 folhas, considerando 4 pessoas. Mas, de acordo com as anotações do caderno de apontamento diário da marcenaria, foram necessários 16 dias para a produção de 110 folhas mexicanas, considerando a média de 04 pessoas. Esse prolongamento de 6 dias em relação ao estimado é devido ao fato de que na etapas inicial, o processamento primário foi realizado apenas por duas marceneiras. E para a etapa de montagem, apesar da presença de 04 pessoas, só havia uma única mesa com gabarito, ou seja, tinha-se um único ponto de montagem da folha mexicana. Para a apropriação de custos, considerando que a madeira adquirida de eucalipto grandis teve um custo de R$700,00/m³ (matéria-prima, secagem em estufa e transporte até a marcenaria) e o valor do serviço técnico da marcenaria foi de R$3,30/h, chegou-se no valor de R$ 130,25 (batente + folha mexicana) por VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis - Vitória – ES - BRASIL - 7 a 9 de setembro de 2011

janela, sem considerar impostos embutidos em notas fiscais. Fez-se uma estimativa com valores dos impostos, o que passaria para R$ 175,91. No gráfico 1 é possível observar os valores que mais impactaram na estimativa de custo da folha mexicana. Entre eles estão em ordem de maior participação: madeira, tratamento com pintura stain, mão-de-obra e o fundo de reserva da marcenaria.

GRÁFICO 1 – Participação (valores em porcentagem) de cada item na formação do custo estimado da janela com folhas mexicanas. Fonte: LEITE (2009).

FIGURA 10 – Instalação das janelas com folhas mexicanas nas moradias do Assentamento Rural Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP). Fonte: acervo Habis (2009). 5. CONCLUSÕES

Em relação à produção das folhas mexicanas, a revisão do detalhamento do desenho dos encaixes das réguas, que anteriormente eram executadas com meio rebaixo e pela nova proposta passou para encaixes do tipo macho-fêmea, trouxe melhorias no produto final. Com a proposta de executar os encaixes machofêmea na tupia, observando sempre o sentido dos anéis de crescimento e intercalando entre as peças, fez com que o produto final apresentasse qualidade, diminuindo possível surgimento de frestas entre as réguas. A princípio, as marceneiras encontram dificuldades em identificar esses anéis de crescimento, mas com a capacitação dos pesquisadores-assessores do grupo Habis, que orientou para que elas trabalhassem em duplas, facilitou o entendimento e a execução das réguas. Quanto ao uso da matéria-prima, percebeu-se um resultado satisfatório, a madeira adquirida na região de Telêmaco Borba-PR passou pelo processo de secagem em estufa e as peças foram pré-selecionadas pela serraria, em 1ª e 2ª qualidade. A qualidade das peças garantiu redução de perdas e maior produtividade. Já em relação a apropriação de custo, o valor final alcançado encontra-se competitivo em relação às esquadrias metálicas que se encontram no mercado comumente utilizadas para habitação social, mesmo com os valores dos impostos embutidos. VI Encontro Nacional e IV Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis - Vitória – ES - BRASIL - 7 a 9 de setembro de 2011

Nessa experiência da produção de 110 folhas mexicanas percebeu-se que a importância em compreender o processo produtivo, que começa desde a obtenção da matéria-prima, passando pela revisão do desenho da folha até a produção na marcenaria, faz com que os produtos finais apresentem qualidade e custo competitivo, o que favorece em quebrar certas barreiras culturais relativas ao uso da madeira de plantios florestais na habitação. Além disso, houve ganhos de conhecimento técnico tanto para os pesquisadores-assessores quanto para as marceneiras e jovens envolvidos no processo. O conhecimento técnico não se restringe apenas em conhecer o processo produtivo, mas também no processo de gestão da marcenaria. Mas ainda é necessário investir em capacitação contínua desses marceneiros para que eles alcancem autonomia, de forma a autogerir o próprio empreendimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELLA NOCE, L. G. et al. “Análise da viabilidade técnica e econômica para fabricação de janelas de eucalipto na região sul. VII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, ENTAC 98, Florianópolis, SC, 1998; GAVINO, E. R. “Um outro desenvolvimento de produtos e processos inovadores em empreendimentos coletivos autogestionários. Caso: Marcenaria de mulheres do Assentamento Rural Pirituba II, Itapeva/SP”. 6º Seminário acadêmico Internacional. Comité Académico sobre Procesos Cooperativos e Iniciativas Económicas Asociativas, PROCOAS, La Plata, Argentina, 2010; INO, A; SHIMBO, I; SOUZA, A. J. D. “Otimização do processo de fabricação de esquadrias de madeira no centro produtor da região sul e desenvolvimento de janelas de baixo custo para habitação social”. Inovação, Gestão da Qualidade e Produtividade e Disseminação do Conhecimento na Construção Habitacional. Coletânea Habitare, v. 2. Porto Alegre. ANTAC, 2003; LAVERDE, A.; INO, A. “Caracterização da cadeia produtiva de esquadrias de madeira de eucalipto em uma marcenaria autogestionária no assentamento rural “Fazenda Pirituba”. Anais do Encontro Brasileiro em Madeira e em Estruturas de Madeira – Ebramem, Águas de São Pedro, SP, 2006; LAVERDE, A. Processo Produtivo de Esquadrias em Madeira de Eucalipto na Marcenaria Coletiva do Assentamento Rural Pirituba II – Itapeva-SP. São Carlos, SP. Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo, 2007; LEITE, T. M. “Análise da viabilidade técnica e econômica da produção de janelas de madeira de eucalipto em uma marcenaria coletiva autogestionária para projetos de habitação social rural”. Dissertação (Mestrado), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, 2009; LEITE, T. M; GAVINO, E. R; INO, A. “Análise da produção de 462 janelas de madeira de eucalipto numa marcenaria coletiva com transição para autogestão. Caso Múltiplo: Marcenaria Madeirarte (Itapeva-SP) e Assentamento Sepé Tiaraju (Serra Azul-SP)”. XI Encontro Brasileiro em Madeira e Estruturas de Madeira. EBRAMEM 2008, Londrina, PR, 2008; MIOTTO, J. L. “Evolução das esquadrias de madeira no Brasil”. UNOPAR Científica: Ciências exatas e tecnologia, Londrina, v.1, n.1, p.55-62, 2002; RABBAT, R. M. C. “Introdução ao desenvolvimento de esquadrias de madeira de eucalipto para habitação de interesse social”. Relatório parcial nº 1. IPT, São Paulo, SP, 1998; YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre. Bookman, 2001; THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo. Cortez, 2002.

AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à marcenaria coletiva do Assentamento Rural Pirituba II (Itapeva-SP), aos pesquisadores-assessores do grupo HABIS (EESC-USP, São Carlos-SP) e InCoop (UFSCar). Além disso, os autores agradecem à FAPESP pelo apoio no desenvolvimento da pesquisa.

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